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A ARTE DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

Prof. Dr. LUIZ GUILHERME DOS SANTOS JUNIOR


• Nasceu na cidade de Nova York, em 06 de Maio de 1917.
Ingressou no mercado de quadrinhos em 1936, após cursar a
New York Art student League.

• Eisner é chamado de “mestre” pelos grandes nomes da HQ,


ficou famoso por utilizar conceitos inéditos nos quadrinhos.
“A configuração geral da revista de quadrinhos apresenta uma
sobreposição de palavra e imagem, e, assim, é preciso que o
leitor exerça as suas habilidades interpretativas visuais e
verbais. As regências da arte (por exemplo, perspectiva,
simetria, pincelada) e as regências da literatura (por exemplo,
gramática, enredo, sintaxe) superpõem-se mutuamente. A
leitura da revista de quadrinho é um ato de percepção estética
e de esforço intelectual.” (EISNER, 1989, p. 8).
ORIGENS DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS
É possível remontar aos tipos
de registo pictórico utilizados
pelo homem pré-histórico para
representar, por meio de
desenhos, as suas crenças e o
mundo ao seu redor. Ao longo
da história esse tipo de registo
se desenvolveu de várias
formas, desde a escrita
hieroglífica egípcia até às
tapeçarias medievais, bem
como aos códigos/histórias
contidos numa única pintura.
Por exemplo, a obra de Bosch
no Museu de Arte Antiga, em
Portugal, "As Tentações de
Santo Antão", representam
sequencialmente passos da vida
do santo.
• Advindo dessa sua ligação embrionária à Imprensa, a banda desenhada
encontra seus precedentes nas sátiras políticas publicadas por jornais
europeus e norte-americanos, que traziam caricaturas acompanhadas
de comentários ou pequenos diálogos humorísticos entre as
personagens retratados. Mais tarde esse recurso daria origem aos
"balões", recurso gráfico que indica ao leitor qual das personagens em
cena está falando (donde o termo italiano "fumetti" - os balões
lembram fumaça saindo da boca dos interlocutores). No século XIX o
livro Max und Moritz, do escritor e desenhista alemão Wilhelm Busch é
considerado como o precursor dos quadrinhos - pois cada acção era
ricamente ilustrada, tornando o texto mais agradável ao público
infantil.
• Na década de 1930, essas tiras e dominicais
começaram a ser coleccionadas em revistas,
dando origem aos primeiros "comic books".
Esses primeiros "gibis" tiveram grande
sucesso, e logo o material disponível não
era suficiente. Surgiram então os estúdios
especializados na produção de histórias
produzidas especificamente para a página
de revistas. A liberdade de usar a página
(livre das restrições da "tira") permitiu aos
quadrazitas um salto criativo.
• Em 1938, com a publicação e o estrondoso
sucesso da primeira história do Superman,
surgiu o género dos super-heróis, que se
tornaria o paradigma dos quadrinhos norte-
americanos. Em torno desses heróis
mascarados, a partir da década de 1940,
desenvolveu-se uma verdadeira indústria
do entretenimento.
Na década de 1950, a popularidade e a variedade das
revistas em quadrinhos norte-americanas era
enorme (a maioria traduzida ao redor do mundo).
Faziam muito sucesso, além dos super-heróis,
revistas de guerra e terror. Considerados
excessivamente violentos e uma influência
perniciosa para a "juventude", os quadradinhos
passaram a sofrer fortes pressões
governamentais. Essas pressões acabaram por
forçar, nos EUA, a criação do Comics Code
Authority, um código de "ética" que conseguiu
praticamente exterminar a criatividade dos
quadradinhos norte-americanos nas duas décadas
seguintes. Praticamente, porque na década de
1960 autores underground como Robert Crumb
começaram a vender nas esquinas seus
quadradinhos extremamente autorais, sem
limites. Crumb e numerosos colaboradores da
lendária Zap Comix influenciaram uma nova
geração, mostrando que os quadradinhos eram
um meio de expressão de grande potencial.
A história da censura sobre os quadrinhos começa
em 1938, na Itália, com o ditador Benito
Mussolini. Alegando "questões de soberania
nacional", Mussolini baniu de toda a Itália as
revistas de histórias em quadrinhos - a maioria,
na época, era de origem estadunidense -
alegando que elas eram uma 'contracultura
corrosiva' que prejudicava a formação dos jovens
italianos.
Gonçalo Júnior, autor do livro A Incrível Guerra
dos Gibis.
O QUE SÃO HISTÓRIAS EM QUADRINHOS?

