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Hara Schmidt de lima

DE R O S E , D . j . O E s p o r l e e a P s i c o l o g i a : e n l o q u e d o p r o f i s s i o n u i d o esporie,
In K . R u b i o (org.) . Psicologia d o Esporte: liUerlaces. Pesquisa e
Imervenção. São P a u l o : C a s a d o Psicólogo, 2 0 0 0 , p . 2 9 - 4 0 .
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J t m d i a t : Ápice, 1 9 9 7 .
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E s p o r l e . São P a u l o : C a s a d o Psicólogo, 2 0 0 0 .
. P s i c o l o g i a d o E s p o r t e : I n t e r f a c e s , P e s q u i s a e Intervenção. São
Márcia Pilia do Valle'
P a u l o : C a s a d o Psicólogo, 2 0 0 0 .
Neuza Maria cie Fátima Giiareschi'
. O A t l e t a e o M i t o d o Herói - O imaginário e s p o r t i v o
contemporâneo. São P a u l o : C a s a d o Psicólogo, 2 0 0 1 .
S C A R P A R O , H . Cidadãs B r a s i l e i r a s : o c o t i d i a n o de i n u l h e r e s t r a b a l h a d o r a s .
R i o de Janeiro: R e v a n , 1996.
Repensando op a r a d i g m a d a Psicologia d o
Esporte
S O U Z A , A . M . A Ciência e a Técnica nas S o c i e d a d e s I n d u s t r i a i s M o d e r n a s :
u m a reflexão s o b r e a Educação Física. R e v i s t a B r a s i l e i r a d e Ciências E s t e capítulo b u s c a a p r e s e n t a r a dedicação a o e s p o r t e d e a l t o
d o E s p o r t e .3 ( 1 4 ) , 1 9 8 9 . r e n d i m e n t o c o m o u m a prática c u l t u r a l c o n s t i t u i d o r a d e i d e n t i d a d e s e
T O M A S . A E s p o r l e : Introdução à P s i c o l o g i a . R i o d e J a n e i r o : A o L i v r o s u b j e t i v i d a d e s . P a r a t a n t o , a b o r d a questões teóricas q u e s u s t e n t a m
Técnico, 1 9 9 4 . p e n s a r a P s i c o l o g i a d o E s p o r t e s o b u m p a r a d i g i n a epistemológico
q u e a r t i c u l e a s questões d o contemporâneo e d a P s i c o l o g i a S o c i a l
por m e i o campo d o s Estudos Culturais.
O f i o c o n d u t o r d e s t e capítulo a n c o r a - s e n a discussão d e r i v a d a

XrdcC:S\X)% í ^ \ 4 o de nossa pesquisa^ d e alguns d i s p o s i t i v o s d o esporte d e alto r e n d i -


m e n t o - n a r c i s i s m o e c o i p o - c a p a z e s d e t r a n s f o r m a r a experiência
d e s i d e a t l e t a s d e natação d e d i c a d o s a o e s p o r t e d e a l t o r e n d i m e n t o e
n a problematização d o s m o d o s c o m o e s t e s a t l e t a s são s u b j e t i v a d o s
p e l o e s p o r t e , d o s m o d o s p e l o s q u a i s são i n t e r p e l a d o s e vão c o n s t r u -
i n d o suas identidades. P o d e r discutir c o m o esse sujeito atleta se p r o d u z
é considerá-lo c o m o u m s u j e i t o q u e é e f e i t o d e práticas d i s c u r s i v a s e
q u e está e m c o n s t a n t e construção.

' Me.stre pelo PPG em Psicologia pela P U C R S , psicóloga do .esporte do Clulie Gvêinio
Náutico União e do Clube de Futebol l."! de Novembro,
- Prolessoia do PPG da Faculdade de Psicologia P U C R S , coordenadora do Grupo de Pe.squisa
Identidades, Diferenças e Teorias Contemporânea.s.
^ Esía discvissâo é derivada da pesquisa desenvolvida na dissertação de mestrado: Valle, M.
"Atlelas de alio rendimento: identidades em cotistruçiio", desenvolvida no PPCr de P,<;icologia
da P U C R S . 2003.

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Márcia Pilia do Valle/Neuia Maria de Fátima Guareschi o Esporte de Alto Rendimento; Produção de Identidodes e Subjetividades no Contemporâneo

Acreditamos ser importante situarmos sob queparadigma de Física n o B r a s i l , q u e r e c e b e u influência d e tendências l i g a d a s a c o n -


