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FACULDADE DE DIREITO
Fortaleza – Ceará
2007
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE DIREITO
Fortaleza- Ceará
2007
Dedico esse trabalho aos meus pais, que são
meus maiores exemplos de vida.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por ter iluminado os caminhos para que eu concretizasse esse
sonho.
À minha família, base de sustentação para minha formação moral e profissional.
Ao meu amor, Samuel, por ter estado comigo, em todos os momentos, dessa longa
jornada.
Em especial, a minha orientadora, Isabel Cristina Mota , que me introduziu no estudo
do Direito Eleitoral e cooperou com a consecução deste trabalho.
RESUMO
The extreme proliferation of Political Parties in Brazil occurred with bigger intensity
with the reintroduction of democracy, through the promulgation of the Federal
Constitution of 1988. It was inside of this context that was inserted the Performance
Clause in the bulge of the Law of the Political Parties (9.096/95). Such Clause
became object of controversies in view of that caused consequences on the
parliamentary functioning of the Parties on the time for partisan propaganda in the
radio and the television and on the distribution of the deep partisan. Some Parties
had taxed it of unconstitutional having also filed a suit Direct Actions of
Unconstitutionality. Others had started to defend it as ideal instrument to prevent the
creation and the growth of "rent legends". The present work analyzes the
consequences of a possible application of the Barrier Clause in the scope of the
Brazilian Electoral law. A theoretical delineation of the Parties was made in general
and, more specifically, of them in Brazil to understand the happened consequences
of the incidence of the Clause on them. Bibliographical research in articles, books,
notice in magazines, periodicals, legislation, available material in the internet and
dissertations was become fulfilled for the achievement of the present work. To the
end, it was evidenced that the Barrier Clause is unconstitutional by violating pluralism
politician, who if constitutes basic rule of the Federative Republic of Brazil.
Por isso, vem sendo vista pelos maiores Partidos como instrumento de
seu fortalecimento e imprescindível “ingrediente” da Reforma Política, que possui
papel amplo e primordial na moralização da política brasileira.
8
Já, na óptica dos pequenos Partidos, a Cláusula de Barreira tem se
revelado o seu algoz, pois como foi visto privilegia e muito as grandes legendas ao
passo que, praticamente, despreza as pequenas, deixando-as órfãs.
O trabalho está delimitado por três capítulos, quais sejam: Sinopse teórica
dos Partidos Políticos; Partidos políticos no Brasil; Cláusula de Barreira.
9
Por fim, os pressupostos a serem verificados no presente trabalho são: a
aplicação da Cláusula de barreira, no âmbito do Direito Eleitoral Brasileiro, contribui
para o fortalecimento dos Partidos Políticos; a Cláusula de Barreira impossibilita o
nascimento de novos Partidos; a Cláusula de Barreira é mecanismo ofensivo à
Democracia fundada no Pluralismo Partidário.
10
2 SINOPSE TEÓRICA DE ORGANIZAÇÃO PARTIDÁRIA
2.1 ORIGEM
Outra abalizada definição é a de Kelsen, que escreve: “Os Partidos políticos são
organizações que congregam homens da mesma opinião para afiançar-lhes
verdadeira influência na realização dos negócios públicos.”2 Percebe-se nas
referidas definições, a presença do elemento ideológico como essencial aos
Partidos, além de sua função intermediadora.
O partido político, a nosso ver é uma organização de pessoas que inspiradas por idéias
ou movidas por interesses, buscam tomar o poder, normalmente pelo emprego de meios
legais, e nele conservar-se para realização dos fins propugnados.3
11
Sabe-se que antecederam os Partidos Políticos concebidos, atualmente,
outras espécies de agrupamentos políticos, tais como facções, grupos de pressão,
entre outros.
Tal autor acreditava que o povo se torna escravo quando fica refém de
representantes no Legislativo, pois só ele pode redigir leis, não o podem os
Senadores ou Deputados pelo fato de não traduzirem, genuinamente, os interesses
do povo.
12
Do conceito de James Madison, importante escritor federalista norte-
americano, também é extraída semelhante concepção, depreendendo-se, de plano,
três elementos, pelos quais a facção é: 1) uma reunião de indivíduos 2) voltada
primordialmente para obtenção ou satisfação de interesses particulares e que, como
tal, 3) opõe-se sempre ao interesse coletivo ou, no mínimo, restringe os direitos
básicos dos não facciosos.”9
Em 1850, nenhum país do mundo (salvo os Estados Unidos) conhecia Partidos políticos
no sentido moderno do termo: encontravam-se tendências de opiniões, clubes
populares, associações de pensamento, grupos parlamentares, mas nenhum partido
propriamente dito.12
13
Duverger associa o desenvolvimento dos Partidos ao da Democracia e
aos seus institutos embasadores. Quanto mais pessoas alcançassem o direito de
votar, maior seria a necessidade de existirem Partidos que fizessem serem
conhecidos os seus candidatos e direcionarem os votos dos eleitores para esses.
14 DUVERGER, Maurice. Os Partidos políticos. Tradução por: Cristiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1970.p.20.
15 Ibid.,p.29.
14
Algumas diferenças devem ser feitas entre os Partidos de criação externa
e os de criação interna. Os primeiros são, geralmente, mais centralizados que os
segundos. Originam-se da cúpula, sendo que os segundos vêm da base. Os
primeiros criam os comitês eleitorais e os outros tem esses como preexistentes à
formação de um órgão central que os coordene.
