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Para além do Muro de Berlim e de outras muralhas

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Sidnei Munhoz
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Para além do Muro de Berlim e de outras muralhas*
Sidnei J. Munhoz**

Resumo: As quatro décadas e meia que se seguiram ao final da II Guerra Mundial, ao


início da Guerra Fria e aos conflitos a ela associados contribuíram para estruturar as
concepções de mundo com perfil da maior parte da população do planeta. O Muro de
Berlim, um dos marcos simbólicos mais visíveis desse período, teve a sua construção
iniciada em 13 de agosto de 1961, com o intuito de separar Berlim Oriental da parte
ocidental da cidade, então sob a órbita capitalista. O Muro fez-se presente no cotidiano
dos berlinenses orientais e ocidentais por longos 28 anos, até que, em 9 de novembro de
1989, milhares de manifestantes começassem a pô-lo abaixo. O colossal artefato que
dividiu a cidade, e, mais do que isso, separou vidas, cerceou amizades, relações
comerciais, afetivas foi um autêntico produto da exacerbação dos autoritarismos
provenientes da Guerra Fria e, em particular, do regime ditatorial de viés estalinista
vigente na República Democrática da Alemanha (RDA). No presente artigo serão
analisadas as origens históricas da influência soviética no Leste da Europa; em adição
serão analisados os conflitos emergentes da Guerra Fria e as dificuldades soviéticas para
a manutenção da sua influência na Alemanha e a relação desse problema com a criação
do Muro de Berlim.

Palavras-chave: Muro de Berlim; Guerra Fria; Comunismo

As quatro décadas e meia que se em 9 de novembro de 1989, milhares de


seguiram ao final da II Guerra Mundial, manifestantes começassem a pô-lo
ao início da Guerra Fria e aos conflitos a abaixo. O colossal artefato que dividiu a
ela associados contribuíram para cidade, e, mais do que isso, separou
estruturar as concepções de mundo com vidas, cerceou amizades, relações
perfil da maior parte da população do comerciais, afetivas foi um autêntico
planeta. O Muro de Berlim, um dos produto da exacerbação dos
marcos simbólicos mais visíveis desse autoritarismos provenientes da Guerra
período, teve a sua construção iniciada Fria e, em particular, do regime
em 13 de agosto de 1961, com o intuito ditatorial de viés estalinista vigente na
de separar Berlim Oriental da parte República Democrática da Alemanha
ocidental da cidade, então sob a órbita (RDA).
capitalista. O Muro fez-se presente no
A efeméride relacionada aos vinte anos
cotidiano dos berlinenses orientais e
da queda do Muro criou a situação
ocidentais por longos 28 anos, até que,

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oportuna à reflexão sobre esse evento o que sempre foi protelado e não
que marcou os anos derradeiros do ocorreu até junho de 1944 (Dia D). Há
século XX. Ao aceitar o desafio, controvérsias em relação à interpretação
enfatizo a relevância do tema, pois é do ocorrido. A história tradicionalista
perceptível a contenda pela construção estadunidense vê a demora na
de uma memória histórica hegemônica organização dessa frente em função das
sobre esse período, que, de forma tão necessidades estratégicas da preparação
consistente, distinguiu a história da de uma operação daquela magnitude. Os
humanidade. Ressalto que, da minha historiadores revisionistas vislumbram a
perspectiva, circunscrever a abordagem questão como uma estratégia de
do problema à construção e à derrubada protelação que poderia levar tanto a
do dito muro poderá obliterar a sua Alemanha quanto a URSS ao
percepção. Assim, irei enfocá-lo no esgotamento e, dessa forma, permitir às
contexto das disputas entre as duas democracias capitalistas livrarem-se, de
superpotências mundiais durante a uma só vez, da URSS, da qual eram
Guerra Fria e, em particular, das rivais históricas da Alemanha com a
dificuldades soviéticas para manter a sua qual estavam em guerra. Na perspectiva
esfera de influência na Europa Oriental. revisionista, os conservadores
apostavam que a Alemanha venceria o
As origens do problema
conflito, no entanto, ficaria bastante
Ao final da II Guerra Mundial, a URSS fragilizada e seria facilmente derrotada.
encontrava-se destroçada. Além disso,
O atraso da segunda frente de batalha
desde o início do século XIX, o império
teve conseqüências decisivas no
russo e a sua sucessora, a União
desenrolar da guerra e na configuração
Soviética, haviam experimentado
do novo mundo que emergia ao final do
contínuas invasões a partir do Leste e
conflito mundial (Bagguley, 1969,
Centro da Europa e, como resultado, os
p116-117). A partir de meados de 1942,
seus governantes entendiam que o
o Exército Vermelho iniciou uma
controle dessas regiões era nodal para a
vultosa contra-ofensiva na região do
sua proteção. No imediato pós-guerra, a
Volga. A principal dessas Batalhas foi a
URSS apresentava um paradoxo: de um
de Stalingrado (17 de Julho, 1942 -2 de
lado, o país havia saído dilacerado do
Fevereiro de 1943). A vitória soviética
conflito mundial; de outro, emergia
na Batalha de Stalingrado impôs a
como o gigante que havia derrotado as
rendição e a debandada das forças do
forças do Eixo. Naquele contexto, a
Eixo. Entre julho e agosto daquele ano,
URSS ocupou grande parte da Europa
os alemães organizaram uma nova
Central e Oriental, inclusive Berlim. A
ofensiva, dessa vez na região de Kursk.
compreensão desse processo somente
Novamente, os invasores foram detidos
pode ser alcançada de forma satisfatória
pelo Exército Vermelho, que encetou
pela análise da resistência soviética à
outra contra-ofensiva ao adentrar pela
invasão alemã e das estratégias adotadas
região do Dnieper, impondo a contínua
pelas democracias capitalistas européias
retirada às tropas invasoras.
e pelos EUA na aliança temporária com
os soviéticos durante o conflito mundial. Em meados de 1944, não mais havia
invasores em território soviético e, ao
Após a invasão da URSS pelas forças do
contrário, o Exército Vermelho
Eixo em junho de 1941, os soviéticos
começava a ocupar os antigos satélites
passaram a solicitar aos EUA e à Grã
alemães e a liberar as zonas por eles
Bretanha uma segunda frente de batalha,