ciência e s t a m o s n o s p r o p o n d o a p e n s a r a construção d e i d e n t i d a d e s ceitos higienistas, militaristas e competitivistas (Silveira, 2 0 0 0 ) .
dos atletas, pois apesar de mostrar-se c o m o u m c a m p o e m e r g e n t e de O que p r o p o m o s é que a Psicologia d o Esporte possa trabalhar
c o n h e c i m e n t o e t r a b a l h o , a P s i c o l o g i a d o E s p o r t e n o B r a s i l t e m se c o m a i d e i a d e formação e d e s e n v o l v i m e n t o d o s a t l e t a s c o m o s e r e s
c a r a c t e r i z a d o p e l a p l u r a l i d a d e d e formação e ação d o s p r o f i s s i o n a i s h u m a n o s c o n t e x t u a l i z a d o s n a s u a prática. T r a b a l h a r n a m e l h o r i a d e
q u e a e l a s e d e d i c a m . " D o s c a m p o s d e atuação às l i n h a s teóricas, o s u a performance, m a s t e n d o c o m o p r i o r i d a d e a saúde m e n t a l d o s
que se o b s e r v a h o j e n a P s i c o l o g i a d o E s p o r t e é u m a p e l o à alteridade, m e s m o s . I s s o pressupõe u m t r a b a l h o d e médio e l o n g o p r a z o , p o s s i -
n o s e n t i d o d o r e s p e i t o às d i f e r e n t e s f o r m a s d e s e f a z e r u m a prática b i l i t a n d o u m a c o m p a n h a m e n t o m a i s sistemático d o s e n v o l v i d o s n o
q u e a i n d a c a r e c e d e tradição" ( R u b i o , 2 0 0 0 a , p . l O ) . e s p o r t e q u a i s . s e j a m : técnicos, a t l e t a s , p a i s , d i r i g e n t e s . L e v a e m c o n -
A P s i c o l o g i a d o E s p o r t e começa a s e r d e s e n v o l v i d a a p a r t i r d a t a a i n d a t e r u m a concepção d e s u j e i t o d i f e r e n t e d a p r o p o s t a p e l o
ascensão d o esporte-espetáculo, n a t e n t a t i v a d e m e l h o r a r o r e n d i - p a r a d i g m a p o s i t i v i s t a d e ciência. E s s a s reflexões a b r e m u m a série d e
m e n t o d o atleta p o rm e i o de u m m a i o r controle e m o c i o n a l . Busca, p o s s i b i l i d a d e s p a r a s e p e n s a r a constaição d e i d e n t i d a d e s d e s s e s s u -
i n i c i a l m e n t e , q u e o indivíduo p o s s a c o n t r o l a r a o máximo a s variá- jeitos, sob u m olhar diferenciado d o que geralmente encontramos
veis emocionais intervenientes e m seu desempenho. O paradigma publicado a respeito e m Psicologia do Esporte. F u n d a m e n t a m o s nossa
p o s i t i v i s t a f o i m a r c a n t e d u r a n t e m u i t o t e m p o n e s t a área d e c o n h e c i - discussão n o c a m p o d o s E s t u d o s C u l t u r a i s a r t i c u l a d o a a p o r t e s d a
m e n t o , m a s p a s s o u a s o f r e r a l g u m a s interferências i m p o r t a n t e s a p a r t i r Psicologia Social dentro da perspectiva d o C o n s t m c i o n i s m o Social
p a r a p e n s a r a questão d a construção d a s i d e n t i d a d e s n o contemporâ-
d e m e a d o s d o século X X c o m o s e s t u d o s sociológicos i n s p i r a d o s ná
neo.
T e o r i a S o c i a l Crítica. Publicações m a i s r e c e n t e s s o b r e ó a s s u n t o t r a -
z e m contribuições d e várias v e r t e n t e s d a P s i c o l o g i a ( P s i c o l o g i a C o n s i d e r a n d o q u e a prática d o e s p o r t e d e a l t o r e n d i m e n t o m a r -
C o g n i t i v a , Psicanálise, P s i c o l o g i a d o s G r u p o s , e t c . ) i l u s t r a n d o o q u a n - c a u m a diferença i m p o r t a n t e n a v i d a d o s j o v e n s a t l e t a s , b u s c a m o s
t o e s t e a i n d a é u m c a m p o d e s a b e r s u j e i t o a vários i n t e r c e s s o r e s e c o m p r e e n d e r m e l h o r o s s e n t i d o s q u e estão s e n d o p r o d u z i d o s c o m
c a r e n t e d e construções teóricas q u e l e v e m e m c o n t a a s e s p e c i f i c i d a d e s relação a e s s a prática d e s p o r t i v a , d e q u e m o d o s e p e n s a m e são p e n -
d e s t a prática p r o f i s s i o n a l . s a d o s e s s e s s u j e i t o s c o m o a t l e t a s . A p a r t i r d e s t a experiência c o m a
L e v a n d o e m c o n t a o cientificismo/maniqueísmo q u e r e g e o s prática d o e s p o r t e d e a l t o r e n d i m e n t o , p e n s a r c o m o p a s s a m a c o n s -
p r o g r a m a s d e t r e i n a m e n t o e s p o r t i v o , s u a visão d e u m s e r h u m a n o truir suas identidades sociais e culturais e problematizar alguns
mecânico e q u a n t i t a t i v o , a s s u j e i t a d o b i o t e c n o l o g i c a m e n t e , p o d e - d i s p o s i t i v o s d o esporte q u e s u b j e t i v a m esses sujeitos.
mos compreender p o r q u e o discurso d a Psicologia d o Esporte P a r a t a n t o , i n i c i a m o s c o m a l g u m a s discussões teóricas a r e s p e i -
iniciou-se sob esse paradigma. H i s t o r i c a m e n t e , n o B r a s i l inclusi- t o d o p r o c e s s o d e subjetivação e d o q u e s e c o m p r e e n d e c o m o
v e , e s t a área d e c o n h e c i m e n t o f o i m u i t o m a i s d e s e n v o l v i d a p o r d i s p o s i t i v o s p a r a então relacioná-los a o e s p o r t e .
profissionais d o M o v i m e n t o H u m a n o , principalmente professores
d e Educação Física e p e l o s próprios técnicos, q u e p r e s c i n d i a m d a (D)as i d e n t i d a d e s , (d)os dispositivos e (d)a
necessidade de d a r conta dos aspectos emocionais q u e e n v o l v i a m subjetivação
e s s e a t l e t a mecânico e q u a n t i t a t i v o ( E p i h a n i o , 1 9 9 9 ) . E s s a c o n c e p - o conceito de cultura é f u n d a m e n t a l para a perspectiva dos Es-
ção d e s u j e i t o é l i g a d a d i r e t a m e n t e à própria história d a Educação tudos Culturais, pois ela é considerada c o m o constitutiva d o sujeito

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Márcia Pilia tio Vcille/Weu%a Maria fje Fátimci Guareschi O Esporte de Alto Rendimento! Produção de Identidades e Subjetividades D Contemporâneo

