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RESUMO: Esta comunicação tem como objetivo mostrar o humor visto em tiras em
quadrinhos, de Bill Watterson, e quais mecanismos linguísticos são utilizados nelas, levando
em conta as considerações sobre o tema, dadas por Bergson, Freud, Gil, Possenti, Propp,
Travaglia, entre outros. Por meio da leitura e análise de algumas tiras, foram levantados quais
indícios presentes nelas podiam caracterizar e interpretar esses textos como humorísticos,
irônicos ou críticos. Para isso, foram focalizados diversos aspectos, tanto nos textos verbais
como nas imagens, de diferentes tiras, tais como: elementos importantes para a caracterização
de uma piada, a importância da brevidade das piadas, os mecanismos semânticos e
linguísticos do humor, a bissociação (Bergson) a repetição dos fatos linguísticos, a ironia, o
papel da intertextualidade etc.
Neste trabalho, uma tira em quadrinhos é considerada um todo coerente, com estruturação
lógica (imagem e texto), dotada de propriedades que podem relacioná-la inteiramente com o
riso ou não, tomada por nós, em situação interativa, com função comunicativa definida:
diversão, crítica, uso moralista etc. Esses textos constituíram também dados pertinentes e
interessantes para evidenciar os mecanismos de funcionamento da língua.
1. Considerações iniciais
Pretendemos destacar neste estudo interessantes aspectos da comunicação verbo-visual
utilizados na apresentação de algumas histórias em quadrinhos (HQs) de Bill Watterson
(2006, 2004, 2003), relacionadas com o humor, a crítica e a ironia, baseados em Bergson
(1980), Freud (1969), Gil (1991), Possenti (1991), Propp (1992), Travaglia (1991), entre
outros.
As histórias em quadrinhos, uma vez enfocadas por meio dessas teorias, procuram
retratar as aspirações, os pensamentos, os mitos e a estética de Bill Watterson que as produzia,
e pretendem confirmar a composição de uma imagem mais representativa da cultura segundo
Calvino e Hobbes, filósofos.
Considerando as histórias em quadrinhos como um produto de tendências universais,
mas com raízes populares, o objetivo principal deste trabalho foi levantar quais indícios
presentes nelas podiam caracterizar e interpretar esses textos como humorísticos, irônicos ou
críticos. Esclarecemos que as tiras retiradas de sites da internet são de Portugal, por isso certas
palavras poderão ser estranhas a algum leitor.
1
Mestrado e Doutorado em Filologia e Linguística Portuguesa pela UNESP, Assis-SP; professora nos cursos de
graduação de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, e Administração, do IMESA-FEMA, em Assis/SP. E-mail:
diva.lea@superig.com.br. Trabalho apresentado no II Seminário Lecotec de Comunicação e Ciencia-
LECOMCIÊNCIA, na UNESP-Bauru/SP, no período de 09 a 11 novembro de 2009.
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A fim de poder responder à questão colocada no título deste trabalho, trataremos nas
partes a seguir sobre o que entendemos por humor, crítica e ironia.
Nesta parte, a partir da etimologia das palavras humor, crítica e ironia, e de bases
teóricas, filosóficas, educacionais, foram localizados diversos aspectos, tanto nos textos
verbais, como nos imagéticos de diferentes tiras, tais como elementos importantes para a
caracterização de uma piada, a importância da brevidade das piadas, os mecanismos
semânticos e linguísticos do humor, a bissociação (Bergson), a repetição dos fatos
linguísticos, a ironia, o papel da intertextualidade etc.