Os Partidos criados de fora manifestam a seu respeito um desapego muito maior que os
nutridos no serralho e nascidos à sua sombra. Para estes últimos, conquistar assentos
na assembléia políticas é o essencial da vida do partido, sua razão de ser e objeto
supremo de sua existência.17
16 DUVERGER, Maurice. Os Partidos políticos. Tradução por: Cristiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1970.p.31-32.
17 Ibid,. p.32
18 ROKKAN, Stein (apud NASPOLINI, 2006, p. 109)
15
Passou-se, portanto, da fase de indiferença aos Partidos à sua
consagração como realidade constitucional, isto é, houve a inclusão dos Partidos no
corpo das constituições, atribuindo-lhes, por vezes, caráter de instituição oficial do
governo.19 “A postura de franca antipatia ao fenômeno partidário encontra-se
superada. Reconhece-se que a garantia de liberdade política leva ao pluralismo de
opinião e, em conseqüência, à liberdade de associação e ao multipartidarismo.20”
2.2 TIPOLOGIA
19 BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 3ª ed. Rio de Janeiro:: Forense, 1976. p. 441-442.
20 KLEIN, Antonio Carlos. A Importância dos Partidos políticos para o funcionamento do Estado. Brasília:
Brasília Jurídica, 2002.p.53.
16
Quanto à estrutura dos Partidos pode-se falar a cerca da classificação
feita por Max Weber e por Maurice Duverger.
21 ALVES, Ricardo Luiz. Os Partidos políticos na visão sócio-histórica de Max Weber. Algumas reflexões
aplicáveis à realidade partidária brasileira atual. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 748, 22 jul. 2005.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7043>. Acesso em: 09 maio 2007.p. 5.
22 DUVERGER, Maurice. Os Partidos políticos. Tradução por: Cristiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1970.p.100.
23 Ibid.
24 NEUMAN (apud KLEIN, 2002, p. 46)
17
sua hegemonia sobre os demais.
18
pessoas inconformadas com a ordem existente.
29 DUVERGER, Maurice. Os Partidos políticos. Tradução por: Cristiano Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1970.p.153.
30 KLEIN, Antonio Carlos. A Importância dos Partidos políticos para o funcionamento do Estado. Brasília:
Brasília Jurídica, 2002.p.48.
19
2.3 NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
31 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional. 22ª ed. São Paulo: Malheiros, 2003.p. 112.
32 COTRIM, Gilberto. História e Consciência do Mundo. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 72
20
A noção de Estado de Direito remonta ao Estado Liberal, que é
caracterizado pela limitação dos poderes do ente estatal e de suas funções , tendo
ficado, por isso, conhecido como Estado Mínimo.
O Estado Mínimo não conseguiu atender aos anseios dos seus súditos,
que requeriam que ele fosse mais atuante, mais presente dentro da sociedade.
33 SILVA, Enio Moraes da. O Estado Democrático de Direito. Brasília, ano 42,n. 167 jul/set 2005.p.219
21
Observa-se, assim, uma mudança profunda na função do Estado Liberal para o Estado
Social. Do abstencionismo, passa-se para a intervenção pública em prol do social,
visando a extirpar desigualdades no seio da sociedade e oferecer oportunidades para
uma igualação daqueles que se encontram em condições desfavoráveis, reconhecendo
que a própria sociedade não teria condições de assumir esse papel.34
34 Ibid. p.223
35 SÁ, Fabiana Costa Lima de. O Sistema de Partidos Políticos na ordem jurídica Constitucional
democrática. 2002. Dissertação( Mestrado em Direito) – Universidade Federal do Ceará, 2002.145 pgs. p.
48
22
Já quando há eleições periódicas, em que são eleitos pelo povo os seus
representantes, isto é, quem tome as decisões governamentais em seu lugar, tem-se
a Democracia Representativa ou Indireta. Esta modalidade apresenta-se mais
viável, nos tempos em que vivemos, pelo fato de os Estados possuírem grande
extensão territorial e população muito elevada , além da alta complexidade dos
problemas, o que torna incompatível a Democracia ser exercida de forma direta.
23
Vive-se a era do Estado Democrático de Direito, que além de se
fundamentar na soberania popular, por ser ínsito a ele o princípio democrático,
também resguarda os direitos e garantias fundamentais do homem e possui como o
basilar dos princípios o da Dignidade da Pessoa Humana.
38 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional. 22ª ed. São Paulo: Malheiros, 2003.p. 122.
24
Atente-se, ademais, para a legitimação que os Partidos com
representantes no Congresso possuem para intentar Ação Direta de
Inconstitucionalidade.
25
Partidos mais fortes implicam o engrandecimento da democracia, além de
também se relacionar, de acordo com Klein39, com a melhoria dos serviços públicos.
39 KLEIN, Antonio Carlos. A Importância dos Partidos políticos para o funcionamento do Estado. Brasília:
Brasília Jurídica, 2002.p.148.
26
3 PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL
40 CHACON, Vamireh. História dos Partidos brasileiros : discurso e praxis dos seus programas. 2ª ed.
Brasília: Universidade de Brasília, 1985.p.23
41 CÁCERES, Florival. História do Brasil. São Paulo: Moderna: 1997.p.174.
42 SOARES, Carlos Dalmiro da Silva. Evolução histórico-sociológica dos Partidos políticos no Brasil Imperial .
Jus Navigandi, Teresina, ano 2, n. 26, set. 1998. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina
/texto.asp?id=1503>. Acesso em 06 mar. 2007.p.4
27
Nota-se, claramente, que no Primeiro Reinado só havia oposição e
situação ( governo), verificando-se, em 1826, o surgimento de uma corrente política
oposicionista que viria a se destacar depois de 1831, denominada de Exaltados ou
Farroupilhas.