e d a s u a v i d a s o c i a l . O q u e c o n s t i t u i n o s s a s c u l t u r a s são o s v a r i a d o s g r a u s v a r i a d o s d e e s c o l h a e a u t o n o m i a , m a s p a r a c a d ; u m d e l e s há
s i s t e m a s d e s i g n i f i c a d o s q u e dão s e n t i d o às n o s s a s ações. A s s i m s e n - u m espaço e u m l u g a r c a i r e g a d o d e r e c u r s o s simbólico à n o s s a d i s -
d o , " c a d a instituição o u a t i v i d a d e s o c i a l g e r a e r e q u e r s e u próprio posição. A i n d a q u e n o s s i n t a m o s a " m e s m a p e s s o a " e m d i f e r e n t e s
universo d i s t i n t o d e s i g n i f i c a d o s e práticas - s u a própria c u l t u r a . " interações, s o m o s d i f e r e n t e m e n t e p o s i c i o n a d o ' s , d e p e n d e n d o d a s e x -
( G u a r e s h i , M e d e i r o s e B r u s c h i , 2 0 0 3 ) . A c u l t u r a , t o m a d a c o m o prá- p e c t a t i v a s e restrições e n v o l v i d a s e m c a d a u m a d e s s a s situações,
t i c a s s o c i a i s e d e significação, i n s t i t u i m o d o s d e v i v e r , d e s e r , d e naquele m o m e n t o . " E m certo sentido, somos posicionados - e t a m -
compreender, de explicar a si m e s m o e o m u n d o . A o forjar sentidos, bém p o s i c i o n a m o s a nós m e s m o s - d e a c o r d o c o m o s c a m p o s s o c i a i s
estes g a n h a m efeitos de verdade e p a s s a m a c o n s t i t u i r o m o d o de ser nos quais estamos atuando" ( W o o d w a r d , 2 0 0 0 , p.30).
d o s s u j e i t o s ( B e r n a r d e s e G u a r e s h i , 2 0 0 3 ) . P o r t a n t o , não s e p o d e p e n - A s s i m s e n d o , o q u e é d e n o m i n a d o i d e n t i d a d e p o d e ser c o n s i d e -
s a r o s u j e i t o destituído d e s e u caráter c u l t u r a l , p o i s e l e é histórico e r a d o c o m o a s d i f e r e n t e s posições o u identificações q u e a d o t a m o s
culturalmente contingente. E m b o r a sintamos c o m o praticamente na- através d o t e m p o e q u e p r o c u r a m o s v i v e r e a d o t a r c o m o s e f o s s e m d e
t u r a l a f o r m a c o m o e n t e n d e m o s a nós m e s m o s , s o m o s constituídos " d e n t r o " , m a s q u e são d e r i v a d a s d e u m c o n j u n t o d e circunstâncias,
p o r d e t e r m i n a d a c u l t u r a , e m d e t e r m i n a d a época. A p e r s p e c t i v a d o s s e n t i m e n t o s , experiências v i v e n c i a d a s p o r m e i o d a c u l t u r a . A s d i f e -
E s t u d o s C u l t u r a i s p e r m i t e a n a l i s a r c o m o o s s u j e i t o s c o m p r e e n d e m a^ r e n t e s "posições d e s u j e i t o " q u e o c u p a m o s são r e s p o s t a s a o s a p e l o s
si m e s m o s d e n t r o d a c u l t u r a e q u a i s s i g n i f i c a d o s c o m p a r t i l h a m e m d o s s i s t e m a s d e significação q u e n o s i n t e r p e l a m e p e l o s q u a i s d e s e j a -
g r u p o s específicos, n o s d i f e r e n t e s m o m e n t o s históricos. A s s i m s e n - mos (consciente o u inconscientemente) nos identificar (Hall,1997).
d o , e s t e t r a b a l h o s e propõe a p e n s a r o e s p o r t e d e a l t o r e n d i m e n t o O conceito d e d i s p o s i t i v o é i m p o r t a n t e neste c o n t e x t o , se o en-
c o m o u m a prática s o c i a l q u e p r o d u z u r a u n i v e r s o d e s e n t i d o s e q u e t e n d e r m o s c o m o q u a l q u e r l u g a r n o q u a l se c o n s t i t u i o u se t r a n s f o r m a
captura os sujeitos nele e n v o l v i d o s . a experiência d e s i , q u a l q u e r l u g a r n o q u a l s e a p r e n d e m o u s e m o d i -
A noção d e i d e n t i d a d e , t a l c o m o e n t e n d i d a p e l o s E s t u d o s C u l t u - f i c a m a s relações q u e o s u j e i t o e s t a b e l e c e c o n s i g o m e s m o . A s s i m , a
r a i s , n e c e s s i t a s e r r e t o m a d a paj-a q u e s e c o m p r e e n d a m a s articulações história d a s f o r m a s n a s q u a i s o s s e r e s h u m a n o s constituíram n a r r a t i -
e n t r e o p r o c e s s o d e construção d e i d e n t i d a d e s ; o s m o d o s d e subjetivação v a m e n t e s u a s v i d a s é também a história d o s d i s p o s i t i v o s q u e f a z e m
e s u a s relações c o m o s i s t e m a e s p o r t i v o contemporâneo. os seres h u m a n o s contar-se a s i m e s m o s d e d e t e r m i n a d a f o r m a , e m
H a l l ( 2 0 0 0 b ) e Silva ( 2 0 0 0 ) , a o tratar o t e m a da identidade, tra- determinados contextos e para determinadas finalidades (Larrosa,
b a l h a m c o m a questão indissociável d a dii"erença. I d e n t i d a d e e 1 9 9 7 ) . O s d i s p o s i t i v o s d o e s p o r t e , p o r t a n t o , são c o n s i d e r a d o s c o m o
diferença não são essências, a l g o i n t e r i o r e c e n t r a l n o s u j e i t o , q u e a q u e l e s c a p a z e s d e t r a n s f o r m a r a experiência d e s i d o s a t l e t a s .
estão à e s p e r a d e s e r e m d e s c o b e r t a s , m a s são p r o d u z i d a s n o c o n t e x t o LaiTosa (1995, p.69) contribui para entendermos o enlace entre
d a relação c u l t u r a l e s o c i a l . O s o n h o i l u m i n i s t a d e u m a n a t u r e z a h u - i d e n t i d a d e e s u b j e t i v i d a d e , a o d i z e r q u e "é c o n t a n d o histórias, o q u e
m a n a b o a e homogénea não é m a i s compatível c o m o m u n d o s o c i a l nos acontece e o sentido q u e damos a o q u e n o s acontece, q u e n o s
p o l i m o r f o , múltiplo e construído p o r d i f e r e n t e s . d a m o s a nós próprios u m a i d e n t i d a d e n o t e m p o " .
W o o d v v a r d (2000) esclarece-nos m e l h o r esse c o n c e i t o q u a n d o A l g u n s autores, c o m o B i r m a n ( 2 0 0 0 ) e Passos (2002), n o s aju-
o integra a o que B o u r d i e u chama de "campos sociais", entendendo- d a m a c o m p r e e n d e r a s u b j e t i v i d a d e , a o e x p l i c a r q u e e l a não é n e m u m
o s c o m o a s d i f e r e n t e s instituições p e l a s q u a i s c i r c u l a o indivíduo - dado n e m t a m p o u c o u m ponto de partida, mas algo da,ordem d a pro-
e s c o l a , família, a m i g o s , e t c . E m c a d a c a m p o s o c i a l , são e x e r c i d o s dução. A s s i m , e l a não e s t a r i a n a o r i g e m , c o m o u m a i n v a r i a n t e e n c a r a d a

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Màrcici Pi-ia do Valle/Neuza Maria de FáHma Guareschi O Esporte de Alto Rendimento: Produção de Identidades e Subjetividades no Conlemporôneo

de m a n e i r a n a t u r a l i s t a , m a s c o m o p o n t o d e cliegada d e u m processo A s u b j e t i v i d a d e , d e s d e o s primórdios d a m o d e r n i d a d e , t e m s e u s


