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Criatura ou Criador?

A dubiedade entre a atribuição do nome Frankenstein no


romance de Mary Shelley
João Victor Carvalho da Silva1

Considerações Iniciais

A ironia emerge das situações comunicativas como uma ferramenta para expressar
escárnio ou mesmo para transmitir humor e comicidade. No contexto linguístico, a ironia
desempenha um papel vital na dinâmica das interações verbais, satisfazendo os vínculos
conversacionais. Entretanto, quando explorada no âmbito literário, a ironia transcende as
simples figuras de linguagem para manifestar-se, por exemplo, na forma da ironia romântica.
No meio literário, a ironia adquire diversas nuances, indo além de seu papel
comunicativo convencional. Ao invés de ser apenas uma ferramenta para expressar
sentimentos ou apontar contradições, a ironia literária, como a romântica, amplia as
possibilidades da produção literária. Quando identificada, ela proporciona ao leitor uma
camada adicional de interpretação.
Ao adotar uma perspectiva irônica, o leitor não apenas compreende a narrativa de
maneira mais profunda, mas também contribui para enriquecer a obra. O olhar irônico do
leitor cria uma nova dimensão ao livro, ampliando sua significância e proporcionando uma
experiência de leitura mais rica e multifacetada.
A obra Frankenstein: ou o prometeu moderno de Mary Shelley, demonstra inclinações
para estudos acerca da ironia, podendo ser trabalhada por diversas óticas. Entretanto, é nulo
as análises e especulações que tencionam seus olhares para os traços irônicos no romance
gótico. O presente ensaio tem como principal objetivo averiguar como a ambiguidade
provocada pelo nome “Frankenstein” pode levar a uma leitura errônea, para solidificar a
pesquisa utilizou-se uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativa. Aplicou-se aos estudos
de Hutcheon (2000), Willrich (2013), Lukács (2000), Hitchcock (2010) e entre outros.
Recomenda-se que para melhor compreensão do ensaio ler as seguintes seções: O percurso
teórico da ironia; A ironia como recurso de comprovação da leitura equivocada da obra
Frankenstein de Mary Shelley e as Considerações finais.

1
Graduado em Letras Língua Portuguesa - UFPB. jvsilva951@gmail.com.
O percurso teórico da ironia

No transcorrer do tempo, assimilou-se que as leituras teóricas envoltas da ironia, a


definiam como uma figura retórica. Ao centrarmos a observação para os apontamentos
realizados por Linda Hutcheon em seu livro Teoria e política da ironia (2000), inicialmente
nos defrontamos com as tentativas de definição, as quais se inclinam para designação
semântica, nessa vertente a ironia pode ser entendida basicamente como quando se fala algo,
querendo dizer o oposto.
A título de exemplo, pensaremos em uma situação comunicativa, em que o
comunicador 1, ao averiguar o clima aponta que está muito frio ao comunicador 2, ambos
estão cientes de que o sol está escaldante, mediante essa realidade o comunicador 1 asseverou
o quanto está quente, através de uma afirmação irônica. Hutcheon aponta que a ironia está
nessa relação linguística entre o dito e o não dito.
O manuseio da ironia pode recair em algumas instâncias como atingir um certo grau
de humor ou até mesmo uma ambiguidade, através de uma expressão irônica, a qual estamos
botando-a no campo comunicacional/interacional. Mas, a ironia vai além de um método,
tornando-se uma prática persuasiva, uma vez que está diretamente relacionada com a
concepção de visão crítica do mundo.
Outra constatação interessante que pudemos observar foi que, dialogando com
Ferraz (1987) não há ironia sem ironista, bem como firmar-se um propósito irônico
implica necessariamente uma simulação por parte do ironista: este conhece o objeto
no qual quer ironizar, bem como conhece a dualidade do verdadeiro/falso e então
representa o conflito, a crise. Em certa medida, a ironia retórica pode se aproximar
da mentira e do embuste. Entretanto, no caso dessas outras estratégias, a verdade
não aparece, está escondida conquanto objetivo primordial. Já no caso da ironia
retórica, a verdade está apenas camuflada, esperando para ser decifrada. Assim,
constatamos também que, para que ocorra um ato irônico, é necessário que tanto
emissor quanto receptor da mensagem irônica compartilhem de uma mesma
convenção, seja social, cultural ou histórica. (Willrich, 2013, p.2-3)

