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ORIENTE MÉDIO
E O MUNDO DOS ÄRABES
8SCSH / UFRGS
Copyright © Maria Yedda Linhares
Capa:
123 (antigo 27)
Artistas Gráficos
Revisão:
José W. S. Moraes
Aquisição: ‘ Owtíírv
Apresentação .................................. 7
O Oriente Médio e o mundo árabe................... 10
A formação dos Estados árabes contemporâneos 27
O mundo árabe sob o signo da mudança (1945-
1980)......................................................... 74
Conclusão: ontem e hoje ................................... 108
Indicações para leitura........................................ 114
«'•*...
&
APRESENTAÇÃO
&
O ORIENTE MÉDIO
E O MUNDO ÃRABE
A geografia
Embora não seja um dado permanente pois sobre
ela é constante a ação dos homens, caracteriza-se a
geografia da região, nos seus aspectos mais gerais,
pelo clima árido, o que torna seus solos sujeitos a um
processo impiedoso de erosão e difíceis as condições
de desenvolvimento de uma agricultura intensiva. Na
sua paisagem é comum a visão do deserto, com suas
populações nômades e suas caravanas que demandam
os centros de comércio. Hoje em dia, porém, estradas
começam a cortar os desertos e, pouco a pouco, o
caminhão, o trem e o automóvel vão se substituindo ao
camelo e ao cavalo. Apesar do baixo índice pluvio-
métrico característico da maior parte dessas terras,
os solos não deixam de ser férteis, constituindo-se no
fator preponderante para fixação das populações em
núcleos de povoamento. Assim, esses se concentram
ao longo das costas do Mediterrâneo, do Mar Egeu,
do Mar Negro, do Mar Cáspio, do Mar Vermelho, do
Golfo Pérsico e do Oceano Índico, regadas pelas
precipitações que as altas cadeias de montanha favo
recem; aproximadamente um terço da população to
tal vive nos vales dos cursos d’água que nascem nas
montanhas, como o Nilo, o Tigre e o Eufrates. Uma
boa parte da população não-árabe, como a do Afega
nistão, do Azerbaidjã (província iraniana) e da Tur
quia oriental vive, sobretudo, nos altos planaltos do
interior, bem munidos de chuvas. Quanto à vege
tação, as zonas mais protegidas por cobertura vegetal
apresentam-se mais ou menos isoladas e separadas
Oriente Médio e o Mundo dos Árabes 17
O Mundo Árabe
Os árabes, povo, etnia ou “nação”, desempe
nharam a partir do VII século da era crista um
papel de grande importancia na historia da humani
dade. Tendo a Arábia como berço, estenderam-se,
como conquistadores da fé de Maomé, como comer
ciantes e propagadores da cultura islámica, da Meso-
potamia (Tigre e Eufrates) ao Marrocos. Etnica- ~
mente pertencem ao grupo semita da raça cauca
siana. A península de onde, ao que se saiba, sãoA
originários, aparece isolada do resto do continente,
como uma projeção sobre o Oceano índico, entre o
Mar Vermelho e o Golfo Pérsico, como se os grandes
movimentos de povos que caracterizaram por mile
nios a história da Ãsia anterior lhe tivessem perma
necido estranhos. Mas é ainda no seu próprio interior
que ela mais se isola. A sua região central, o Nedj,
é separada do litoral por urna extensa cadeia de
montanhas e as regiões limítrofes mais facilmente se
comunicam umas com as outras do que propria
mente com o seu interior. No centro, dominam os
desertos, com escassa população. Na periferia, zonas
mais densamente povoadas e alimentadas por chuvas
— o Crescente Fértil — permitem a concentração de
agrupamentos humanos sedentários e favorecem o
surgimento de centros urbanos, entre os quais se dis-
18 Maria Yedda Linhares
O Islã
O Islã não é apenas o conjunto de dogmas teo
lógicos e normas sociais que compõem a religião
monoteísta pregada por Maomé, na Arábia do século
XII. Ê, antes de tudo, um tipo de comunidade civil
guiada pelas leis do Corão e por uma herança cul
tural comum, no sentido antropológico, ou seja,
como o “conjunto de todos os comportamentos so
cialmente adquiridos e transmitidos que se manifes
tam através de todas as suas obras; comportamentos
técnicos (inclusive as técnicas do corpo), práticas
econômicas, cognitivas, artísticas (inclusive as mani
festações mais humildes e mais momentâneas da pul
sação estética), jurídicas no sentido amplo (modos de
agrupamento, relações de parentesco, etc.), ideoló
gicas (nas sociedades pré-modernas, a religião), etc.”