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antes controladas; daí resultou o Naquele cenário, o comando britânico,
domínio soviético sobre a Europa com o receio de que o avanço do
Central e Oriental. A realização tardia Exército Vermelho pudesse
da segunda frente de batalha deixou um comprometer de forma irremediável os
vácuo que de forma célere foi ocupado seus interesses, propôs aos soviéticos
pelas forças soviéticas. Isso explica o um acordo de divisão da Europa em
hábil controle da região pela URSS, pois esferas de influências. A preocupação
caso a segunda frente houvesse ocorrido do Reino Unido era preservar o seu
anteriormente, a ocupação haveria sido controle sobre o mediterrâneo, por onde
compartilhada. Quando as evidências de fluía o seu comércio colonial. Com esse
que os Aliados derrotariam as forças do intuito, em 9 de outubro de 1944,
Eixo se tornaram sólidas, EUA, URSS e Churchill foi a Moscou para discutir o
Reino Unido se depararam com a assunto. Na ocasião, Churchill
necessidade de estabelecerem um apresentou uma proposta a Stalin na
acordo sobre a reorganização da qual 90% da Polônia e da Romênia e
arquitetura de poder mundial. 75% da Bulgária ficariam sob influência
soviética; a participação nos governos
Roosevelt opunha-se à divisão do
da Hungria e da Iugoslávia seria de 50%
planeta em áreas de influência e
para os simpatizantes das democracias
acreditava que o mundo do pós-guerra
capitalistas e os outros 50% para os
poderia ser controlado por quatro
comunistas; Na Grécia haveria 90% de
grandes policiais: Os EUA, a URSS, a
influência britânica (Kolko, 1990, p. 37-
Grã-Bretanha e a China. Segundo
39).
Walter Lafeber, os soviéticos ao
saberem dessa posição ficaram Naquele momento Stalin visava à
entusiasmados com a idéia, pois garantia dos interesses do Estado
entendiam que quem "policiasse" uma Soviético; não estava preocupado com o
região poderia controlá-la e, é claro, eles desenrolar imediato de um possível
poderiam policiar o Leste Europeu. processo revolucionário na Europa, mas
Posteriormente, o Departamento de com a proteção das fronteiras soviéticas.
Estado alertou o presidente que esse Ele até poderia acreditar que a URSS,
sistema de policiamento não se como a "Pátria do Socialismo",
harmonizava com um mundo unido e naturalmente viria a ser o guia da
aberto e que certamente as áreas revolução que ocorreria em um futuro
controladas por um policial poderiam próximo, mas, naquele momento, o seu
rapidamente ser transformadas em foco era outro e, de forma pragmática,
esferas sob a dominação de um único aceitou a proposta, mesmo certo de que
poder (LaFebber, 1997, p. 12). Enquanto ela implicava sacrificar revoluções em
o governo dos EUA debatia o assunto, diferentes áreas da Europa. Dessa forma,
Stalin, de forma hábil e pragmática, a URSS dava os primeiros passos para
posicionou o Exército Vermelho de criar um escudo protetor constituído de
forma estratégica na Europa. Naquele nações “amigas”.
contexto, Stalin avaliava que quem Roosevelt reconhecia a demanda de
ocupasse um território poderia impor o predomínio soviético na Europa
seu sistema social até onde os seus Oriental; sabia que os ataques seguidos
exércitos pudessem alcançar. (LaFeber, sofridos pelos russos haviam ocorrido a
1997, p.12) partir daquela região, o que justificava a
busca daquela sólida proteção ao