Quando Dom Pedro I abdica de seu trono, o país passa a ser governado
por Regências, o que ocorreu de 1832 à 1840.
O Brasil passou a ser governado por uma Regência até que Dom Pedro II
pudesse assumir o seu trono. É eleito como Primeiro Regente o Padre Feijó. Com o
fito de combater a forte oposição, que havia a seu governo e, também, para
defender este, alguns simpatizantes de Feijó criam o Partido Progressista.
43 Ibid.p.4
28
Foram dos antigos partidários de Feijó que se originou o Partido Liberal,
que se revezou no poder com o Partido Conservador durante o Período Imperial.
“Quando um dos Partidos dirigia os negócios públicos, o outro, na oposição, tratava
de injuriar os governantes, até que o Imperador os derrubasse e os substituísse
pelos descontentes, que eram, depois, novamente substituídos” 44..
44 KLEIN, Antonio Carlos. A importância dos Partidos políticos no funcionamento do Estado. Brasília: Brasília
Jurídica, 2002.p.88
45 CÁCERES, Florival. História do Brasil. São Paulo: Moderna: 1997.p.174.
46 NASPOLINI, Samuel Dal-Farra. Pluralismo Político - Subsídios para Análise dos Sistemas Partidário e
Eleitoral Brasileiros em Face da CF/88. Curitiba: Juruá Editora, 2006.p138
29
É fundado um Clube Republicano a partir da união entre liberais radicais e
republicanos e é criado, também, o jornal “A República”, constituindo-se ambos
meios propagadores da ideologia republicana.
30
Durante a República Velha, destacam-se os Partidos Políticos de caráter
regional. Isso porque “O federalismo, traduzido pelo mandonismo local com sua
consagração, impedia a reestruturação de Partidos nacionais.”48
31
O referido Partido teve como principal bandeira a luta sindical aliada à
ação partidária. Em 1928, o partido tinha mais de dez mil componentes. O Partido
tentava eleger seus componentes, participando de frentes únicas com grupos
políticos dissidentes ou com o apoio nos operários, porém não obteve resultado
expressivo, dado que se vivia numa época em que a política era dominada
oligarquicamente e o povo não representava muito para os governantes.
Esse fato provocou a formação de uma aliança entre Minas Gerais, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraíba, denominada de Aliança Liberal, que
apresentou como candidato à presidência da República o político gaúcho Getúlio
Vargas. Tal Aliança era formada por políticos pertencentes à elite brasileira. Na
verdade, era formada por velhas oligarquias que queriam retornar ao poder, embora
se apresentassem com propósitos diferentes.
32
Descontentes com as intervenções tenentistas em seus estados, as
oligarquias vitoriosas com a Revolução de 30 aliaram-se aos grupos agrários
vencidos e deram início a manifestações pela constitucionalização do país, com o
fito de frear as pressões reformistas dos tenentes.
Esse movimento foi mais intenso em São Paulo, tendo ficado conhecido
como Revolução Constitucionalista de 1932. Isso porque o Partido Democrático, que
havia apoiado a revolução, esperava obter o poder. Não foi o que ocorreu, pois foi
nomeado um interventor para São Paulo. Logo, tal partido aliou-se ao Partido
Republicano Paulista, seu conhecido opositor, formando-se a Frente Unida, que
tentou derrubar Vargas, não obtendo êxito ao final.
A AIB fora fundada por Plínio Salgado. Seu programa era contrário à
democracia, ao imperialismo norte-americano e inglês, e, principalmente, contra o
comunismo. Defendiam o Estado Totalitário. Foi visto com simpatia por certo tempo
por Vargas, pois era uma espécie de freio às manifestações esquerdistas.
33
Usando-se o subterfúgio de defender o país de uma intervenção
comunista, Getúlio Vargas deu um golpe de Estado .Iniciou-se a era do Estado
Novo, período ditatorial sob sua ingerência.
Foi muito fácil a Getúlio Vargas responsabilizar impunemente os Partidos, para justificar
seu golpismo. Eles não tinham estrutura, organização, nem contatos permanentes com
suas bases, dispersas sem uma rede de comunicações e transportes, então ainda a
aparecer no Brasil.51
51 CHACON, Vamireh. História dos Partidos brasileiros : discurso e praxis dos seus programas. 2ª ed.
Brasília: Universidade de Brasília, 1985.p. 135.
52 CÁCERES, Florival. História do Brasil. São Paulo: Moderna: 1997.p.287.
34
O PTB organiza a campanha do “Queremismo”, que defendia o retorno de
Getúlio, agora pela via democrática. Esse movimento não alcançou sucesso, pois
Vargas foi deposto em 1945 e foi eleito seu sucessor, o General Dutra.
35
A partir dessa Emenda, surgiram como resultantes do antigo MDB: Partido
do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB)
e o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Os componentes do MDB, mais
conservadores, fundaram o Partido Progressista (PP). Os governistas (antigos
udenistas) passaram a se intitular como Partido Democrático Social (PDS). Os
dissidentes do PDS formaram o Partido da Frente Liberal (PFL). Surgiu, ainda, à
esquerda de todos esses Partidos, o Partido dos Trabalhadores (PT).