No dicionário de Houaiss (2001, p. 1555), o vocábulo humor se origina do latim humor,
oris, “líquido, fluido, serosidade do corpo, linfa”. Temos na acepção 1. HIST. MED. “líquido
secretado pelo corpo e que era tido com um determinante das condições físicas e mentais do
indivíduo”; na acepção 3. “MED. estado afetivo durável que depende da constituição
psicofisiológica do organismo como um todo, constituindo pano de fundo sobre o qual
diferentes conteúdos psíquicos tomam uma tonalidade afetiva, por exemplo, de irritabilidade,
impassibilidade, tristeza, etc., que ultrapassa sua ação imediata; 5. p.ext. comicidade em geral;
graça, jocosidade; 7. p.met. faculdade de perceber ou expressar tal comicidade.“.
Nesse sentido, o humor é algo que deve fluir no indivíduo; suas reações devem ser
naturais e expressas por meio de seu corpo (face, lábios, braços, voz, etc.), por reações
comportamentais e emocionais, bem como nas formas de pensamento, sentimento e espírito.
(Lefcourt e Martin, 1986, in: WOOD JR.; CALDAS, 2005)
O uso cotidiano da palavra humor, em português, refere-se à graça e à disposição de
perceber, apreciar ou expressar o que é cômico ou divertido. De acordo com Eco (1986), o
cômico é a percepção do oposto e o humor é o sentimento associado a esse processo.
Após essas considerações teóricas, temos de levar em conta outras sobre o humor, já
levantadas em Silva (2000, p. 78-89):
a) o humor, segundo Freud (1969), pode ser uma caracterização de realização catártica,
liberando uma série de desejos, anseios, com sensações de boas surpresas e embaraços
conforme a situação;
b) o humor, segundo Travaglia (1990) é uma espécie de denúncia, forma de se conservar
o equilíbrio social e psicológico, meio de se revelar outros modos de ver o mundo e a
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realidade que nos rodeia e, assim, de desarmar falsas estabilidades. Exemplo (WATTERSON,
2006, p. 157):
c) Volkelt, segundo Propp (1992, p.21), apresenta uma comicidade “grosseira” relacionada
com o corpo humano e com as tendências naturais: o suor, a defecação, a eructação, a
flatulência, a sexualidade. É o que se chama de “cômico-baixo”. Propp, porém, destaca a
impossibilidade de subdividir o cômico em fino e grosseiro; ele reúne os dois conceitos numa
só denominação, pois diferentes aspectos de comicidade levam a diferentes tipos de riso.
Apontaremos exemplos de outras tiras, pois não encontramos nas obras realizadas essas
características apresentadas por Propp. Até o momento do término deste trabalho, só achamos
uma tira com essas características (muco nasal), por isso incluímos exemplos de outros
autores de HQs, além de Watterson.
c.2 flatulência:
c.3. eructação:
d) Possenti (1991, p.493) apresenta, segundo Raskin, cinco ingredientes para a caracterização
da piada, feita em termos semânticos:
Eis um exemplo:
2
“script” - seqüência de comportamentos esperados, com uma certa rotina preestabelecida, que estão
relacionados, por diferentes motivos, a uma pessoa conforme o lugar social que ela ocupa, por exemplo: noivos,
professor, médico, comprador, vendedor.
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Há outros elementos que foram apontados por Gil (1991, p. 159, grifos nossos):
Para nós, esses sete expedientes são também importantes para a caracterização de uma
história ou tiras em quadrinhos;
e) Freud (1969)e Gil (1991) chamaram a nossa atenção para a importância da brevidade das
piadas, o que também pode ser verificado em muitas HQs. Para Lipps (in FREUD, 1969,
p.26, grifo do autor),
um chiste diz o que tem a dizer, nem sempre em poucas palavras, mas sempre em
palavras poucas demais, isto é, em palavras que são insuficientes do ponto de vista
de estrita lógica ou dos modos usuais de pensamento e de expressão. Pode-se mesmo
dizer tudo o que se tem a dizer nada dizendo.
