ensaio e discurso

sobre a
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.
I

INTE RPRETAÇAO / APLlCAÇAO

DO DIREITO
Sª edição

EROS ROBERTO GRAU I

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I
I
I
!

I
INTERPRETAÇÃO
E COMPREENSÃO DO DIREITO

A interpretação do direito é costum eiram ente apresentada ou

descrita com o atividade de m era com preensão do significado das nor-
m as jurídicas.

O u o intérprete identifica o significado da norm a, ou o determ i-

na. A inda que sob essas duas variantes - ato de conhecim ento ou ato
de vontade -, perm anece a idéia fundam ental de qJJe...i.nterpretar é_~
identificar ou determ inar = com reender) a significação de alo. N o II
caso, com preender o significado da norm a Jun lca.

D aí a afirm ação de que som ente seria necessário interpretarm os

norm as quando o sentido delas não fosse claro. Q uando isso não
ocorresse, tornando-se fluente a com preensão do pensam ento do
legislador - o que, contudo, em regra não se daria, dadas a am bigüi-
dade e a im precisão das palavras e expressões jurídicas -, seria des-
necessária a interpretação.

E ssa concepção - que nele põe vigorosa ênfase e privilegia o

pensam ento do legislador - passou por um processo de transform a-
ção ainda não com pletam ente apreendido pelos que se dedicam ao
estudo do direito e pelos que o operam .
 /l /lI
POR QUE INTERPRETAMOS O DIREITO INTERPRETAMOS NORMAS?

N ã o p r e te n d o p r o d u z ir , a q u i, u m d is c u r s o p r e s c r itiv o , n o s e n tid o A n te s d is s o , n o e n ta n to , u m a s p e c to im p o r ta n tís s im o deve ser

d e p r o p o r p a u ta s p a r a a in te r p r e ta ç ã o d o d ir e ito . M in h a e x p o s iç ã o é e x p lic ita d o , a tin e n te a o e q u ív o c o r e ite r a d a m e n te consum ado p e lo s
d e s c r itiv a - d e s e jo r e la ta r c o m o s e p r o c e s s a a in te r p r e ta ç ã o d o d ir e ito . que supõem q u e s e in te r p r e ta m n o rm a s.

O f a to é q u e p r a tic a m o s s u a in te r p r e ta ç ã o não - ou não apenas - O que em v e rd a d e s e in te r p r e ta s ã o o s te x to s n o r m a tiv o s ; :I d a

p o r q u e a lin g u a g e m ju r íd ic a s e ja a m b íg u a e im p r e c is a , m a s p o rq u e in te r p r e ta ç ã o d o s te x to s r e s u lta m a s n o r m a s . T e x to e n o r m a n ã o s e ./
in te r p r e ta ç ã o e a p lic a ç ã o d o d ir e ito sã o u m a só o p e ra ç ã o , de m odo id e n tif ic a m . A n o r m a é a in te r p r e ta ç ã o d o te x to n o r m a tiv o .
q u e in te r p r e ta m o s p a r a a p lic a r o d ir e ito e , a o f a z ê - lo , n ã o n o s lim ita - A in te r p r e ta ç ã o é , p o r ta n to , a tiv id a d e q u e s e p r e s ta a tr a n s f o r m a r
m o s a in te r p r e ta r(= c o m p r e e n d e r ) o s te x to s n o r m a tiv o s , m a s ta m b é m te x to s - d is p o s iç õ e s , p r e c e ito s , e n u n c ia d o s - e m n o r m a s .
c o m p r e e n d e m o s (= in te r p r e ta m o s ) o s f a to s .
D a í, c o m o a s n o r m a s r e s u lta m d a in te r p r e ta ç ã o , o o r d e n a m e n to ,
O in té r p r e te p ro c e d e à in te r p r e ta ç ã o d o s te x to s n o r m a tiv o s e, n o s e u v a lo r h is tó r ic o - c o n c r e to , é u m c o n ju n to d e in te r p r e ta ç õ e s , is to
c o n c o m ita n te m e n te , d o s f a to s , d e s o r te q u e o m o d o sob o qual os é , u m c o n ju n to d e n o rm a s.
a c o n te c im e n to s que com põem o caso s e a p r e s e n ta m v a i ta m b é m
O c o n ju n to d o s te x to s - d is p o s iç õ e s , e n u n c ia d o s - é a p e n a s o r d e -
p e s a r d e m a n e ir a d e te r m in a n te n a p ro d u ç ã o d a (s) n o rm a (s) a p lic á -
n a m e n to e m p o tê n c ia , u m c o n ju n to d e p o s s ib ilid a d e s d e in te r p r e ta -
v e l( v e is ) a o c a s o .
ç ã o , u m c o n ju n to d e n o r m a s p o te n c ia is [ Z a g r e b e ls k y ] .
M a s n ã o é s ó , v is to q u e - r e p ito - o - a in te r p r e ta ç ã o d o d ir e ito é
O s ig n if ic a d o ( is to é , a n o r m a ) é o r e s u lta d o d a ta r e f a in te r p r e ta -
c o n s titu tiv a , e n ã o s im p le s m e n te d e c la r a tó r ia . V a le d iz e r : n ã o s e lim i-
tiv a . V a le d iz e r : o s ig n if ic a d o d a n o r m a é p r o d u z id o p e lo in té r p r e te .
ta a u m a m e r a c o m p r e e n s ã o d o s te x to s e d o s f a to s ; v a i b e m a lé m d is s o .
P o r is s o d iz e m o s q u e a s d is p o s i@ ll~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ J S t( ) ~ ! ! a d a /
C om o e e n q u a n to in te r p r e ta ç ã o /a p lic a ç ã o , e la p a r te da com - < :I iZ e ili;ê le s d iz e m o q u e o s in té r p r e te s d iz e m q u e e le s d iz e m IB ii~ .
p re e n sã o d o s te x to s n o r m a tiv o s e d o s f a to s , p a s s a p e la p r o d u ç ã o das C á rc o v a ]. ~
n o rm a s q u e d e v e m se r p o n d e ra d a s p a r a a s o lu ç ã o d o c a s o e f in d a c o m
a e S c o lh a d e u m a d e te r m in a d a s o lu ç ã o p a r a e le , c o n s ig n a d a n a n o rm a
d e d e c is ã o .

P o r is s o c o n v é m d is tin g u ir m o s a s n o r m a s ju r íd ic a s p r o d u z id a s
p e lo in té r p r e te , a p a r tir d o s te x to s e d o s f a to s , d a n o r m a d e d e c is ã o d o
c a so , e x p re ssa n a s e n te n ç a ju d ic ia l.

