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1 Enfermeira do Trabalho, Mestre em Enfermagem, Doutoranda em Enfermagem e Biociencias da Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro, Integrante do Laboratório de Pesquisa: Enfermagem, Tecnologias, Saúde e Trabalho, e-mail: mait_lemos@yahoo.com.br
2 Doutora em Enfermagem, Coordenadora do Programa de Pós-graduajao em Enfermagem - PPGENF, Professora Associada Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Líder do Integrante do Laboratório de
Pesquisa: Enfermagem, Tecnologias, Saúde e Trabalho, e-mail: joppassos@hotmail.com
3 Enfermeira, Mestre em Educajao e Desenvolvimento Comunitário, Doutora em Ciencias da Saúde, Professora T itular da Universidade
Surcolombiana, Integrante do Grupo de Pesquisa Cuidar, e-mail: dolaria@usco.edu.co
Recibido: 15/12/2014 - Revisado: 23/12/2014 - Aceptado: 24/02/2015
Material e Métodos
Trata-se de um recorte da dissertajao de mestrado apresentada na Figura 1. H a m p e rs no c o rre d o r d o C e n tro C irú rg ic o , com
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, intitulada sacos d e cores d ife re n te s e m is tu ra d e sacos no m esm o
“Gerenciamento de Residuos de um Hospital Público do Rio de h a m p e r, d ific u lta n d o a id e n tific a n d o d o re cip ie n te .
Janeiro: um estudo sobre o saber/fazer da enfermagem no Centro
Cirúrgico e Central de Materiais.” Para este artigo optou-se por um Houveram desvios de comportamento no ato do descarte com
estudo descritivo observacional, favorecendo o levantamento e diag direcionamento inapropriado de diversos tipos de resíduo a um
nóstico da situajao do gerenciamento de resíduos desde seu descar mesmo saco. Assim , os resíduos comuns e os infectantes se
te inicial, na fonte geradora até a coleta fora do hospital.[2] misturavam com as roupas, de acordo com a figura 2. Devido a esta
A pesquisa foi realizada no CC de um hospital público de médio mistura indiscriminada de resíduos, após as cirurgias, as funcionárias
porte, situado na cidade do Rio de Janeiro. A coleta de dados foi da limpeza realizavam a higienizajao das salas e separavam os
realizada através da observajao nao participante, seguindo o instru resíduos, antes m isturados, direcionando-os aos recipientes
mento validado utilizado por Magda Fabbri Isaac Silva em sua tese de adequados.
doutorado, previamente solicitado o uso e aceito por e-mail. No mo
mento da observajao nao participante foi realizado um registro foto
gráfico do ambiente, previamente autorizado pela Instituijao,
objetivando identificar os descartes dos resíduos na fonte geradora.
É importante ressaltar que todos os cuidados relativos aos
aspectos éticos envolvidos na pesquisa foram devidamente obser
vados, aprovado pelo Comité de Ética em Pesquisa da própria
Instituijao (Protocolo no 86437), em atendimento ao disposto na
antiga Resolujao N° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (atual
Resolujao no 466/2012).
A coleta dos dados ocorreu nos meses de outubro e novembro
de 2012, as observajoes duraram em média duas horas cada e foram
realizadas até que o cenário passou a se repetir. A análise dos dados
foi realizada por meio da ferramenta de fluxograma analítico, um
instrumento de análise que se propoem a interrogar o processo de
trabalho, revelando a maneira de organizá-lo.[3]
Resultados
Figura 2. H a m p e r co m saco a z u l, sem id e n tific a n d o . Em
O CC dispoe de sete salas de cirurgias, um lavatório que antecede seu in te r io r con sta resíduos c o m u n s , in fe c ta n te s e tecid os
as salas para higienizajao das maos, um expurgo, dois arsenais, m istu ra d o s.
No decorrer de procedim entos cirúrgicos, os resíduos No expurgo há um carro com tampa e identificajao para
pérfurocortantes foram , m ajoritariam ente, descartados pelo resíduos infectantes, que armazena temporariamente e transporta
anestesista na caixa destinada a este fim. No entanto, quando isto até a saída, todos os resíduos coletados (comuns e infectantes),
nao ocorria, o circulante de sala encarregava-se de retirar os conforme figura 5. Nas observajoes foi possível perceber que a
pérfurocortantes separados, pelo anestesista, na bandeja de grande quantidade de resíduos gerada nao é comportada pelo pequeno
procedimentos. espajo do expurgo e pelo único carro de transporte, sendo necessária
Todas as salas do CC possuíam uma caixa para péfurocortantes a condujao dos sacos contendo resíduos infectantes com o uso das
afixadas na parede, porém longe da mesa cirúrgica. Em algumas maos, ocorrendo o contato desses resíduos com outras partes do
observajoes, notou-se que os resíduos excediam o limite de cinco corpo.
centímetros abaixo do bocal da caixa.
Após as cirurgias era possível perceber resíduos infectantes,
resíduos comuns e roupas de cama espalhadas pelo chao da sala,
caracterizando a desorganizajao do processo de trabalho, conforme
figura 3.
