Você está na página 1de 36

Tópicos de História

da Arte Brasileira
Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Luiz Vicente de Lima Lazaro

Revisão Textual:
Maria Cecília Andreo
Humor Gráfico: Arte,
Ilustração e Quadrinhos

• Origens e Definições;
• O Desenho de Humor Brasileiro;
• O Humor Gráfico Brasileiro no Século XX.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Abordar o desenho brasileiro de humor, desde o século XX até as manifestações da cultura
underground dos anos 1980/1990;
• Apresentar os principais nomes que fizeram e fazem o humor gráfico brasileiro, dos primeiros
litógrafos estrangeiros aos quadrinistas de maior renome do País;
• Entender o processo de engajamento e amadurecimento do humor gráfico brasileiro, sobretudo
nos momentos mais difíceis: da ditadura à crise constante.
UNIDADE Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

Origens e Definições
As Histórias em Quadrinhos, ou simplesmente HQs, como as conhecemos, começam
a se desenvolver nos Estados Unidos, no início do século XX. Considera-se a publicação
de Little Nemo in Slumberland (1905), de Winsor McCay (1871-1934), o principal mar-
co do início da atividade dos quadrinhos. Antes disso, em 1894, já havia sido publicado o
Yellow Kid, de Richard F. Outcault (1863-1928). Apenas para nos situarmos no tempo e
no espaço, Walt Disney (1901-1966), um dos grandes nomes do gênero, criaria o Mickey
Mouse em 1929. A origens dessas histórias estão, portanto, no século XIX, mas o século
XX certamente estabeleceu a fórmula das HQs como as conhecemos.
Há, no entanto, inúmeras especulações sobre a origem dos quadrinhos e muitas
são sobre a origem de uma narrativa de imagens. É certo, no entanto, que o desenho,
a ilustração e mesmo a associação de texto e imagens com o objetivo de montar uma
narrativa já existe há muito mais tempo. Autores como Sônia Bibe-Luyten, autora de
uma conhecida obra chamada O que é História em Quadrinhos (1993, p. 16), destaca
que, como sabemos, o desenho é anterior à fala. Assim, as origens das histórias em qua-
drinhos podem remeter até mesmo às pinturas rupestres pré-históricas, na medida em
que estas poderiam ser entendidas como uma narrativa seriada. Segundo Bibe-Luyten
(1993, p. 16), “várias manifestações aproximaram-se desse gênero narrativo: mosaicos,
afrescos, tapeçarias e mais de uma dezena de técnicas foram utilizadas para registrar a
história por meio de uma sequência de imagens”.
A questão da sequencialidade é importante. Um dos maiores artistas produtores de
histórias em quadrinhos de todos os tempos é Will Eisner. Sua importância é tamanha
que seu nome foi dado a um conceituado prêmio que anualmente é dado às melhores
HQs publicadas em diversas categorias. Eisner é o autor de um verdadeiro manual que
certamente foi lido pelas gerações posteriores: Quadrinhos e arte sequencial, publicado
originalmente em 1985.
Essa sequencialidade, entretanto, tão importante para as histórias em quadrinhos,
ganha nova dimensão quando se introduz o balão de fala, uma invenção de Richard F.
Outcault. Aí sim, a narrativa (sequencial ou não) estaria completa.

Algumas Definições Possíveis


De acordo com o Manual de Orientação para Produção Editorial (MOPE), Iconografia
designa a “documentação visual que complementa o texto”. Fazem parte da Iconografia
“quadros e tabelas; gráficos e diagramas; esquemas ou representações de objetos; dese-
nhos ou ilustrações; fotografias” (MOPE, s/d, p. 54). Pode-se dizer que a charge, o cartum
e a caricatura podem ser incluídos, segundo esse critério como “desenhos ou ilustrações”.
Entretanto, parece claro que essas três peças “iconográficas” guardam suas próprias par-
ticularidades, sendo as três partes importantes de nossa imprensa e de nossa produção
de humor, tanto no meio impresso quanto no digital.
De seu lado, a charge, a caricatura e o cartum não dependem de sequencialidade.
A tira de quadrinhos (em média com três ou quatro quadros), por outro lado, neces-
sita total­mente dela. Eventualmente, a charge, o cartum e a tira podem utilizar-se da
caricatura­. As definições não são tão claras e existem confusões. De maneira geral, um
razoável consenso define cada um desses elementos iconográficos:

8
• O cartum mostra personalidades anônimas; trata de temas mais gerais. Os perso-
nagens ali presentes são pessoas comuns. Não são personalidades públicas, seus
rostos não são conhecidos. Os fatos narrados em um cartum, que tem um quadro
apenas, podem ser de crítica política ou mesmo rir de um costume do passado, do
presente ou até do futuro;
• De seu lado, a charge traz elementos conhecidos, rostos públicos; trata de um tema
atual. Em razão disso, ela faz uso frequente da caricatura, para que esses rostos já
conhecidos se tornem reconhecíveis para o público leitor;
• A caricatura é um desenho de humor que exagera alguns traços particulares do
rosto do retratado, tentando representar de maneira engraçada essas características;
• A tira de quadrinhos, ou simplesmente “tirinha”, além de ser uma narrativa sequen-
cial de poucos quadros, traz, geralmente, personagens fixos.

As raízes dessas formas de manifestação humorística, e mesmo de forte crítica social­


e política, remetem a um passado distante. Como veremos, o gênero histórias em qua-
drinhos se estabeleceria no Brasil também no século XX; entretanto, o desenho de
humor e a caricatura já eram características muito marcantes e presentes em nossas
revistas já no século XIX. Nomes de grande talento iniciaram essa atividade por aqui,
como veremos a seguir.

O Desenho de Humor Brasileiro


A ilustração do século XIX é famosa pela qualidade e pelo estilo. Como não mencio-
nar Gustave Doré, o grande ilustrador que povoou por meio de suas xilogravuras nossos
pensamentos com as imagens da Divina Comédia, ou ainda com os animais falantes
das fábulas de La Fontaine. Destaquemos ainda nomes como Henri Toulouse-Lautrec
e ­Alphonse Mucha, importantes cartazistas que se utilizavam da técnica da litografia.
A lito­grafia aliás, será uma importante forma de expressão no Brasil, sobretudo na
segunda metade do século XIX. Na impossibilidade de reproduzir fotografias, é essa
técnica que permitirá aos nossos artistas mais talentosos levar seus trabalhos às massas.

Nossas imagens dessa época, como frutos de seu tempo, guardam pontos de contato
com a ilustração do século XIX. As imagens litográficas podiam ainda ser usadas para
copiar fotografias (que ainda não podiam ser reproduzidas nos jornais). O que nos chama
atenção, no entanto, são as imagens de humor. E, quando pensamos em imagens humo-
rísticas no Brasil do século XIX, um modo de operação deve ser ressaltado: a caricatura.

As imagens mais interessantes publicadas nos jornais da segunda metade do sécu-


lo XIX eram caricaturais, coloridas (quando isso era tecnicamente possível) e era muito
comum a utilização de animais humanizados, talvez seguindo uma longa tradição das
histórias domésticas, que se utilizavam de animais falantes, com em Esopo e La Fontaine.