c o m p l e x o , i s t o é, CiC u m d e v i r . P o i t a u t o , a s u b j e t i v i d a d e d e v e r i a s e r e i x o s c o n s t i t u t i v o s n a i d e i a d e i n t e r i o r i d a d e e d e reflexão s o b r e s i
c o n s i d e r a d a n o p l u r a l - s u b j e t i v i d a d e s , p e r d e n d o o caráter d e f i x i d e z ^ m e s m a . A i n d a q u e n a s últimas décadas t e n h a m o s o b s e r v a d o d i f e r e n -
C o n s i d e r a r a s f o r m a s d e subjetivação é i n s i s t i r n a dimensão d e p r o d u - • t e s m o d o s d e s u b j e t i v i d a d e , o e u a i n d a e n c o n t r a - s e e m u m a posição
ção d o s u j e i t o q u e n ã o s e r i a m a i s o r i g e m e i n v a r i a n t e , m a s p r i v i l e g i a d a . A t u a l m e n t e , percebemos esse a u t o c e n t r a i n e n t o c o n j u -
h i s t o r i c a m e n t e regulado. É nesse sentido que a subjetividade é e n t e n - gado d e m o d o paradoxal c o m o v a l o r d a exterioridade. " C o m isso, a
d i d a c o i n o potência d e criação d e s i , d e d e v i r , p o i s e l a é u m a operação'; s u b j e t i v i d a d e a s s u m e u m a configuração d e c i d i d a m e n t e e s t e t i z a n t e ,
i n f i n i t a d e produção d e s i . A s s i m , a i d e i a d e p r o c e s s u a l i d a d e f i c a e v i - e m q u e o o l h a r d o o u t r o n o c a m p o s o c i a l e inidiático p a s s a a o c u p a r
d e n t e , e m u m contínuo p r o c e s s o d e s e n d o , s e f a z e n d o . u m a posição estratégica e m s u a e c o n o m i a psíquica" ( B i r m a n , 2 0 0 0 ,
Subjetivação a s s i m é e n t e n d i d a c o m o produção d i s c u r s i v a d a p . 2 3 ) . E s s a e x t e r i o r i d a d e v a i a s s u m i r proporções f u n d a m e n t a i s d e
c u l t u r a , c o m o o s m o d o s d e ser, c o m o o s m o d o s p e l o s q u a i s o s u j e i t o : , s e r e m c o m p r e e n d i d a s , p a r a q u e p o s s a m o s articulá-la c o m a s q u e s -
se o b s e r v a e s e r e c o n h e c e c o m o u m l u g a r d e s a b e r e d e produção d e - tões d o e s p o r t e .
verdade. • <• O a u t o c e n t r a m e n t o a p r e s e n t a - s e i n i c i a l m e n t e p e l a "estetização
Ao e s c u t a r asihistórias c o n t a d a s p e l o s a t l e t a s " v a m o s p e r c e b e n - d a existência", e m q u e i m p o r t a s o m e n t e a exaltação d o e u , t a n t o p a r a
d o o s d i s p o s i t i v o s d o e s p o r t e q u e vão t r a n s f o r m a n d o a experiência si m e s m o q u a n t o p a r a o s o u t r o s . A c u l t u r a d a i m a g e m é c o i T e l a t a à
de s i desses jovens.. estetização d o e u , e s t a b e l e c e n d o a h e g e m o n i a d a aparência, q u e p a s -
s a a s e c o n s t i t u i r critério f u n d a m e n t a l d o ser. O s u j e i t o p a s s a a v a l e r
O n a r c i s i s m o e o b u s c a p e l a excelência p e l o q u e p a r e c e ser, d e a c o r d o c o m as i m a g e n s p r o d u z i d a s p a r a s e
a p r e s e n t a r n a c e n a s o c i a l . A mídia c u m p r e u m p a p e l d e d e s t a q u e
o e s p o r t e d e a l t o r e n d i m e n t o não p o d e m a i s s e r p e n s a d o
n e s s a configuração, p o i s , c o m s e u c u l t o às c e l e b r i d a d e s , a l i m e n t a o s
d i s s o c i a d o d a espetacularização e d e s u a importância d a d a p e l a mídia.
s o n h o s n a r c i s i s t a s d e f a m a e glória d o h o m e m c o m u m q u e , i d e n t i f i -
I s s o n o s r e m e t e a discussões r e l a c i o n a d a s a o n a r c i s i s m o d e n o s s a
cado c o m esse discurso, sente dificuldade e m aceitar a banalidade d a
cultura atual, baseadas e m psicanahstas c o m o Costa ( 2 0 0 1 ) e B i r m a n
existência c o t i d i a n a .
( 2 0 0 0 ) q u e também m e n c i o n a sociólogos c o m o D e b o r d e h i s t o r i a -
O esporte, desse m o d o , se presta t o t a l m e n t e para preencher es-
dores c o m o L a s c h (1983).
ses s o n h o s n a r c i s i s t a s u m a v e z q u e s e c a l c o u n a espetacularização.
G . D e b o r d , n o f i m d o s a n o s 6 0 , e C h r i s t o p h e r L a s c h , n a década
C o m o u m fenómeno d e m a s s a , n e c e s s i t a d a presença d e "heróis",
d e 7 0 , começaram a p e n s a r a pós-modernidade c o m o c o n s t i t u i d o r a
" e s t r e l a s " o u "ídolos" p a r a m a n t e r - s e i n t e r e s s a n t e e , c o n s e q i i e n t e -
de n o v a s s o c i a b i l i d a d e s e t r a b a l h a r a m c o m c o n c e i t o s a t u a l m e n t e i n -
m e n t e , u m a f o n t e d e identificação p a r a a s p e s s o a s .
c o r p o r a d o s a o n o s s o vocabulário''.
R u b i o ( 2 0 0 1 ) a f i r m a q u e o s a t l e t a s contemporâneos têm s u a
i m a g e m v i n c u l a d a a o espetáculo e a o lazer. São t i d o s c o m o s u j e i t o s
' As falas que constam ao longo do capítulo fazem parte da pesquisa realizada na dissertação
mencionada anteriormente.
c a p a z e s d e a u e b a t a r multidões c o m s u a s performances o u até m e s -
' Debord denominou a "sociedade do espetáculo" trabalhando a ideia de espetáculo conjugada m o c a u s a r d o r e comoção c o l e t i v a s e m c a s o s d e a c i d e n t e o u m o r t e .
às de exibição e teatralidade, pelas quais os atares se inserem como personagens na cena
E s s a exposição e exploração d o e s p o r t e e d o s a t l e t a s a c a b a p r o -
social. As metáforas do exibicionismo e míse-en-scène remetem para a de exterioridade,
forma primordial pela qual se concebe a economia da subjetividade na cultura do espetáculo. d u z i n d o u m a associação e n t r e a f i g u r a d o a t l e t a c o m O m i t o d o herói,
Tudo isso lejnete à exaltação do eu e à esletização da existência (Birman, 2000).

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Márcia filití t!o Valle/Neuiii Maria de Fátimci Guareschi O Esporte de Alto Kendimentoi Produção de Identidades e Subjetividades no Contemporâneo

lelorçacio p e l o caráter agonístico" d a d i s p u t a e s p o r t i v a ' ' . O p a p e l q u e q u e o s u j e i t o "se prepare" pttra a v i d a e o m e r c a d o d e t r a b a l h o c o m -


