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Foi uma disputa entre as duas superpotências da época: Estados Unidos (EUA) e União
Soviética (URSS). Este período de intensa hostilidade começou em 1947 e foi até 1989, e não
contou com um conflito armado direto entre as duas potências. Por isso o nome: Guerra Fria, ou
seja, o conflito não chegou a “esquentar” e ir para o campo de batalha direto entre os dois
Estados.
Tanto os Estados Unidos, quanto a URSS, saíram vitoriosos da Segunda Guerra Mundial, tendo
lutado juntos no lado dos Aliados. Entretanto, após o fim da II Guerra e de seus inimigos em
comum – o fascismo e o nazismo – terem sido derrotados, iniciou-se uma disputa pelo poder
entre as duas superpotências mundiais. O mundo se tornara bipolar, ou seja, com dois grandes
polos de poder: um de ideologia socialista (URSS) e o outro, capitalista (EUA), formando dois
grandes blocos. O restante dos países do globo viu-se “obrigado” a escolher um dos lados para
se aliar e obter proteção. Assim, ambos buscavam aumentar sua área de influência, tanto por
meios materiais – através da economia e do poder bélico – quanto por suas distintas ideologias.
Procurando se afirmar como maior potência global, ambos iniciaram uma corrida armamentista:
eles tentavam sempre superar o poder bélico de seu oponente e avançar em criações
tecnológicas voltadas à guerra. A corrida armamentista tornou-se também nuclear: os Estados
Unidos possuíam a tecnologia desde 1945, e a URSS realizou seus primeiros testes em 1949.
Outro meio em que a disputa ocorreu de modo muito claro foi no espaço: a conhecida corrida
espacial. Os soviéticos contaram com algumas vitórias iniciais: lançaram o primeiro satélite
artificial (1957), o primeiro foguete tripulado com um ser vivo (1960) e mesmo o primeiro voo
espacial tripulado por um humano (1961). Entretanto, a chegada do homem à lua, realizada pelos
Estados Unidos em 1969, foi o ápice dessa corrida.
Um dos maiores símbolos da Guerra Fria foi o muro de Berlim. Após a derrota na Segunda Guerra
Mundial, a Alemanha foi dividida entre quatro vencedores: França, Inglaterra, Estados Unidos e
URSS. Os países capitalistas fizeram uma nova aliança e estabeleceram seu domínio sobre a
Alemanha Ocidental. A URSS não aderiu à aliança e passou a ter influência direta sobre a
Alemanha Oriental. Em 1961, foi erguido um muro separando as duas partes da cidade em
capitalista e socialista: o muro de Berlim, que somente seria desmantelado ao final do conflito.
Apesar do nome “Guerra Fria” e das superpotências não terem entrado em conflito direto em
nenhum momento, houve conflitos na periferia do sistema que contaram com a influência dos
EUA e da URSS. A Guerra da Coreia, do Vietnã e do Afeganistão são alguns dos exemplos mais
conhecidos, que serão novamente abordados ao longo deste conteúdo. Estes conflitos
significavam uma forma de guerra indireta entre Estados Unidos e União Soviética, de demonstrar
seu poder e buscar aumentar sua influência nessas regiões. O componente ideológico também
estava presente nesses confrontos: eram batalhas em que comunismo/socialismo e capitalismo
se enfrentavam.
QUAIS ERAM OS OBJETIVOS DOS EUA E DA URSS NA GUERRA FRIA?
Ambos tinham objetivos expansionistas territoriais e de influência e poderio político
internacional. Os Estados Unidos enfrentaram constantemente dois dilemas durante a Guerra
Fria, em relação aos seus objetivos. O primeiro dilema foi decidir se combatiam o expansionismo
soviético ou a expansão do comunismo. Em alguns casos, foi necessário tomar uma decisão entre
um e outro. Um exemplo pode ser encontrado no rompimento da Iugoslávia, comunista, com a
URSS. Nesse caso, os EUA decidiram auxiliar um governo comunista e autoritário, para evitar a
expansão soviética. Outro dilema que o país enfrentou foi se deveria buscar prevenir toda e
qualquer expansão do poder soviético ou apenas intervir nas áreas que fossem cruciais para o
equilíbrio de poder. A intervenção na Guerra do Vietnã, por exemplo, seria posteriormente
considerada por muitos um erro de cálculo.