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território soviético. Contudo, ele temia fragmentada pagaria as indenizações de
que se a União Soviética materializasse guerra pleiteadas União Soviética.
a sua esfera de influência a Inglaterra, a Em setembro de 1944, na II Conferência
França e outras potências coloniais de Quebec, os britânicos aproximaram-
pudessem reivindicar a sua respectiva se dos EUA e fizeram concessões às
área de domínio, o que inviabilizaria a linhas gerais do plano Morgenthau.
Open Door Policy (eixo da política Porém, no início de 1945, Roosevelt
externa dos EUA). deixou o Plano Morgenthau em "banho-
Ao saber do acordo entre Churchill e maria", pois, foi alertado pelo
Stalin, Roosevelt demonstrou irritação. Departamento de Estado que a
Ironicamente, ele temia que os estabilidade européia dependia da
britânicos usassem a guerra para manutenção do continente unido e em
defender os seus interesses imperialistas, condições econômicas saudáveis, o que
objetivando, ao final do conflito, seria impossível com a divisão da
reorganizar e proteger o seu império. Alemanha.
Essa medida confrontava a política Quando ocorreu a Conferência de Ialta,
externa de Roosevelt, pois ele esperava em fevereiro de 1945, a presença do
empregar o poderio econômico e militar Exército Vermelho garantia a influência
dos EUA frente a uma Europa debilitada soviética em quase toda a Europa
para forçar a abertura dos impérios Central e do Leste. Dessa forma, a
coloniais aos EUA. Ainda, o presidente supremacia soviética no campo militar
dos EUA receava que os ingleses não podia ser evitada por mera retórica
pudessem restaurar monarquias e apoiar diplomática. Assim, Roosevelt e
governos antidemocráticos. Por fim, Churchill tiveram que se contentar com
Roosevelt acreditava que seria possível as concessões soviéticas. Em Ialta,
convencer Stalin a abandonar a luta no foram definidos o desarmamento, a
campo ideológico e a se integrar a desmilitarização e a divisão da
URSS a um mundo globalizado, o que Alemanha em quatro áreas a serem
seria importante para o projeto de governadas respectivamente pela URSS,
criação das Nações Unidas. EUA, Inglaterra e França. Berlim, que
Em agosto de 1943, na I conferência de ficava na zona soviética, também seria
Quebec, Roosevelt apresentou a divida e administrada dessa forma. Após
Churchill o plano Morgenthau, que longas discussões, ainda, foi autorizada
previa a desindustrialização da a “retirada” de prisioneiros alemães
Alemanha, a sua ruralização e o saudáveis por dois anos para a
desmembramento do país em cinco reconstrução dos países devastados pela
regiões autônomas: Prússia, Hanôver, guerra.
Saxe, Hesse-Renânia e Alemanha do No início de 1945, os soviéticos
Sul. Churchill aceitava, no máximo, a buscaram a consolidação da sua área de
separação da Prússia do restante da influência na Europa. Esse processo foi
Alemanha. Na Conferência de Teerã, deveras conturbado após a morte de
pouco havia mudado nas posições dos Roosevelt e, do meu ponto de vista, isso
EUA e da Grã-Bretanha, em relação a aconteceu principalmente por causa da
esse tópico. Stalin se opôs à proposta, considerável mudança implementada
pois via nela uma ameaça à URSS. É pelo seu sucessor, Harry Truman, nas
plausível que a preocupação de Stalin linhas gerais da política externa dos
estivesse focada em como a Alemanha EUA e, particularmente, na forma do

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novo governo se relacionar com a União propiciou o surgimento de uma opinião
soviética. Na conferência de Potsdam pública internacional bastante favorável
(17 de julho-2 de agosto de 1945) foi ao país. Os comunistas haviam ocupado
mantida a essência do decidido em Ialta, importantes papéis nas frentes de
contudo, abandonou-se a idéia de resistência e, em decorrência, galgaram
desmembrar o território alemão, que, posições importantes na nova sociedade
embora continuasse dividido em quatro que emergia ao final do conflito bélico.
áreas, deveria ser tratado como uma Esse papel possibilitou o crescimento
unidade. Em Potsdam, os EUA dos partidos comunistas, tanto na órbita
endureceram nas negociações e soviética quanto fora dela, como ocorreu
forçaram os soviéticos a muitas com o Partido Comunista Francês, que
concessões pontuais. saiu da guerra com enorme popularidade
forjada na resistência aos invasores
Os anos iniciais da Guerra Fria foram
muito conturbados e a sua análise é alemães. Com militantes acostumados à
rígida disciplina e à clandestinidade, os
motivo de controvérsias na
comunistas não encontravam
historiografia que se dedica ao estudo
dificuldades na ocupação de postos
tema; decisões foram tomadas sob
importantes, na resistência ao inimigo.
vultosa pressão e, muitas vezes,
Concluída a guerra, eles também
derivadas de interpretações errôneas das
passaram a ocupar papéis importantes na
intenções dos adversários. Naquele
nova sociedade.
contexto, ações defensivas eram lidas
como atos de agressão e desencadeavam Na Iugoslávia, aqui considerada como
vigorosas respostas do bloco oponente. uma exceção, os comunistas tiveram um
papel ímpar no processo de resistência;
A conformação de uma nova Europa
ressalte-se o que as forças guerrilheiras
Oriental
expulsaram as tropas invasoras antes da
As ditaduras ironicamente denominadas chegada do Exército Vermelho. Desde a
“Democracias Populares” implantadas invasão da Iugoslávia pelas forças do
na Europa Oriental no início da Guerra Eixo, nos primeiros meses de 1941, o
Fria devem ser entendidas no contexto minúsculo núcleo comunista dirigiu a
daquele conflito e como fruto derivado luta pela libertação nacional.
da partilha do mundo decidida em Ialta e Acrescente-se que, desde 1941, os
Potsdam. Salvo raras exceções, não comunistas iugoslavos colocaram a
foram revoluções populares que deram revolução na ordem do dia e, ao
origem aos novos regimes, mas foi o aproveitar-se da sua hegemonia na
peso da colossal máquina de guerra do resistência, promoveram a criação de
Exército Vermelho que garantiu a Comitês de Libertação Nacional por
instituição de uma nova ordem no Leste todo o país (Opat, 1987, p. 225-227). A
da Europa. situação iugoslava criou embaraços para
Antes da guerra, com a exceção do PC Stalin, pois, pelos acordos, a influência
da Tcheco-Eslováquia, os comunistas no país deveria ser partilhada, meio a
tinham pouca penetração na Europa meio, entre a URSS e as democracias
Central e Oriental. Porém, ao final da ocidentais. Apesar da constante
Guerra, a URSS havia conquistado um insistência dos soviéticos para que se
espaço que jamais tivera no cenário buscasse um acordo com o líder
internacional. O papel desempenhado nacionalista Shubashic na organização
pela União Soviética na guerra de um governo nos moldes democrático-
burgueses, os comunistas iugoslavos,

