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Geopolítica na Ásia Central: a constante influência externa.

Geopolitics in Central Asia: the constant foreign influence.


Robson Coelho Cardoch Valdez1

Resumo
Apesar da constante vigilância russa, a Ásia Central pós-soviética é peça importante no
jogo geopolítico das potencias mundiais.

Palavras-chave: Geopolítica; Ásia Central; Política Internacional.

Abstract
Despite de constant russian vgilance, the post-soviet Central Asia is an important element
in the geopolitical game of the sole superpowers.

Keywords:Geopolitic; Central Asia; International Politics.

A região da Ásia Central é composta pelo Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão,


Turcomenistão e Tajiquistão. Além destes países, a região abrange também parte dos
territórios da Rússia, China, Afeganistão, Índia, Irã, Mongólia e Paquistão. Esta terra de
vales, estepes, montanhas e desertos é composta por uma população étnica de tajiks de
descendência iraniana, kazahks, kirghz, turcomenos e uzbeks. Durante muito tempo esta
terra serviu de rota comercial da seda que facilitou a disseminação da cultura turca, árabe e
mongol. Neste sentido, o Islã, que chegou na região por meio do expansionismo árabe, é
um forte exemplo destas influências na região. Porém o último grupo a deixar sua marca na
região foram os russos.
Durante os dois séculos em que os russos estiveram sob o domínio dos mongóis
(1240-1480), os exércitos inimigos eram compostos por grandes contingentes turcos centro-
asiáticos, os quais já haviam sido convertidos ao islã. Foi então que, a partir deste
momento, os russos passaram a associar o islã e o domínio turco-mongol com o sofrimento
de seu povo. Como conseqüência desta experiência, os russos passaram a perseguir a idéia
de que eles teriam de proteger a Europa das hordas bárbaras. Mais tarde, além de fatores
estritamente econômicos, este elemento messiânico teve uma grande influência no
expansionismo russo na Ásia Central (DICKENS, 1989).
1
Mestrando em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Bolsista-
CAPES. robsonvaldez@hotmail.com
Os russos iniciaram seu expansionismo rumo ao Cazaquistão no século XVIII e
em meados do século XIX a região já era parte do império russo. Quanto aos outros
territórios da Ásia Central, estes permaneceram intactos até a derrota russa na Guerra da
Criméia (1853-1856), quando, depois deste fato, o império russo direcionou suas forças ao
sul da Ásia Central. Depois da Revolução Bolchevique em 1917, o estado soviético
atravessou um período de guerra civil que durou três anos. Neste cenário surgiram
guerrilhas mulçumanas que lutaram contra as forças soviéticas durante toda década de 1920
até serem derrotadas pelos soviéticos nos anos trinta do século passado. Como forma de
dominar a região, os soviéticos prometeram a liberdade de autodeterminação aos povos da
Ásia Central. Assim os líderes mulçumano-comunistas viam a possibilidade de espalhar
ambos o comunismo e o Islã na região como forma de reforçar suas próprias nacionalidades
(DICKENS, 1989).
No entanto, os russos viam estes desdobramentos como uma ameaça à unidade
territorial soviética. Levando este tipo de ameaça em consideração, os russos trataram de
sufocar estes movimentos e prender seus líderes que buscavam consolidar as
nacionalidades centro-asiáticas, as quais se tornaram um assunto de altíssima relevância
para o estado soviético. Em decorrência deste processo deu-se a criação das Repúblicas
Soviéticas do Turcomenistão (1924), Uzbequistão (1924), Tajiquistão (1929), Cazaquistão
(1936) e Quirguistão (1936) (SIEVERS, 2003, p. 5). Desta forma, no período soviético, o
Estado buscava construir uma única nacionalidade que se identificasse com o comunismo e
com os soviets. Esta busca pela nacionalidade única representou a russificação de todo o
território soviético por meio de uma política de Estado, criando a idéia de uma missão
civilizatória na região. Observando sob esta perspectiva, percebe-se com clareza o papel da
literatura, da língua e da cultura russa nos estados da Ásia Central, como forma de manter e
expandir os interesses e influência russos na região.
