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RESUMO
Dias Gomes, exibida pela TV Globo em 1974. Através dessa análise, busca-se
demonstrar como certos recursos formais utilizados pelo autor estavam em sintonia com
Introdução
da Faculdade Cásper Líbero entre 2010 e 2011. A proposta foi analisar a relação entre a
resgatando o histórico desses autores dentro da empresa, e refletindo sobre as obras que
escreveram no período.
O recorte ―telenovela‖, entre os vários gêneros de produção televisiva, foi
década de 1970. Um resumo desse debate pode ser encontrado no livro de Esther
porque há muitas fontes não exploradas pelas pesquisas até o momento. Por exemplo, as
principais novelas da década de 1970 ainda não foram discutidas em sua materialidade,
a partir da análise crítica das imagens e do texto dos capítulos. Hamburger indica que
p. 85). Marcelo Ridenti, em seu livro Em busca do povo brasileiro, também sugere que
específico (...) [pois] entre essas duas visões opostas, parece haver uma série de
televisão, ligado ao Partido Comunista nas décadas de 1950 e 1960, é um dos principais
repercussão, e ele permaneceu na TV Globo por 30 anos. Em linhas gerais, Dias Gomes
Partido Comunista Brasileiro – a geração que foi jovem entre as décadas de 1940 e
1950, entre os quais estiveram Walter George Durst e Lima Duarte. Gomes começou
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jovem a trabalhar no rádio, por convite do dramaturgo, radialista e comunista Oduvaldo
conseguisse estabilidade na TV Globo (empresa em que sua esposa Janete Clair era a
horário das 22h, que tinha menor audiência (portanto menor importância comercial) até
mesmo que a novela das 19h. A esse respeito, Ferreira Gullar argumenta, em entrevista
a Marcelo Ridenti: ―Achar que a Globo conquistou as massas graças a nós é uma piada.
(...) Sabe com quem a televisão conquistou as massas? Foi com Janete Clair, que –
apesar de ser mulher do Dias Gomes – não concordava com a ideologia dele, nem tinha
promessas, em 1962:
Tal passagem revela uma autocrítica de Dias Gomes sobre seu próprio trabalho
Para isso seria necessário definir um ―padrão‖ – uma série de características que
representem as novelas em sua função ―habitual‖ de atrair certo público (em números e
recorte temporal foi adotado por ser nessa década que se estabelecem os parâmetros de
Cassiano Gabus Mendes, na reportagem da revista Veja em 1969, faz uma lista
de estratégias para que uma telenovela funcione junto ao público. A primeira fórmula é
―criar alguma coisa diferente‖, ―um ‗treco‘, quero dizer, uma coisa insólita, que marca
um personagem, que lhe dá um apelo diferente‖ (OS FILHOS..., 1969, p. 29). Nessa
resultado, do que funciona ou não funciona. Um tema não é bom ou mau em si, mas
diferente‖.
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Outros depoimentos de época complementam a importância da novidade e da
Em relação direta com o ritmo, está o recurso das reviravoltas. Esse aspecto é
cuidadosos com estilo e verossimilhança, seu risco está no outro extremo — andamento
excessivamente lento, portanto cansativo. Mas, quando conseguem ser ágeis, os textos
de tais autores trazem uma novidade que os distancia dos outros: são originais,
que no fim a empregadinha feiosa e pobre acabará conseguindo casar com o patrão
profissionalismo, são admiradas as histórias bem planejadas, com começo, meio e fim
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Elogiam-se também o recurso a tramas paralelas, a verossimilhança, o que é ―simples‖,
escreveu em seu livro O circo eletrônico, lançado em 2001. Ele foi o diretor de
dramaturgia é Janete Clair, sempre confiável para ―um melodrama muito bem escrito‖
(DANIEL FILHO, 2002, p. 25). Para ele, ―fazer TV desde o início sempre foi criar
reportagens da década de 1970, uma boa novela deveria ser insólita, tortuosa, alegre,
vertical dos estúdios cinematográficos americanos dos anos 1940, atribui ao roteiro um
organização das gravações. Ele faz a composição inicial das cenas a serem gravadas, já
descrevendo o que os atores farão, o que dirão, o que será mostrado. Na gravação, o
diretor faz adaptações breves por questões práticas ou artísticas (por exemplo, adequar
as ações aos cenários e movimentos de câmera, ou dar ênfase a certas falas), mas — por
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releituras ou reinterpretações. O autor já deve escrever no estilo desejado pela emissora,
cômicas, exposição e suspense, internas e externas, ação e diálogo. Esse é seu trabalho.