f) Pino (in TRAVAGLIA, 1990) apresenta os seguintes mecanismos do humor que podem ser
trabalhados nas HQs: a surpresa ligada à criatividade (invenção), ao exagero, ao cinismo, à
sátira, à irreverência, à balbúrdia. Exemplos:
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vai trabalhar basicamente, com mais de uma interpretação de leitura de seqüências lingüísticas
quase sempre causando surpresa ao leitor com possibilidades não percebidas. O jogo de
palavras apresentado nas HQs favorece muito o cômico. Bergson (1980, p. 54) denominou
esse mecanismo como “interferência de séries”. Afirma o Autor:
Uma situação será sempre cômica quando pertencer ao mesmo tempo a duas séries
de fatos absolutamente independentes, e que possa ser interpretada simultaneamente
em dois sentidos inteiramente diversos.
g.1. “mau-olhado”4:
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Até o envio deste trabalho não tínhamos encontrado HQs de Watterson com esse mecanismo linguístico.
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“frames”- conhecimentos que vamos adquirindo, representações coletivas de situações, nas quais os
acontecimentos são constantes, por exemplo, desfiles de moda, natal, batizado, carnaval.
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j) muitas HQs ou tiras em quadrinhos, como as piadas, tematizam claramente uma questão de
estrutura linguística, exigindo que os alunos façam rapidamente sua análise para dar risada.
Mas ao analisá-la, ocorre um processo consciente e reflexivo, o receptor vai trabalhar com as
várias construções possíveis, com os sentidos das palavras;
l) as HQs ou tiras em quadrinhos também usam fatores de natureza sociocultural, além dos
fatores linguísticos. São as chamadas “piadas de situação” (Gil, 1991), cujo alvo são as
instituições sociais como a família, a igreja, a escola e também a política. Elas podem ser um
instrumento de persuasão, de denúncia e de crítica social se se tornarem mecanismos
disparadores de processos de conscientização a respeito de problemas sociais, religiosos,
econômicos, entre outros. Exemplo:
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n) pela intertextualidade, há a ativação de dois mundos textuais; por esse processo, ocorre a
mudança de um mundo textual para o outro.
Citamos algumas frases populares em tiras de HQs, que são usadas pelos autores, de
maneira implícita, pois pressupõem que o leitor compartilhe com eles o significado delas.
Exemplos:
o) pelo uso de onomatopéias, Watterson expressa muito bem falas, ações e pensamentos de
Calvin e Haroldo. O efeito plástico de um “crack”, “zuuuuum”, “sniff”, “spelunk” (na tira
abaixo) complementa eficazmente às imagens e a linguagem escrita dos balões e proporciona
aos quadrinhos uma nova dimensão estética e ainda, o que é mais importante, o leitor pode
imaginar ou regular a altura, a frequência do som, conforme sua vontade. É a explosão sonora
das HQs.
3. A crítica
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Também quanto à crítica, percebemos que, ao mesmo tempo em que podemos ler balões
com palavras ou onomatopéias em uma HQ, temos que analisar o ambiente gráfico em que ela
está inserida bem como a fisionomia de seus personagens.
Se considerarmos algumas tiras de Watterson como críticas, percebemos uma relação
bem próxima com a Antropologia, pois como afirma Henk Driessen (in BREMMER;
ROODENBURG, 2000, p. 258), esta ciência
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A ironia também é percebida nas tiras de Watterson, embora o objetivo deste trabalho
não seja apontar a porcentagem de tiras que tenha esse fato linguístico.
Do Dicionário de Houaiss (2001, p. 1651), colhemos que ironia é uma “figura por meio
da qual se diz o contrário do que se quer dar a entender”, e na acepção 1, “emprego inteligente
de contrastes para criar ou ressaltar certos efeitos humorísticos”. Do grego eironei, significa
sarcasmo, zombaria, contraste, incongruência
A palavra “ironia”, por sua vez, vem do termo latim ironia, o qual deriva do grego
eironei, “ação de interrogar fingindo ignorância; dissimulação” (HOUAISS, 2001, idem), que,
por sua vez, tem origem em eiron, alguém que diz algo que é diferente ou é mais do que a
verdade. De forma alternativa, a palavra ironia pode significar simplesmente “falar, e refere-
se de forma específica à técnica socrática de falar e formular perguntas”.