Nosso objetivo aqui não é outro senão resgatar alguns desses pioneiros e depois
traçar um percurso até a atualidade. Não foi fácil, mas nossos bravos artistas do humor
gráfico lutaram muito e conquistaram seu espaço. O principal concorrente foi o quadri-
nho americano, que tem ainda hoje entre nós uma influência muito forte. Que tal testar

9
9
UNIDADE Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

nossa memória? De quantos personagens brasileiros você se lembra. Não vale a Turma
da Mônica. E não vale por um motivo muito simples: seu criador, Mauricio de Sousa, é um
ponto absolutamente fora da curva. Se a turma do “Bairro do Limoeiro” fez parte de nossa
infância isso se deve a um trabalho de extrema qualidade aliado a estratégias de comunica-
ção e muita insistência e trabalho de seu criador, que se tornou também empresário.

A lista é difícil. Podemos lembrar de um, talvez dois personagens. Ao se lembrar,


certifique-se de que ele é de fato, brasileiro. Uma lembrança que me vem à mente são as
criações de Daniel Azulay. Nos anos 1980, impulsionado pela televisão, Azulay criou per-
sonagens interessantes, como A Turma do Lambe-Lambe, criada em 1975 e que ficou
no ar durante 15 anos consecutivos. Se você conseguiu se lembrar de outros, parabéns!
Espero que a leitura das próximas páginas traga boas recordações para você.

Como já foi dito (e certamente será repetido), a concorrência com os quadrinhos ameri­
canos foi bastante desleal com os artistas brasileiros, sobretudo na segunda metade do
século XX. Os Estados Unidos se tornaram um grande centro produtor. Nomes como
Chester Gold, criador do detetive Dick Tracy, e Alex Raymond, criador do Flash Gordon,
são nomes que ultrapassaram gerações e fizeram a imaginação das crianças e dos jovens
mais fértil. Junte-se a esses mestres nomes como Hal Foster, criador do príncipe valente,
e Lee Falk, criador do Fantasma (o espírito que anda) e Mandrake, o mágico.
Outro americano, Will Eisner, seria o responsável pela criação de um personagem
muito querido pelos fãs: o Spirit, identidade secreta de Denny Colt. Costuma-se atri-
buir ainda a Eisner (e isso é controverso), a criação do termo graphic novel (algo como
“romance gráfico”, em português); o que elevou as histórias em quadrinhos para outro
patamar. Isso sem falar que Eisner virou até o nome de um prêmio para as HQs.
Como não falar de Bob Kane, que, inclusive, trabalhou com Will Eisner e inventou um
certo super-herói que anda por aí vestido de morcego. Ou, ainda, Jerry Siegel e Joe Shuster,
que inventaram um herói que veste azul e tem o amor de Lois Lane, uma garota real, musa
dos criadores. Somente essa concorrência americana já seria suficiente para tirar o sono
de qualquer quadrinista nacional. Mas a coisa toda não para por aí. Da Europa vêm Hergé
(1907-1983), o criador do Tintim, personagem de grande destaque nos anos 1960. E como
esquecer da Mafalda, de Quino, uma personagem pela qual é impossível não se apaixonar?
Depois desse breve apontamento, podemos apenas imaginar o esforço de Mauricio
de Sousa e a quantidade de trabalho necessária para levá-lo ao seu merecido lugar de
destaque atual. Pense nisso da próxima vez que você vir um gibi da Mônica. A palavra
“gibi”, aliás, nossa querida, se revelará uma surpresa...
Há outros, é claro. E tentaremos tratar de alguns deles aqui, destacando os quadri-
nistas brasileiros dedicados ao humor. Retrocederemos, para tanto, à segunda metade
do século XIX, pois é lá que se destacam os primeiros nomes que trataram do tema em
terras brasileiras. Uma questão que se apresenta e sobre a qual não podemos deixar
de tratar é que os artistas trabalham considerando, muitas vezes, o que existe de mais
moderno na época, como as técnicas de produção e de reprodução disponíveis. Assim,
as tecnologias de impressão usando gravuras, como a xilogravura, mas principalmente a
litogravura, serão importantes aqui. As ilustrações sobre as quais trataremos são também
importantes como forma de crítica social. Uma verdadeira tradição que observamos ainda
hoje, tanto nos jornais como na internet.

10
Torna-se importante destacar que antes dos quadrinhos como os conhecemos, e
antes ainda de uma tradição norte-americana na área que se espalharia pelo mundo, o
Brasil começou a desenvolver uma forte tradição no desenho de humor, que chegou até
nós com muita força.

As origens ancestrais, como vimos, são incertas. O que é certo, no entanto, é que o
desenho cômico, transgressor, não é uma novidade.

No Brasil, é pouco provável que não tivéssemos desenhos que se encarregassem de


retratar de maneira crítica e bem-humorada as autoridades e mesmo as pessoas comuns,
ainda que permanecessem no âmbito da vida privada. É com o surgimento da imprensa
ilustrada, mas antes da possibilidade da reprodução de uma imagem com fidelidade nesses
meios, que o desenho de humor e, sobretudo, a tradição da caricatura se tornariam grandes
tradições no País, como, aliás, também acontece em outras partes do mundo.

A chegada da corte portuguesa ao Brasil, em 1808, trouxe oficialmente a imprensa


para o País, iniciando o período que conhecemos como “joanino”, justamente pela
presença de d. João VI, que aqui permaneceu até o ano de 1821, quando retorna a
Portugal. A independência do Brasil seria proclamada em 1822, e d. Pedro I assumiria
a Coroa brasileira.

Estamos no século XIX, um período marcado, no Brasil, pelo periodismo satírico e


pelos pasquins. O uso da ilustração era intenso. O século foi ainda marcado, além do
retorno de d. João VI a Portugal, pelo “Primeiro Reinado”, de d. Pedro I, pelo período da
Regência (até a maioridade forçada de d. Pedro II) e, finalmente, pelo “Segundo Reinado”,
quando d. Pedro II, depois do chamado “Golpe da Maioridade”, ficou quase 60 anos no
trono do Brasil, de 1831 a 1889. D. Pedro II se tornaria um dos principais alvos de nossa
imprensa satírica na segunda metade do século XIX, exatamente como ocorre hoje com
os políticos, independentemente de que partido ou linha ideológica esteja no governo.

Pasquim: Um pasquim, no sentido usado anteriormente, é uma publicação barata, simples


e panfletária, que pode conter as ideias mais variadas. Trata-se de uma publicação crítica e
muitas vezes que se utilizava, para tecer suas críticas, da sátira. Os pasquins já estavam pre-
sentes mesmo antes da chegada da tipografia. Muitas vezes, eles têm inclinações políticas,
mas sem uma periodicidade clara, sendo que muitos deles saíam apenas uma vez, frutos de
trabalhos solitários. Em geral, pode-se dizer que um pasquim é mais precário e efêmero que
o jornal como o conhecemos.

No início do século XIX, a maioria das imagens utilizadas na imprensa era muito
simples. Grandes massas de texto impresso em tipografia predominam nas páginas
dos periódicos. A partir da segunda metade do século XIX, no entanto, isso começa
a mudar. As ilustrações, geralmente xilogravuras ou litografias, são, nesse contexto, as
responsáveis por apresentar ao público os rostos das personalidades daquele tempo, em
muitos casos em caráter anedótico. Os desenhos das figuras humanas eram produzidos,
geralmente, com uma grande cabeça (de traços fiéis, e não com os exageros da caricatura)
e um corpo exageradamente pequeno, o que lhes facultava um caráter cômico.