36
Renovador Trabalhista Brasileiro – PRTB, nº. 28; Partido da Causa Operária – PCO,
nº. 29; Partido Humanista da Solidariedade – PHS, nº. 31; Partido da Mobilização
Nacional – PMN, nº. 33; Partido Trabalhista Cristão – PTC, nº. 36; Partido Socialista
Brasileiro – PSB, nº. 40; Partido Verde – PV, nº. 43; Partido Republicano
Progressista – PRP, nº. 44; Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB, nº. 45;
Partido Socialismo e Liberdade - PSOL, nº. 50; Partido de Reedificação da Ordem
Nacional – PRONA, nº. 56; Partido Comunista do Brasil – PC do B, nº. 65, e, por fim,
Partido Trabalhista do Brasil - PT do B, nº. 70.
Entre dois mil e cinco (2005) e dois mil e sete (2007), houve a criação de
três novos Partidos: Partido Republicano Brasileiro – PRB; Partido Socialismo e
Liberdade – PSOL; Partido da República – PR. Ademais, o PFL, no corrente ano,
mudou o seu nome para Democratas.
37
Verifica-se que alguns dos Partidos existentes foram frutos da
redemocratização brasileira e seus princípios norteadores são fortemente inspirados
na valorização da Democracia como regime político, no respeito às liberdades, já
que seus fundadores viveram sob o Regime Ditatorial, marcado pelo cerceamento
às diferentes manifestações de liberdade.
Tal dispositivo veio impedir que fossem criados Partidos com ideais
contrários aos valores tão apregoados por nossa Carta Magna. Há, aí, na verdade, a
consagração desse princípio, que deve ser analisado de forma sistêmica com os
outros princípios inerentes aos Partidos Políticos. É até de certa forma
compreensível esta preocupação dos Constituintes Originários, tendo em vista a
38
história política traçada pelos Partidos Brasileiros, como viu-se anteriormente.
39
Por sua vez, a externa representa a independência que o Estado possui
frente aos outros Estados. Assim, outros Estados não podem interferir nas decisões
tomadas por um que possua o atributo da soberania.
Por isso, existem várias críticas a respeito dessa forma de soberania, pois
que existem muitos Estados, aparentemente, independentes, que têm seus rumos
totalmente atrelados aos interesses de grandes nações, em especial, dos Estados
Unidos da América. Isso acontece com muitos países da América latina,
predominantemente, os da América Central.
Como foi visto, os programas dos Partidos Políticos devem ser pautados
pelo respeito à Soberania Nacional. Assim, “os Partidos estão delimitados e
submetidos à supremacia interna da nação na qual se inserem. As suas nascentes e
o seu campo de expansão coincidem e não transbordam o território nacional”56
Dessa forma, os Partidos não podem pregar uma doutrina que desafie o
poder supremo do Estado, sob pena de incorrer na defesa da anarquia e,
conseqüentemente, deixar de pautar-se pelo princípio básico inerente ao
ordenamento jurídico brasileiro, que é a valorização da Democracia como regime
político.
56 KLEIN, Antonio Carlos. A importância dos Partidos políticos no funcionamento do Estado. Brasília: Brasília
Jurídica, 2002.p.95
40
3.2.3 Princípio do Respeito ao Regime Democrático
57 KLEIN, Antonio Carlos. A importância dos Partidos políticos no funcionamento do Estado. Brasília: Brasília
Jurídica, 2002.p.96.
58 SARTORI, Giovanni (1982 apud NASPOLINI, p. 33)
59 NASPOLINI, Samuel Dal-Farra. Pluralismo Político - Subsídios para Análise dos Sistemas Partidário e
Eleitoral Brasileiros em Face da CF/88. Curitiba: Juruá Editora,p.72.
41
A doutrina pluralista reconhece a multiplicidade de centros de poder e de
ideologias de vida no país, o que, implica que não há, no Brasil, uma verdade
absoluta oriunda de um determinado centro de poder. Há, sim, a garantia que
diversos grupos sociais expressem suas verdades e, por meio do debate dessas, há
o posterior engrandecimento e riqueza da nossa Democracia. Daí a relevância de
que quaisquer correntes de pensamento, por mais minoritárias que sejam, tenham o
direito de expressar suas doutrinas.
42
pode admitir que sejam instituídos meios que venham impor a existência de um
certo número de Partidos, pois do contrário haveria grave afronta às diretrizes
adotadas constitucionalmente.
43
Assim, muito embora aparentasse que os Partidos Locais representassem
de maneira mais fiel seus partidários, tal possibilidade encerra mais prejuízos que
benefícios para a democracia brasileira.
Tal Resolução foi bastante criticada pelo fato de não respeitar o Princípio
da Anterioridade da Lei Eleitoral, que prevê que as regras eleitorais devem ser
definidas, no mínimo, um ano antes da ocorrência do pleito, garantindo, assim, a
segurança do ordenamento jurídico e, também, pelo fato de restringir a liberdade
partidária, tal qual foi insculpida na Carta Magna Brasileira.
63 ANDRADA, Bonifácio de. Direito partidário- Comentários à legislação em vigor. Brasília: Centro de
Documentação e Informação, Câmara dos Deputados, 1997.p.23.
