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cifica e por escrito da Editorial Nordica. Esta autorizagéo sé é desnecessdria
em caso de citagdo nos meios de comunicagao com finalidade critica.
ISBN 85-7007-115-9
é para a Russia um objetivo geopolitico e a expressao de
uma ambicao historica. A situacéo geografica da Russia é
paradoxal. O império da Gra&-Russia exerce, claramente, um
predominio militar sobre um imenso continente, que con-
tém a maior parte da populac&o, do territorio e da riqueza
mundiais, ocupando uma posicao estratégica vital em re-
lag&o aos demais continentes. Ao mesmo tempo, como é real-
cado pelo mapa, a Russia esta sujeita a um isolamento pe-
culiar, ou até mesmo a uma espécie de cerco. Apesar da sua
enorme extensao continental — é, de longe, 0 maior Estado
do mundo — ela esta cercada por terras. Nao dispde de um
acesso verdadeiramente aberto para o mundo. Por um lado,
a Europa Ocidental bloqueia, efetivamente, a saida para o
Mar Mediterraneo e 0 Oceano Atlantico. O acesso russo ao
Atlantico é contido por pontos de estrangulamento estraté-
gicos, tais como o Estreito dos Dardanelos, entre o Mar
Negro e o Mar Mediterraneo, os estreitos de Kattegat e
Skagerrak, que ligam o Mar Baltico ao Mar do Norte, e a
passagem entre a Noruega e Spitsbergen (que, de qualquer
modo, domina a saida dos portos soviéticos que s&o obriga-
dos a fechar durante o inverno).
Para o sul, o acesso ao Golfo Pérsico e ao Oceano fndico
é impossibilitado por uma barreira de Estados, comecando
pela Turquia, passando pelo Ira, Paquistaéo e india, e ter-
minando pela China. A fronteira chinesa constitui, também,
o limite do império soviético no Extremo Oriente, com a
Coréia do Sul e o Jap&ao ocupando os pontos terminais. Aqui,
também, a Uniao Soviética esta efetivamente bloqueada. O
acesso ao Oceano Pacifico esta limitado a uma pequena faixa
no extremo criente soviético, com o porto de Vladivostok
vulneravel ao estrangulamento do estreito de Tsushima, que
conduz ao Mar do Japao. E finalmente, o norte é bloqueado
por uma barreira de gelo quase permanente, sendo inavegavel.
Os governantes czaristas e soviéticos possuem uma coisa
em comum: eles procuraram, persistentemente, através de
um expansionismo inquebrantavel, alcancar certos objetivos
estratégicos-chaves, estabelecidos para alterar decisivamen-
te a situacao geografica do seu pais, ganhando assim a pre-
+
ponderancia continental. Esta nao é uma questao conjectu-
40
Populagao PNB Area
Regiao (milhées) (bilhées US$) terrestre
1983 1981 (km?)
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perseguicao de Moscou pelos seus objetivos estratégicos mais
amplos reativou-se com um impulso de vitalidade. Alguns
objetivos foram alcancados unilateralmente. Stalin fez um
acordo com Hitler para desmembrar a Polonia, em 1939. A
Finlandia oriental e as republicas do Baltico foram conquis-
tadas e anexadas em 1940. A Polonia, a Tchecoslovaquia, a
Hungria, a Roménia, a Bulgaria e a Alemanha Oriental,
transformaram-se em Estados-satélites, logo apés o término
da guerra. A Coréia do Norte foi ocupada em 1945,
Outros objetivos basicos foram exigidos mas nao obti-
dos —- e novamente estas exigéncias reafirmavam o alcance
eurasiano da visao estratégica de Moscou. Particularmente
reveladoras das ambic6es soviéticas foram as discuss6es, bru-
talmente francas, entre os russos e os nazistas no- final de
1940 (transcritas integralmente nos arquivos apreendidos aos
nazistas) envolvendo uma divisao conjunta dos espdlios, apds
a esperada vitoria nazista. Durante esta fase de ativo conluio
entre soviéticos e nazistas, Vyacheslav Molotov, Ministro do
Exterior de Stalin (e mentor de Gromyko), foi a Berlim no
dia 12 de novembro de 1940, a convite de Hitler, para dis-
cutir os termos da ades&o soviética ao recentemente con-
cluido Pacto do Eixo, entre a Alemanha nazista, a Italia fas-
cista e o Japao imperial. Moscou foi informada de que o
pacto estava “exclusivamente direcionado contra os belicistas
americanos” e que o objetivo era impedir a ajuda americana
a Gra-Bretanha. Molotov foi também encorajado a participar
de uma “delimitaca&o dos interesses em escala mundial” entre
os quatro principais beneficiarios da prevista derrota bri-
tanica.