FASES DA GUERRA FRIA
Início gradual (1945-1947)
Ainda não contabilizados como parte da Guerra Fria, esses anos foram essenciais para que as
tensões entre União Soviética e Estados Unidos começassem a aumentar no pós-Segunda Guerra
Mundial. Apontamos aqui seis questões que teriam contribuído para o início da Guerra Fria:
Polônia e Leste Europeu: Stálin, líder da URSS na época, não realizou novas eleições na
Polônia no imediato pós-guerra, como os EUA acreditavam e pediram que fizesse, de
acordo com seus princípios democráticos. Ao invés disso, foi estabelecido um “governo-
fantoche” soviético no país após a expulsão dos alemães. Isso significava que o governo
polonês dependia e seguia os interesses econômicos e estratégicos da URSS. Tal ação não
foi vista com bons olhos pelo governo norte-americano.
Programa de empréstimos interrompido: ainda em 1945, o programa de empréstimos
estadunidense foi bruscamente interrompido – alguns navios com destino a portos
soviéticos chegaram a dar meia-volta em pleno oceano. Em 1946, os EUA também
recusaram pedidos de empréstimo da URSS, desgastando suas relações.
Reconstrução da Alemanha: não houve consenso sobre como a Alemanha pagaria seus
20 milhões de dólares em reparações aos vencedores da guerra, nem como sua
reconstrução seria feita. Os desentendimentos entre os países desgastaram ainda mais
suas relações e reforçaram a divisão da Alemanha.
Ásia Oriental: os soviéticos somente entraram no Pacífico na última semana da II Guerra,
quando se apossaram de alguns territórios. Quando a URSS demandou uma zona de
ocupação no Japão, semelhante ao que ocorria na Alemanha, os Estados Unidos
alegaram que os soviéticos não teriam direito a essas terras, por terem “chegado tarde
demais”.
Bomba atômica: os Estados Unidos já possuíam a tecnologia de armas nucleares desde
1945. Em 1946, quando apresentaram um plano de controle de armas nucleares através
da ONU, com o objetivo de que outros países não desenvolvessem a tecnologia, a URSS
o rejeitou. Em 1949, os soviéticos detonaram sua primeira bomba nuclear.
Irã: Após a II Guerra, os soviéticos se recusaram a retirar as tropas do Irã, que antes se
encontrava sob influência da Grã-Bretanha, aliada dos Estados Unidos. Após grande
pressão, as tropas foram retiradas, mas o episódio contribuiu para o desgaste das
relações entre os Estados.
Declaração da Guerra Fria (1947-1949)
Nesta fase da Guerra Fria as ações começaram a acontecer em um ritmo “olho-por-olho”: um
movimento de um dos lados gerava uma resposta imediata do outro. Separamos algumas das
ações mais importantes do período:
Doutrina Truman: O presidente Truman lançou, em 1947, a Doutrina Truman, com o
discurso de que os Estados Unidos defenderiam os povos livres em todo o mundo [do
comunismo]. Uma das primeiras ações sob esse discurso foi a ajuda monetária à Grécia
e à Turquia, tendo o objetivo de expandir o poder norte-americano no Mediterrâneo.
Plano Marshall e resposta na Tchecoslováquia: Em 1947, os EUA anunciaram o “Plano
Marshall”, que consistia em uma ajuda econômica para que os países europeus
pudessem se reconstruir no pós-guerra. A União Soviética e os países do Leste Europeu
também foram chamados para participar, mas Stálin, que via o Plano como uma forma
dos Estados Unidos exercerem influência sobre a região, fez grande pressão para que os
países do Leste Europeu não participassem. Logo após a Tchecoslováquia indicar que
desejaria receber o auxílio, seu partido comunista realizou um golpe e iniciou
uma ditadura no país.