Discussáo
Cabe salientar que tornar todos os resíduos infectantes, através aspectos. Este processo deve considerar os fatores como: controle
da mistura, pode promover o aumento de custos á Instituijao, visto das infecjoes, conservajao do meio ambiente e a saúde ocupacional
que o tratamento dado aos resíduos infectantes é mais dispendioso sem deixar de tratar com relevancia a manipulajao de produtos
do que o dispensado aos resíduos comuns. perigosos, como medicamentos e reagentes químicos.
P ortanto, é necessário questionar se os pro fissio n ais Neste sentido, deveriam haver parcerias, onde o Estado
desconhecem como realizar a segregajao dos resíduos ou se existe disponibilizaria um sistema adequado com infraestrutura para a
omissao e talvez certo descaso com o gerenciamento, já que este eliminajao dos resíduos e para tratamento da água de abastecimento
tipo de atitude é inaceitável em qualquer servijo de saúde, quer seja e dos efluentes, como também estar integrado com os órgaos de
dotado de PGRSS ou nao. É importante atentar para o fato de que fiscalizajao ambiental no sentido de controlar periodicamente os
antes do descarte dos resíduos, faz-se mentalmente a separajao dos servijos de saúde.[11]
resíduos em classes para posterior segregajao em recipientes O gerenciamento de resíduos do CC do hospital estudado
adequados. A segregajao significa separajao dos diferentes grupos encontra-se com falhas em várias etapas do processo, porém existem
resíduos na fonte geradora, pelo próprio funcionário que o gerou.[6] solujoes passíveis de resolver o problema instalado. Pensar nas
Outras tensoes relativas ao descarte sao relacionadas aos reci questoes relacionadas aos resíduos ultrapassa as portas dos servijos
pientes existentes para o acondicionamento. Os recipientes que de saúde é necessário conceber que nossas atitudes no momento
acondicionam os resíduos pérfurocortantes devem ser de material inicial da gerajao dos resíduos, se refletem no momento final de
rígido, afixada em suporte próprio de forma que possibilite a descarte no meio ambiente, perpassando por todo o processo e
visualizajao do seu interior para o controle do limite da capacidade. influenciando no mesmo.
Para que possa ser segura e adequadamente fechada, preconiza-se Deste modo, como é possível afirmar que ao final do processo
que os resíduos estejam a cinco centím etros do orifício ou os resíduos sao comuns, já que existe macijamente o desvio de
preenchidos até 2/3 da capacidade da caixa, de acordo com a NR32 conduta no descarte dos mesmos? Isto é, se ocorrem a mistura de
e RDC N° 306 da A gencia N acional de Vigilancia Sanitária resíduos infectantes e comuns, na fonte geradora e descarte inicial,
(ANVISA).17’8] nao é possível afirmar que os resíduos encaminhados á coleta
Este estudo aponta, ainda, outra situajao alarmante referente seletiva pelo hospital sao verdadeiramente isentos de perigo, no
ao descarte dos resíduos líquidos. Todos os efluentes líquidos do que se refere ao risco biológico e de contaminajao de quem o
hospital em estudo sao eliminados na rede pública de esgoto sem manuseia.
tratamento prévio. As Resolujoes N° 283, 358 e 05 do CONAMA Para o bom funcionamento do PGRSS é necessário considerar
e a RDC N° 306 da ANVISA consideram o sistema de tratamento de ajoes que tenderao a desenvolver uma relajao favorável e de
resíduos como um conjunto de unidades, processos e procedimentos equilíbrio entre o homem, meio ambiente, sociedade e também as
que alterem as características visando á minimizajao do risco á instituijoes hospitalares, uma vez que trarao impactos benéficos
saúde pública, a preservajao da qualidade do meio ambiente, a nos aspectos biossanitários, ambientais, sociais, tecnológicos,
seguranja e a saúde do trabalhador. A RDC N° 33 da ANVISA, culturais, económicos e legais.
completa que estes métodos devem levar á redujao ou eliminajao Portanto, há uma imperiosa necessidade do cumprimento
do risco de causar doenjas a populajao.[1, 9’ 10] A Resolujao N° 283 criterioso ás normas legais estabelecidas para o gerenciamento de
do CONAMA preconiza que os efluentes líquidos provenientes resíduos, dando enfase aos de saúde pública, saúde do trabalhador,
dos estabelecimentos prestadores de servijos de saúde, devem aten aspectos ambientais e epidemiológicos, com o propósito de que se
der ás diretrizes estabelecidas pelos órgaos ambientais.[1] unidos, alcanjarao resultados significativos para saúde humana e
Em relajao á coleta e transporte de resíduos, pode ser realiza ambiental.
do manualmente desde que o recipiente de segregajao nao entre em
contato com outra parte do corpo, é vedado o arrasto, de acordo
com a NR32.7 A coleta e o transporte interno deve ser realizado em Referéncias
sentido único, com roteiro definido, em horários estipulados, de
forma a nao coincidir com a distribuijao de roupas, alimentos e 1. C onse lho N a cio n a l do M e io A m bien te . R e solu ja o n.o
medicamentos, período de visita ou de maior fluxo de pessoas, 2 8 3 , de 1 de o u tu b ro de 2 0 0 1 . D is p o e m so b re o
porém em diversos momentos isto nao ocorreu já que o CC é tra ta m e n to e d e s tin a d o fin a l dos resíduos de servidos
movimentado na maior parte do tempo e existe somente uma porta de saúde. D iá rio O fic ia l da República Federativa do
de entra/saída.[8, 10] Brasil, 01 out 2 0 0 1 ; Segáo 1.