, ;._.,
..-.,~.t;i$
 IV V
NORMA JURÍDICA E NORMA DE DECISÃO INTERPRETAÇÃO
E CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO
o in té rp re te p ro d u z a n o rm a ju ríd ic a n ã o p o r d ile ta n tism o , m as
v isa n d o à su a a p lic a ç ã o a c a so s c o n c re to s. R e le m b re -se : o s te x to s n o rm a tiv o s c a re c e m d e in te rp re ta ç ã o n ã o
In te rp re ta m o s p a ra a p lic a r o d ire ito e , a o fa z ê -lo - já o v im o s, a p e n a s p o r n ã o se re m u n ív o c o s o u e v id e n te s - isto é , p o r se re m d e s-
. lin h a s a c im a -, n ã o n o s lim ita m o s a in te rp re ta r (= c o m p re e n d e r) o s titu íd o s d e c la re z a -, m a s sim p o rq u e d e v e m se r a p lic a d o s a c a so s
te x to s n o rm a tiv o s, m a s ta m b é m c o m p re e n d e m o s (= in te rp re ta m o s) c o n c re to s, re a is o u fic tíc io s [M ü lle r]. Q u a n d o u m p ro fe sso r d isc o rre ,
o s fa to s. e m sa la d e a u la , so b re a in te rp re ta ç ã o d e u m te x to n o rm a tiv o se m p re
A n o rm a ju ríd ic a é p ro d u z id a p a ra se r a p lic a d a a u m c a so c o n c re - o fa z - a in d a q u e n ã o se d ê c o n ta d isso - su p o n d o a su a a p lic a ç ã o a
to . E ssa a p lic a ç ã o se d á m e d ia n te a fo rm u la ç ã o d e u m a d e c isã o ju d i- u m c a so , re a l o u fic tíc io .
c ia l, u m a se n te n ç a , q u e e x p re ssa a n o rm a d e d e c isã o . O fa to é q u e a n o rm a é c o n stru íd a , p e lo in té rp re te , n o d e c o rre r d o
A í a d istin ç ã o e n tre a s n o rm a s ju ríd ic a s e a n o rm a d e d e c isã o . p ro c e sso d e c o n c re tiz a ç ã o d o d ire ito . O te x to , p re c e ito ju ríd ic o , é ,
E sta é d e fin id a a p a rtir d a q u e la s. c o m o d iz F rie d ric h M ü lle r, m a té ria q u e p re c isa se r "tra b a lh a d a ".

D e o u tra b a n d a , é im p o rta n te ta m b é m o b se rv a rm o s q u e to d o s o s P a rtin d o d o te x to d a n o rm a (e d o s fa to s), a lc a n ç a m o s a n o rm a

()p e ra d o re s d o d ire ito o in te rp re ta m , m a s a p e n a s u m a c e rta c a te g o ria ju ríd ic a , p a ra e n tã o c a m in h a rm o s a té a n o rm a d e d e c isã o , a q u e la q u e
d e ~ e s.re a liz a p le n a m e n te o p ro c e sso d e in te rp re ta ç ã o , a té o se u p o n to c o n fe re so lu ç ã o a o c a so . S o m e n te e n tã o se d á a c o n c re tiz a ç ã o do
ll d ire ito . C o n c re tiz á -lo é p ro d u z ir n o rm a s ju ríd ic a s g e ra is n o s q u a d ro s
S ~ lO a n te , q u e se e n c o n tra n o m o m e n to d a d e fin iç ã o d a n o rm a d e
d e C 1 sã o E t . a 1/e m d a m
" . s e , q u e e sta/. a u tO rIz a d o a ir . te rp re ta ç a o-- ta o - d e so lu ç ã o d e c a so s d e te rm in a d o s [M ü lle r].
so m e n te c o m o p ro d u ç ã o d a s n o rm a s ju ríd ic a s, p a ra d e la e x tra ir n o r- A c o n c re tiz a ç ã o im p lic a u m c a m in h a r d o te x to d a n o rm a p a ra a
:~ ~ e le .~ e c isã o , é a q u e le q u e K e lse n c h a m a d e "in té rp re te a u tê n ti- n o rm a c o n c re ta (a n o rm a ju ríd ic a ), q u e n ã o é a in d a , to d a v ia , o d e sti-
. () JU iZ .
n o a se r a lc a n ç a d o ; a c o n c re tiz a ç ã o so m e n te se re a liz a e m su a p le n i-
tu d e n o p a sso se g u in te , q u a n d o é d e fin id a a n o rm a d e d e c isã o , a p ta a
d a r so lu ç ã o a o c o n flito q u e c o n su b sta n c ia o c a so c o n c re to . P o r isso
S u ~ te n to q u e in te rp re ta ç ã o e c o n c re tiz a ç ã o se su p e rp õ e m . In e x ist.s I,
h O Je , in te rp re ta ç ã o d o d ire ito se m c o n c re tiz a ç ã o ; e sta é a d e rra d e ira \
e ta p a d a q u e la . -
.~
 r,
o CARÁTER A L O G R Á F lC O D O D IR E IT O 31

o in té rp re te d e sv e n c ilh a a n o rm a d o se u in v ó lu c ro (o te x to );
n e ste se n tid o , e le "p ro d u z a n o rm a ".
A b ra n g e n d o te x to s e fa to s, c o m o v im o s, a in te rp re ta ç ã o d o d ire i-
to o p e ra a m e d ia ç ã o e n tre o c a rá te r g e ra l d o te x to n o rm a tiv o e su a
a p lic a ç ã o p a rtic u la r: isto é , o p e ra a su a in se rç ã o n a v id a .

VI
O CARÁTER ALOGRÁFICO DO DIREITO

H á d o is tip o s d e a rte : a s a lo g rá fic a s e a s a u to g rá fic a s. N a s p ri-

m e ira s - a lo g rá fic a s (m ú sic a e te a tro ) - a o b ra a p e n a s se c o m p le ta
c o m o c o n c u rso d e d o is p e rso n a g e n s, o a u to r e o in té rp re te ; n a s a rte s
a u to g rá fic a s (p in tu ra e ro m a n c e ) o a u to r c o n trib u i so z in h o p a ra a re a -
liz a ç ã o d a o b ra [O rtig u e s].
E m .a m b a s h á in te rp re ta ç ã o , m a s sã o d istin ta s, u m a e o u tra .
A in te rp re ta ç ã o d a p in tu ra e d o ro m a n c e im p o rta c o m p re e n sã o : a
o b ra , o b je to d a in te rp re ta ç ã o , é c o m p le ta d a a p e n a s p e lo se u a u to r;
a c o m p re e n sã o v isa à e m o ç ã o e sté tic a , in d e p e n d e n te m e n te d a m e d ia -
ç ã o d e u m in té rp re te .

A in te rp re ta ç ã o m u sic a l e te a tra l im p o rta c o m p re e n sã o + re p ro -

d ~ Ç ã o : a o b ra , o b je to d a in te rp re ta ç ã o , p a ra q u e p o ssa se r c o m p re e n -
d l? a , te n d o e m v ista a e m o ç ã o e sté tic a , re c la m a u m in té rp re te ; o
p n m e iro in té rp re te c o m p re e n d e e re p ro d u z e o se g u n d o in té rp re te
c O I~ P re e n d e m e d ia n te a (a tra v é s d a ) c o m p re e n sã o /re p ro d u ç ã o d o p ri-
m e iro in té rp re te .

_ O d ire ito é a lo g rá fic o . E a lo g rá fic o é p o rq u e o te x to n o rm a tiv o

n a ~ ~ ,eC o m p le ta n o se n tid o n e le im p re sso p e lo le g isla d o r. A "c o m p le -
~u ~ d o te x to so m e n te é a tin g id a q u a n d o o se n tid o p o r e le e x p re ssa -
o e P ro d u z id o , c o m o n o v a fo rm a d e e x p re ssã o , p e lo in té rp re te .

t e x t oM ~ s o "se n tid o e x p re ssa d o p e lo te x to " já é a lg o n o v o , d istin to d o

. Ea n
O rm a .

c re v :e p e tin d o : a s n o rm a s re su lta m d a in te rp re ta ç ã o , q u e se p o d e d e s-
t
m u la s ~ o ~ ? , u ~ p ro c e sso in te le c tiv o a tra v é s d o q u a l, p a rtin d o d e fó r-
siç õ e s 1 lllg U IS tIc a sc o n tid a s n o s te x to s, e n u n c ia d o s, p re c e ito s, d isp o -
, a cançat"h d . - de u m c o n te u'd o n o rm a tIv. o .
'H O Sa e te rm m a ç a o
 r