11
11
UNIDADE Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

Três nomes chamam atenção no que diz respeito à ilustração e à caricatura na segunda­
metade do século XIX: Henrique Fleiuss (1823-1882), Ângelo Agostini (1843-1910) e
Rafael­Bordalo (1846-1905). Vamos conhecer um pequeno recorte do trabalho desses
três grandes artistas.
O periódico considerado o primeiro a se utilizar da ilustração é a Semana ilustrada,
que circulou durante 16 anos, entre 1860 e 1876. Nomes como Machado de Assis e
Joaquim Nabuco colaboraram com a publicação. A Semana ilustrada foi criada por
Henrique Fleiuss, um artista que se utilizava da litografia para produzir seus trabalhos.
No período que circulou a “Revista”, outros periódicos se utilizaram de fórmula seme-
lhante. As vendas desses impressos mostram a boa penetração que esse tipo de conteúdo
encontrava no público leitor da época, até mesmo porque os jornais eram, para aquela
sociedade, a principal forma de acesso às notícias, tanto as nacionais como as interna-
cionais (que chegavam por aqui bastante atrasadas).

Litografia: Segundo o Dicionário de termos artísticos, de Luiz Fernando Marcondes (1998),


litografia é uma “gravura cuja matriz é uma placa de pedra desenhada com um lápis gordu-
roso ou com tinta oleosa”. Como todo sistema de gravura é a partir de uma matriz em que são
produzidas as cópias. A pedra litográfica é, assim, a matriz da qual se original as cópias lito-
gráficas. A litografia é a base do sistema industrial que hoje conhecemos como offset. No sé-
culo XIX, era muito comum que litografias aparecessem nas páginas dos periódicos ao lado
do texto impresso em tipografia. A litografia também pode imprimir em várias cores (nesse
caso, para cada cor, teremos uma matriz); o processo também é chamado de cromolitografia.

Figura 1 – Pedra litográfica sendo preparada para impressão


Fonte: Wikimedia Commons

Fleiuss, alemão, era um mestre no sistema litográfico, um modelo de produção de ima-


gens muito frequente no século XIX. Além de um grande ilustrador, podemos considerar
Fleiuss um empresário, pois sua oficina, a mesma que fazia a impressão de sua Semana
Ilustrada, prestava serviços em tipografia. Entre outros autoelogios, a empresa dizia utili-
zar-se dos “typos – mais modernos e elegantes – que ultimamente se fazem na Europa (...)”.
Fleiuss, como editor, também tinha uma espécie de alterego, o “Doutor Semana”, que,

12
quase sempre crítico, costumava assinar os textos. Henrique Fleiuss não incomodava o
imperador e, ao que parece, era frequentador e admirador da vida palaciana, o que não
deixou de lhe render críticas.

Figura 2 – Capa da “Semana Illustrada”, publicação de Henrique Fleiuss


Fonte: bndigital.gov

A “Semana” costumava representar o País, simbolicamente, como uma índia. Podemos


perceber nesse tipo de representação um ideal ligado ao romantismo. Tal índia, no entanto,
logo começaria a se parecer com uma estátua grega. Essa transformação mostra que os
artistas em atividade no país não estavam prontos para valorizar personagens de uma
cultura genuinamente brasileira.

A Semana Ilustrada contava com a proteção do imperador, e recebeu cola-


borações de intelectuais ilustres como Joaquim Nabuco e Machado de Assis.
Fleiuss tinha um traço conservador, procurava retratar as personalidades da
época com precisão, sem exagero na caricatura. (LAGO; ROMANCINI,
2007, p. 61)

No ano de 1859, chegaria ao País outro importante nome da ilustração e da carica-


tura do Brasil: o italiano Ângelo Agostini. O artista, que estudou belas-artes em Paris, é
considerado o maior caricaturista em ação no Brasil à época. Sua história se confunde,
assim, com a própria história do gênero revista no País, e com uma tradição que levamos
muito a sério: que é rir de nós mesmos e de nossos políticos; o que é, evidentemente,
uma forma de crítica.

13
13
UNIDADE Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

Depois de trabalhar em diversos periódicos em São Paulo e colaborar, inclusive, com


a Semana ilustrada, de Henrique Fleiuss, Agostini criou a Revista Ilustrada, uma publi-
cação que circulou entre 1876 e 1898.

A Revista Ilustrada, por sua vez, apresentava um perfil muito diferente da publicação
de Fleiuss. Era republicana, tinha um viés satírico, extremamente crítico, inclusive no trato
da figura do imperador d. Pedro II. Segundo Lago e Romancini (2007), o surgimento da
“Revista Ilustrada, praticamente selou o fim da Semana Ilustrada”, de Fleiuss.

Figura 3 – Caricatura de Antonio Conselheiro, que diz à República: “Não passarás.”


Fonte: Wikimedia Commons

Ao chegar ao País, Agostini começou a trabalhar na imprensa paulista. Trabalhou no


Diabo Coxo, considerado o primeiro periódico ilustrado de São Paulo, juntamente com
o poeta, jornalista, advogado e abolicionista Luís Gama (1830-1882). Agostini trabalhou,
ainda, no satírico Cabrião, em que um desenho lhe valeu um processo judicial, do qual
sairia, mais tarde, vencedor. Segundo Lago e Romancini (2007, p. 61), o desenho mostrava
uma confraternização entre os vivos e os mortos, todos alcoolizados. Cabrião prometia aos
seus leitores, “ser sisudo, todas as vezes que não lhe fizerem cócegas”. A publicação lançou
a figura de um índio, representando a “sacrificada nação brasileira” (A Revista no Brasil,
2000). Com a chegada da República, em 1889, Agostini abandonou o índio oprimido e
adotou a representação romântica de uma figura feminina para representá-la. A “musa”,
no entanto, aparecia frequentemente desmaiada ou com as roupas rasgadas.

Cabrião: Palavra praticamente desconhecida nos tempos atuais, cabrião designa alguém que
incomoda o tempo todo, sem dar sossego, um indivíduo inoportuno. O uso como título de uma
publicação pode nos fornecer uma pista do comportamento desse periódico. Aliás, eram vários
os títulos dos periódicos da época que faziam alusão ao incômodo que gostavam de causar.

14
O talento de Agostini, que em certo momento o levaria a criticar, inclusive, personali-
dades de fora do País, logo o levaria ao Rio de Janeiro, a capital do Brasil à época, onde
fundaria a sua própria publicação, a já citada Revista Ilustrada. Há relatos de que pres-
sões políticas provocadas pelo seu trabalho crítico também colaboraram para que o artista
fosse ao Rio de Janeiro. Na cidade, publica sua primeira caricatura na revista O Arlequim.
Agostini trabalharia no Brasil por quase 40 anos.

A Revista Ilustrada alcançou grande sucesso, chegando a vender 5 mil exemplares


(um número bastante expressivo para a época), distribuídos, inclusive, fora da capital,
nas províncias.

Figura 4 – “Capa festiva” mostra o perfil progressista da Revista Ilustrada,


de Agostini; chamada por Joaquim Nabuco (1849-1910) de “A Bíblia da Abolição”
Fonte: Reprodução

15
15
UNIDADE Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

Agostini seria ainda o pioneiro das histórias em quadrinhos no País. Seu personagem
“Nhô-Quin” é considerado o primeiro personagem de histórias em quadrinhos do Brasil­.
Foi publicado pela revista A Vida Fluminense, em 1869. O personagem retornaria
na Revista Ilustrada entre 1883 e 1888, quanto teria tido seu nome alterado para Zé
Caipora, quando Agostini publicou suas histórias em sua revista. O “novo” personagem
também seria publicado na revista D. Quixote.