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que chegaram ao poder por suas novo governo em que os comunistas
próprias ações, não estavam dispostos a eram a maior força individual.
ceder. Não obstante, em função das Na Polônia, a situação era mais
pressões, Tito concordou em reunir-se complicada. Em primeiro lugar, havia
com Shubashic na Ilha de Vis e, em 08 uma rivalidade polaco-russa datada do
de agosto de 1944, foi firmado um tempo em que a primeira pertencia ao
acordo que previa a Colaboração entre o império czarista. Em segundo, no
AVNOI (Comitê de Libertação decorrer da guerra civil russa, o Exército
Nacional) e o Governo refugiado no Vermelho esteve às portas de Varsóvia.
Cairo (de influência anglo-americana). Em terceiro, e muito mais grave, os
Mesmo assim, a hegemonia comunista poloneses não perdoavam o Pacto
era esmagadora e Shubashic e seus Germano-Soviético e a conseqüente
seguidores tiveram que se contentar com ocupação do país pelas duas forças
as sobras. A 7 de março de 1945, Tito invasoras. Durante a ocupação soviética
formava seu primeiro Governo (LEVY, houve a deportação de mais de 800 mil
1984, p. 617-618; Opat, 1987, p. 215) pessoas para muitas regiões longínquas,
A Tchecoslováquia constituía-se no dentre as quais a Sibéria (Opat, 1987, p.
único país da região que possuía alguma 218).
tradição democrática e onde os Dentre os Partidos Comunistas
comunistas haviam possuído estrangeiros, com certeza o Polonês
implantação real no período que sofreu com mais veemência a
antecedeu a guerra. Além disso, as truculência dos expurgos stalinistas. Os
reverberações do Acordo de Munich, efeitos do terror acentuaram o
pelo qual as democracias ocidentais artificialismo da presença comunista no
toleraram a anexação de seus territórios país. Além disso, com a invasão da
(Sudetos) à Alemanha, ainda estavam Polônia, o que restava do Partido foi
vivas na memória do povo tcheco. A destroçado. Somente em 1943, alguns
partir de 1943, o Partido Comunista quadros formados pela Escola de
organizou a resistência armada e Moscou foram introduzidos no interior
elaborou um programa político para o do país, com o objetivo de reorganizar o
pós-guerra. Em paralelo, conforme os partido. Em dezembro de 1943, foi
territórios eram libertados, foi aplicado formado pelo Secretário Geral do
um plano de gestão civil para a região. Partido Comunista, o Comitê Nacional
Em dezembro daquele ano, o presidente do Interior (KRN) que tinha como
Benes, que se encontrava exilado, foi a função dirigir as regiões que libertadas
Moscou, onde manteve contato com das forças fascistas. Em 23 de julho de
Gotwald, líder do PC tcheco e membro 1944 foi instalado, em Lublin, o
do Presidium da Internacional Governo Polonês do Interior. As
Comunista até a sua dissolução. No direções das outras forças, democráticas
encontro, foram decididas as linhas e conservadoras, que se opunham à
gerais do novo governo a ser instituído dominação alemã, encontravam-se
assim que os invasores fossem exiladas em Londres (Levy, 1984, p.
derrotados. No final de 1944, o Exército 611-612). Isso facilitou o crescimento
Vermelho rompeu as fronteiras tchecas; dos comunistas, que tinham o apoio
em março de 1945, Gotwald foi eleito moral e material do Exército Vermelho.
presidente da Frente nacional que Todavia, os comunistas ainda eram
congregava os partidos antifascistas. No minoria e somente chegaram ao poder
final daquele mês, foi constituído um

