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O drama da Ucrânia e o uso de sanções econômicas como arma de guerra

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.


Artigo sobre o impacto da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia sobre as
relações internacionais, publicado em três partes no portal da revista Interesse
Nacional: 1ª parte, 27/02/2024 (link: https://interessenacional.com.br/edicoes-
posts/paulo-roberto-de-almeida-o-drama-da-ucrania-e-o-uso-de-sancoes-economicas-
como-arma-de-guerra-parte-1/); 2ª parte, 5/03/2024 (link:
https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/paulo-roberto-de-almeida-o-drama-da-
ucrania-parte-2-a-arma-economica-como-arma-de-guerra/); 3ª parte, 12/03/2024 (link:
https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/paulo-roberto-de-almeida-o-drama-da-
ucrania-parte-3-a-agressao-da-russia-e-a-postura-do-brasil/)

O que se passa no mundo, e no Brasil?


Poucas pessoas bem-informadas sobre o estado do mundo atual recusariam a
constatação de que a guerra de agressão deslanchada por Putin contra a Ucrânia em fevereiro
de 2022, e continuada desde então, constitui a ameaça mais relevante para a segurança e a
paz na Europa e no mundo desde que Hitler empreendeu a conquista da Polônia em setembro
de 1939, dando início ao mais devastador conflito global da contemporaneidade. A invasão,
ilegal nos termos da Carta da ONU e sob todos os pontos de vista, tornou o mundo menos
seguro e mais propenso a um conflito ainda mais devastador (Livres, 2023).
Eu escrevi Putin, e não Rússia, e Hitler, em lugar de Alemanha nazista, pois que
ambos os ataques criminosos e ilegais, entre muitos outros atos criminosos que precederam
tais ataques devastadores, são devidos exclusivamente à vontade pessoal de duas
personalidades autoritárias, a rigor animadas por instintos tirânicos, e não aos desejos do
povo alemão, em 1939, ou aos do povo russo em 2022.
Similarmente, poucas pessoas informadas sobre o estado do Brasil atual recusariam o
fato de que estamos, agora, bem melhores, em termos de civilidade, de política “normal”, de
comportamentos minimamente previsíveis dos agentes públicos, do que estávamos nos quatro
anos anteriores. Por outro lado, não há como deixar de reconhecer que a guerra de agressão
da Rússia à Ucrânia afetou não só interesses econômicos e materiais do Brasil como um todo
— inflação, comércio exterior, tensões internacionais —, mas também a própria política
externa e a diplomacia brasileiras, a partir de 2023.
Cabe, portanto, abordar essas duas questões — o estado incerto, na Europa e do
mundo, na atual conjuntura, e os desafios daí decorrentes para o Brasil como um todo, em
especial para as suas relações exteriores — numa abordagem de natureza conceitual, tanto
quanto de ordem prática, dadas as múltiplas facetas do mundo pós-invasão da Ucrânia e do
Brasil pós-terremoto bolsonarista. Não há como recusar o fato notório de que o mundo se

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ressente de diversos elementos disruptivos desde a guerra de agressão à Ucrânia, assim como
o Brasil ainda suporta o impacto das ameaças bolsonaristas ao sistema democrático brasileiro
feitas durante os quatro anos do mandato imediatamente precedente ao atual.
Na raiz de ambas as questões, o estado do mundo e o do Brasil, existem processos
objetivos — as relações econômicas e políticas entre os respectivos atores globais e regionais
— tanto quanto elementos subjetivos, derivados das personalidades envolvidas nos contextos
respectivos. A complexidade dessas interações requer uma abordagem metódica e linear de
cada um dos problemas, pois que o estado atual do mundo e do Brasil decorre de escolhas
feitas no passado, no plano mais geral das políticas nacionais, assim como de decisões
tomadas segundo o arbítrio dos personagens mais diretamente envolvidos nas questões.

A história não se repete, mas ela pode trazer de volta fantasmas do passado
Em artigos redigidos em meados do século XIX, Karl Marx expressava sentimentos
não muito distante daqueles manifestados por seus adversários burgueses ou aristocratas da
Europa ocidental quanto à ameaça expansionista representada pela Rússia autocrática, tanto
em direção do Ocidente, quanto no sentido contrário, em direção das estepes asiáticas e das
terras do Celeste Império. Vladivostok, por exemplo, era uma pequena cidade portuária
chinesa, antes de ser incorporada ao território czarista e receber outro nome; Harbin, a atual
capital da província chinesa da Manchúria, foi construída por engenheiros militares russos,
no final do século XIX, no caminho da expansão da ferrovia Transiberiana até o Pacífico. No
final do século, Rússia e Japão disputavam terras do Império do Meio, nas costas do mesmo
oceano, próximos à península da Coreia, que acabou sendo incorporada ao império nipônico
em expansão, assim como ocorreu com a desolada ilha de Taiwan, conhecida como Formosa.
Vladimir Putin refletia um registro histórico exatamente inverso, ao dar início à sua
“operação militar especial” de 24 de fevereiro de 2022, de invasão total da Ucrânia, inclusive
a partir da vizinha Belarus, sob a alegação de que a Rússia tinha sido invadida duas vezes: em
1812 pelos exércitos de Napoleão, e em 1941, pela Wehrmacht, confirmando uma antiga
intenção de Hitler, já implícita no Mein Kampf, um manual expansionista da raça germânica
que ele escreveu na prisão, depois do putsch fracassado de 1923. Propositalmente, Putin nada
disse do pacto germano-soviético de 26 de agosto de 1939, que abriu o caminho a Hitler, uma
semana depois, para iniciar a conquista da Polônia, seguido no lado oriental por Stalin,
temporariamente coligado, de forma oportunista, aos odiados nazifascistas dos anos 1930.
Putin tampouco mencionou a anexação ilegal da península da Crimeia, em 2014, território

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conquistado ao Império Otomano desde os tempos da imperatriz Catarina, mas cedido, em
1954, pelo ucraniano Kruschev à então república federada soviética da Ucrânia.
Ao alegar que a Rússia é que sempre foi o objeto de invasões estrangeiras, e que,
portanto tinha “preocupações legítimas de segurança” – a expressão foi repetida diversas
vezes pelo assessor para assuntos internacionais do presidente Lula, seu ex-chanceler nos
dois primeiros mandatos, Celso Amorim –, Putin esqueceu de mencionar todas as vezes que a
Rússia avançou sobre territórios de outros povos: sobre os territórios na Ásia central e do Sul,
incorporados ao vastíssimo império russo e soviético (atualmente Estados independentes, mas
mantendo diversos graus de “aderência”, voluntária ou não, à atual Federação russa); o
mesmo ocorreu com porções fronteiriças da Finlândia (outrora parte do Império czarista) e,
sobretudo, largas frações da Polônia oriental, conquistada ao início da Segunda Guerra e não
devolvida em Ialta, sendo que os poloneses tiveram de ser compensados, a oeste, com outras
largas frações do território da Prússia oriental; tal subtração de terras polonesas, seguida de
sua extensão a oeste, causou uma enorme massa de refugiados alemães, em 1945, em geral
preferindo se estabelecer na parte ocupada pelas potências ocidentais, do que na parte de
ocupação soviética, e que veio a constituir, entre 1947 e 1991, a República Democrática
Alemã, reunificada à República Federal nessa última data.
Cabe não esquecer que, tanto a Rússia quanto a União Soviética, tentaram em
diversas ocasiões alcançar as águas quentes do Índico, cavando espaços na antiga Pérsia, e no
Irã contemporâneo, o que ainda foi objeto de discussões nas conferências do final da guerra.
No mesmo sentido, figuram os avanços em direção ao Mediterrâneo, via Mar Negro, sobre
territórios e países balcânicos (Bulgária, Romênia, a própria Iugoslávia, nesta contidos por
Tito, um comunista que conhecia Stalin muito bem), incluindo a Bessarábia-Moldova e a
Geórgia. Por fim, são notórios os esforços para controlar o glacis das planícies centrais e
orientais da Europa, o colchão de segurança que a Rússia sempre reivindicou para si, com a
intenção de, justamente, se resguardar de ataques das potências continentais europeias, os
impérios austríaco e alemão, assim como a França sob Napoleão.
Putin tampouco mencionou que as duas grandes tentativas ocidentais de invasão, em
1812 e em 1941 (apenas estas, ao que parece) foram vencidas antes de mais nada pelas
grandes distâncias, pela vastidão das terras (impiedosamente arrasadas, para não deixar nada
para as forças invasoras), pelo “general inverno”, mas também pelo extensivo e intensivo uso
de material humano, carne de canhão e alvo das metralhadoras inimigas ou das próprias
pistolas dos comissários do partido, postados em cada pelotão da frente (de certa forma, ainda
continua, com amplo recurso a delinquentes condenados ou conscritos das minorias russas).