correção de erros, quando a novela não atinge a audiência desejada ou causa alguma
repercussão negativa. A escrita dos roteiros segue paralela à produção, e revisar nesse
tecnológicas e financeiras).
física (carros em movimento, brigas, cenas de sensualidade, paisagens). Tais cenas são
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Para efeito desta argumentação, considero ―bem sucedidas‖ as novelas que tiveram boa audiência e
repercussão positiva na imprensa, na época de sua exibição. Escolhi apenas exemplos evidentes, em que
há vasto material em depoimentos e reportagens, como Pecado capital (Janete Clair, 1975) e Escalada
(Lauro Cesar Muniz, 1975). Nos dois casos, li os roteiros de alguns capítulos, para colher os comentários
aqui apresentados.
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mais comuns nos capítulos iniciais de uma novela, ou em períodos de clímax, que
duram dois ou três capítulos. Por exigirem maior esforço de produção, são recursos
A grande massa de cenas — tão familiares e domésticas que parecem não ter
linguagem, como diz Kehl (1986, p. 278) — constitui-se de diálogo, entrecortado por
pequenas ações complementares (abre porta, fecha porta, senta, levanta, aproxima-se,
afasta-se, entra, sai). Os diálogos são intercalados por rubricas a cada três ou quatro
falas, em média. Mais raramente, aparecem passagens com oito ou dez falas em
sequência, entre as rubricas. O estilo de tais cenas vem da convenção naturalista, que
o personagem aparece sorrindo, ele dirá o motivo que o faz sorrir. Se caminha agitado, o
autores, diretores e espectadores, com as quais o escritor deveria compor suas cenas, já
Se o autor não participa desse fluxo, há uma sobrecarga para o diretor, como relata
Regis Cardoso (diretor de O espigão e Os ossos do barão, entre muitas outras novelas
na década de 1970), sobre o trabalho de Vicente Sesso (autor de telenovelas, pai do ator
e diretor Marcos Paulo), ao dizer que ele era ―um escritor de sucesso‖ mas que o
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obrigava a ―inventar imagens para dar velocidade às sequências em que duas pessoas
novembro de 1974. Foi a quinta telenovela que Dias Gomes assinou na Globo. Naquele
momento o horário das 22h, iniciado em 1970, já estava estabilizado. Bráulio Pedroso e
Jorge Andrade haviam sido contratados pela emissora, e Dias Gomes já havia escrito
(1973).
