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m íè & jm i
© 2001 G eraldo Severo de Souza Á vila
I a edição - 2 0 0 1
ISBN 85-212-029.5-4
oiRtnO•jà*
E D IT O R A A F IL IA D A
PREFÁ C IO
G eraldo Á v ila
B ra sília , m a io de 2001
Conteúdo
C a p í t u l o 0: P r e l im in a r e s de L ó g ic a , 1
C apítulo 2: S e q ü ê n c i a s I n f i n i t a s 45
In te rv a lo s, 45. Seq ü ên cias infinitas, 45. C on ceito de lim ite e p rim eira s
p ro p rie d a d e s, 47. D efinição de vizinhança, 48. S eq ü ên cias lim ita d a s , 51.
O p e ra çõ es com lim ites, 52. Exercícios, 54. S ugestões e soluções, 5-5.
S eq ü ê n cia s m o n ó to n a s, 56. O nú m ero e, 57. S u b seq iiên cias, 58. L im i
te s in fin ito s, 59. S eqüências recorrentes, 61. E xercícios, 62. S ugestões
e soluções, 64. In terv alo s encaixados, 65. P o n to s a d e re n te s e te o re m a de
B o lz an o -W eierstra ss, 6 6 . C ritério de convergência d e C auchy, 67. E xercícios,
69. S u g estõ es e soluções, 70. N o tas h istó ricas e co m p le m e n ta re s, 71. A
n ã o e n u m e ra b ilid a d e dos n ú m e ro s reais, 71. C a n to r e os n ú m e ro s rea is, 71.
B o lzan o e o te o re m a de B olzano-W eierstrass, 73.
C a pít u l o 3: S é r i e s I n f i n i t a s 75
P R E L IM IN A R E S DE LÓGICA1
P ro p o s iç õ e s e te o r e m a s
O bserve que d essas tr ê s prop o siçõ es, a s d u as p rim eiras são v e rd a d e ira s, m a s a
te rc e ira é falsa, p o is 9, 15, 21, e tc ., são n ú m ero s ím p ares q u e n ão são p rim o s.
U m teorem a é u m a p ro p o sição v erd a d e ira do tip o “P im p lica Q ” , o n d e P e
Q tam b ém são prop o siçõ es. E screve-se, sim bolicam ente, “P => Q ” ,-q u e ta n to
se lê “P im p lica Q ” , com o “P a c a rr e ta Q ’\ ou “Q é co n seq üên cia de P " . P é
a hipótese e Q é a tese do teo re m a. P o r exem plo, a pro po sição A a cim a é um
te o rem a , qu e p o d e se r esc rito n a fo rm a D => E , onde D e E são as proposições:
1Veja tam bém o artigo de Gilda Palis e Iaci Malta, na RPM 37. Para o leitor que ainda
não sabe, RPM significa R evista do Professor de Matemática, uma publicação da SBM (So
ciedade Brasileira de M atem ática). Essa revista pode ser assinada, e seus números atrasados
adquiridos, escrevendo para a Caixa Postal 66281, CEP 05428-999 São Paulo, SP.
2Veja, no final do capítulo 1, as notas sobre Fundamentos.
2 C a p ítu lo 0: P r e lim in a r e s
E ) n é u m n ú m e r o im p a r.
O u tr o e x e m p lo d e te o r e m a :
a c a + c
S e d u a s fr a ç õ e s a /b e c / d sã o ig u a is, e n tã o — = — = --------.
b d b+ d
E sse m e sm o te o r e m a p o d e ta m b é m se r e sc rito assim :
a c ac a + c
b d bd b+ d
C h a m a -s e L e m a a u m te o r e m a p r e p a r a tó r io p a r a a d e m o n s tra ç ã o d e o u tr o
te o re m a . C o rolá rio é u m te o r e m a q u e se g u e com o c o n se q ü ê n c ia n a tu r a l d e o u tr o .
M u ito s a u to r e s u tiliz a m a p a la v r a “p ro p o s iç ã o ” p a r a d e s ig n a r os te o r e m a s
d e u m a c e r ta te o r ia , re s e r v a n d o a p a la v r a “te o r e m a ” p a r a a q u e le s re s u lta d o s
q u e d e v e m se r r e s s a lta d o s c o m o os m a is im p o rta n te s .
C o n d iç ã o n e c e s s á r ia e s u f ic ie n te
S e A B C é u m tr iâ n g u lo re tâ n g u lo e m B , e n tã o A C 2 = A B 2 + B C 2.
S u a re c íp ro c a ta m b é m é v e r d a d e ir a , e a ss im se e n u n c ia :
S e A B C é u m tr iâ n g u lo , c o m A C 2 = A B 2 4- B C 2, e n tã o A B C é re tâ n g u lo
em B .
Q u a n d o a re c íp ro c a d e u m te o r e m a é v e rd a d e ira , esc re v e m o s o te o r e m a ,
ju n ta m e n te co m s u a re c íp ro c a , n a fo r m a P «=> Q . N e ste caso , q u a lq u e r u m a d a s
p ro p o siç õ e s P e Q é ao m e s m o te m p o n e c e s s á ria e su fic ie n te p a r a a v a lid a d e d a
o u tr a .
O b se rv e q u e P => Q é o m e s m o q u e “vale Q se v aler P ” ; o u a in d a , “v ale P
so m e n te se v a le r Q ” . P o r isso é c o s tu m e e n u n c ia r u m te o r e m a co m s u a re c íp ro c a ,
P Q , d iz e n d o “P se e s o m e n te se Q " . P => Q é a p a r te 11P s o m e n te se Q " , e
Q => P é a p a r t e “v ale P se v a le r Q ”, p ro p o s iç ã o e s ta q u e ta m b é m c o s tu m a se r
C apítulo 0: P relim in ares 3
D o is p r i n c í p i o s d e L ó g i c a
C o n tra p o s iç ã o
U m a a p lic a ç ã o
A c o n tra p o s iç ã o é f r e q ü ê n te m e n te u s a d a e m d e m o n s tra ç õ e s . V am o s d a r u m
e x e m p lo d isso , p rim e iro p ro v a n d o , p o r d e m o n s tr a ç ã o d ir e ta , q u e “o q u a d ra d o
d e u m n ú m e ro p a r ta m b é m é p a r ” . D e f a to , n ú m e r o p a r é to d o n ú m e ro n d a
fo rm a n = 2 k , o n d e k é u m in te iro . E n tã o , n 2 = 4 k 2 = 2 (2 k 2), q u e é d a fo rm a
2 k ' , o n d e k ' é o in te iro 2 k 2 . Is to c o m p le ta a d e m o n s tr a ç ã o d o te o re m a .
C o n sid e re m o s a g o ra o te o r e m a : “se o q u a d r a d o d e u m in te iro n for ím p a r,
e n tã o n ta m b é m s e rá ím p a r ” . P o d e m o s p r o v a r e s te te o r e m a d ir e ta m e n te , m a s
is to é d esn e c e ssá rio ; b a s t a o b s e r v a r q u e e le é o c o n tr a p o s to d o te o r e m a a n te rio r,
j á q u e a s p ro p o s iç õ e s “n é p a r ” e “n é ím p a r ” sã o a n e g a ç ã o u m a d a o u tr a .
D e m o n s tra ç ã o p o r a b s u rd o
A s c h a m a d a s d e m o n str a ç õ e s p o r re d u ç ã o ao ab su rd o, o u s im p le sm e n te d e m o n s
tra ç õ e s p o r absurdo, se g u e m u m r o te ir o p a r e c id o c o m o d a s d e m o n s tra ç õ e s p o r
c o n tr a p o s iç ã o . P a r a p ro v a r q u e A => B c o m e ç a m o s s u p o n d o A v e rd a d e ira e
B fa ls a ( e s ta ú ltim a é a c h a m a d a “h ip ó te s e d o ra c io c ín io p o r a b s u r d o ” , u m a
su p o s iç ã o a p e n a s te m p o r á r ia , a té c h e g a rm o s a u m a c o n tr a d iç ã o , u m a b su rd o .
S o m o s e n tã o fo rça d o s a re m o v e r a h ip ó te s e d o ra c io c ín io p o r a b s u rd o e co n c lu ir
q u e B é v e rd a d e ira ).
C o m o a p lic a ç ã o , v a m o s d e m o n s tr a r o te o r e m a m e n c io n a d o a tr á s , d e q u e
N u m p la n o , p o r u m p o n to fo r a de u m a re ta n ã o se p o d e tr a ç a r m a is que u m a
p e r p e n d ic u la r à reta dada. V im o s q u e e sse te o r e m a se e sc rev e n a fo rm a A => B ,
o n d e A e B sã o as p ro p o siç õ e s:
A n e g a ç ã o d e B é q u e e x is te m a is q u e u m a p e rp e n d ic u la r ; o ra , p a r a a firm a r
C a p ítu lo 0: P relim inares 5
N Ú M E R O S R E A IS
N ú m e r o s ra c io n a is e r e p r e s e n ta ç ã o d e c im a l
41 41 41 x 5 205
2,0 5 ;
20 22 x 5 22 x 52 100
1Esses números chamam-se “naturais” justamente por surgirem “naturalm ente” em nossa
experiência com o mundo físico, já nos primeiros anos da infância. D este ponto de vista,
“zero” está longe de ser um número natural. Aliás, levou muito tem po para os matemáticos
concederem ao zero o status de número. No entanto, é freqüente o aluno perguntar: “Professor,
zero é número natural?” Isto ocorre porque certos autores incluem o zero entre os naturais.
Nada de errado nisso, é apenas uma convenção, que os algebristas principalmente preferem
fazer, por ser conveniente em seu trabalho. Coisa parecida acontece com a exclusão do número
1 como número primo, sim plesmente porque isso é conveniente em teoria dos números.
C a p ítu lo 1: Os n ú m e ro s reais 7
63 — ______
__ 63 — _______
63 x 5 2 _ 1
40 2a x 5 2:i x 5:i ’ .
Vem os, p o r esses exem plos, que um a fra çã o o rd in ária em fo r m a irredutíveP
se. tra n sfo rm a em decim al fin ita se seu d e n o m in a d o r não contem outros fatores
■primos além de 2 e 5.
O que acontece se o d e n o m in ad o r d e u m a fraçã o irre d u tív e l co n tiv er algum
fa to r prim o d iferente de 2 e 5? C o n sid erem o s o ex em p lo d a conversão de 5 /7
em decim al, ilu stra d a abaixo. N a p rim e ira d iv isão (d e 50 p o r 7), obtem os o
re sto 1 ; depois, nas divisões segu in tes, vam os o b te n d o , su cessiv am en te, os restos
3, 2, 6 , 4 e 5. No m om ento em que o b te m o s o re s to 5, que já o co rreu antes,
sab em o s q ue os algarism os do q u o cien te v o lta rã o a se re p e tir, resu lta n d o 110
p e río d o 714285. E ssa rep etiç ã o a c o n te c e rá c e rta m e n te , pois os possíveis restos
d e q u a lq u e r divisão p o r 7 são 0, 1, 2, 3, 4, 5 e 6 . V em os ta m b é m que o período
te r á no m áxim o seis algarism os.
5 , 0 0 0 0 0 0 0 0 LI_______________
10 0 ,7 1 4 2 8 5 7 1 . . .
30
20
60
40
50
10
E ste ú ltim o exem plo e os an terio res nos p e rm ite m con clu ir q u e toda fração
irredutível p /q , quando convertida à fo r m a decim al, resulta n u m a decim al fin ita
ou periódica, ocorrendo este ú ltim o caso se 0 d e n o m in a d o r q co n tiver algum
fa to r p rim o diferente de 2 e 5.
N ú m e r o s ir ra c io n a is
2Observe que a fração tem de ser considerada na sua forma irredutível. Por exemplo. 63/40
pode ser escrita na.forma redutível 189/120, e agora o denominador contém o fator primo 3.
8 C a p ítu lo 1: O s n ú m e ro s reais
0 ,1 7 1 1 7 7 1 1 1 7 7 7 1 1 1 1 7 7 7 7 ...
U m exem plo im p o rta n te d e n ú m e ro irracio n al é o conhecido n ú m e ro ir, d a d o
aq u i com su a s p rim e ira s 30 casas decim ais:
7r — 3,141592653589793238462643383279. . .
y/ 2 é n ú m e r o i r r a c i o n a l
P arec e q u e o p rim e iro n ú m e ro irracio n al a ser desco b erto foi \/2 . E m g eral, é
difícil sa b e r se u m d a d o n ú m e ro é irra cio n al ou não, com o é o caso do n ú m e ro ir,
c u ja d e m o n stra ç ã o de irra c io n a lid a d e n ão é sim ples. B em m ais fácil é d e m o n s tra r
que o n ú m e ro \P Í é irra c io n a l. V am os fazer essa d em o n straç ã o ra c io c in a n d o p o r
a b su rd o . Se %/2 fosse racio n a l, h a v eria dois inteiros po sitiv os p e q, ta is que
v^2 = p / q , sen d o p /q u m a fração irred u tív el, isto é, p e q p rim o s e n tre si, ou
seja, eles. não tê m d iv iso r co m u m m a io r do que 1. E levando essa ig u a ld a d e ao
q u a d rad o , o b tem o s 2 = p 2 / q 2, d o n d e
p 2 = 2 q2 . (1.1)
N ú m e ro s re a is
E x e rc íc io s
1. Prove que a dízima periódica 0 , 2 3 2 3 2 3 ... é igual a 23/99.
11. Estabeleça a seguinte regra: toda dízima periódica simples ( “sim ples” quer dizer que o
período começa logo após a vírgula) é igual a. urna fração ordinária, cujo numera dor c
igual a u m período e cujo denominador é constituído de tantos 9 quantos são os ,<
algarismos
do período.
12. Prove que a dízima periódica 0, 21 507 5Ó7 . . . e igual a
2 1 5 0 7 - 21 21486 3581
99900 “ 9990 “ 1655'
27. Prove que um número N é quadrado perfeito se e somente se todos os fatores primos de N
comparecem em N com expoentes pares.
28. Prove que um número que não seja quadrado perfeito, tampouco terá raiz quadrada
racional.
R e s p o s ta s , s u g e s tõ e s e s o lu ç õ e s
3. 1 + 6 /9 = 5/3.
9. 3 + 2/99.
11. Seja x = 0, a ia 2 . . . a r aia .2 . . . a r . . . um a dízima periódica simples, cujo período possui os r
algarismos a i, a i ........ a r. M ultiplicando ambos os membros da igualdade por 10r, obtemos:
, , 21507-21 21486
donde x = —----- --------- = -------- .
99900 99900
3581
Dividindo numerador e denominador por 6, obtemos, finalmente, x = ■_.
’ 16650
15. Seja x = 3 , 2 6 6 . .. Então, lOx = 32 + 2 /3 = 9 8 /3 , donde x = 98/30 = 49/15.
18. A resolução deste exercício e do exercício anterior utiliza o mesmo raciocínio do texto no
caso de y/2. Se y p fosse racional, teriamos y/p = m / n , com m e n primos entre si. Então,
p ~ m 2/ n 2, donde m 2 — p n 2. Isso m ostra que m 2 é divisível por p\ logo, m também
é divisível por p, ou seja, m = r p t com r inteiro. Daqui e de m “ = pn" segue-se que
r2p 2 = p n 2, donde n2 = pr2, significando que n também é divisível por p. Mas isto é
absurdo, senão m e n seriam ambos divisíveis por p e m / n não seria fração irredutível. O
absurdo a que chegamos é conseqüência da hipótese inicial de que y/p fosse racional. Somos
assim forçados a afastar esta hipótese e concluir que y/p é irracional.
21. Afirmação falsa. B asta tomar a = 10 + \/2 e 6 = —\/2 , que são números irracionais. No
entanto, (a + 6 )/2 = 5, que é racional.
22. Sejam a um número racional e a um número irracional. Se x = a + a fosse racional, então
q = x — a seria racional (por ser a diferença de dois racionais), o que é absurdo. Assim,
concluímos que a + a é irracional. Prove, do mesmo modo, que a — a e c x — a são irracionais.
23. Sejam a irracional e a / 0 racional. Se x = a a fosse racional, o mesmo seria verdade de
a = x /a , o que é absurdo.
C a p ítu lo 1: O s n ú m e ro s reais 11
(x + y) + (x - y) (x + y ) ~ ( x - y)
X = ----------- - ----------- e V = -------------------------.
2 ■ 2
N o ç õ e s s o b re c o n ju n to s
E s p e c if ic a ç ã o d e c o n ju n to s
A = {1, 3, 5, 7}
4 = { i 6 R : x 2 — 4 x + 3 > 0}
A c = X - A = {x € X : x A }.
B — A — { x & B : x tf: X }.
P r o p r ie d a d e s g e ra is
D arem os a seguir u m a série de ig u ald a d e s e n tre co n ju n to s, as q u ais são dem ons
tra d a s p rovando, em c ad a caso, que o p rim e iro m em b ro e s tá contido no segundo
e que o segundo e stá co n tid o no prim eiro:
A \J B = B U A \ A C\ B = B n i ; AU(BUC) = (iUB)UC;
C a p ítu lo 1: Os n ú m e ro s reais 13
(ci) (b)
Fig. 1.2
An(BuC)=(/lnB)u(An C ).
E x e rc íc io s
2. Prove que A D B = B (1 A.
3. Prove que A U (B U C) = {A U B ) U C.
4. Prove que A n ( B D C) = {A D B ) 0 C.
( A U B ) c = A C(~\BC e ( A r \ B ) c = A CU B C.
S u g e s tõ e s e so lu ç õ e s
1. Para mostrar que o primeiro membro está contido no segundo, seja x £ A U B . Então, ou
x 6 A, ou x £ B , ou ambos. Se x £ A, então x € B U A; e também , se x £ B , x tem de
estar em B U A. Fica assim provado que A U B c B U A . D o m esm o m odo prova-se que
B U A C A U B . Concluímos então que U B — B U A.
3. Seja x € A U ( B U C). Se x 6 A, então x 6 A U B , logo, x 6 ( A U B ) U C ; e s e i 6 B U C ,
há duas possibilidades a considerar: x € B ou x S C. x G B im plica x s A U B , logo,
x e (A U B ) U C ; e x e C também implica x 6 ( A U B ) U C. Fica assim provado que
A U ( B U C) C (A U B ) U C. A demonstração de que {A U B ) U C C A U ( B U C ) é
inteiramente análoga.
8. x G B — A ' t > x £ B e x q : A < $ - x £ B e x 6 A c < = > x Ç z B n A c. Isto significa que
i 6 B - i 4 # i ê B í 1 A c, ou seja, B — A = B fl A c.
9. X e ( A U B ) c x <£ A U B x $ A e x <£ B x e Ac e x e B c x e A c n B c.
C o n ju n to s e n u m e rá v e is
A e n u m e r a b ilid a d e d o c o n ju n to Q
1 2 3 4 5 6
6 ’ 5 ’4 ’ 3 ’ 2 ’ I
é o g ru p o d as frações com n u m erad o r e d en o m in a d o r so m a n d o 7 , e n q u a n to
1 3 5 7
7 ’ 5’ 3 ’ I
é o g ru p o c o rre sp o n d e n te à som a 8 . O bserve que c a d a g ru p o desses te m u m
n ú m ero fin ito de elem entos. B a s ta en tão escrever to d o s os g ru p o s, u m após
o u tro , n a o rd em crescente das som as corresp o n d en tes, e e n u m e ra r as frações n a
o rd em em q ue ap arecem . E claro que to d o s os n ú m ero s ra c io n a is ap are c e rã o
n essa lista:
1 1 2 1 3 1 2 3 4 1 5
1 ’ 2 ’ I ’ 3 ’ 1 ’4 ’ 3 ’ 2 ’ I ’ 5 ’ T ’‘"
N ú m e r o s ir ra c io n a is _
O p rim e iro n ú m e ro irracio n al com que nos fam iliarizam o s, a in d a n o ensin o fun
d a m e n ta l, é o nú m ero w, razão do c om p rim en to de u m a circ u n fe rê n c ia pelo seu
d iâ m e tro . M as, com o a d em o n straç ão d a irracio n alid a d e desse n ú m e ro e s tá fora
do alca n ce d a M a te m á tic a do ensino fu n d a m e n ta l e m édio, o a lu n o é a p en as
in form ado de que a e x p a n sã o d ecim al desse n ú m ero é in fin ita e n ão perió d ica.
U m p o u co m ais ta rd e , a in d a no ensino fu n d am en tal, o a lu n o tr a v a conheci
m e n to com os radicais; e, novam ente, é ap e n as in fo rm ad o de q u e n ú m e ro s como
\ / 2 , V i , etc., são n ú m ero s irracion ais (e m b o ra e ste ja p e rfe ita m e n te ao seu al
cance e n te n d e r a d em o n stra ç ão de irracio n alid ad e de \ Í 2 q u e fizem os a trá s , bem
com o o u tr a s d em o n straç õ es d ad a s nos exercícios).
E sse “a p re n d iz a d o ” dos nú m ero s irracion ais p o d e d e ix a r n o a lu n o a im
p ressão de que n ú m ero s irracio n ais são o ir e algu ns rad ic ais; e ele talv ez a té
form e a id éia de que o co n ju n to desses n ú m ero s se ja b e m re d u z id o , n o m áxim o
en u m eráv el. M as isto n ão é v erdade; tra ta -s e de u m c o n ju n to in fin ito e não
en u m eráv el (E xerc. 7 a d ia n te ), fato este que segue com o c o n seq ü ê n c ia d a não
e n u m e ra b ilid a d e do c o n ju n to dos n úm eros reais, que p ro v arem o s a seguir.
A n ã o e n u m e r a b ilid a d e d o c o n ju n to R
V im os, u m p o u co a trá s , q u e o con ju n to Q é en um eráv el. Isto p o d e ria a té su g erir
que to d o s os c o n ju n to s infinitos fossem enum eráveis, com o de fa to se a c re d ita v a
fosse v e rd a d e. E m 1874 C a n to r su rp re en d e u o m u n d o m a te m á tic o com u m a de
su as p rim e ira s d e sc o b e rta s im p o rta n te s sob re c o n ju n to s, a d e q u e o c o n ju n to
dos n ú m e ro s reais n ão é enum erável, ou seja, tem c a rd in a lid a d e d ife re n te d a do
c o n ju n to N dos n ú m eros n a tu ra is.
C a p ítu lo 1: Os n ú m e ro s reais 17
= 0 , Í i n a i 2 £ii3 . . . n in . . .
. X2 = 0, &21a 22^23 ■• • a 2n ■■■
*3 = 0, 031032033 • - • «3 n ■■■
X n — 0, O n la n2a n3 • • • a nn • ■■
3A regra não pode produzir um número que só contenha zeros a partir de uma certa casa
decim al, pois tal número seria convertido noutro com algarismos 9 a partir dessa mesma casa,
o qual poderia coincidir com algum número da lista.
18 C a p ítu lo 1: O s n ú m e ro s reais
E x e rc íc io s j
1. Construa uma bijeção entre o conjunto N e o conjunto dos números ímpares positivos.
2. Construa uma bijeção entre o conjunto N e o conjunto dos números quadrados perfeitos.
3. Construa uma bijeção entre o conjunto N e seu subconjunto { 71, n + 1, n + 2 , . . .}.
4. Sejam A um conjunto finito e B um conjunto enumerável. Mostre que o conjunto A U B é
enumerável.
^ ^ S u p o n d o que A e B sejam dois conjuntos infinitos enumeráveis, mostre que A U B é enu
merável. Prove, em seguida, que a união finita de conjuntos enumeráveis é enumerável.