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pela força militar soviética e pelo Aproveitando-se da ofensiva soviética,
emprego sistemático das práticas no início de 1944 os comunistas, ainda
estalinistas. na clandestinidade, começaram a
imprimir panfletos em que defendiam a
Na Albânia, o Partido Comunista tinha
ruptura da aliança com a Alemanha, a
uma existência bastante recente. Sua
derrubada da ditadura de Antonescu e a
fundação havia acontecido somente em
constituição de um governo democrático
novembro de 1941. Entretanto, o seu
popular. Em 20 de junho de 1944, foi
papel na resistência aos invasores
fundado o Bloco Nacional Democrático
possibilitou a rápida ampliação de suas
(BND), composto por uma frente de
bases populares. A estratégia
partidos antifascistas. Em agosto, grupos
desenvolvida tomou como base a
guerrilheiros combatiam ao lado das
organização da luta contra o agressor de
forças soviéticas, dificultando a defesa
tal forma que, imediatamente à
do inimigo, que se via entre dois fogos e
libertação das zonas ocupadas,
que, ao mesmo tempo, tinha de enfrentar
constituíram-se comitês que viriam a se
uma guerra convencional e outra de
consolidar nos núcleos do novo
guerrilhas. Em 23 de agosto, houve uma
governo. Os comunistas não eram os
insurreição em Bucareste, com o intuito
únicos a encaminhar a luta de resistência
de instituir um governo democrático-
na Albânia; os conservadores se
popular de hegemonia comunista. No
organizavam no Bali Kombetar, que se
entanto, o Rei Miguel articulou um
opunha aos comunistas. No decorrer do
governo em aliança com os militares e
processo de libertação do país,
outros setores das elites, no qual o BND
ocorreram diversos conflitos entre as
possuía apenas quatro dos quinze
forças da restauração e os
postos, sendo um para cada partido da
revolucionários. Em maio de 1944, após
Frente. Assim, as principais forças de
a ofensiva soviética, foi realizado o
resistência no país haviam ficado com
Congresso Antifascista de Libertação
uma parcela irrisória do poder. Em
Nacional, em Permeti, que esboçou um
decorrência, comunistas e social-
primeiro governo provisório. De
democratas retiraram-se do Bloco e
imediato foram tomadas medidas
criaram a Frente Democrática Nacional.
econômicas, entre as quais estava o não-
Do final de 1944 a meados de 1945, a
reconhecimento da dívida externa
Romênia esteve à beira da guerra civil e,
albanesa e a anulação das concessões
após sucessivas trocas de governos, o
estrangeiras e a proibição do retorno do
Rei Miguel, pressionado pelos
Rei Zog ao país, evitando assim que ele
soviéticos e pelos comunistas locais e
pudesse aglutinar forças ao seu redor e
sem alternativas, foi obrigado a
fortalecer a oposição ao governo em
empossar um governo de hegemonia
fase de constituição (Levy, 1984, p.
comunista (Opat 223-224).
619). Excetuando-se a Iugoslávia, a
Albânia foi o único país da Europa que, Na Bulgária, em 1942, foi constituída a
já em 1945, havia instituído um regime Frente Pátria que agrupava as forças
de partido único. Após libertação do antifascistas. No decorrer de 1943, com
país, em outubro de 1944, com o apoio o crescimento da resistência, foi criado o
decisivo da Iugoslávia, instituiu-se um Estado Maior do Exército Rebelde de
governo comunista. Libertação. No decorrer de 1944, as
forças rebeldes intensificaram as suas
Na Romênia, a ordem foi estabelecida
ações na expectativa da libertação do
diretamente pelo Exército Vermelho.
país. Em 08 de setembro, o Exército

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Vermelho atravessou a fronteira búlgara. Esse cenário povoava o imaginário das
No dia seguinte, houve uma insurreição elites com o pavor de uma vaga
em Sofia, que levou à instalação de um revolucionária. Nas eleições ocorridas
governo democrático-popular de no imediato pós-guerra, os comunistas
hegemonia comunista (Opat, p. 223; haviam obtido consideráveis ganhos
Levi, 614-616), sob a égide do Exército eleitorais na França e na Itália e, além
Vermelho. do mais, as suas organizações
enraizaram-se em outras áreas do
Na Hungria, a penetração comunista era
continente. Ao mesmo tempo, havia
bastante restrita. Em dezembro de 1944
intensos conflitos políticos na Turquia e
foi constituída a Frente de
no Irã, guerras civis em curso na Grécia
Independência. Forças Alemãs
e na China e numerosas lutas
estacionaram no país em março de 1944
anticoloniais na África e na Ásia. Como
e o governo de Sztójay, imposto por
resultado, a autoridade soviética não se
Hitler, prendeu boa parte dos quadros
restringia às áreas sob a sua tutela, pois
dos resistentes. Em maio foi constituída
a influência do comunismo havia se
a Frente de Libertação Nacional com um
espraiado pelo mundo.
programa que delineava a constituição
de um novo de regime. No final de Ainda nesse contexto, houve uma
setembro, quando os soviéticos experiência rica e, ao mesmo tempo,
cruzaram a fronteira húngara, a extrema conflituosa na Europa Oriental entre
direita, encabeçada pelo movimento meados de 1944 e 1946. Nela, houve
Cruzes de Flechas, derrubou o governo e alguns traços de pluripartidarismo,
instituiu uma ditadura, que foi economia mista e expansão democrática
caracterizada, em sua breve existência, como antes não se havia observado na
pela dizimação dos quadros rebeldes. maior parte da região. Há indícios de
Quando ocorreu a libertação do leste do que Stalin não planejasse a sovietização
país pelos soviéticos, foi empossada da região naquele momento. O seu
uma administração provisória e, ao final interesse era chegar a bons termos com
de 1944, o programa da Frente Húngara os ocidentais para obter recursos
foi adotado pela Assembléia Nacional visando à reconstrução da União
Provisória, dando origem a um governo Soviética. No entanto, a partir de
com marcada presença comunista. Nas meados de 1946, Stalin avaliou que
eleições de 1945, os comunistas Truman não cumpria o acordado em
obtiveram apenas 15% dos votos, Ialta e Potsdam e que desejava expulsar
enquanto a coalizão anticomunista a URSS para fora da Europa Oriental e ,
alcançou 85% (Levy, p. 616-617). A mais do que isso, empurrá-la de volta às
libertação da Hungria não resultou da suas fronteiras do pós-I Guerra Mundial.
revolta armada do povo e nem da Assim, o breve e incipiente ensaio
vontade popular expressa pelo voto, mas democrático na Europa Oriental foi
do Exército Vermelho que impôs a nova contido e os planos de fomento de das
ordem apesar dos resultados novas vias para o socialismo foram
desfavoráveis aos comunistas nas urnas. definitivamente sepultados.
Rapidamente, a repressão, a imposição
Em 1945, o Exército Vermelho
do unipartidarismo e da estatização da
controlava a maior parte da Europa
economia se fizeram presentes em toda
Central e Oriental. Em paralelo, a
a região. Os opositores foram
destruição provocada pela guerra lançou
aprisionados de modo sistemático e
Europa Ocidental à beira do precipício.