VII VIII
A PRODUÇÃO DA NORMA PELO INTÉRPRETE A METÁFORA DA VÊNUS DE MILO

N ã o e s to u , n o e n ta n to , a a firm a r q u e o in té rp re te , lite ra lm e n te , S u p o n h a -se a e n tre g a , a trê s e s c u lto re s , d e trê s b lo c o s d e m á rm o -

c rie a n o rm a . re ig u a is e n tre s i, e n c o m e n d a n d o -s e , a e le s , trê s Vênus de Milo.
N o te -s e b e m : e le n ã o é u m c ria d o r ex nihito; e le p ro d u z a n o rm a , A o fin a l d o tra b a lh o d e s s e s trê s e s c u lto re s te re m o s trê s Vênus de
s im , m a s n ã o n o s e n tid o d e fa b ric á -la , p o ré m n o d e re p ro d u z i-la . Milo, p e rfe ita m e n te id e n tific á v e is c o m o ta is , e m b o ra d is tin ta s e n tre
s i: e m um a a c u rv a do o m b ro a p a re c e m a is a c e n tu a d a ; n o u tra as
O p ro d u to d a in te rp re ta ç ã o é a n o rm a . M a s e la já s e e n c o n tra ,
m açãs d o ro s to d e s p o n ta m ; n a te rc e ira o s s e io s e s tã o tú rg id o s e os
p o te n c ia lm e n te , n o in v ó lu c ro do texto normativo. V o u m e v a le r m a is
a d ia n te , p re te n d e n d o d e ix a r is s o b e m m a is c la ro , d e u m a m e tá fo ra , a
m a m ilo s e n rije c id o s . N ã o o b s ta n te , s ã o , d e fin id a m e n te , trê s Vênus de
m e tá fo ra da Vênus de Milo. Mito - nenhum a Vitória de Samotrácia.
P o r o ra , re p ita m o s : a n o rm a e n c o n tra -s e , e m e s ta d o d e p o tê n c ia ,
E sses trê s e s c u lto re s " p ro d u z ira m " trê s Vênus de Mito. N ão
g o z a ra m d e lib e rd a d e p a ra , c a d a u m a o s e u g o s to e e s tilo , e s c u lp ir a s
in v o lu c ra d a n o te x to . M a s e la s e e n c o n tra a s s im n e le in v o lu c ra d a ape-
fig u ra s o u s ím b o lo s a q u e a in s p ira ç ã o d e c a d a q u a l a s p ira v a - o p rin -
n a s p a rc ia lm e n te , p o rq u e o s fa to s ta m b é m a d e te rm in a m - in s is to
n is s o : a n o rm a é p ro d u z id a , p e lo in té rp re te , n ã o a p e n a s a p a rtir d e e le -
c íp io d e e x is tê n c ia d e s s a s trê s Vênus de Mito n ã o e s tá n e le s .

m e n to s q u e s e d e s p re n d e m d o te x to (m u n d o d o d e v e r-se r), m a s ta m - T ra ta n d o -s e d e trê s e s c u lto re s e x p e rim e n ta d o s - o q u e d e fa to

b é m a p a rtir d e e le m e n to s d o c a s o a o q u a l s e rá e la a p lic a d a , is to é , a o c o rre n a m e tá fo ra d e q u e la n ç o m ã o -, d irã o q u e , e m v e rd a d e , n ã o
p a rtir d e e le m e n to s d a re a lid a d e (m u n d o d o s e r). In te rp re ta -s e ta m - c ria ra m Vênus de Mito. P o r q u e l h e s f o r a d e t e r m i n a d a a p r o d u -
a s trê s
bém o caso, n e c e s s a ria m e n te , a lé m d o s textos e d a re a lid a d e - n o m o - ç ã o d e t r ê s Vênus de Mito ( e n ã o d e t r ê s Vitórias de Samotrácia, o u
m e n to h is tó ric o n o q u a l s e o p e ra a in te rp re ta ç ã o - e m c u jo c o n te x to o u t r a i m a g e m q u a l q u e r ) e , n a v e r d a d e , c a d a u m a d e s s a s t r ê s Vênus de
s e rã o e le s a p lic a d o s . Mito j á s e e n c o n t r a v a e m c a d a u m d o s b l o c o s d e m á r m o r e e l e s -
d irã o - a p e n a s d e s b a s ta ra m o m á rm o re , p a ra q u e e la s b ro ta s ~ e m , ta l
A n o rm a e n c o n tra -s e e m e s ta d o d e p o tê n c ia in v o lu c ra d a n o te x to
c o m o s e e n c o n tra v a m , o c u lta s , n o s e u c e rn e .
e o in té rp re te a d e s n u d a . N e s te s e n tid o - is to é , n o s e n tid o d e d e s v e n -
c ilh a m e n to d a n o rm a d e s e u in v ó lu c ro : n o s e n tid o d e fa z ê -la b ro ta r d o
te x to , d o e n u n c ia d o - é q u e a firm o q u e o in té rp re te "p ro d u z a n o rm a ".
O in té rp re te c o m p re e n d e o s e n tid o o rig in á rio d o te x to e o m a n té m
(d e v e m a n te r) c o m o re fe rê n c ia d e s u a in te rp re ta ç ã o [G a d a m e r].
 IX X
MAIS DE UMA VÊNUS DE MIL O INTERPRETAÇÃO = APLICAÇÃO;
INTERPRETAÇÃO DOS TEXTOS E DOS FATOS
V ê - s e , a s s im , q u e d if e r e n te s in té r p r e te s - q u a l d if e r e n te s e s c u l-
to r e s " p r o d u z e m " d is tin ta s Vênus de Milo - "p ro d u z e m ", a p a r tir d o N ã o s e r á d e m a s ia d a a in s is tê n c ia n e s te p o n to : in te r p r e ta ç ã o e
m esm o te x to n o r m a tiv o , d is tin ta s n o rm a s ju r íd ic a s . P a ra fra se a n d o a p lic a ç ã o n ã o s e r e a liz a m a u to n o m a m e n te . A s e p a r a ç ã o e m d u a s e ta -
K e ls e n , a f ir m o q u e d iz e r q u e u m a d e s s a s Vênus de Milo é fu n d a d a n a p a s - d e in te r p r e ta ç ã o e a p lic a ç ã o - d e c o r r e d a e q u iv o c a d a concep-
o b r a g r e g a n ã o s ig n if ic a , n a v e r d a d e , s e n ã o q u e e la s e c o n té m d e n tr o ç ã o d a p r im e ir a c o m o m e r a o p e r a ç ã o d e s u b s u n ç ã o .
d a m o ld u r a o u q u a d r o q u e a o b r a g r e g a r e p r e s e n ta - n ã o s ig n if ic a q u e
O in té r p r e te d is c e r n e o s e n tid o d o te x to a p a r tir e e m v ir tu d e d e
e la é a Vênus de Milo, m as apenas que é uma das Vênus de Milo que
u m d e te r m in a d o c a s o d a d o ; a in te r p r e ta ç ã o d o d ir e ito c o n s is te e m c o n -
p o d e m s e r p r o d u z id a s d e n tr o d a m o ld u r a d a o b r a g r e g a .
c r e ta r a le i e m c a d a c a s o , is to é , n a s u a a p lic a ç ã o [ G a d a m e r ] . A s s im ,
e x is te um a equação e n tr e in te r p r e ta ç ã o e a p lic a ç ã o : n ã o e s ta m o s ,
a q u i, d ia n te d e d o is m o m e n to s d is tin to s , p o r é m f r e n te a u m a s ó o p e -
r a ç ã o [ M a r í] . I n te r p r e ta ç ã o e a p lic a ç ã o c o n s u b s ta n c ia m u m p ro c e sso
u n itá r io [ G a d a m e r ] , s u p e r p o n d o - s e .