Mediante a essas reflexões que Hutcheon (2000) pondera acerca das arestas da ironia,
lacunas deixadas por parte do ironista com o intuito de que o receptor consiga distinguir o
grau de verdade ou falsidade da mensagem, assim como a ambiguidade. A falha por parte do
receptor pode acarretar em mal entendidos em detrimento da não detecção da mensagem
irônica.
A literatura propiciou uma expansão da ironia, contornando o seu conceito
tradicional, condecorando algumas obras por seu uso, além de ser uma ferramenta poderosa
para os escritores. Ferraz (1987, p. 29) apud Willrich (2013, p.3), assevera que o lugar
privilegiado da ironia é a literatura, dessa forma a autora afirma que, “a literatura é o lugar
por excelência, da expressão/problematização da linguagem, na relação/oposição
realidade/ficção ou verdade/ilusão”. Em outras palavras é no âmbito narrativo o espaço mais
propenso para a realização da ironia, podendo ser retórica ou romântica, “uma vez que se
admite a linguagem é expressão do mundo que cerca o indivíduo, e este, por sua vez, é sujeito
consciente de sua própria ação manifestada senão no espaço discursivo” (Willrich, 2013,
p.3-4).
Para o autor da Teoria do romance, Lukács (2000, p.93) a ironia pode ser
compreendida como a “objetividade do romance”, dado que por meio dessa forma existe
uma correspondência fidedigna com a situação histórico-filosófica. No entanto, se faz
necessário remontar um pouco as explicações do termo ironia e suas atribuições e utilizações
no seio literário. Destoando um pouco dessa noção da ironia por um ponto de vista
linguístico, deve-se assimilar que até o Romantismo, o campo da ironia permeou a retórica
clássica.
Conforme mencionado anteriormente essa ferramenta intitulada ironia colaborou para
o aperfeiçoamento da técnica literária, esse certo distanciamento do narrador para com a
narração, essa intromissão que é revelada no corpo do texto é chamada de ironia romântica.
Se faz necessário salientar que no trabalho desenvolvido estaremos tratando da ironia
romântica no texto literário, dado que existem outras formas de manifestar a ironia
romântica.
Buscando concatenar a origem do termo, torna-se necessário levar em consideração
algumas premissas de base teórica, as quais abarcaram o romantismo no século XVIII. O
termo “ironia” irrompe, na língua inglesa, precisamente na Inglaterra a partir do século XVI e
a posteriori no século XVII, difundindo-se em obras de autores como: John Dryden e
Anthony Cooper Shaftesburry. A ironia romântica pode ser compreendida nas palavras de
Willrich (2013, p.5):
[...] distanciamento do narrador/enunciador perante sua própria criação, que subjaz
o reconhecimento da impossibilidade do ser humano em se atingir o divino e o
absoluto – ideia tão corrente nos idos do século XVIII – uma vez que o narrador
conquanto eu materializado, reconhece os limites da natureza humana, mas pode –
através da literatura e do exercício da linguagem – criar uma ilusão momentânea da
plenitude, cujo objetivo é o gozo pela satisfação, pela liberdade do saber. Podemos
perceber até aqui, que a ironia, muito mais do que uma figura de linguagem, pode
ser reveladora de aspectos que ultrapassam a linguagem e beiram à discussões de
cunho filosófico e que, por sua vez, pode se mostrar útil para reflexões diversas na
crítica literária.

Diante dessas explicações teóricas sobre os conceitos de ironia romântica e verbal,


torna-se evidente que essas formas de ironia desempenharam papéis fundamentais na
compreensão do ponto central da obra. Nos concentramos especialmente nas lacunas
deixadas pelo autor na ironia romântica, as quais abrem espaço para interpretações diversas
por parte do leitor. Na próxima subseção, destacamos como esse aspecto se manifesta de
maneira impactante no romance Frankenstein de Mary Shelley.