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Mas cabe diferenciar uma da outra: Napoleão tinha um projeto de hegemonia continental, e a
Rússia parecia se interpor nesse caminho. Hitler também tinha o seu, inclusive mundial, mas
Stalin foi velhaco o suficiente para aproveitar-se dessa janela de “oportunidade” – imaginem,
aliar-se a quem prometia, desde 1925, destruir o regime bolchevique? – para abocanhar um
pedaço da Polónia, eternamente dividida entre vizinhos poderosos: o tirano russo foi traído
pelo tirano “aliado” e, por um momento, perdeu o pé na resposta, pois que demorou quase
uma semana para providenciar a defesa. Venceu, mas como previsto no figurino: vastas
extensões, linhas muito dilatadas, verticalmente e horizontalmente, “general inverno” e,
previsivelmente, enorme uso de “recursos humanos”, na mira das pistolas dos comissários;
uma outra diferença: se Stalin não tivesse sido imediatamente ajudado por britânicos e
americanos, ele e seu regime teriam sido vencidos, talvez aniquilados, por Hitler.
Putin não mirou a história como deveria, e em lugar de preparar sua defesa contra os
supostos inimigos da Otan (novos Napoleões, um novo Hitler?), partiu para um ataque
alegadamente preventivo, mais movido por sua obsessão do que por um cálculo racional.
Mas, ao tentar fazer como seus antecessores do czarismo ou do bolchevismo, Putin provocou
o efeito contrário ao pretendido: precipitou uma corrida dos vizinhos e dos países do entorno
à coalizão militar supostamente inimiga, dos bálticos à Albânia, assim como a decisão de
dois deles de sair da neutralidade para ingressar na Otan, como foi o caso da Finlândia e da
Suécia. Assim como a UE, a Otan é hoje uma das organizações mais cobiçadas, o que é
verdadeiramente estranho para um estrategista que não parece ter lido Sun Tzu.
A própria Ucrânia – em princípio não cogitada para uma demanda de adesão ao Pacto
do Atlântico, pois que se sentia um país irmão da Rússia, como a Belarus – sofreu, como o
povo finlandês, uma forte atração pelas entidades ocidentais – UE e Otan – depois que duas
revoluções em dez anos, a laranja, dos anos 2003-2004, e a do EuroMaidan, de 2013-2014,
forjaram uma identidade nacional bem mais próxima do seu lado ocidental do que aquela,
ortodoxa, que prevalecia em suas províncias orientais (Yekelchiyk, 2020, p. 45-50). Em
outros termos, Putin se parece muito com aquele aprendiz de feiticeiro que movimenta forças
que ele não mais consegue controlar, com a desvantagem de que nem a ONU, nem a China
têm condições de ajudá-lo a sair do imbroglio. Sua “operação militar especial” parece ter sido
especialmente desenhada para esgotar os recursos disponíveis ao neoczar, resultando, apenas,
num provavelmente afundamento da Rússia, talvez bem mais profundo do que a saída do
socialismo nos anos 1990; a China, aliada, minimiza o impacto, mas não o evitará.
Putin também tentou justificar a invasão, alegando que a Ucrânia independente nunca
existiu, sendo apenas um apêndice da grande etnia e cultura russas, uma afirmação totalmente

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contestada por historiadores ucranianos e estrangeiros, que revelam que a própria formação
da Rússia moderna começou na Ucrânia, não nos Urais. O professor Timothy Snyder,
historiador da universidade de Yale, autor de diversos livros sobre as guerras e a os
deslocamentos geopolíticos na Europa central e oriental, ofereceu um amplo curso sobre a
formação da Ucrânia moderna, em 23 episódios acessíveis no YouTube (2022).
Ou seja, ao recorrer à história para denegar a existência da Ucrânia independente,
Putin trouxe aos olhos do mundo o fato amplamente aceito pelos historiadores, inclusive
russos, de que as origens da Moscovia se situam bem mais nas planícies do Dnipro e na
precoce cristianização grega desses territórios do que numa suposta nação eslava que se
afirmou contra mongóis, suecos ou otomanos. O próprio Stalin reconhecia a especificidade
da cultura e do nacionalismo ucranianos, pois que, tendo preparado (a pedido de Lênin) seu
único trabalho de corte acadêmico, justamente sobre a questão das nacionalidades, tentou
depois abafá-la no horrível genocídio do Holodomor, a morte pela fome, no quadro da grande
repressão aos kulaks (camponeses independentes) e da coletivização agrária, mortandade
primeiro revelada pelo jornalista britânico Gareth Jones (2022), mais recentemente pela
historiadora do Gulag Anne Applebaum, em Fome Vermelha (2019).
Definitivamente, a História não está ao lado de Putin, inclusive porque ele mesmo
confirmou que tinha sido o próprio Lênin, com base no trabalho do Stalin, que havia decidido
conceder autonomia às nacionalidades, tornando-as repúblicas federadas vinculadas à União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o que Putin considera que foi um erro monumental do
criador do Estado soviético. De fato, entre 1918 e 1921, a Ucrânia tentou afirmar-se como
país independente, numa cruenta guerra civil, que acabou sendo vencida pelo Exército
Vermelho de Trotsky. A aula 13, do curso do professor Timothy Snyder, explica em detalhe
como foi a tentativa fracassada de fundar um Estado independente nesse período (2022). A
formação da nacionalidade ucraniana demoraria mais algumas décadas para se consolidar,
mas o fato é que a cultura ucraniana é bem anterior à da Rússia, mas é a língua russa que
serviria a muitos famosos escritores “russos”, de fato nascidos na Ucrânia, para criar algumas
das obras mais distinguidas da literatura “russa” (Batuman, 2023). Assim como ocorreu na
Grande Guerra (1914-1918), quando três grandes impérios se confrontaram e finalmente
desapareceram no território da Ucrânia ou perto dele, foi entre a Ucrânia e a Polônia que o
império soviético destruiu o império hitlerista no teatro europeu da Segunda Guerra.

A Ucrânia dividida entre os grandes impérios, do século XIX e do XX

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A Grande Guerra, ou Primeira Guerra Mundial, começou nos Balcãs, ou mais
exatamente na Sérvia, com o ultimatum do Império Austro-Húngaro à monarquia sérvia, por
causa do assassinato do príncipe herdeiro Franz Ferdinand. A Segunda Guerra Mundial, em
primeiro apenas europeia, numa primeira fase, começou com a invasão da Polônia pelas
forças da Wehrmacht, que também fizeram uma “operação militar especial” contra um
vizinho menos poderoso em setembro de 1939. A nova guerra não se torna verdadeiramente
europeia até que Hitler dirigisse suas forças contra os adversários ocidentais, em maio de
1940, mas ela só se torna verdadeiramente mundial depois do ataque hitlerista contra seu
aliado soviético, em junho de 1941, e depois do bombardeio japonês contra Pearl Harbor, em
dezembro do mesmo ano, com a imediata declaração de guerra da Alemanha hitlerista contra
os Estados Unidos, quando, finalmente a guerra se torna global (na verdade, na Ásia já tinha
começado desde 1937). Uma guerra é consequência da outra, como já tinha profetizado
Keynes, no seu panfleto de 1919, As Consequências Econômicas da Paz.
Poderíamos ter agora uma Terceira Guerra Mundial, começando ali bem perto da
Polônia, uma nação, um povo e uma cultura que, como a Ucrânia, foi dividida durante
séculos pelos impérios vizinhos mais poderosos? Os Habsburgos, os Hohenzollerns e os
Romanovs precipitaram a conflagração que, ao início da primeira metade do século XX,
liquidou com seus respectivos impérios em 1917-18. Os fascismos alemão, italiano e japonês
precipitaram um conflito que liquidou, no meio do século, suas pretensões hegemônicas,
apenas para serem submetidos a uma nova hegemonia bipolar, durante a longa Guerra Fria
que se estendeu durante quase toda a segunda metade do século passado. De certa forma, o
mundo bipolar começou a se desfazer na Polônia, com a eleição do Papa João Paulo II e o
movimento Solidarnosc, que contestou o poder comunista, sem ser esmagado pelos tanques
soviéticos, como foram os húngaros em 1956 e os tchecos em 1968.
Mas a Ucrânia permaneceu firmemente sob o domínio soviético, até ser tornada
independente, não exatamente por decisões erradas de Gorbatchev, mas mais precisamente
pela tentativa desastrada de um “golpe comunista” contra ele, em meados de 1991. Não foi
exatamente na queda do muro de Berlim, em novembro de 1989, que o império soviético veio
abaixo, pois que ele apenas começou a “liberação” dos Estados que tinham se reforçado ou se
tornado independentes ao final das negociações de paz de Paris, em 1919 – os bálticos, a
Polônia, a Tchecoslováquia, a Hungria, Romênia e Bulgária –, mas que tiveram trajetórias
diversas no entre guerras, ao serem confrontados com o expansionismo hitlerista na Europa
central (e mussolinista nos Balcãs, contra a Albânia, depois substituído pelos nazista em toda
a região balcânica e na península grega). A independência da Ucrânia (e também da