A novela tem um eixo central muito claro. Começa numa reunião em que Lauro
Fontana, empresário, declara a Marcito Camará, herdeiro playboy, que deseja comprar a
Sky. Marcito concorda com a venda, mas precisará convencer os irmãos. O principal
empecilho, além da hesitação dos irmãos em vender a casa que guarda a memória da
antiga glória familiar, está em Leo, migrante nordestino que resolve defender as árvores
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crescimento urbano desenfreado). Entre várias peripécias, a novela termina quando
melodrama, com adaptações que tornam cômicas a maior parte das cenas (o grau de
jardim da mansão, que representam a parte boa do ser humano, ou seja, a possibilidade
aristocracia decadente (a família Camará) e o jovem Leo, que chega ao Rio em busca de
acidentalmente baleado no confronto com a polícia causado por sua última tentativa de
sentimentos. Não são os principais (em número e importância das cenas) nem os
início como uma jovem grávida e indefesa — está sozinha tentando chegar à
cidade (vindo de Aracaju) e ainda sem emprego, aparece para ajudá-la. O roteiro
Lauro Fontana foi o personagem masculino que mais se destacou. De origem pobre,
tornou-se rico ao casar com Cordélia — um casamento de interesse, pois esta é feia e
irritante, sempre exigindo atenção. Lauro também é feio, apesar de charmoso. É um galã
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egoísta e estéril. O casal foi tema de uma reportagem do Jornal do Brasil em que se
pela TV Globo, logo após a exibição da novela. O conjunto tem 150 capítulos, em
aproximadamente 2.500 páginas. Cada capítulo tem cerca de 20 páginas (na época, os
a seguir foram colhidas na leitura dos cinco capítulos iniciais e dos cinco capítulos
Recursos de teledramaturgia
sonoros, etc. Comparativamente aos roteiros de Walter Durst e Jorge Andrade, outros
autores que escreveram para o horário das 22h no período, Dias Gomes parece mais
recursos usados para concentrar a ação. O autor demonstra perícia nas técnicas
(diegeticamente) num dia 31 de dezembro. Haverá uma festa em que Lauro Fontana e
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que assaltam uma joalheria, em aparente casualidade: Lauro pede que seu secretário
Donatelo compre uma joia de presente para Cordélia, e na joalheria Donatelo cruza com
os assaltantes.
várias ações em suspenso. No trânsito, Marcito Camará está nervoso, porque chegará
atrasado a seu encontro com uma ―Miss‖ (é um playboy conquistador com medo da
estão em seu carro de fuga, presos no engarrafamento. Lauro Fontana também está
secundários, que surgem para criar um alívio entre as ações principais. No primeiro
capítulo, a comicidade aparece, por exemplo, com Tina (a mais nova dos irmãos
Camará, herdeiros da mansão que Lauro Fontana quer comprar), que tem 25 vira-latas e,
em certo momento, acuada pelos próprios cães, precisa se proteger trepando numa
sobre as medidas da mulher com quem marcou um encontro, ―Miss‖ Renata (Maria
Lúcia Dahl). Os personagens de O espigão têm nomes que indicam tipos cômicos. Além
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de Lazinha Chave-de-Cadeia (interpretada por Betty Faria), entre os malandros há Nonô
Para mostrar o ritmo com que a trama se desenvolve ao longo dos capítulos, em
arco mais amplo, busquei o exemplo das tentativas de Cordélia por um filho. No início
da novela, mostra-se que ela quer mas não consegue engravidar. A sinopse informa que
ela tenta adotar Saulo, o bebê de Dora, nascido no engarrafamento. Mas a adoção não dá
no capítulo 86, Lauro faz um teste de fertilidade, e descobre que não pode ter
filhos. Cordélia então percebe que a dificuldade de engravidar não vem dela,
mas do marido.
nos capítulos 89 e 90, Lauro confessa a Cordélia que, sete anos antes,
quando se separou de sua então namorada Helka, esta esperava um filho. Ou
seja: ele busca dizer que era fértil nessa época, e sua infertilidade deve ter
sido causada por uma caxumba que pegou de Cordélia logo depois de casar
(devolve a culpa à esposa);
no capítulo 99, Helka aparece com o menino Michel, que Lauro pensa ser
seu filho.
no capítulo 102, Cordélia finalmente descobre que Michel não é filho de
Lauro, mas da falecida irmã de Helka (a culpa da esterilidade volta ao
marido);
nos capítulos 111 e 112, Cordélia mostra a Lauro artigo sobre inseminação
artificial, e tenta convencer o marido a aceitar o procedimento.
no capítulo 123, Cordélia diz a Lauro que o teste de gravidez deu positivo.