Durante as prolongadas discussdes, Molotov, que dizia
estar representando Stalin em pessoa, endossou explicitamen-
te a assercéo de Hitler, segundo a qual ‘“‘os Estados Unidos
nao tinham nada a ver com a Europa, a Africa ou a Asia”.
Ele também deu a sua concordancia a proposicaéo de que o
Império britanico deveria ser partilhado. Mas a uma insi-
nuac&o alema de que a Russia pretendia ‘uma saida natural
para o mar” ao sul, Molotov respondeu evasivamente, per-
guntando, de modo inocente: “Que mar?” Assim evitou dar
44
Interesse Soviético
no Golfo Pérsico
milhas 590
0 500
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Vale a pena notar que a expansao russa para o sul sem-
pre foi dominada por consideracées estratégicas, e os tedricos
militaristas russos, pré-Revolucéo ou bolcheviques, sempre
escreveram abertamente sobre o assunto. Em um excelente
estudo publicado na primavera de 1985 na revista Orbis
(Seizing the Third Parallel: Geopolitics and the Soviet Advan-
ce into Central Asia),1 Milan Hauner compendia os alicer-
ces conceituais desta tendéncia permanente, e proporciona
exemplos reveladores dos interesses econdmicos russos no seu
avanco para o sul. Entre eles se inclui o esforco para obter
acesso direto ao Golfo Pérsico e ao Oceano Indico, por meio
da construcao de algumas linhas ferrovidrias estratégicas.
As consequéncias politico-militares de tal construcao, feita
per um poderoso Estado no interior de paises relativamente
fracos e economicamente atrasados, teriam sido decisivas.
Como é ilustrado pelo mapa, o objetivo russo era o de esta-
belecer duas ferrovias principais; uma ligando Baku, através
do Ira, a Buxir, no Golfo Pérsico, com um ramal para Bagda
e o porto de Basra; a outra interligando Ashkabad, na Asia
Central soviética, e Bandar Abbas, um estratégico ponto de
estrangulamento no Golfo Pérsico. Ramais adicionais seriam
projetadcs através do Afeganistao, interligando-se com as
ferrovias ja existentes que conduzem ao porto de Karachi, no
Oceano indico, ao sul. Esses projetos, interrompidos pela
Primeira Guerra Mundial, sem duvida assomavam & mente
de Stalin, enquanto ele pressionava Hitler, em 1940, visando
obter a aquiescéncia alema para o revigorado avanco russo
rumo ao sul. Os estrategistas soviéticos atuais nao podem
ignora-los.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os objetivos de
guerra soviéticos foram confirmados em diversas consultas
aos novos aliados anglo-americanos, com graus variados de
especificidade, mas com evidente consisténcia estratégica. No
Ocidente, ao mesmo tempo em que expressava a esperanca
de um afastamento americano da Europa, Stalin apresentou
varias propostas, cujo designio era’o de assegurar, nao apenas
48
~~ . Ilha Sacalina, 1945 Curilas,
: Spitsbergen .