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Bielorrússia, depois Belarus, e das satrapias da Ásia central), ocorreu apenas com a implosão
da União Soviética, vale dizer com o desfazimento de sua parte central, a federação russa, em
1991. Os anos 1980 foram verdadeiramente os anos que abalaram o mundo, como disse John
Reed sobre os dez dias de 1917 que dividiram o mundo a partir da instalação do novo poder
soviético. Os seis meses antes da queda de Gorbatchev e da implosão da URSS abalaram
novamente o mundo, mas num sentido pacífico, quase que saudando a chegada de uma “nova
ordem mundial”, como proclamou George Bush (pai) em 1992. Putin chegou dez anos depois
para dar um novo sentido a essa “nova ordem mundial”.
Todos os demais países se consolidaram no pós-social ismo, porque possuíam fortes
identidades nacionais, culturas e línguas próprias, certa unidade religiosa, com as exceções da
Tchecoslováquia e da Iugoslávia (que estava fadada à desagregação desde a morte de Tito).
Todos eles reivindicaram ingresso na União Europeia e na Otan, pois conheciam a miséria do
socialismo e o abraço do urso russo. No caso da Ucrânia, isso não foi possível, em grande
medida por falta de identidade nacional: uma Ucrânia ocidental, dos Habsburgos e poloneses,
mas de Igreja Ortodoxa grega, e uma Ucrânia oriental, etnicamente misturada aos russos,
afiliada à Igreja Ortodoxa Russa, onde mesmo os ucranianos falavam majoritariamente russo
(como, aliás, o próprio Volodymyr Zelensky, judeu, que falou primeiro russo na infância).
Os ucranianos estavam tão vinculados aos russos que nunca, antes da revolução
laranja (quando Putin começava o seu reinado), consideraram seriamente a opção europeia e
a inclusão no esquema securitário atlantista. Esse apelo ocidental se tornou mais claro na
revolução Maidan, mas, quando ela ocorreu, Putin já estava preparado: ele imediatamente se
apossou da ex-península otomana da Crimeia, mas russa desde o século XVIII, inclusive
mesmo depois que a Rússia czarista foi derrotada pelas forças britânicas e francesas na
primeira guerra da Crimeia (1853-55). Derrotada, mas reteve a península para si. O gesto
inocente de Kruschev em 1954 foi “corrigido” em 2014 pelo novo czar de todas as Rússias.

The Human Factor, como diria Graham Greene


Graham Greene, que antes de se tornar um bem-sucedido escritor de novelas
trabalhou durante algum tempo para o MI6 britânico, é o autor de um romance sobre o fator
humano nos serviços de inteligência, no qual o amor de um agente por uma mulher acaba
afetando o seu trabalho e o leva a trair o seu país. Putin não tem nada a ver com essa história,
mas o mesmo fator humano que desviou um funcionário do Estado de suas obrigações
ordinárias está em ação no caso de Putin, de uma maneira que apenas poderia existir nos
tempos de Stalin: o tirano solitário que não podia confiar nem em seus melhores assessores, e

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que só podia sobreviver pela eliminação regular e recorrente dos próprios agentes do sistema
por ele criado e administrado em total isolamento de fatores externos.
Putin sentiu-se bastante confortável pela “flacidez” das sanções ocidentais ao invadir
e anexar ilegalmente a Crimeia em 2014. Com a exceção dos suspeitos habituais – os ricos do
Ocidente, um pequeno punhado de democracias avançadas –, ninguém efetivamente moveu-
se em ajuda da Ucrânia. A presidente Dilma Rousseff, que não moveu o Itamaraty para
qualquer comentário oficial, chegou a dizer que não se pronunciaria sobre um “assunto
interno” da Ucrânia. As sanções – “unilaterais”, como figura no diplomatês habitual – não
chegaram sequer a interromper o fornecimento de energia da Rússia à Europa, o que motivou
Putin a continuar suas manobras clandestinas no Donbas, praticamente sequestrado de fato,
mas ainda não de “direito”, como ele faria em 2021, ao reconhecer duas novas “repúblicas
independentes”, naquela região, como já tinha feito com o seu plebiscito forjado na Crimeia.
O que mudou no cenário das “disputas interimperiais” – como gostam de escrever os
que apreciam o antigo vocabulário leninista –, não foi tanto a emergência de novos grandes
atores, como a China, por exemplo, e de modo decisivo, sob Xi Jinping, ou o reforço da
“eurocracia”, quanto o próprio enfraquecimento da Rússia, ao deixar de ser uma máquina a
serviço de uma ideia, para passar a ser uma geringonça enferrujada a serviço de um homem.
Pode ser o fator humano agindo neste caso, não no sentido de Graham Greene, mas um fator
humano de toda forma, ou seja, as paixões e interesses atuando no plano pessoal superando o
comportamento da burocracia de um grande Estado.
A “jovem” União Soviética, sob Lênin, era uma máquina de terror a serviço de uma
ideia: a revolução mundial. Esta falhou, mesmo com a Internacional Comunista, o
Komintern, assim como falhou a rápida socialização do novo Estado, tanto que obrigou Lênin
a voltar parcialmente para uma economia de mercado, com a NEP. Sob Stalin, a ideia era
outra: socialismo num só país, já que a revolução mundial, como queria Trotsky, fracassou,
não só na Alemanha, também na Áustria e na América Latina, como na própria China; Stalin
teve de se concentrar no seu projeto de industrialização a todo custo, daí o projeto de
coletivização da agricultura no primeiro plano quinquenal (1928-1932) e a escravização de
todo um povo para acelerar o processo de industrialização; o Holodomor ucraniano, nessa
perspectiva, foi apenas um detalhe, ou uma iniciativa deliberada e buscada, de submissão dos
kulaks à nova forma de “agricultura produtiva”, grandes unidades funcionando como fábrica.
A comunização da China sob Mao foi diferente, mas a coletivização da agricultura, no
Grande Salto para a Frente, decidida por Mao no final dos anos 1950, não teria existido sem o
modelo soviético, que ainda valia para os camaradas chineses àquela altura. Foi um desastre

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total, mas não foi deliberado como no caso de Stalin: a Grande Fome de Mao, que pode ter
eliminado dez vezes mais os “meros” 3 milhões de ucranianos (Dikotter, 2017). foi também o
resultado do “fator humano”, a ação de um homem só, que decide ir até o fim. À diferença da
grande burocracia americana, da eurocracia comunitária, e do mandarinato partidário da
China atual, a máquina estatal russa não tem mais os anteparos burocráticos que foram
criados depois da morte de Stalin. Este simplesmente mandava eliminar não só seus inimigos,
supostos ou reais, mas também eventuais companheiros do próprio partido, a começar pelos
velhos bolcheviques ou generais soviéticos que pudessem ser tentados a tomar o poder no
grande Terror dos anos 1930. Depois de Stalin, com exceção da eliminação por Kruschev do
grande espião Beria – o único que Stalin não eliminou, pois que o georgiano comandava a
sua própria máquina de espionagem –, a burocracia soviética entrou num ritmo tranquilo de
autopreservação: o próprio Kruschev foi aposentado, mas não eliminado fisicamente, e os
demais conservaram o poder na gerontocracia senil em que se transformou o PCUS, e podiam
ficar enquanto tinham condições de conduzir a máquina.
O “fator humano” é, e foi, o responsável por alguns dos grandes desastres da história
recente, não apenas na política doméstica de alguns países, de certas grandes potências, mas
também no plano das relações internacionais, sobretudo nas decisões sobre paz e segurança
no mundo. Foi Stalin quem decidiu, não o PCUS, o assassinato de Kirov e, depois, o começo
da repressão impiedosa que atingiu os velhos bolcheviques, os descontentes em geral, e até a
cúpula das Forças Armadas soviéticas, o que a deixou singularmente despreparada para
enfrentar os desafios à frente. Foi Hitler quem decidiu, não o partido nazista, anexar a sua
Áustria natal e, logo depois, partes da Tchecoslováquia com população germânica. Foi a
pusilanimidade de líderes ocidentais, portanto, o fator humano, que determinou a vergonhosa
renúncia registrada em Munique, em 1938, de ceder às pretensões de Hitler para, ao que se
alegou, evitar a guerra. Como disse logo em seguida Churchill, o acordo com o Hitler foi um
total desastre, dado que o chanceler britânico tinha a opção entre a guerra, naquele momento,
e a desonra: “Você escolheu a desonra, e terá a guerra”. Foi o fator humano, mais uma vez,
que impeliu Hitler a jogar no lixo seu acordo de não agressão com Stalin e decretar a invasão
de junho de 1941, dando início aí ao começo do declínio e derrota de seu regime.
À diferença da máquina colegiada do sovietismo fossilizado – mas foi na época de
Brejnev que a URSS atingiu o auge de seu poderio externo, sobretudo bélico –, a direção
solitária de Putin talvez seja o fator de enrijecimento e descoordenação da atual máquina
neoczarista: não existe mais um Diretório, um Politburo do partido para aposentar um
dirigente – como fizeram com Kruschev –ou selecionar um novo, como fizeram com