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muito deles executados após julgamento ocidentais (Hobsbawm, 1995, p. 255),
no mínimo viciados. geravam atrativos para os trabalhadores
mais qualificados; assim diariamente
Das crises ao Muro
centenas e mesmo milhares deles
É nesse contexto que deve ser pensado o passavam para o lado ocidental da
longo processo de busca de controle do cidade, o que provocava uma sangria na
território oriental da Alemanha que, economia do lado oriental da Alemanha.
pelos acordos de Ialta e Potsdam, Em decorrência, os soviéticos
ficariam sob influência predominante da começaram a criar restrições à
URSS. O Exército Vermelho foi a circulação entre as diferentes partes da
primeira força aliada a chegar a Berlim e cidade.
travou os combates mais sangrentos.
No final de 1946 os EUA e Reino Unido
Além disso, o rancor pela destruição
associaram as suas zonas, dando origem
promovida pelas tropas alemãs na União
à chamada bi-zona. No início de 1948, a
Soviética estimulou à revanche e à
França passou a integrar esse bloco
crueldade na conquista da cidade pelo
dando origem a uma tri-zona ocidental
Exército Vermelho. Essa violência
em Berlim. Em 20 de março de 1948, os
gerou ressentimentos do povo alemão, o
soviéticos retiram-se da reunião da
que veio a dificultar o controle soviético
Comissão de Controle Aliado, quando
sobre a região. Em adição, à União
os Ocidentais insistiram na criação de
soviética coube a parte menos
uma moeda única para a Alemanha. Para
industrializada da Alemanha e de forma
os soviéticos, a unificação monetária era
específica de Berlim.
uma estratégia para inviabilizar a
Os crescentes desacordos com o novo economia das áreas sob o seu controle.
governo dos EUA desvaneceram o A adoção unilateral da medida, em
sonho soviético de receber reparações de junho de 1948, levou à imposição de
guerra da Alemanha. Com a sua infra- restrições à circulação entre a zona
estrutura em frangalhos, os soviéticos soviética e outras áreas da cidade. Com
principiaram o desmonte e o transporte o agravar das tensões, em 24 de julho
para a URSS de usinas termoelétricas e daquele ano, a URSS aproveitou-se da
fábricas. Ato contínuo, dezenas de vantagem estratégica da cidade estar
milhares de prisioneiros alemães foram situada na porção oriental da Alemanha
“enviados aos campos de trabalhos e decidiu impor o completo bloqueio ao
forçados” na União Soviética (a tráfego entre a parte ocidental do país e
expressão máscara em grande medida o Berlim. O objetivo era estrangular a
emprego de trabalho escravo). cidade, que dependia de alimentos
Na parte da Alemanha sob controle provenientes da área ocidental do país, e
soviético foi iniciado um grande impor a retirada das outras forças de
investimento nas áreas básicas e na ocupação. De imediato, os EUA
formação de uma nova elite técnica e colocaram em prática uma ponte aérea
dirigente do país. Porém, os pesados que no, seu ápice, efetuou mais de mil
investimentos dos EUA no lado vôos diários e assim manteve a
ocidental de Berlim, que funcionava estabilidade da população na área
como uma vitrine do capitalismo, no ocidental.
momento em que as economias da A alternativa soviética a esse desafio
Europa Oriental se mostravam mais seria derrubar os aviões, mas, tal atitude,
dinâmicas que as suas consortes seria considerada uma declaração de