A s s im , s e n d o c o n c o m ita n te m e n te a p lic a ç ã o d o d ir e ito , a in te r p r e -

ta ç ã o d e v e s e r e n te n d id a c o m o p r o d u ç ã o p r á tic a d o d ir e ito , p r e c is a -
m e n te c o m o a to m a F r ie d r ic h M ü lle r : n ã o e x is te u m te r r e n o c o m p o s -
to d e e le m e n to s n o r m a tiv o s (= d ir e ito ) , d e u m la d o , e d e e le m e n to s
r e a is o u e m p ír ic o s (= r e a lid a d e ) , d o o u tr o .
_ V o u r e p e tir , m a is u m a v e z : a n o r m a é p r o d u z id a p e lo in té r p r e te ,
nao apenas a a r tir d e e le m e n to s . a tiv o
. o d e v r-se r, m a s ta m b é m a a r tir d e e l caso ao u a l se rá
e la a p lic a d a , is to e , a p a r tir d e d a d o s d a r e a lid a d e ( m u n d o d o s e r ) .
----- --
 XI XII
A CHAMADA "MOLDURA DA NORMA" O RELATO DOS FATOS

Logo, o q u e in c is iv a m e n te deve a q u i s e r a firm a d o , a p a rtir da N o d e c o rre r desse tra b a lh o , com o a in te rp re ta ç ã o a b ra n g e ta m -

m e tá fo ra d e K e ls e n , é o fa to d e a " m o ld u ra d a n o rm a " s e r, d iv e rs a - b é m o s fa to s , o in té rp re te o s re c o n fo rm a , de m odo que podem os d iz e r
m e n te , m o ld u ra d o te x to , m a s n ã o a p e n a s d e le ; e la é , c o n c o m ita n te - q u e o d ire ito in s titu i a s u a p ró p ria re a lid a d e . D a í a im p o rtâ n c ia do
m e n te , m o ld u ra d o te x to e m o ld u ra d o c a s o . O in té rp re te in te rp re ta re la to dos fa to s (= n a rra tiv a dos fa to s a se re m c o n s id e ra d o s p e lo
ta m b é m o c a s o , n e c e s s a ria m e n te , a lé m d o s te x to s , a o e m p re e n d e r a in té rp re te ) p a ra a in te rp re ta ç ã o .
p ro d u ç ã o p rá tic a d o d ire ito .
P o is é c e rto q u e o s fa to s n ã o s ã o , fo ra d e s e u re la to (is to é , fo ra
P o r is s o in e x is te m s o lu ç õ e s p re v ia m e n te e s tru tu ra d a s , c o m o p ro - d o re la to a q u e c o rre s p o n d e m ), o que são.
d u to s s e m i-in d u s tria liz a d o s e m u m a lin h a d e m o n ta g e m , p a ra o s p ro -
O que d e s e jo a firm a r é a fra g ilid a d e d o c o m p ro m is s o e n tre o
b le m a s ju ríd ic o s .
re la to e s e u o b je to , e n tre o re la to e o re la ta d o .
O tra b a lh o ju ríd ic o d e c o n s tru ç ã o d a n o rm a a p lic á v e l a cada caso
E sse c o m p ro m is s o é, a n te s de m a is nada, c o m p ro m e tid o em
é tra b a lh o a rte s a n a l. C a d a s o lu ç ã o ju ríd ic a , p a ra c a d a c a so , se rá se m -
ra z ã o (1 ) d e ja m a is d e sc re v e rm o s a re a lid a d e ; o q u e d e s c re v e m o s é o
p re , re n o v a d a m e n te , u m a n o v a s o lu ç ã o . P o r is s o m e s m o - e ta l d e v e
n o s s o m o d o d e v e r a re a lid a d e . A lé m d e n ã o d e sc re v e rm o s a re a lid a -
s e r e n fa tiz a d o -, a in te rp re ta ç ã o d o d ire ito re a liz a -s e n ã o c o m o m e ro
d e , p o ré m o n o s s o m o d o d e v e r a re a lid a d e , (2 a ) e s s a m e s m a re a lid a -
e x e rc íc io d e le itu ra d e te x to s n o rm a tiv o s , p a ra o q u ê b a s ta ria a o in té r-
d e d e te rm in a o n o s s o p e n s a m e n to e , (2 b ) a o d e sc re v e rm o s a re a lid a -
p re te s e r a lfa b e tiz a d o .
de, nossa d e s c riç ã o da re a lid a d e se rá d e te rm in a d a (i) p e la nossa
p ré -c o m p re e n sã o d e la (= d a r e a l i d a d e ) e (ii) p e lo lu g a r q u e o c u p a m o s
a o d e sc re v e r a r e a l i d a d e (= n o s s o l u g a r n o m u n d o e lu g a r d e s d e o q u a l
p e n sa m o s). P o r is s o c a b e rá a q u i tu d o o q u e d ig o n o E n s a io so b re a
p ré -c o m p re e n sã o .

. T am bém n o q u e ta n g e a o s fa to s n ã o e x is te , n o d ire ito , o verda-

~elro. In ú til b u sc a rm o s a verdade dos fatos, p o rq u e o s fa to s que
~ m p o rta rã o na e p a ra a c o n s tru ç ã o da n o rm a são a q u e le s re c e b i-
o s /p e ~ c e b id o s p e lo in té rp re te - e le s , c o m o s ã o p e rc e b id o s p e lo in té r-
p re te e q u e ' .• - /.. - d - / . - d
' m lo rm a ra o c o n lo rm a ra o a p ro u ç a o c n a ç a o a n o rm a .
 r
)

XIII
A INTERPRETAÇÃO DO DIREITO

A lc a n ç a d o e s te p o n to de m in h a e x ~ o s iç ã o , U I~ a b re ~ e ~ ín te s e
p o d e s e r e n s a ia d a , n a a firm a ç ã o d e q u e a m te rp :~ ta ç a o .d o d ir e I to ~ e m
Is to p o s to , h á d e v ir a in d a g a ç ã o : a in te rp re ta ç ã o /a p lic a ç ã o do
c a rá te r c o n s titu tiv o - n ã o m e ra m e n te d e c la ra to n o , p O IS - e c o n s is te
d ire ito é u m a c iê n c ia ? _ _" ~
n a p ro d u ç ã o , p e lo in té rp re te , a p a r tir d e te x to .s n ,o ~ a tiv o s e d o s fa to s
A in te rp re ta ç ã o d o ~ e ito é um a prudêncig; - o saber prático, a
a tin e n te s a u m d e te rm in a d o c a so , d e n o rm a s Ju n d Ic a s a se re m ponde-
phrónesis, a q u e re fe re A ris tó te le s .
ra d a s p a ra a s o lu ç ã o d e s s e c a s o , m e d ia n te a d e fin iç ã o d e u m a n o rm a
d e d e c is ã o . C o g ita m o s q u e n ã o s ã o in té rp re te s a u tê n tic o s , quando d o d ire i-
to tra ta m , d a juris prudentia, e n ã o d e u m a juris scientia; o i n t é r p r e -
Interpretar é , a s s im , dar c o n c re ç ã o (= c o n c re tiz a r) ao d ire ito .
t e a u t ê n t i c o , a o produzir n o r m a s j u r í d i c a s , p r a t i c a ajuris prudentia, e
N e s te s e n tid o , a in te rp re ta ç ã o (= in te rp re ta ç ã o /a p lic a ç ã o ) o p e r~ a
n ã o juris scientia.
in s e rç ã o do d ire ito n a re a lid a d e ; o p e ra a m e d ia ç ã o e n tre o c a ra te r
g e ra l d o te x to n o rm a tiv o e s u a a p lic a ç ã o p a rtic u la r; e m o u tro s te rm o s , O in té rp re te a tu a s e g u n d o l'
a in d a : o p e ra a s u a in s e rç ã o n a v id a . " m e a ló g ic a d a c o n s e q ü ê n c ia [ p a ra to ]: ~ ló g ic a J u ríd ic a é ª da .