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Gorbatchev, para surpresa geral dos gerontocratas, que tentaram destituí-lo quando a máquina
emperrou de vez, sob os golpes da glasnost e da perestroika (mas aí já era tarde demais).
Putin pode estar caminhando para alguma falha do motor, mas, como Stalin, não permite que
qualquer comando colegiado corrija suas decisões solitárias. A despeito de suas imensas
reservas em materiais primários, o “fator humano”, no caso da Rússia de Putin, pode estar
levando o seu império a se sustentar unicamente na força dos mísseis, sem nada de muito
significativo no contexto da nova economia do conhecimento, como estão fazendo os antigos
camaradas chineses.
Na China, quem decide os assuntos do Estado chinês é o partido, e suas decisões são
levadas depois ao governo, o que é uma forma institucionalizada do processo decisório, assim
como existem, nos EUA, os lobbies congressuais e outros que influem no processo decisório
do establishment governamental em política externa, e na Europa, a eurocracia supranacional
de Bruxelas, assim como os governos, através do Conselho, de natureza intergovernamental,
os fatores principais nas grandes decisões internas e externas da UE, com uma crescente
participação do parlamento europeu, eleito diretamente pelos eleitores comunitários. Na
Rússia atual, não existe uma decisão de partido, qualquer que seja ele, a decidir a tomada da
Crimeia ou a montagem da “operação militar especial” que invadiu o resto da Ucrânia; foi o
fator humano, na verdade individual, que assim decidiu: o próprio Putin
Uma das questões mais analisadas, no contexto dos tipos ideais de dominação
política, no seguimento da obra de Max Weber, é a da sucessão do carisma, um problema
quase insolúvel naquelas situações de lideranças carismáticas mais longevas e poderosas. As
decisões monocráticas, geralmente em ditaduras, costumam derivar de uma liderança
carismática bem afirmada, mas, como é evidente, o carisma não dura para sempre. O
fenômeno foi analisado por diferentes historiadores europeus em relação aos soberanos
medievais, mas é evidente que ele passou a ter mais amplo apelo a partir da tipologia de
Weber, passando a ser aplicado, por vezes exageradamente, a processos do século XX.
O diplomata e cientista político José Guilherme Merquior, ao analisar em sua tese de
doutoramento na London School of Economics, a obra de Rousseau e de Weber (1980),
cunhou um novo conceito, o de “carisma burocrático”, como para sinalizar que o fenômeno,
no sistema soviético, tinha deixado de ser personalista para ser encarnado na organização do
partido leninista. Esse fator humano pode, doravante, deixar de funcionar no quadro do
“carisma burocrático” do PCC, criado depois da liderança demencial de Mao Tse-tung por
Deng Xiaoping e mantido nas décadas seguintes, a partir do terceiro mandato concedido a Xi
Jinping, que parece estar impulsionando novamente o carisma personalista, eventualmente

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responsável por um futuro ataque a Taiwan (mas ainda assim minuciosamente planejado pelo
partido e pelas Forças Armadas). No caso de Putin, esse “carisma” já deixou de funcionar há
muito, como amplamente demonstrado na pequena biografia de Karen Dawisha (2015), sobre
a verdadeira natureza do atual regime neoczarista (que tem alguns traços de stalinismo).

A arma econômica como arma de guerra: as sanções nas frentes de combate


A Alemanha esteve no centro de sangrentos conflitos no coração da Europa, desde a
guerra franco-prussiana de 1870 até a “segunda Guerra de Trinta Anos”, entre 1914 e 1945,
que retirou a Europa do centro do mundo – que ela comandou praticamente desde a era dos
descobrimentos, e mais exatamente desde a primeira revolução industrial – e que criou uma
nova geopolítica mundial, uma bipolaridade entre os Estados Unidos e a Rússia, antecipada
no século XIX por ninguém menos do que Tocqueville (Almeida, 2009). A Rússia, bem antes
dos EUA, já intervinha nos assuntos asiáticos, nas franjas do Império Otomano ao sul, nos
Balcãs e também no coração da Europa, do Elba até o Danúbio e nas partes geladas do Norte.
A potência americana só aparece, de fato, bem depois da guerra civil, com a industrialização
maciça ao norte e a rápida mecanização da agricultura nas planícies centrais. Seu début nos
assuntos mundiais se dá na guerra hispano-americana de 1898 – quando Puerto Rico, Cuba e
Filipinas passam ao seu controle –, quando uma nova praça financeira, Nova York, passa a
oferecer capitais que anteriormente partiam majoritariamente da City londrina, e, mais
concretamente, em 1917, quando os boys chegaram aos campos de batalha da França, e foram
determinantes, com os ingleses e os próprios franceses, obviamente, na derrota do Império
alemão, que se estiolou na frente ocidental, sem nunca ter perdido na frente do leste.
Na verdade, o Reich pode ter sido levado ao armistício, em novembro de 1918, não
tanto pela sorte dos soldados nas trincheiras da França, mas bem mais pelo peso das sanções
econômicas que foram decisivas no seu enfraquecimento, dada a falta de combustíveis e
insumos em geral, e sobretudo pela fome do povo alemão, isolado do resto do mundo pelo
cerco das canhoneiras inglesas. O presidente Woodrow Wilson, que fez campanha em 1916
para sua reeleição, prometendo aos americanos que manteria os Estados Unidos fora da
guerra europeia, teve de entrar no conflito devido ao afundamento de barcos comerciais e de
passageiros americanos pela campanha submarina do Império Alemão, e a partir daí passou a
propor formas de se estabelecer um armistício ou a cessação de hostilidades. Uma das
“armas” de que dispunha para essa finalidade era a “arma econômica” das sanções, por ele
descritas, no documento que apoiou seu projeto de paz mediante uma organização dedicada à

11
sua defesa, no contexto das negociações de paz de Paris, em 1919. Um historiador descreveu
a mobilização dessa arma da seguinte forma:
That instrument was sanctions, described in 1919 by U.S. president Woodrow
Wilson as ‘something more tremendous than war’: the threat was ‘an absolute
isolation… that brings a nation to its senses just as suffocation removes from a
individual all inclinations to fight… Apply this economic, peaceful, silent, deadly
remedy and there will be no need for force. It is a terrible remedy. It does not cost a life
outside the nation boycotted, but it brings a pressure upon that nation which, in my
judgment, no modern nation could resist’. (Mulder, 2022; “Introduction: Something
More Tremendous Than War”; Kindle edition)1

De fato, como informa Mulder, o bloqueio dos Impérios centrais e do Império


Otomano na Grande Guerra, pelas forças navais da Grã-Bretanha e da França, levou centenas
de milhares de pessoas à morte por fome e enfermidades. Como explica ainda o mesmo
historiador, “As sanções mudaram a fronteira entre a guerra e a paz, produziram novos meios
de mapear e manipular o tecido da economia mundial, mudaram a concepção do liberalismo
sobre a coerção e alteraram o itinerário do Direito Internacional” (idem). Na verdade, o uso
de sanções econômicas e mesmo o bloqueio naval completo não era novo na história dos
conflitos internacionais. Um dos primeiros exemplos históricos de sanções econômicas está
relatado na história da guerra do Peloponeso, por Tucídides: ele se refere ao banimento de
mercadores da cidade-porto de Megara de comerciar com Atenas, em 432 AC, o que foi um
dos vários exemplos de iniciativas infelizes da cidade-Estado democrática que lhe acarretou
reveses diplomáticos que contribuíram para a vitória final de Esparta naquela longa guerra.
Na era moderna e contemporânea, entre outras oportunidades, sanções econômicas
foram aplicadas, por exemplo, nas guerras napoleônicas. Depois da paz de Amiens, em 1802,
uma pequena trégua nas lutas entre Napoleão e as monarquias europeias, a luta retomou em
diversas frentes, inclusive na esfera naval: para derrotar a Grã-Bretanha, Napoleão tinha de
vencer as forças coligadas anglo-espanholas, o que resultou na grande vitória do Almirante
Nelson, em Trafalgar, nas costas espanholas do Mediterrâneo, em 1805. Mas, Napoleão
conseguiu infligir pesadas derrotas contra a Áustria e a Prússia no continente, em 1806. Com
essas vitórias, Napoleão decretou o bloqueio continental contra a Grã-Bretanha, invadindo,

1
Tradução livre: Esse instrumento eram as sanções, descritas em 1919 pelo presidente americano
Woodrow Wilson como ‘uma coisa mais tremenda do que a guerra’: a ameaça era de um ‘absoluto
isolamento… que leva a nação aos seus sentidos, assim como a sufocação remove de um indivíduo
qualquer disposição a lutar… Aplique esse remédio econômico, pacífico, silencioso, mortal, e não
haverá mais necessidade do uso da força. É um remédio terrível. Não custa nenhuma vida fora da
nação boicotada, mas ele cria uma pressão sobre aquela nação, a que, em meu entendimento,
nenhuma nação moderna pode resistir’.