A banda desenhada é chamada


de "Nona Arte“ dando seqüência
à classificação de Ricciotto
Canudo. O termo "arte
sequencial" (traduzido do
original sequential art), criado
pelo quadrinista Will Eisner com
o fim de definir "o arranjo de
fotos ou imagens e palavras para
narrar uma história ou
dramatizar uma idéia", é
comumente utilizado para definir
a linguagem usada nesta forma
de representação. Uma
fotonovela e um infográfico
jornalístico também podem ser
considerados formas de arte
sequencial.
QUADRINHOS: CONCEITOS BÁSICOS

“Quadrinhos são uma narrativa gráfico-visual,


impulsionada por sucessivos cortes, cortes esses
que agenciam imagens rabiscadas, desenhadas e/ou
pintadas. O lugar significante do corte – que
chamaremos de corte gráfico – será sempre o lugar
de um corte espácio-temporal, a ser preenchido pelo
imaginário do leitor” (Cirne, 2000, p.23).
“Cinema e quadrinhos – artes essencialmente narrativas -, enquanto bens
simbólicos, enquanto produção social de sentidos (estéticos e
culturais), são formações semióticas, como o são outros discursos
artísticos e/ou literários. Nos dois, há uma primeira aproximação
semiótica: a imagem. Mesmo que no cinema a imagem fotografada
esteja em movimento, através de processo mecânico provocado pela
projeção de 24 fotogramas por segundo, e nos quadrinhos, veiculados
pela mídia impressa a imagem desenhada seja ‘congelada’, o que
importa, em primeiro lugar, é a concretude da imagem”
(Cirne, 2000, p.134).
“a expressão artística de um quadrinho bem realizado
não está apenas no desenho otimamente composto,
acadêmico ou não; antes está, a par de sua temática,
no agenciamento narrativo, fundado nos cortes que
apontam para a articulação semântica entre as
imagens” (Cirne, 2000, p.144).
WATCHMEN
• Watchmen é uma série de história em
quadrinhos escrita por Alan Moore e ilustrada
por Dave Gibbons, publicada originalmente
em doze edições mensais pela editora
estadunidense DC Comics entre 1986 e
1987. A série foi reimpressa mais tarde em
brochura (ou trade paperback).
• Watchmen é considerada um marco
importante na evolução dos quadrinhos nos
EUA: introduziu abordagens e linguagens
antes ligadas apenas aos quadrinhos ditos
alternativos, além de lidar com temática de
orientação mais madura e menos superficial,
quando comparada às histórias em
quadrinhos comerciais publicadas naquele
país. O sucesso crítico e de público que a
série teve ajudou a popularizar o formato
conhecido como graphic novel (ou "romance
visual"), até então pouco explorado pelo
mesmo mercado.
• A série foi galardeada
com vários Prêmios
Kirby e Eisner, além de
uma honraria especial no
tradicional Prêmio Hugo,
voltado à literatura: é até
o momento a única
graphic novel a
conseguir tal feito.
Watchmen também é a
única história em
quadrinhos presente na
lista dos 100 melhores
romances eleitos pela
revista Time desde 1923.
• A trama de Watchmen é situada nos
EUA de 1985, um país no qual
aventureiros fantasiados seriam
realidade. O país estaria vivendo
um momendo delicado no contexto
da Guerra Fria e em vias de
declarar uma guerra nuclear contra
a União Soviética. A mesma trama
envolve os episódios vividos por um
grupo de super-heróis do passado e
do presente e os eventos que
circundam o misterioso assassinato
de um deles. Watchmen retrata os
super-heróis como indivíduos
verossímeis, que enfrentam
problemas éticos e psicológicos,
lutando contra neuroses e defeitos,