esc v á ria s p o s s ib ilid a d e s c o rre ta s . In te rp re ta r u m te x to n o r-

L e m b ro , n e s te passo, a e x p o s iç ã o de G adam er so b re o p e ~ s ~ -;I
m a tiv o s ig n ific a esc n re v á ria s in te rp re ta ç õ e s p o s s ív e is ,
m e n to d e A ris tó te le s : to d a le i s e e n c o n tra em u m a te n s ã o necessana
de m odo q u e a e s c o lh a s e ja a p re s e n ta d a com o adequada [L a re n z ~
e m re la ç ã o à c o n c re ç ã o d o a tu a r, p o rq u e é g e r a l e .n ~ o p o d e c o n t~ r . e m
n o rm a n ã o é Q Q je to d e d e m o n s tra ç ã o , m a s d e ju s tific a ç ã o . P o r is s o a
s i a re a lid a d e p rá tic a em to d a s u a c o n c re ç ã o ; a le I e s e m p re d e fIc ie n -
a lte rn a tiv a v e rd a d e iro /fa ls o é e s tra n h a a ó d ire ito ; n o d ire ito h á a p e n a s
te , n ã o p o rq u e o s e ja e m si m esm a, m a s s im p o rq u e , e m p re se n ç a ~a
o aceitável U u s tific á v e l). O s e n tid o d o ju s to c o m p o rta s e m p re m a is d e
o rd e n a ç ã o a q u e se re fe re m a s le is , a re a lid a d e hum ana é se m p re d e fI-
u m a s o lu ç ã o [H e lle r].
c ie n te e n ã o p e rm ite u m a a p lic a ç ã o s im p le s das m esm as.
D a í p o r q u e a firm o q u e a p ro b le m a tiz a ç ã o d o s te x to s n o rm a tiv o s
Is to é : a in te rp re ta ç ã o - q u e é in te rp re ta ç ã o /a p lic a ç ã o - vai do
não se dá no cam po d a c iê n c ia : e la s e o p e ra n o â m b ito d a p ru d ê n c ia ,
u n iv e rs a l a o s in g u la r, a tra v é s d o p a rtic u la r, d o tra n s c e n d e n te ao con-
expondo o in té rp re te a u tê n tic o a o d e s a fio d e s ta , e n ã o d a q u e la . São
tin g e n te ; o p e ra a in s e rç ã o d a s le is (= d o d ire ito ) no m undo do ser
d is tin to s , um e o u tro : n a c iê n c ia , o d e s a fio de, no seu cam po, e x is ti-
(= m undo d a v id a ).
re ~ q u e s tõ e s p a ra a s q u a is e la (a c iê n c ia ) a in d a n ã o é c a p a z de con-
fe n r re s p o s ta s ; n a p ru d ê n c ia , n ã o o d e s a fio d a a u s ê n c ia d e re s p o s ta s ,
m a s d a e x is tê n c ia d e m ú ltip la s s o lu ç õ e s c o rre ta s p a ra um a m esm a
q u e s tã o [A d o m e it].
 xv XVI
INVIABILIDADE DA ÚNICA SOLUÇÃO CORRETA PRUDÊNCIA, PRÉ-COMPREENSÃO
E CÍRCULO HERMENÊUTICO
D á - s e n a in te r p r e ta ç ã o d e te x to s n o r m a tiv o s a lg o a n á lo g o a o q u e
s e p a s s a n a in te r p r e ta ç ã o m u s ic a l. A e v o lu ç ã o d a r e f le x ã o h e r m e n ê u tic a p e r m itiu a su p e ra ç ã o da
N ã o h á u m a ú n ic a in te r p r e ta ç ã o c o r r e ta (exata) da Sexta Sinfonia concepção d a . in te r p r e ta ç ã o c o m o té c n ic a d e s u b s u n ç ã o d o f a to n o
d e B e e th o v e n : a Pastoral r e g id a p o r T o s c a n in i, c o m a S in f ô n ic a de á lv e o d a p r e v is ã o le g a l e in s ta lo u a v e r if ic a ç ã o d e q u e e la s e d e s e n -
M ilã o , é d if e r e n te d a Pastoral r e g id a p o r v o n K a r a ja n , c o m a F ila r - v o lv e a p a r tir d e p r e s s u p o s iç õ e s .
m ô n ic a d e B e r lim . N ã o o b s ta n te u m a s e ja m a is r o m â n tic a , m a is d e r - P o is a c o m p r e e n s ã o e s c a p a a o â m b ito d a c iê n c ia . O compreender
r a m a d a , a o u tr a m a is lo n g ilín e a , a s d u a s s ã o a u tê n tic a s - e c o r r e ta s . é a lg o e x is te n c ia l, c o n s u b s ta n c ia n d o , d e s ta r te , e x p e r iê n c ia . O que se
Ne o p e r e m p to r ia m e n te a e x is C la Q ll:- c o m p r e e n d e , n o c a s o d a in te r p r e ta ç ã o d o d ir e ito , é a lg o - u m " o b je to "
r e ta ve Ira , p o a n o p a r a o c a s o ju r íd ic o - a in d a q u e o in té r p r e - - q u e n ã o p o d e s e r c o n h e c id o in d e p e n d e n te m e n te d e u m " s u je ito " .
te e s te ja , a tr a v é s d o s p n n c I p io s , v in c u la o p e o s is te m a ju r íd ic o . N e m Q uando a f ir m o s e r u m a p r u d ê n c ia o d ir e ito e s to u a d iz e r , ta m -
m e s m o o ju iz H é r c u le s [ D w o r k in ] e s ta r á e m c o n d iç õ e s d e e n c o n tr a r b é m , q u e o s a b e r p r á tic o q u e in te r p r e ta é s a b e r p r á tic o d o s u je ito , is to
p a r a c a d a c a s o u m a r e s p o s ta v e r d a d e ir a , p o is a q u e la q u e s e r ia a ú n ic a é , d o in té r p r e te - q u e r d iz e r , d a q u e le in té r p r e te .
r e s p o s ta c o r r e ta s im p le s m e n te n ã o e x is te .
S e r u m a p r u d ê n c ia o d ir e ito , is s o ta m b é m e x p lic a s u a f a c tic id a -
O f a to é q u e , s e n d o a in te r p r e ta ç ã o c o n v e n c io n a l, n ã o p o ssu i re a - d e e h is to r ic id a d e , r a z ã o p e la q u a l s u a o p e r a c io n a liz a ç ã o r e c la m a o
lid a d e o b je tiv a c o m a q u a l p o s s a s e r c o n f r o n ta d o o s e u r e s u lta d o (o m a n e jo d e n o ç õ e s , e n ã o s o m e n te d e c o n c e ito s .
in te r p r e ta n te ) , in e x is tin d o , p o r ta n to , u m a in te r p r e ta ç ã o o b je tiv a m e n -
E n s in a m a is a in d a a r e f le x ã o h e r m e n ê u tic a : e n s in a q u e o p r o c e s -
te v e r d a d e ir a [ Z a g r e b e ls k y ] .
s o d e in te r p r e ta ç ã o d o s te x to s n o r m a tiv o s e n c o n tr a n a p r é - c o m p r e e n -
s ã o o s e u m o m e n to in ic ia l, a p a r tir d o q u a l g a n h a d in a m is m o um
~ o v im e n to c ir c u la r , q u e c o m p õ e o c ír c u lo h e r m e n ê u tic o - m a té r ia s
a s q u a is d e d ic o a te n ç ã o n o E n s a io .