d e s e m p e n h a m c o m o representantes de u m a comunidade, geralmente petitivo e m que vivemos atualmente.
u l t r a p a s s a n d o obstáculos intransponíveis, r e a l i z a n d o f e i t o s c o n s i d e - A s próprias famílias também a c a b a m p o r r e p r o d u z i r e s s e d i s -
r a d o s s o b r e - h u m a n o s e a própria v i d a d i s c i p l i n a d a q u e l e v a m , f a v o r e c e c u r s o p e l a b u s c a d a vitória e excelência. M u i t - a s v e z e s a s vitórias o u
a construção d a condição d e herói d o s a t l e t a s ( R u b i o , 2 0 0 1 ) . f r a c a s s o s d o s f i l h o s são t o m a d o s c o m o s e u s , e n t e n d e n d o , n e s s e c a s o ,
T u d o i s s o leforça as questões d e v a l o r i z a r s o m e n t e a vitória, c u l t u a r q u e o s f i l h o s são o s r e p r e s e n t a n t e s q u e vão p r e e n c h e r ( o u não) o s
R perfomnwce e bu.scar a excelência, e s c u t a d a s tão f r e q u e n t e m e n t e p o r i d e a i s narcísicos d e s e u s p a i s :
todos os envolvidos na cultura esportiva. Aexterioridade, entendida Ele ( o p a i ) não gosta que a gente chegue atrás nem no treino,
c o m o e q u i v a l e n t e d a performance e s p o r t i v a , f u n c i o n a p a r a o s s u j e i - [...] ele fica muito indignado.
t o s a t l e t a s c o m o f o r m a d e o b t e r g a n h o narcísico, m a s também c o m o A s famílias também são c o n v o c a d a s a a s s u m i r o d i s c u r s o d o
u m a f o n t e d e pressão p o r m a n t e r a e x p e c t a t i v a c r i a d a : s i s t e m a e s p o r t i v o e vão s e i n s e r i n d o n o p r o c e s s o d e construção d o
sujeito atleta. I n i c i a l m e n t e o e n g a j a m e n t o ocon-e pelo a c o m p a n h a -
Os úkimos cinco Brasileiros eu ganhei rodos os ( n o m e d a m e n t o e i n c e n t i v o à prática. P r o g r e s s i v a m e n t e a interpelação v a i
p r o v a ) , aí cheguei aqui, todo mundo: "Ah, ele é campeão l e v a n d o a s famílias a a l t e r a r e m o u t r o s hábitos d e v i d a . É c o m u m
brasileiro", porque todo mundo vê eu ganhara prova. (...). m o d i f i c a r a alimentação e m f a v o r d e u m cardápio m a i s a d e q u a d o ,
Daí eu "putz", sabe, amoleci... e agora se eu perco? o r g a n i z a r o s horários f a m i l i a r e s p a r a q u e s e c o m p a t i b i l i z e m c o m o s
horários d e t r e i n a m e n t o , a b r i r mão d e v i a j a r e m f e r i a d o s o u a s férias
O d i s c u r s o d a organização e s p o r t i v a contemporânea é são p l a n e j a d a s e m função d o t r e i n o , e n t r e o u t r o s :
hegemónico e m t r a n s m i t i r o s benefícios d e s u a prática. S e p e n s a r -
...meu pai faz tudo o que tem que fazer, tipo a.Umen.tação
mos e m termos de centralidade da cultura, percebemos c o m o os
agora, fazer comida assim e assim, a nutricionista manda-
v a l o r e s d e s t a c u l t u r a são c o n s t i t u t i v o s d o s s u j e i t o s e p e r m e i a m t o d a s
va e a minha família toda tinha que fazer direitinho.
as relações d o s a t l e t a s d e s d e o início já d e n t r o d a própria família. O
próprio d i s c u r s o e s p o r t i v o d a c o n t e m p o r a n e i d a d e e n v o l v e v a l o r e s
Eu morei em três cidades por causa da natação.
c o m o s u c e s s o , força, superação d e l i m i t e s , vitória e s u p r e m a c i a . A
Os familiares passam a viver e a sofrer as mesmas emoções e
exigência p e l a b o a performance, o e l e v a d o g r a u d e c o m p e t i t i v i d a d e
pressões vividas pelos atletas. As famílias também são iriseridas na
e a tolerância às frustrações e a o e s t r e s s e são características q u e o s e r
cultura esportiva e. muitas vezes, reproduzem com. esmero o discur-
h u m a n o e n c o n t r a n o s e u d i a - a - d i a e e m s u a s relações p e s s o a i s , O
so da exigência da p e r f o r m a n c e excelente.
discurso esportivo t e m propagado que pode atuar c o m o m e i o de ca-
Aí é aquele negócio de esporte que eles vivenciam, sempre
nalização d e s t a s características, t o r n a n d o - s e m a i s u m a t r a t i v o p a r a
fazem tudo para eu estar bem assim. -

T i p o eles f i c a m ansiosos, f i c a m nervosos, e l e f i c a m mais ner-


° Agonística (anoiiisliké, em grego) significa luta, diS|Miia atlética, tísta luta é conleriila aos
lieicíis com o sentido de valorização do guerreiro e do combate intrépido (Rubio,2UOI). v o s o s d o q u e e u , às v e z e s .
' Rubio (2001) aprolunda essas questões ao discutir a constituição do imaginário esportivo O s técnicos m u i t a s v e z e s também v i v e m e s s e p r o c e s s o , p o i s a
c o n t e m p o r â n e o - do atleta como um herói - a partir da relação estabelecida entre as
lii'ij,!i/imiue.\- esportivas e as façanhas heróicas da mitologia. peiformance d o a t l e t a é, e m última instância, a estetização d o r e s u l t a d o
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Márcio Pilia do Valle/Neuza Maria de FáHma Guareschi O Esporte de Alto Rendimento; Produção de Identidades e Subjetividades no Contemporâneo

d e s e u t r a b a l h o . M u i t o s não c o n s e g u e m a d m i n i s t r a r b e m a s d e r r o t a s Aí eu perdi mesmo, sabe, perdi a prava alija. [...J Acho