6. Prove que se um conjunto infinito não enumerável A é a união de dois outros B e C , então
pelo menos um destes não é enumerável.
7. Prove que o conjunto dos números irracionais não é enumerável.
8. Construa um a bijeção do intervalo (0, 1) na reta (—0 0 , + 0 0).
R e s p o s ta s , s u g e s tõ e s e s o lu ç õ e s
1 . 71^271 + 1, n = 0, 1, 2 3 , . ...
4. Suponhamos que os elem entos de A e B já estejam enumerados, de sorte que
A = { 0 1 , . . • a r} e B — {b\, bor .. . } . .
Isto sugere a bijeção / : N t—►A U B , assim definida:
/ Ü ) = “i , j = f ( j ) = àj-r, j = r + 1, r + 2 , . . .
G r a n d e z a s in c o m e n s u rá v e is
A m e d iç ã o d e s e g m e n to s
A , , , , , , , g
” ~ ~ AB_ = _S_
CD 5
C * ’ 1 ' O F~F
Fig. 1.3
B
AB 29
CD 26
C . D
F ig. 1.4
Foram os pró p rio s p itag ó rico s q u e d e sco b rira m que o lado e a diago nal de um
q u a d ra d o são g ran d ezas in c o m en su rá v eis. Isso aconteceu provavelm ente e n tre
450 e 400 a.C . V am os descrever, a seg u ir, u m arg u m en to geom étrico que dem o n s
tr a esse fato.
A Fig. 1.5 ilu s tra u m q u a d ra d o c u ja d iag on al é d e n o ta d a p o r 8 = A B e cujo
lado é A = A C . S u p o n h a m o s q u e S e A sejam com ensuráveis. E n tã o e x istirá u m
terceiro segm ento a q ue seja u m su b m ú ltip lo com um de S e A. Fazem os ago ra
a seguinte co n stru ção : tra ç a m o s o arco C D com c en tro em A e o seg m ento
C a p ítu lo 1: O s n ú m ero s reais 21
/
C A
Fig. 1.5
A= BC = B E + E Ç = B E + BD
ou seja,
( 1 . 1)
( 1 .2 )
O re tâ n g u lo á u re o
B F C
a b
a
Fig. 1.6
Í7+ b
' A F. D
^ f (1-3)
a b
' Cl b
2 b-a
a-b
U m a in f in id a d e d e r e tâ n g u lo s á u r e o s
a+ b a (a + b)
o u seja, - =
. o b a —b b a —b
P elo raciocínio an terio r, q u a isq u er dois e lem en to s co n secu tiv os dessa seqüência
são os lados de um retâ n g u lo áureo.
D iv is ã o á u r e a
A C R
F ig. 1.8
A C4 C3 C, Cj B
Fig. 1.9
E x e rc íc io s
1. Utililzando o Teorema de Pitágoras e ó fato de que o lado e a diagonal de um quadrado são
grandezas incomensuráveis, prove que não existe número racional cujo quadrado seja 2.
2. Prove, geometricamente, que os lados de um retângulo áureo são grandezas incomen
suráveis.
3. Desenhe um pentágono regular de lado l e diagonal d. Prove que d / l é a razão áurea (donde
segue que esses segmentos são incomensuráveis).
4. Prove, geometricamente, que o lado e a diagonal de um pentágono regular são incomen-
S u g e s tõ e s ■
1. Tome um quadrado de lado unitário e aplique o teorema de Pitágoras.
2. Com referência à Fig. 1.8, suponha que existam um segm ento cr e números inteiros a e b
satisfazendo a condição:
A D = (a + b)(7 e A B = ba.
Em conseqüência, todos os números da seqüência (1.4) seriam inteiros. Termine a demons
tração.
C a p ítu lo 1: Os n úm eros reais 25
A c ris e d o s in c o m e n s u rá v e is e s u a s o lu ç ã o
A te o r ia d a s p ro p o rç õ e s
h 's F '
nA = m B e nC = m D . '/
nA > m B, nA = m B ou nA < m B;
e ig u a lm e n te , se
nC > m D , nC = m D ou nC < m D;
O bserve, pelo E xerc. 3 ad ian te, que no caso em que A e B são com ensu
ráveis, A : B = m : n eqüivale a dizer que n A = m B . E n tã o , d e aco rd o com a
D efinição de E udox o , no caso com ensurável, d izer que A : B = C : D eqüivale
a d izer q u e n A = rnB n C = m D . No caso in co m en su ráv el, e s ta s ig ualdad es
n u n c a ac o n te cem ; m as E udoxo co n tin u a definindo a ig u a ld a d e A : B = C : D
desde que, p a ra to d o s os n ú m ero s m e n,
D e s e n v o lv im e n to p o s te r io r d a M a te m á tic a
Foi som ente a p a r tir do início d o século X III que a “m a te m á tic a nu m éric a”
com eça a chegar à E u ro p a , v in d a d a ín d ia e d a C h in a p o r interm édio dos ára b e s.
T rês séculos m ais ta r d e a Á lg e b ra com eç a a se desenvolver, so b retu d o n a Itá lia ,
p re p a ran d o o te rre n o p a ra to d o o d esen v o lv im en to d a G eo m etria A n alítica e do
C álculo no século X V II.
C onvém n o ta r que to d o esse d esen vo lv im en to m ais recente d a M a te m ática ,
so b retu d o nos séculos X V II e X V III, se d e u g ra ça s à a titu d e dos m atem ático s,
que não se d e ix aram vencer p e la s d ificu ld ad es n a tu ra is d a fa lta de u m a te o ria
dos fundam entos. C om o dissem os h á p o u co, os gregos, ao resolverem a crise
dos incom ensuráveis, a c a b a ra m d e sv ian d o -se do curso n a tu ra l de evolução d a
M a te m á tic a p o r se a p eg a re m a excessivos critério s de rigor. Ao co n trário disso,
seus colegas dos ú ltim o s séculos n ã o se a tiv e ra m ta n to às exigências do rigor,
p o r isso m esm o d e sb ra v a ra m e c o n q u is ta ra m te rritó rio s consideráveis.
A M a te m n á tic a desenvolveu-se e x te n sa m e n te nos tem p o s m odernos (isto é,
a p a rtir do século X V I), a té o início d o século X IX , m esm o sem q u alq u er fun
d am en tação dos d iferen tes siste m a s n u m érico s. T rab alh av am -se livrem ente com
os núm eros racio n ais e irra cio n a is, desenvolvendo to d a s as suas p ro p ried ad es,
sem que houvesse u m a te o ria e m b a sa n d o esse desenvolvim ento. Isso a co n te cia
m uito à m a n e ira do que fazem os h o je no ensino fu n d am en tal, q u an d o in tro
duzim os os radicais. A ssim , a c o stu m a m o -n o s com p ro p ried ad es com o e sta, que
p e rm ite m u ltip licar dois n ú m e ro s irrac io n ais, re s u lta n d o em um núm ero inteiro:
\/l2 v /3 = v/36 = 6 ; m as a p re n d em o s a tr a b a lh a r com essas p ro p ried ad es a n tes
m esm o de term o s u m a te o ria que as ju stifiq u e .
Foi só em m ead os do século X IX q u e os m a te m á tic o s com eçaram a se n tir
necessidade de u m a fu n d a m e n ta ç ã o rig o ro sa dos diferen tes sistem as num éricos.
E é in teressan te o b serv ar que a fu n d a m e n ta ç ã o desses sistem as o correu n a o rd em
inversa: prim eiro fo ram o rg an izad o s os n ú m ero s com plexos, depois os n úm ero s
reais, os racionais, os in teiro s e, fin alm en te, os n ú m ero s n a tu ra is.
E x e rc íc io s
1. Dizemos que duas frações são iguais quando têm a mesma forma irredutível. Por exemplo,
1 2/40= 18/60, pois
12 3x4 3 18 3x6 3
40 “ 10 x 4 ~ 10 6 60 ~ 10 x 6 “ 10'
Mas podemos também definir igualdade de frações pela igualdade do produto dos meios
com o produto dos extremos, como neste exemplo:
1O 1O
_ = j_ ^ 12 x 60 = 18 x 40.
Prove que esses dois modos de definir igualdade de frações são equivalentes, isto é, prove o
seguinte: dadas duas frações m / n e m ' f n , m n = m n existem números primos entre
si p e q, e números inteiros positivos a e b, tais que
íjP r o v e que o conjunto E das raízes quadradas de 2 por falta não tem máximo.
5J Prove que o conjunto D das raízes quadradas de 2 por excesso não tem mínimo.
S u g e s tõ e s e s o lu ç õ e s
1. A demonstração no sentido <= é fácil e fica a cargo do leitor. Para demonstrar a recíproca,
suponha que m n = m ! n . Sendo a o mdc de m e n, teremos: m = ap e n = aq, onde p e q
são primos entre si. D estas duas últimas relações segue-se que m n ' ~ a p n ' e m ' n = aqm'\
e destas obtem os p n — q m ! . Daqui se conclui que p divide o produto m ! q f e, como é primo
com q, divide m ! . Portanto, existe b tal que m = bp. Finalmente, para provar que n = bq,
basta substituir m — bp em p n = q m ' .
2. Prove que n A = m B ; em seguida, que n m ' a ' = m n ' a , donde n m ' = m n ' .
3. Não pode sim plesm ente escrever A / B = m /n e multiplicar cruzado; afinal, é precisamente
isto que se pede para provar!
que se deseja provar é que se r é um número racional positivo tal que r2 < 2, existe outro
'número racional s > r tal que .s2 < 2. Isto se consegue aumentando r de uma quantidade
bem pequena, digam os, l / n , com n um inteiro bem grande. Mas quão grande? Vejamos:
tomando 5 = r -f l / n , queremos que
;= ( r + <2,
ou seja,
2 2r
T -\----
ou ainda,
2r + - ) - < 2 -
Temos de resolver esta inequação para determinar possíveis valores de n. Podem os evitar
isso, resolvendo um a inequação bem mais simples. Para isso adotamos um procedimento
que é freqüente em Análise: como n > 1, tem os q u e íT ^ ^ l . portanto,
2r + - ] i < ( 2 r + l ) i ÍU \
n )n n n ^\
V; ^ L
Agora basta resolver .a inequação ' T -^ ^ /'\
(2r + l ) i < 2 - r 2,
que resulta em n > (2r -f-1)/(2 —r2). É claro que com qualquer n nessas condições teremos
também (r 4- 1/rc)2 < 2, que é o resultado desejado.
C a p ítu lo 1: Os n ú m ero s reais 29
D e d e k in d e os n ú m e r o s re a is
C o r te s d e D e d e k in d
A re la ç ã o d e o r d e m .
O p e ra ç õ e s co m n ú m e ro s re a is
1 .4 . D e f in iç ã o . D ados os n ú m e ro s reais a = ( E 1, D 1) e P = (E 2 , D 2 ),
defin im os sua som a a + P com o sen d o o corte (E , D ), onde
E = {x + y: x e E \, y 6 E 2 }
O te o r e m a d e D e d e k in d
S u p r e m o e ín f im o d e u m c o n ju n to
U m c o n ju n to com o este últim o, que é lim itad o à d ire ita e à esq u erd a ao
m esm o te m p o , é d ito , sim p lesm en te, conjunto lim itado. E ta m b é m lim itad o
q u a lq u e r in te rv a lo de ex tre m o s finitos a e b.
Q u a n d o u m co n ju n to é lim itad o su p erio rm en te, ele p o d e te r u m elem en to que
seja o m a io r de to d o s, ò q u a l é ch am ad o o m áxim o do c o n ju n to . P o r exem plo,
o c o n ju n to dos n ú m ero s racio n ais x tais que x < 10 te m 10 com o seu m áxim o.
J á o c o n ju n to
.2 3 ?4 ........ ( 7i+
1 -6 )
1
n ã o te m m áx im o , e m b o ra seja lim itad o su p erio rm en te. O s elem en to s desse
c o n ju n to , com o vem os, são frações d isp o stas de m a n e ira crescen te:
1 2 3 n '
< r <
2 3 4 n + 1
n n + 1
<
■ n + 1 n + 2
{2, 3, 9 /2 , 5, 6 , 1 3 /2 , 7}
E x e rc íc io s
1. Dado um corte ( E , D), prove que se e € E e x < e, então x € E \ e que se d £ D e y > d,
então y 6 D . Isso significa que E é uma semi-reta que se estende para —00 e que D uma
sem i-reta estendendo-se para + 00.
2. Seja r um número racional. Prove que o conjunto E dos números racionais menores do
que r não tem máximo; e que o conjunto dos números racionais maiores do que r não tem
mínimo.
3. D ados dois números reais quaisquer, a e 0, prove a chamada lei da tricotomia, que diz: ou
a < P, ou a = /? ou or > 3.
((^/Prove que entre dois números reais distintos há uma infinidade de números racionais,
rove que entre dois números reais distintos há uma infinidade de números irracionais.
36 C a p ítu lo 1: Os n ú m e ro s reais
6. Dados três números reais a , p e 7 , prove que a < p e p < - y = > a < 7 .
7. Dado um número real a = (E , D), defina o oposto —a tal que a + ( —a ) = 0.
8. Prove que o número 1 é efetivamente o supremo do conjunto definido em (1.6), mostrando
que, dado e > 0, existe N tal que n > N =>• 1 —e < n / ( n 1).
9. Considere o conjunto { l / m —l / n : m, n € N } . Prove que —1 e 1 são o ínfimo e o supremo
desse conjunto, respectivamente, e que eles não pertencem ao conjunto.
10. Prove que todo conjunto limitado inferiormente tem ínfimo.
11. Prove que a > 1 => a n > a para todo inteiro n > 1.
12. Prove que 0 < a < l = > a n < a para todo inteiro n > 1.
13. Use a propriedade do supremo para provar a existência da raiz quadrada positiva de 2.
14. Generalize o exercício anterior, isto é. use a propriedade do supremo para provar a existência
da raiz n -ésim a positiva de qualquer número a > 0 , a ^ l .
15. Sejam A e B conjuntos numéricos não vazios. Prove que
16. Sejam A e B dois conjuntos numéricos não vazios, tais que a < b para todo a G A e todo
b 6 B . Prove que sup A < inf B . Com a mesrpa hipótese, prove ainda que sup A = inf B
qualquer que seja e > 0, existem a € A e b E B tais que b — a < e.
17. Sejam A e B dois conjuntos numéricos não vazios, limitados inferiormente, e r um número
tal que r < a 4- b para todo a 6 A e todo b G B . Prove que r < inf A inf B . Enuncie e
dem onstre resultado análogo para os supremos.
18. Dados dois conjuntos numéricos limitados A e B , definimos o conjunto A + B = {a -\-b:
a 6 A, b € B } . Prove que sup(A + B ) = sup A + sup B , e inf(.A + B ) = inf A + inf B .
19. Dado um conjunto numérico limitado A, e um número real qualquer a , definimos o conjunto
a A = {cta: a 6 A } . Mostre então que sup(aA ) = a s u p A , in f(a A ) = a inf A se a > 0;
e su p (a A ) = a inf A se a < 0. Em particular, su p (—A) = —inf A , ou ainda, sup A =
- i nf(-A).
S u g e s tõ e s e so lu ç õ e s
1. Raciocine por absurdo. Veja bem, a negativa da primeira proposição dada é: existem um
e G E e um x < e tal que x ^ E , donde x € D. Confronte isso com a definição de corte
para encontrar o absurdo.
2. Tem-se de provar que, dado e 6 E , existe e 6 E , e > e. Para isso, seja e > 0 um número
racional tal que e < r — e. Então, e = e + e < e + (r — e) = r; logo, e € E e e > e.
Dem onstre a segunda parte.
5. Sejam a e p os números reais dados, com a < p. Se a for racional, os infinitos números
a + V 2 / n , a + s/2 / ( n + 1), a + >/2/(n + 2), a + \Í2 /( n + 3 ) , . . . são todos irracionais; e
estarão todos entre a e p , desde que n seja suficientemente grande; por exem plo, basta que
a ■+■ \ / 2 / n seja menor do que p , ou seja, n > y/2/ { p — a ). O leitor termine fazendo o caso
em que a for irracional.
Faça outro raciocínio, servindo-se do resultado do exercício anterior.
7. Seja d o elem ento de separação no corte (E, D), d é o menor elem ento de D. Sejam
E ' — D U { d } e D ' = D — {d}. Prove que —a — { ~ D r, —E ' ) é realm ente um corte, e
que satisfaz a condição desejada. Lembre-se de que 0 = (A , B ), onde A é o conjunto dos
números racionais negativos e B é o conjunto dos números racionais > 0.
C apítulo 1: Os números reais 37
(6 4- e ) n = bn -I- nbn~ 1E + . .. + en
doade obtemos
bn > Í-- > a.
Kl + beJ
Ora, isso também contradiz o fato de b ser o supremo do conjunto C, de forma que devemos
concluir que bn = a, como desejávamos.
38 C a p ítu lo 1: O s n ú m e ro s reais
15. Faça um desenho para ajudar no raciocínio. Como A C B , todo elem ento de A é maior ou
igual a algum elem ento de B e menor ou igual a algum outro elem ento de B .
16. Raciocine por absurdo: se inf B < s upA, pela definição do supremo teria de haver algum
elemento de A maior do que inf B; e pela definição do ínfimo, esse elem ento de A seria maior
do que algum elem ento de B . Você está fazendo um desenho para ajudar no raciocínio?
17. Como r < a + b para todo a G A (e 6 fixo), devemos ter r < m f A + b (se n ã o . ..); e como
isto é verdade para todo 0 6 5 , devemos ter também r < inf A + inf B .
D e s ig u a ld a d e d o tr iâ n g u lo
Fig. 1.10
|a + b | < |a | + |b |.
C a p ítu lo 1: O s n ú m e ro s reais 39
( 1.8 )
E x e rc íc io s
1. Prove as quatro desigualdades em (1.8) e (1.9).
2. Prove que se a desigualdade |a| — |ò| < |a —ò| é válida quaisquer que sejam a e b. o mesmo
é verdade de |a + b\ < |a| + |ò|. .
3. Prove por indução que |ai + 02 4- . . . 4- a n| < |a i| 4- |a 2 | 4 - . . . 4- |an|, quaisquer que sejam
os números a i, 02, . . . , a n .
4. P rove que |a i 4- «2 4- . . . + a n | > |a i | — |a 2 | — . . . — |a n |, quaisq u er que sejam os núm eros
a 1 , ã 2 , • • • , CLn-
S u g e s tõ e s e s o lu ç õ e s
1. A primeira desigualdade em (1.5) é conseqüência de (1.7) com —b em lugar de 6. Quanto
à segunda com sinal negativo, observe, por (1.7), que
N o ta s h is tó ric a s e c o m p le m e n ta re s
O s E l e m e n t o s d e E u c lid e s
Temos muito pouca informação sobre Euclides, que teria vivido por volta do ano 300 a.C. E
esse pouco que dele sabemos nos vem dos comentários de Proclus (410-485), um autor que
viveu mais de 700 anos depois de Euclides. Mesmo Proclus tem dificuldade em determinar a
40 C a pítulo 1: O s n ú m e ro s reais
O c o n te ú d o d o s E le m e n to s
Os Elementos, para nós hoje, são um a obra antes de tudo de valor histórico. Sua melhor versão
C ap ítulo 1: O s n ú m e ro s reais 41
é a tradução inglesa dc Thom as L. Hcath (publicada pela Editora Dover cm trôs volum es).
Isto porque H eath enriqueceu sobremaneira a obra de Euclides com uma excelente introdução,
além de inúmeros, valiosos e esclarecedores comentários.
O volume I reúne os Livros I e II dos Elementos, o primeiro destes contendo um a boa parte
da geom etria plana, construções geométricas, teoremas de congruência, áreas de polígonos e o
teorema de Pitágoras (que é a Proposição 47). Ainda no volume I de Heath encontra-se o Livro
II dos Elem entos, sobre o que se costum a chamar de “Álgebra geom étrica” . Por exem plo, a
Proposição 4 desse Livro II é o equivalente, em linguagem geométrica, da propriedade que hoje
conhecemos com o “quadrado da soma” (igual ao quadrado do primeiro, m ais o quadrado do
segundo, m ais duas vezes o primeiro vezes o segundo). Euclides enuncia isto geom etricam ente
assim: “se um segm ento de reta é dividido em dois, o quadrado construído sobre o segm ento
inteiro é igual aos quadrados sobre os segmentos parciais e duas vezes o retângulo construído
com estes segm entos”. Euclides não fala, mas ele está se referindo a áreas, quando diz “...é
igual...” ;
O volume II de Heath contém os Livros III a IX dos Elementos, tratando do círculo (Livro
III), construção de certos polígonos regulares (Livro IV), teoria das proporções de Eudoxo
(Livro V ), Sem elhança de figuras (Livro VI) e teoria dos nmeros (Livros VII-IX). Por exem plo,
a Proposição 20 do Livro IX é o famoso teorema: “existem infinitos números primos” . M as Eu
clides não fala “infinitos” , já que os gregos não admitiam o que Aristóteles chama de “infinito
atual” , apenas o cham ado “infinito potencial*’. Em linguagem de hoje ele diz o seguinte: “Dado
qualquer conjunto (finito, entenda-se bem!) de números primos, existe algum número primo
fora desse conjunto” . E a demonstração, novamente, é geométrica. Segundo o m atem ático
inglês Godfrey Harold Hardy (1877-1947). trata-se de uma das m ais belas dem onstrações da
Matemática.
Finalm ente, o volum e III de Heath contém os Livros X-XIII, onde são tratados a incomen-
surabilidade, geom etria espacial e os poliedros regulares.
O leitor pode ler m ais sobre os Elementos no excelente trabalho do Prof. João Bosco
Pitom beira sobre essa obra, publicado como volume 5 dos Cadernos da RPM; ou no livro de
Asgar A aboe, intitulado “Episódios da História Antiga da M atem ática”, traduzido e publicado
pela SBM.
A G e o m e tr ia d e d u tiv a
Foi no século VI a.C. que Tales de Mileto inaugurou na M atem ática a preocupação demons
trativa. A partir de então a M atem ática grega vai assumindo o aspecto de um corpo de
proposições logicam ente ordenadas: cada proposição é demonstrada a partir de proposições
anteriores, estas a partir de outras precedentes, e assim por diante, um processo que não
teria fim. Mas os gregos logo perceberam isso e viram que era necessário parar o processo
em certas proposições iniciais, consideradas evidentes por si mesmas; a partir destas todas
as outras são dem onstradas. As proposições, evidentes por si mesmas, são hoje designadas,
indiferentemente, “postulados” ou “axiom as”. O aspecto mais im portante dos Elem entos é
essa organização dos fatos, num admirável encadeamento lógico-dedutivo em que um reduzido
número de proposições e definições iniciais são o bastante para se demonstrar, uns após outros,
todos os teorem as considerados. Historicamente, os Elementos são a primeira corporificação
desse “m étodo axiom ático” , de que voltaremos a falar mais adiante.
A s g e o m e tria s n ã o -e u c lid ia n a s
Embora muito admirado e aplaudido, o modêlo axiomático dos Elem entos, no que se refere ao
5 - postulado, ou postulado das paralelas, suscitou questionamentos. Já na antigüidade vários
m atem áticos acreditavam que ele pudesse ser demonstrado com base nos outros postulados, e
42 C apítulo 1: Os n ú m ero s reais
tentaram fazer tal demonstração. Essas tentativas de demonstração foram retomadas nos tem
pos modernos pelo matemático italiano Girolamo Saccheri (1667-1733), que publicou, pouco
antes de morrer, um opúsculo no qual pretendia ter demonstrado o postulado pelo método
de redução ao absurdo. Assim, negando o postulado, ele demonstrou uma série de teoremas,
concluindo ter chegado a uma contradição. M as, no fundo, no fundo, não havia contradição
nas conclusões de Saccheri, embora isso só fosse notado muito mais tarde, quando Eugênio
Beltrami (1835-1900) descobriu o trabalho de Saccheri.