(~ e Mha do Urso, 1945 Hokkaido, 1945 19
<SV Finlandia, 1940 (ocupacio compartilhada AED pel
Estados Balticos, 1940 Portos setentrionais t
Polénia, 1939, 1945 da: China, 1
Alémanha, 1945
“_ Balcas, 1940 Interven¢iio no
(oe Dardanelos, no Afeganistdo,
a940, 1945 _ 1979
ns do If
; 1945 *,
Tangier 4he 1 ‘y Sul de ‘-
1945 ‘Libya 1945 9
\, Baku/Bay
Reivindicacgdes Geopoliticas
Soviéticas nas
Atas Diplomaticas
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O ponto inicial do impacto foi a “peninsula” na extre-
midade ocidental do continente eurasiano, que tem cerca de
14.400 km no seu eixo leste-oeste, permanecendo aquela fren-
te ocidental distante apenas 1.850 km da 4drea do controle
soviético. O enclave americano podia ser geograficamente
pequeno, mas era critico do ponto de vista geopolitico, pois
incluia os vitais setores industriais da Europa, e detinha
as principais saidas para o Oceano Atlantico.
A primeira frente estratégica surgiu devido a ameaca
gémea a Grécia e Turquia e a Berlim. Em ambos os casos,
os soviéticos tentaram alterar.o status quo p6és-1945, com con-
sequéncias potenciais de longo alcance. O éxito na Grécia ou
na Turquia teria injetado o poder soviético no Mediterraneo,
numa época de consideravel inquietacdéo na regiao. A Italia
estava tumultuada pelos conflitos ideologicos. A Inglaterra
estava preocupada com o futuro da Palestina. Os Estados
Unidos ainda n&o tinham presenca militar na regiao, Um
‘sucesso na Turquia — no qual também estaria incluida a
aquiescéncia com as pretensodes territoriais soviéticas ao sul
de Batum — teria deixado livre 0 caminho para o Iraque.
Isto aumentaria a pressio sobre o Ira, num momento de
grande incerteza politica. A Radio Moscou anunciou subita-
mente, em dezembro de 1945, que duas novas republicas ha-
viam sido criadas no Ira pelas forcas revolucionarias, a Re-
publica Aut6énoma do Azerbaidjao e a Republica Popular do
Curdistao. O firme apoio dos Estados Unidos 4 integridade
territorial do Ira, que incluiu alusdes a existéncia de armas
nucleares, fez com que.os soviéticos recuassem no inicio de
1946. Esta crise foi a primeira grande escaramuca entre as
duas poténcias.
Se os soviéticos tivessem conseguido afastar as poténcias
ocidentais de Berlim ou inferiorizado as suas posicOes, as con-
sequéncias estratégicas teriam sido decisivas. Semelhante vi-
toria em um teste de determinacéo, tao aberto e dramatico,
teria demonstrado a predominancia soviética sobre os Esta-
dos Unidos no estagio inicial do envolvimento politico e eco-
némico americano com a Europa Ocidental. Os efeitos teriam
sido mais do que simbdlicos. Poderiam ter modificado o equi-
librio politico na Alemanha ao criar uma crise de confianca
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A segunda frente estratégica basilar, na recente disputa
histérica entre americanos e soviéticos, surgiu imediatamen-
te apos a primeira. A principio, a perspectiva de uma coliséo
no Extremo Oriente parecia remota. Os Estados Unidos, em
grande parte devido a iniciativa pessoal e 4 viséo estratégica
do seu comandante supremo no Extremo Oriente, o General
Douglas MacArthur, conseguiram conter e repelir os esforcos
soviéticos no sentido de obter uma base militar nas ilhas do
Japao. Os compromissos de Ialta e Potsdam garantiram 4
Uniao Soviética o controle sobre o sul da Sacalina e Mhas
Curilas, e os soviéticos apossaram-se, unilateralmente, de
mais algumas ilhas japonesas ao norte da Hokkaido. Mas
estes foram ganhos relativamente pequenos. A Uniao Soviéti-
ca e cS Estados Unidos agiram rapidamente para dominar
a Coréia, porém esta competic&ao foi resolvida por um acordo
que fixou uma linha demarcatéria no paralelo trinta e oito.
Inicialmente a China parecia mover-se na direcaéo da dérbita
americana, apesar da ocupacéo soviética da Manchuria e da
ajuda silenciosa as forcas comunistas chinesas estarem com-
plicando o efetivo restabelecimento da autoridade dos chi-
neses nacionalistas.