O q u e n e s te p a s s o d e s e jo e n f a tiz a r , c o n tu d o , é o f a to d e a in te r -
p r e ta ç ã o c o n s u b s ta n c ia r u m a e x p e r iê n c ia c o n f litu a l d o in té r p r e te , d e
m o d o ta l q u e a n o r m a d e d e c is ã o p o r e le p r o d u z id a tr a z b e m im p re s -
sas em s' .
I a s m a r c a s d e s s e ( s ) c o n f lI to ( s ) .

det L e ~ b ro a o b se rv a ç ã o d e F r o s in i: a d e c is ã o ju d ic ia l c o n s id e r a e é
e r m llla d a p e la s p a la v r a s d a le i e p e lo s a n te c e d e n te s ju d ic ia is ; p e la
42 E N S A IO E D IS C U R S O SO B R E A IN T E R P R E T A Ç Ã O /A P L IC A Ç Ã O D O D IR E IT O

fig u ra d e litiv a que se im p u ta ; p e la s in te rp re ta ç õ e s e la b o ra ~ a s p e la s

duas ou m a is p a rte s em c o n flito ; p e la s re g ra s p ro c e ssu a Is; p e la s

e x p e c ta tiv a s d e ju s tiç a n u trid a s p e la c o n s c iê n c ia d a s o c ~ e d a d e ; ~ in a l-

m e n te , p e la s c o n v ic ç õ e s d o p ró p rio ju iz , q u e p o d e e s ta r m flu e n c Ia d o ,
de fo rm a d e c is iv a , por p re c e ito s de é tic a re lig io s a ou s o c ia l, por

esquem as d o u trin a is em voga o u p o r in s tâ n c ia s d e o rd e m p o lític a .

E m a is : o ju iz d e c id e se m p re d e n tro de um a s itu a ç ã o h is tó ric a

XVII
d e te rm in a d a , p a rtic ip a n d o d a c o n s c iê n c ia s o c ia l d e s e u te m p o , c o n s i-

d e ra n d o o d ire ito to d o , e n ã o a p e n a s u m d e te rm in a d o te x to n o rm a tiv o .

CÂNONES E PAUTAS PARA A INTERPRETAÇÃO
P o r is s o m esm o - com o d ire i a o fin a l d e s te D is c u rs o -, o d ire ito

é c o n te m p o râ n e o à re a lid a d e . É
I n e c e s s á rio a in d a d iz e rm o s que a re fle x ã o h e rm e n ê u tic a re p u -

! d ia a m e to d o lo g ia tra d ic io n a l d a in te rp re ta ç ã o e c o lo c a s o b a c e s a s c rí-

I tic a s

q u e s tã o
a s is te m á tic a

de se saber
e s c o lá s tic a

por que um
dos m é to d o s ,

d e te rm in a d o
in c a p a z

m é to d o
de re sp o n d e r

deve se r, e m
à

d e te rm in a d o c a s o , e s c o lh id o .

I
In e x is tin d o re g ra s que o rd e n e m , h ie ra rq u ic a m e n te , o uso dos

cânones h e rm e n ê u tic o s , e le s acabam p o r fu n c io n a r com o ju s tific a ti-

vas a le g itim a r os re s u lta d o s que o in té rp re te se p re d e te rm in a ra a

a lc a n ç a r; o in té rp re te fa z u s o d e s te o u d a q u e le se e quando lh e a p ro u -
v e r, p a ra ju s tific á -lo s .

N ão o b s ta n te , a p ru d ê n c ia re c o m e n d a s e ja a in te rp re ta ç ã o ade-

quada a a lg u m a s p a u ta s , a trê s d a s q u a is d e s e jo d e ita r a lg u m a a te n -

ç ã o , (i) a p rim e ira re la c io n a d a à in te rp re ta ç ã o d o d ire ito n o s e u to d o ;

(ií) a s e g u n d a , à fin a lid a d e d o d ire ito ; (iii) a te rc e ira , a o s p rin c íp io s .

 XV/lI X/X
NÃO SE INTERPRETA O DIREITO EM TIRAS A FINALIDADE DO DIREITO
E AS NORMAS-OBJETIVO
A in te rp re ta ç ã o d o d ire ito é in te rp re ta ç ã o do direito, n o s e u to d o ,
n ã o d e te x to s is o la d o s , d e s p re n d id o s d~ E n s in a v o n J h e rin g q u e afinalidade é o c ria d o r d e to d o o d ire ito
~ ta o d ire ito e m tira s , a o s p e d a ç o s . e n ã () e x is te n o rm a o u in s titu to ju ríd ic o q u e n ã o d e v a s u a o rig e m a
--------
A in te rp re ta ç ã o d e q u a lq u e r te x to d e d ire ito im p õ e a o in té rp re te , u m a fin a lid a d e .
s e m p re , e m q u a lq u e r c irc u n s tâ n c ia , o c a m in h a r p e lo p e rc u rs o que se D aí a im p o rtâ n c ia d a s n o rm a s -o b je tiv o , q u e su rg e m d e fin id a -
p ro je ta a p a rtir d e le - d o te x to - a té a C o n s titu iç ã o . U m te x to d e d ire i- m e n te a p a rtir d o m o m e n to e m q u e o s te x to s n o rm a tiv o s passam a ser
to is o la d o , d e s ta c a d o , d e s p re n d id o d o s is te m a ju ríd ic o , n ã o e x p re ssa d in a m iz a d o s com o in s tru m e n to s d e g o v e rn o . O d ire ito passa a ser
s ig n ific a d o n o rm a tiv o a lg u m . o p e ra c io n a liz a d o te n d o e m v is ta a im p le m e n ta ç ã o d e p o lític a s p ú b li-
c a s , p o lític a s re fe rid a s a fin s m ú ltip lo s e e s p e c ífic o s . P o is a d e fin iç ã o
d o s fin s d e s s a s p o lític a s é e n u n c ia d a p re c is a m e n te e m te x to s n o rm a -
tiv o s q u e c o n s u b s ta n c ia m n o rm a s -o b je tiv o e q u e , m e rc ê d is s o , p a s -
s a m a d e te rm in a r o s p ro c e sso s d e in te rp re ta ç ã o d o d ire ito , re d u z in d o
a a m p litu d e d a m o ld u ra d o te x to e d o s fa to s , d e m o d o q u e n e la n ã o
cabem s o lu ç õ e s q u e n ã o s e ja m a b s o lu ta m e n te adequadas a ta is n o r-
m a s -o b je tiv o .

A c o n te m p la ç ã o , n o s is te m a ju ríd ic o , d e n o rm a s -o b je tiv o im p o r-
ta a in tro d u ç ã o , n a s u a " p o s itiv id a d e " , d e fin s a o s q u a is e le - o s is te -
m a - e s tá v o lta d o . A p e s q u is a d o s fin s d a n o rm a , d e s e n ro la d a no con-
te x to fu n c io n a l, to m a -s e m a is o b je tiv a ; a m e to d o lo g ia te le o ló g ic a
re p o u s a e m te rre n o firm e .
 I
xx XXI
OS PRINCÍPIOS OS PRINCÍPIOS DE DIREITO