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Aristides, pai de Lauro Fontana: ―Trabalhou... foi meu chofer. Isto não é nenhum
desdouro. Quem começa de baixo e faz fortuna, como Aristides, só pode ter orgulho
disso.‖ Na mesma cena, a jovem executiva Helka comenta que Lauro se tornou
empresário através de um golpe do baú em Cordélia: ―Se você está pensando que ele
deu o golpe do baú, então você é um gênio da perspicácia... de fato, que pode levar um
homem como Lauro a casar-se com uma mulherzinha insignificante e feia como
Cordélia, senão o dinheiro?‖. Mas o dinheiro de Cordélia tem origem pouco nobre,
segundo Helka: ―O pai dela enriqueceu explorando motéis suspeitos na Barra da Tijuca,
problema no seu impulso conquistador: ―Eu já fui a vários analistas... Sei que isso não é
normal... por mais bonita, espetacular que seja a garota, eu só consigo sentir interesse
A fragilidade dos machos ricos opõe-se à virilidade dos negros pobres. Em certo
momento, Nonô Alegria-das-Gringas explica seu apelido. Alguns anos antes, ele esteve
lourão... Olhava pra mim, ficava vidrada. Vidrada na minha cor! [...] Naquelas duas
Lauro, que se casa com Tina Camará. A jovem esposa tem impulsos de paixão que
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(Suzana Vieira) permanece com suas fortes manifestações de amor, até que Donatelo
desmaia, em consequência de uma estafa, sendo proibido pelo médico de fazer qualquer
famoso, que se afasta acionado por controle remoto, da cama‖ (capítulo 1).
A tecnologia também faz com que Lazinha Chave-de-Cadeia, uma moça bonita
quando todos estão parados no engarrafamento, Lazinha sai andando entre os carros e
(capítulo 2).
engarrafamento (Lauro Fontana), com quem troca charmes. Lauro diz que poderia
arranjar-lhe um emprego, insinuando uma barganha por favores íntimos. Mas, nos
últimos capítulos, Lazinha está mudada — percebe-se que se apaixonou por Lauro, mas
este não correspondeu, e manteve-se ligado à esposa rica. Lazinha termina sozinha, sem
amor, sem emprego e sem o desejo de voltar à sua vida anterior de malandragem.
como, por exemplo, seduzir Baltazar Camará para convencê-lo a vender a mansão.
Baltazar resiste mas, ao final da novela, ao receber a notícia de que ela foi despedida,
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Haveria uma relação biográfica com a força de Janete Clair, no equilíbrio financeiro da família de Dias
Gomes?
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oferece-lhe ajuda. Lazinha (íntegra, depois da decepção) não aceita: ―Tu não aguenta.
exemplo, indica que Lauro está deprimido, porque Cordélia fez inseminação artificial, e
Lauro não pode nem escolher o doador: ―A alegria da mulher magoa Lauro que no fim
do expediente vai passar a noite com Lazinha [...]. Saem, vão beber mas a atitude dele é
Embora os ricos sejam ridicularizados, o final da novela deixa claro que não
perdem seu poder: os ricos continuam ricos e conseguem o que querem. Os pobres
Em uma trama paralela, a obra também retrata a classe média urbana, através da
personagem Dona Zilda (interpretada por Dorinha Duval), uma dona de casa consumista
que pressiona o marido pacato, Machado, para que este tente subir na hierarquia da
empresa e ganhar mais (outra esposa forte de marido fraco). Nos últimos capítulos da
novela, Dona Zilda organiza um jantar para o Doutor Amaral, chefe de Machado. Todos
de trabalho a Brasília. Quando ele viaja, o chefe Amaral vai à casa de Zilda à noite,
insinuando uma troca de favores (o marido pode ganhar bem e viajar a trabalho cada
vez mais, se ela for boa com ele). Zilda se ofende, manda-o embora, declarando ser
mulher honesta. Machado afinal consegue a promoção e chega em casa com um fusca
usado. Sendo agora chefe de seção, comprou o carro em 24 prestações: ―Nós agora
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temos apartamento próprio, geladeira, televisão a cores e um carro. Sabe o que isso
televisivo e também, ao mesmo tempo, com uma leitura social do país de inspiração
materialista. A oposição entre pobres e ricos, em tom cômico, é mostrada durante toda a
trágica de Leo é usada como convite à reação do público, numa narração final (voz over
das árvores. O clima de derrota é construído lentamente, até a última estratégia de Leo
terreno, ao som da escola de samba. O roteiro indica: ―Colchões e esteiras pelo chão.