Por volta de 1830 já havia sérias suspeitas de que o postulado das paralelas não pudesse ser
demonstrado a partir dos outros. Em outras palavras, suspeitava-se que se pudesse desenvolver
uma geometria a partir de negações do postulado das paralelas, ao lado dos outros postulados
de Euclides. Foi nessa época que o m atem ático húngaro János Bolyai (1802-1860) e o russo
Nicokolai Ivanovich Lobachevsky (1792-1856) publicaram, independentemente um do outro,
a descoberta de geometrias não-euclidianas, ou seja, geometrias que negam o postulado das
paralelas.6
Mas as publicações de Bolyai e Lobachevski não foram suficientes para convencer o mundo
m atem ático da possibilidade das geom etrias não-euclidianas. N a verdade, esses trabalhos eram
parecidos com o de Saccheri: negavam o postulado das paralelas e desenvolviam uma série de
teoremas sem chegar a contradição alguma. M as, e daí? quem garante que a contradição não
está para aparecer logo no próximo teorem a que ainda não foi demonstrado? Quem garante
que todos os teoremas já foram enunciados e dem onstrados? „
Aliás, foi somente após essas questões serem levantadas em conexão com as tentativas
de demonstrar o postulado das paralelas, ou construir geometrias não-euclidianas, que os
matemáticos começaram a perceber que a própria Geometria de Euclides também estava su
jeita aos mesmos questionamentos. Quem poderia garantir que os cinco postulados de Euclides
não poderiam levar a uma contradição? Afinal, Euclides demonstrara apenas um número finito
de teoremas. Quem sabe a contradição poderia aparecer no próximo teorema, como alguém
que, depois de tanto percorrer as areias de um deserto à procura de um oasis, quando não mais
acredita que ele exista, pode — agora por felicidade e não desdita — encontrá-lo do outro lado
da próxima duna!...
Foi Beltrami quem primeiro exibiu um m odelo de geometria não-euclidiana que permitia
interpretar os fatos dessa geometria em term os da própria geometria euclidiana. Outros mo
delos foram construídos por Felix Klein (18 49 - 1925) e Henri Poincaré, estes também, como o
de Beltrami, apoiando-se na geometria euclidiana.
Foi a partir de então — após esses vários m atem áticos haverem exibido modelos eucli
dianos das geometrias não-euclidianas — , que estas geometrias ganharam total credibilidade.7
Provava-se que elas eram consistentes, isto é, livres de contradições internas. Mas tais provas
apoiavam-se na geometria euclidiana, de sorte que elas tornavam ao mesmo tempo evidente
a necessidade de provar a consistência da própria Geom etria de Euclides. Os matemáticos
começaram então a estudar a consistência dos postulados de Euclides, e logo perceberam que
eles eram insuficientes para provar os teoremas conhecidos, sem falar nos demais que viessem
a ser considerados no futuro. Analisando os Elem entos desse novo ponto de vista, eles desco
tíQuando jovem, o pai de Bolyai havia sido colega de Gauss em Gõttingen. E quando
o filho pôs suas idéias por escrito, ele (o pai) enviou um exemplar d o ;manuscrito a Gauss.
Mas este, pouco sensível ao entusiasmo do jovem János, escreveu de volta dizendo mais ou
menos o seguinte: “sim, mas isso que seu filho fez não é novidade para mim, que percebi
essa possibilidade há muitos anos, em minha juventude” . Tudo indica que Gauss foi mesmo o
primeiro matemático a perceber a possibilidade das geometrias não-euclidianas.
7Estamos deixando de lado uma outra vertente importantíssim a no desenvolvimento das
geometrias não-euclidianas, devida a Riemann, m as que não é necessária no momento.
C a p ítu lo 1: O s n ú m e r o s reais 43
briram que a axiom ática euclidiana era muito incompleta e continha sérias falhas. Euclides,
em suas dem onstrações, apelava para muitos fatos alheios aos postulados. Era necessário
reorganizar a própria geometria euclidiana, suprindo, inclusive, os postulados que estavam fal
tando. Isto foi feito por vários m atemáticos no final do século XIX, dentre eles David Hilbert
(1862-1943) que, em 1889 publicou o livro “Fundamentos da Geometria'', no qual ele faz uma
apresentação rigorosa de uma axiom ática adequada ao desenvolvim ento lógico-dedutivo da
geom etria euclidiana.
Paralelam ente ao que acontecia em Geometria, as preocupações com o rigor se faziam
presentes tam bém na Análise M atemática a partir de aproxim adam ente 1815, e sobre isso
falaremos nas notas do final do Capítulo 4.
O s F u n d a m e n to s d a M a te m á tic a
Os desenvolvim entos que vinham ocorrendo na Geometria, na Álgebra e na Análise durante
todo o século XIX convergiram, no final do século, para uma preocupação com os fundamentos
de toda a M atem ática. Por duas razões importantes os m atem áticos acabaram se conven
cendo de que todas as teorias matemáticas teriam de se fundamentar, em últim a instância,
nos números naturais. De um lado, os números complexos, os números reais, os racionais e
os inteiros puderam ser construídos, de maneira lógica e consistente, uns após outros, termi
nando nos números naturais. De outro lado, Hilbert estabelecera uma correspondência entre
os elem entos geométricos do piano — pontos e retas e círculos — com os entes numéricos
da geom etria analítica. Os pontos podem ser caracterizados por pares ordenados de números
reais, e as retas e círculos por suas equações. Isto permitiu transferir o problem a da con
sistência da Geom etria à consistência da Aritmética. Provando-se a consistência desta, ficaria
tam bém provada a consistência da Geometria. Assim, a Geometria, que desde a antigüidade
era considerada o modelo de rigor lógico, estava agora dependendo da própria Aritm ética para
sua efetiva fundamentação.
Leopold Kronecker (1823-1891) dizia que Deus nos deu os números naturais e que o resto
é obra do homem. Com isto ele queria dizer que esses números deveriam ser tomados como
o ponto de partida, o fundamento último de toda a M atemática. Não obstante isso, Richard
Dedekind m ostrou ser possível construir os números naturais a partir da noção de conjunto,
noção esta que seria mais extensam ente desenvolvida por Georg Cantor (1845- 1918).8
A possibilidade de construir toda a M atem ática a partir da teoria dos conjuntos intensi
ficou o interesse por esse campo de estudos. Porém, esses estudos estavam ainda incipientes
e os m atem áticos já começavam a encontrar sérias contradições internas na teoria.9 Muitas
dessas contradições foram resolvidas, até que, em 1931 o lógico austríaco Kurt Gõdel (1906
1978) surpreendeu o mundo m atem ático com a publicação de um trabalho em que demonstrava
que o m étodo axiom ático tem inevitáveis limitações, que im pedem m esm o a possibilidade de
construir um sistem a axiom ático abrangendo a Aritmética.
Para entender melhor o que isso significa, devemos lembrar que um sistem a axiom ático
deve satisfazer às três condições seguintes: ser consistente, quer dizer, os postulados não podem
contradizer uns aos outros, por si mesmos ou por suas conseqüências; deve ser com pleto, no
sentido de serem suficientes para provar verdadeiras ou falsas todas as proposições formuladas
no contexto da teoria em questão; e, por fim, cada postulado deve ser independente dos de
mais, no sentido de que não é conseqüência deles, sob pena de ser supérfluo. Pois bem, Gõdel
prova, dentre outras coisas, que a consistência de qualquer sistem a m atem ático que englobe
a A ritm ética não pode ser estabelecido pelos princípios lógicos usuais. Isto ele prova como
s O m atem ático italiano Giuseppe Peano (1858-1932) mostrou como construir esses números
a partir de noções primitivas e postulados.
A propósito, veja o artigo que publicamos na RPM 43.
44 CapítuJo 1: O s núm eros reais
conseqüência deste seu outro resultado, conhecido com o o teorem a da incompletude: se uma
teoria formal abrangendo a Aritmética for consistente, ela necessariamente será incompleta, o
que significa dizer que haverá alguma proposição sobre os inteiros que a teoria será incapaz de
decidir ser verdadeira ou falsa.
Seria errôneo pensar que os estudos de Fundamentos terminam com os resultados de Gõdel,
ou que esses resultado, pelos seus aspectos negativos, condenam a M atem ática a uma posição
inferior no contexto do conhecimento humano. O resultado de Gõdel certam ente mostra que é
falsa a expectativa acalentada desde a antigüidade de que o conhecim ento matem ático, com seu
caráter de certeza absoluta, possa ser ciscunscrito nos lim ites perm itidos por um sistema axio
m ático. Além de revelar as limitações do m étodo axiom ático, os resultados de Gõdel mostram,
isto sim, que as verdades matemáticas, na sua totalidade, escapam aos figurinos formais dos
sistem as axiomáticos.
Hermann Weyl (1885-1955), que está entre os maiores m atem áticos do século XX, disse,
espirituosamente: Deus existe porque certamente a M atem ática é consistente; e o demônio
existe porque som os incapazes de provar essa consistência.
D e f in iç ã o d e c o r p o
O leitor encontrará, em livros sobre estruturas algébricas exposições sobre a teoria de corpos.
Daremos aqui apenas a definição de corpo, sem entrar em maiores detalhes.
Um corpo (coinutativo) é um conjunto não vazio C, munido de duas operações, chamadas
adição e multiplicação, cada uma delas fazendo corresponder um elemento de C a cada par de
elementos de C , as duas operações estando sujeitas aos axiomas de corpo listados a seguir. A
som a de x e y de C é é indicada por x + y e a m ultiplicação de x e y é indicada por xy . Os
axiom as de corpo são:
1. (Associatividade) Dados quaisquer x, y, z E C , .
(x + y) + 2 = x + (y + z) e (x y ) z = x ( y z ) \
x + y = y + x e x y — yx;
S E Q Ü Ê N C IA S I N F I N I T A S
In te rv a lo s 1
O in tervalo p o d e tam b ém ser sem ifechado o u sem i-a b erto, com o nos exem plos
seguintes:
Sem pre que nos referirm os aos in terv alos (a, b), [a, 6], (a, í>] ou [a, b), a e b
serão n úm eros finitos, com a < b.
S e q ü ê n c ia s in fin ita s
a 5 = 1,41421, a 6 = 1 ,4 1 4 2 1 3 ,...
Se su p rim irm o s de u m a seq üência (an ) u m n ú m e ro fin ito de seus term os, em
p a rtic u la r, se elim in arm os seus k p rim eiro s te rm o s, isso e m n a d a a lte ra o c a rá te r
d a seq ü ên cia com n —» oo. A ssim , se a se q ü ê n c ia o rig in a l converge p a ra L , ou
48 C a p ítu lo 2: S eq ü ên cia s in fin ita s
D e fin iç ã o d e v iz i n h a n ç a
A ssim , ao definirm os lim ite , e sta m o s dizen d o que n > N => a n € Ve(L ), ou seja,
(a n) — (
\,rn + 1 2 / \1 3 ’ 14’ 15’ n + 12 ’ '
12 12
II = - 1 < c » n > —■- 1 2 . ( 2 .2 )
71 + 12 71 + 12 £
Isso q uer d izer que, d a d o q u a lq u e r <r > 0, ex iste N (= 12/e — 12) ta l que
12
\an — 1 | < £ O n > ------ 1 2 .
£ ■
- 12 12 12
|“ n - 1| = --- — — < — <£<=>«> — . ( 2 .3 )
n + 12 n £ .
, 12
\an - 1 | < £ <=> n > — .
£
n > —-
12
|a„ — lj < £,
,
■ e .
2 .3 . E x e m p l o . C onsiderem os a seqüência
3 n
n + sen 2 n
1 + (s e n 2 n ) / n
3 3
\a n — 3| < ----- — < £ <=> n > 1 H— (2-5)
n —1 e
de so rte q u e
n > 1 + Z /e => |an — 3| < e, (2-6)
3 |s e n 2 n | '
< e .
|n + s e n 2 n |
n > N = m a x { 4 /e , 12}.
C a p ítu lo 2: S e q ü ê n c ia s in fin ita s 51
Isso co n clu i a d em o n stra ç ã o .
S e q ü ê n c ia s lim ita d a s
Is to nos diz que, a p a r tir do índice n — N + 1, a seq ü ên cia é lim ita d a : à d ire ita
p o r L + e e à e sq u e rd a p o r L - e. P a ra en g lo b arm o s a se q ü ê n c ia in te ira , b a s ta
c o n sid e ra r, d e n tre to d o s os núm eros
A < an < B ,
o q u e c o m p le ta a d em o n stra ç ã o .
P o d ía m o s ta m b é m te r a ta lh a d o um pouco, com o é co stu m e , p ro ced en d o
assim : seja
A/ = m a x { |a i|, |a 2| , ...., |ajv |, \L - e |, \L + e|}.
52 C a p ítulo 2: Seqüências in fin ita s
O p e ra ç õ e s c o m lim ite s
2 .8 . T e o r e m a . S eja m (a n ) e (bn ) duas seqüências convergentes, com li
m ite s a e b respectivam ente. E n tã o , (an + bn ), (an bn ) e (k a n ), onde k um a
constante qualquer, são seq üência s convergentes, além do que,
Ç jp 4 im (a n + bn) = lim an + lim bn = a + b;
b) lim(A:an ) = fc(lim an ) = k a ; e m p articular, k = —1 nos dá an —> a =>
fljj ^ ~' CLj
\j- j Ihn{ar!bn) = ( l im a „ ) ( l im 6 „) = ab; -
d) se, além das hip ó teses a cim a , b ^ 0 , então existe o lim ite de an/b n , igual
a a /b .
O ra, ta n to |a „ —a| com o \bn —6 | p o d e m ser feitos a rb itra ria m e n te p equ eno s, desde
que n seja su ficientem en te g ra n d e . A ssim , d a d o q u alq u er £ > 0, po dem os fazer
C a pítulo 2: S eq ü ência s in fín ita s 53
|a n —a | m e n o r do q u e e / 2 M a p a r tir de u m certo índice N \ e | 6 „ — 6 | < e /2 \a \ a
p a r tir d e um c e rto N 2 ; en tã o , sen d o N o m aior desses índices, n > N s a tis fa rá
n > N i e n > A'2 sim u lta n e a m e n te ; logo,
1 K -b |
M
1 IM V 2
H2/2 £
e isso c o m p le ta a d e m o n stra ç ã o .
E m v is ta d e ste ú ltim o teo rem a, fica fácil lid ar com certo s lim ites,’ com o
vem os p elo ex em p lo seguinte:
3ra2 + 4 n 3 + 4 /n lim (3 + 4 /n )
lim ■ lim
5n 2 - 7 5 — 7 /n 2 lim (5 — 7 / n 2)
lim 3 + lim (4 /n ) 3
lim 5 — lim ( 7 /n 2)" ~ 5 ‘
n = (1 + = 1 + n h n + n ( n ~ 1 ] h l + . . . + h ” > - ( - 2~ l\ l
E x e rc íc io s
2. Em cada um dos casos seguintes, são dados os primeiros termos de uma seqüência. Supondo
que persista a tendência observada em cada caso, escreva a forma geral de cada uma das
seqüências.
a) 1 /2 , 2 /3 , 3 /4 , 4 / 5 ,....; ;b) 1, - 1 / 2 , 1 /3 , - 1 / 4 . . . ;
v .. n ~ , x .. 2n ^ . .. 3n v/n „
a) lim — = 0; b) lim —------= 2; c) lim — 7=---------= 3.
' n2 + 1 ' n2 + 7 . ' n y /n + 5
C a p ítu lo 2: S eq ü ên c ia s in fín ita s 55
4. D escu b ra o lim ite de cad a u m a das seqüências seguintes e, em seguida, dem o n stre que o
su p o sto lim ite satisfaz a Definição 2.1.
^ 5. (U nicidade do lim ite) P rov e que um a seqüência só pode convergir p a r a um único1lim ite.
\ 6. P rov e que se a n tem lim ite L, então |a n | tem lim ite |L |. D ê exem plo de u m a seqüência
( a n ) ta l que |a n | converge, m as não a n-
7. S ejam (a n ) e (bn) d uas seqüências tais que |a n — a| < C\bn \, onde a é um certo núm ero
real e C u m a co n stan te positiva. Usando a definição de lim ite, m o stre que se bn —+ 0 então
o.n ►<2 .
j 8^)P ro v e que se (a n ) é u m a seqüência que converge p a ra zero e (bn ) u m a seqüência lim itada,
n ão necessariam en te convergente, então (cinbn) converge p a ra zero. /
^ Prove que a seqüência a n = y/n -f h — y/n tende a zero.
10. Faça o m esm o para a seqüência an = a n, onde 0 < a < 1.
11. Supondo que a n > 0 para todo n e an —>• 0, prove que >/ã^ —* 0.
12. Supondo que an —* x > 0, prove que a n > 0 a partir de um certo N .
13. Prove os itens a) e b) do Teorema 2.8. Generalize a propriedade da som a, provando que o
lim ite de um a som a qualquer de seqüências convergentes é a som a dos lim ites. Generalize
tam bém a propriedade do produto para o caso de vários fatores.
14. Prove que se (a n) é uma seqüência convergente, com an < bf então lim a n < b. Mostre
com contra-exem plo que, mesmo que seja an < ò, não é verdade, em geral, que lim a n < b.
Enuncie e dem onstre propriedade análoga no caso an > b.
15. Sejam (a n) e (òn) seqüências convergentes, com a n < bn . Prove que lim a n < lim/;n.
Mostre por m eio de contra-exemplo que também aqui podo ocorrer a igualdade dos limites
m esm o que seja an < 6n - [Observe que o exercício anterior é um caso particular deste, com
seqüência ( bn ) = ( 6, b, . . .).]
(C r ité r io d e c o n fr o n to ou T e o rem a d a s e q ü ê n c ia in te r c a la d a .) Sejam (an), ( 6n) e
(cn) três seqüências tais que an < bn < cn , (a«) e (cn) convergindo para o mesmo limite
L . D em onstre que (6n) também converge para L.
S u g e s tõ e s e s o lu ç õ e s
« \ 1 1 n 1 ,\ 1 14 14 . . 15 15
3. a) |a n | < ~~2
n z — ~~i
n t>) |an —2| — n2z 1+77 ^ Zn2z’ — 1 — n y /n
r~ o.
+ o ^ n y /n
7= ‘
a | 01 _ y / n + 2 ^ y / n 2 y/n 1
4. b) \an - 2 = ------- < — ---------------- = - 7=.
4n — 1 4n —n y/n
56 C a pítulo 2: Seqü ên cia s in fin ita s
5. Suponha existirem dois lim ites distintos, L e L ' e tome e < |L — L ‘ |/2 . Então, |a„ —L\ < e
a partir de um certo N i e |a„ — L '\ < e a partir de um certo ÍV2. Seja N = max{JVi, N 2 },
de forma que n > N acarreta sim ultaneam ente n > N i e n > /V2. Assim, n > N acarreta
|L — L '\ = |(L —a n) + (an — L ')\ < |a„ — L\ + |a„ —L '\ < 2s < \L — L'|,o que é absurdo.
9. Multiplique numerador e denominador pela som a das raizes que aparecem na definição da
seqüência.
10. Como b = l / o > 1 , 6 = 1 + c, com c > 0. Então,
a
n < e ■*=> n ,log a < log
, e <=> n > ------
l°g£.
- Ioga
Nessa última passagem, ao dividir a desigualdade por Ioga, levamos em conta que esse
número é negativo, daí a mudança de sinal da desigualdade.
11. Deseja-se provar que v/õTT < £ a partir de um certo N . Observe que isto eqüivale a an < £~-
12. Use o Teorema 2.6.
17. Use o critério de confronto, notando que 1 < \ f í/n < í/n .
18. “Existe um e > 0 tal que, qualquer que seja o número natural AT,existe um índice n > N
tal que |a„ — L | > e " . Isto e o m esm o que: “E xiste um s > 0tal que, qualquer que seja o
número natural N , existe uma infinidade de índices n > N tais que (an — L\ > e ” .
S e q ü ê n c ia s m o n ó to n a s
O n ú m ero e
2! \ m J n{ \ m J \ m J \ m J
1 _ n - 1 1 1 1
n n n / ( n — 1) (m + l ) / m 1 + 1/ m ’
n) V Tn ) V m
E m v is ta disso podem os escrever:
e = lim
n —*•±00 K)"
S u b s c q íic n c ia s
2 .1 3 . D e f in iç ã o . U m a su b se q ü ê n c ia de u m a d a d a se q ü ê n c ia ( a n ) é u m a re s
tr iç ã o d e ssa se q ü ê n c ia a u m su b c o n ju n to in fin ito N ' do c o n ju n to N dos n ú m e ro s
n a tu ra is. D ito de o u tra m an eira, u m a s u b s e q ü ê n c ia de (a n ) é u m a se q ü ê n cia do
tip o (b j) = («rij), o n d e ( n j ) / é u m a se q ü ê n c ia c r e s c e n te de in te ir o s p o sitiv o s, isto
é, n \ < n 2 < " . ..
it x>! xk V)
' X ' ~ a x ~ e (log'a)x ’
/ a a / a a a\
I r 2 " " J V ) ViV + 1 N + 2 i!
— < ( — ) 2 N ~ n ■L 2~ n c
n! \ 1 2 '" . \ r *
71! 1 2 n 1
nn n n n n
E m v is ta dos tr ê s ú ltim o s exem plos acim a, vem os que (sendo a > 1),
nk an n1
lim — = 0; lim —r = 0 ; lim — = 0 . ( 2 . 10 )
S e q ü ê n c ia s r e c o r r e n te s
1 N
ao — a, an ^ f a n~ \ 4-, n = l , 2.
&n—1
E x e r c íc io s
Seja (a n ) uma seqüência m onótona que possui uma subseqüência convergindo para um
limite L . Prove que (an) tam bém converge para L.
2. Prove que toda seqüência m onótona convergente é limitada.
3. Sejam N 1 e N 2 subconjuntos infinitos e disjuntos do conjunto dos números naturais N ,
cuja união é o próprio N . Seja (an) uma seqüência cujas restrições a l \ \ e N 2 convergem
para o mesmo lim ite L . Prove que (a„) converge para L.
4. Construa uma seqüência que tenha uma subseqüência convergindo para —3 e outra con
vergindo para 8 . .
C ap ítulo 2: Seqü ên cia s infinitajs 63
5. Construa u m a seqqüência que tenha três subseqiiências convergindo, cada um a para c
um dos números 3, 4, 5.
6 . Generalize o exercício anterior: dados os números L \, L 2 , • . • , L k , distintos entre si, cons
trua um a seqüência que tenha k subseqiiências, cada uma convergindo para cada um desses
números.
7. Construa um a seqüência que tenha subseqüências convergindo, cada um a para cada um
dos números inteiros positivos.
8 . Construa um a seqüência que tenha subseqüências convergindo, cada um a para cada um
dos números reais.