e procurando evitar os arquétipos e
super-poderes tipicamente
encontrados nas figuras tradicionais
do gênero.
• Na realidade histórica alternativa
apresentada em Watchmen, Richard
Nixon teria conduzido os EUA à vitória
na Guerra do Vietnã e em decorrência
deste fato, teria permanecido no poder
por um longo período. Esta vitória, além
de muitas outras diferenças entre o
mundo verdadeiro e o retratado nos
quadrinhos, como por exemplo os
carros elétricos serem a realidade da
indústria dos automóveis e o petróleo
não ser mais a maior fonte de energia,
derivaria da existência naquele cenário
de um personagem conhecido como Dr.
Manhattan, um indivíduo dotado de
poderes especiais, os quais o levam a
possuir vasto controle sobre a matéria e
a energia, elevando-o a um estado de
semi-deus.
Quadrinhos e cinema: Watchmen
Comedian (Edward Blake) ou "Comediante" na versão em
português: um homem que reconhece o horror presente nas
relações humanas e se refugia no humor. Para o personagem,
a ironia é, em vários momentos, um reflexo amargo da
percepção desse horror. Adaptado do Pacificador, com
elementos inspirados em Nick Fury. Edward Blake é cínico e
violento, sua "alma de militar" o leva a cumprir seus objetivos
muitas vezes a um custo alto.
RORSCHACH (Walter Kovacs):
personagem enigmático, pessimista e com
muita força interior, é incapaz de se
relacionar normalmente com a sociedade.
Projeta na luta contra o Mal seu senso de
solidariedade e constrói sua própria moral.
Rorschach é um psicopata às avessas,
considerado o terror do submundo e um
fugitivo da justiça. É ele quem move o
enredo e todos os personagens desde o
começo da saga, ao perceber que um
complô está em andamento. Adaptado do
Questão;
Ozymandias (Adrian Veidt): um visionário brilhante e
ególatra movido por um obscuro senso de dever. Seu
codinome vem de um poema de Percy Bysshe Shelley,
que descreve a estátua do rei Ozymandias esquecida
no deserto. É um bilhionário excêntrico, considerado o
homem mais inteligente do mundo. Sua inteligência é
tamanha que o torna exímio atleta e lutador,
consegue desviar de balas pois calcula a trajetória na
hora do disparo. Adaptado do Thunderbolt;
•Silk Spectre I e II (Sally Juspeczyk e
depois Laurie Juspeczyk) ou "Espectral":
Laurie é uma mulher forçada a viver à
sombra do pragmatismo de sua mãe. É
ex-mulher do Dr. Manhatan e mantém
com ele uma certa cumplicidade.
Adaptadas da Sombra da Noite, com
elementos da Lady Fantasma e Canário
Negro.
•Nite Owl I (Hollis Mason) ou "Coruja":
tornou-se um vigilante inspirado nas
HQs e na literatura pulp. Era alguém
com um forte senso de dever, e que
ansiava por relações mais ingênuas,
onde o bem e o mal estivessem bem
definidos. Adaptado do primeiro
Besouro Azul (Dan Garret);
•Nite Owl II (Dan Dreiberg): um
intelectual rico, solitário e retraído.
Adaptado do terceiro Besouro Azul
(Ted Kord), com elementos do
Batman. É um expert em tecnologia
avançada e possui vários
equipamentos especiais que usa
contra o crime.
DR. MANHATTAN (Jonathan Osterman): o homem-deus, que vê a vida como
apenas mais um fenômeno do cosmo. Dr. Manhatan era um cientista
nuclear, acidentalmente desintegrado em uma experiência. Aos poucos
sua força de vontade faz seus átomos se unirem novamente e volta à vida,
mas de uma maneira diferente. Surge como um ser sem sentimentos,
consegue ver átomos e moléculas, controla a matéria e ainda conseque ver