Reforma monetária e bloqueio de Berlim: quando os Estados Unidos realizaram a
reforma monetária da Alemanha, em 1948, implantando a nova moeda – o marco alemão
– Stálin respondeu com o bloqueio de Berlim. O líder da URSS interrompeu todas as
comunicações terrestres entre Berlim e o restante da Alemanha Ocidental, cortando até
mesmo o fornecimento de alimentos para Berlim Ocidental. Os soviéticos esperavam
que, com o bloqueio, os países capitalistas que dominavam essa parte da cidade
desistiriam de ocupá-la, deixando-a livre para a URSS, mas isso não aconteceu. A solução
dos Estados Unidos foi criar uma ponte aérea: com a ajuda da Grã-Bretanha,
transportavam suprimentos para Berlim Ocidental através de voos regulares.
Bomba atômica e Partido Comunista na China: em 1949, a União Soviética detonou sua
primeira bomba atômica, deixando os líderes norte-americanos em alerta. No mesmo
ano, o Partido Comunista chegou ao poder na China (menos na ilha de Taiwan). A OTAN,
aliança militar liderada pelos EUA, é oficialmente criada também em 1949. Em 1955, a
URSS responderia à criação da OTAN com sua própria aliança militar: o Pacto de Varsóvia,
que contava com os países socialistas do Leste Europeu.
Auge da Guerra Fria (1950-1962)
Esta foi a etapa em que houve maior perigo de estourar uma guerra direta entre as duas
superpotências. Alguns dos acontecimentos mais marcantes foram:
Guerra da Coreia: em 1950, as tropas da Coreia do Norte – comunista – atravessaram as
fronteiras e invadiram a Coreia do Sul – capitalista -, com o apoio da URSS. Em seguida,
os EUA mobilizaram o Conselho de Segurança da ONU, que enviou tropas para conter o
avanço norte-coreano e avançar sobre o território da Coreia do Norte. Neste ponto, a
China, liderada pelo Partido Comunista, também intervém com tropas. A batalha
continuou até 1953, quando uma trégua foi assinada.
Início da Guerra do Vietnã: em 1959, o Vietnã do Norte – comunista e apoiado pela URSS
– avançou sobre os territórios do Vietnã do Sul – capitalista e apoiado pelos Estados
Unidos – dando início à Guerra do Vietnã, que se estenderia até o ano de 1975. O país foi
reunificado em 1976, após a vitória da parte comunista.
Crise dos mísseis: este é considerado o momento em que a Guerra Fria ficou mais
próxima de um conflito nuclear. Em 1961, havia ocorrido a tentativa de derrubar o
governo de Fidel Castro, de regime socialista. O episódio ficou conhecido como “invasão
da Baía dos Porcos”, e foi realizado por um grupo paramilitar de exilados cubanos
anticastristas, apoiados pelos Estados Unidos.
Este acontecimento, somado ao fato dos EUA terem mísseis nucleares na Itália e Turquia
– países próximos a URSS, fez com que os soviéticos buscassem implantar mísseis em
Cuba, país mais próximo dos EUA. Os Estados Unidos imediatamente pediram a retirada
dos mísseis, sob pena de realizarem um ataque nuclear à URSS se a requisição não fosse
atendida. Seguiram 13 dias de forte tensão entre os dois blocos, em que o conflito
nuclear parecia iminente. Após esse período, as duas superpotências chegaram a um
acordo: a URSS removeu seus mísseis de Cuba e, posteriormente, os EUA retiraram seus
mísseis da Itália e Turquia.
Détente (1963-1979)
É interessante observar que após a crise dos mísseis, em que a tensão chegou ao auge na Guerra
Fria, os blocos começaram a modificar sua postura, tentando evitar um possível conflito nuclear.
De 1963 a 1978, os canais de comunicação entre Washington e Moscou passaram a ficar mais
abertos, e houve um afrouxamento das tensões. Acordos começaram a ser realizados entre os
dois blocos, com a intenção de regular os testes de armas nucleares e sua multiplicação. Mesmo
o comércio entre as potências começou a aumentar no período.