44
Comunista Russo (Komitern), que foi extinto como a última Revolução Russa.
Estes podem estabelecer os órgãos internos que lhe aprouverem. Podem estabelecer as
regras que quiserem sobre o seu funcionamento. Podem escolher o sistema que melhor
lhes parecer para a designação de seus candidatos: convenção mediante delegados
eleitos apenas para o ato, ou com mandatos, escolha de candidatos mediante votação
da militância. Podem estabelecer os requisitos que entenderem sobre filiação e
militância. Podem disciplinar do melhor modo, a seu juízo, seus órgãos dirigentes.
Podem determinar o tempo que julgarem mais apropriado para a duração do mandato de
seus dirigentes.65
45
Verificou-se que, também, foi deixado a cargo dos Partidos Políticos o
tratamento aos temas de suma importância para a moralização da política que são:
a disciplina partidária e a fidelidade partidária.
66 KLEIN, Antonio Carlos. A importância dos Partidos políticos no funcionamento do Estado. Brasília: Brasília
Jurídica, 2002.p. 103.
67 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional. 22ª ed. São Paulo: Malheiros, 2003.p. 405.
46
Em primeiro lugar, a própria Constituição Federal de 1988 estabelece
limites a tal liberdade, condicionando-a ao respeito aos Princípios da Soberania
Nacional, do Regime Democrático, do Pluripartidarismo e a salvaguarda dos Direitos
Fundamentais da Pessoa Humana, como foi visto oportunamente.
Funcionam, por isso, como forma de controle ideológico, controle qualitativo, de tal sorte
que será ilegítimo um partido que, porventura, pleiteie um sistema de unipartidarismo ou
um regime de governo que não se fundamente no princípio de que ou o poder emana do
povo, que o exerce por meio de seus representantes ou diretamente, base da
democracia adotada pela Constituição, ou que sustente um monismo político em vez do
pluralismo, que é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.68
Para o mesmo autor, a vedação quanto aos Partidos serem uma forma de
organização paramilitar, consoante art. 17, § 4° e o art. 6° da lei 9.096/95, também é
uma modalidade de controle qualitativo. Já Naspolini coloca essa proibição como um
exemplo de controle externo. No entanto, ambos concordam que a vedação vem
repelir qualquer possibilidade de que existam Partidos de cunho totalitário, ou seja,
tal proibição visa evitar a infiltração de frações, grupos ou organizações de ação
política paramilitar contrários ao espírito democrático.69
68 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional. 22ª ed. São Paulo: Malheiros, 2003.p. 406.
69 ANDRADA, Bonifácio de. Direito partidário- Comentários à legislação em vigor. Brasília: Centro de
Documentação e Informação, Câmara dos Deputados, 1997.p.24.
47
Partidário e, também, pelo fato de poderem receber doações de particulares.
Mais dois aspectos são colocados por Naspolini como tipos de controle
formal: caráter nacional e funcionamento parlamentar de acordo com a lei. Alguns
escritores, a respeito do caráter nacional, inserem-no como Princípio Constitucional,
já explanado anteriormente.
48
partidária ou o direito ao funcionamento parlamentar, como foi afirmado, entre
outros.
70 BERARDI, Luciana Andrea Accorsi. Reforma politica na federação brasileira . Jus Navigandi, Teresina, ano 9,
n. 719, 24 jun. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6926>. Acesso em: 09 maio
2007.p.10
49
4 CLÁUSULA DE BARREIRA
Essas Cláusulas têm vigência na distribuição dos mandatos entre as listas das unidades
federadas (Landeslisten), consistindo, no seguinte: o partido que não haja obtido pelo
menos cinco por cento dos votos do território nacional (Prazentklausel) ou que não tenha
podido alcançar uma cadeira em pelo eleitorais menos três circunscrições
( Grudmandatklausel), não logrará representação.71
Mais do que em qualquer outro país, devido á sua trágica experiência histórica, a meta
primordial das Cláusulas de exclusão na Alemanha é, ao lado da garantia da estabilidade
política advinda de parlamentos estruturados sobre grandes e médios Partidos, a
eliminação parlamentar das agremiações radicais , os chamados Partidos anti-sistema.72
50
As referidas Umbrais de Exclusão foram objeto de críticas por parte de
alguns autores alemãos. No entanto, prevaleceu a corrente que acredita serem as
Umbrais indispensáveis à dinâmica do sistema político em geral. Tal concepção
ficou, inclusive, consubstanciada, pela mais alta Corte da Alemanha.
51
Conhecida como uma das menores Cláusulas de barreira insertas nos
ordenamentos jurídicos é a da Holanda. Está fixada em apenas 0,67%, sendo por
muitos considerada insignificante, praticamente inexistente, por não gerar qualquer
efeito sobre os agrupamentos partidários.
Por sua vez, a República Francesa possui natureza peculiar, por ter
adotado o sistema majoritário em dois turnos para a eleição dos membros da
Assembléia Nacional. Logo, é na passagem para o segundo turno que há a
incidência da Cláusula de Bloqueio Francesa, só podendo concorrer nessa etapa os
candidatos que atingem, no mínimo, 12,8% por cento do total de eleitores inscritos
no distrito para o qual concorrem.