soFndas, r e t l e t i n d o n o s sujeitos atletas esses c o n f l i t o s : que foi a pior semana da minha. vi.da. cara. Eu queria fu-
gir, queria ir embora, fedei para a minha namorada " va-
/.../ era o menino dos olhos [...], quando ele foi mal no mos embora daqui, não quero mais nadar". [...] Foi. pres-
Brasileiro e tava, brincando com uma bolinha assim de são minha própria scdye, de querer não decepcionar.
papel no lixo, ele ( o técnico) disse que ele tinha que jogar
basquete porque pra natação ele não servia. A i m a g e m , a aparência, a estetização d a existência s e d e s d o b r a m
n a c h a m a d a " c u l t u r a d o espetáculo", e m q u e a exibição s e t r a n s f o r m a
A e x p e c t a t i v a de c o r r e s p o n d e r a esses ideais p r e c o n i z a d o s pela n o o b j e t i v o e s s e n c i a l d a existência d o s u j e i t o , s u a razão d e ser. A e x i -
c u l t u r a e s p o r t i v a são p e r c e b i d a s p e l o s s u j e i t o s a t l e t a s c o m o m a i s u m gência p e l a performance p a s s a a t e r u m d e s t a q u e f u n d a m e n t a l , p o i s ,
f a t o r d e pressão p a r a o b t e r s o m e n t e r e s u l t a d o s satisfatórios: n a c u l t u r a d o espetáculo, s e c o n f u n d e o s e r c o m o pai:ecer. C o n s i d e -
r a m - s e f r a c a s s a d o s t o d o s a q u e l e s q u e não c o n s e g u e m e x e r c e i - o fascínio
[...] porque não é a pressão mais do clube, é a pressão do d a estetização d e s u a existência. N o e s p o r t e , p e r c e b e m o s o q u a n t o a
país para ti gcmhar. [...] Ainda mais se tu vai com chance, valorização p e l a vitória t o m a c o n t a d o d i s c u r s o e s t e t i z a n t e , p a s s a n d o a
numa olimpíada de medalha deve ser horrível, deve ser ser d e s v a l o r i z a d o q u a l q u e r o u t r o r e s u l t a d o .
muito horrível. [...] Imagina, tem a expectativa de um país
atrás, imagina, só. Aqui com o clube já é horrível, do país O pessoal não entende mesmo para fcdar que eu fiquei em
etitão nem se fala. quinta no Troféu Brasil {uma. d a s p r i n c i p a i s competições
b r a s i l e i r a s ) , ninguém entende.
N a chamada "cultura d o n a r c i s i s m o " - t e r m o cunhado pelo his-
t o r i a d o r L a s c h ( 1 9 8 3 ) - não há m a i s l u g a r p a r a a a l t e r i d a d e c o m o A própria mídia e n c a i r e g a - s e d e reforçar e s s e d i s c u r s o , v a l o r i z a n -
v a l o r , m a s , s i m , u m a ênfase n o a u t o c e n t r a m e n t o d o s u j e i t o , q u e é d o a p e n a s o s campeões. N o s a t l e t a s a p a r e c e t a n t o u m fascínio p e l a
r e f l e t i d o n o i n d i v i d u a l i s m o e n a desconsideração à história o b s e r v a - repercussão n a i m p r e n s a d e s e u s f e i t o s extraordinários q u a n t o u m p a v o r
dos e m nossa sociedade. A p e s a r de n o espoite de alto r e n d i m e n t o a p o r t e r d e d e i x a r à m o s t r a a não-vitóiia, p o i s é e s t a a lógica d o e s p o i t e d e
preocupação não r e s i d i r d i r e t a m e n t e n a aparência, o b s e r v a m o s u m a a l t o r e n d i m e n t o : o u s e é o v e n c e d o r o u não s e é c o n s i d e r a d o .
preocupação c o m a performance d o a t l e t a , o u s e j a , u m a preocupação
por resultados, tempos, percentual de gordura. A s s i m , aspectos da Então eu não gosto muito desse lado de imprensa, de dar
performance e s p o r t i v a s e t o r n a m e q u i v a l e n t e s a o q u e o s a u t o r e s t r a - entrevista, bah, odeio, odeio totalmen.te. Mas tem que ir
t a m p o r aparência física. T o d a a trajetória, o c a m i n h o p e r c o r r i d o p e l o né, pelo clube.
a t l e t a p a r a c h e g a r até u m a posição d e d e s t a q u e n e m s e m p r e é c o n s i -
d e r a d a , p o i s há u m a ênfase n o momentâneo, n a i n s t a n t a n e i d a d e A a l t e r i d a d e e a i n t e r s u b j e t i v i d a d e são m o d a l i d a d e s d e existência
p r o p o r c i o n a d a p e l o e s p e t á c u l o . A s s i m , q u a n d o não c o n s e g u e f a d a d a s a o silêncio e e s v a z i a m e n t o n a c u l t u r a d o espetáculo, p o i s não
c o r r e s p o n d e r às e x p e c t a t i v a s , m o s t r a s o f r e r a d o r narcísica d e não há m a i s l u g a r p a r a a d m i r a r o o u t r o e m s u a diferença r a d i c a l , p o i s o
coiTesponder ao ideal almejado por ele e pelos outros: s u j e i t o não c o n s e g u e m a i s d e s c e n t r a r - s e d e s i m e s m o . A o contrário,

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Márcia Plllti do Valle/Neirea Maria de Fátima Gyareschi o Esporte de Alto Rendimento: Produção de Identidades e Subjetividades no Contemporóneo

ele Ixisca c o m p o r u m a exterioridade capaz de seduzir o olhar do outro, A c u l t u r a i n d i v i d u a l i s t a narcísica r e l a c i o n a d a a o e s p o r t e é p e n -


e é p o r i s s o q u e a i m a g e m s u r g e c o m o condição d e p o s s i b i l i d a d e d e s a d a p o r L i p o v c t s k y {apud C o u t o , 2 0 0 1 ) d e f o r m a b a s t a n t e
c a p t u r a d o o u t r o . A mídia a s s u m e posição p r i m o r d i a l e , n o e s p o r t e , interessante, q u a n d o d i z q u e se e n c e r r o u a era m o r a l i s t a d o d e s p o r t o ,
i s s o f i c a m u i t o c l a r o : O d i s c u r s o narcísico d o espetáculo s e i d e n t i f i c a s o l i c i t a n t e d a competição, d o esforço, d a s o l i d a r i e d a d e e d a a b n e g a -
c o m o d o esporte de alto r e n d i m e n t o : ção. A c u l t u r a e s p o r t i v a . a t u a l a f a s t o u a i d e i a d e d e v e r m o r a l ,
• s o b r e s s a i n d o - s e a valorização i n d i v i d u a l d a c o r a g e m , j o v i a l i d a d e ,
E eu em uma das melhores que tinha na região, então toda emoções f o r t e s , r i s c o e a v e n t u r a . A s s i s t i m o s a u m a proliferação d e
a hora na TV, toda a hora no jornal. Todo mundo me co- e s p o r t e s r a d i c a i s , d e a u l a s d e ginástica a d a p t a d a s a g o l p e s d e b o x e
nhecia lá, eu passava i\a rua, todo mundo me olhando. o u d e a r t e s m a r c i a i s . H o j e e m d i a , não é m a i s a v i r t u d e - c o m o f o i
o b s e r v a d o n o s princípios d o O l i m p i s m o - q u e l e g i t i m a o e s p o r t e ,
m a s a b u s c a p e l o p r a z e r c o r p o r a l , p e l o d i n a m i s m o energético e p e l a
Volta e meia saía no jornal uma notinha do hipismo e uma
experiência d e s i próprio c o m o alguém c a p a z d e s u p l a n t a r t o d o s o s
notinha da natação em cima com o meu nome nas duas.
obstáculos p a r a a t i n g i r s e u s o b j e t i v o s .
Imagina, era super legal, né?