E s te p re te n d e s e r u m D is c u rs o s o b re a in te rp re ta ç ã o , n ã o so b re o s C om põem e s s a o rd e m , in ic ia lm e n te , (i) o s princípios explícitos,

p rin c íp io s . Q u a n to a e le s re m e to o le ito r à e x p o s iç ã o d e s e n v o lv id a no re c o lh id o s n o te x to d a C o n s titu iç ã o o u d a le i; a p ó s , (ii) o s princípios
E n s a io . S in te tic a m e n te , c o n tu d o , p e rm ito -m e o b se rv a r o que segue. implícitos, in fe rid o s c o m o re s u lta d o d a a n á lis e d e u m o u m a is p re c e i-
to s c o n s titu c io n a is o u d e u m a le i o u c o n ju n to d e te x to s n o rm a tiv o s da
A ú ltim a década do s é c u lo passado é m a rc a d a , no cam po da
le g is la ç ã o in fra c o n s titu c io n a l (e x e m p lo s : o princípio da motivação
m e d ita ç ã o s o b re o d ire ito , p e lo p a ra d ig m a d o s p rin c íp io s .
do ato administrativo - a rt. 9 3 , X , d a C o n s t i t u i ç ã o ; o princípio da
M as is s o se passou d e ta l m o d o que, por um la d o , fo ra m e le s imparcialidade do juiz - a rts . 9 5 , p a rá g ra fo ú n ic o , e 5 º, X X X V II, d a
b a n a liz a d o s e , p o r o u tro , g ra n d e p a rte d o q u e te m s id o re fe rid o com o C o n s titu iç ã o ); p o r fim , (iii) o s princípios gerais de direito, t a m b é m
d o u trin a p ro d u z id a e m to rn o d e le s d á te s te m u n h o acabado de que as implícitos, c o l e t a d o s n o d i r e i t o p r e s s u p o s t o , q u a l o d a vedação do
pessoas que possuem in te lig ê n c ia b e m -fo rm a d a c o rre m se m p re o enriquecimento sem causa.
ris c o d e s u p o r q u e a c ria tiv id a d e d e q u e s ã o d o ta d a s é s u fic ie n te p a ra N o t e - s e b e m - m a s bem m e s m o - q u e e s t o u a r e f e r i r , a q u i , p r i n c í -
s u p rir a fa lta d e le itu ra d e q u e p a d e c e m . p i o s g e r a i s de d i r e i t o , e n ã o o s c h a m a d o s " p r i n c í p i o s g e r a i s d o d i r e i t o " .
T o m a -se a nuvem p o r Iu n o , c o m e -se g a to p o r le b re e tu d o p a s s a A a l u s ã o a o direito pressuposto t o r n a n e c e s s á r i a u m a s u g e s t ã o ,
a s e r " p rin c ip ia liz a d o " - s e é q u e o te rm o já fo i c u n h a d o . P a u ta s n o r- q u e fo rm u lo a o le ito r, n o s e n tid o d e q u e e x a m in e n o E n s a io a expo-
m a tiv a s - com o a d a p ro p o rc io n a lid a d e e a d a ra z o a b ilid a d e - são s iç ã o d e s e n v o lv id a s o b re o te m a , b e m a s s im s o b re a d is tin ç ã o e n tre o
tid a s c o m o p rin c íp io s e p a ira im p re c is ã o a b s o lu ta q u a n to ao que se d ire ito e o s d ire ito s .
p o s s a o u d e v a te r c o m o princípios de direito, c o is a d is tin ta dos prin- Is s o p e rm itirá a p e rfe ita c o m p re e n sã o de que os princípios gerais
cípios gerais do direito. de direito - princípios implícitos, e x is te n te s no direito pressuposto -
O ra , s e o d ire ito é d e fin id o , e n q u a n to sistema, c o m o u m a o rd e m n ã o s ã o re s g a ta d o s fo ra d o o rd e n a m e n to j u r í d i c o , p o r é m descobertos

a x io ló g ic a o u te le o ló g ic a d e p rin c íp io s [C a n a ris ], c u m p re in d a g a rm o s no seu in te rio r. É im p e rio s o que is s o fiq u e m u ito c la ro , p a ra que

q u a is p rin c íp io s com põem e ssa o rd e m . nenhum a d ú v id a a re s p e ito possa s e r le v a n ta d a : e s s e s p rin c íp io s , se

e x is te m , já e s tã o p o s itiv a d o s ; s e n ã o fo r a s s im , d e le s n ã o s e tra ta .

O s p rin c íp io s d e d ire ito q u e d e s c o b rim o s n o in te rio r d o o rd e n a -

m e n to ju ríd ic o s ã o p rin c íp io s deste o rd e n a m e n to ju ríd ic o , deste d ire ito .
O s p rin c íp io s e m e s ta d o d e la tê n c ia e x is te n te s s o b c a d a o rd e n a m e n to -
is to é , s o b c a d a direito posto - r e p o u s a m n o direito pressuposto q u e a
e le c o rre s p o n d a . N e s t e direito pressuposto o s e n c o n t r a m o s o u n ã o o s
e n c o n tra m o s ; d e lá o s re s g a ta m o s , s e n e le p re e x is tire m .
 XXII XXIII
A NÃO-TRANSCENDÊNCIA DOS PRINCÍPIOS PRINCÍPIO É NORMA JURÍDICA

o q u e s u s te n to , firm e m e n te , é a n ã o -tra n s c e n d ê n c ia
p io s im p líc ito s , p rin c íp io s g e ra is d e u m d e te rm in a d o
d o s p rin c í-
d ire ito .
I O s p rin c íp io s , to d o s e le s - o s e x p líc ito s e o s im p líc ito s -, c o n s -

I titu e m n o rm a ju ríd ic a .
S u a " p o s itiv a ç ã o " n ã o s e d á m e d ia n te s e u re s g a te n o u n iv e rs o d o
I T a m b é m o s p rin c íp io s g e ra is d e d ire ito - e n ã o s e rá d e m a s ia d a a

I
d ire ito n a tu ra l, c o m o ta n to s s u p õ e m ; e la n ã o é constituída, e s s a " p o s i- in s is tê n c ia , a q u i, e m q u e s e tra ta d e p rin c íp io s d e u m d e te rm in a d o
tiv a ç ã o " , m a s s im p le s m e n te reconhecida, n o in s ta n te d o s e u d e s c o - d ire ito - c o n s titu e m , e s tru tu ra lm e n te , n o rm a s ju ríd ic a s .
b rim e n to (d o p rin c íp io ) n o in te rio r d o d ire ito p re s s u p o s to d a s o c ie d a -
Norma jurídica é g ê n e ro q u e a lb e rg a , c o m o e s p é c ie s , re g ra s e
d e a q u e c o rre s p o n d e .

V a m o s s e r b e m c la ro s : e le s n ã o s ã o " p o s itiv a d o s " , v is to já s e re m

p o s itiv o s . É u m a to lic e im a g in a r-s e
d o r, p o s s a s e r a u to r d a a lq u im ia
q u e e s s e a lg o s e m p re fo ra .
f p rin c íp io s - e n tre e s te s ú ltim o s in c lu íd o s ta n to o s p rin c íp io s e x p líc i-
to s q u a n to o s p rin c íp io s g e ra is d e d ire ito .
q u e o ju iz , o ju ris ta , o d o u trin a -
Q u a n to à d is tin ç ã o e n tre p rin c íp io e re g ra re m e to o le ito r a o te x to
d e tra n s fo rm a r a lg o e x a ta m e n te no
d o E n s a io , o n d e d e la tra to c ritic a m e n te .