12
em 1807, os dois reinos ibéricos que ainda não tinham se submetido às suas pretensões,
Espanha e Portugal. A Espanha deu início a uma guerra de guerrilhas contra o ocupante, mas
a corte dos Braganças preferiu desertar o país e fugiu para o Brasil, sob a proteção britânica.
O poderio naval britânico, no entanto, inverteu o sentido do bloqueio, e foi a França que se
viu privada dos mares devido à vigilância da Royal Navy.
As sanções previstas na convenção da Liga da Nações, nos artigos 16 e 17, em caso
de ameaça de guerra ou de guerra efetiva, compreendiam a cessação de todas as relações
comerciais ou financeiras, assim como a proibição de todo e qualquer intercâmbio entre os
nacionais dos Estados membros e os nacionais da parte agressora, assim como com nacionais
de quaisquer outras partes, mesmo não membros da Liga. Elas pareciam efetivamente fortes o
suficiente para impedir ou limitar o recurso à guerra entre os Estados membros, assim como
com outros Estados não membros. A despeito da convenção da Liga, Estados membros e não
membros recorreram à guerra nos anos 1930, começando pela invasão da Manchúria pelo
Império do Japão em 1931, pelo ataque à Abissínia (Etiópia) pela Itália fascista em 1936),
pela intervenção armada na Guerra Civil Espanhola em 1936-39 pela Alemanha hitlerista e
pela mesma Itália fascista, a despeito da neutralidade da maior parte dos demais Estados,
assim como por toda a violência armada e ameaças de uso da força pela Alemanha hitlerista
na anexação da Áustria e de parte do território da Tchecoslováquia, em 1938-39 (esta última
seguida da anexação do resto do território em 1930-40), assim como, a invasão e
esquartejamento da Polônia pela Alemanha nazista e pela União Soviética em 1939, sem
esquecer a guerra da URSS contra a Finlândia em 1940 e a anexação dos Estados livres da
Estônia, Lituânia e Letônia igualmente em 1940. A Liga ainda recomendou e ameaçou
sanções contra os Estados agressores, mas elas foram totalmente inoperantes ou não
implementadas pela maior parte dos Estados membros.
Sanções econômicas, no mundo contemporâneo da ONU, previstas nos artigos 41 e
42 da Carta, foram amplamente utilizadas contra certos Estados membros, muitas vezes de
maneira unilateral – e, portanto, em princípio de forma ilegal –, como por exemplo dos EUA
contra Cuba, contra o Irã e outros países menores, mas também de forma legal, ou pelo
menos sancionadas por alguma resolução do CSNU, como contra a África do Sul dos tempos
do Apartheid, ou contra o Iraque de Saddam Hussein, antes e depois de sua invasão do
Kuwait. Mas, o que diz a Carta das Nações Unidos sobre as sanções? Os dispositivos
principais estão contidos nesses dois artigos, mas sua aplicação depende, obviamente da
aprovação do seu Conselho de Segurança, algo que é extremamente difícil de ser obtido
quando os interesses nacionais de um dos membros permanentes do CSNU estão em jogo. A

13
razão é muito simples, uma vez que as sanções econômicas são ofensivas por sua própria
natureza, impondo restrições aos intercâmbios com a parte agressora, uma espécie de
exercício de força, ainda que feita à distância. Eis o teor dos dois artigos da Carta tratando
diretamente da questão:
Artigo 41
O Conselho de Segurança decidirá sobre as medidas que, sem envolver o emprego de
forças armadas, deverão ser tomadas para tornar efetivas as suas decisões e poderá
instar os membros das Nações Unidas a aplicarem tais medidas. Estas poderão incluir a
interrupção completa ou parcial das relações econômicas, dos meios de comunicação
ferroviários, marítimos, aéreos, postais, telegráficos, radiofônicos, ou de qualquer
espécie, e o rompimento de relações diplomáticas.

Artigo 42
No caso de o Conselho de Segurança considerar que as medidas previstas no Artigo 41
seriam inadequadas ou demonstrarem que são inadequadas, poderá levar a efeito, por
meio de forças aéreas, navais ou terrestres, a ação que julgar necessário para manter ou
restabelecer a paz e a segurança internacionais. Tal ação poderá compreender
demonstrações, bloqueios e outras operações por parte das forças aéreas, navais ou
terrestres dos Membros das Nações Unidas. (Legislação de Direito Internacional,
2008, p. 1097)

Em outros termos, de forma similar, mas não semelhante, à Liga das Nações, a Carta
da ONU prevê medidas muito constrangedoras do ponto de vista econômico, incluindo a
interrupção das relações diplomáticas, a cessação dos intercâmbios econômicos e até o
bloqueio do país agressor, por diversos meios, por forças das Nações Unidas, mas tudo isso
depende de uma decisão do CSNU, o que é virtualmente impossível caso o direito de veto
atribuído a cada um dos seus cinco membros permanentes seja exercido. Mas, registre-se
também, que o artigo 24 da Carta afirma que os membros da ONU “conferem ao Conselho de
Segurança a principal (main) responsabilidade na manutenção da paz e da segurança
internacionais” (idem, p. 1094), ou seja, essa responsabilidade não pode ser exclusiva do
CSNU, pois que, como dito no inciso 5 do artigo 2º.:
Todos os membros darão às Nações toda assistência em qualquer ação a que elas
recorrerem de acordo com a presente Carta e se absterão de dar auxílio a qualquer
Estado contra o qual as Nações Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo.
(idem, p. 1091)

A questão do cumprimento dos princípios e objetivos da Carta da ONU apresenta um


paradoxo impossível de ser solucionado, sem uma reforma da própria Carta, o que também se
afigura uma quadratura do círculo, como implícito ao seu artigo 6º:
O Membro das Nações Unidas que houver violado persistentemente os Princípios
contidos na presente Carta [o que inclui, objetivamente, todas as ações perpetradas pela

14
Rússia em sua guerra de agressão à Ucrânia], poderá ser expulso da Organização pela
Assembleia Geral [mas, e este é um enorme, gigantesco, mas, apenas] mediante
recomendação do Conselho de Segurança. (p. 1091)

A menção, feita acima, a “forças das Nações Unidas”, refere-se à existência, prevista
no artigo 47, de uma Comissão de Estado Maior,
destinada a orientar e assistir o Conselho de Segurança, em todas as questões relativas
às exigências militares do mesmo Conselho, para a manutenção da paz e da segurança
internacionais, utilização e comando das forças colocadas à sua disposição... [e que]
...será responsável... pela direção estratégica de todas as forças armadas postas à
disposição do dito Conselho. (op. cit., p. 1098)

Esse mesmo inciso (3) do artigo 47, termina pateticamente por afirmar que “As
questões relativas ao comando dessas forças serão resolvidas ulteriormente.” Dispensável
dizer que elas nunca foram resolvidas, pois que cada força de intervenção da ONU (de
imposição ou de manutenção da paz) apresentou um histórico peculiar quanto ao comando:
supõe-se, por exemplo, que as forças americanas presentes na Coreia, em 1950-53, ou na
Arábia Saudita e no Kuwait, em 1991, tenham respondido mais aos generais do Pentágono, e
ao próprio presidente americano, do que a qualquer Comissão militar do CSNU.
Antes de qualquer ação de imposição da paz em algum conflito levado a debate na
ONU, é presumível que os membros das Nações Unidos, assim como seu Conselho de
Segurança, tenham aplicado as sanções previstas nos artigos já referidos. Um debate talvez
especioso – sobretudo no caso do Brasil – instalou-se a respeito de serem essas sanções
legítimas ou ilegítimas, no caso sancionadas multilateralmente (e só o são pelo CSNU, que
dita a Lei, mas nem sempre o Direito), ou aplicadas unilateralmente, o que, alegadamente, as
tornariam não passíveis de cumprimento pelos países membros. Cabe, todavia, ressaltar que
as sanções unilaterais impostas por alguns membros da ONU contra a Rússia, desde o início
de sua guerra de agressão contra a Ucrânia, ainda que não autorizadas expressamente pelo
CSNU, situam-se, inteiramente, dentro do espírito e da letra dos artigos da Liga das Nações e
dos da Carta da ONU que tratam da possibilidade de sua aplicação contra violadores de suas
respectivas convenções constitutivas. Diversas sanções foram aplicadas, por exemplo, contra
a África do Sul do Apartheid por vários membros da ONU, unilateralmente, portanto, antes
que várias delas se convertessem em multilaterais, quando a pressão da opinião pública
internacional – vale dizer, dos países ocidentais – obrigou o Conselho a finalmente tomar
uma posição, convertendo-as em obrigatórias para todos (ainda que muitos elidissem o
espírito e a letra das determinações do CSNU).