9. Prove que se a n > 0 e a n+ i/ a n < c, onde c < 1, então a n —* 0.
10. Prove que se a n > 0 e jan+ i / a n —+ Cj -onde c < 1, então a n —*■0.
11. Dem onstre o teorem a 2.16.
-
v
______ - — — - J ■
12. Prove que se a n —*■ +00 e bn —►L > 0, então a nbnrig + 00. Exam ine tam bém as demais
com binações de a n -> ±00 com L positivo ou negativo.
13. Prove que 5 n 3 — 4 n 2 -f- 7 tende a infinito.
14. Prove que um polinôm io p(n) = <Zfcnfc + a k - i n k~ 1 + . . . + a \n -f aotende a ±00 conforme
seja afc positivo ou negativo respectivamente.
15. Seja p (n ) com o no exercício anterior, com a* > 0. Mostre que y /p {n ) —» 1.
16. Mostre que \ / n 2 + 1 — y /n + h —* 00.
17. Mostre que y/n\ —*■00.
18. Considere a seqüência assim definida: a\ == \Í2, a n = y/2 + a n- 1 para n > 1 . Escreva
explicitam ente os primeiros quatro 011 cinco term os dessa seqüência. Prove que ela é uma
seqüência convergente e calcule seu limite.
19. Generalize o exercício anterior considerando a seqüência a i = \Ja , aj£== y/a + a n- i , onde
a>0- ,
20. Dado um número N > 0 e fixado um número qualquer ao = a, seja an = (an- i + i V / a n- i ) / 2
para n > 1. Prove que, a excessão, eventualmente, de ao, essa seqüência é decrescente.
Prove que ela aproxim a y /N e dê uma estim ativa do erro que se com ete aò se tomar a n
como aproxim ação de y /N .
21. Prove que a seqüência anterior é exatamente a mesma que se obtém com a aplicação do
m étodo de N ew ton para achar a raiz aproximada de x 2 — N = 0.
D iv is ã o á u r e a ) . Já vimos (p. 23) que um ponto A \ de um segm ento O A efetua a
a livisão áurea desse segmento se O A /O A \ = O A \ /A \ A . Vim os tam bém que o número (f>,
raiz positiva de 4>2 — (f>— 1 = 0 [= (> /5 4-1)/2 & 1,618], é chamado a razão áurea. Considere
11111 eixo de coordenadas com origem O, ao = 1 a abscissa de A (= i4o) e a \ = <p a abscissa
de A \ . Construa a seqüência de pontos A n com abscissa a n = a „ _ 2 —an - 1 , n > 2 . Prove,
com o já anunciam os na p. 24, que A n efetua a divisão áurea do segm ento O A n- i e que
a n —* 0. Observe que os pares (ao, a i}, (a i, 02), ( 02, 03), etc., são os lados de retângulos
áureos, com o na construção de uma infinidade de retângulos áureos da p. 23. Escreva os
primeiros dez term os da seqüência an .
23))( S e q ü ê n c ia d e F ib o n a c c i) .1 Defina f n indutivamente assim: /o = f i = 1 e f n =
C f n - 2 + f n - 1 - Escreva os primeiros dez elementos dessa seqüência e observe que, pelo menos
S u g e s tõ e s e s o lu ç õ e s
4. A seqüência a 2n = —3 e G2n+i = 8 resolve. Construa outro exemplo.
5. Dado n £ N , seja rn o resto de sua divisão por 3. Verifique que a n = r n resolve o problema.
6 . Seja rn o resto da divisão de n por k. a n = L rn resolve; explique por quê.
7. Construa a seqüência assim: 1; depois 1, 2; depois 1, 2, 3; depois 1, 2, 3, 4; e as
sim por diante, de forma que a seqüência é: 1, 1, 2, 1, 2, 3, 1 , 2, 3, 4 , . . . Outro
modo: decomponha o conjunto dos números naturais N numa união de conjuntos infini
tos e disjuntos N i, Ar2 ). . . Por exem plo. N i pode ser o conjunto dos números ímpares,
N 2 = 2 N i, N 3 = 2 2iV i,...; e, em geral, N n = 2 , l - I 7Vl . Verifique que esses N n são real
mente disjuntos e todo número natural está em um deles. Em seguida defina a seqüência
assim: a n = m se n Ç. N m\ Outro modo: considere um a seqüência n , r 2, r 3, . . . , obtida por
enumeração de todos os números racionais. Observe que este exemplo também responde
às exigências dos Exercs. 4 a 6 . Observe tam bém que as soluções dadas naqueles exercícios
resultavam em subseqüências constantes, ao passo que os termos de r n são todos diferentes
entre si.
8 . A seqüência (rn) do exercício anterior resolve. Outra solução, ainda com a notação do
exercício anterior: defina a n = r m se »*- v- i »rr
10. Utilize o Teorema 2.6, tomando, por exem plo , |b = c + (1 —c )/2 .
14. Observe que p(n ) = afcnfc( 1 -f . . .) ==afcnfcòn, onde bn é a expressão entre parênteses, que
tende a 1 .
17. Observe que V n \ > K n\ > K n . Agora lembre-se de que n! tende a infinito mais
depressa do que K n, qualquer que seja K .
18. Supondo por um momento que (a n) convirja para um certo L , passamos ao limite em
a 2 = 2 + CLn - 1 , resolvemos a equação resultante e achamos L = 2. (Mas é preciso provar
a existência do limite! Veja este exemplo: ã seqüência 1, 3, 7, 15, 3 1 ,...; em geral, a n =
2 a a_ i + 1 , evidentemente não converge, logo, não podemos simplesmente passar ao limite
nessa última igualdade para obter L = 2 L -f 1, ou L = —1.) Prove que a seqüência dada é
crescente e limitada superiormente por 2 .
19. Seja 6 = m ax{a, >/ã, 2}. Claramente, a \ < b e, supondo a n < 6, teremos an+i <
y/a + b < \/26 < 2b. Isso prova que a seqüência é limitada superiormente. Prova-se
também que ela é crescente, notando que a 2 > a 1 e que, supondo a n > an- 1 , então
a n+i = y/a + a n > y/a + an- i = a n . A gora é só passar ao limite na fórmula de definição e
achar a raiz positiva de L 2 = a + L, isto é, L = (1 + \ZT+™4õ)/2.
20. Por um cálculo simples, a \ — V~N = (a — \/~N) 2 /2 a . Isto prova que ai > y/~N (mesmo que
a < \ fN ) . Além disso, se a > ' / N ,
mostrando que y /N < a \ < a. Com o m esm o tipo de raciocínio, mesmo que a seja menor
do que y /N , prova-se que \ f N < a n+1 < a n < . . . < a i e que
mostrando que A 2 divide O A \ na razão áurea. Com raciocinio análogo prova-se, por
indução, que A n divide (X4n- i na razão áurea.
Para provar que an —* 0, prove que
a1 a 2 _ a3 a.
ao . a1 a2
at+i = (— l)fc+l(/fc-3 — V f k - 2 + í k - 2 — V f k - l )
= ( - l ) k + l [flc- 3 + f k - 2 — v ( f k - 2 + S k - 1 )]
= ( - l ) k + \ f k - l - Vf k) ,
o C|iio com pleta a demonstração. A parlo final do exercício fica por conta do leitor.
In te r v a lo s e n c a ix a d o s
D em onstração. E claro que as seq ü ên cias (a n ) e (bn ) são, resp ectiv am en te,
n ão d ecrescen te e não crescente. A lém disso.,., com o 1 r-s " -------- >
vem os que (a n) é lim ita d a à d ire ita p o r 61 e (bn ) é lim ita d a à esq u e rd a p o r a.j:
logo, essas d u as seqüências possuem lim ites, d igam o s, A e B respectivam en te.
C om o an < bn , é claro que
P o n to s a d e re n te s e te o r e m a d e B o lz a n o -W e ie rs tra s s
J á vim os que se u m a seqüên cia converge p a ra u m c e rto lim ite , q u alq u er sub-
seqüência su a converge p a ra esse m esm o lim ite. Q u a n d o a se q ü ên cia não con
verge, nem te n d e p a ra + o o ou —oo, diz-se q u e ela é oscilante. D e fato, como
verem os, nesse caso ela sem p re te r á v á ria s su b se q ü ê n cias, c a d a u m a ten d en d o
p a ra um lim ite diferente. P o r exem plo, as seq ü ên c ia s ( —1)™, ( —l ) n ( l 4- l / n ) , e
( —l ) n ( l — l / n ) possuem , to d a s elas, su b se q ü ê n c ia s converg in d o o u p a ra + 1 ou
p a ra —1. E sses núm ero s são ch am ado s “valores d e ad e rê n c ia ” d a seq ü ên cia sob
consideração.
C r ité r io d e c o n v e rg ê n c ia d e C a u c h y
~ ^ 2 . 2 5 . T e o r e m a ( c r i t é r i o d e c o n v e r g ê n c i a d e C a u c h y ) . Uma con
dição necessária e su ficien te para que um a seq ü ên cia (a n ) seja convergente é
que, qualquer que seja e > 0, exista N ta l que
D aq ui e do fato de ser
) | o i | , . . . , |a/vj, | a ^ + i - e | , |a w + i + e |.
Pelo teo re m a de B o lzan o -W e ie rstra ss, (a n ) p ossu i u m a su b seq ü ên cia (a,n j) que
converge p a ra u m c e rto L . F ix e m o s j suficien tem ente g ran d e p a ra term o s,
sim u lta n ea m e n te , |anj — L\ < e e n j > N . E n tã o , como
£2 = / ( z í ) , x 3 = f { x 2 ), x 4 = 7 ( 2:3 ), etc.
C a p ítu lo 2: Scqücncias in ã n ita s 69
E m geral, x n = f ( x n- 1), com n — 2, 3, 4 , . . . Se for possível p ro v ar que essa é
u m a seq ü ên cia de C auchy, sa b erem o s q u e ela converge p a ra u m c erto x q . E m
segu ida p ro c u ra-se p ro v a r q u e xo é solução d a equação d a d a, os elem en to s x n
sendo valores a p ro x im a d o s d a solução
0 e sq u em a que a c a b a m o s de descrever é, n a verd ad e, um p o d ero so in s tru
m ento de cálculo n u m é rico (co n h ecid o com o “m éto d o d as ap ro x im açõ es su ces
sivas” ), além de te r ta m b é m u m a enorm e im p o rtâ n c ia teó rica em v á ria s te o ria s
m atem átic as.
E x e rc íc io s
1. Prove que um a seqüência converge para L se e somente se L é seu único ponto de aderência.
2. Prove que um a seqüência lim itada que não converge possui pelo menos dois pontos aderen
tes.
3. Prove que L é ponto de aderência de um a seqüência (an) se e somente se, quallquer que
seja s > 0, existem infinitos elementos da seqüência no intervalo [L — L + e]. (Note que
esta últim a afirmação não significa que os infinitos elementos sejam todos distintos, podem
até ter todos o mesmo valor.)
4. Construa um a seqüência com elementos todos distintos e que tenha pontos de aderência
em —1, 1 e 2.
5. Construa um a seqüência com um a infinidade de elementos inferiores a 3 e superiores a 7,
mas que tenha 3 e 7 como pontos aderentes e somente estes.
6. Construa um a seqüência com elementos todos distintos entre si, tendo como pontos de
aderência k números distintos dados, L \ < . .. < L k e somente esses.
7. Sabemos que o conjunto Q dos números racionais é enumerável. Seja (/*n) um a seqüência
desses números num a certa enumeração, isto é. um a seqüência com elementos distintos,
cujo conjunto de valores é Q . Prove que todo número real é ponto de aderência dessa
seqüência.
8. Seja (an) um a seqüência tal que toda sua subseqüência possui uma subseqüência con
vergindo para um mesmo número L . Prove que (an) converge para L.
9. Prove que um a seqüência (c n ) que não é lim itada possui uma subseqüência (a n j) tal que
1 / dnj —'►0.
10. Dê exemplo de um a seqüência não lim itada que tenha subseqüências convergentes; e de
seqüência não lim itada que não tenha um a única subseqüência convergente.
11. Vimos que a propriedade do supremo tem como conseqüência a propriedade dos inter
valos encaixados. Prove que esta últim a propriedade implica a propriedade do supremo,
ficando assim provado que a propriedade do supremo eqüivale à propriedade dos intervalos
encaixados.
12. Prove que se postularm os que “toda seqüência não decrescente e lim itada é convergente”
conseguiremos provar a propriedade dos intervalos encaixados, portanto, também a pro
priedade do supremo, estabelecendo assim que esta. propriedade é equivalente a afirmar
que “toda seqüência não decrescente e lim itada converge."
13. Prove, diretam ente da Definição 2.26, que as seguintes seqüências são de Cauchy:
. , 1, . , 1 1 1 1
a) a„ — 1 + —; b) a „ - l + - + - + + +^
70 C a p ítu lo 2: Seqüências in fin ita s
14. Prove, diretamente da Definição 2.26, que se (an) e (6n ) são seqüências de Cauchy, também
o são (an + bn) e (anbn).
15. Sejam (an) e (6n) seqüências de Cauchy, com bn > b > 0. a) Prove que ( a „ /6,t) também
é de Cauchy. b) Dê um contra-exemplo para m ostrar que isto nem sempre é verdade se
bn —►0.
16. Dados a i e a2, com ai < ao, considere a seqüência assim definida: a n = (an- i + an_2),
n = 3, 4, 5 ,. .. a) Prove que a i, 03, a5, . . . é seqüência crescente e limitada; e que a seqüência
de índices pares, ao, a 4, 06, . . . , é decrescente e lim itada, b) Prove que (an) é seqüência de
Cauchy.
17. Observe que o Teorema 2.25 nos m ostra que a propriedade do supremo tem como con
seqüência que toda seqüência de Cauchy converge. Prove a recíprova dessa proposição, isto
é, prove que se toda seqüência de Cauchy converge, então vale a propriedade do supremo,
ficando assim provado que essa propriedade é equivalente a toda seqüência de Cauchy ser
convergente.
S u g e s tõ e s e s o lu ç õ e s
1. Comece provando que an convergir para L significa que, qualquer que seja e > 0, só existe
um número finito de elementos da seqüência fora do intervalo [L — e, L + e\.
4. Eis um modo de fazer isso: considere três seqüências distintas, —1 + 1 /n , 1 + 1 /n e 2+1 / n , as
quais convergem para —1, 1 e 2, respectivamente. Em seguida “m isture” convenientemente
essas seqüências; por exemplo, tom ando um elemento de cada uma delas em sucessão e
repetidamente, construindo a seqüência (an), assim definida:
\&n O-n—21 ~
A n - l l —1 ~ | a ^ i —1 ^ 2 l®n —2 —3 1 = ■• • = r^n~2 ® l|*
N o ta s h is tó ric a s e c o m p le m e n ta re s
A n ã o e n u m e r a b ilid a d e d o s n ú m e r o s re a is
O Teorema 2.22 perm ite dar outra demonstração de que o conjunto dos números reais não
é enumerável, como faremos agora. Raciocinando por absurdo, suponhamos que todos os
números reais estivessem contidos numa seqüência ( i n)- Seja /1 = [ai, 61] um intervalo que
não contenha x i . Em seguida tomamos um intervalo I 2 = [a2, 62] C / 1, que não contenha
X 2 \ depois um intervalo I 3 = [03, 63] C I 2 , que não contenha 3:3; e assim por diante. Dessa
maneira obtemos um a seqüência ( I n) de intervalos fechados e encaixados, tal que n l n conterá
ao menos um número real c. Isso contradiz a hipótese inicial de que todos os números reais
estão na seqüência (x n), visto que x n n / rl. Somos, pois, forçados a abandonar a hipótese
inicial e concluir que o conjunto dos números reais não é enumerável.
C a n to r e os n ú m e r o s re a is
Vimos, no Capítulo 1, como Dedekind construiu os números reais a partir dos racionais. Ex
poremos agora a construção dos reais feita por Cantor.
Georg C antor (1845-1918) nasceu em São Petersburgo. onde viveu até 1856, quando sua
família transferiu-se p a ra o sul da Alemanha. Doutorou-se pela Universidade de Berlim, onde
foi aluno de W eierstrass, de quem teve grande influência em sua formação m atem ática. Toda
a sua carreira profissional desenvolveu-se em Halle, para onde transferiu-se logo que term inou
seu doutorado em Berlim.
Como no método de Dedekind, também no de Cantor partimos do pressuposto de que já
estamos de posse dòs núm eros racionais, com todas as suas propriedades. Começamos com
a seguinte definição: d iz-se que um a seqüência (a n ) de núm eros racionais é Uma seqüência
dc Cauchy se, qualquer que seja o núm ero (racional) e > 0, existe N tal que n ,m > N =>
|a n —a m | < s. Uma tal seqüência costuma também ser chamada “seqüência fundam ental.”
O próprio C antor usou essa designação. Observe que existem pelo menos tantas seqüências
de Cauchy quantos são os números racionais, pois, qualquer que seja o número racional r, a
seqüência constante ( r n ) = (r, r, r , . ..) é de Cauchy. Dentre as seqüências de Cauchy, algumas
são convergentes, como essas seqüências constantes, uma seqüência como (1/2, 2/3, 3 / 4 ,. .. ) e
uma infinidade de outras mais. Mas há tam bém toda uma infinidade de seqüências de Cauchy
que não convergem (para número racional), como a seqüência das aproximações decimais por
falta de \ / 2,
(r n) = (1, 14, 1,41, 1,414, 1 ,1142...), (2.13)
ou a seqüência a n — (1 + 1/ n ) n que define o número e. Como se vê, essas seqüências só não
convergem por não existirem ainda os números chamados "irracionais.” Para criá-los, podemos
simplesmente p ostu la r que “toda seqüência de Cauchy (de números racionais) converge” . Feito
isso teremos de m ostrar como esses novos números se juntam aos antigos (os racionais) de forma
72 C a pítulo 2: S eq ü ê n cia s in fin ita s
a produzir um corpo ordenado completo. E nesse trabalho teríamos de provar que diferentes
seqüências definem o mesmo número irracional; por exemplo, a seqüência (2.13) e a seqüência
das aproximações decimais por excesso de y/ 2 devem definir o mesmo número irracional \ / 2.
Do mesmo modo, as seqüências
fln = [ H — )e ò„ = ( l H— ] H—
\ ny V nJ n
B o l z a n o e o t e o r e m a d e B o lz a n o - W e ie r s tr a s s
O critério de convergência de Cauchy aparece pela primeira vez num trabalho de Bolzano de
74 C a p ítu lo 2: Seqüências in fin ita s
1817, pouco divulgado; e posteriormente num livro de Cauchy de 1821 (de que falaremos mais
nas pp. 97 e 128), que teve grande divulgação e influência no meio matemático.
Bernhard Bolzano (1781-1848) nasceu, viveu e morreu em Praga. Era sacerdote católico
que, além de se dedicar a estudos de Filosofia, Teologia e M atemática, tinha grandes preo
cupações com os problemas sociais de sua época. Seu ativism o em favor de reformas educa
cionais, sua condenação do militarismo e da guerra, sua defesa da liberdade de consciência e
em favor da diminuição das desigualdades sociais custaram -lhe sérios embaraços com o gover
no. As idéias de Bolzano em M atem ática não foram menos avançadas. E até admirável que,
vivendo em relativo isolamento em Praga, afastado do principal centro científico da época, que
era Paris, e com outras ocupações, ele tenha tido sensibilidade para problemas de vanguarda
no desenvolvimento da Matemática. Infelizmente, seus trabalhos permaneceram praticamente
desconhecidos até por volta de 1870. Seu trabalho de 1817 (com o longo título de Prova
puram ente analítica da afirmação de que entre dois valores que garantem sinais opostos (de
uma função) ja z ao m enos um a raiz da equação [função]) representa um dos primeiros es
forços na eliminação da intuição geom étrica das demonstrações. Seu objetivo era provar o
teorema do valor intermediário (p. 122) por meios puramente analíticos, sem recorrer à in
tuição geométrica. E é aí que aparece, pela primeira vez, a proposição que ficaria conhecida
como “critério de Cauchy” (veja o com entário sobre Cauchy no final do próximo capítulo),
formulado para o caso de uma seqüência de funções, nos seguintes termos:
“Se um a seqüência de grandezas
S É R IE S I N F IN IT A S
P r im e ir o s e x e m p lo s '
V am o s in ic ia r nosso e stu d o das séries in fin itas com ex em p lo s sim ples. E ssas
séries su rg em m u ito cedo, ain d a no ensino fu n d a m e n ta l, q u a n d o lid am o s com
d íz im a s p erió d icas. C om efeito, u m a d ízim a com o 0, 7 7 7 . .. n a d a m ais é do que
u m a p ro g ressão g eo m é trica infinita. Veja:
0 , 7 7 7 - = 7 * 0 , 1 1 1 . . . .= 7 ( - L + j j 5 + JL + ...)
5 = 1 —1 + 1 —1 + 1 —1 + ...
5 = 1 - 1 + 1 - 1 + 1 - 1 + . . . = (1 - 1) + (1 - 1) + (1 - 1) + . . . = 0.
M as p o d em o s ta m b é m escrever:
S =. 1 - 1 + 1 - 1 + 1 - 1 + . . . = 1 - (1 - 1) - (1 - 1) - (1 - 1) - . . . = 1.
E v e ja o qu e a in d a p o d em o s fazer:
S = l - 1 + 1 - 1 + 1 - 1 + ... = 1 - ( 1 - 1 + 1 - 1 + ...) = 1 - 5 ,
76 C a p ítu lo 3: Séries In fin ita s
O c o n c e ito d e s o m a in f in ita
a i + a 2 + Q3 + • • • + a n + • • • (3.1)
E m geral, d esig nam os p o r S n a som a dos prim eiros n elem entos d a seq ü ên cia
(an ), que é c h a m a d a a so m a parcial o u reduzida de ordem n a sso ciad a a essa
seqüência:
n
5 n = a i + a.2 + <13 + .. • + an = aj ' (3-2)
J = 1.
D esse m odo form am o s u m a n ova seq ü ên cia infin ita (S n ), que é, p o r definição,
a série de term o s a n . S e e la converge p a ra um núm ero 5 , definim os a som a
in fin ita in d ic a d a em (3.1) com o sen d o esse lim ite:
n oo
a l + a 2 + a 3 + -- - = 5 = lim S n = lim aj = an
j= 1 n —1
P r o p r i e d a d e s e e x ____________
e m p lo s j „ p_____________
------------- f £ ò.
3 .1 .
T e o r e m i.a . js e jum a série converge js e ij^ term o geral tende a zero. ^
'-------------------------- — U l________— ------------------- — 5
S D em onstração. S eja Y l a n u m a série d e re d u z id a S n e som a 5 . E n tão ,
a n = S n — S n_ i —►S — S = 0, com o q u e ría m o s d em o n strar.