seu próprio futuro a todo instante. Na história se torna o grande trunfo
dos Estados Unidos na área militar e tecnológica. Durante a saga Dr.
Manhatan vai perdendo aos poucos sua humanidade, se tornando um ser
sem sentimentos e que enxerga apenas reações químicas. É adaptado do
Capitão Átomo;
Semiótica do cinema
CONTRE-PLONGÉE
É o inverso do plano acima, esta
posição pode tornar a personagem ou
cenário opulento
e imponente. Também
serve para destacar algo que acontece
no céu acima da cabeça da
personagem.
Plano Geral: Planos
bastante abertos,
servindo para situar
o espectador em que
cidade ou espaço
(prédio, casa) a cena
se desenvolve.
PLANO EM PLONGÉE
Do francês significa “plano geral” mas ele mostra o
personagem de uma perspectiva
aérea (do alto). Pode ser usado para mostrar uma
situação psicológica em que faz a
personagem se sentir diminuída ou impotente para
reagir. Serve também para demonstrar uma
atmosfera de solidão, desolamento, tristeza.
PRIMEIRO PLANO: Nele o personagem é
enquadrado do busto para cima, dando maior
evidência ao personagem, servindo para
mostrar características, estado de espírito,
intenções e atitudes.
PRIMEIRÍSSIMO PLANO: Mostra o rosto inteiro da
personagem, do ombro para cima, definindo
uma carga maior de dramaticidade da cena,
através dos traços comportamentais do rosto
da persoangem.
PLANO AMERICANO: O personagem é mostrado do
joelho para cima, com a função de mostrar o
movimento das mãos da personagem. Serve
também para a aproximação e o surgimento de
um diálogo.
PLANO EM PERSPECTIVA
Conjunto de diversos planos. Técnica muito comum
nas pinturas do Renascimento, Maneirismo e do
Barroco. Trabalha com as dimensões de uma cena,
em ângulos justapostos.
• Plano Médio: O personagem é
enquadrado da cintura para cima. É
muito usado para mostrar o
movimento das mãos do
personagem. Além disso, pode ser
empregado para cenas de diálogos
e para mostrar a fisionomia da
personagem, com o intuito de
mostrar possíveis intenções,
atitudes e comportamentos
PLANO CONJUNTO
Abrange as figuras de corpo inteiro.
Pode ser entendido, dependendo do
contexto, como uma ênfase em relação
a força da personagem, em combinação
com o espaço.
PLANO DETALHE: abrange parte do
rosto de uma figura humana ou detalhe
de um objeto. Esse detalhe é importante
para o entendimento do contexto
narrativo do filme ou do quadrinho. No
caso da pintura, a natureza morta é a
que mais se aproxima desse
enquadramento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas: Papirus, 1993.
CANCLINI. Nestor García. Culturas híbridas – Estratégias para entrar e sair
da modernidade. São Paulo: Editora da USP, 2000.
CIRNE, Moacy. Para ler os quadrinhos – Da narrativa cinematográfica à
narrativa quadrinizada. Petrópolis: Vozes, 1975.
__________. Vanguarda: um projeto semiológico. Petrópolis: Vozes, 1975.
__________. História e crítica dos quadrinhos brasileiros. Rio de Janeiro:
Europa/FUNARTE, 1990.
__________. Quadrinhos, paixão e sedução. Petrópolis: Vozes, 2000.
ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva, 2000.
EISNER, Will. Quadrinhos e arte seqüencial. São Paulo: Martins Fontes,
1989.
McCLOUD, Scott. Desvendando os quadrinhos. São Paulo: Makron Books,
1995.
MOYA, Álvaro de. História da história em quadrinhos. São Paulo:
Brasiliense, 1996.
PEIRCE, Charles S. Semiótica. São Paulo: Editora Perspectiva, 2000.

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