Agostini saudou com uma antológica capa a libertação dos escravos no Brasil. Não
chegou a saudar da mesma forma a República, pois estava na Europa em 1889, quando
passou por uma reviravolta familiar (o artista viajou temendo críticas, pois havia se sepa­
rado da esposa para se casar com uma de suas alunas). Em 1885, retorna ao Brasil, depois
de uma imensa tragédia pessoal, e funda a revista D. Quixote, que duraria até por volta
de 1902. Agostini agora emprestava seu talento para ironizar e criticar as personalidades
da República.

Figura 5 – Capa da Revista Ilustrada, de Agostini, mostra


o imperador d. Pedro II “dormindo” sobre os problemas do “paiz”
Fonte: Reprodução

16
Em 1905, Agostini criaria o cabeçalho da revista Tico-Tico (sobre a qual trataremos
mais adiante), considerada a primeira revista em quadrinhos do Brasil. Trabalhou, ainda,
em O Malho, quando já se inicia a utilização da fotografia impressa, ao menos no meio
revista. Nessa publicação, desenhou suas últimas caricaturas e produziu ainda histórias
em quadrinhos para ilustrar notícias que vinham de fora do País. Ângelo Agostini morreu,
em 1910, na cidade do Rio de Janeiro.

Figura 6 – O Zé Povinho, de Bordalo: personagem satírica


que “encarna” a representação popular portuguesa
Fonte: Wikimedia Commons

Nessa época, outro artista de imenso talento chama atenção: o português Rafael
Bordalo (1846-1905). Apesar de ter trabalhado no Brasil por cerca de quatro anos, tem
seu talento reconhecido como um grande artista de sua época. O artista fez alguns inimi-
gos e, ao voltar a Portugal, em 1879, sofreria dois atentados. Rafael Bordalo foi amigo
de Ângelo Agostini, mas aparentemente os dois se afastaram em razão de uma disputa
entre seus talentos e vaidades. Bordalo, como é conhecido, é o responsável pela criação
do “Zé Povinho”, de 1875. O desenho da personagem, da forma como foi imaginada
por Bordalo, foi publicado no periódico português A Lanterna Mágica, lançada pelo
próprio Bordalo, Guilherme de Azevedo e Guerra Junqueiro. Os três se ocultavam sob
o pseudônimo “Gil Vaz”. Nesse mesmo ano, o artista veio ao Brasil, permanecendo por
algum tempo e retornando a Portugal no ano de 1879.

17
17
UNIDADE Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

Para saber mais sobre Rafael Bordalo, visite o museu criado em sua homenagem por Arthur
Ernesto Santa Cruz Magalhães (1864-1928), colecionador, artista e aficionado pela obra de
Bordalo. O museu fica em Lisboa. Disponível em: https://bit.ly/3e2NXPx

A nossa tradição no gênero caricatura é mesmo notável. Como se não fosse suficiente,
a produção brasileira no gênero humor, em geral, também é extremamente competente.
Muitos personagens povoam nossa imaginação, se não os dos tempos do Império e do
início da República, outros, mais recentes, estão no nosso imaginário (pela importância
histórica que adquiriram), ou ainda no nosso dia a dia, nas tiras dos jornais e na internet.

A caricatura apareceria em 1844, na publicação A Lanterna Mágica (não confundir


com a Lanterna, de Portugal), primeira revista dedicada ao humor político do Brasil,
lançada por Manoel de Araújo Porto Alegre e Rafael Mendes de Carvalho. Ainda mais
distante na história, poderíamos remontar esse gênero ao ano de 1837, quando o próprio
Manuel de Araújo Porto Alegre desenhava. Logo depois, ele abandonaria a ilustração
para dedicar-se ao texto.

A partir de 1860, o desenho de humor caricatural seria um artifício comum, como


vimos que acontecia na Semana Ilustrada, de Henrique Fleiuss. Não havia reportagem.
O século XIX tinha sua própria maneira de produzir revistas. Basicamente, em uma
página dupla, os caricaturistas comentavam os que havia acontecido, passando a semana
“em revista”. Isso coloca os artistas como responsáveis pessoalmente pelo sucesso dessas
publicações de veia cômica e, em muitos casos, crítica.

A partir da década de 1860, uma série de publicações apareceria, seguindo os passos


principalmente da Semana Ilustrada, de Fleiuss, e da Revista Ilustrada, de Agostini;
todas­seguindo mais ou menos a mesma fórmula, usando a caricatura e o desenho cômico
para criticar os costumes e a política.

Já no final do século XIX, três grandes nomes do humor gráfico brasileiro definiriam os
novos rumos da área, sobretudo a partir do lançamento da revista O Mercúrio, publicação
que Raul Pederneiras e K. Lixto fundaram em 1898. O terceiro nome dessa lista é o do
caricaturista J. Carlos, considerado por muitos o maior gênio de sua geração.

Raul Pederneiras, ou simplesmente Raul, tinha por característica um humor de certa


maneira “benevolente”. Esteve presente em publicações como a já citada D. Quixote e
em O Malho.

A imagem que nos chega de K. Lixto é a de uma figura excêntrica e de intenso ritmo
de trabalho. Consta que até as primeiras décadas do século XX o artista teria feito mais
de 100 mil desenhos. Trabalha nas revistas D. Quixote, O Malho, Fon-Fon e Careta.

José Carlos de Brito e Cunha, o J. Carlos, tinha um traço elegante e criou personagens
icônicos, como a Melindrosa, o Almofadinha e o Lamparina. O artista documentaria como
ninguém a “República Velha” e os 20 anos seguintes, também como redator, inclusive.

18
Figura 7 – Em 1919, J. Carlos previa nessa charge, de 1919,
uma nova guerra em poucos anos
Fonte: Wikimedia commons

Outro trio de artistas documentaria por meio do desenho e da caricatura os conturba-


dos anos 1920: Théo, Alvarus, Nássara e Augusto Rodrigues. Eles mostrariam, ainda, os
fatos que dominariam as discussões do período, como a revolução de 1930 (Estado Novo),
a Segunda Guerra Mundial e a queda de Getúlio Vargas, em 1945; e ainda dariam o tom
para a próxima geração, a de Millôr Fernandes. Havia ainda uma mulher no grupo: Nair
de Teffé, filha do Barão de Teffé, que assinava suas obras como Rian, um anagrama
para seu nome.
A partir de 1928, surge a revista O Cruzeiro. Trata-se de uma das maiores realizações
editoriais do Brasil no meio revista, já que a publicação circulou até 1975, com muito
sucesso. Seria nas páginas de O Cruzeiro que Péricles Maranhão daria vida ao “Amigo
da Onça”, um dos mais famosos personagens de humor do Brasil, até hoje reconhecido
pelo grande público. O personagem se mostrava absolutamente cínico e cruel em diver-
sas situações. Esse comportamento impôs uma expressão popular: quando alguém diz
ou faz algo que nos prejudique é um “amigo da onça”. A página de Péricles, como era
conhecido seu criador, foi um dos maiores sucessos da revista, editada pelos Diários
Associados, de Assis Chateaubriand.

Coube ao pernambucano Péricles Maranhão criar, também em O


­Cruzeiro, o mais famoso personagem humorístico do país, O Amigo da
Onça (...). O Amigo da Onça nasceu de uma disputa entre os desenhistas
de O Cruzeiro­para ver qual deles conseguiria criar um personagem bem
brasileiro. G
­ anhou a cara ovóide, de olhos arregalados e fino bigodinho
que por quase vinte anos, a partir de 1943, faria rir milhões de brasileiros.
(A revista no Brasil, 2000, p. 224)

19
19
UNIDADE Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

Depois da morte de Péricles, em 1961, a criação sobreviveria pelo traço de outros


artistas, sobretudo o de Carlos Estevão. O Cruzeiro foi uma das mais importantes e
longevas publicações do século XX.