A ironia como recurso de comprovação da leitura equivocada da obra Frankenstein de


Mary Shelley

A obra de título Frankenstein: ou o prometeu moderno, foi publicada em 1818,


inicialmente em anonimato, mas em decorrência do prefácio ser assinado por Percy Shelley
atribuiu-se a ele a escrita dessa obra “irreverente”. Mas, o que não sabiam é que tinha sido
escrita pela mulher de Percy, a inventora da obra que revolucionou o cenário literário do
século XIX, a mãe “monstruosa”, Mary Shelley.
Mary Wollstonecraft Shelley, era filha de escritores emblemáticos, seu pai o filósofo
William Godwin e sua mãe defensora dos direitos da mulher, Mary Wollstonecraft. Corre em
suas veias esse sangue carregado de desejos e anseios literários, com toda certeza
contribuíram para a escritora que estava a germinar. Salienta-se que, a criação de Shelley2
ficou ao encargo do seu pai, dado a morte precoce de sua mãe durante o parto. Criação essa
que moldou e a transformou na mulher que conhecemos até o século XXI.
Torna-se emergente remontar o período em que Shelley junto com um grupo de
amigos e familiares, reuniram-se na Villa Diodati, por complicações climáticas, ficaram em
casa ao redor da lareira lendo contos de fantasma alemães. Dentre aqueles que estavam com o
grupo, um deles é o poeta controverso Lord Byron, que prontamente sugeriu que fizessem
uma brincadeira, escrevendo uma história de arrepiar.
Segundo Guimarães e Araújo et al (2018, p. 38), “Desta notável troupe, só Mary
Shelley e mais tarde Polidori com O Vampiro, é que responderão plenamente ao desafio de
Byron. Percy B. Shelley e Lorde Byron rapidamente se entretêm com outros afazeres e
esquecem o desafio”. Esse “desafio” favoreceu o surgimento da escritora de uma história de
transaformadora. Há especulações de que na noite do desafio, Shelley tenha sonhado com a
Criatura e que esse sonho gótico, foi o combustível para o seu romance.
Do que se trata essa produção tão polêmica? Um romance que absorve as tendências
da época, inicia com uma troca de cartas do Sr. Walton com sua irmã e atinge o clímax ao

2
Adota-se no presente trabalho o título de Shelley para referir-se a Mary Shelley.
encontrar um homem em meio a neve, cujo nome é Victor Frankenstein. Durante o percurso
Victor começa a narrar os seus infortúnios para Walton. A história é narrada por três pontos
de vista, por Sr. Walton, Victor e pela Criatura.
Dentro desta perspectiva, Frankenstein, ou o moderno Prometeu é
uma parábola moral que adverte sobre a necessidade de se
estabelecer limites éticos na realização de procedimentos
científicos, uma vez que, por meio deles, podem ser criadas
aberrações biológicas e tecnológicas capazes de provocar a
extinção da raça humana. (Alegrette, 2010, p. 94)

Para os críticos da época, “ O romance não serve a nenhum propósito social e "não
inculca nenhuma lição de conduta, comportamento ou moralidade". O crítico imaginou "se o
autor seria completamente doente da cabeça ou do coração”(Hitchcock, 2010, p.84).
Conforme Alegrette ponderou, a obra é uma “parábola moral”, a qual demonstra como a
ambição pode levar o ser humano a sua ruína, essa busca desenfreada pelo cientificismo
acarretou em uma trajetória lascivamente sofrível para Victor Frankenstein. Por conseguinte
constata-se que a leitura equivocada dos críticos, os levou a afirmar que o romance não
dispõe de um fundo moralizante.
A produção literária ganha reconhecimento e notoriedade, após a morte de sua
escritora. Tornando-se:
[...] um mito, pois propõe uma solução imaginária para uma tarefa irrealizável nas
primeiras décadas do século XIX: trazer à vida um ser vivo com características
humanas, por meio de um experimento científico, o qual consiste em uma tentativa
de controlar e manipular a Natureza, que inserida dentro da perspectiva romântica é
uma manifestação sublime do poder divino e criador (Deus). (Alegrette, 2010, p.
93)

Mediante a essas informações extremamente substanciais, a fama do livro, trouxe


algumas confusões por parte dos leitores. Dado que, o ser não nomeado do romance, acaba
sendo confundido com o seu criador, dessa forma algumas pessoas o chamam de
Frankenstein.
Raramente alguma referência feita ao livro, mas o que ouvimos é sobre "aquele
monstro Frankenstein”. Agora, o pobre Frankenstein não era absolutamente
monstro, ainda que durante anos tenha sido chamado como tal, Só se pode esperar
fervorosamente que as edições sucessivas da história fantástica e enfadonha da sra.
Shelley possam pelo menos pôr um fim nessa falácia. (Hitchcock, 2010, p.124)