3 .2 . E x e m p l o ( s é r ie g e o m é t r i c a ) . De im p o rtâ n c ia fu n d am en tal é a
série geom étrica de razão q:
oo
1 + q + Q2 + • • • = q71-
71=0
- 1 n "+l
S n — 1 + q + q + . . . + qn —
l- ç 1- q
N o tem o s que a série é d iv erg en te se |ç | > 1, pois neste caso seu term o geral
n ã o te n d e a zero.
y ^ ( \ / n + 1 — \/w )
71=1
Pelo m odo com o seu te rm o g era l te n d e a zero, quem e n c o n tra essa série p ela
p rim eira vez é in clin a d o a p e n s a r que e la converge. Foi Nicole O resm e, u m
m a te m á tic o do século X IV , q u em p rim eiro pro v o u que ela diverge. (V eja a n o ta
“A divergência d a série h a rm ô n ic a ” n a p. 95.) O resm e com eçou p o r a g ru p a r os
term os d a série assim :
r. , 1 /I 1\ /I 1 1 1
5 ~ 1 + 2 + ( j + i J + (5 + 6 + 7 + 8
1 1 1 1 _ 1
~ "b "7 > ~ -f-
3 4 4 4 ~ 2’
1 1 1 1 1 1 11 1 1 1 1
1
V
77 -f
+
+
'i
5 + 6 + 7 + 8 > 8 + 8 + 8 + 8 ~ 4X 8 “ 2;
1 1 11 11 1 1 1 „ 1 1
— > — -f"
9 + IÕ + "- + l166 > Í16
6 + Í166 +
" "- + Í 6 “ 8 X 16~ 2;
1 1 1 1 11 1 1 1 ' 1 1
— > — -i-
1 7 + 1 8 + ' ' ' + 32
3 2 > 32 + 32
3 2 "+ " ' + 3 2 _ 1 * 32 “ 2 ’
e assim p o r d ia n te , de s o rte q u e
5 > l + i + 2 x i + 4 x i + 8 x ^ + 1 6 x i + ...
1 1 1 1
= 1 + 2 + 2 + 2 + 2 + --'
P a ra to rn a r esse racio cín io u m pouco m ais form al, observam os que todos os
term os d a série são p o sitiv o s, d e fo rm a que su as red u zid as form am u m a seqüência
C a pítulo 3: Series In fin ita s 79
„ , 1 í 1 í 1 1 1
S 2“ = l + X+ õ + T + r + ^+ » + õ +- - -
2 \3 4/ V5 6 7
1 1 1
+ '.2 11- 1 + 1 + 2 " - 1 + 2 + ' " + 2n
i 1 v V 1 1 1\
1+ 2 + j=^A^Z
r-2 TTT + ^ rTT^ + '" + ^J-
S u b stitu in d o os d en o m in a d o re s de c a d a u m dos term o s d este ú ltim o p arên teses
p o r 2J . obtem os
5 2, > l + i + è ^ - 2 ^ ) = l + ^,
3= 2
que prova o re su lta d o anun ciad o.
3 .4 . T e o r e m a ( C r i t é r i o d e C a u c h y p a r a s é r ie s ) . Uma condirão
necessária e s uficiente para que u m a série 53 a n seja convergente é que dado
qualquer e > U, exista JV tal que, para t odo in teiro p o sitivo p,
i^ n - fp j = la n 4 - l ®n-\-2 4 ~ - • ■4 ~
OO OO
= Sj\r + ^ 2 ajv+n,
71=1 71—1
80 C a p ítu lo 3: Séries In â n ita s
OO
Y ^ an = lim Sn = lÍm (S jv + «JV+l + . . . + a N + n)
71=1
oo
= lim S ^ r + lim (ajv+ x + ■• • + «w +n) = S n + «iv+n-
71=1
S é rie s d e te r m o s p o s itiv o s
S n = P i + P2 + • •. + Pm
A ssim , p \ p o d e ser, digam os, o elem ento p$ , p '2 p o d e ser pg, p '3 p o d e ser p i etc.
E n tã o , com o os term o s são todos não negativos, a nova so m a p a rc ia l,
O1 1 i I i
S n = Pl + P2 + ■• • + Pn
E x e rc íc io s
^ ^ D a d a a seqüência S n de reduzidas de uma série, construa a seqüência original de term os
an da série.
2 . Dada uma serie convergente J , com som a S c reduzida S n, prove que seu resto R n é a
soma da série a partir do índice n 4- 1.
3. Chama-se série harmônica , em geral, toda série cujos inversos de seus termos formam uma
progressão aritm ética, isto é, toda série da forma
oo
, r 7^ 0.
^ ' a + nr
4JO btenha a reduzida da série > ----- — e mostre que seu limite (soma da série) é 1 .
& í r í n (n + 1) » i
°° 1 1 * ' \
5. Mostre que V"* J-Y
H (a + n)(a + n + 1) a
n= 1
O termo geral da série ] P lo g ( l + l / n ) tende a zero. Mostre, todavia, que ela é divergente,
obtendo uma forma sim ples para sua reduzida S n •
7. Dada uma série convergente Y l an e uma seqüência crescente de números naturais 711 <
TI2 < . . defina
61 = a i 4- . . . + a nj , 62 = a ni + i + • • • + a n2,
63 = ^n2+ l + • • • + o.n3 etc.
Prove que a série ^ bn converge e tem a mesma som a que a série original.
> 8 . Use o critério de Cauchy para provar que o termo geral de uma série convergente tende a
3 zero.
2,
9. Use o critério de Cauchy para provar que ^ a n converge se |a„| converge.
R e s p o s ta s , s u g e s tõ e s e so lu ç õ e s
1. ai = Si, an = Sn —Sn~i, n > 2.
82 C apítulo 3: Séries In B n ita s
2. Utilize o Teorema 3.5. Ou faça diretamente: pela definição que demos de resto, R n = S —Sn.
Por outro lado,
T e s te d e c o m p a r a ç ã o
/ 1 1 1\ ^ 1
e = hm 2 + - + - + ... + - = E rr-
V 2! 3! ■" n\ n\
n=o .
U m m o do de p ro v a r a co n verg ên cia dessa série, in d ep en d e n te m e n te d o que v im os
an te s, co nsiste em o b se rv a r que
1 1 1 1
n! ~ 2 - 3 . . . n ~ 2 - 2 . . . 2 ~ 2 " - 1 ’ .
d o nd e segue que, à ex ceção do prim eiro term o , a série d a d a é d o m in a d a p e la série
g eo m étrica de ra z ã o 1 /2 , q u e é convergente; logo, a série orig in al é co n v erg en te.
Irra c io n a lid a d e d o n ú m e ro e
õ d l j í ( l + (« + 2 ) - 1 + (» + 2 ) - 2 + . . . )
1 n + 2 1
<
( n 4- 1)! n + 1 n ln
P o d em o s e n tã o escrever: S n < e < S n + 1 /n ln .
Se e fosse ra c io n a l, is to é, se e = m / n , com m e n in teiros p o sitiv o s, n > 2
(pois, com o já sa b e m o s, e n ã o é in teiro ), en tão
vi 1
Sn < ~ S n 4* R n < S n 4 | ,
n niri
< i + £ Í ( 2 J + 1 - 2’ ) = i +
j= l 3=1
y ,/ 1 y _ y ,/ 1 y _ 2 :C_1
“ Já V 2 * -v < ^ V 2 i - 1J
, . 1 1 ^ 1 .
c m - 1 + ^ + j j i + ••• - (3 -3 )
71— 1
3 .1 0 . E x e m p l o . A série
A )
C a p ítu lo 3: Sórics In fin ita s 85
q u e é o re s u lta d o desejado.
, í h 5n + 2rn / n T T - 17 6
v erm o s isso n o ta m o s que seu term o geral an é ta l que
2 15n3 + n 2\ / n 2 — 1 16 . . .
n a n = — ;------ . ----------------> — .
5n 3 4- 2n \J n + 1 — 17 5
de so rte que (T eo rem a 2.6, p. 52), a p a rtir de u m c e rto índ ice N , terem o s
2 < n 2 an < 4; logo, a p a rtir desse índice N , a série é p o sitiv a e d o m in a d a p ela
sé rie de te rm o g eral A /n 2. C om o e sta série é co n v erg en te, ta m b é m o é a série
o rig inal.
1 2\ 3 4
n '1 \n ny n n n < 2n’‘
E x e rc íc io s
Tl—1
11. Prove que se (a n ) é uma seqüência não crescente e converge, então n a n —+ 0. Isso
pode não ser verdade se (cin) oscilar, como ilustra o exercício seguinte. Observe que a
condição n a n —1►0 não é suficiente para a convergência da série; um contra-exemplo é a
série l/(r c lo g n ), que é divergente. (Veja o Exemplo 3.18, p. 89).
12. Construa uma série convergente de termos positivos tal que n a n não tenda a zero.
S u g e s tõ e s
V n + 1 —y/rt. —
y/n 4- 1 4-
ni —1
7. (an — 6n) - i = ( l / a ) n[l — ( b /a )nj
1L. Sendo 5 a soma da série, S 2 n — S n = On+i + ■■- + Q2n ^ na.2n■ Isso permite provar o
resultado desejado para n par. Para n ímpàr observe que (2n + i < (2n -r Vja-in-
12. Tome um a série convergente (por exem plo, com 0 < q < 1) e substitua por l / n uma
infinidade de seus termos a n , tom ados cada vez mais espaçadamente para não destruir a
convergência (por exem plo, su b stitu a os termos de ordem n = k 7 por l / n = l / k 2).
T e s te d a r a z ã o
2 3
OJV+1 < a NC, U N + 2 < a j v + i c < a / y c , d f / + 3 < <*N+2C < a y v c , . . . ;
O raciocínio, no caso L > 1, é m ais sim ples ain d a, pois en tão , a p a rtir de
um c erto N , ajv+ i > o-n, “ JV+2 > a iV+l > Qjv; em geral, ajv+ j > a N > p ro v an d o
que o te rm o g eral a /v + j n ão te n d e a zero, logo a série diverge.
A d e m o n stra ç ã o d o te o re m a d eix a claro que nem p recisa e x istir o lim ite nele
referido; b a s ta que, a p a r t ir de u m c erto índice N , ten h am o s sem p re an+\ / a n <
c < 1 ou sem p re a n+i / a n > 1.
d onde segue a convergência, d a série. O cálculo desse lim ite no caso d as o u tra s
d u a s séries re s u lta em l / a e zero, resp ectiv am en te; é u m cálculo fácil, com o o
leitor p o d e verificar.
E x e r c íc io s
Teste cada uma das séries seguintes, verificando se converge ou não:
3
• 2 ^ ( 2 n)V
g 22T
"n!(
ln !(l - c o sn 2)
2 .5 .8 ... ( 3 n - T ) '
3 nn!(2 + sen n “)
7E 3 .5 .7 ... (2n - 1)'
9. Sejam a n e 'jT bn séries de termos positivos, esta últim a convergente. Suponhamos que
exista N tal que n > N => an+ i / a n < b n + i/b n . Prove que Y 2 a ’ 1 converge.
10. Obtenha a primeira parte do Teorema 3.14 como conseqüência do exercício anterior.
S u g e s tõ e s
(n + l)2
1. = (1 + 1J n f a .
2- ai anr ~ 2b 1+1 (2 n + l)(2 n + 2)'
a-n+l 2n a
an 2("+1)2 ( 2 n + 1)'
3"n! bn+i _ 3 (n + 1) 3
■bn,
6 . 7 . . . (2n - 1) bn 2 n -)- 1 2
9. Escreva a desigualdade do enunciado para os índices N , N + 1,. , n e multiplique, membro
a membro, as desigualdades obtidas.
n+l
10. Sendo L < c < 1, < c < ----- , a partir de um certo N .
O te s te d a in te g ra l
fn dx
log Ioga;
12 x log X
90 C a p ítu lo 3: Séries In fin ita s
E x e rc íc io s
1. Use o teste da integral para mostrar que a série harmônica é divergente.
Faça o mesm o para mostrar que a série ^ l / n 1 é convergente se x > 1 e divergente se
^ * < 1 .
3. Estabeleça as seguintes desigualdades:
oo oo oo
a)Z
n=l
i <2; b) E ^ V r < | ; c) En=lá < 2 -
n=l
j ; (e / x ) x d x .
e l ~n < — < n e l ~ n,
7ln
S u g e s tõ e s
3. Integre, em cada caso, uma função f { x ) apropriada.
C a p ítu lo 3: Séries In fin ita s 91
5. A convergência da série pode ser obtida como conseqüência da convergência das duas
últimas séries em (3.4) (p. 85), pois ( e / n ) n = (en/n ! ) ( n ! /n n).
6. B asta provar que é convergente a integral, de 2 a oo, da função
f ( x ) = ( l o g x ) - ,0fc x = = c -®(*)f
onde g ( x ) tem significado óbvio. (E fácil verificar que f ( x ) é decrescente a partir de um
certo xo, pois g '( x ) = x -1 (log log x + 1) > 0 a partir de um certo xo-) Para isso fazemos a
substituição y = log x. donde
. roo
f(x )d x = (e / y ) yd y ,
J lo g 2
C o n v e rg ê n c ia a b s o lu ta e c o n d ic io n a l
Tn = ia 11 + |a 21 + • • • + |otn| = P n + qn (3-6)
e
S n — fli -{- tt2 • ** ~í“ Qn = Pn Çti; (3- ^)
resp e ctiv a m e n te . A s seqüências (T n ), (p n ) e (qn ) são n ão d ecrescentes, a
p rim e ira d as quais converge, p o r h ip ó tese. S e ja T seu lim ite. T em os que
Pn < Tn < T e qn < T n < T , d o n d e co n clu ím o s q u e (p n ) e (qn ) convergem . Sejam
p e q seus resp ectiv o s lim ites. E n tã o S n ta m b é m co nverge: S n = p n — qn —*■P ~ 9-
Isso c o m p le ta a d em o n stração d a p rim e ira p a rte d o te o re m a .
P a r a ver que a so m a d a série d a d a in d e p e n d e d a o rd em de seus term os,
b a s ta n o ta r que p n e qn são red u zid as de séries d e te rm o s n ão negativos, e as
som as dessas séries in depende m d a o rd em em q u e se co n siderem seus term os,
com o vim os no T eorem a 3.6 (p. 80).
3 .2 0 . E x e m p l o . V am os p ro v ar qu e a série
^ sen 3n 2
, n
71=1 71=1
n 2 — %Jn
V
+ 9
9 , n 2lsen 3 n 2| n2
n - —y n + 9 n- - v n + 9
S é rie s a lt e r n a d a s e c o n v e r g ê n c ia c o n d ic io n a l
S l n = ( o i — 0 2 ) + ( « 3 — “ 4) + • • • + ( a 2 n —1 - « 2 n )
n o s dao:
0 < \S — <5*271
v._______ I
’S 2 n + l -
v ____
S 2 n = a 2n+ i
J
0 < |^ 2n + T - s j z S'2 n +1 ~ S 2 n+)t = « 2 n+ 2 '
3 .2 2 . E x e m p l o . A série h a rm ô n ic a a lte rn a d a ,
1 1 1 ^ ( - l ) n+1
1 — — — — — + . . . — / —---------- .
2 3 4 n —1, «
ai + a2 + a3 + an 4 - ,
c u jas red uzidas S j têm a seg u in te p ro p rie d a d e : ex iste J ta l que, sendo j > J, S'-
in c o rp o ra to d o s os elem entos d a série o rig in a l com índices que vão de 1 a té ÍV4-1,
de form a que o ú ltim o elem en to d a série o rig in al que ap arece em S ' tem índice
n j > N ; logo, te m valor ab so lu to m e n o r do que e. E foi esse elem ento que fez
94 C a p ítu lo 3: Séries In fin ita s
E x e r c íc io s
Verifique, em cada um dos exercícios seguintes, se a série dada é convergente; e, em sendo, se
absoluta ou condicionalmente.
OO
OO
cos k —sen k
n=1
oo
1
sen —;
n
oo
OO
N o ta s h istó r ic a s e c o m p le m e n ta r e s
A o r ig e m d a s s é r i e s i n f i n i t a s
A possibilidade de representar funções por meio de séries infinitas, particularmente séries de
potências, foi percebida desde o início do desenvolvimento do Cálculo no século XVII, tendo-se
constituído num dos mais poderosos estímulos a esse desenvolvimento.
Mas as séries infinitas são conhecidas desde a antiguidade. A primeira a ocorr
História da M atem ática é uma série geom étrica de razão 1/4, que intervém no cálculo da
área da parábola, feito por Arquiniedes. Seguindo a tradição grega de evitar o infinito, pelas
dificuldades lógicas que esse conceito pode trazer em seu bojo, Arquimedes não som a todos os
termos da referida série; ele observa que a soma de uma certa quantidade à reduzida de ordem
n produz um a quantidade independente de n, que é a soma da série.2
Depois dessa ocorrência de uma série geométrica num trabalho de Arquimedes. as séries
infinitas só voltariam a aparecer na M atem ática cerca de 1.500 anos mais tarde, no século
XIV. Nessa época h avia um grupo de m atem áticos na Universidade de Oxford que estudava a
cinem ática, ou fenôm eno do movimento. Foi esse estudo que levou à reconsideração das séries
infinitas. E foi então que se descobriu que o termo geral de uma série pode tender a zero sem
que a série seja convergente. Isto ocorreu em conexão com a série harmônica e a descoberta
foi feita por Nicole Oresme, de quem falaremos logo adiante.
A d iv e r g ê n c ia d a s é r ie h a r m ô n ic a
A divergência da série harmônica é um fato notável, que jamais seria descoberto experim en
talmente. D e fato, se fôssemos capazes de somar cada termo da série em um segundo de
tempo, como um ano tem aproximadamente 365,25 x 24 x 60 x 60 = 31.557.600 segundos,
nesse período de tem po seriamos capazes de somar a série até n = 31.557.600, obtendo para
a som a um valor pouco superior a 17; em 10 anos a soma chegaria a pouco mais de 20; em
100 anos, a pouco m ais de 22. Como se vê, esses números são muito pequenos para indicar
divergência da série; não som ente isso, mas depois de 100 anos já estaríam os som ando algo
muito pequeno, da ordem de 3 x 10“ 9. E claro também que é impossível efetuar essas som as
para valores tão grandes de n. . . .
Vamos fazer m ais um exercício de imaginação. Hoje em dia temos com putadores muito
rápidos, e a tecnologia está produzindo máquinas cada vez mais rápidas. Mas isso tem um
limite, pois, com o sabem os, nenhum sinal físico pode ser transmitido com velocidade superior
à da luz. Portanto, nenhum computador poderá efetuar uma soma em tempo inferior a 10-23
segundos, que é o tem po gasto pela luz para percorrer distância igual ao diâmetro de um elétron.
Pois bem, com tal com putador, em um ano, mil anos e um bilhão de anos, respectivam ente,
poderíamos som ar term os em números iguais a
E veja os resultados aproximados que obteríamos para a soma da série harmônica, em cada
um desses casos, respectivamente:
Imagine, finalmente, que esse computador estivesse ligado desde a origem do universo, há 16
bilhões de anos. Ele estaria hoje obtendo o valor aproximado de 94,2999 para som a da série
harmônica, um número ainda muito pequeno para fazer suspeitar que a série diverge.
— Mas com o se chega ao número 94,299, se o (idealizado) computador m ais rápido que
se possa construir deveria ficar ligado durante 16 bilhões de anos?
Sim, não há com o fazer essa soma, mas existem métodos que permitem substituir a soma
S n dos n primeiros term os da série por uma expressão matemática que aproxima S n e que
pode ser calculada numericamente; e os m atemáticos sabem disso há mais de 300 anos!...3
N ic o le O r e s m e e a s é r ie d e S w in e s h e a d
Nicole Oresme (1325-1382) foi um destacado intelectual em vários ramos do conhecimento,
como Filosofia, M atem ática, Astronom ia, Ciências Físicas e Naturais. Além de professor uni
versitário, Oresme era conselheiro do rei, principalmente na área de finanças públicas; e nessa
função revelou-se um homem de larga visão, recomendando medidas monetárias que tiveram
grande sucesso na prática. A o lado de tudo isso, Oresme foi também bispo de Lisieux.
Oresme m antinha contato com o grupo de pesquisadores de Oxford e contribuiu no estudo
de várias das séries estudadas nessa época. Um a dessas séries é a seguinte:
oo
n=l
Essa série foi considerada, por volta de 1350, por Richard Swineshead, um dos
matemáticos de Oxford. Ela surge a propósito de um movimento que se desenvolve durante o
intervalo de tem po [0, 1] da seguinte maneira: a velocidade permanece constante e igual a 1
durante a primeira m etade do intervalo, de zero a 1/2: dobra de valor no segundo subintervalo
(de duração 1 /4 ), triplica no terceiro subintervalo (de duração 1/8), quadruplica no quarto
sub- intervalo (de duração 1/16) etc. Como se vê, a soma da série assim construída é a soma
dos produtos da velocidade pelo tem po em cada um dos sucessivos sub-intervalos de tem po e
representa o espaço total percorrido pelo móvel (Fig. 3.1a).
Swineshead achou o valor 2 para a soma através de um longo e complicado argumento
verbal. Mais tarde, Oresme, deu uma explicação geométrica bastante interessante para a som a
da série. Observe que essa som a é igual à área da figura formada com uma infinidade de
retângulos verticais, como ilustra a Fig. 3.1a. O raciocínio de Swineshead, combinado com a
interpretação geométrica de Oresme, se traduz simplesmente no seguinte: a som a das áreas
dos retângulos verticais da Fig. 3.1a é igual à soma das áreas dos retângulos horizontais da
Fig. 3.1b. Ora, isso é o m esm o que substituir o movimento original por um a sucessão infinita
de movimentos, todos com velocidade igual à velocidade original: o primeiro no intervalo de
tempo [0, lj; o segundo no intervalo de tempo [1/2, 1); o terceiro no intervalo [3/4, 1]; e assim
por diante. Vê-se assim que o espaço percorrido (soma das áreas dos retângulos da Fig. 3.1b)
é agora dado pela soma da série geom étrica
n=0
Isso permite obter a som a da série original, pois sabemos somar uma série geométrica; no caso
desta últim a o valor é 2.
Hoje em dia a maneira natural de somar a série de Swineshead é esta:
oo oo . oo oo
S _ J L = V a 1 + (n - 1 )
l —j 2 n 2n
n=1 n=l
3 O leitor curioso pode ver a explicação desses métodos em nosso artigo na R evista
M atem ática U niversitária, Nq 19, Dezembro de 1995.
C a p ítu lo 3: S éries In fin ita s 97
(o) (b)
Fig. 3.1
C a u c h y e a s s é r ie s in fin ita s
“. .. para que a série UO) tii, U2 ,- - - U n, Un+ij & c ... seja convergente, é necessário e
suficiente que valores crescentes de n fa ça m convergir indefinidam ente a so m a sn = uo 4-tti 4-
U2 4- Szc . . . 4- U n -i para u m valor fixo s: em outras palavras, é necessário e su ficien te que, para
valores in fin ita m en te grandes do núm ero n, as som as s n , s n+i> s n+2 , — difiram da som a
s, e por conseqüência entre elas, por quantidades infinitam ente pequenas.”
O pouco m ais que Cauchy escreve em seguida sobre esse critério nada acrescenta de subs
tância, apenas esclarece ser [.. .necessário e suficiente] “que, para valores crescentes de n, as
som as das quantidades u n, u n+ i, u n+ 2- . . . tomadas, a p artir da prim eira, tantas quantas
se queiram , resultem sem pre em valores num éricos inferiores a todo lim ite p rescrito.”
Ao contrário de Bolzano, Cauchy sequer acena com uma dem onstração — parece julgá-la
desnecessária — , limitando-se a usar esse critério para provar que a série harmônica é divergente
e que a série alternada J ^ (—l ) n/ n é convergente. No primeiro caso ele observa que
S 2 n — S n = —— r 4- ——— 4-. -
n 4-1 n 4- 2
donde conclui que a série é divergente. No segundo caso o raciocínio é o seguinte, supondo
m > n: se m — n for ímpar,
98 C ap ítulo 3: Séries In fin ita s
e se m — n for par,
Em qualquer desses casos, |Sn — S m| < l / n , o que prova a convergência desejada. É fácil
verificar que esse último raciocínio se aplica tam bém à série alternada V ](—l ) na„, onde (an)
é uma seqüência nula não crescente. Aliás, a convergência dessa série já era sabida de Leibniz
(1646-1716), que lhe faz referência numa carta de 1713, o que explica atribuir-se a ele o teste
dado no Teorema 3.21 (p. 92).