Juca Pato é outro personagem frequentemente lembrado, sobretudo pelos mais “expe-
rientes”. O personagem foi criado pelo cartunista Benedito Carneiro Bastos Barreto, ou
Belmonte, como se tornou conhecido.

Figura 8 – Juca Pato, personagem icônico de Belmonte


Fonte: Wikimedia Commons

Muito diferente do “Amigo da Onça” era Juca Pato, que representava a classe média
paulistana. Só se dava mal. Tudo sobrava para ele, que dizia: “podia ser pior”. Era inco-
modado com frequência por problemas que até hoje permanecem, como o custo de vida,
a corrupção e outras mazelas. O personagem criticou o Estado Novo de Getúlio Vargas
em diversas ocasiões; Getúlio, inclusive, aparecia com frequência. Juca Pato era publi-
cado pelo jornal Folha da Manhã, hoje Folha de S.Paulo, mas apareceu em inúmeras
ocasiões­, às vezes até mesmo como “garoto propaganda”. Eventualmente, o encontramos
por aí, anunciando os mais diversos produtos. Com sua pena afiada, criticou, ainda, Hitler
e o nazismo na Alemanha.

O personagem Juca Pato, de Belmonte, se prepara para uma “tempestade de impostos”.


Disponível em: https://bit.ly/3AdTcVG

Sabia mais sobre Belmonte, o criador do Juca Pato na reportagem “Veemência das Charges
de Belmonte Irritou até o Regime Nazista“. Disponível em: https://bit.ly/36fWtGg

20
As décadas de 1930 e 1940 consolidariam os super-heróis. A partir da década de 1950,
o quadrinho de terror ganha força, com dezenas de títulos publicados. Os gibis de terror aca-
baram ficando muito sexualizados, o que acabou provocando sua drástica derrocada. Havia,
ainda, um sentimento negativo para com os gibis depois da Segunda Guerra Mundial. A publi­
cação do livro Seduction of the Innocent (“A sedução dos inocentes”, em tradução livre),
em 1954, do psicólogo Fredric Wetham, insistia que o comportamento dos personagens
era uma péssima influência para as crianças. Na década de 1950, as editoras americanas
criaram a Associação Americana de Revistas em Quadrinhos, responsável pela regulação
das revistas de acordo com um código de ética bastante restritivo. Esse sentimento também
repercutiu por aqui.

Figura 9 – Selo de aprovação usado pelas editoras americanas,


que impuseram a autocensura na década de 1950
Fonte: mis-sp.gov

Em 1934, acontece uma verdadeira invasão. Jim das Selvas, Mandrake, Tarzan, entre
outros, são trazidos dos Estados Unidos por Adolpho Aizen (1904-1991). Aizen era russo,
naturalizado brasileiro, e é tido por muitos como um dos responsáveis pelo crescimento
dos quadrinhos no Brasil. Os personagens aparecem primeiramente no suplemento do
jornal A Nação, em que brasileiros como Monteiro Filho e Carlos Thiré também parti-
cipam. O resultado foi a criação de uma revista, o Suplemento Juvenil. Em 1945, Aizen
fundaria a Editora Brasil-América (EBAL), velha conhecida dos fãs das HQs americanas.
A EBAL editou para o público brasileiro com grande qualidade gráfica para a época as
histórias do Superman e do Batman, entre outros. Alguém com mais de 50 anos que seja
um fã de histórias em quadrinhos poderá confirmar a relevância da EBAL.
É muito comum que chamemos as revistas em quadrinhos de “gibis”, certo? Você sabe
qual a origem do termo? A palavra “gibi”, designa simplesmente um “menino”. O uso do
termo como sinônimo de revistas em quadrinhos é um fenômeno brasileiro, provocado
pelo enorme sucesso da revista Gibi, lançada pela RGE a partir de 1939.
Em 1937, Roberto Marinho (1904-2003) fundou O Globo Juvenil, que mais tarde pas-
saria a se chamar Rio Gráfica Editora, a RGE. O sucesso foi tanto que Assis Chateaubriand
(1892-1968) lançaria posteriormente a revista O Guri. Coincidência? Certamente não.

21
21
UNIDADE Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

O Guri, aliás, tem o mérito de ser o primeiro “gibi” impresso totalmente em cores e com
o formato inovador comic book. Isso mostra a relevância comercial dos quadrinhos, que
chamaram atenção desses dois grandes empresários da comunicação. Roberto Marinho é
o fundador das Organizações Globo e Assis Chateaubriand era dos Diários Associados e
ligou seu nome à chegada da televisão ao Brasil.

As revistas Gibi e O Guri, em dois momentos. Disponível em: https://bit.ly/3y4xn9l

O Pato Donald ganha sua revista própria em 1950. Com ela, Victor Civita funda a Edi-
tora Abril, e o Pato Donald seria um de seus títulos mais longevos. O personagem, criado
em 1942 por Walt Disney, já havia sido publicado por aqui pela revista Gibi, entre outras.

O nacionalismo de JK traria de O Cruzeiro, O Pererê, revista de Ziraldo, e Mauricio


de Sousa iniciava sua carreira. Lembra-se da pergunta sobre o gibi da Mônica? Podemos
ver agora o quanto de história está ali depositada, ainda que indiretamente.

Em 1955, a revista Tico-Tico completava 50 anos. Ela era, segundo Carlos Drummond
de Andrade, a “segunda vida dos meninos”. O poeta escreveu uma crônica por ocasião do
cinquentenário da revista, publicada no jornal Correio da Manhã. A seguir, conheceremos
um pouco mais sobre essa importante revista.

Visite o site do Instituto Moreira Sales e conheça as obras de J. Carlos que integram o acervo
do IMS. Não deixe de assistir aos vídeos, também presentes na página do artista.
Disponível em: https://bit.ly/2TEqBbR

O Humor Gráfico Brasileiro no Século XX


O século XX se iniciava, e junto com ele uma revista que teria, além do título de
primeira revista em quadrinhos do Brasil, leitores ilustres, como Rui Barbosa e Carlos
Drummond de Andrade. Segundo a publicação A Revista no Brasil (2000, p. 146), a
revista O Tico-Tico chega em um “trilho aberto – cinquenta anos antes, exatamente
– por um francês, o litógrafo Sebastien Auguste Sisson”. De fato, Sisson publicara em
1855 aquela que é considerada a primeira história em quadrinhos do Brasil: “O namoro,
quadros ao vivo”, em O Brasil Ilustrado.

Sebastien Auguste Sisson (1824-1898), litógrafo e caricaturista, chegou ao Rio de


Janeiro em 1852. Apesar das críticas contidas em suas obras, o Imperador d. Pedro II o
nomeou “litógrafo imperial”, em 1866.

A revista O Tico-Tico foi fundada, em 1905, por um grupo liderado por Luís
Bartolomeu­de Souza e Silva e costumava trazer, logo abaixo do cabeçalho desenhado
pelo grande Ângelo Agostini, a frase: “Manda quem pode.”.