É perceptível que muitos leitores interpretam equivocadamente o título de


"Frankenstein", compreensível dado o foco da narrativa na Criatura, que, de certa forma, é
considerada como o "protagonista". Essa associação errônea atribui o título do romance ao
ser criado por Victor Frankenstein. Em uma análise mais aprofundada revela que essa
confusão pode ser abordada de diversas perspectivas.
A ambiguidade em torno do nome "Frankenstein" pode ser elucidada através do
conceito de ironia verbal. A sutil ironia está na atribuição incorreta do nome ao monstro,
enquanto, na verdade, o termo refere-se ao cientista Victor Frankenstein. Essa discrepância
entre a interpretação popular e a verdade narrativa de Mary Shelley destaca não apenas a
confusão dos leitores, mas também oferece uma entrada intrigante para reflexões sobre
identidade, perspectiva e o papel fundamental do criador na história.
De acordo com Hitchcock (2010, p.128), “O nome referia-se tanto ao criador quanto
ao monstro. A denominação imprópria preenchia um vazio deixado intencionalmente por
Mary Shelley para evocar um personagem sem identidade humana, sem origem, parentes nem
histórico familiar”. Ou seja, a ironia está na confusão traçada pelos leitores, essa leitura
equivocada pode ser facilmente assimilada ao ler atentamente o romance, no entanto o
protagonismo da Criatura gera essa ambiguidade.
É crucial destacar que a ambiguidade na atribuição do nome "Frankenstein" também
pode ser interpretada como uma forma de ironia romântica, pois as lacunas presentes na
narrativa são preenchidas pelas próprias interpretações dos leitores.
[...] é no sentido de estabelecer uma ambiguidade, que a ironia romântica pode
produzir outro efeito: o da tentativa de completude entre os espaços vazios de
questões para as quais não se encontram respostas; dando brecha, portanto, para
outros sujeitos se portarem na construção de sentidos do texto, neste caso, o leitor.
(Willrich, 2013, p.6)

Esse vazio significativo é preenchido pela dinâmica complexa entre o criador, Victor
Frankenstein, e a Criatura. A relação tumultuada entre eles, marcada pelo sofrimento e pela
negligência "paterna", culmina na formação de um ser verdadeiramente "monstruoso". Este
monstro não apenas se destaca por sua construção física horripilante, indo além dos padrões
do gótico, mas também é moldado pelas margens sociais, sendo excluído e isolado. Essa
repulsa por parte do “genitor”, contribui para adensar essas congruências irônicas no
romance.
Considerações Finais

O único mito desde a ascensão da ciência continua a revelar novas interpretações a


cada leitura, justificando sua presença no cânone literário. "Frankenstein", uma obra clássica
e atemporal, deixou uma marca indelével em gerações passadas e presentes. Mary Shelley,
infelizmente, não testemunhou plenamente o impacto de sua criação, mas sua genialidade
persiste.
A narrativa, permeada por várias adaptações, testemunha como Frankenstein
transcendeu as páginas originais, tornando-se uma fonte inesgotável de inspiração para a
cultura ocidental. Em um período em que a influência da Igreja era proeminente, Shelley
desafia diretamente esse poder político ao conceber um romance que concede ao homem a
capacidade de gerar vida, um poder muitas vezes reservado apenas a Deus. Esta ousadia
provocou acusações de ateísmo e imoralidade, destacando a obra como uma reflexão
contundente sobre o comportamento humano.
Assim, "Frankenstein" não apenas desafia as convenções literárias, mas também
questiona as normas sociais e religiosas da época, deixando um legado duradouro que
continua a instigar reflexões profundas sobre ética, ciência e as implicações de brincar com o
divino.