Essas são as únicas aplicações em que Cauchy utiliza seu critério de convergência,
podendo-se então dizer que tal critério não teria feito falta alguma a Cauchy. Sua importância
só se faria sentir mais tarde, no final do século, no trato de im portantes problemas de apro
ximação, em equações diferenciais e cálculo de variações.
Embora, como dissemos, o trabalho de Cauchy tenha tido influência decisiva no desen
volvimento e consolidação do estudo da convergência das séries no século XIX, esse desen
volvimento vinha desabrochando desde o final do século anterior. E a esse respeito devemos
mencionar aqui o importante trabalho de um ilustre autor português, José Anastácio da Cunha.
As séries infinitas são discutidas no capítulo IX ("livro” IX) de sua obra "Princípios Mathe-
m aticos”, onde se pode identificar uma verdadeira antecipação de m uitas das idéias de Cauchy
e seus contemporâneos, inclusive o “critério de convergência de Cauchy” .4
O c o n c e ito d e fu n ç ã o
F aça u m gráfico d e sta ú ltim a fu n ç ã o e re p a re em seu asp ecto tip o “se rra ” , com
descon tin u idades nos p o n to s x = n n . No e n ta n to , a série inicial que a define
tem um asp ecto de m u ita re g u la rid a d e , p e la reg u larid ad e de seus term os, to d o s
com gráficos contín uos, sem q u a lq u e r r u p tu r a . Foi o processo de so m a in fin ita
d a definição inicial que fez su rg ir u m a fó rm u la nova p a ra definir a função, b em
com o as d esco n tin u id ad es d o gráfico.
E xem plos com o esse q u e a c a b a m o s de d a r deixavam claro que o conceito
de função d ad o p o r u m a fó rm u la e ra in a d eq u a d o . A definição m ais geral de
função que u tilizam o s h o je e q ue é d a d a logo a seguir, evoluiu p rin cip alm en te
dos tra b a lh o s de F ou rier e D iric h le t no século X IX , e sobre os quais falarem os
m ais em n o ta no final do c a p ítu lo .
T e r m in o lo g ia e n o ta ç ã o
x . Escreve-se:
/: x e D y = / ( x),
I f = { y = f { x ) : x 6 D} ,
/
Lli Cusétafo -fc Finçofs. ~~rr--■
*»e coatxm ãJade
V á r io s tip o s d e fu n ç ã o
Isso é o m esm o que afirm ar: f ( x ) = } { x ' ) => o: = x'\ e significa que cada
elem ento y d a im agem de / p ro v ém de u m ú nico elem ento x no dom ínio de
f : y = f { x ) . Isso nos p erm ite defin ir a c h a m a d a fu n ç ã o in versa d a função / ,
freq ü e n te m e n te in d icad a com o sím bolo / -1 , q u e leva y € f ( D ) no elem ento
x e D ta l que / ( x ) = y. E fácil ver e n tã o q u e f ^ 1 ( f ( x ) ) = x p a ra to d o x D e
/ ( / - 1 (y)) = v Pa ra to d o y e / ( o ) .
D iz-se q u e u m a função / : D i—» Y é so b rejetiva se } { D ) = y . U m a fun
ção q u e é ao m esm o te m p o in jetiv a e so b re je tiv a te m inv ersa d efinida em to d o
o c o n ju n to Y . E la estab elece assim u m a c o rre sp o n d ê n c ia e n tre os elem entos
x £ D e os elem entos y = f ( x ) e Y , q u e é c h a n a d a correspondência biunívoca,
ju s ta m e n te p o r ser unívoca nos dois sen tid o s: c a d a elem en to em D te m um
e um só c o rresp o n d en te em Y p e la / ; e c a d a e lem en to d e Y te m um e u m só
c o rre sp o n d en te em D p e la in v ersa / - 1 . U m a fu n ç ão n essas condições é ch a m a d a
u m a bijeção ou fu nção bijetiva. E claro q u e to d a fu n ção in je tiv a é u m a bijeção
de D so b re f { D ) .
D iz-se que u m a função / defin id a n u m in terv alo é crescente se x < x ' =>
f { x ) < } { x ') ‘, decrescente se x < x ' => f ( x ) > f { x ' ) - não decrescente se x <
x ' => f ( x ) < f ( x ' ) e não crescente se x < x ' => f ( x ) > f { x ' ) . E m to do s esses
casos / é ch a m a d a fu n çã o m on óto n a .
D iz-se que / é u m a fu n çã o par se seu d o m ín io D é sim é trico em relação á
origem (isto é, x £ D <=> —x £ D ) e f ( —x) = f ( x ) ; f é fu n çã o im par se o
dom ín io é do m esm o tip o e f ( —x) = —f ( x ) .
D a d a u m a função / : D t-+ Y e B u m s u b c o n ju n to de Y , define- se f ~ 1 ( B)
C a p ítu lo 4: Funções, lim ite c c o n tin u id a d e 103
f ~ \ B ) = { x e D : f( x ) € B }.
E n tã o , f ~ 1 ( Y ) = D c = <t> se B D } { D ) - <j>.
E x e rc íc io s
1. Considere a função f ( x ) = s e n ( l/x ) , definida para todo x ^ 0. Estude seu gráfico, notando
particularm ente o com portam ento da função quando |x| torna-se arbitrariamente grande
ou próximo de zero. Determine os pontos onde / se anula.
2. Faça o gráfico das funções f ( x ) = x s e n ( l / x ) e g (x) = x 2 s e n ( l/ x ) , que estão definidas para
todo x ^ 0.
a) f (x) = x 2 — 2x — 3; 6) f ( x ) ~ —x 2 4- x 4- 2;
7. Faça o gráfico da função y — = Prove que sua imagem é o intervalo |y| < 1. Prove
V i 2 4- 1
que ela é injetiva, provando que y — y =>• x — x ' . Calcule sua inversa.
8. Prove que tod a função com domínio simétrico em relação à origem decompÕe-se de maneira
única na som a de um a função par com uma função ímpar.
9. Se / é um a função com domínio D e A e B são subconjuntos de D , prove que f ( A U B ) =
f ( A ) U f ( B ) e f ( A D B ) C f ( A ) C \ f ( B ) . Dê um contra-exemplo para mostrar que f ( A C \B )
pode ser diferente de f ( A ) D f ( B ) . Prove que a última inclusão é a igualdade se / for
injetiva.
10. Prove, de um m odo geral, que quaisquer que sejam a função / com domínio D e ( . d i ) ^
uma seqüência enumerável de subconjuntos de D , valem as seguintes relações:
f - \ A U B) = r \ A ) U /- '( B ) ; f ~ l (A n B ) = r \ A ) n
104 C apítulo 4: F unções, lim ite e co n tin u id a d e
S u g estõ es e so lu çõ es
1. Essa função é estudada detalhadam ente em nosso livro Cálculo 1.
3. Nos pontos x da forma ( p /q )2, com p e q primos entre si, onde ela é 1.
o t i s _ /(* ) + / ( - x ) f{x) - f ( - x )
~ 2 2 '
inf / -f- inf <7 < inf / + g (x) < f { x ) g (x ) e f ( x ) + g{x) < s u p / + ^(x) < s u p / + sup<7-
18. E claro que sup A < u . Por outro lado, dado qualquer e > 0, existem x e y em D tais que
f ( x ) > M - e /2 e f ( y ) < m + e / 2 , donde f ( x ) - f ( y ) > tj —e; e isso prova que u < sup A.
C apítulo 4: Funções, lim ite e c o n tin u id a d e 10-5
L im ite e c o n tin u id a d e ,
p r im eira s d efin içõ es
A = í i l 1 _n _ |
\ 2’ 3’ 4’ ’ n + 1" J
H isto ric am e n te, o conceito de lim ite é p o ste rio r ao de d eriv ad a. E le surge da
necessid ad e de calcular lim ites de razões in c re m e n ta is q u e definem derivadas. E
esses lim ites são sem p re do tip o 0 /0 . P o r aí já se vê q u e os exem plos in teressan tes
d e lim ites devem envolver situações que só co m eçam a a p a re c e r n u m curso de
C álcu lo dep o is que o aluno ad q u ire fa m ilia rid a d e com u m a classe razoável de
funções. A liás, os prim eiros lim ites in te re ssa n te s a o c o rre r nos cursos de Cálculo
são os d a s funções
sen x 1 — cos x ,.
------ - e ------------- , 4.1
x x
com x te n d e n d o a zero. Isso acontece no cálculo d a d e riv a d a d a função y =
sen x . M ais ta rd e , no estu d o das in teg rais im p ró p ria s, su rg e a necessidade de
c o n sid e ra r lim ites de funções como
Jr0
com x te n d e n d o a 1.
O bserve que, em to d o s esses casos e o u tro s p arecid o s, a v ariáv el x deve
a p ro x im a r um c erto valor, sem n unca c o incid ir com esse valor, e que o valor do
q u a l x se ap ro x im a deve ser p o n to de acu m u la ção d o dom ín io d a função. E ssas
observações a ju d a m a b em co m p reen d er a definição q u e d am o s a seguir.
4 .2 . D e f in iç ã o . D ada um a fu n çã o f com d o m ín io D , seja a u m ponto de
acum ulação de D (que p ode ou n ão p e rte n c e r a D ). D iz-se que u m núm ero L
é o lim ite de f ( x ) com x tendendo a a se, dado qualquer e > 0,existe 6 > 0 tal
que .
x € D , 0 < \x — a | < S => \ f ( x ) — L\ < e. (4-3)
P r o p r ie d a d e s d o lim ite
4 .7 . C o r o l á r i o ( p e r m a n ê n c i a d o s i n a l) . Se u m a fu n ç ã o f com do m ínio
D tem lim ite L ^ 0 com x —* a, então existe S > 0 tal que, x £ V ^{a) D D
f ( x ) > L /2 se L > 0 e f ( x ) < L / 2 se L < 0; ou seja, |/ ( x ) | > |L |/ 2 em ambos
os casos.
eL2
■ x e V /(a ) n L » => |g(x) - L| < — . (4.4)
O te o rem a seguinte p e rm ite defin ir lim ite d e u m a função em term o s de lim ite
de seqüências, u m a definição eq u iv alen te à D efinição 4.2.
n ã o converge p a ra L.
C om o esta m o s negando A, ex iste u m e > 0 com o q u a l p od em o s to m ar
q u a lq u e r 6 ; to m em os en tão to d a u m a se q ü ên c ia Sn — l / n . E m co rresp o n
d ên c ia a c a d a um desses 6 n, escolhem os e fixam os u m x n e V \/n {a ) fl D com
f [ x n ) £ Ve(L ). D essa m an e ira p ro d u zim o s a neg ação d e B , com o desejávam os,
p ois exibim os u m a seqüência x n e D , i „ ^ a, x n —> a , ta l q u e f { x ) n ão converge
p a ra L. Isso c o m p le ta a d e m o n stração do te o re m a.
O te o re m a q ue acabam os de d e m o n s tra r p e rm ite d e d u z ir o T eo rem a 4.8 do
T eo rem a 2.8 (p. 52). P o r exem plo, su p o n d o q u e f ( x ) e g ( x ) te n h a m lim ites
F e G, re sp ectiv am en te, com x —» a, vam os p ro v ar q u e o lim ite do p ro d u to
é o p ro d u to dos lim ites. Seja x n e D — {a} u m a seq ü ên cia convergindo p a ra
a. E n tã o , p e la hip ó tese do T eorem a 4.8, f ( x n ) —* F e g ( x n ) —> G; e, pelo
T e o rem a 2.8, f { x n ) g ( x n ) —> F G , d on de o T eo rem a 4.10 nos leva a concluir que
f ( x ) g ( x ) —* F G , que é o item c) do T eo rem a 4.8.
4 .1 3 . T e o r e m a ( c o n t i n u i d a d e d a f u n ç ã o c o m p o s t a ) . S eja m f e g
fu n ç õ e s com d o m ín io s D f e D g respectivam ente, com g { Dg) C D j . Se g é
contínua em xq e f é c o n tín u a em yo = g ( x o), então h ( x ) = f ( g ( x ) ) é con tínu a
em x q . ,
A n alog am en te, p e la c o n tin u id a d e d a fun ção g, existe <5 > 0 em c o rresp o n d ên cia
a 8 ' ta l que
x € V s(xo ) n D g => |p (z ) - s ( i o ) | < 6 1. ,
E claro en tã o que
que co m p le ta a d e m o n stra ç ã o .
E x e rc íc io s
1. Prove que a é ponto de acum ulação de um conjunto À’ se e somente se dado qualquer e > 0
existe x 6 X tal que x G V^(a).
2. Prove que o limite de uma função, quando existe, é único.
3. Verifique que a função de Dirichlet, f ( x ) = 1 se x é racional e f ( x ) = 0 se x é irracional,
pode ser expressa como
f ( x ) = lim [ lim (co sn ! 7rx) 2fcJ.
n—*oo k—>oo
4. Dê exemplo de um a função / que seja descontínua para todo x , enquanto | / | seja sempre
contínua.
5. Prove que a função f { x ) = x para x racional e / ( x ) = —x para x irracional só é contínua
em x = 0 , mas |/ ( x ) | é contínua para todo x.
6 . Prove que \ / x é uma função contínua em seu domínio x > 0.
7. Prove, diretamente da Definição 4.2, que /( x ) = x 2 é uma função contínua em todo o seu
domínio.
8 . Prove que a função / ( x ) = s e n ( l / x ) não tem limite com x —► 0.
9. Prove que a função / ( x ) = l s e x > 0 e —1 se x < 0 não tem limite com x —*• 0.
10. Prove todos os itens do Teorema 4.8.
11. Prove o Teorema 4.8 diretam ente, sem usar o Teorema 4.10.
X 1
13. Prove, diretamente da Definição 4.2, que l i m ------- = - .
’ * ’ M x - ix + 1 2
112 C a pítulo 4: F unções, lim ite c c o n tin u id a d e
14. Prove que um polinômio é uma função contínua em todo ponto x = a, o mesmo sendo
verdade do quociente de dois polinômios, nos pontos que não anulam o denominador.
15. (C r ité r io d e co n fro n to o u d a fu n ç ã o in te r c a la d a .) Sejam f , g e h três funções com
o mesmo domínio D , sendo / ( x ) < g (x) < h ( x ). Prove que se / ( x ) e h (x ) têm o mesmo
limite L com x —►a, então g{x) tam bém tem lim ite L com x —♦ a.
S u g e s tõ e s e s o lu ç õ e s
2. Basta provar que é impossível haver dois lim ites distintos L e L ' . „
6 . Observe que, sendo a > 0,
. r~i \x — a\ \x - a|
= yr x +- ■y}=
a < —7=^-
ya
Portanto, dado e > 0, basta tomar 6 = £ y/ã para satisfazer a condição (4.3). O caso o = 0
é mais simples ainda: y /x < e x < e 2.
7. Se a 7^ 0, |x 2 — a2| = |x + a||x — a| < (|x | + |a |)|x — a| < 3 |a ||x — a|, esta última
desigualdade sendo verdadeira se restringirmos x de forma que |x| < 2 |a|, o que é suficiente
para acomodar x = a no intervalo (—2 |a|, 2 |a |), como bem mostra um gráfico simples. E,
em conseqüência, |x 2 — a21 < e se |x — a\ < 6 < e /3 a . Para garantir a condição |x| < 2|a|,
notamos que |x| = |(x —a) + a| < |x —a| 4- |a| < 6 4* |a|; portanto, devemos tomar 6 < 2|a|,
além de 6 < e /3 a. O caso a = 0 é mais fácil: x 2 < e ^ |x| < y / i — 6.
8. Utilize o Corolário 4.11, seja construindo um a seqüência x n —♦ 0 tal que f ( x n) não convirja,
seja construindo duas seqüências x n —*■0 e y n —^►0 tais que f ( x n ) e f { y n) tenham limites
distintos. Outro modo seria usar a desigualdade do triângulo para mostrar que a Definição
4.2 é violada com um e < 2.
9. Proceda como no exercício anterior.
11. O procedimento é análogo ao da dem onstração do Teorema 2.8 da p. 52.
, 5
12 . E preciso provar que pode-se fa zer---------- 1 em módulo menor que qualquer e > 0 prescrito,
x —1
fazendo |x —6 | < S. Ora,
I 5 _ .1 \x — 6|
Ix — 1 I |x — 1 |
Como o x vai estar numa vizinhança 6 de 6 , podem os supor 6 < 1 , garantindo |x — 1 | > 4.
Faça uma figura para ver que deve ser assim, em bora tal fato precise ser provado. E para
isto usamos a desigualdade do triângulo, assim:
Então,
Isto será menor do que e se fizermos \x — 6| < 4c, donde se vê que <5 deve ser o menor dos
números 4e e 1.
13. O procedimento é análogo ao do exercício anterior. Esses dois exercícios servem para
ilustrar a eficácia do Teorem a 4.8, mediante o qual os resultados pedidos nos Exercs. 5, 10
e 11 dispensam todo esse trabalho de provar diretamente da definição de limite.
14. Use repetidamente o Teorema 4.8.
17. Como contra-exemplo considere a função f { x ) = s e n (l/x ), que não tem limite com x —- 0.
Tome, por exem plo, D ' = {1/n ir, n = 1, 2, 3 . . . } .
L im ite s la te r a is e f u n ç õ e s m o n ó to n a s
x Ulí
— 0+L |x
r í| = / (° + ) = 1 e x%
—>0- A
|z | = / ( ° - ) = - L
Sup onh a m os agora que D seja ilim ita d o su p erio rm en te. D iz-se qu.e f ( x ) tem
lim ite L com x —> + o o sc, dado qualquer e > 0, existe u m núm ero k > Ü
tal que x 6 D , x > k => |/ ( x ) — L \ < e . A n a lo g a m en te, sendo D ilim itado
in ferio rm e n te, diz-se que f ( x ) tem lim ite L com x —> —oo se, dado qualquer
e > 0, existe u m núm ero k > 0 tal que x e D , x < —k => |f ( x ) — L\ < e . E sses
■,r- , , x —sen x
lim \ f x = 0 ± ; lim (2 — x) = 0q=; lim ------------ = 0 + .
x —*0± x —»2± x —*0± x
D e u m m odo geral, f ( x ) —>a + com x —►a significa: dado qualquer e > 0, existe
& > 0 tal que, sendo D o dom ín io de / ,
Os teo rem as acim a são ilu straçõ es de v á rio s re su ltad o s envolvendo lim ites no
infinito ou lim ites infinitos. D eixam os ao le ito r a ta re fa de verificar a v alidade
de resu ltad o s análogos, seja com a v ariáv el in d ep en d e n te ou com os valores das
funções ten d e n d o a —0 0 .
C onvém o b serv ar que m u ito s re s u lta d o s v álid o s p a ra lim ites finitos não são
válidos no caso de lim ites infinitos. P o r ex em p lo , se d u as funções ten d em a + 0 0 ,
su a diferença p ode te r lim ite + 0 0 , —00 o u q u a lq u e r valor finito. E sse é u m dos
C a p ítu lo 4: Funções, lim ite e co n tin u id a d e 117
A s d e s c o n tin u id a d e s d e u m a fu n ç ã o
D o m esm o m odo que só c o n sid eram o s c o n tin u id a d e de u m a função em p o n to s
de acum ulação d e seu d om ínio, a n oção de d esco n tin u id a d e será ig u alm en te
co nsid erad a nesses p o ntos.
Sendo a um p o n to de a cu m u la ção do d om ínio D de u m a função f, dizem os
que f é d esco n tín u a em x = a se, o u / n ão te m lim ite com x —> a, ou esse lim ite
existe e é diferente de / ( a ) , ou f n ã o e s tá d efinid a e m l x = a. A nalo g am e n te
definim os descontinuidade à d ireita e d esco n tin u ida de à esquerda.
D e acordo com essa definição, e sta m o s a d m itin d o que u m p o n to p o ssa ser
d escon tin u id ade de u m a função, m esm o q u e ele não p e rte n ç a ao dom ínio de / . A
rigor, não d ev eria ser assim , só d e v eriam o s a d m itir d escon tin u id ad es em p o n to s
p e rten cen tes ao dom ínio d a função. M as é n a tu r a l co n sid erar o que se p assa nas
proxim idades de p o n to s de a c u m u laç ão do dom ín io de u m a função, m esm o que
ta is pon to s não p e rte n ç a m ao do m ínio . A ssim , as funções
4 .2 1 . T e o r e m a . Os p o n to s de descontinuidade de um a fu n çã o m o n ó to n a
f num intervalo I (lim ita d o ou n ã o ) só podem ser do tipo salto; e fo r m a m um
conjunto no m á xim o en u m erá vel.
[f {xi)] = f ( x i + ) - f ( x i - ) ,
são ta is que
n
= [ - / ( z i - ) + / ( z i + ) ] + [—/ ( z 2 - ) + /( z 2 + ) ] + .--
Í—1 '
= - f ( x 1 - ) - ^ [ / ( x i + i - ) - f { x i +) } + f { x n +)
Í=1
< f { x n+ ) - f ( x i - ) < f ( b ) - f ( a ) .
/(*) = E
‘- i 4
TIZ
r„ <x
■
o nd e a s o m a tó ria , com o se indica, estende-se a to d o s os índices n ta is q u e r n < x.
A ssim ,
f ( x ) = 1 + 1 /4 p a ra - 1 /2 < x < - 1 / 3 ;
f ( x ) = 1 + 1 /4 + 1 /9 p a ra - 1 /3 < x < - 1 / 4 ;
/(■T)= E “»■
rn <x
/(*) = rE
n <x
^2 (4-9)
C om o se vê, estam o s so m an d o so b re to d o s os índices n p a ra os qu ais r n é m enor
do que x. C om o a série J ^ l / n 2 é co n v erg en te, é claro que a som a em (4.9) é
convergente. E claro ta m b é m que a fu n ção aq u i definida é crescente, pois
E x e rc íc io s
1. Faça as demonstrações do Teorema 4.14 nos casos omitidos.
2. Demonstre o Teorema 4.15.
3. Defina cada uma das quatro expressões contidas em limx—± o o / ( ^ ) = ±oo.
4. Faça a demonstração do Teorema 4.17 nos casos omitidos.
5. Faça a demonstração da segunda parte do Teorema 4.18.
6. Demonstre os Teoremas 4.19 e 4.20.
7. Prove que f ( x ) — x z — 7x + 2x —9 —►-f oo com x —►+ oo.
8. Prove que todo polinômio p(x) = x n + an- i x n~ 1 -+-... -f a ix + ao tende a +oo com x —> ±oo
se n for par; e se n for ímpar, p(x) tende a —oo com x —» —oo e a -f-oo com x —►+ 00 .
9. Estude os limites de um polinômio
com x —►oc. Mostre, em particular, no caso n ímpar, que se a n > 0, limp(x) = ± 00 com
x —* ±00 (havendo correspondência de sinais); e se an < 0, lim p(x) = ^00 com x —> ± 00.
C a p ítu lo 4: Funções, lim ite c c o n tin u id a d e 121
14. ( C r ité r io d e c o n v erg ê n cia d e C au ch y ) Prove que uma condição necessária e suficiente
para que uma função / tenha limite finito com x —+ 4-oo é que, dado qualquer e > 0, exista
A; > 0 tal que
x, y>k=> |/(x ) - }{y)\ < e.