(...) foi o melhor ano que eu já nadei. Acabou sendo por-


A mídia o c u p a u m l u g a r a i n d a m a i s i m p o r t a n t e q u a n d o s e t r a t a
que eu acho que eu tava tão pra cima que nada me abalava.
d e e s p o r t e s " a m a d o r e s " c o m o a natação, p o i s e x p o r - s e s i g n i f i c a a
naquela época. Eu estava super bem comigo.
p o s s i b i l i d a d e d e n e g o c i a r v a n t a g e n s e m u m próximo c o n t r a t o d e
i m a g e m , v i s t o q u e o c l u b e b u s c a e s s a exposição p a r a a n g a r i a r m a i s /
A proliferação d a s a t i v i d a d e s e s p o r t i v a s l e v a também à criação
sócios e , c o n s e q u e n t e m e n t e , m a i s r e c e i t a f i n a n c e i r a :
de diversas especialidades que s u r g e m a partir dessa demanda, refe-
r e n d a d a p e l a mídia. Já não é m a i s p r e c i s o s e r a d e p t o d e u m a n o r m a
Porque na minha reportagem no ( n o m e d o j o r n a l ) , saíram
espoitiva, m a s manter o corpo acelerado c o m a versatilidade dees-
5 fotos. Cada uma com. um troço deste tamanho do ( n o m e
c o l h a s disponíveis. O s a t l e t a s , m a i s u m a v e z , s e r v e m c o m o m o d e l o
d o c l u b e ) estampado na camisa. Então pra eles o retorno
d e identificação, e x p l o r a d o s p e l a mídia e p e l a mercadorização d o
de imagem foi um absurdo, né? E eu fui em todos os pro-
e s p o r t e p o r intermédio d o o f e r e c i m e n t o d e s e u s serviços. O s c o n t r a -
gramas de esporte que existem no Rio Grande do Sul.
tos d e i m a g e m f i r m a d o s c o m os clubes v i s a m j u s t a m e n t e p r o m o v e r
o s serviços o f e r e c i d o s a o s d e m a i s c o n s u m i d o r e s .
C o s t a ( 2 0 0 1 ) c o n t r i b u i e m p e n s a r questões d o c o r p o e d a c u l t u -
r a a o m e n c i o n a r a emergência n a a t u a l i d a d e d o q u e e l e c h a m a d e
T r a n s f o r m a d o e m espetáculo p e l o s m e i o s d e comunicação,
" b i o i d e n t i d a d e s " . S o b e s s a p e r s p e c t i v a o s indivíduos h i p e r i n v e s t e m
o e s p o r t e , e n q u a n t o s i g n o d a s o c i e d a d e contemporânea, r e -
n o c o r p o , d e s i n v e s t i n d o n a a l m a . A construção d e n o v o s v a l o r e s s o c i -
m e t e a i m a g e m de v i v e r b e m , estar bera consigo, ser v i t o r i -
ais v o l t a d o s para o c u i d a d o d o c o r p o , a t e n t a t i v a d e e x c e l e n c i a r u m a
o s o , t r a n s m i t i d o c o m o i d e a i s a s e r e m a t i n g i d o s p e l a média
c o n d u t a saudável m u d a m o c e n t r o d a i d e n t i d a d e p a r a a c o r p o r a l i d a d e .
d a população.[...] o e s p o r t e , v i s t o c o m o m a i s u m p r o d u t o
C o m i s s o , n o v a m e n t e é e s t a b e l e c i d a u m a estetização d a existência e
de c o n s u m o , precisa criar protagonistas para v e n d e r e m es-
e u s o u o q u e a p a r e n t o ser.
petáculo e s p e r a d o e d e s e j a d o ( R u b i o , 2 0 0 1 , p . l 0 3 ) .

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Mórcia Pilia do Valle/Neuzo Morio de Fáfimo Guareschi O Esporte de Allo Rendimento; Produção de Identidades e Subjetividades no Conlemporôneo

E s s a s questões s e c o n j u g a m c o m o q u e L a s c h ( 1 9 8 3 ) p e n s a a n o d i s c u r s o d a q u e l e s e n v o l v i d o s n a c u l t u r a e s p o i t i v a . A perforinanc^
l e s p e i t o d o s u j e i t o contemporâneo, já q u e a c r e d i t a q u e a s p e s s o a s atlética a s s o c i a - s e à espetacularização e t o d o s o s l i m i t e s são u l t r a -
b u s c a m o s e n t i m e n t o d e b e m - e s t a r p e s s o a l , saúde c segurança psí- passados na busca por u m d e s e m p e n h o excelente. N a era da quaiidade
q u i c a s . N e s . s e s e n t i d o , o c l i m a a t u a l não é r e l i g i o s o c o m o e m o u t r a s t o t a l e n a b u s c a p e l a perfeição, o d i s c u r s o d o e s p o r t e d e a l t o r e n d i -
épocas - não s e b u s c a m a i s a salvação p e s s o a l n e m a tran.scendência m e n t o se c o a d u n a p e r f e i t a m e n t e c o m esses ideais.
e s p i r i t u a l - m a s terapêutico, n a b u s c a p e l a " p a z d e espírito". P r o l i f e - O discurso d a atualidade privilegiao autoprogresso e a vontade
r a m - s e a s técnicas d e p r e e n c h i m e n t o d a s n e c e s s i d a d e s e r n o c i o n a i s e de vencer. N o entanto, s e g u n d o ' L a s c h ( 1 9 8 3 ) , o sucesso foi esvazia-
d e a u t o - a j u d a , t o r n a n d o a saúde m e n t a l sinónimo d e destituição d a s d o d e q u a l q u e r s e n t i d o além d o s e u próprio.
inibições e i m e d i a t a gratificação d e i m p u l s o s .
A c u l t u r a b a s e a d a n a estetização d a existência e n a b u s c a p e l o Eu não aceito muito bem., quando eu acho que eu tenho
bem-estar privilegia o corpo c o m o o lugar da identidade d o sujeito. condições de ganhar e não ganho... Eu tenho meus 15 mi-
O músculo p a s s a a s e r u m d o s m o d o s p r i v i l e g i a d o s d e v i s i b i l i d a d e nutos de raiva que ninguém pode falar comigo.
d e s s e b e m - e s t a r , v a l o r i z a n d o a s técnicas d e g e r e n c i a m e n t o e p e d a -
g o g i a s d o c o r p o . S e g u n d o L i p o v e t s k y ( 1 9 9 4 ) , a questão d o e s p o r t e A auto-aprovação d o s u j e i t o v a i d e p e n d e r d o r e c o n h e c i m e n t o
já não é m a i s d e bonificação m o r a l o u d e transcendência v i r t u o s a . O s e aclamação públicos e é p o r e s s a dependência d o o l h a r d o o u t r o q u e
s u j e i t o s e x e r c i t a m - s e p o r s i m e s m o s , p a r a s e d i v e r t i r e m , p a r a s e su-^ se a p r o x i m a m as questões narcísicas d e n o s s a s o c i e d a d e . M a i s d o
p l a n t a r e m a s i próprios, até m e s m o n o r i s c o d e l e s i o n a r e m - s e q u e e s t i m a d o s , o s indivíduos q u e r e m s e r a d m i r a d o s . M a i s q u e r e s -
f i s i c a m e n t e . " O princípio d e ' p e r f o r m a n c e ' a l i a a c o m p e t i ç ã o p e i t a d o s , q u e r e m , s e r i n v e j a d o s . O s u c e s s o f i c a a s s o c i a d o às
i n t e r p e s s o a l à competição c o n s i g o próprio, c a d a indivíduo c o m p a r a - características d a j u v e n t u d e , d o fascínio, d a n o v i d a d e e d o s u c e s s o
se c o m o o u t r o p a r a a f i r m a r o e g o a u t o c o n s t r u t o r t r i u n f a n t e d e s i n e c e s s i t a n d o s e r r a t i f i c a d o p e l a mídia. A glória é m a i s f u g a z d o q u e
m e s m o " (Lipovetsky, 1994, p.l30). n u n c a e a q u e l e s q u e c o n s e g u e m a atenção d o público t e m e m i n s i s -
t e n t e m e n t e perdê-la. P a r a o s a t l e t a s , a glória t e m d e s e r a p r o v e i t a d a
Como eu nadava em uma equipe pequena, eu era a estrela a o máximo, p o i s o s r e s u l t a d o s são m u i t o m a i s f u g a z e s , e l e s não c o n -
principal da equipe, e quando eu vim para cá, uma equipe s e g u e m t r a n s m i t i r a dimensão d o esforço q u e f i z e r a m p a r a c h e g a r
grande que eu era o soldado do batalhão, sabe? Mais uma até e s s e r e s u l t a d o .
no meio de muitos que eram bem melhores que eu, e tive
que administrar legal isso, sabe? E eu pensei muito ames
de vir, como eu ia aceitar isso, sabe? Por que como eu já
estava bastante tempo lá, sempre era tudo em volta de mim, Do corpo à perfeição
era só eu que ia para o Brasileiro, então eu era sempre O corpo é o q u e é n a cultura, e é entendido c o m o resultado
uma estrelinha. provisório d e d i v e r s a s p e d a g o g i a s q u e o c o n f o r m a m e m u m a d e t e r -
m i n a d a época e l u g a r . E n o c o r p o q u e s e i n s c r e v e m o s m a r c a d o r e s
B a s e a d o s n o q u e f o i d i s c u t i d o até então, p o d e m o s e n t e n d e r p o r identitários, e n t e n d i d o s c o m o símbolos c u l t u r a i s q u e f u n c i o n a m p a r a
q u e o s i d e a i s d e auto-superação e transcendência estão tão p r e s e n t e s diferenciar, classificar, d i s c r i m i n a r e ordenar. É nele que se t o r n a m