15
A agressão da Rússia contra a Ucrânia e a postura do Brasil a esse respeito
A primeira acusação feita aos altos responsáveis militares nazistas em Nuremberg, em
1946, foi a de crime contra a paz, o que correspondia exatamente ao crime inicial perpetrado
pelos chefes de guerra nazistas ao decidir invadir a Polônia, em setembro de 1939, dando
início ao mais horrendo conflito militar da história; eles também perpetraram crimes de
guerra e crimes contra a humanidade. Não foi a primeira violação à Carta da Liga das
Nações, pois que nem as invasões à Manchúria por tropas japonesas em 1931, assim como ao
resto da China em 1937, nem a agressão italiana à Etiópia em 1935, ou outras agressões
cometidas no intervalo até a invasão da Polônia, foram objeto das sanções previstas no
documento. O Conselho da Liga até tentou aprovar sanções moderadas à Itália fascista, mas
elas tinham de ser implementadas pelos próprios países, o que não teve seguimento.
No âmbito dos mecanismos punitivos da ONU, as únicas sanções econômicas
aplicadas antes de 1990 se limitaram a dois casos: a Rodésia e a África do Sul, ambas por
“denegação de direitos humanos à maioria negra e abuso doméstico do poder dentro de
estados, e não para opor-se às ameaças tradicionais ou atos de agressão interestados, como
previsto pelos fundadores das NU” (Stremlau, 1996, p. 1). Em contrapartida, a partir dos anos
1990, quase duas dúzias de regimes de sanções entraram em vigor, com destaque especial
para os longos 12 anos de sanções particularmente reforçadas no caso do Iraque de Saddam
Hussein, depois da invasão do Kuwait pelas tropas iraquianas naquele mesmo ano, expulsas
mediante resolução do CSNU, por tropas americanas, no ano seguinte; neste caso, o regime
foi especialmente duro, compreendendo zonas de interdição de voos e um programa
humanitário específico, prevendo a troca de petróleo por alimentos.
Como indicou um diplomata brasileiro envolvido numa determinada etapa com o
regime de sanções da ONU, a invasão do Kuwait pelo Iraque, em 1990, e a importante
operação liderada pelos Estados Unidos para desalojá-lo, já no ano seguinte, promoveram
importantes mudanças no próprio comportamento dos membros permanentes do Conselho de
Segurança:
As sanções impostas ao Iraque a partir de 1990 estabelecem marco no contexto
da evolução dos regimes de sanções, não apenas por terem sido o primeiro caso de
aplicação do instrumento após o fim da bipolaridade, mas sobretudo em função da sua
abrangência e das severas consequências que geraram para a população do país-alvo.
(Baumbach, 2014, p. 51).2

2
Ver também, especificamente dedicado ao caso emblemático do Iraque, a obra de Von Sponeck
(2006).

16
O mesmo diplomata, autor da tese do Curso de Altos Estudos acima referida, destaca
o importante papel do ex-chanceler na coordenação de trabalhos, já em 1999, em um dos
painéis sobre as sanções ao Iraque, no sentido de esclarecer diferentes aspectos do regime de
sanções, cujo relatório orientou a formulação de recomendações ao Conselho sobre medidas
para aperfeiçoar o regime e minimizar seus aspectos mais deletérios:
O Relatório Amorim foi o ponto de partida de iniciativas de reflexão sobre o
tema das sanções que se multiplicaram no final dos anos 90 e tiveram sensível
influência no desenvolvimento dos princípios que passaram a guiar o Conselho de
Segurança na aplicação das medidas. (Baumbach, 2014, p. 99)

À semelhança do ataque hitlerista à Polônia em 1939, a invasão à Crimeia por forças


russas disfarçadas, assim como às províncias orientais da Ucrânia, em 2014, também foram
crimes contra a paz. Essa primeira agressão militar da Rússia de Putin à Ucrânia não foi
devidamente sancionada pelo Direito Internacional, ainda que ela tenha sido objeto de
sanções unilaterais dos Estados Unidos e de outros membros da ONU, em especial a União
Europeia, na falta de resolução a esse propósito que deveria ter sido adotada pelo CSNU.
Essa possibilidade estava praticamente excluída, em virtude do já mencionado direito de veto
exercido por qualquer um dos cinco membros permanentes desse órgão, no caso a própria
Rússia, como sucessora da União Soviética ao início dos anos 1990. Registre-se que a
soberania da Ucrânia sobre o conjunto do seu antigo território como república federada à
URSS tinha sido devidamente reconhecida em documento plurilateral firmado em Budapeste
em 1994, embora não implementado na prática por diferentes razões políticas.
Mas nem o Brasil, tradicional respeitador do Direito Internacional e da Carta da ONU,
foi capaz de sancionar a Rússia por sua agressão cometida em 2014 contra a Ucrânia, o que
representou a quebra de uma tradição até então irrepreensível dos valores e princípios de sua
diplomacia, inatacáveis desde mais de um século, desde que Rui Barbosa proclamou, em
1907, a igualdade soberana dos Estados, cláusula que constitui, desde então, a espinha dorsal
do multilateralismo contemporâneo. Junto com a não interferência nos assuntos internos de
outros Estados, a igualdade soberana das nações integra o conjunto de cláusulas fundamentais
de relações internacionais que integra a Constituição brasileira. 3

3
Para um estudo abrangente do histórico brasileiro de adesão tradicional aos grandes princípios do
Direito Internacional pode-se começar pelo fundador efetivo da política externa nacional, operada em
suas duas gestões por Paulino Soares de Souza (1949-1853), Visconde do Uruguai, por meio da obra
de Pinheiro Machado (2022). Para a estrutura constitucional contemporânea, vale consultar o estudo
mais completo disponível na literatura jurídica brasileira de autoria do diplomata e jurista Christófolo
(2019).

17
Desde 1945, a despeito de altos e baixos, a diplomacia brasileira exibiu, manteve e
desenvolveu uma notável adesão às bases conceituais e práticas de um dos princípios centrais
do multilateralismo contemporâneo, que é a igualdade soberana dos Estados. Esse princípio
foi expresso de maneira clara, em 1907, por Rui Barbosa, chefe da delegação brasileira à
segunda conferência internacional da paz, realizada na Haia: ele defendeu praticamente
sozinho esse eixo fundamental da ordem internacional, contra a vontade das grandes
potências, que pretendiam criar, ou preservar, um sistema oligárquico de solução de
controvérsias, no qual elas manteriam juízes permanentes, ao passo que as potências menores
teriam apenas direito a cadeiras temporárias e rotativas. Esse princípio foi desenvolvido e
defendido por todos os diplomatas brasileiros ao longo de décadas, notadamente por Oswaldo
Aranha, no curso da Segunda Guerra Mundial, e, entre outras ocasiões, por San Tiago
Dantas, na conferência interamericana de 1962 que decidiu, contra o voto do Brasil, pela
suspensão de Cuba do sistema interamericano.
O abandono pelo Brasil de sua adesão inviolável aos grandes princípios do Direito
Internacional foi extremamente raro, tão raro que as poucas ocasiões podem ser identificadas
precisamente. Ocorreu, por exemplo, logo no primeiro ano da ditadura militar, quando
apoiamos os Estados Unidos em sua intervenção na guerra civil da República Dominicana,
em 1965. Ainda assim, nossa diplomacia, contra a pressa dos militares em “pagar” o apoio
recebido quando do golpe de 1964, exigiu que essa intervenção tivesse pelo menos uma
cobertura multilateral, em função do que se aprovou uma resolução da OEA criando uma
Força Interamericana de Paz, ao abrigo da qual nossos militares seguiram para a ilha do
Caribe. Depois, durante a ditadura, e confirmando as paranoias da Guerra Fria, exibimos uma
espécie de “diplomacia blindada” – apenas parcialmente conduzida pelo Itamaraty –, através
da qual manobras foram feitas para sufocar ou claramente derrubar governos esquerdistas ou
ameaças guerrilheiras na região. Independentemente da famosa Operação Condor – um
esquema de informação e de coordenação entre órgãos repressivos da América do Sul –,
militares e diplomatas brasileiros estiveram ativamente envolvidos em manobras golpistas ou
diretamente em golpes de Estado em países do Cone Sul, notadamente na Bolívia e no Chile.
O retorno à redemocratização eliminou por completo esse tipo de atitude que os
vizinhos chamavam de “sub-imperialista”, mas também levou a um maior envolvimento, pelo
menos pelo lado da integração, com todos os países da América do Sul, conceito que, em
substituição ao de América Latina, passou a ser privilegiado pela diplomacia brasileira a
partir dos governos de Fernando Henrique Cardoso (que promoveu uma reunião de todos os
chefes de Estado e de governo em Brasília, em 2000, quando se criou a Iniciativa de

18
integração Regional Sul-Americana, destinada a nos integrar fisicamente com todos os
nossos vizinhos). Os governos seguintes, marcados pelo PT e pela figura de Lula,
introduziram um elemento indesejável em nossa política externa, uma característica que já
tinha sido denunciada pelo Barão do Rio Branco desde 1902, e que sempre foi recusada ao
longo do século: a “diplomacia partidária”, que no caso do PT significou uma aliança,
parcialmente administrada pelo Foro de São Paulo, com todas as forças de esquerdas da
América Latina, sob o escrutínio e a coordenação indisfarçável dos comunistas cubanos.
Pois foi no contexto do terceiro governo petista, em 2014, que assistiu-se a essa grave
violação do Direito Internacional, ao não se ter nenhuma nota, nenhuma denúncia, sequer um
pronunciamento do governo brasileiro a respeito da invasão ilegal efetuada pelo governo de
Vladimir Putin, ao sequestrar a península da Crimeia da soberania da Ucrânia, em total
descumprimento de acordos efetuados quando da implosão da ex-União Soviética em 1991,
seguida do surgimento de mais de uma dezena de repúblicas independentes, no lugar das
antigas repúblicas federadas do finado império. Enquanto os membros da União Europeia e
outros países ocidentais denunciavam a violação, e introduziam sanções contra a Rússia, o
governo petista ficou silente a esse respeito.
O governo Temer, em 2016-2018, representou um breve retorno aos princípios e
valores da diplomacia brasileira, tal como defendidos historicamente pelo Itamaraty, tanto
que, em acordo com os demais três membros do bloco, decidiu suspender a Venezuela do
Mercosul, alegadamente porque ele não tinha conseguido honrar nenhum dos dispositivos de
política comercial que decidiu aceitar quando foi nele admitida – aliás ilegalmente – em
2012. A Venezuela não foi suspensa por se tratar de uma ditadura, o que em 2017 já estava
claramente configurado – uma vez que o Protocolo de Ushuaia, que regula o princípio
democrático no bloco é extremamente débil, no confronto, por exemplo, com o compromisso
democrático da OEA –, mas por não cumprir normas básicas de funcionamento do Mercosul.
Independentemente e em acréscimo a violações de ambos os instrumentos em várias
ocasiões – notadamente em relação à Venezuela chavista –, o caso da invasão total da
Ucrânia pela Rússia em 2022 configurou um grave desrespeito, pelo governo Bolsonaro, de
normas basilares do Direito Internacional, sendo que o Itamaraty atuou mais pelo silêncio e
omissão do que pelo desrespeito claro a princípios e normas da Carta da ONU. Para todos os
efeitos, o mundo em geral, as democracias do Ocidente em particular, já não consideraram
como legítima expressão do Brasil as palavras incoerentes do presidente Bolsonaro com
respeito a uma suposta “solidariedade” à Rússia, antes da invasão e agressão à Ucrânia,
depois uma ainda mais bizarra “neutralidade” em face do conflito, finalmente substituída,