A ironia associa-se à zombaria, à chacota, ao sarcasmo, ao escárnio etc., usualmente em
nosso dia a dia e exprime um modo de dizer o contrário daquilo que se está pensando ou
sentindo, seja por pudor em relação a si próprio ou com intenção depreciativa em relação a
outrem. A ironia comumente encontrada em nossas relações sociais, pode expressar um certo
grau de hostilidade, na forma de sarcasmo. De acordo com Spencer (1998), é comum seu uso
em piadas que, às vezes, separam aqueles que as compartilham daqueles de quem se ri, e que
nem sempre percebem o efeito irônico.
Berger (1997, p. 157), por exemplo, sugere que a ironia é uma forma de humor. Com
base no crítico literário Northrop Frye, o autor explora o conceito de sátira como “ironia
militante”, ou seja, o uso da ironia com o objetivo de ataque.
Neste estudo, percebemos que o humor é um modo privilegiado para fazer críticas e que
pode ser utilizado como um instrumento para reflexão do sujeito enquanto leitor de HQs,
preparando-os para outros tipos de texto.
Com base em nossa tese de doutorado (SILVA, 2000, p. 53-58), vimos que, na produção
de textos, o significado das palavras ocupa um lugar muito importante em nossos estudos,
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porque na relação entre pensamento e linguagem, além de ser um ato de pensamento, ele é
também um componente indispensável da palavra.
De acordo com Vygotsky (1987, p.4-7), é no significado da palavra que o pensamento e
a fala se unem em pensamento verbal; é no significado da palavra que encontramos a unidade
das duas funções básicas da linguagem: o intercâmbio social (função comunicativa) e o
pensamento generalizante (função representativa).
Para Lipman (1990, p. 122), os significados são descobertos quando as palavras se
relacionam umas com as outras e nas relações da linguagem com o mundo. O Autor destaca a
correlação existente entre as habilidades de raciocínio com a aquisição do significado, pois
quanto mais os alunos
Para podermos entender e explorar as associações que o aluno possa fazer em atividades
como palavra-puxa-palavra, pingue-pongue, tempestade cerebral, etc., temos de levar em
consideração as quatro relações apresentadas por Pottier, Audubert e Pais (1973, p.110-4),
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b) a relação de inclusão - que existe entre um termo mais geral e um termo que o inclui
d) a relação de associação - que existe entre um signo e outro que a ele se relaciona por
vínculos subjetivos (psicológicos ou sociológicos), que se modificam conforme os indivíduos.
Acrescentamos que, mesmo que o sentido de uma palavra seja determinado por seu
contexto ou pelas vivências afetivas ou ideológicas do indivíduo, essa palavra não deixa de ter
o seu sentido de base (plano denotativo), conforme diz Guiraud, o que faz com que a
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A partir dessas considerações iniciais, chegamos aos autores que embasam a nossa
proposta metodológica:
a) Para Vygotsky (1987), a leitura nunca é mera decodificação mecânica. Nos
momentos em que a codificação dos signos está presente, a leitura vem impregnada de
sentido, que predomina sobre o significado da palavra. As mudanças de sentido não atingem a
estabilidade do significado. Segundo este teórico, as palavras obtêm seu sentido no contexto
do discurso; mudando o contexto, varia o sentido da palavra. Nesse sentido, Ullmann (1964)
acrescenta que mesmo que o contexto influa na significação das palavras, há nelas um núcleo
sólido de significado, relativamente estável, e que só dentro de certos limites pode ser alterado
pelo contexto. Essa característica é a base responsável de toda comunicação.