No Brasil não foi diferente, dado que foi o Decreto-lei 7.586/45 que
introduziu a Cláusula de Exclusão em nosso ordenamento. Nesse diploma legal,
foram colocadas duas umbrais de bloqueio: uma que operava sobre a criação e
registro provisório dos Partidos, outra incidente após as primeiras eleições gerais
disputadas pelas agremiações partidárias. Era requerido, portanto, para que os
Partidos pudessem sobreviver provisoriamente, que contassem com o apoio de, pelo
menos, dez mil eleitores distribuídos em, no mínimo, cinco estados. Já para o
registro partidário definitivo, era necessário que as agremiações alcançassem, nas
eleições gerais, cinqüenta mil votos em todo o país ou que elegessem
representantes no Congresso, caso contrário, teriam o seu registro cancelado.
52
O Decreto-lei n° 9.258/46 veio acrescer ao primeiro requisito, mencionado
acima, que o partido deveria auferir, pelo menos, mil votos em cada um dos Estados.
Com a Lei n° 21.164/65, foram repetidos os critérios quantitativos citados e foi
conferida aos Partidos políticos a natureza de pessoa jurídica de direito público. Tais
requisitos ficaram valendo até 1965.
74 CARVALHO, Kátia de. Cláusula de barreira e funcionamento parlmentar. Câmara dos Deputados,2003.p.
4.
53
foi visto em tópico apropriado.
75 NASPOLINI, Samuel Dal-Farra. Pluralismo Político - Subsídios para Análise dos Sistemas Partidário e
Eleitoral Brasileiros em Face da CF/88. Curitiba: Juruá Editora:2006.p.223.
76 CARVALHO, Kátia de. Cláusula de barreira e funcionamento parlmentar. Câmara dos Deputados,2003.p.
4.
54
além de a Carta pregar toda e qualquer forma de liberdade quase que de modo
absoluto.
Art. 13. Tem direito a funcionamento parlamentar, em todas as Casas Legislativas para
os quais tenha elegido representante, o partido que, em cada eleição para a Câmara dos
Deputados obtenha o apoio de, no mínimo, cinco por cento dos votos apurados, não
computados os brancos e os nulos, distribuídos em, pelo menos, um terço dos Estados,
com um mínimo de dois por cento do total de cada um deles.
Art. 41. O Tribunal Superior Eleitoral, dentro de cinco dias a contar da data do depósito a
que se refere o 1 do artigo anterior, fará respectiva distribuição aos órgãos nacionais dos
Partidos, obedecendo aos seguintes critérios:
55
I – um por cento do total do Fundo Partidário será destacado para entrega, em partes
iguais, a todos os Partidos que tenham seus estatutos registrados no Tribunal Superior
Eleitoral;
II- noventa e nove por cento do total do Fundo Partidário serão distribuídos aos Partidos
que tenham preenchido as condições do art. 13, na proporção dos votos obtidos na
última eleição geral para a Câmara dos Deputados.
56
A condição de caráter nacional está regulamentada, na forma do art. 7° §
1° da lei 9.096/95, conforme transcrição legal:
Art. 7. O partido político, após adquirir personalidade jurídica na forma da lei civil, registra
seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral.
57
por cento do total de cada um deles.
80 FREITAS, Luiz Carlos Orro de. O difícil caminho da democracia: crítica da legislação eleitoral e partidária do
Pós-85. São Paulo: Jus Navigandi, 2005. Disponível em <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6142>.
Acesso em 09 março 2006.p.4.
81 SOUSA, Marcos César Minuci de. Direito Adquirido em matéria eleitoral: a inaplicabilidade da Cláusula de
barreira aos atuais vereadores. São Paulo: Jus Navigandi, 2006. Disponível em
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9056>. Acesso em 09 março 2006. p.9.
82 BRAGA, Isabel. Partidos fazem ato contra a Cláusula de barreira na Câmara. O Globo, Brasília, 29 nov. 2006.
Disponível em:<http://oglobo.globo.com/pais/mat/2006/11/29/286831772.asp>. Acesso em: mar. 2007.
58
Assim, haveria tratamento diferenciado entre os que atendessem aos
requisitos insculpidos na Cláusula de Bloqueio e aqueles que o não fizessem, de
acordo com os artigos citados, transcritos abaixo.
Art. 41. O Tribunal Superior Eleitoral, dentro de cinco dias, a contar da data do depósito a
que se refere o § 1°do artigo anterior, fará a respectiva distribuição aos órgãos nacionais
dos Partidos, obedecendo aos seguintes critérios:
I – um por cento do total do Fundo Partidário será destacado para entrega, em partes
iguais, a todos os Partidos que tenham seus estatutos registrados no Tribunal Superior
Eleitoral;
II – noventa e nove por cento do total do Fundo Partidário serão distribuídos aos
Partidos que tenham preenchidos as condições do art. 13, na proporção dos votos
obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados.
Art. 48. O partido registrado no que não atenda ao disposto no art. 13 tem assegurado a
realização de um programa em cadeia nacional, em cada semestre, com a duração de
dois minutos.
59
divulgado pela mídia. Sofreriam, sim, restrições quanto ao funcionamento
parlamentar.
Com a edição da Lei dos Partidos Políticos, que trouxe em seu bojo os
artigos já analisados, podem-se observar duas posições antagônicas: a dos Partidos
que a apóiam e a dos Partidos que a repudiam. Os argumentos trazidos à tona,
tanto para defender como para criticar a umbral são de ordens jurídica e política.