De acordo com a NR32, sempre que o transporte do recipien 2. P olit DF, B eck CT. F u n d a m e n to s d a P esquisa em
te de segregajao dos RSS comprometerem a seguranja e a saúde do Enferm agem . 8.e d. Sao Paulo: A rt M e d ; 201 1.
trabalhador, devem ser utilizados meios técnicos apropriados, de 3. Barbosa TAV, Fracolli LA. A u tiliz a d o do "flu x o g ra m a
modo a preservar sua saúde e integridade física.7 O carro de trans a n a lis a d o r" p a ra a o r g a n iz a d o da assistencia a saúde
porte de resíduos utilizado está de acordo com as recomendajoes da no P rog ram a Saúde da F am ilia. C ade rnos de Saúde
RDC N° 306 da ANVISA no que diz respeito á resistencia e rigidez Pública. 2 0 0 5 ;2 1 :1 0 3 6 -1 0 4 4 .
do material, lavável, impermeável, provido de tampa articulada, 4. Dias SM, F igueiredo LCA. E duca^áo A m b ie n ta l com o
canto e bordas arredondadas, porém nao corresponde á norma quando estratégia p a ra a red u^áo de resíduos de servidos de
a mesma exige que o recipiente seja identificado com o símbolo saúde em hospital de Feira de Santana. In: Congresso
correspondente ao risco do resíduo nele contido. B rasileiro de Engenharia S a n itária e A m b ie n ta l; 1 9 9 9 ;
Assim como a classificajao dos resíduos, a coleta, o armaze- Rio de Jan eiro, BR. Rio de Janeiro: A ssocia^áo Brasileira
namento e o tratamento é possível afirmar que o gerenciamento de de Engenharia S an itária e A m b ie n ta l; 19 99 . p. 2 6 1 5
RSS como um todo é extremamente difícil em virtude de vários 2620.
5. C o e lh o N M G P G e re n cia m e n to de resíduos de servidos 9. C onse lho N a cio n a l do M eio A m biente. R e solu ja o n.°
de s a ú d e : m a n e jo d o s re s íd u o s p o te n c ia lm e n te 3 5 8 , de 4 de m a io de 2 0 0 5 . D ispoe sobre o tra ta m e n to
infectantes e pérfurocortantes em unidades de in te rn a d o e a dispo si^á o fin a l dos resíduos dos servidos de saúde
da cria nza , a d u lto e p ro n to -so co rro de hospitais p ú b li e dá outras providencias. D iá rio O fic ia l da República
cos no distrito federal [Dissertagáo de M estrado]. Brasília: Federativa do Brasil, 4 de m ai 2 0 0 5 ; Se^áo 1 :63.
U n iversida de de Brasília; 20 0 7 . 10. A g e n cia N a c io n a l de V ig ila n c ia S a n itá ria . Resolu^áo
6. Salles CLS. A cid en te s de tra b a lh o o c o rrid o s com os RDC 3 3 , de 2 5 de feve re iro de 2 0 0 3 . D ispoe sobre o
tra b a lh a d o re s da saúde nos diferentes processos de um Regulam ento Técnico p a ra o g e ren ciam e nto de resíduos
p la n o de g e re n c ia m e n to de resíduos de servidos de de servidos de saúde. D iá rio O fic ia l da U n iá o , 5 m ar
s a ú d e [D is s e r ta ^ á o de M e s tr a d o ]. G u a r u lh o s : 2003.
U n iversida de G u a ru lh o s, 2 0 0 8 . 1 1. M a ch lin e C, G on ^alves R, Ribeiro Filho V O G e re n c ia
7. M in isté rio do T raba lh o e Em prego. N o rm a R egulam en- m en to dos Resíduos dos Servidos de Saúde de U m a
ta d o ra n.o 3 2 , de 16 de no ve m b ro de 2 0 0 5 . Dispoem A m ostra de H ospitais N acionais. In: A nais do Sim posio
sobre a Seguranza e Saúde no tra b a lh o em servidos de de A d m in is tra d o da Produ^áo, Logística e O pera^óes
saúde. D iá rio O fic ia l da U n iá o , 16 nov 20 05 . In te r n a c io n a is ; 2 0 0 5 ; S áo P a u lo , BR. S áo P aulo:
8. A g e n cia N a c io n a l de V ig ila n c ia S a n itá ria . R e so lu ja o F unda^áo G e tú lio V argas; 2 0 0 5 . p. 8.
RDC 3 0 6 , de 7 de d e zem b ro de 2 0 0 4 . Dispóe sobre o
re g u la m e n to técn ico p a ra o g e ren ciam e nto de resíduos
de servidos de saúde. D iá rio O fic ia l da U n iá o , 7 dez
20 0 4 .