22
Figura 10 – O clássico cabeçalho de O Tico-Tico, desenhado por Agostini
Fonte: Wikimedia Commons

O Tico-Tico é uma iniciativa nacional pioneira. Mal sabiam seus criadores que os
artistas das gerações futuras ainda passariam por muitos perrengues para consolidar os
quadrinhos nacionais, sobretudo com a concorrência dos personagens norte-americanos,
do Pato Donald ao Superman. Na Argentina foi diferente. Houve uma lei que proibia o
quadrinho estrangeiro. Isso parece muito radical, é verdade, mas ajudou a legar ao mundo
personagens maravilhosos como a Mafalda, de Quino. Isso talvez não tivesse acontecido
se não houvesse a proibição e, com ela, a valorização dos quadrinistas argentinos.

O Tico-Tico foi, ainda, “uma das primeiras publicações exclusivas, destinada aos
meninos e aos adolescentes” (Revista no Brasil, p. 149). Chiquinho foi um de seus
personagens mais conhecidos. O grande J. Carlos passou por lá por volta de 1928 e
colaborou também com a revista. A publicação lançou, ainda, personagens de sucesso,
como “Réco-Réco, Bolão e Azeitona”, de Luiz Sá. A revista era publicada pelos mesmos
editores de O Malho, custava 200 réis e era dedicada integralmente às crianças.

Figura 11 – Réco-Réco, Bolão e Azeitona,


em edição de 1958, da revista O Tico-Tico
Fonte: Reprodução

23
23
UNIDADE Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

É possível ler edições de O Tico-Tico na íntegra, graças ao projeto Memória da Biblioteca


Nacional. Para acessar as revistas. Disponível em: https://bit.ly/3hv11Oo

A revista O Cruzeiro seria, ainda, o berço de um dos mais famosos artistas do humor
brasileiro: Millôr Fernandes. Ele começou a trabalhar na revista como contínuo, mas,
com o tempo, assumiria um papel de destaque na publicação e no cenário do humor
gráfico nacional. Em certa ocasião, faltavam quatro páginas para A Cigarra, uma publi-
cação do mesmo grupo de O Cruzeiro, e Millôr acabou preenchendo-as com textos de
humor. Nessa época, ele já era “experiente”, pois havia publicado o primeiro desenho
com apenas dez anos de idade.

Mais tarde, Millôr ganharia fama ao criar a seção “Pif-Paf”, sob o pseudônimo de
­Emmanuel Vão Gogo. A seção começou com textos de Millôr e arte de Péricles Maranhão­,
mas logo Millôr assumiria também os desenhos. A iniciativa logo se transformou em uma
revista própria.

Segundo o site do Instituto Moreira Salles, tratava-se de uma “versão ampliada e em


formato revista da seção homônima que manteve até o ano anterior em O Cruzeiro. Ele,
Claudius, Fortuna, Jaguar, Ziraldo e outros publicaram oito números em 1964, até que
a perseguição da ditadura militar os fez desistir”.

“Por Dentro dos Acervos – Pif-Paf de Millôr Fernandes”, conheça mais sobre a revista.
Disponível em: https://bit.ly/3yCTNir

A presença de Millôr Fernandes na revista O Cruzeiro durou 20 anos. Millôr tinha uma
posição privilegiada na revista e um excelente salário, o que o tornava uma referência para
outros artistas.

O golpe de 1964 transformou a cena do humor no Brasil. Millôr Fernandes, como


vimos, depois de deixar a revista O Cruzeiro, fundou a revista Pif-Paf, com a colabo-
ração de outros grandes artistas do humor brasileiro. A revista chegou a vender 40 mil
exemplares, mas teve apenas oito edições. A publicação encontrou seu fim em agosto de
1964. A última edição trazia um “recado” à ditadura brasileira: para que esta impedisse a
publicação de revistas como Pif-Paf, sob o risco de instaurar-se uma democracia no Brasil.
Genial! A edição, obviamente, foi apreendida.

Millôr também trabalhou na revista Veja a partir de 1968. O artista passaria, ainda,
por outros importantes veículos da mídia brasileira, como a revista IstoÉ e o Jornal do
Brasil. Quando deixou a revista Veja, Millôr foi substituído por Luís Fernando Veríssimo,
criador da “velhinha de Taubaté”, e por Jô Soares, criador de personagens icônicos para o
humor televisivo, como o “Capitão Gay” e o “Caçador de Corruptos”. Com ele, a revista
Veja voltava o seu humor mais à questão do texto. Nos anos 1990, a revista contaria nova­
mente com um humor gráfico notável, sobretudo em razão da participação de nomes como
Paulo e Chico Caruso e também do cartunista Henfil.

24
Todo esse cenário precisou ser apresentado, pois uma geração inteira cresceu lendo os
tais “gibis”, da revista original aos seus “descendentes”, inclusive na imprensa tradicional
(jornais e revistas). Um exemplo disso é o lançamento da revista Balão, editada por Paulo
e Chico Caruso, Laerte e Luiz Gê, hoje ainda produzindo a todo vapor. A revista nasceu
na Universidade de São Paulo e foi pioneira, com quase uma dezena de edições. A ela
seguiram-se muitas outras de cunho experimental, iniciativa de quadrinistas brasileiros.

A consolidação das histórias em quadrinhos e, portanto, do gibi, influenciaria enor-


memente uma futura geração de artistas, que cresceram lendo as histórias nos gibis.
Aliás, você conhece a expressão: “isso não está escrito em ‘gibi’ nenhum”? Alguns desses
nomes, que se tornaram gigantes da HQ nacional, realmente inovaram e têm ainda ino-
vado em sua atividade diária. Direta ou indiretamente, todos os quadrinistas em atividade
no Brasil bebem de todas as fontes citadas, desde a segunda metade do século XIX.

Leia o especial “Notas e Traços”, que trata de um diálogo entre as obras de Luiz Gê e do
compositor Arrigo Barnabé. Entre outros materiais históricos, você vai encontrar por lá todas
as capas da revista Balão. Disponível em: https://bit.ly/3Au3GQW

Vinda diretamente do mainstream, a revista Crás, da Editora Abril, prometia abrir


as portas para os artistas nacionais. Infelizmente, a promessa não se cumpriu; e ainda
mais espaço foi cedido aos quadrinhos americanos, sobretudo em razão da falta de uma
legislação específica para o quadrinho nacional.

Outro caso interessante é o da editora Grafipar, fundada em 1977, em Curitiba, que


durante a ditadura militar publicou diversos títulos eróticos. Grandes artistas nacionais
trabalharam para as revistas. Apesar de suas publicações serem aparentemente um tanto
superficiais, a revista colaborou para que esses artistas nacionais de grande talento pudes-
sem trabalhar em um momento difícil do País. Outro exemplo de quadrinhos eróticos
nacionais são os “catecismos” de Carlos Zéfiro (1921-1992), publicados entre as décadas
de 1950 e 1970.

Um Pasquim Entre os Pasquins


No finalzinho da década de 1960, após o enterro de Sérgio Porto (mais conhecido
talvez como Stanislaw Ponte Preta), que era diretor do jornal humorístico A Carapuça,
foi criado O Pasquim. Não um pasquim qualquer, mas O Pasquim. Isso mesmo, artigo
definido, começando com letra maiúscula. No cabeçalho da publicação podia-se ler:
“Aos amigos, tudo; aos inimigos, justiça”. O objetivo dos fundadores, o cartunista Jaguar
e os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral, era preservar a memória de Porto, que
era jornalista, cronista e humorista.

As bancas de jornais começaram a vender esse jornalzinho esquisito, e as vendas só


aumentavam, superando com frequência as expectativas. O público era composto basi-
camente de jovens e estudantes. Como se diz por aí, “o resto é história”. O tal jornalzinho
“esquisito”, O Pasquim, foi um verdadeiro divisor de águas no humor gráfico brasileiro.