Uma gaiola com passarinho, outra com papagaio. Um favelado prega um gancho na
parede pra estender uma rede. Móveis velhos, panelas, cacarecos amontoados‖ (capítulo
149). Leo comenta: ―É mais um protesto simbólico.‖ Mas o simbolismo é levado a sério
pela polícia, que chega para expulsar os favelados com ―um fusca e um caminhão cheio
Leo é mortalmente ferido. Dora chega à mansão no momento em que ele rola a escada.
O capítulo 150 começa com o sofrimento de Dora, abraçada ao corpo de Leo: ―Por que
fizemos isso com ele?... Ele nunca fez mal a ninguém... Ao contrário... lutava pelo bem
de todos, sem pensar em si mesmo! Era um homem tão bom... E vocês o mataram?‖
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Um advogado da equipe de Lauro comenta, quando ouve a notícia: ―Mas um
cadáver... não é bom. Se Leo morreu mesmo, pode virar mártir. E isso é um perigo.‖
Lauro declara, diante dos repórteres: ―Um rapaz, aliás, que sempre admirei. Um lutador.
sucessivas fusões, o sol se filtrando por entre as folhas, sugerindo passagem de tempo.‖
Na cena seguinte, Cordélia está grávida de 9 meses. Ela entra em trabalho de parto,
enquanto Lauro, ao lado dos tratores, aguarda demolição da mansão. Donatelo chega e
avisa que Cordélia foi para a maternidade. Lauro hesita. ―Na verdade, são dois filhos
que estão nascendo no mesmo dia.‖ Lauro, individualmente, conseguiu o que queria.
Mas a morte de Leo teve um impacto mais amplo: Baltazar conversa emocionado com
de novembro daquele ano, ao comentar as cenas finais de Cordélia: ―Ao sair para a
maternidade, obrigava seus parentes e criados a rirem, apesar do nervosismo, para que
seu filho ‗nascesse feliz‘‖. Segundo a revista, ―a alegria forçada daquelas pobres
criaturas [valeu] mais para a perfeita compreensão do que Dias Gomes queria dizer do
1974).
começam a ruir. Vários takes. O velho coqueiro de Martiniano também vem abaixo. E
outras árvores também são derrubadas. Lauro, trepado numa elevação assiste, sorrindo,
vindo abaixo (repetir várias vezes)‖. A voz de Leo surge sobre as imagens, explicando a
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mensagem final da obra (do ponto de vista do autor) com toda clareza: ―O importante
respeitar a árvore é que ele se terá tornado realmente humano. Aí começará a sua
humor e da leveza, ele consegue fazer uma obra de entretenimento (que atende à
demanda da empresa), sem sacrificar suas ideias. Também faz um retrato ao mesmo
artigo para uma boa novela (insólita, tortuosa, alegre, dinâmica, elegante, jovial,
charmosa, atual, simples, clara, comovente e apaixonada) são compatíveis com uma
esquerda – Lauro César Muniz, Walter Durst, Jorge Andrade, Gilberto Braga –
poderíamos dizer.
façanha várias vezes durante a década de 1970, além de ajudar outros autores que
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pessoal com a riqueza tenha causado uma exagerada autocrítica, levando-o a comparar
seu trabalho a uma ―prostituição parcial‖. Mas ainda hoje, na leitura de seus roteiros,
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