60
Ademais, seria dado diferente tratamento à mesma coisa, qual seja o voto
popular. Enquanto alguns votos confeririam mais prerrogativas aos Partidos que
ultrapassassem a Cláusula, outros teriam seus votos depreciados, por seus
candidatos, quando na Casa respectiva, sofrerem restrições quanto ao exercício
legislativo.
61
Soberania Popular, base da Democracia. Assim, só se coadunariam com as
disposições constitucionais as disposições legais que viessem a incrementar a
possibilidade de representatividade da sociedade e não o contrário.
62
O Brasil constitui-se um país de democracia jovem, com pouca
experiência política de qualidade, como se pôde depreender no delineamento
histórico dos Partidos. É prova disso, ainda, a existência de práticas arraigadas,
como compra de voto, oriundas do Coronelismo. Logo, é natural que ocorram crises
políticas para proporcionar um maior amadurecimento da Democracia Brasileira.
Devem ser evitadas manobras políticas que venham, com o pretexto de moralizar a
política, provocar o retrocesso do regime democrático. Deve-se, sim, dar crédito aos
eleitores, para que eles escolham os Partidos meritórios de seus votos.
86 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional. 22ª ed. São Paulo: Malheiros, 2003.p. 399.
63
governabilidade. Estabilidade pois com a aplicação da Cláusula seriam extirpadas as
possibilidades de que Partidos de tendência radical venham a alcançar o poder.
Funcionalidade pelo fato de as Umbrais atuarem eficazmente como ferramentas de
contenção da atomização partidária, efeito este provocado pelo sistema
proporcional, como apreciado anteriormente. Governabilidade pela razão de os
governos não ficarem mais a mercê de Partidos irresponsáveis que juntos não
aprovam e não permitem que sejam aprovadas leis que permitam a atuação do
governo. Com o menor número de Partidos, resultado da Cláusula, a negociação
entre eles é facilitada por tornar-se menos complexa e,assim, são aprovadas com
maior agilidade questões cruciais para o país.
Uma análise prática será posta para ter-se uma idéia do que aconteceria
caso a Cláusula de desempenho fosse aplicada. Tal análise terá como base as duas
últimas eleições gerais: 2002 e 2006.
87 NASPOLINI, Samuel Dal-Farra. Pluralismo Político - Subsídios para Análise dos Sistemas Partidário e
Eleitoral Brasileiros em Face da CF/88. Curitiba: Juruá Editora,p.277.
64
Partidos que concorreram esse pleito obtido os cinco por cento dos válidos e os dois
por cento em cada Estado, no mínimo, em um terço dos Estados. Temendo a
Cláusula de barreira, que viria a incidir, a partir de 2007, o PPS realizou fusão com o
PHS e com o PMN em dezembro de 200688. Tal fusão foi cancelada quando o
Supremo Tribunal Federal concluiu pela inconstitucionalidade dos dispositivos
concernentes à Cláusula de barreira, na lei 9.096/95, o que será objeto de análise a
seguir.
4.3 DA INCONSTITUCIONALIDADE
Art. 41. O Tribunal Superior Eleitoral, dentro de cinco dias, a contar da data do depósito a
que se refere o § 1º do artigo anterior, fará a respectiva distribuição aos órgãos nacionais
dos Partidos, obedecendo aos seguintes critérios:
I – (omissis)
II - noventa e nove por cento do total do Fundo Partidário serão distribuídos aos Partidos
que tenham preenchido as condições do art. 13, na proporção dos votos obtidos na
última eleição geral para a Câmara dos Deputados.
Art. 48 - O partido registrado no Tribunal Superior Eleitoral, que não atenda ao disposto
no art. 13, tem assegurada a realização de um programa em cadeia nacional, em cada
semestre, com a duração de dois minutos.
II – (omissis)
Art. 57 - No período entre o início da próxima Legislatura e a proclamação dos resultados
da segunda eleição geral subseqüente para a Câmara dos Deputados, será observado o
88 PPS define fusão em congresso extraordinário neste sábado. O Globo Online, Brasília, 17 nov. 2006.
Disponível em: <http://oglobo.globo.com/pais/mat/2006/11/17/286711577.asp>. Acesso em : 17 mar. 2007.
65
seguinte:
I - (omissis)
II - vinte e nove por cento do Fundo Partidário será destacado para distribuição, aos
Partidos que cumpram o disposto no art. 13 ou no inciso anterior, na proporção dos votos
obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados.
O art. 17, da Constituição Federal, consagra a liberdade para a criação dos Partidos
políticos. O seu § 1º, assegura-lhes autonomia para definir sua estrutura interna,
organização e funcionamento, entre outras atribuições. Em nenhum momento a Letra
Constitucional estabelece Partidos de 1ª e 2ª categorias. Ao contrário, determina em seu
art. 5º, que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Portanto,
quando o legislador infra-constitucional cria normas díspares para iguais perante a lei,
ele fere frontalmente a Lei Maior, com a agravante de ser em benefício próprio e de seus
Partidos políticos, com manifesto desrespeito às minorias e flagrante intenção de se
eternizarem no poder.
O registro definitivo dos Partidos políticos perante o Colendo Tribunal Superior Eleitoral,
coloca-os em igualdade de condições perante a lei, assegurando-lhes o direito adquirido
através de ato jurídico perfeito, com a obtenção de seu registro definitivo na Justiça
Eleitoral.89
89 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Íntegra do voto do Ministro Marco Aurélio. Poder Judiciário:
2006.p. 2
66
Já o segundo (parágrafo 1º do art. 17) prevê que “é assegurada aos
Partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e
funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações
eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito
nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer
normas de disciplina e fidelidade partidária”.
