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Mascarado como piada.

Introdução 1:

Para indicar o limite da liberdade, o ponto que não deve ser superado, Thomas Hobbes usa a palavra
Behemoth, o Não-Estado, o descumprimento ou a ausência de leis. Do mesmo modo, o marco que
não deve ser superado pela liberdade de expressão no humor é liberdade absoluta ou
descumprimento integral de leis, pois neste momento ela acabará por destruir a si própria, quando
um restringe a liberdade de expressão de um outrem.

Introdução 2:

Foi no prelúdio do século XIV que a ofensa começou a ser vista oficialmente como parte do humor,
permitida pelos governantes. Surgiu a figura do bufão, funcionário da monarquia encarregado de
fazer o rei e a rainha rirem. Normalmente, a única pessoa que poderia criticar a nobreza sem correr
riscos, em piadas reflexivas dos contextos da época. Porém, se tornou um problema quando os
humoristas, para “virualizarem” no “século do celular” com polêmicas chamativas, ultrapassam o
limite do humor e fazem piadas ofensivas sem valor crítico e “gratuitas”, que contribuem para
perpetuar a intolerância na sociedade.

Introdução 3:

No extinto programa “Custe o Que Custar” da Band, em 2011, Rafinha Bastos disse numa piada
com alvo em Wanessa Camargo, que estava grávida de cinco meses, “eu comeria ela e o bebê”, e,
assim, sofreu um processo da cantora e perdeu, pois a piada foi vista como apologia a pedofilia e
estupro. Destarte, podemos perceber que no momento que configura um crime por descumprir as
leis, ultrapassa o limite do humor e se torna apenas uma atitude ofensiva e, por ventura, criminosa.

Introdução 4:

Circos, teatros, programas, todos capitalizam o humor. Neles, comediantes visando o lucro
apostam em baixarias e preconceitos para chamar a atenção dos telespectadores, independente do
quão ofensivo seja o conteúdo, desandado para o esculacho raso, um tipo de humor fácil,
massificado, de baixo tempo e custo de produção. Mas, na ideia de gerar dinheiro com zombaria
chamativa, alguns reproduzem descriminação transvestida de humor, ultrapassando o limite do
humor, e assim inserem ainda mais violência simbólica.

Desenvolvimento:

Primordialmente, é necessário ressaltar o humor, quando não respeitoso, como forma de


propagação de intolerância. Isso porque não há aspecto humano mais intolerável que a
intolerância. Partindo do preceito que o humor é, acima de tudo, uma forma de entretenimento e
socialização, quando um comediante, mesmo sem concordar, reproduz a intolerância (de qualquer
tipo) em seu humor, insere esse tipo de anedota no processo de socialização como normal. Em
consequência, indivíduos influenciados pela autoridade de um profissional da comédia, replicaram
esse humor entre si para se socializarem. E, algum tempo, se tornará um discurso dominante,
forçando assim, para se incluir na maioria, o indivíduo a se posicionar em concordância com o
intolerante.
Isso se evidencia pois, assim como afirma o filósofo Karl Popper no que define como “paradoxo da
tolerância”, “a tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância”, ou seja, se
tolerarmos os intolerantes, estamos permitindo a intolerância ganhe mais visibilidade e, assim,
crescer. Sendo assim, para criar uma sociedade respeitosa não podemos aceitar qualquer tipo de
desrespeito. Um exemplo de como aceitar o intolerante é prejudicial é o discurso de 1935 feito por
Joseph Goebbel, ministro da propaganda de Adolf Hitler, que afirma “o fato que você nos deu
[liberdade de expressão] é a prova do quão estúpido você é!” quando comenta sobre liberdade de
expressão concebida pelos seus oponentes antes da ascensão nazista. Assim o humor deve ser
limitado apenas para que não seja nociva a outras pessoas,

Se toleramos um grupo que ataca os demais, estamos permitindo que esse grupo ganhe
mais poder e visibilidade e, assim, a intolerância vai crescer. Para criar uma sociedade
tolerante, não podemos aceitar os intolerantes.

“A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância” é o que foi definido pelo


filósofo Karl Popper como “paradoxo da tolerância”.

Se toleramos um grupo que ataca os demais, estamos permitindo que esse grupo ganhe
mais poder e visibilidade e, assim, a intolerância vai crescer. Para criar uma sociedade
tolerante, não podemos aceitar os intolerantes.

“O fato que você nos deu [liberdade de expressão] é a prova do quão estúpido você é!” foi o que
disse o ministro da propaganda de Adolf Hitler no seu discurso de 1935, quando comenta sobre
liberdade de expressão concebida pelos seus oponentes antes da ascensão nazista

De outra parte, é axiomático que os oradores de palcos humorísticos agridam de forma pejorativa às
minorias ali presente. Segundo o escritor André Brasil em seu livro ''Fale bem, fale sempre'', propõe que
o orador, seja ele humorista ou não, deve preservar o bem de toda plateia para assegurar as ''boas
risadas'' e, além do mais, sem ter de recorrer o mal estar das minorias composta na plateia. Pois, dessa
forma, o orador irá está de acordo com a liberdade de expressão defendida pela Constituição Federal.

Risada. Alegria. Diversão. Desde seu surgimento na Grécia antiga, séculos antes de Cristo, a comédia é
caracterizada por satirizar deliberadamente sobre minorias antropológicas e figuras públicas. No século
XXI, entretanto, essa forma de entretenimento distanciou-se de seu objetivo original de provocar o riso e
tornou-se uma indústria humorística que visa ao lucro, independente do conteúdo e o quão ofensivo ele
seja.

De acordo com o filósofo John Stuart Mill, a liberdade de expressão deve ser limitada apenas para que
não seja nociva a outras pessoas
O humor deve visar à crítica, não à graça, ensinou Chico Anysio, o humorista popular. E disse isso
quando lhe solicitaram considerar o estado atual do riso brasileiro. Nos últimos anos de vida, o
escritor contribuía para o cômico apenas em sua porção de ator, impedido pela televisão brasileira
de produzir textos. E o que ele dizia sobre a risada ajuda a entender a acomodação de muitos
humoristas contemporâneos. Porque, quando eles humilham aqueles julgados inferiores, os pobres,
os analfabetos, os negros, os nordestinos, todos os oprimidos que parece fácil espezinhar, não
funcionam bem como humoristas. O humor deve ser o oposto disto, uma restauração do que é
justo, para a qual desancar aqueles em condições piores do que as suas não vale. Rimos, isso sim,
do superior, do arrogante, daquele que rouba nosso lugar social.

O curioso é perceber como o Brasil de muito tempo atrás sabia disso, e o


ensinava por meio de uma imprensa ocupada em ferir a brutal desigualdade
entre os seres e as classes. Ao percorrer o extenso volume da História da
Caricatura Brasileira (Gala Edições), compreendemos que tal humor primitivo
não praticava um rosário de ofensas pessoais. Naqueles dias, humor parecia ser
apenas, e necessariamente, a virulência em relação aos modos opressivos do
poder.

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