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guerra. Pretextar um novo conflito nesse 1997, p 75). Em 1952, novamente,
momento poderia ser desastroso para a Stalin havia proposto a unificação de
URSS, pois o país estava arruinado. uma Alemanha neutra e sem forças de
Além disso, Stalin sabia que os EUA ocupação. Contudo, a proposta nunca foi
poderiam empregar bombas nucleares considerada pelos ocidentais. Além
para atacar a URSS, o que de fato disso, em 1955, o próprio Khruschev
chegou a ser planejado pelos retirou as forças soviéticas de Viena,
estrategistas de Washington (LaFeber, que experimentava uma situação
1997, p. 77). Devido à sua completa próxima a de Berlim, com base em um
ineficácia, o bloqueio foi suspenso em acordo de neutralidade (Arms, 1994, p.
12 de maio de 1949. Durante o período 37).
do bloqueio, cada campo rearticulou as Foi nesse contexto que o governo da
suas forças e reordenou a sua área de Alemanha Oriental, após exigir a saída
controle. No final de novembro de 1948, das forças de ocupação de Berlim
os soviéticos instituíram um governo ocidental, iniciou a construção do Muro
próprio para a região oriental de Berlim. em agosto de 1961. Durante os vinte e
Em abril de 1949, foi criada a Aliança oito anos de permanência daquela
do Tratado do Atlântico Norte e, em colossal estrutura a dividir o povo
seguida, os EUA concluíram uma série berlinense, apenas cerca de cinco mil
de acordos militares nas mais diferentes pessoas conseguiram atravessá-lo.
regiões do planeta. Em maio, foi criada Nessas tentativas, calcula-se que
a República Federal da Alemanha aproximadamente trezentas pessoas
(RFA- Alemanha Ocidental) e, em foram mortas e outras tantas foram
outubro, a República Democrática da aprisionadas (Swift, 2003, map 21).
Alemanha (RDA- Alemanha Oriental).
Decorreram duas décadas desde que o
Nos anos seguintes, a Alemanha Muro de Berlim foi posto ao chão pelo
Oriental conviveu com a evasão povo das duas Alemanhas então
constante, sobretudo de jovens divididas por aquele artefato tão
qualificados para Berlim Ocidental. Da enfadonho e emblemático. A crise que
criação da RDA até a construção do levou à dissolução dos regimes pró-
Muro, foram cerca de dois milhões de soviéticos instituídos na Europa Central
fugitivos de um total de 16 milhões de e Oriental não foi um raio em um céu
habitantes (Swift, The Palgrave Concise cristalino, mas o ápice de um processo
Historical Atlas. London, 2003, map resultante das contradições internas
21). Desde 1958, Khruschev exigia uma àquelas sociedades. Ato contínuo, a
solução para o problema de Berlim; ele União soviética, em meio à profunda
chegou a sugerir a desmilitarização da crise de cunho institucional, econômico,
área. É importante ainda lembrar que, político e social esfacelou-se, dando
em 1948, a decisão de fazer o bloqueio origem a novos Estados e à Federação
de Berlim foi tomada, em parte, quando Russa.
Stalin considerou que a medida adotada
pelas potencias ocidentais impediria A queda do Muro de Berlim e a
uma reunificação da Alemanha. desagregação do mundo soviético
Molotov já havia dito a Benes, em 1946, levaram muitos anteverem uma nova era
que Stalim esperava reunificar a de prosperidade, segurança e paz e sob a
Alemanha como um Estado neutro após égide protetora dos Estados Unidos.
ela ser desmilitarizada e a URSS receber Essa previsão se alicerçava na percepção
as reparações de guerra (LaFebber, de que, ao longo das décadas anteriores,

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a mera existência da União Soviética mercado capitalista. Multidões de
havia significado uma ameaça à paz migrantes de áreas antes sob a órbita
mundial. Para os defensores desse ponto soviética fugiam do desemprego em
de vista, a ameaça comunista se massa e de toda a desestruturação social
ramificava da URSS para todo o mundo que a região experimentava. Essas levas
por meio de agentes, dos partidos de imigrantes agravavam as tensões, os
comunistas e dos seus simpatizantes. problemas sociais e étnicos na Europa
Ocidental. Nesse contexto, emergiram
Os defensores dessa perspectiva
novas formas de nacionalismo, conflitos
responsabilizavam o comunismo pelas
étnicos e de religião. (McCORMICK-
mazelas da sociedade capitalista, pois,
1995, p. 240-241).
dessa perspectiva, muitos avanços
sociais aspirados pelas democracias Uma vez passada a efervescência do
ocidentais não foram concretizados, uma momento, os EUA deram
vez que essas nações gastavam mais do prosseguimento à sua política externa
que gostariam na defesa da liberdade e baseada em perspectivas
da paz nas mais diversas áreas do intervencionistas e expansionistas,
planeta. Ainda segundo essa ótica, tal tendendo ao unilateralismo, o que
situação haveria obrigado as provocou sucessivas crises diplomáticas.
democracias ocidentais a reagirem à O aumento da instabilidade política
agressão soviética entre o período que se mundial levou ao vertiginoso aumento
seguiu ao final da II Guerra Mundial e à dos gastos militares estadunidenses.
desagregação do mundo comunista; Assim, já no segundo governo Bill
sobremaneira, os EUA se viam Clinton o orçamento militar
obrigados a arcar com vultosos estadunidense voltou a superar os gastos
orçamentos para a defesa do chamado dos períodos mais críticos da Guerra
mundo livre. Afirmava-se então que a Fria. (Munhoz, 2004, p.261-281).
vitória do bloco Ocidental na Guerra No governo George W. Bush, as
Fria levaria à superação dessa etapa e o políticas de expansão da influência
mundo poderia experimentar uma fase estadunidense e as investidas com vistas
de paz e prosperidade. Sublinho que isso à ocidentalização das zonas fronteiriças
não passou de mera construção do chamado mundo ocidental
ideológica que objetivava a expansão envolveram os EUA em sucessivos
das áreas de influência do capital conflitos. Alguns autores acusam uma
estadunidense na nova ordem mundial. profunda transformação na política
Após a euforia causada pela queda do externa estadunidense no período
muro, pela incorporação da Europa compreendido entre a queda do muro de
Oriental à chamada economia de Berlim e os ataques ao seu território
mercado, pela crise e posterior ocorridos em 11 de setembro de 2001.
desagregação do império soviético, já Para Chalmers Johnson, o fim da URSS
por volta de 1993 começaram a aparecer e da sua área de influência na Europa
claros sinais de pessimismo. A Oriental representavam tanto uma
incorporação da Alemanha Oriental pela oportunidade quanto um problema para
Alemanha Ocidental foi muito mais os EUA. De um lado, o fim da URSS
dispendiosa do que se esperava. Havia abriu toda a sua área de influência para a
falta de capitais no mercado potência vitoriosa. De outro, a não
internacional para financiar a existência da rival questionava a
incorporação do Leste Europeu ao manutenção de todo o sistema, através