Enquanto que a idéia de contexto é pouco explorada nos escritos de Vygotsky (1987),
Bakhtin (1986, p. 95) desenvolve melhor essa idéia: a palavra está sempre carregada de um
conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial. Por isso, todo discurso é ideológico e
polêmico; o significado real de um enunciado está definido pela interação de vozes ou
perspectivas ideológicas abrangentes.
b) Lipman (1990) comenta que muitas crianças adoram escutar histórias e podem,
muitas vezes, recusar-se a ler essas mesmas histórias. Talvez o motivo esteja nas técnicas
mecânicas que dão ênfase à fonética e à gramática e bloqueiam a criança na hora de ler e/ou
escrever. Para muitos alunos, a leitura da língua que eles falam tão natural e prontamente é
um exercício angustiante e a escrita é ainda pior.
Apesar de Lipman descrever o movimento leitura-fala-escrita como uma seqüência
definida, ele não insiste nessa seqüência.
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Para que a leitura e a escrita sejam vistas como conseqüências naturais da conversação6,
devemos estar conscientes da íntima relação que há entre esses três processos. E é a
conversação, segundo esse autor, que servirá de mediadora entre a leitura e a escrita. O aluno
precisa ser encorajado a trabalhar com as palavras para que se desiniba intelectualmente e
vice-versa. Como interlocutor, ele não é um elemento passivo na constituição do significado
que está sendo produzido.
Ao ensinarmos a leitura, devemos destacar os significados extraídos do texto que é lido.
Devemos também preparar a criança para a compreensão da ambigüidade das palavras: uma
palavra conhecida não tem somente um, mas vários significados e eles podem variar num
determinado contexto. Isso vai
Vemos a linguagem, portanto, como forma de ação social, orientada entre indivíduos,
como lugar de interação social que torna possível aos alunos de uma classe, em nosso caso,
vários atos que exigem determinados comportamentos e/ou reações, que possibilitam ligações
e compromissos que não existiam antes. Por isso, a linguagem oral e a linguagem escrita são
formas de pensamento, são atividades que podem aperfeiçoar as habilidades de pensamento.
Temos em Koch (1992, p.110 - grifo da autora), a linguagem como lugar de interação, de
constituição das identidades, de representação de papéis, de negociação de sentidos.
Muitos alunos, em um ambiente de discussão animada, não têm oportunidade de dizer
nessa conversação o que pensaram, leram e discutiram em grupo, por isso eles devem ser
encorajados a expressar seus pensamentos na forma escrita.
Sabemos que é durante a interação que o aluno mais inexperiente entende o texto. A
busca de significados inicia-se pela leitura silenciosa individual, na qual o aluno-leitor começa
6
Para Lipman (1990, p.147-54), a conversação é a comunicação interativa entre professor/aluno e aluno/aluno,
isto é, o diálogo.
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a ter uma visão geral do texto a ser estudado; na leitura oral, podemos provocar o interesse do
ouvinte nessa busca, estimulando o processo de interação leitor/texto/ouvinte, mas é durante a
conversa, a discussão sobre os pontos importantes do texto que o seu sentido vai sendo
construído. Alguns pontos, muitas vezes, ficam obscuros para o aluno e na discussão
dialogada, eles vão sendo esclarecidos e ele pode perceber não só o que está explícito, mas
também descobrir o que se apresenta de modo sutil, propiciando uma interação entre leitor/
autor/ texto/contexto.
4. Considerações finais
Pensamos que pesquisar sobre o humor, o riso, a crítica e a ironia nas tiras de Bill
Watterson seja um modo diferente de compreender a realidade que nos cerca, principalmente
aquelas relacionadas à educação escolar e/ou evasão escolar.