Partindo-se desta leitura histórica, não é difícil constatar a dificuldade que estes
países encontram em se relacionar com o mundo sob a observância atenta dos russos.
Apesar de toda a complexidade étnica, religiosa e cultural que compõe o pano de fundo
deste cenário, a Ásia Central ganhou notoriedade mundial com o desmoronamento do bloco
soviético em 1991, do qual era parte estratégica. Assim que os estados da Ásia Central
tornaram-se independentes, eles procuraram novos parceiros internacionais como forma de
escapar da hegemonia e influência russa nas áreas política, econômica e militar
(ANDERSON, 1997, p.188). A oportunidade de conduzir as relações econômicas e
políticas destes países com independência em relação à Moscou deu a cada uma destas
nações a possibilidade de barganhar uma posição de destaque no tabuleiro de poder
regional junto á Rússia e aos demais países da região como a China, bem como países da
Europa e os Estados Unidos. Em relação aos Estados Unidos, a região ganhou relevância
devido à política internacional norte-americana de combate ao terrorismo, implementada
após os ataques de 11 de setembro de 2001 e a conseqüente presença norte-americana no
Afeganistão e no Iraque.
A importância estratégica destes novos países da região se deve também, por
exemplo, à presença de armas nucleares da antiga União Soviética na região,
principalmente no Cazaquistão, e pelas grandes reservas de petróleo e gás no Cazaquistão e
no Turcomenistão respectivamente. A presença de armas nucleares na região dificulta a
articulação autônoma destes países, devido ao interesse russo em manter os laços de
dependência e cooperação tanto na área militar quanto econômica. O temor de uma
proliferação nuclear na região chama a atenção dos Estados Unidos que temem o uso deste
arsenal por parte de grupos terroristas islâmicos que se concentram na região, como é o
caso do Movimento Islâmico do Uzbequistão, que atua principalmente na região do
Fergana Valley. No Quirguistão, a presença de bases militares norte-americanas causa
desconfiança em Moscou, levando o governo interino daquele país a manter uma
eqüidistância pragmática entre as duas potencias.
Além dos Estados Unidos e Rússia, A China e o Irã desenvolvem cooperação na
área de produção e exploração de gás e petróleo. Exemplo deste interesse foi a inauguração
em janeiro de 2010 do gasoduto Dauletabad-Sarakhs-Khangiran, conectando o norte do
Irã, região do mar Cáspio, com os vastos campos de gás do Turcomenistão. Da mesma
forma, a inauguração do gasoduto Turcomenistão-China também em janeiro de 2010 ilustra
a importância geoestratégica da região no cálculo geopolítico das potências mundiais. Neste
caso, acredita-se que a Rússia estaria mais preocupada com a manutenção da dependência
européia em relação ao seu fornecimento de petróleo e gás, do que necessariamente com a
presença de Irã e China na região, haja vista o envolvimento destes três países em projetos
de cooperação energética (BHADRAKUMAR, M. K, 2010).
Constata-se, assim, que os acontecimentos da Ásia Central apontam para um re-
ordenamento dos atores na região. Após um longo período de domínio russo, os países da
Ásia Central, apesar de nominalmente independentes, encontram-se fortemente vinculados
aos interesses russos. Enquanto os Estados Unidos, Europa, Irã e China buscam usufruir
dos espaços deixados pela política externa da Rússia na região, a região centro-asiática do
planeta vê esta movimentação das potencias como forma de exercitar sua pseudo-
independência e soberania.

Referência Bibliográfica

ANDERSON. John (1997). The International Politics of Central Asia. London: Manchester
University Press, 225p.

Bhadrakumar, M. K. (2010). Russia, China, Iran redraw energy map. Ásia Times.
Disponível em: [http://www.atimes.com/atimes/Central_Asia/LA08Ag01.html]. Acessso
em: 03/05/2010.

DICKENS, Mark. The Impact of Russo-Soviet Culture in Central Ásia. Disponível em:
[http://www.oxuscom.com/Russo-Soviet_Culture_in_CA.pdf]. Acesso em 27/04/2010.

SIEVERS. E.W (2003). The post-Soviet Central Asia: sustainable development and
comprehensive capital. London: RoutledgeCourzon, 248p.

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