25
25
UNIDADE Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

O sucesso não foi à toa. O jornal contava com um time de peso. Nomes como Jaguar,
Henfil, Ziraldo e Fortuna, entre outros, que fizeram d´O Pasquim uma das mais impor-
tantes publicações brasileiras, um verdadeiro retrato do Brasil da época. O conteúdo do
jornal era sempre muito engraçado e repleto de crítica social, honrando uma tradição
muito presente entre nós, como vimos.

Os tempos eram bastante difíceis. A primeira edição d´O Pasquim circulou em junho
de 1969. O AI-5 havia sido assinado em dezembro de 1968 e, em razão disso, não foram
poucas as vezes em que a equipe se viu em apuros ou que as edições acabaram sendo
apreendidas pela polícia.

Figura 12 – Capa da primeira edição d´O Pasquim


Fonte: espm.edu

Já no final de 1969, 11 integrantes do jornal foram presos. O motivo foi uma alte-
ração publicada no jornal de uma obra do pintor acadêmico Pedro Américo, Indepen-
dência ou morte. Na releitura, em vez do grito tradicional de independência, D. Pedro I
brada “Eu quero mocotó”. Segundo o site da Biblioteca Nacional, O Pasquim publicou
duas edições com piadas recorrentes sobre o “mocotó”. Isso se deu em razão de um
episódio anterior, quando o maestro Erlon Chaves fez uma performance no Festival da
Canção com a música “Eu quero Mocotó”, de Jorge Ben Jor (na época apenas Jorge
Ben). Millôr e Henfil teriam escapado por pouco da prisão. A censura entendeu que o
balão sobre a pintura de Pedro Américo era um atentado contra um símbolo da pátria.

O Pasquim adquiriria grande importância no cenário do jornalismo brasileiro, prin-


cipalmente por se opor à ditadura militar, que governou o País após o golpe de 1964.
Surgido no Rio de Janeiro, além de criticar o governo, também o fazia contra os hábitos
da elite carioca, isso sempre abordando temas que outros periódicos não costumavam
abordar, por serem considerados tabus. Segundo reportagem da revista Código, produto
experimental do curso de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul, O Pasquim “reuniu

26
jornalistas, cartunistas e intelectuais como Millôr Fernandes, Ziraldo, Chico Buarque, Ivan
Lessa, Paulo Francis, Vinícius de Moraes, Glauber Rocha, Odete Lara, Carlos Prósperi­,
Henfil, Fortuna, Cacá Diegues, Miguel Paiva, Carlos Leonam, entre outros tantos”.
Um timaço muito afiado de artistas, sem dúvida.

Henfil. Disponível em: https://bit.ly/3hj167J

Além de integrar o “time” d´O Pasquim, Henfil lançou a revista Fradim, com os
personagens Zeferino, Graúna, Bode Orelhano e os Fradinhos. Para Bite-Luyten (1993,
p. 83), “foi o cangaceiro Zeferino, o homem do povo, lá do sertão nordestino, que melhor
criticou a realidade brasileira”. Hemofílico, Henfil faleceu em 4 de janeiro de 1988, vítima
do vírus da AIDS, contraído em uma de suas frequentes transfusões de sangue.
Em 1970, O Pasquim chegou a vender 250 mil exemplares. No começo daquele
ano, a redação sofreria um ataque a bomba. É interessante observar como o humor
pode ser crítico e realmente ir direto ao ponto nevrálgico das questões, provocando
reações descabidas e violentas. Lembremos que, não faz muito tempo, outro ataque foi
realizado na sede da produtora Porta dos Fundos, um grande sucesso no YouTube e em
outras mídias. Felizmente, esses dois atentados não tiveram êxito.

O Pasquim em três momentos: destaque para temáticas “difíceis”.


Disponível em: https://bit.ly/3AbArSZ

Uma das maiores polêmicas d´O Pasquim foi uma entrevista com a atriz Leila Diniz.
“Eu posso amar uma pessoa e ir para a cama com outra. Já aconteceu comigo”, disse
a atriz durante a famosa entrevista. Leila era uma mulher independente, que falava de
forma aberta sobre sexo, casamento e outros assuntos que, para a época, não deveriam
estar fora do âmbito privado. A sociedade brasileira era (e, apesar de muitos avanços,
ainda pode ser) muito conservadora.

Recentemente, o SESC Ipiranga, em São Paulo, realizou uma exposição comemorativa aos
50 anos d´O Pasquim. Disponível em: https://youtu.be/w7YEFTgEn0c

Em 1989, o jornal foi vendido para o empresário João Carlos Rabelo e, em 1991,
O Pasquim publicava sua última edição. Sempre relevantes, foram publicadas mais de
mil edições ao longo de sua existência.

Os Quadrinhos Underground (ou Udigrudi)


O termo underground significa “subterrâneo”. No sentido utilizado aqui pode ser
enten­dido, de certa forma, como “marginal”, considerando o que está à margem, ou,
ainda­, fora do chamado mainstream. Certamente, os quadrinhos underground no Brasil,
representados pela figura de Angeli e outros, mostram muito do que está realmente fora
da visão da maioria das pessoas.

27
27
UNIDADE Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

Nos anos 1960/1970, uma série de eventos no mundo passou a contestar o poder
esta­belecido. O movimento underground iniciou-se nos Estados unidos e punha em xeque
algumas questões entendidas como certas pelo status quo.

O movimento hippie e os protestos contra a Guerra do Vietnã têm para com esse
movimento certa interface. No Brasil, lutava-se, sobretudo, contra a ditadura militar, por
mais liberdade. O movimento underground chegou ao Brasil e, em princípio, recebeu
o estranho rótulo de Udigrudi. Não há dúvidas de que o movimento americano havia
plantado sementes nos quadrinhos nacionais.

Além da questão política, destaca Bibe-Luyten (1993, p. 80), a concorrência avassa-


ladora dos quadrinhos americanos fez circular no meio universitário várias publicações
independentes. Algumas delas duravam poucos números. Já vimos um exemplo: a revista
Balão. Esses universitários não se prendiam aos modelos do mercado e estavam atentos
ao que acontecia fora do País.

A influência do estilo underground americano estava clara. O conteúdo, no entanto,


via de regra, tratava da situação política do País ou de situações cotidianas do cidadão
comum, das periferias, em contraste com o universo dos ricos. Assim, essas publicações
independentes tratavam de assuntos que a grande imprensa, sob forte censura, sobretudo
desde o AI-5, não podia tratar. A falta de apoio de uma política específica aos artistas
também colaborou indiretamente com o desenvolvimento desse cenário, assim como
a falta de oportunidade nas grandes editoras. A criatividade desses quadrinistas estava
fervendo e eles precisavam produzir e publicar.

Bibe-Luyten (1993, p. 80) afirma, ainda, que essas revistas que circularam no meio
universitário fizeram com que a imprensa e os quadrinhos brasileiros ganhassem nomes
de grande talento:

A imprensa brasileira e os outros meios de comunicação ganharam exce-


lentes artistas, como os irmãos Caruso, Luís Gê, Gus, Miadara, Jal, Nani,
Laerte, Flávio del Carlo, Xalberto, Dagomir, Marchesi, Otacílio, Geandré
e outros. (BIBE-LUYTEN, 1993, p. 81)

A inspiração veio de artistas como Robert Crumb, Gilbert Shelton e Victor Moscoso,
divulgados no Brasil pela revista Grilo. A revista, publicada entre 1971 e 1972, foi a
responsável pela publicação no Brasil dos quadrinhos de Robert Crumb, considerado o
maior nome do quadrinho underground americano.