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do qual os EUA mantinham o seu poder COOK, Chris & STEVENSON, John. The
de ação em todo o mundo. Os EUA Routledge Companion to World History since
1914. London: Routledge, 2005.
perderam a oportunidade de reestruturar
o seu sistema de influência com base no HOBSBAWM, Eric J. Era dos extremos: o
breve século XX. 1914-1991. São Paulo Cia das
poderio militar. O 11 de setembro
Letras, 1995.
operou como instrumento para justificar
a manutenção desse sistema. Para esse JOHNSON, Chalmers. The Sorrows of Empire:
militarism, secrecy, and the end of the republic.
autor, os EUA mantêm uma colossal New York: Metropolitan, 2004.
estrutura militar espalhada pelo mundo.
Nela estão envolvidas mais de meio KOLKO, Gabriel. The Politics of War: The
World and United States Foreign Policy, 1943-
milhão de pessoas entre militares, 1945. New York, Pantheon, 1990.
espiões, técnicos, professores
LaFEBER, Walter. America. Russia and the C
distribuídos em mais de 700 bases old War. New York: McGraw-Hill, 1997, 8ed.
militares alocadas em mais de uma
centena de países. Johnson conclui que a LEVY, Claude. "O Socialismo na Europa de
Hitler, na Época da Segunda Guerra Mundial"
república pensada pelos pais fundadores In: Jacques DROZ. História Geral do
cedeu lugar a um império informal de Socialismo. Lisboa: Horizonte, 1984, v. 9, p.
dimensão planetária. Assim, os EUA 561-630.
impõem os seus interesses ao mundo por McCORMICK, Thomas. America´s Half
meio do emprego da força. Acrescenta Century. United States foreign policy in the
que, apesar de toda essa descomunal Cold War and after. Baltimore: John Hopkins
máquina de guerra, há evidências a University press, 1995.
indicarem uma profunda crise de MUNHOZ, Sidnei J. Guerra Fria: um debate
confiança nos EUA (Johnson, 2004, p.1- interpretativo. In: TEIXEIRA DA SILVA,
12). Enquanto isso novas muralhas são Francisco C. (org). O Século Sombrio. Rio de
Janeiro: Elsevier/Campus, 2004, p. 261-281.
erguidas, dessa vez pelos EUA, para
restringir a entrada de imigrantes OPAT, Jaroslav. Do antifascismo aos
provenientes do México e por Israel na “socialismos reais”: as democracias populares.
In HOBSBAWM, Eric J. (org). História do
Palestina. marxismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, p.
213-250.

Referências Bibliográficas SWIFT, John. The Palgrave Concise Historical


Atlas of the Cold War. London: Palgrave
ARMS, Thomas. Encyclopedia of the Cold War. Macmillan, 2003.
New York: Facts on File, 1994.

*
Agradeço ao Dr. Reginaldo B. Dias pela atenta leitura dos originais e pelas suas valiosas
sugestões, porém ressalto que as idéias e eventuais incorreções aqui expressas são de minha inteira
responsabilidade.
**
SIDNEI J. MUNHOZ - Professor da área de História Contemporânea na Universidade Estadual de
Maringá (UEM); do Programa de Pós-Graduação em História (UEM), do Programa de Pós Graduação em
História Comparada (UFRJ) e do Consórcio Programa Rio de Janeiro de Estudos de Relações
Internacionais, Segurança e Defesa Nacional (CPRJ-Prodefesa). Foi um dos organizadores da
“Enciclopédia de Guerras e Revoluções do século XX”, Elsevier/Campus, 2004 e de “Impérios na
História”, Elsevier/ Campus, 2009.

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