Contudo, ainda mesmo em 1949, com o confronto no ex-
tremo ocidente ja agudamente delineado, um confronto so-
viéticc-americano no Extremo Oriente parecia ainda impro-
vavel. Os Estados Unidos estavam angustiados com a vitoria
dos ccmunistas chineses, mas impotentes para a evitar. A
inclinacao estratégica de Washington caminhou no sentido
de evitar uma coliséo no continente asiatico com o emergente
bloco sino-soviéticc. Esta atitude levou a famosa declaracao
do Secretario de Estado Dean Acheson, em janeiro de 1950,
que definia os interesses estratégicos americanos no Extremo
Oriente como sendo essencialmente oceanicos e focalizados no
Japao. Sem mencionar a Coréia, Acheson estabeleceu de modo
preciso o ‘“perimetro defensivo” americano que passaria “ao
longo das Ilhas Aleutas até o Japao e dai (...) para as Ilhas
Rjukiu (...) até as Filipinas”. A Guerra da Coréia veio modifi-
car tudo isto. O carater direto e aberto da agressao comunista
no verao de 1950, tornada possivel pelo fornecimento em
grandeé escala de armas soviéticas, deixou o Presidente Tru-
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nas de seguranca em todo 0 mundo. Por outro lado, a para-
gem da expansao chinesa (que foi vista como parte de um
designio sino-soviético mais amplo) contribuiu, diretamente,
para o rompimento sino-soviético, alterando assim, funda-
mentalmente, a geopolitica do Extremo Oriente, em beneficio
dos Estados Unidos.
O principal impulso inicial para a ruptura foi a crise das
ilhas Quemoy e Matsu, em 1958. Os comunistas chineses ini-
ciaram um intenso bombardeio sobre as ilhas que protegiam
as passagens da China continental para a Ilha de Taiwan,
contrclada pelo Kuomintang. Os Estados Unidos responde-
ram com a ameaca de uma reacao militar. Isto precipitou,
por sua vez, fortes pedidos de ajuda soviética por parte dos
chineses, inclusive de armamentos nucleares. A lideranca so-
viética recusou ambos os pedidos, e esta resposta cautelosa
desencadeou a fulria reprimida dos chineses, inflamando
agudas polémicas sino-soviéticas, nao publicadas na época,
e criando uma tolerante indiferenca pessoal entre os lideres
‘ soviéticos e chineses.
O confronto Quemoy-Matsu, que os Estados Unidos con-
sideraram ser um teste de determinacao perante o bloco sino-
soviético, foi na realidade um catalisador para a desintegra-
cao basica deste bloco. Isto levou, eventualmente, a uma rea-
proximacéo sino-americana em 1972 e, até mesmo, a uma
significativa cooperacao em termos de seguranca no. final dos
anos 70 e inicio dos anos 80. Assim, durante o periodo do
pés-guerra, a posicgAo americana na frente estratégica basilar
do Extremo Oriente melhorou consideravelmente. Ela na&o
apenas se tornou mais segura, mas as suas linhas de frente
geopoliticas estavam também sendo tacitamente deslocadas
da extremidade do continente asiatico para a fronteira sino-
scviética.
A Uniao Soviética, contudo, ganhou um importante
ativo geopolitico e geoestratégico: o Vietna. O conflito entre
Mocscou e Pequim precipitou sua competicao pelo controle da
comunista Hanoi. A vizinhanca geografica e, dai, a expe-
riéncia histérica ja relatada, trabalharam contra a China.
Esta nao poderia, também, enfrentar a capacidade soviética
no fornecimento amplo de armas, munic6es e equipamentos
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Atlantica. O espetacular desempenho econémico do Japao,
da Coréia do Sul e da Associag&o das Nacdes do Sudeste Asia-
tico (ASEAN)?, e a evolucaéo de uma comunidade da bacia
do Pacifico, conduziram a emergéncia de um relacionamento
econémico que ja ultrapassa o transatlantico, em termos co-
merciais. De fato, esta é a regido que tem o crescimento eco-
némico mais rapido do mundo, o que acentua a sua impor-
tancia politica e estratégica para os Estados Unidos. Do ponto
de vista soviético, diluir ou dificultar esses lacos gradualmen-
te tornou-se tao importante quanto dividir a Europa Oci-
dental. .