Veja um breve histórico da revista Grilo, além de uma maravilhosa galeria de capas. Dispo-
nível em: https://bit.ly/3wcSWmQ

Em 1975, o experiente cartunista Fortuna reuniu nomes como Nani, Claudio Paiva,
Luiz Gê, Laerte e outros para lançar O Bicho (“de cor variada por fora e preto e branco
por dentro”), influenciada, entre outras, pela Balão. A revista, infelizmente, não teve boa
aceitação, pois foi bastante criticada pela mídia.

28
Figura 13
Fonte: Reprodução

Visita o site “HQ memória” e conheça a história e as capas da revista O Bicho.


Disponível em: https://bit.ly/2STzJJm

A Circo Editorial
A Circo Editorial foi fundada por Toninho Mendes no início da década de 1980. Muitos
cartunistas nacionais chegaram ao grande público depois de fazer história nas revistas da
editora, embora suas publicações tivessem assumidamente um caráter alternativo.

A revista Circo, editada por Luiz Gê e Toninho Mendes, trazia o nome da própria edi-
tora. Publicava o material produzido por Luiz Gê, Laerte e Toninho Mendes. Mesclava,
ainda, quadrinhos europeus (espanhóis e franceses) com brasileiros de grande qualidade,
de autoria de nomes como Paulo Caruso, Glauco, Alcy, Laerte e Angeli. A revista não teve
vida longa. Publicou ao todo noves edições (incluindo um especial).

29
29
UNIDADE Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

Figura 14 – Revista Circo, n. 1


Fonte: Reprodução

A Chiclete com Banana era a revista do cartunista Angeli, um artista que tem os
seus personagens reconhecidos pelo grande público e um trabalho que ganhou muita
visibilidade, sobretudo a partir dos anos 1980, com personagens como o Bob Cuspe,
o Bibelô, a Rê Bordosa, entre outros. Angeli já publicava suas tiras no jornal Folha de
S.Paulo, o que lhe permitia grande visibilidade. Além da Chiclete com Banana, a editora­
publicava as revistas Piratas do Tietê, de Laerte, Geraldão, de Glauco (1957-2010), e
­Níquel Náusea, de Fernando Gonzales. Todas elas leituras imperdíveis para quem apre-
ciava quadrinhos nos anos 1980/1990.

Figura 15 – Publicações da Circo Editorial: editora


que fez história na publicação de quadrinistas nacionais
Fonte: Reprodução

30
A partir dos anos 1990, os super-heróis voltariam com força e surge também a graphic
novel, aumentando ainda mais a concorrência. Os quadrinhos ditos “marginais” já tinham
garantido o seu nicho de mercado e uma boa base de fãs, mas a batalha para os artistas
de quadrinhos no Brasil é sempre difícil, daí a importância da Circo Editorial em um
cenário tão competitivo.

Graphic Novel: Segundo a Revista no Brasil (2000, p. 154), graphic novel é um “termo cria-
do pelos americanos para fugir ao comics, já então considerado depreciativo”. Em tradução
livre, podemos entender o termo como “romance gráfico”, que de uma história complexa
que se utiliza da linguagem sequencial das HQs. A criação do termo, por vezes, é atribuída
a Will Eisner. Se parece improvável que ele tenha criado o termo, sem dúvida, elevou a pro-
dução desse tipo de material a um novo patamar. Vale a pena conhecer a obra do artista.
O lançamento da série Graphic Novel, da Editora Abril, nos anos 1990, é outro marco dos
quadrinhos no Brasil.

Figura 16
Fonte: Reprodução

E Agora?
Depois de apresentados, ou reapresentados, todos esses nomes, podemos tomar uns
minutinhos de fôlego. Percorremos uns 200 anos em poucas páginas e, é claro, muita
coisa boa ficou de fora. A obra de Jaguar, Edgar Vasques, Luís Fernando Veríssimo e do
próprio Ziraldo, por exemplo, poderiam ser, a partir de agora, alvo de nossas pesquisas.

31
31
UNIDADE Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

Depois de passar pela unidade, qual seria, na sua visão, o estilo (em vários sentidos: traço,
cores, personalidade) do personagem ideal para o Brasil de agora? Que personagem nos
faria rir de nós mesmos e das nossas questões e ainda provocar uma reflexão sobre os fatos.
Será que esse personagem existe? Ou está para ser criado? Pense nisso!

Para encerrarmos, é importante ressaltar que nenhum espaço seria suficiente para
fazer justiça a esses heróis que nos fazem rir diante da mais cruel omissão, da situação
mais desesperadora. Depois do riso, é claro (que às vezes mascara, como vimos, uma
opinião política), vem a reflexão. Longa vida aos artistas do humor gráfico brasileiro e
que jamais falte nanquim em suas penas!

32
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Biblioteca Nacional Digital – O Pasquim
Para quem se interessou pela turma d´O Pasquim, a Biblioteca Nacional disponibilizou
todas (sim, todas!) as edições do periódico para consulta. Interessante ler (ou reler) esses
textos com o devido contexto histórico.
https://bit.ly/2TeFYYr

Livros
Will Eisner: Um Sonhador nos Quadrinhos
Se você gosta dos quadrinhos americanos, leia a biografia de Will Eisner, publicada pelo
jornalista Michael Schumacher (Editora Globo). O texto é envolvente, assim como a história
de Eisner, emocionante como suas HQs.
Shumacher, M. Will Eisner: Um Sonhador nos Quadrinhos. 2013

O Tico-Tico: cem anos de revista


De autoria de Ezequiel Azevedo e publicado pela Via Lettera. Assim, você poderá conhecer
de maneira mais detalhada a história dessa que é uma das mais importantes revistas volta-
das ao público infantil do Brasil.

Filmes
Laerte-se
Assista ao documentário Laerte-se, na Netflix. Nele, “a cartunista Laerte nos convida a
conhecer seu mundo e reflete sobre a longa trajetória de sua autoaceitação como mulher”.
Imperdível.
https://youtu.be/XruSkaEMPog

Leitura
As aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora: Os primeiros quadrinhos brasileiros 1869-1883
Conheça a história desses queridos personagens criados por Ângelo Agostini.
https://bit.ly/3qBQRj2

33
33
UNIDADE Humor Gráfico: Arte, Ilustração e Quadrinhos

Referências
A REVISTA NO BRASIL. São Paulo: Editora Abril, 2000.

BIBE-LUYTEN, S. M. O que é história em quadrinhos. São Paulo: Brasiliense, 1993.

EISNER, W. Quadrinhos e arte sequencial. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

LAGO, C.; ROMANCINI, R. História do jornalismo no Brasil. Florianópolis: Editora


Insular, 2007.

MOPE – Manual de Orientação para produção editorial. Brasília: Câmara Setorial do


Livro e Comunicação Gráfica, s/d.

MOYA, Á. Shazam. São Paulo: Perspectiva, 1977.

NERY, J. E. Graúna e Rê Bordosa – O humor gráfico brasileiro de 1970 e 1980. São


Paulo: Edições Pulsar, 2006.

SCALZO, M. Jornalismo de revista. São Paulo: Contexto, 2003.

SCHUMACHER, M. Will Eisner: um sonhador dos quadrinhos. Rio de Janeiro: Editora


Globo, 2013.

34

Você também pode gostar