19
pelo seu segundo chanceler, pela noção de “imparcialidade”. Tais contorcionismos verbais
não foram sequer considerados pelas democracias consolidadas como representando uma
postura política aceitável por parte da diplomacia brasileira. O mundo, de toda forma, não
prestava atenção a Bolsonaro, já incorporado à categoria risível dos dirigentes bizarros.
Em contrapartida, o mundo sempre prestou atenção ao que declara o representante
brasileiro nas Nações Unidos, suposto expressar a palavra e a postura oficial do Brasil no
contexto das sérias discussões e tomadas de posição que são levadas a efeito no âmbito do
seu Conselho de Segurança e no seio da Assembleia Geral. E o que disse, ao longo de 2022,
esse representante ao longo da mais grave violação dos princípios do Direito Internacional e
dos dispositivos da Carta da ONU desde o final da Segunda Guerra Mundial e da aprovação
da Carta de San Francisco? Em nenhum momento se identificou e se qualificou o agressor,
como tampouco se apontou a clara transgressão de artigos, quando não de capítulos inteiros
da Carta da ONU, assim como o desrespeito mais brutal a normas consagradas do Direito
Internacional, ou as condutas mais agressivas e desumanas registradas pela ofensiva
guerreira, que de resto ferem as leis da guerra e até adentram no domínio dos crimes contra a
humanidade. Em seu lugar, quais foram os posicionamentos mais comuns?
O que se podia ler, nas burocráticas leituras do representante na ONU, certamente
instruído por Brasília, foram lugares comuns, do tipo “cessação de hostilidades” – como se
elas fosse recíprocas e igualmente conduzidas – ou “legítimas preocupações de segurança das
partes” – como se ambas estivessem em pé de igualdade nessas “preocupações”, ou então
desconformidade com a “aplicação de sanções” – pois que elas complicariam a busca de uma
“solução pacífica”, ou ainda a contrariedade com o fornecimento de armas defensivas à parte
agredida, sob a alegação absolutamente patética de que elas agravariam o sofrimento da
população, como se a parte agredida devesse ser isolada de qualquer ajuda externa, pelo
simples desejo de se defender. Foram várias as expressões tortuosas que confirmaram o
abandono, não pelo Itamaraty ou pelo Brasil, mas pelo governo Bolsonaro, de nossa velha e
aparentemente enterrada adesão ao Direito Internacional.
A diplomacia do Brasil sob o governo Bolsonaro aderiu, mas formalmente apenas, às
resoluções do Conselho de Segurança sobre a questão (que não aprovadas, pelo exercício do
veto russo), e, mais especificamente, às da própria Assembleia Geral, que condenaram a
Rússia pela sua guerra de agressão, em violação flagrante da Carta da ONU e de diversos
princípios do Direito Internacional. Mas o governo Bolsonaro não seguiu nenhuma das
medidas práticas adotadas pelos demais países, notadamente com respeito às sanções

20
econômicas adotadas pelos demais países, a partir de uma interpretação especiosa da letra da
Carta da ONU: elas não foram aprovadas pelo Conselho, o que era óbvio.
Mas todos os demais países que introduziram sanções “unilaterais” seguiram o
espírito da Carta, que recomendavam tais obrigações no caso de desrespeito às mais
importantes cláusulas daquele instrumento multilateral. A diplomacia brasileira “esqueceu”,
então – ou fizeram-na esquecer –, a grande lição de Rui Barbosa em 1916: não existe, não
pode existir imparcialidade entre a Justiça e o crime. Não pode haver “equilíbrio” em face de
atos não provocados de brutal agressão unilateral (Barbosa, 1983). A única atitude moral
possível seria a condenação, a denúncia do agressor, a solidariedade e a ajuda ao agredido,
que, na época de Rui Barbosa, se tratava da Bélgica neutra, invadida pela Alemanha. De certa
maneira, a diplomacia do lulopetismo confirmou e aprofundou escolhas feitas anteriormente
pela bolsodiplomacia, aquelas mais impulsionadas por um nítido oportunismo eleitoreiro – o
fornecimento de fertilizantes e diesel russos, num momento de extrema dependência e de alça
dos preços –, ao passo que Lula vem atuando em função de nítidos vínculos contraídos na
origem pela formação do Brics, mais recentemente atraído pela miragem de uma indefinida
“nova ordem mundial”, com claro sabor antiocidental e antiamericano. A febril atuação em
favor de uma “moeda comum” do Brics se coloca no mesmo diapasão, mas não deriva de
nenhum estudo técnico abalizado, e sim de um preconceito contra o dólar, o símbolo direto
da arrogância americana nas relações financeiras internacionais.

O paradoxo das sanções econômicas contra a Rússia


Do ponto de vista dos precedentes históricos com respeito às sanções econômicas
aplicadas contra a Rússia, depois da invasão da Ucrânia, o que pode ser dito, em primeiro
lugar, é que não existem precedentes em casos dessa magnitude, justamente contra um grande
país e no largo espectro financeiro, econômico-comercial e patrimonial privado que tais
sanções assumiram, unilaterais, por certo, mas praticamente uniformes entre os países
envolvidos nas medidas adotadas. A despeito de ter sido alertada diversas vezes nos dias e
semanas precedentes, o líder russo não acreditou que os países ocidentais fossem escalar as
sanções na ampla dimensão que elas alcançaram.
A invasão da Ucrânia pela Rússia tampouco tem precedentes na história econômica
mundial em virtude da importância de ambos os países no fornecimento regional e mundial
de matérias primas alimentares e energéticas da maior relevância para seus clientes na Europa
e no resto do mundo. De imediato, tais medidas provocaram o recrudescimento do processo
inflacionário que já vinha se manifestando nos meses anteriores, em razão de pressões sobre

21
os mercados de combustíveis fósseis. Para os países em desenvolvimento, o choque do
aumento de preços da energia e dos alimentos se revelou desastroso, nos meses seguintes, ao
passo que a amplitude das sanções financeiras adotadas no âmbito do sistema Swift – que
regula os pagamentos interbancários – criou novas pressões sobre o sistema monetário
internacional, ainda excessivamente dependente da moeda americana. Na esteira do imediato
desligamento da Rússia desse sistema começaram a ser aventadas possibilidades de adoção
de sistemas de pagamentos paralelos ao existente, baseado em mecanismos não controlados
pelas potências ocidentais, assim como, mais adiante, da introdução de moedas alternativas
ao dólar, seja entre Rússia e China, sua aliada, seja no âmbito do Brics.
Em segundo lugar, o paradoxo das sanções se revelou no fato de que a Rússia, uma
grande produtora de gás e petróleo, continuou fornecendo esses produtos para o resto do
mundo, com forte destaque para os países do Brics, beneficiando-se da alta dos seus preços
nesses mercados. A própria Europa, incapaz de cortar abruptamente sua dependência dos
insumos energéticos russos, continuou alimentando durante certo tempo o Tesouro russo. Um
paradoxo adicional é, evidentemente, o fato de que o aumento nos custos dos insumos
energéticos e, na sequência, das matérias primas agrícolas, praticamente paralisadas pela
extensão da guerra ao Mar Negro, representa o possível início da repetição do fenômeno
conhecido nos anos 1970 como estagflação, ou seja, recessão com inflação.
O processo de desglobalização, que parecia retroceder depois da partida do grande
“perturbador” da ordem econômica global que era o presidente Donald Trump, pode estar
novamente no horizonte das possibilidades, dadas as reações não colaborativas com as
sanções de importantes membros do G20, como os demais Brics, notadamente a China e a
Índia, na medida em que eles não se alinham com a postura adotada pelos países ocidentais.
Muitos países em desenvolvimento tampouco abandonaram uma postura de abstenção nas
votações onusianas ocorridas recentemente: eles podem ser obrigados a recorrer a velhas
formas de intercâmbio de produtos, na impossibilidade de dispor de divisas suficientes para
seu próprio abastecimento em produtos estratégicos (alimentos e energia, justamente). Por
outro lado, os Estados Unidos são bem mais resilientes aos efeitos adversos das suas próprias
sanções – pela dimensão dos seus recursos naturais, entre outros fatores – do que os países
europeus, bem mais dependentes do comércio exterior em seus respectivos mercados.
Por outro lado, um debate sobre a excessiva dependência do dólar nos mercados
globais de mercadorias já se instalou, com um possível papel ampliado para a moeda chinesa
ou, no sentido da economia das trocas, um retorno aos intercâmbios diretos, como ocorreu
por ocasião da grande depressão dos anos 1930. Embora não existam, de fato, alternativas ao