90 MELLO, Marco Aurélio. Voto proferido nas ADI 1.351 e 1.354. Supremo Tribunal Federal. Brasília: 2006.p. 4.
67
razoável da população.
68
fundo partidário e gozariam, em cada semestre, nacionalmente e estadualmente, de
vinte minutos de propaganda partidária e desfrutaria, também, de inserções
semestrais , em rede nacional e estadual, de trinta segundos ou um minuto,
perfazendo oitenta minutos por ano. O restante dos Partidos ficariam sobrevivendo
às duras penas, não contariam com o funcionamento parlamentar, dividiriam com os
demais registrados no TSE a percentagem de um por cento do fundo partidário. No
tocante à propaganda partidária gratuita teriam, por semestre, apenas dois minutos
a nível nacional.
Antes de tudo, ele tratou de pontuar que a única Carta Magna que dispôs
sobre Cláusula de Barreira tinha sido a Carta ditatorial de 1967, que estava regada
de um espírito orientador totalmente oposto ao que inspirou os Constituintes da
Carta de 1988.
O que se contém no artigo 17 da Carta Federal diz respeito a todo e qualquer partido
político legitimamente constituído, não encerrando a norma maior a possibilidade de
haver Partidos de primeira e segunda classes, Partidos de sonhos inimagináveis em
termos de fortalecimento e Partidos fadados a morrer de inanição, quer sob o ângulo da
atividade concreta no Parlamento, sem a qual é injustificável a existência jurídica, quer
da necessária difusão do perfil junto ao eleitorado em geral, dado indispensável ao
desenvolvimento relativo à adesão quando do sufrágio, quer visando, via fundo
partidário, a recursos para fazer frente à impiedosa vida econômico-financeira. Em
síntese, tudo quanto venha à balha em conflito com os ditames maiores, os
constitucionais, há de merecer a excomunhão maior, o rechaço por aqueles
comprometidos com a ordem constitucional, com a busca do aprimoramento cultural.91
91 MELLO, Marco Aurélio. Voto proferido nas ADI 1.351 e 1.354. Supremo Tribunal Federal. Brasília: 2006.p.
13.
69
resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos
fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos:
I - caráter nacional;
II -proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros
ou de subordinação a estes;
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
§ 1º É assegurada aos Partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna,
organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas
coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em
âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer
normas de disciplina e fidelidade partidária.
70
existente a restrição constitucional.93
93 MELLO,Marco Aurélio. Voto nas ADI 1.351 e 1.354. Supremo Tribunal Federal: 2006.p. 14.
71
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
72
Como apreciado, a referida Cláusula esteve e continua presente em
vários ordenamentos jurídicos. Em especial, no Brasil, a sua introdução data do
regime ditatorial militar, quando reinava a repressão à livre expressão e,
conseqüentemente, à Liberdade Partidária.
73
Pode-se crer que haja fortalecimento das legendas em quantidade de
membros com a incidência da Cláusula, mas não engrandecimento ideológico, pois
isso dependeria de outros fatores bem mais complexos.
74
6 REFERÊNCIAS
BASTOS, Celso Ribeiro. Teoria do Estado e Ciência Política. 6ª ed. São Paulo:
Celso Bastos Editora,2004.
BRASIL . TSE define, na sessão desta terça (6), critérios para distribuição do fundo
partidário (atualizada). Tribunal Superior Eleitoral. Disponível em:
<http://agencia.tse.gov.br/noticiaSearch.do?acao=get&id=16561>. Acesso em : 18
mar. 2007.
75
.TSE suspende repasse do fundo partidário a oito legendas (atualizada às
19h30). Tribunal Superior Eleitoral. Disponível em: <http://agencia.tse.gov.br/
noticiaSearch.do?acao=get&id=16627>. Acesso em : 18 mar. 2007.
76
. STF derruba Cláusula de barreira em decisão unânime. O
Globo, Brasília, 7 dez. 2006. Dsponível em: <http://oglobo.globo.com/pais/mat/
2006/12/07/286942953.asp>. Acesso em : 17 mar. 2007.
CÂNDIDO, Joel J. Direito Eleitoral Brasileiro. 12ª ed. Bauru: Edipro, 2006.
CHACON, Vamireh. História dos Partidos brasileiros : discurso e praxis dos seus
programas. 2ª ed. Brasília: Universidade de Brasília, 1985.
FREITAS, Luiz Carlos Orro de. O difícil caminho da democracia: crítica da legislação
eleitoral e partidária do Pós-85. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 543, 1 jan. 2005.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6142>. Acesso em: 09
maio 2007.
77
GRAU, Eros Roberto. Voto na Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.351-
3..Supremo Tribunal Federal:.Brasíla 2006.
78
Oposição e governistas se unem para reverter decisão do TSE. O Globo, CBN, O
Globo Online e TV Globo, 8 fev. 2007. Disponível em:
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Partidos pequenos fazem ato pelo fim da Cláusula de barreira. O Globo Online,
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PEIXOTO, Paulo. Chinaglia critica TSE e diz que testará poder com governo.
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Constitucional democrática. 2002. Dissertação( Mestrado em Direito) –
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79
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legislativa, Brasília, ano 42,n. 167 jul/set 2005.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional. 22ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2003.
80