(Máxime Rodinson, Les Arabes, Paris, PUF, 1979,
p. 20.) Islã, ou islame, na sua etimologia árabe,
significa resignação à vontade de Deus, e muçul
mano (do árabe muslim, ou seja, “submetido ao is
lame”) refere-se ao adepto de Maomé (ou Muham-
mad) e, portanto, aos ensinamentos do Profeta con
tidos no Corão (Qurãn) o livro sagrado, o livro das
revelações feitas por Deus, segundo a tradição. Sua
doutrina repousa na fé de um Deus transcendente,
Alá, próximo do Jeová dos judeus e dos cristãos,
e cuja pedra de toque é o dogma da predestinação e
cujas práticas incluem a oração cotidiana, com o
crente voltado para a direção de Meca — a cidade
santa — o jejum ritual, a caridade, a peregrinação
Oriente Médio e o Mundo dos Árabes 21
A Civilização Árabe
Existe um longo passado árabe anterior ao Islã.
Se nos dias de hoje a população muçulmana do globo
terrestre é superior a meio bilhão de pessoas, cal-
cula-se em tomo de 150 milhões o número de árabes,
os quais antes de serem adeptos do islamismo conhe
ceram o paganismo, o masdeísmo (religião dos persas
e medas), o judaísmo, o cristianismo. Nas guerras de
conquista pós-Maomé, sofreram eles influências cul
turais diversas, desenvolveram outras atividades,
fundiram-se a outras etnias. Ao longo dos séculos,
sobretudo no Oriente Próximo, comunidades cristãs
e judaicas de língua árabe permaneceram vinculadas
ao arabismo, embora não-muçulmano, e exerceram
um papel importante, sobretudo os cristãos, na evo
lução dos movimentos anticoloniais, a partir do sé-
Oriente Médio e o Mundo dos Árabes
culo XIX.
Por civilização árabe, entretanto, entende-se
como sendo o conjunto de fenômenos culturais e
artísticos referentes ao bloco político-ideológico do
Dar al-Islame (morada do Islã) em que os árabes
'tiveram uma importância mais do que significativa.
Como se poderia definir essa unidade? Se a língua
religiosa era o árabe (a língua do Corão), no entanto
as grandes realizações estéticas e intelectuais foram
realizadas por pessoas cuja língua materna podía
tanto ser o árabe quanto o persa, o turco, o berbere
ou qualquer outra, Mas será o árabe a língua lite
rária por excelência, aquela que serviu de base à ex
pansão do Islã. Inúmeros e brilhantes foram seus
poetas e prosadores, como nos primeiros tempos o
grande poeta lírico e satírico Imrul Kais (originário
do Nedj), ou Abu Nowas (de origem persa, do X sé
culo), citando-se, ainda, os contos das Mil e Uma
Noites (também de origem persa) e a grande obra de
um historiador norte-africano, Ibn Khaldum, que
viveu e morreu no Maghreb no século XIV. Através
dos árabes, o Ocidente pôde conhecer os filósofos
gregos cujas obras foram encontradas na biblioteca
dos Ptolomeus, no Egito, as quais foram por eles
comentadas. No tocante à ciência, foram notáveis
vulgarizadores, desenvolvendo as matemáticas (so
bretudo a álgebra e a geometria), a partir de Euclides
e Arquimedes, a medicina, a geografia, a astronomia,
ministrando o ensino (universidades do Cairo, de
Damasco e de Bagdá) e promovendo o saber. Nas
artes, distinguiram-se na arquitetura e no desenho
SSCSHiUFKG8
26 Maria Yedda Linhares
e hipotético pan-eslavismo.
/Pouco a pouco, vai-se decompondo o Império
Otomano apesar das tentativas de rejuvenescimento
que se fizeram através das reformas dos sultões Selim
III e Mahmud II (1808-1830), de caráter militar e
administrativo, ou seja, no sentido de modernizar
seus instrumentos de governo, e, ainda, em 1876,
a adoção de uma Constituição, de inspiração ociden
tal, a modernização da burocracia e da educação sob
Abd ul-Hamid II pós-1878, a ascensão dos “Jovens
Turcos” que, finalmente, se apoderaram do poder
em 1908 e nele permaneceram até 1918. Sob o movi
mento dos “Jovens Turcos” e seus diferentes seg
mentos políticos, a Turquia deu mais um passo para
a modernização de suas instituições, enfatizando o
nacionalismo turco e a laicização do Estado, com a
introdução do Direito Civil, a abolição da poligamia,
a emancipação da mulher e a adoção de programas
de desenvolvimento econômico e social. Tais esfor
ços, no entanto, não chegaram a atingir plenamente
os seus objetivos e, ao ter início a Guerra de 1914-
1918, o Império Otomano, aliado dos Impérios Cen
trais (Alemanha e Àustria-Hungria), tentou arregi
mentar os muçulmanos, sob sua jurisdição, inclusive
os árabes, mais uma vez em nome do Islã, decla
rando a “Guerra Santa” contra os exércitos da En
tente Cordiale franco-britânica e da aliança franco-
russa. A guerra mundial que se iniciava iria dar o
golpe de misericórdia no último Califado, o de Cons-
tantinopla.