In s is to : o s p rin c íp io s g e ra is d e d ire ito n ã o c o n s titu e m c ria ç ã o

ju ris p ru d e n c ia l; e n ã o p re e x is te m e x te rn a m e n te a o o rd e n a m e n to . A
a u to rid a d e ju d ic ia l, a o to m á -lo s d e m o d o d e c is iv o p a ra a d e fin iç ã o d e
d e te rm in a d a s o lu ç ã o n o rm a tiv a , s im p le s m e n te c o m p ro v a a s u a e x is -
tê n c ia n o b o jo d o o rd e n a m e n to ju ríd ic o , d o d ire ito q u e a p lic a , d e c la -
ra n d o -o s . E le s s ã o , d e s ta rte , e fe tiv a m e n te descobertos n o in te rio r d e
d e te rm in a d o o rd e n a m e n to . E o s ã o - re p ito -o - ju s ta m e n te p o rq u e
n e s te m e s m o o rd e n a m e n to (is to é , n o in te rio r d e le ) já s e e n c o n tra -
v a m , e m e s ta d o d e la tê n c ia .
 KELSEN E A P O S IT IV A Ç Ã O DOS P R IN C ÍP IO S 51

to positivo, e m b o ra la te n te s. E m o u tro s te rm o s: o in té rp re te a u tê n tic o

n ã o "p o sitiv a " n a d a . O p rin c íp io já e sta v a p o sitiv a d o . S e n ~ o fo sse
a ssim , n ã o p o d e ria ~ r in d u z id o . D e v o in sistir e d e ix a r m U Ito b e m
v in c a d o e ste p o n to : a to d e "d e sc o b e rta " ., . te e m
d e te rm in a d n a m e n to é d e c la ra tó rio ' c o n stitu tiv o . D ia n te
;sso e fe tiv a m e n te se d e sv a n e c e a c rític a d e K e lse n .

XXIV
KELSEN E A POSITIVAÇÃO DOS PRINCÍPIOS

P a re c e -m e m a is im p o rta n te , a e sta a ltu ra d e m e u D isc u rso , le m -

b ra r a c rític a d e K e lse n a E sse r.
K e lse n d e d ic a to d o u m c a p ítu lo d a Teoria Geral das Normas à
c rític a d a e x p o siç ã o d e E sse r so b re o s p rin c íp io s, re c u sa n d o q u a lq u e r
im p o rtâ n c ia ju ríd ic a a e le s.
O ú n ic o fu n d a m e n to d e v a lid a d e da n o rm a in d iv id u a l que
e x p re ssa a d e c isã o ju d ic ia l d e u m c a so c o n c re to - d iz K e lse n - é o
p rin c íp io fo rm a l, d e d ire ito p o sitiv o , d a fo rç a d a c o isa ju lg a d a .
N e n h u m o u tro p rin c íp io - d iz e le - p o d e fu n d a m e n ta r e ssa v a lid a d e .
P o r isso , o s p rin c íp io s m o ra is, p o lític o s o u d o s c o stu m e s não
p o d e m se r c h a m a d o s d e jurídicos se n ã o n a m e d id a e m q u e in flu e n -
c ia m a c ria ç ã o d e n o rm a s ju ríd ic a s in d iv id u a is p e la s a u to rid a d e s
c o m p e te n te s. M a s isso n ã o sig n ific a q u e e le s se ja m "p o sitiv a d o s" ou
q u e p re e n c h a m a s c a ra c te rístic a s d a s n o rm a s ju ríd ic a s.
E ssa c rític a d e K e lse n te m sid o g e ra lm e n te ig n o ra d a p e lo s a u to -
re s q u e se d e d ic a m à a n á lise d o te m a d o s p rin c íp io s, se ja p o r d e sle i-
x o , se ja p o r fa lta d e re sp o sta a d e q u a d a , c re io .
D e m in h a p a rte , ja m a is a c e ite i a id é ia , c o rre n te , d e q u e o in té r-
p re te a u tê n tic o "p o sitiv e " os princípios implícitos a o c ria r n o rm a s d e
d e c isã o .

E isso p e la sim p le s ra z ã o d e q u e e le s n ã o n e c e ssita m se r "p o siti-

v a d o s", v isto q u e já se e n c o n tra m in te g ra d o s n o siste m a ju ríd ic o ,
c u m p rin d o a o in té rp re te e x c lu siv a m e n te d e sc o b ri-lo s, e m c a d a c a so .
O s p rin c íp io s explícitos, e sse s se m a n ife sta m d e m o d o e x p re sso .
O s d e m a is, implícitos, n ã o sã o "p o sitiv a d o s", m a s d e sc o b e rto s n o
in te rio r d o o rd e n a m e n to ; p o is e le s já e ra m , n e le , princípios de direi-
 r
J

xxv
OPOSIÇÃO E CONTRADIÇÃO ENTRE PRINCÍPIOS

U m a d a s f a ls a s n o v id a d e s in tr o d u z id a s p e lo p a r a d ig m a d o s p r in -
c íp io s é a r e la tiv a à o p o s iç ã o o u c o n tr a d iç ã o - c o m o já m e n c io n a v a
G é n y - e n tr e p r in c íp io s .

T u d o q u a n to o s m a is in g ê n u o s p e n s a m te r s id o e m r e la ç ã o a is s o
in v e n ta d o n a s d u a s ú ltim a s décadas d o s é c u lo p a s s a d o já e m 1965
P o u la n tz a s e n s in a v a , a o a f ir m a r q u e o ju iz d e v e r e s o lv e r a c o n tr a d i-
ç ã o e n tr e d o is p r in c íp io s ju r íd ic o s , e m r e la ç ã o a u m c a s o c o n c r e to ,
r e f e r in d o - s e à in f r a - e s tr u tu r a ( is to é , à r e a lid a d e ) ; o q u e o ju iz d e v e
a p u r a r é q u a l d o s d o is p r in c íp io s a s s u m e , n o c a s o c o n c r e to , im p o r tâ n -
c ia m a is s ig n if ic a tiv a e m r e la ç ã o a o s d a d o s d a r e a lid a d e .

O b s e r v o n o E n s a io - e d e s e jo r e p e ti- lo a q u i - q u e a f a lta d e r e f le -
x ã o te m le v a d o a lg u n s a n a lis ta s d o p e n s a m e n to d a d o u tr in a a c o n f u n -
d ir v a lo r e s ( te le o ló g ic o s ) c o m p r in c íp io s ( d e o n to ló g ic o s ) , c o lo c a n d o - s e
à d e r iv a d ia n te d e u m a m a l- d ig e r id a a p r e e n s ã o d a e x p o s iç ã o d w o r k in i-
n ia n a , q u e e m r ig o r e x c lu i o s p r in c íp io s d o â m b ito n o r m a tiv o .

O s c o n f lito s e a s o p o s iç õ e s e n tr e p r in c íp io s s ã o c o n f lito s e o p o -
s iç õ e s e n tr e n o r m a s . A s u p e r p o s iç ã o e n tr e r e g r a e n o r m a , d e u m la d o ,
e p r in c íp io , d e o u tr o , s ó p o d e r e s u lta r d e u m a c o n te s ta ç ã o d o p o s iti-
v is m o à D w o r k in , d e in c o m p r e e n s ã o o u d o d e s id e r a to d e c o n f u n d ir .
A te n s ã o e n tr e p r in c íp io s é p r ó p r ia a o s is te m a ju r íd ic o , se m p re ,
d e s d e s e m p r e te n d o s id o a s s im . O q u e to r n a c o m p le x a a c o m p re e n -
s ã o d e s s a c ir c u n s tâ n c ia é o f a to d e o p e n s a m e n to tr a d ic io n a l e n s in a r
q u e o d ir e ito é d o ta d o d e u m a u n iv e r s a lid a d e p le n a ( e le é a b s tr a to e
g e r a l) , n a q u a l n ã o c a b e m e x c e ç õ e s .

. .M a s é p r e c is a m e n te o in v e r s o d is s o o q u e s e d á . A in s e r ç ã o do
d I r e ito no m undo d a v id a , m e d ia n te a s u a in te r p r e ta ç ã o /a p lic a ç ã o ,
o p e r a - s e e m p la n o q u e n ã o s e p o d e p a r tic u la r iz a r s e n ã o m e d ia n te a
e x c e ç ã o , c a s o a c a s o . O s m a is v e lh o s já o h a v ia m p e r c e b id o .