Enuncie e prove propriedade análoga com x —►—oo.
15. Prove a relação (4.8).
16. Prove as relações (4.10)
17. Prove que a função (4.9) é contínua em x ^ r n para todo n.
18. Prove que a função (4.9) e contínua pela esquerda em x = tn e descontínua pela direita,
com salto [/(x ,v )] = 1 /N 2.
19. No som atório em (4.9) troque r n < x por r < x e prove que a nova função obtida é contínua
pela direita e descontínua pela esquerda em todo ponto x — r/v. , onde o salto ainda é 1/iV2.
20. Seja f um a função m onótona num intervalo [a, 6], cuja imagem é todo um intervalo [c, d].
Prove que f é contínua.
S u g e s tõ e s e so lu ç õ e s
7. Aplique o Teorema 4.20, notando que f ( x ) = x 3( l —7 / x + 2 / x 2 — 9 /x 3) e que a expressão
entre parênteses tende a 1 com x —* 4-óo, logo, é maior do que qualquer k, 0 < k < 1 para
|x| maior do que um ccrto N .
8. Pode-se usar o mesmo procedimento do exercício anterior. Outro m odo de resolver o
problema é o seguinte:
Tomando x suficientemente grande, podemos fazer |a i/x n l | < l/2 n , 0 < i < n — 1, de
sorte que |p(x)| > |xn |/2. .
14. Transfira o problema para Ç = 0 com a transformação Ç = l / x .
16. Para provar a segunda das relações, referente ao limite com x —> 4-oo, devemos provar que,
dado qualquer e > 0, existe X tal que
122 C a p ítu lo 4: Funções, lim ite e co n tin u id a d e
D a convergência da série J ^ l / n 2 segue-se que existe N tal que essa soma, a partir de
n — N -f-1, é < e. Tomemos X tal que n , . . . ,rjv sejam todos < X . Então, sendo x > X ,
a segunda som a na diferença acima inclui todos os termos correspondentes a n = 1 ,N ,
logo
í ( x + h) - f ( x) = Y]
Z— / T i"
e f ( x ) ~ f ( x ~ h) = 'V'
^ '
-V
71“
x<rn<x+h x—h<rn<x
O te o r e m a d o v a lo r in te r m e d iá r io
4 .2 4 . T e o r e m a (d o v a lo r i n t e r m e d i á r i o ) . S e ja f u m a fu n ç ã o contínua
n u m in terva lo / = [a, 6], com f ( a ) ^ /(&)• E n tã o , dado qualquer núm ero d
com preendido entre f ( a ) e f ( b) , existe c G (a, b) tal que f ( c ) = d. E m outras
palavras, f ( x ) assum e todos os valores com preendidos en tre f ( a ) e f ( b) , com x
variando em (a, b).
D em onstração. B a sta d e m o n stra r o te o re m a no caso em que d = 0, pois o
caso g eral se red u z a este p a ra a função g( x) = f ( x ) — d.
F arem o s a d em o n straç ã o pelo m é to d o de bisseção, com o n a d em o n stração do
T e o rem a 2.24 (p. 6 6 ). Seja l o co m p rim en to d e [a, 6]. C o m eçam o s div id in do esse
in terv alo ao m eio, o b ten d o dois novos in terv alo s fechados, d igam os, [a, r] e [r, 6].
Se / ( r ) = 0, o te o re m a e sta rá d em o n stra d o . Se f [ r ) > 0, escolhem os o intervalo
[a, r]; e se f ( r ) < 0, escolhem os o in terv alo [r, 6]. E m q u a lq u e r desses dois casos,
te re m o s um novo intervalo, que d en o ta rem o s [aj, 61], d e co m p rim en to 1/ 2 , e ta l
que f i f l y) < 0 e / ( 02 ) > Ü. N ovam ente d iv id im o s e ste in terv alo ao m eio, com
o que, o u en c o n tram o s u m a raiz de } ( x ) = 0 , ou te re m o s um novo intervalo
[0 2 , 62], com f ( a o ) < 0 e f ( bo ) > 0. P ro sseg u in d o assim , sucessivam ente, ou
esse processo te rm in a com o encon tro de u m a raiz de f ( x ) = 0 , ou ob tem os u m a
fam ília ( /„ ) de interv alo s encaixados, I n = [an , 6„], o c o m p rim en to de / „ sendo
C a p ítu lo 4: F unções, lim ite e con tinu ida de 123
E x e rc íc io s
1. Faça a dem onstração do Teorema 2.24 no caso f( a ) > f(b ).
2. Prove que a equação x 4 + lOx — 8 = 0 tem pelo menos duas raízes reais. U se uma
calculadora científica para determinar uma dessas raízes com aproximação de duas casas
decimais.
3. Prove que um polinômio de grau ímpar tem um número ímpar de raízes (reais), contando
as multiplicidades.
4. Prove que se n é par, p ( x ) = x n + + . . . + a i x + ao assume um valor mínimo m.
Em conseqüência, prove que p[x) = a tem pelo menos duas soluções distintas se a > m e
nenhuma se a < rn,
5. Prove que se um polinômio de grau n tiver r raizes reais, contando as m ultiplicidades, então
11 — r é par.
6. Prove que todo número a > 0 possui raizes quadradas, uma positiva e outra negativa.
7. Prove que todo número a > 0 possui uma raiz n-ésima positiva; e se n for par, possuirá
também um a raiz n-ésim a negativa.
8. Seja / uma função contínua num intervalo, onde ela é sempre diferente de zero. Prove que
/ é sempre positiva ou sempre negativa.
9. Sejam / e g funções contínuas num intervalo [a, 6], tais que f ( a ) < g(a) e f( b ) > g(b).
Prove que existe um número c entre a e b, tal que f ( c ) — g{c). Faça um gráfico para
entender bem o que se passa.
10. Seja / um a função contínua no intervalo [0, 1], com valores nesse mesmo intervalo. Prove
que existe c G [0, 1] tal que /( c ) = c. Interprete este resultado geometricamente.
C a p ítu lo 4: Funções, lim ite e contin u id a d e 125
11. Nas mesmas hipóteses do exercício anterior, prove que existe c £ [0, 1] tal que / ( c ) = 1 —c.
Interprete este resultado geom etricamente.
12. Seja / uma função contínua no intervalo [0, 1], com /(O) = /( 1 ) . Prove que existe um
número c £ [0, 1/2] tal que f ( c ) = / ( c -f- 1 /2 ). Este exercício tem uma interpretação física
muito interessante: se / representa a tem peratura num determinado instante, ao longo
de qualquer curva fechada simples sobre a superfície terrestre — em particular o equador
terrestre — , e x representa a distância ao longo dessa curva a partir de um c erto ponto,
o resultado anunciado significa que existem dois pontos, c e c'+ 1/2, onde a temperatura
tem o mesmo valor.
13. Prove que f ( x ) = x se x for racional e f ( x ) = 1 — x se x for irracional é contínua em
x = 1 /2 e somente nesse ponto.
14. Considere a função / assim definida: f ( x ) = —x se x for racional e f ( x ) = \ / x se x for
irracional. Faça o gráfico dessa função e m ostre que ela é uma bijeção descontínua em todos
os pontos.
S u g e s tõ e s
2. Lembre-se de que quando um polinômio com coeficientes reais tiver uma raiz complexa, ele
terá também .a com plexa conjugada como raiz. Verifique que há uma raiz entre zero e l e
determine esta raiz pelo m étodo de bisseção.
6. Suponhamos a ^ 1, já que o caso a — 1 é trivial. Se a > 1, f ( x ) = x 2 é tal que /( 1 ) < /( a );
logo. pelo teorema do valor intermediário, existe um número entre 1 e a, designado por \fã ,
tal que f( \J a ) = a. Se a < 1 ,./( 1 ) > a > f { a ) , e novamente existe um número y/ã entre a
-e 1 tal que f{ y /ã ) — a. E o caso de raiz negativa?
10. Considere a função g (x) = f ( x ) —x , se já não for /(O ) = 0 ou / ( 1 ) = 1.
11. Use o Exerc. 9 com g (x ) = 1 — x .
12. Considere a função g (x) = f ( x ) — f ( x + 1 /2 ) no intervalo [1, 1/2).
N o ta s h istó rica s e c o m p le m e n ta r e s
mos da série. A questão posta por Bernoulli permaneceu dorm ente por cerca de meio século até
que fosse retom ada pelo eminente físico-matem ático Jean-Baptiste Joseph Fourier (1768-1830)
em seus estudos sobre a propagação do calor. Nesses estudos surge várias vezes a necessidade
de desenvolvim entos do tipo (4.11). E a possibilidade desse desenvolvim ento, em toda a sua
generalidade, apresenta-se, no início do século XIX, como um problema central da Análise
M atem ática.
A forma mais com pleta dos trabalhos de Fourier sobre propagação do calor encontra-se
em seu livro Théorie Analytique de la Chaleur, publicado em 1822 (traduzido em inglês pela
Editora Dover). Fourier acreditava que funções “arbitrárias” pudessem ser desenvolvidas em
séries do tipo (4.11); e pensou haver demonstrado esse resultado. Eis um exemplo concreto, já
apresentado no início do capítulo:
oo \n + l
f ( x ) = V"' — --------sen tix, (4.12)
£—' n
n=l
e / é definida em toda a reta como função periódica de período 2~. Esse é um exemplo que
contrasta com os pontos de vista tanto de Euler como de d'Alem bert, pois vista em sua re
presentação (4.12) ela seria, para ambos, analítica\ ao passo que, para eles, (4.13) seria outra
função, obtida p'ela junção das translações de f ( x ) = x / 2 com domínio ( —n , tt)!
Exemplos como esse deixavam clara a insuficiência dos antigos conceitos de função e
continuidade de meados do século XVIII para lidar com os problemas trazidos ao cenário
m atem ático pelos estudos de Fourier. O próprio Fourier já tem um a idéia bem mais ampla
desse conceito. Eis como ele o descreve no Art. 417 da p. 430 de seu livro:
Isso eqüivale praticamente à definição que adotam os hoje em dia, segundo a qual uma
fu n çã o f é um a correspondência que atribui, segundo um a lei qualquer, um valor y a cada
valor x da variável independente.
Situações novas como as apresentadas por Fourier evidenciavam a necessidade de uma
adequada fundamentação dos m étodos usados no trato dos problemas. Era preciso agora
aclarar de vez o significado de “derivar” ou “integrar” uma função, fosse ela dada por uma
“fórmula” ou não. “Derivar" não podia significar apenas aplicar uma “lei algébrica” a uma
“fórmula” , assim como “integrar” não podia mais ser apenas “achar uma primitiva” . Essas
maneiras de encarar as operações do Cálculo eram, a partir de então, insuficientes.
Como já dissemos, no final do capítulo anterior, Cauchy foi o protagonista principal do
novo programa de tornar rigorosos os m étodos da Análise. Ele certam ente estava a par do
128 C a p ítu lo 4: Funções, lim ite e contin u id ad e
trabalho de FouFier e dos novos problemas que tinham de ser atacados. No prefácio de seu
Cours d ’A n a ly se Cauchy enuncia claramente seus altos padrões de rigòr:
Q uanto aos m étodos, procurei dar-lhes todo o rigor que se exige em G eom etria, de m aneira
a ja m a is recorrer a razões tiradas da generalidade da álgebra. Tais razões, embora m uito
freqü entem en te adm itidas, sobretudo na passagem das séries convergentes às séries diver
gentes e de grandezas reais a expressões imaginárias, a m eu ver só podem s e r consideradas
como induções próprias a sugerir a verdade, m as que pouco têm a ver com a tão festejada
exatidão as ciências m atem áticas. Deve-se m esm o observar que elas ten d em a atribuir às
fó rm u la s algébricas validade universal, quando a m aior parte dessas fó rm u la s só valem sob
certas condições e para certos valores das grandezas envolvidas. D eterm inando essas condições
e esses valores, e fixando de m aneira precisa o sentido da notação de que m e sirvo, faço desa
parecer toda incerteza.
O t e o r e m a d o valor in te rm e d iá rio
Já tivemos oportunidade de mencionar que o objetivo principal de Bolzano, com seu trabalho
de 1817, foi dem onstrar o teorema do valor intermediário por meios puramente analíticos.
Cauchy, após enunciar o teorema do valor intermediário no texto de seu C ours d ’A nalyse
oferece, com o “dem onstração” , o que não passa de uma sim ples ‘justificativa” , baseada na
“visualização geom étrica” . De fato, supondo que 6 seja um valor compreendido entre f { x o) e
/ ( X ) , para m ostrar que existe x entre xo e X tal que f { x ) — ò, ele sim plesm ente argum enta que
C a p ítu lo 4: F unções, lim ite e co n tin u id a d e 129
“a curva que tem por equação y = f ( x ) deve encontrar u m a ou várias vezes a reta que tem por
equação y = b no intervalo compreendido entre as ordenadas que correspondem às abscissas
xo e X ”, apelando simplesmente para o fato de que o gráfico d e f é uma curva contínua...
Todavia, um a verdadeira “demonstração analítica” é dada na “N ota III” no final de seu livro.
Como já observamos, o teorema do valor intermediário é evidente, quando interpretado
geom etricamente. E por isso mesmo era aceito e usado no século XVIII, sem questionamento.
As duas argumentações de Cauchy, mencionadas acim a — a “justificativa” e a “demonstração
analítica” — refletem muito bem a utilização do teorem a no cálculo aproximado de raizes
de polinômios. E revelam também a familiaridade que Cauchy certam ente possuía com os
trabalhos desses m atemáticos do século XVIII.
W e ie rstr a ss e os fu n d a m e n to s d a A n á lis e
Karl Weierstrass (1815-1897) estudou direito por quatro, anos na Universidade de Bonn, pas
sando em seguida para a Matemática. Abandonou os estudos antes de se doutorar, tornando-se
professor do ensino secundário (Gymnasium) em Braunsberg, de 1841 a 1854. Durante todo
esse tem po, isolado do mundo científico, trabalhou intensam ente e produziu importantes tra
balhos de pesquisa que o tornaram conhecido de alguns dos m ais em inentes matemáticos da
época. Um desses trabalhos, publicado em 1854, tanto impressionou Richelot, professor em
Kõnigsberg, que este conseguiu persuadir sua Universidade a conferir a Weierstrass um título
honorário de doutor. 0 próprio Richelot foi pessoalm ente à pequena cidade de Braunsberg para
a apresentação do título a Weierstrass, saudando-o com o “o m estre de todos nós”. Weierstrass
deixou Braunsberg e passou por vários postos do ensino superior, terminando professor titular
da Universidade de Berlim, de onde sua fama se espalhou por toda a Europa. Tornou- se um
professor m uito procura.do, que mais transm itia suas idéias através dos cursos que ministrava
do que por trabalhos publicados; e dessa maneira exerceu grande influência sobre dezenas de
m atem áticos que freqüentavam suas preleções.
A partir de 1856 Weierstrass ministrou diversos cursos sobre teoria das funções, às vezes o
mesmo curso repetidas vezes, e vários de seus alunos, que m ais tarde se tornariam matemáticos
famosos, fizeram notas desses cursos, como A. Hurwitz, M. Pasch e H. A. Schwarz. E muitas
das idéias e resultados obtidos por Weierstrass estão contidos nessas notas ou simplesmente
foram divulgados por esses seus alunos, por cartas ou em seus próprios trabalhos científicos.
Nas N otas dos cursos de Weierstrass aparecem as primeiras noções topológicas, em particular a
definição de “vizinhança” de um ponto, a definição de continuidade em termos de desigualdade
envolvendo e e S, e vários resultados sobre funções contínuas cm intervalos fechados. Em
particular, o chamado “Teorema de Bolzano-W eierstrass” está entre esses resultados, o qual
Weierstrass formulou originalmente para conjuntos infinitos e lim itados, e não para seqüências,
com o vimos no Capítulo 2 (p. 66). O teorem a diz que todo conjunto num érico infinito e
lim itado possui ao m enos um ponto de acumulação. O leitor não terá dificuldades em provar
o teorema nesta versão com os mesmos argumentos usados na dem onstração da outra versão
dada na p. 67. Weierstrass, através de seus cursos, exerceu decisiva influência na modernização
da Análise.
Gauss nasceu em Brunswick, de pais pobres; e teve suas qualidades de gênio reconhecidas bem
cedo. Graças à proteção do duque de Brunswick pôde estudar e cursar a Universidade de
G õttingen, onde, a partir de 1807 e pelo resto de sua vida, seria Professor de Astronomia e
Diretor do Observatório.
Ao lado de Arquimedes e Newton, Gauss é considerado um dos três maiores matemáticos
de todos os tempos. Sua produção científica se espalha por todos os domínios da Matemática
130 C a p ítu lo 4: F unções , lim ite e c o n tin u id a d e
onde o símbolo (r)n significa r(r + l)(r + 2 ) . . . (r + n — 1). Juntam ente com Legendre, Abel e
Jacobi, deixou marcantes contribuições à teoria das funções elípticas.
Por várias razões Gauss não teve em sua época tanta influência como Cauchy. Como
já dissemos, só publicava trabalhos muito bem acabados, que nada deixassem por fazer; e
encontrava-se afastado de Paris, que era a meca científica da época. A isso deve-se acrescentar
que não tinha pendores para o ensino. Confessava mesmo que não gostava de ensinar, e teve
poucos alunos.
Capítulo 5
SEQUENCIA S E
S ÉR IES D E F U N Ç Õ E S
In trod u ção
em seu c u rso d e C álculo, que funções com o sen a; e cosa;, p o ssu e m as seguintes
séries de M acL au rin :
i 3 x 5 ^ í - l ) n x 2n+l
“ » * - * - ã + 5 T - - „ Ç 0T s r r !
( - l ) n x 2n
2! 4! ^ (2 „ )! •
S e q ü ên cia s d e fu n ções
C o n v e r g ê n c ia s im p le s e c o n v e r g ê n c ia u n ifo r m e
■ |x I
\x /n \ < e n > N = — .
£
t r a t a de con v erg ên cia sim ples ou p o n tu al. E claro que e ste tip o de convergência é
con seq ü ên cia d a convergência uniform e, m a s a co n v erg ên cia p o n tu a l não im plica
a convergência uniform e.
A convergência uniform e ad m ite u m a in te rp re ta ç ã o g e ò m é tric a sim ples e
sug estiva: ela significa que, q u alq uer que seja e > 0, e x iste u m índice N a p a rtir
d o q u a l os gráficos de to d a s as funções f n ficam n a faix a d e lim ita d a pelos gráficos
d a s funções f ( x ) + e e f ( x ) — e (Fig. 5.2). A o c o n trá rio , a convergência não
sen d o uniform e, ex iste u m e > 0 ta l que, p a ra u m a in fin id a d e de valores n, o
gráfico de / a c a b a saind o d a faixa (—e, e ), c e n tra d a n o g ráfico de / . É esse o
caso d a seq ü ên cia f n (x) = x / n , que converge p a ra / ( x ) = 0 (x real), m as não
un ifo rm e m e n te. E n tã o , q u alq u er que seja e > 0, o gráfico de q u a lq u e r f n a c ab a
sain d o d a faix a ( —e, e), c e n tra d a no eixo dos x , com o se v ê n a Fig. 5.1.
P a r a n e g a r a convergência uniform e, n ão é p reciso q u e a desig u ald ad e
\ f n ( x ) — f { x ) \ < e se ja v io lad a qualquer qu e seja e e p a r a to d o n , com o aconteceu
no exem plo a n terio r. B a s ta que essa v iolação o c o rra p a r a a lg u m e > 0 e p a ra
u m a infin id ade de índices n, como ilu stra o exem p lo a seguir.
Fig. 5.3
O n
5 . 3 . E x e m p l o . C onsiderem os a função f ( x ) = e ~ x2, cu jo gráfico é sim étrico
em relação ao eixo O y e que te n d e a zero com x —> ±cx>. S eja / „ a seqüência
d a d a p o r f n ( x ) = f ( x — n) . C om o se vê, o gráfico d e / „ é o d e / tra n sla d a d o
n u n id ad es p a ra a d ire ita (Fig. 5.3). É fácil ver, e n tã o , q u e f n [x) —> 0 p o n tu a l
m e n te . M as essa convergência não é un iform e, pois / n (« ) = 1, de so rte que a
c o n diçã o | f n ( x) — f ( x ) \ < e e sta rá v io lad a em x = n com q u a lq u e r e < 1. E n
tr e ta n to , se nos restrin g irm o s a q u alq u er sem i-eixo x < c, te re m o s u n ifo rm id ad e
d a convergência, v isto que, a p a rtir de n > c, f n {x) < f n (c) < e x p [ - ( c — n ) 2];
o ra , e s ta ú ltim a ex pressão p o d e ser feita m e n o r do q u e q u a lq u e r e > 0 a p a rtir
d e u m c e rto índice N , in d ep en d e n tem en te d e x , d esd e q u e x < c.
E x e rc íc io s
Mostre que essa seqüência tende a zero pontualm ente em x > 0, mas não uniformemente.
Prove quea convergência é uniforme em qualquer semi-eixo x > c > 0.
7. Prove que f n (x) = x 2/ ( l + n x 2) tende a zero uniformemente em toda a reta.
8. Prove que a seqüência f n (x) = x / ( l + n x ) tende a zero uniformemente em x > 0. Analise
o comportamento dessa seqüência em x < 0.
9. Estude a seqüência f n {x) = n x / ( 1 4- n x ) quanto à convergência simples e uniforme.
10. Determine o limite da seqüência f n (x) = n x 2/ ( l + n x ) e prove que a convergência é uniforme
em x > 0. Analise a situação em x < 0.
11. Mostre que a seqüência f n (x) = ex^n tende a 1 pontualm ente para todo x real, mas não
uniformemente. Prove que a convergência é uniforme em qualquer intervalo [—c, c].
12. Mostre que a seqüência f n(x) = n x e ~ n i . considerada em x > 0, tende a zero pontualmente,
mas não uniformemente. Prove que a convergência é uniforme em qualquer semi-eixo
x > c > 0.
136 C a p ítu lo 5: S eq ü ên cia s e séries de funções
13. Faça o m esm o que no exercício anterior para a seqüência f n {x) = n2xe n x .
14. Estude a seqüência f n {x) = x / ( l + n x ) quanto à convergência simples e uniforme em toda
a reta.
15. Considere a seqüência f n (x) = x n (l — x n ) no intervalo [0, 1]. Faça o gráfico de f n ,
determ inando, inclusive, seu valor máximo e o ponto x n onde ele é assumido. Mostre que
f n ( x ) tende a zero pontualm ente, mas não uniformemente. Prove que a convergência é
uniforme em qualquer intervalo [0, c], c < 1.
16. Faça o gráfico de f n [x) = x n/ ( l- f - x n) para todo x > 0 e mostre que essa seqüência converge
para a função ,
í 0 se 0 < x< 1
f ( x ) — < 1/2 se x = 1
[ 1 se x > 1
mas não uniformemente. Prove que a convergência é uniforme em qualquer domínio do
tipo R+ — Vfc(l), com <5 > 0. (Aqui, como de costume, R+ denota o conjunto dos números
reais positivos.
17. Mostre que f n {x) = n x / ( 1 + n 2x 2) —►0 qualquer que seja x real, mas não uniformemente.
Prove que a convergência é uniforme em qualquer domínio |x| > c > 0.
18. Prove que a seqüência
c / \
Jn\X) — Z :
nx
2 21
1 + n*x* logn
tende a zero uniformemente, para todo x real.