Ainda mais importante, emergiu um relacionamento tri-
lateral entre os Estados da bacia do Pacifico no Extremo
Oriente, a América do Norte e a Europa Ocidental, como a
base para um novo sistema internacional nao-eurocéntrico,
garantido pelos Estados Unidos. A cooperacao entre essas trés
regides, economicamente vitais e politicamente democraticas,
tornou-se vital para a manutencao da estabilidade interna-
‘cional e para o desenvolvimento do Terceiro Mundo. Qual-
quer coisa que viesse perturbar o relacionamento dos Estados
Unidos, quer com o Extremo Oriente, quer com a Europa
Ocidental — particularmente um incremento politico ou
militar soviético — contribuiria diretamente para a desesta-
bilizac&o desses arranjos internacionais, em grande medida
garantidos pelos americanos.
A terceira frente estratégica basilar — a do sudoeste —
emergiu bem mais tarde. De fato, por quase um quarto de
século — apds o recuo soviético no Ira em 1946 e a promul-
gacao da Doutrina Truman em 1947 — a regiao ao sul da
Uniao Soviética nao foi envolvida num conflito direto entre
americanos e soviéticos. Os soviéticos nao cruzaram a linha
que se estende da fronteira nordeste da Turquia, pelo norte
do Ira, ao noroeste do Paquistao. O Afeganistao era um
genuino estado-tampao neutro, cujas fronteiras com a China
isolavam o Paquistao, impedindo sua exposicao direta 4 Uniao
Soviética. A Turquia, o Ira, e — em menor extensao — o
Paquistao estavam, politica e militarmente, intimamente as-
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regime ainda mais radical em 1979, tudo isso provocando o
surgimento de uma generalizada oposicao dos nacionalistas
e dos fundamentalistas islamicos. No final de dezembro de
1979, a Uniao Soviética explorou esta situac&ao para avancar
as suas préprias forcas militares. Pela primeira vez, desde
o comeco do conflito soviético-americano, ela ultrapassava as
linhas demarcadas no final da Segunda Guerra.
Formou-se assim a terceira frente. Os Estados Unidos
responderam em 23 de janeiro de 1980, proclamando formal-
mente a regiao do Golfo Pérsico como equivalente a Doutrina
Truman. Nas palavras do Presidente Jimmy Carter (e a sua
declaracao tornou-se conhecida como a Doutrina Carter):
“Qualquer tentativa de qualquer forca externa para obter o
controle da regiao do Golfo Pérsico sera encarada como um
atentado aos interesses vitais dos Estados Unidos da América
e este atentado sera repelido por todos os meios, inclusive
a forca militar”. Deste modo, os Estados Unidos se envolve-
ram diretamente. Rapidamente aumentaram os seus desloca-
mentos aéreos e navais para essa regiao. Incrementaram sua
ajuda militar ao Paquistao. Reafirmaram, explicitamente, a
garantia dada em 1959 no sentido de proteger o Paquistao
contra uma invasao soviética. E envolveram-se na sustenta-
cao da resisténcia afega & ocupacao soviética.
O envolvimento americano foi afirmado com base na pre-
missa estratégica de que, quaisquer que fossem os motivos
subjetivos do movimento militar soviético no Afeganistao,
as suas consequéncias seriam profundamente ameagadoras
para a regido, e poderiam levar a um dominio regional so-
viético. Além disso, uma penetracao soviética na terceira
frente traria graves implicacdes para as outras duas. Um
sucesso soviético, quer na frente da Europa Ocidental, quer
na do Extremo Oriente, desequilibraria o sistema internacio-
nal, mas, mesmo assim, semelhante revés n&o privaria.os
Estados Unidos da capacidade de defender a outra frente. Um
sucesso soviético nesta terceira frente basilar, contudo, da-
ria automaticamente a Uniao Soviética uma enorme vanta-
gem na competicao com os Estados Unidos pelas outras duas.
Isto permanece ainda verdadeiro, apesar da superabundancia
de petrédleo no mercado mundial na metade dos anos 80.
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