Oriente Médio e o Mundo dos Árabes 31
Os movimentos nacionais
SSCSH / UFKQ1
76 Maria Yedda Linhares
Na Síria
A derrota militar teve aí efeitos imediatos. Um
golpe de Estado presidido pelo Coronel Husni Zaim
aboliu o regime parlamentar de inspiração ocidental
e anunciou profundas reformas com o objetivo de
erradicar a corrupção interna. Era apenas o início de
Oriente Médio e o Mundo dos Árabes 85
No Egito
A situação evoluiu aqui mais lentamente, en
quanto se deteriorava o sistema político cujos surtos
de popularidade ficavam ao sabor das agitações
nacionalistas antibritánicas. Foi no auge de uma
dessas crises em torno do Canal de Suez e do Sudão
que um grupo de Oficiais Livres, apoiados nos Ir
mãos Muçulmanos, depôs Faruk e com eles Nahas
Paxá e seu já decrépito Wafd, assim como o regime
parlamentar de tipo ocidental (23/26 de julho de
1952). A situação econômica e social do país era
particularmente grave. Em torno da monarquia
agrupavam-se os grandes proprietários de terra e
uma burguesia urbana detentora de riquezas e pres
tígio. No outro pólo da pirâmide social, situavam-se
os camponeses, a imensa maioria dos extremamente
pobres, enquanto nas cidades, como Cairo e Alexan
dria, aglomeravam-se as massas de desempregados e
subempregados pressionados pela alta dos preços. A
população crescia em ritmo acelerado (2% ao ano):
em 1882 atribuía-se ao Egito perto de 7,5 milhões de
habitantes; em 1937, cerca de 16 milhões (em 1975,
atingiría os 37 milhões, o que corresponde a um
acréscimo médio anual de 700000 habitantes). Im-
punham-se, assim, reformas capazes de mudar as
estruturas sociais, de modo a permitir uma distri
buição mais eqüitativa dos benefícios do crescimento
econômico através de uma política de investimentos a
longo prazo, subordinada às exigências das pressões
sociais, sem alienação dos recursos nacionais. Em
Oriente Médio e o Mundo dos Árabes 87
A reforma agraria
O ponto fundamental do regime nasserista foi a
iniciativa de modernizar o campo e realizar a reforma
agrária, medida pioneira no Oriente Médio. Em
1952, menos de meio por cento dos proprietários
rurais possuía mais de um terço das áreas cultiváveis
do país, enquanto 72 por cento dos agricultores não
chegavam a dispor de um feddan (cerca de meio hec
88 Maria Yedda Linhares
O saldo do nasserismo
A Líbia
Com cerca de 1800 000 km2 e 2 milhões de habi
tantes, engloba três províncias (Tripolitânia; Cire-
naica e Fezzan), constituindo, até 1969, o Reino
Unido da Líbia. Noventa por cento de suas terras são
desertas e povoadas por tribos nômades. Após a
Segunda Guerra Mundial (durante a qual se desen
rolou a chamada campanha da Líbia), o país ficou
sob administração franco-británica até 1949, quando
recebeu da ONU o direito de acesso à independência.
Em 1951, assumiu o governo o ex-emir Mohamed
Idris (herói da resistência nacional) com o título de
rei (Idris Ãl-Senoussi) que foi deposto por um golpe
militar chefiado pelo coronel M’Aammar Kaddafi.
Nessa data (setembro, 1969) instaurava-se a Repú
blica Árabe da Líbia, também intitulando-se socia
lista. Dez anos antes, com a espetacular descoberta
do petróleo, o até então mais pobre país da região
tornou-se o mais rico do Maghreb, com reservas de
fácil exploração, superiores a quatro bilhões de tone
ladas. Em dez anos apenas, a renda per capita anual •
saltou de 40 para 2 800 dólares. O coronel Kaddafi,
muçulmano, convicto da sua ortodoxia religiosa,
impregnado dos ideais pan-árabes, antiocidental, re
toricamente socialista, representa, sem dúvida, uma
das personalidades mais controvertidas não só do
Oriente Médio e o Mundo dos Árabes
Caro leitor: _ .
Se você tiver alguma sugestão de novos títulos Para
nossas coleções, por favor nos envie. Novas idéias sao
sempre bem recebidas.
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8SCSH / t.'FHGS
onheça também a coleção primeiros pai
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