S u g e stõ e s e so lu ç õ e s
1. Se cos na; —* 0, o mesmo seria verdade de cos2nx. Como cos 2n x = cos2 n x — sen2m , sen n x
também tenderia a zero, o que é absurdo, pois sen n i 4- cos2 n x = 1.
2. Observe que / n( l / n ) = 1/2.
5. Observe que
x n < e <=> n logrr < logc <=> n > N = .
log x
Vemos assim que para cada x fixado encontramos um N , mas esse N varia com o variar
de ar,-tendendo a infinito com x —►1 (estamos supondo 0 < £ < 1); logo, a convergência é
pontual, m as não uniforme. Com a restrição 0 < x < c < 1,
9. A convergência é uniforme em qualquer domínio do tipo jx| > c > 0. como se vê analisando
a diferença 1 — / n(x ). Observe que f n ( l / n ) = 1 /2 , donde se vê que a convergência não
pode ser uniforme em toda a reta.
x2 x 1
10. f n ( z ) = ------ -------- * |f n ( x ) — xl = I-- 1 < — se x > 0, o que prova que a c
x -f l / n 1 -f- nx n
vergência é uniforme nesse domínio. Se x < 0, como x não pode ser igual a - l / n , pelo
menos a partir de um certo n, podem os nos restringir a x < c < 0, onde, novamente, a
convergência é uniforme, como o leitor deve provar.
14. f n , que é função ímpar, assume valor m áximo 1 /2 y /n em x n = 1/y /n . Faça o gráfico de f n
para diferentes valores de n.
15. f n assume seu valor m áxim o 1 /4 em x n = 1 / y/2, que tende a 1 crescentemente. Compare
os gráficos das diferentes funções f n para valores crescentes de n.
16. Calcule as derivadas primeira e segunda de /n (x ); verifique que a derivada primeira é
sempre positiva e a derivada segunda se anula em x n — [(n — l ) /( n 4 -l) ) 1 , que tende a 1
crescentemente. Compare os gráficos das diferentes funções f n, para valores crescentes de
n.
17. Observe que / n( ± l / n ) = ± 1 /2 . Se |x | > c > 0, |/n (x )| < l/n |x j < 1/nc.
18. Observe que f n é funcão ímpar e ache seu valor máximo.
C o n s e q ü ê n c ia s d a c o n v e r g ê n c ia u n if o rm e
lim í
Ja
f n (x )d x = í
Ja
[lim f n ( x) ]dx = í
Ja
}(x)dx. (5.2)
f
Ja
fn { x )d x - í
Ja
f (x )d x = í
Ja
[ fn (x ) - f{ x )] d
donde
rb rb rb
f n (x)dx - f(x)dx < \ f n ( x) - f ( x ) \ d x < s( b - a).
Ja Ja Ja
Is to p ro v a o re su lta d o desejado.
(5.3)
f n ( x ) = fn {c ) + j f h( t ) dt ; (5.4)
e com o a co n v erg ên cia f'n —* g ê u niform e, podem os p a ssa r ao lim ite so b o sin al
de in teg ração , o q u e prova que f n ( x ) tem p o r lim ite u m a função f ( x ) , d a d a p o r
(5.5)
D aq ui segue q u e / ' = g.
F a lta a p e n a s 'p ro v a r que / „ —> / uniform em ente. D e (5.4) e (5.5),
D aq u i e d e (5.6) o b tem o s: n > N => \ f n (x) — /(a r)| < e [l + (6 — a )], o que
c o m p le ta a d e m o n stra ç ã o .
S é rie s d e fu n ç õ e s
O s conceitos de co n v ergência sim ples e uniform e d e seq ü ências tra n sfe re m -se
n a tu ra lm e n te p a r a séries, in te rp re ta d a s esta s com o seq üências d e reduzidas ou
som as parciais. A ssim , a convergência u n ifo rm e de u m a série de funções,
OO
n= 1
O s T eo rem as 5.5 a 5.6 e 5.7, aplicam -se às séries, re s u lta n d o , com o é fácil
ver, nos te o re m a s seguintes, sem necessidade de novas d em o n straç õ e s.
5 .1 1 . T e o r e m a ( t e s t e M d e W e i e r s t r a s s ) . S e ja f n u m a seqüência de
fu n ç õ e s com o m e sm o d o m ín io D , satisfazendo a condição | / n (* )| < M n para
todo x € D , onde Y .]M n é u m a série n u m érica convergeiite. E n tã o a série
Y2 f n ( x ) converge absoluta e u n ifo rm e m en te em D .
E n tã o , p a ra to d o x em D,
n oo oo
n > N => | / ( x ) - ] T / , ( x ) | = | /jM I < M j < e ,
j=1 j=n+l j —n+1
C a p ítu lo 5: Seqüências e séries de fu n çõ es 141
/'H = J2 (n + l) ( n - 1)!'
E x e r c íc io s
1. Prove que a seqüência f n (x) = n x e ~ nx não converge uniformemente em [0, 1], verificando
que
9. Faça o mesmo que no exercício anterior no caso da série ^ l / ( n 2 —z 2), os pontos omitidos
neste caso sendo os inteiros.
10. Estude a função definida pela série
n=l X
E V(-----
n
x
sen —
n
x
12. Seja Y2 /n ( x ) uma série de funções positivas, contínuas e não decrescentes num intervalo
[a, 6], tal que ^ fn{b) converge. Prove que a série dada converge uniformemente e que sua
som a é integrável, logo,
oo oo çb
^ 2 f n (x )d x - ^ fn ( x )d x .
/
J aa n=0 n=0 a
13. Prove que nx I n converge uniformemente em qualquer sem i-eixo do tipo x > c > 0,
logo, é uma função contínua em x > 0. Prove que essa função tende, a infinito com x —* 0.
S u g e s tõ e s e so lu ç õ e s
5. Aplique o teste M de Weierstrass, notando que x Me “ rix = e “ n(x-lo« x) < e ~ n, pois x — logx
atinge seu mínimo em x = 1.
6. Observe que |xn/ ( l + x n)| < cn/ ( l —c) e aplique o teste M de Weierstrass. Se a convergência
fosse uniforme em |x| < 1, pelo critério de Cauchy, dado qualquer e > 0, existiria N tal
que n > N implicaria
i r r ^ 1= - Sn_1^< e
para todo x 6 ( —1, 1)- Ora, com n par, suficientemente grande, existe x nesse intervalo,
muito próximo de 1 ou de —1 (x = x n = 1 / \/2 ), fazendo o primeiro membro da expressão
acim a igual a 1/3. Que a série define uma função contínua em |x| < 1 é evidente, pois
qualquer elemento desse intervalo está em algum [—c, c], com c < 1.
7. Fixado x £ (0, 1), f n(x) = x n/ ( l + x n ) é uma seqüência numérica decrescente; logo,
N
S n {x ) = T V / ( l + x") > N i * / ( l + x N ). Isso perm ite mostrar que existe uma vizinhança
n=l .
de x = 1, onde 5yv(x) > N /3 . Para provar que lim / ( x ) = —oo, considere —S 2 n ( x ) , em
X —♦ — 1
x = —y, com y —* 1:
n=1
1 l/c f 1 \ -n 2 -l/c 2
1 4- n 2x ^ n 2 Y l + n2;r/ ( l - f - n 2x ) 2 n2 ’
9. Considere x restrito a um intervalo [a, 6] que não contenha número inteiro e prove que aí
a convergência é uniforme, tanto da série original como da série de derivadas.
10. Observe que
1 —cosa: sen2rc 1 _
-----x *2-----= x z [ "T
\ Jr /cos
r ',-----
x ) \ õ com
2 x °*
Então, sendo |x| < M e n suficientemente grande, a série dada é dominada pela série
/ n 2. A série de derivadas, ^ (l/n )se n (a :/n ) também converge absoluta ^uniforme
mente no mesmo intervalo |x| < M , pois, a partir de um certo índice N , a correspondente
série de módulos é dominada por 2 A //n 2.
x — sen x
11. Como no exercício anterior, estude lim i—o ------ rr—— .
xó
S é rie s d e p o tê n c ia s
R a io d e c o n v e rg ê n c ia
lim
for m eno r do que 1; e d iv erg en te se esse lim ite for m aio r do que 1. R e su lta d aí
que o raio de convergência d a série c o n sid e ra d a é
r = lim
a n+ 1
(m esm o que esse lim ite se ja zero o u in fin ito ), p o is a série converge se |x | < r e
diverge se |x| > r . .
P r o p r ie d a d e s d a s s é r ie s d e p o tê n c i a s
. |a nxn | = |a „ x j || — P < M | - | n
xo xo
Isso m o s tra que a série ^ | a n x n | é d o m in a d a p e la série n u m é ric a convergente
5 3 A í|c /x o |n . E n tã o , pelo te s te d e W eie rstra ss, Y ^ \a nXn \ converge uniform e
m e n te em |x | < c, com o q u eríam o s p ro v ar.
1 —x n
S n ( x) = l + x + x ‘2 + . . . + x n = —---------- ,
1 —x
tem os:
n -t-i
1 — X
5 .1 6 . T e o r e m a d a u n i c i d a d e d e s é r ie s d e p o t ê n c i a s . Se u m a fu n çã o
f a dm ite d e se n vo lvim en to em série de p otências n um ponto xo , esse desenvo lvi
m ento é único.
/(xO =
!* » (* )! <
(n + l)!
E sta estim ativa de R n ( x) nos m ostra que tal resto tende a zero com n —*■ oo,
qualquer que seja x , donde concluirmos que
71--0 ‘
E x e rc íc io s '
Calcule o raio de convergência de cada um a das séries dadas nos Exercs. 1 a 6.
o° oo . oo
t ^ (2 n + l) /. 2. ] T '^ 7 ; 3. ]T(v/3)2n(.r f 2 ) \
n=0 ' n= l n=0
oo 03 oo
4 »• £ e - , » V .
n=l n=l n=l
o
8. se n x — x — -
z3 +, s5
- - ... = ^
v, (-l)Vn+1 .
n=0 '
„ , z2 *4 ( - l ) " x 2n
9. c o sx = l - - + - - . . . = £ - .
2! 4! (2 n)
=0
n= 0
X
o X
fj 00
V > 2n+l
10. se n h x = ^ "or — ••• = / y
3! 5! Z - f ( 2 n + l)! *
n=0
Xx X•. 00 X2rt
11. cosh x = 1 4- —T + -7:----. . . = > TT— r r .
2! 4! (2ti)!
148 C apítulo 5: S eqüência s e séries d e fu nçõ es
3 5 00 / \n
X X V—^ (— I) onj-i .
14. arctga: = x — — H----------------------------------------------------------------------------------------------- . . . = >—-x" . Faca i = l e obtenha o seguinte r
0 3 5 Z -^ 2 n + l s 6 ’
n=0
1 - 1 - • » r M . 7T , ' 1 1
c o n h ec id o co m o serie de Leibniz: — = 1 — — + — — — + . . .
1
4 3 5 /
, 1 3 , 1 - 3 5 , 1 • 3 • 5 . . . ( 2n
22.arcsena, = x + — x + _ -x + . .. = ^ _ — -j-
n=0
S u gestões
A s fu n çõ es tr ig o n o m étr ic a s
D e fato, se ex istirem d u as tais funções, é claro que elas serão de classe C'°°
em to d a a re ta ; e q ue s"(a;) + c2(x) = 1 (E xerc. 1 a d ia n te ), d o n d e |s (x )| < 1 e
|c (x )| < 1. E m conseqüência, essas funções tê m d esenvolvim entos d e M acL aurin,
com rèstos que ten d em a zero com n —> oo, q u a lq u e r que seja x . Fazendo n —* co
nesses desenvolvim entos, o b te m o s as séries j á m en cio n ad as e aqu i rep etid as:
(5.9)
E x e rc íc io s
1. Prove que se s (x ) e c(x) são duas funções de classe C 1 satisfazendo (5.9), então
s2(x) + c2(x) = 1.
2. Prove que (5.8) é o único par de funções s(x ) e c(x) de classe C 1 satisfazendo (5.7).
3. Prove as fórmulas (5.9).
4. Prove que sen7r = 0, cos7r = —1, sen37r/2 = —1, cos37r/2 = 0, sen27r = 0, c o s ‘2 tt — 1,
sen(x —7r/2) = c o sx e cos(x — 7r/2) = se n x .
5. Prove que se n x e c o s x são funções periódicas de período 27T. Prove também que 2n é o
menor período positivo dessas funções. Faça os gráficos dessas funções.
S u g e s tõ e s
1. Derive f ( x ) — s 2(x) + c2(x) e note que /(O) = 1.
2. Suponha que existisse outro par de funções. S e C \ nas mesmas condições de s e c,
respectivamente. Mostre que sC — S c = a e s S - \ - c C = 6 são constantes; a = 0, b — 1.
Tendo em conta que s 2 -|- c2 = 1, obtenha as -J- bc — C e bs — ac — S . Daqui segue, com
x = 0, que 5'(x) = s(x ) e C ( x ) = c(x).
3. Ponha
f ( x ) = sen(x + b) — sen x cos b — cos x sen 6,
ff(x ) = cos(x + b) — cos x cos 6 + sen x sen 6;
e verifique que f ' = g e g ' — —f , e que f 2 + g 2 — 0. Conclua, pela continuidade, que
f s g = 0. ' ” - '
5. Se p e p ' são períodos, tam bém o são —p e p + p . Mostre que se p é um período entre zero
e 27r, então existe uni período menor do que 7r e outro menor do que tt/2.
N o ta s h is tó ric a s e c o m p le m e n ta re s
A s s é r ie s d e p o t ê n c i a s
As séries de potências com eçaram a surgir logo no início do Cálculo, no século XVII. Assim,
Newton obteve a série geom étrica
——— = 1 4- x + x 2 -f x 3 + . . .
1 —x
C a pítulo 5: Seqüências e séries d e fu n ç õ e s 151
por divisão direta do nuinerador 1 pelo denominador 1 —a*. E obteve a série do logaritmo,
.3
■(-
3
• n=1
integrando term o a termo a série anterior. Isso aconteceu por volta de 1665, no contexto
de calcular áreas sob a hipérbole, m as tais resultados só foram publicados posteriorm ente.
Nicolaus Mercator (1620-1687), apoiando-se nos resultados de Gregorius Saint V incent, obteve
a mesm a série do logaritmo em 1668, daí essa série ser às vezes chamada “série de Newton-
Mercator”.
Newton obteve m uitas outras séries de potências por esse mesmo m étodo de expandir
certas funções sim ples e integrar termo a termo. Por exemplo, aplicando esse procedim ento à
série
1 = 1l — x 2 +. 4x —x 6 +. . . . ,
1+ x
obtem os a série de arctgx:
x 3 X5 ^ ( - l) n
arctg x = x --------------------- —• + —------------- . . . = > ---------------
3 5 ' 2n + 1
n=o
Nesse domínio das séries, o m ais importante dos resultados de Newton foi sua d escoberta da
série binomial (Exerc. 13 da p. 148).
A descoberta das séries de potências das funções elementares deu grande im pulso ao desen
volvim ento do Cálculo. Bastava agora saber derivar e. integrar potências de x para. ser possível
derivar e integrar um a função qualquer. Foi até providencial que as séries de potências fossem
descobertas antes que outros tipos de séries de funções, já que elas definem funções m uito bem
com portadas — as cham adas Junções analíticas. Por causa disso elas podem ser derivadas
e integradas termo a termo, operações essas que eram executadas desde o início do Cálculo,
sem maiores preocupações com questões de convergência. Mas isso não é sempre possível com
outras séries de funções, como as séries trigonométricas. E interessante notar tam bém que o
surgimento dessas outras séries nas aplicações, sobretudo as séries de Fourier no final do século
XVIII, foi um fator decisivo no desenvolvimento da teoria da convergência.
L a g r a n g e e a s fu n ç õ e s a n a lític a s
Joseph-Louis Lagrange (1736-1813) nasceu em Torino, onde tornou-se professor de M atem ática
na Escola Real de Artilharia aos 19 anos. E aos 25 anos já era reconhecido com o um dos maiores
m atem áticos do século. Em 1776 Lagrange aceitou o convite para substituir Euler em Berlim,
já que este transferia-se de volta para São Petersburgo. Ele satisfazia assim o expresso desejo
de Frederico II, segundo o qual “era preciso que o maior geômetra da Europa vivesse junto ao
maior dos reis”. Com a m orte de Frederico em 1787, Lagrange transferiu-se para Paris, onde
permaneceu pelo resto de sua vida.
Lagrange produziu um a série de trabalhos da maior importância, nos m ais variados
domínios da M atem ática e da ciência aplicada. Sua obra mais famosa é a M écanique A na-
lytique, concebida em sua juventude, mas só publicada em 1788, e com a qual a Mecânica
ficava definitivamente estabelecida como um ramo da Análise Matemática.
Em 1797 Lagrange publicou um livro intitulado Théorie des fo n ctio n s analytiques, no qual
ele procura resolver o problem a da fundamentação do Cálculo em bases puramente algébricas,
sem a necessidade de considerar grandezas infinitesimais. Para isso ele serve-se da série de
Taylor, num processo inverso: partindo da série de Taylor de um a dada função, ele introduz
as sucessivas derivadas da função em termos dos coeficientes de sua série. Essa construção
152 C apítulo 5: Seqüências e séries d e fu n ç õ es
se assentava na premissa de que toda função possui desenvolvim ento em série de Taylor, mas
isto é falso. Embora falho em seu intento principal, o livro de Lagrange traz importantes
contribuições ao Cálculo, além de representar o esforço m ais significativo do século XVIII para
os fundamentos dessa disciplina, bem como o prenúncio do rigor definitivo que iria logo se
desenvolver 110 século seguinte.
A c o n v e r g ê n c i a u n if o r m e
A s questões de convergência, derivabilidade e integrabilidade de séries de funções só puderam
ser equacionadas e resolvidas depois que o trabalho de Fourier, devidamente apreciado, deixou
bem evidentes as peculiaridades das séries trigonométricas.
Em seu Cours d ’A nalyse de 1821 Cauchy dá um tratam ento bastante completo e sa
tisfatório à convergência das séries. Mas não está totalm ente livre das idéias antigas de in-
finitésiraos e do hábito de conceber variáveis com o abscissas de pontos móveis ao longo de
eixos. Sua própria definição de continuidade revela esse aspecto dinâmico em seu modo de
conceber limites. Por causa disso e por não perceber que a convergência das séries de funções
tem aspectos que não estão presentes na convergência das séries numéricas, cometeu erros em
afirmações que exigiam o conceito de “convergência uniforme” ou de “continuidade uniforme” .
Assim é que ele prova o (falso) teorema, segundo o qual “a som a de um a série de funções
contínuas é uma função contínua” . E também ao provar a integrabilidade de qualquer função
contínua, a interveniência da continuidade uniform e passa despercebida a Cauchy.
Um outro matemático brilhante dessa ép oca foi o norueguês Niels Henrik Abel (1802
1829). Ele era filho de um pastor pobre e teve um professor à altura de seu gênio, Bernt
Holmboe. Quando Abel tinha 17 anos, H olm boe predisse que ele seria o maior matemático
do mundo, e procurou encaminhá-lo adequadam ente. Com uma bolsa de estudos, Abel viajou
para Paris, onde encontrou os maiores m atem áticos da época, inclusive Cauchy. Mas não foi
devidamente reconhecido. Viajou para Berlim, ònde teve o apoio de Crelle, mas também aí a
sorte não esteve a seu lado. Logo ficou tuberculoso e morreu muito cedo. O destino, portanto,
não permitiu que se cumprisse a previsão de Holmboe.
Num trabalho de 1826 sobre séries, particularmente sobre a série binomial, Abel usou a
série trigonométrica ^ ( —l ) n+1s e n n x /n para m ostrar a falsidade da afirmação de Cauchy. De
fato, a soma dessa série é a função periódica de período 277, que é igual a x / 2 no intervalo
( —7r, 7r). Como se vê, é uma função com saltos em todos os pontos da forma (2k + 1)7T.
Sabemos que a condição que faltava a Cauchy para que seu teorema fosse verdadeiro é a da
“convergência uniforme” . Mas A bel também não a identificou; e em seu trabalho ele incorre
nos mesmos erros que embaraçaram Cauchy: su a concepção dinâmicp. de continuidade é a
mesma de Cauchy e o trato com infm itésim os também segue o mesmo estilo de Cauchy.
O primeiro matemático a identificar o conceito de convergência uniforme parece ter sido
Christof Gudermann (1798-1852) num trabalho de 1838. E Weierstrass, que preparou sua
tese (sobre funções elípticas) para a obtenção do diploma de "professor de 2— grau” com
Gudermann, assimilou bem o novo conceito, dele tirando todas as implicações importantes na
teoria das séries de funções. Em suas preleções em Berlim ele sempre enfatizou a importância
da convergência uniforme, particularmente para a integração termo a termo de uma série
convergente de funções contínuas. .
A a r i t m e t i z a ç ã o d a A n á lis e
Logo no início do desenvolvimento racional da M atem ática, há cêrca de 25 séculos, surgiu a
crença, atribuída a Pitágoras, de que o número é a chave da explicação dos fenômenos. Mas
não tardaria muito para que essa crença fosse seriam ente abalada com a primeira grande crise
de fundamentos da Matemática, de que já falamos no Capítulo 1. Essa crise foi contornada por
C a p itu lo 5: S eqüências e séries de fu n çõ es 153
üJudoxo, ligado à escola de Platão, com sua “teoria das proporções” , descrita 110 Livro V dos
Elementos de Euclides. Isso deslocou o eixo dos fundamentos, da Aritmética para a Geometria.
3 Platão exprime m uito bem essa nova convicção quando ensina que “Deus geometriza sempre”
2 manda escrever, 110 pórtico da Academia, “quem não for geômetra não entre”. Desde então,
2 por muitos séculos a M atem ática identifica-se com a Geometria, tanto assim que ate uns cem
anos atrás os m atem áticos eram conhecidos como "gcômetras” .
Por isso mesmo, os m atem áticos do século XVII, que tanto inovaram e deram origem
à nova disciplina do Cálculo, foram, todavia, buscar inspiração era Euclides e Arquimedes,
cujas obras eram então estudadas e admiradas como modelo mais acabado de rigor. E essa
crença numa possibilidade de fundamentação geométrica do Cálculo perdurou até o início do
século XIX. Os conceitos de derivada e integral, que tiveram origem nos conceitos de reta
tangente e área, preservaram por m uito tempo suas feições geométricas. Por um a curiosa
coincidência, foi 110 momento m esm o em que a Geometria começou a revelar suas falhas çle
fundamentos, nas primeiras décadas do século, foi então que também tiveram início esforços
bem-sucedidos para fundamentar o Cálculo fora da Geometria. Todos os conceitos básicos de
função, limite, derivada, integral e convergência seriam agora definidos em termos dos números.
Mas percebe-se então que os próprios números reais carecem de uma adequada fundamentação,
a qual, entretanto, não tarda em ser encontrada. Até aquela definição de limite de Cauchy
— correta, porém, ainda eivada da noção espúria de movimento — é agora substituída pela
definição puramente numérica de Weierstrass: f ( x ) tem lim ite L c o m x tendendo a x 0 significa:
dado qualquer e > 0 existe 6 > 0 tal que
Completava-se assim um m ovim ento que veio a ser chamado de A ritm etízação da A nálise
por Felix Klein. Agora a própria G eom etria teria de buscar na Aritmética elementos mais
seguros para sua fundamentação. Era, de certo modo, uma volta a Pitágoras.
Bibliografia recom endada