Assim como a criatura, Mary Shelley era um mosaico, muitas vezes contraditório,
de concepções e modelos de pensamento, herdeiros, em sua maioria, de seu círculo
familiar. De John Godwin, Mary Shelley herdou a reflexão acerca dos limites do
conhecimento e da solidão do homem moderno, questões já exploradas por ele em
St. Leon. De Mary Wollstonecraft, entre outras coisas, a crença na natureza
intrinsecamente boa do homem. De Percy Shelley, a leitura romântica de Milton e
do mito de Prometeu. Neste mosaico de influências, releituras e deformações,
destaca-se, como um letreiro luminoso, o próprio nome da artista: Mary
Wollstonecraft Godwin Shelley. Nome que em si só representa o mosaico,
evocando, ao pronunciá-lo em sua totalidade, a irônica fusão entre a autora e sua
personagem: como o monstro, ela também não possui um nome que seja só seu; na
melhor das hipóteses, para a posteridade, ambos serão reconhecidos pela repetição
de suas origens - "Mary Shelley" e "Frankenstein". (Giassone, 1999, p. 66-67).

Uma autora de grande destaque, Mary Shelley, deu à luz a uma obra verdadeiramente
emblemática. Nas palavras de Giassone, o romance de Shelley pode ser comparado a um
mosaico, cuidadosamente construído de maneira semelhante à Criatura que habita suas
páginas, repleto de retalhos. No entanto, esses fragmentos não são aleatórios; pelo contrário,
a obra é meticulosamente costurada com a ressignificação de mitos fundamentais e faz alusão
aos avanços da ciência da época.
Mary Shelley não apenas adota a forma do romance epistolar, mas também incorpora
elementos românticos e flerta com os ideais iluministas. Sua habilidade em absorver e
mesclar essas tendências culturais e literárias é evidente, resultando em uma obra que
transcende as fronteiras dos gêneros e reflete os dilemas morais e científicos de sua época.
Dessa forma, o Frankenstein de Mary Shelley não é apenas uma narrativa costurada com
maestria, mas uma expressão rica e intrincada que dialoga com diversos movimentos
intelectuais do século XIX, proporcionando uma experiência literária profunda e
multifacetada.
Ao construir um mosaico de ideias provenientes do livro, torna-se evidente que certos
aspectos da narrativa podem ser mais profundamente explorados por meio do estudo da
ironia. Ao seguir a jornada da Criatura ao longo do romance, identificamos o que pode ser
interpretado como uma ironia verbal. A ambiguidade gerada pela atribuição do nome
"Frankenstein" levou a equívocos por parte dos leitores, resultando em uma leitura incorreta
da obra.
Essa ambiguidade, aliada à presença de lacunas intencionais, destaca a presença da
ironia romântica, uma vez que incita os leitores a preencherem essas lacunas com suas
próprias interpretações. Consequentemente, a ironia se manifesta na dualidade de significados
atribuídos ao título da obra, gerando uma leitura ambígua e multifacetada.
Podemos, assim, concluir que a ironia em "Frankenstein" transcende o mero aspecto
verbal, abrangendo tanto o sentido literal quanto as interpretações subjacentes,
proporcionando uma experiência de leitura rica e complexa.
Referências:

ALEGRETTE, Alessandro Yuri. Frankenstein: Uma releitura do mito de criação. 2010. Dissertação
(Mestrado). UNESP, Araraquara-SP, 2010. Disponível: <http://hdl.handle.net/11449/91524>. Acesso
em: 03 jan. 2024.

GIASSONE, Ana Claudia. O mosaico de Frankenstein. Brasília: Editora Universidade de


Brasília, 1999.

GUIMARÃES, Armando Rui. Mary Shelley: Vida e obra. In: ARAÚJO, Alberto Filipe. et
al. O mito de Frankenstein: Imaginário & Educação. São Paulo: FEUSP, 2018. Disponível
em: https://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/213. Acesso em:
03 jan. 2024.

HUTCHEON, L. Teoria e política da ironia. Trad. Julio Jeha. Belo Horizonte: Editora da
UFMG, 2000.

LOUREIRO, I.. Sobre a noção de “ironia romântica” e sua presença na escrita de Freud.
Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 5, n. 2, p. 78–91, abr. 2002.

LUKÁCS, G. A teoria do romance. São Paulo: Duas Cidades/Editora 34, 2000.

Willrich, Glauber Rezende Jacob. Da ficção à história: a ironia romântica como elo mediador
entre o fato histórico e ficção na prosa saramaguiana. Anais do SILEL. Volume 3, Número
1. Uberlândia: EDUFU, 2013.

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