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dólar no curto prazo, podem estar sendo estabelecidas linhas de reflexão sobre mecanismos
alternativos de pagamentos e de finanças. O grande personagem nesse capítulo é obviamente
a China, que, no entanto, tem se mantido cautelosa uma vez que seus principais mercados de
fornecimento de manufaturas e de demanda de equipamentos se situam justamente nos países
ocidentais que introduziram as mais fortes sanções contra o seu mais novo “aliado sem
limites”. Se os países ocidentais prosseguirem em sua intenção de realmente provocar uma
espécie de “lento estrangulamento econômico” contra a Rússia, a China também tem muito a
perder se ela pretender vir em socorro de seu atual irmão menor por meio de expedientes que
visariam esvaziar tais sanções “permanentes”. Daí sua atitude extremamente cautelosa na
postura em relação à guerra de agressão do seu aliado à Ucrânia, cuja dimensão mundial e
seu prolongamento no tempo escaparam, provavelmente, aos primeiros cálculos estratégicos
do gigante asiático, que via a aventura putinesca como uma espécie de laboratório ocasional
para testar as reações do Ocidente em face de uma eventual e futura aventura de Xi Jinping
no estreito de Taiwan. Aparentemente, os exercícios militares de intimidação não tiveram o
efeito que se esperava e podem ter reforçado a disposição de aderir à “contenção” da China já
iniciada desde algum tempo pelo ainda Hegemon planetário.
Nesse sentido, um paradoxo adicional ao presente cenário de incertezas geopolíticas e
geoeconômicas – já caracterizada por um bom número de observadores como uma “segunda
Guerra Fria” – poderia ser representado por uma mudança nos planos estratégicos da ainda
maior potência imperial do planeta, que havia indicado a China como virtual competidora
hegemônica, nesse ato se enredando, por sua própria atitude, numa espécie de “armadilha de
Tucídides”, uma fantasmagoria acadêmica que parece assumir ares de fatalidade conflituosa.
Essa analogia falsamente histórica – mas toda analogia histórica é necessariamente falsa e
enganosa – foi suscitada por um professor de Harvard, Graham Allison, que, nos anos 1970,
tinha ficado conhecido por uma aguda análise da crise dos mísseis soviéticos em Cuba, em
1962, no livro The Essence of Decision (1971).
Provavelmente influenciado pela paranoia dos generais do Pentágono – todo militar,
por princípio, é pago para ser paranoico –, que seguem de perto, com extrema preocupação, o
agigantamento militar da China, Allison (2015, 2020 lançou-se numa especulação claramente
despropositada, listando de mais de uma dúzia de confrontos militares entre potências
ascendentes e potências estabelecidas, estabelecendo, a partir daí, uma correlação
historicamente fantasiosa com o equivocado conceito de “armadilha de Tucídides”,
proclamando a possibilidade de uma nova “guerra do Peloponeso”, desta vez entre a Esparta-
China e a Atenas-EUA (que ele afirma não desejar). Ironicamente, a longa guerra foi ganha

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pela Esparta autoritária, e não pela Atenas democrática, cuja liderança da Liga Ateniense foi
marcada por diversos erros diplomáticos que alienaram aliados em favor do competidor.
De fato, erros diplomáticos e sanções econômicas exageradas podem, realmente,
produzir resultados catastróficos para as partes em conflito, o que ainda não é o caso das
relações atuais entre os dois gigantes econômicos da contemporaneidade; eles estão apenas se
medindo, de forma desconfiada, mas o cálculo estratégico da China aponta mais para 2049 –
o centenário da fundação da República Popular – do que para a conjuntura imediata. Mas não
faltam aqueles que imaginam que o acirramento de tensões nos atuais pontos quentes do
planeta – Ucrânia e Taiwan, justamente – pode levar a uma nova guerra entre impérios.
Diferentemente, porém, da primeira Guerra Fria, que, na interpretação aroniana, envolvia
uma potência revisionista animada por uma concepção messiânica da ordem mundial, a atual
“guerra fria” é bem mais de ordem econômica e tecnológica, com uma China plenamente
integrada à ordem econômica multilateral, e decidida a vencer no mesmo terreno que, no
passado, sustentou a preeminência econômica britânica – o livre comércio, ainda que a seu
próprio favor – durante a maior parte do século XIX e até o início do XX, passando depois o
bastão do comércio, dos investimentos e finanças ao hegemon americano, desde a segunda
metade desse século, até o presente.
Longe de ser “socialista”, a China é um “capitalismo com características chinesas”,
apenas que com um partido leninista no poder, mas sem as crenças toscas, simplórias até do
ponto de vista marxista, dos bolcheviques que tentaram fazer um elefante voar, ao inaugurar
o “modo de produção comunista”, baseado em leis antimercado. Lênin podia ser um gênio
em política, mas era um inepto em economia, assim como Stalin, um mero tirano, sem
qualquer “afinidade eletiva” com os sofisticados mandarins chineses, hoje representados
pelos funcionários do PCC, mais próximos de Peter Drucker do que de Preobajensky ou
Bukharin. A China não é uma potência revisionista, ou expansionista, como foi a União
Soviética durante boa parte de sua tumultuada história de 70 anos; seu expansionismo é
essencialmente comercial, e seu processo de catch-up em tecnologias avançadas já está sendo
superado pela substituição da “captura” não declarada pela produção própria de patentes.
Assim como as normas industriais foram basicamente europeias no século XIX, e americanas
e europeias, mas também japonesas, no século XX, padrões chineses vão começar a se impor
nas tecnologias de fronteira do século XXI.
A Rússia de Putin é, sim, uma potência revisionista, mas sem condições econômicas,
políticas ou diplomáticas de se impor a vizinhos regionais ou de fora, unicamente pela força
de seu poderio militar. Na verdade, ela só pode ser considerada uma potência pela detenção

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de armas nucleares estratégicas, e por um imenso território repleto de recursos naturais, mas
dificilmente exploráveis por falta de tecnologia, de investimentos e mais exatamente por falta
de capital humano. Com efeito, a Rússia atravessa, há muitos anos, um declínio demográfico
poucas vezes visto na história, feito de guerras (geralmente baseadas num uso intensivo de
“mão-de-obra”), péssimos serviços de saúde, alcoolismo disseminado, pouca (ou nenhuma)
imigração e uma emigração forçada, por razões políticas e, agora, “militares”. Ela já foi uma
grande produtora de cérebros, sobretudo nas ciências duras, mas passou a fornecer quadros
formados para ambientes de negócios mais receptivos em outras partes. A guerra de agressão
contra a Ucrânia apenas vai acelerar esse declínio, delongado parcialmente pelo apoio do
aliado chinês, mas a termo aprofundado pela relação de vassalagem que vai se estabelecer no
plano bilateral. A agressividade de Putin é um problema para todos, amigos e inimigos.
Pode ser que a potência revisionista do momento, a Rússia, seja contida por algum
interesse comum, ainda que não confessado, dos dois maiores impérios econômicos da
atualidade, China e Estados Unidos. Anos antes que as relações se deteriorassem ao ponto
das retaliações recíprocas do governo Trump, o historiador Niall Ferguson já havia aventado
a possibilidade – de forma alguma quimérica, dada a quase perfeita complementaridade entre
as duas economias – de uma “Chimerica”, um projeto provavelmente difícil de ser realizado
na prática, mas ainda assim uma esperança acadêmica de que uma simbiose colaborativa
pudesse se estabelecer entre os Estados Unidos e a China. Seria, numa visão otimista, o
melhor dos cenários prospectivos, não tanto no plano da continuada competição estratégica
entre os dois gigantes econômicos, mas em direção dos países em desenvolvimento, de fato,
para o mundo todo.
Esse cenário, contudo, é altamente improvável numa perspectiva à la Toynbee, pois
que grandes impérios não são solúveis em água, ou seja, dificilmente podem ser combinados
numa nova receita de estabelecimento consensual e pacífico de uma “nova ordem mundial”.
A maior parte das “ordens mundiais”, ou regionais, sucessivas, acabaram sendo o resultado
de grandes rupturas dentro das próprias nações, ou entre Estados, geralmente impérios ou
grandes potências com pretensões à preeminência. Na era atômica, os líderes mundiais
devem estar conscientes de que não dá mais para reproduzir os padrões históricos de rupturas
do passado. Ou será que não estão?

Paulo Roberto de Almeida


Brasília, 4445, 10 agosto 2023, 25 p.

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New York: Houghton Mifflin, 2015; A Caminho da Guerra: os Estados Unidos e a China
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