Há um estudo realizado com o objetivo de analisar as causas da evasão escolar na visão
dos próprios jovens e de seus pais, e de avaliar a taxa de atendimento escolar, a partir de
dados da Pesquisa Mensal do Emprego. A pesquisa foi coordenada pelo chefe do Centro de
Pesquisas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Neri, com base nos dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Esse estudo - que procura saber, por
meio de perguntas diretas como: por que não estão na escola, pela necessidade de trabalhar,
por não ter vaga ou escola perto de casa, por dificuldade de transporte ou por que não querem
a escola que aí está? - revela que o Brasil não conseguirá vencer a batalha pela melhoria da
qualidade do ensino se não convencer primeiro os principais protagonistas: os alunos e pais.
O resultado dessa pesquisa, na avaliação de Neri (in OLIVEIRA, 2009), serviu para
derrubar mitos como o de que os jovens de comunidades pobres deixam a escola entre 15 e 17
anos para trabalhar.7
Sabemos também que muitos alunos não saem da escola para trabalhar, mas sim porque
não têm interesse em assistir às aulas, em ir e permanecer na escola. Se o desafio maior antes
era levar o aluno à escola, agora é fazer com que ele fique na escola e aprenda o que precisa.
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"A pesquisa mostra que, ao contrário do mito, muitos desses jovens estão fora da escola não porque são de
comunidades pobres e têm que trabalhar. A pesquisa mostra que é, em regiões ricas, quando a economia está
mais aquecida, que eles deixam a escola. O crescimento econômico tira o jovem da escola mais nas regiões ricas
do país do que nas mais pobres, que não oferecem oportunidade de trabalho para os pais e seus filhos”. (NERI, in
OLIVEIRA, 2009, on line)
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Watterson, por meio de suas tiras, utiliza o conteúdo e a forma de expressão artística das
HQs, para lançar seus petardos irônicos ao mundo político e intelectual, como instrumento de
se refletir sobre o papel da escola.
Para Ana Beatriz SILVA (2003, p. 33), Calvin é um personagem fictício que melhor
exemplifica uma criança DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção), como “mais agitada, mais
bagunceira e mais impulsiva, bem mais distraída, dispersa e não-perseverante do que outras
crianças, se for daquele tipo mais desatento”.
O Distúrbio do Déficit de Atenção é considerado por Silva (Idem, p. 9) um trio de
respeito: distração, impulsividade e hiperatividade..., e essa estudiosa afirma ainda:
Mas será isso verdadeiro ou só é mais um modismo na educação? Todo aluno que é
muito inquieto em sala de aula é agora considerado hiper-ativo. 8Será que são criadas
oportunidades para ele pensar sobre a realidade física, biológica, material etc. que o cerca,
dispondo de instrumentos e equipamentos avançados da tecnologia? Em casa, ele trabalha
com internet, jogos diversos, e na escola? Como o professor faz? É só lousa e giz? Ou o uso
indiscriminado de textos, figuras com projeção de slides, sem objetivos escolares? Essas são
mais perguntas que deixamos dirigidas agora aos teóricos da educação, instigando-os a uma
pesquisa mais profunda e detalhada.
Neste estudo, percebemos que o humor é um modo privilegiado para fazer críticas e que
pode ser utilizado como um instrumento para reflexão, portanto, devido ao seu campo de
pesquisa e às questões propostas, certamente nos estimulará a investigar mais sobre o assunto,
aprofundando-o, por isso, ele está aberto a outros estudiosos que se dispuserem a uma
pesquisa em parceria.
A primeira possibilidade é ampliar a amostra, incluindo outros temas a serem analisados
nas tiras de Watterson. A segunda possibilidade é ouvir participantes de uma pesquisa, que se
8
Na década de 70 e 80, esse tipo de aluno era rotulado de carente ou deficiente. Da psicologia da criança e do
adolescente, surgiu um psicologismo geral, pelo menos aqui no estado de São Paulo.
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pretende qualitativa, coletando suas opiniões e percepções sobre este suporte de leitura, nas
suas reações ao humor crítico e à ironia. A terceira possibilidade é realizar entrevistas com o
próprio Bill Watterson. Por que não? Isso é o que também pretendemos em um pós-
doutorado.
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