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Márcia Pilb do Vaile/ií^euzo Maria de Fátima Guaresclii O Esporte de Alto Rendimento: Produção de Identidades e Subjetividade no Contemporâneo

m a n i i e s r a s a s m a r c a s q u e n o s p o s i c i o n a m : s e r ( o u não s e r ) a l t o , n e - Eu não me sinto nada l?em se eu não tiver /: • eparado para


g r o , m a g r o , l o i r o , e t c ; t e r ( o u não t e r ) t a l o u q u a l s e x o , i d a d e , língua, a natação, chegar a fcdtar um treino me j z muito mal.
e t c ; p a r t i l h a r ( o u não) d e t a l o u q u a l c o s t u m e , tradição, território. sabe, ou treinar mal por causa que eu tô cai ado, não me
E s s a s m a r c a s são o l u g a r identitário d o s u j e i t o e , nes.se s e n t i d o , o faz nada bem.
corpo é marcado e distinguido m u i t o mais pela c u l t u r a d o q u e por
s u a presumível essência n a t u r a l ( F r a g a , 2 0 0 0 , 2 0 0 1 ; V e i g a - N e t o , A s relações d e p o d e i ' são s u t i s e invisíveis, p o i s p t - m e i a m u m a
2 0 0 0 ) . A o p e n s a r n o s m a r c a d o r e s identitários d o c o r p o , r e m e t e m o - série d e p e q u e n a s técnicas, e m u m a r e d e d e instituições s o c i a i s t a i s
n o s à s u a i n d i s s o c i a b i l i d a d e c o m a s questões d e i d e n t i d a d e d o c o m o a e s c o l a , a i g r e j a , o e s p o r t e . M a s p a r a q u e essa:; relações s e
sujeito. e f e t i v e m , é necessário q u e o s u j e i t o o b e d i e n t e s i n t a beiíefícios, p r a -
A s questões r e l a t i v a s a o a t l e t a , então, serão a q u i l o q u e s e d i z e z e r n a q u i l o q u e a princípio não l h e a g r a d a , m a s q u e p r o g r e s s i v a m e n t e
se r e p r e s e n t a c o m o o a t l e t a , a q u i l o q u e d e a l g u m a f o r m a n o s c a p t u r a vai percebendo q u e as recompensas se t o r n a m m a i s freqiientes q u e
e a p r i s i o n a , l"azendo c o m q u e c o n s i d e r e m o s essas m a r c a s c o m o r e - as p e n a s .
p r e s e n t a n t e s d o a t l e t a , c o m o a representação n a t u r a l i z a d a d e s s e
indivíduo. É i n t e r e s s a n t e p e n s a r q u e , a o i n s t a u r a r m a r c a s n o s c o r p o s De 93 a 96 foi a arrancada, eu treinava todos os dias. Foi
d o s s u j e i t o s , e s t a s m a r c a s vão p r o d u z i n d o v i s i b i l i d a d e s . O p o d e r d e bem. legal, eu gostava muito daquela época porque eu acho
penetração d e u m d i s c u r s o n a v i d a d a s p e s s o a s está i n t i m a m e n t e l i - que eu tinha obrigação mas era minha obrigação... Eu me
gado à possibilidade d e esse discurso ser t o m a d o c o m o " n a t u r a l " , obrigava, entendeu? Não, era eu que me obrigava, eu me
inquestionável. D e s s e m o d o , f i c a m imperceptíveis o s e f e i t o s q u e p r o - incentivava, eu me cobrava... E como eu não tinha mais
v o c a nos sujeitos por ele capturados. E quando f a l a m o s e m pedagogias nada, só o colégio, e o colégio sempre me deu muito apoio:
do coipo, é indissociada a ideia de poder regulador. se eu faltava aula não tinha problema, os professores sem-
F r a g a ( 2 0 0 0 , p . 9 9 ) , a o d i s c u t i r as diversas pedagogias q u e c o n - pre me incentivaram, meus pais sempre me incentivaram
f o r m a m o corpo, nos diz que o corpo ... Então para mim aquela época foi muito boa. Na minha
cidade eu era a melhor, para mim era muito gratificante.
adquire diferentes sentidos n o m o m e n t o e m q u e é investi-
do por u m poder regulador que o ajusta e m seus m e n o r e s N o s a t l e t a s o q u e d e início e r a t i d o c o m o e x t e n u a n t e o u até
d e t a l h e s , i m p o n d o limitações, autorizações e obrigações m e s m o restritivo passa a ser naturalizado n o discurso d o alto rendi-
p a r a além d e s u a condição fisiológica. U m p o d e r q u e não m e n t o e a s e r r e p r o d u z i d o c o m o r g u l h o , g e r a n d o gratificações d e
e m a n a d e n e n h u m a instituição ouindivíduo e m u i t o m e n o s várias o r d e n s - n o próprio c o r p o , n a questão f i n a n c e i r a , n o r e c o n h e -
se e s t a b e l e c e p e l o u s o d a força, m a s , s i m , p e l a s u t i l e z a d e c i m e n t o s o c i a l . P o r t a n t o o q u e n o início e r a u m a obrigação, c o m o
s u a presença n a s práticas c o r p o r a i s d a v i d a c o t i d i a n a . n o s f a l a o a t l e t a a c i m a , começa a s e r p e r c e b i d o c o m o a l g o p r a z e r o s o
e g r a t i f i c a n t e . A s p e s s o a s s i g n i f i c a t i v a s n a v i d a d e s s a s crianças e
N a v o z d o s a t l e t a s , p e r c e b e m o s o q u a n t o e s s e p o d e r está i m - a d o l e s c e n t e s - p a i s , p r o f e s s o r e s , g r u p o - reforçam o d i s c u r s o q u e
b r i c a d o c o m s u a c o n d u t a , t o r n a n d o - o s sujeitos obedientes a esses a.ssocia o e s p o r t e à saúde, i n c e n t i v a n d o s u a prática,. O r i g o r d o s t r e i -
discursos: n a m e n t o s p a s s a a s e r p e r c e b i d o c o m o u m obstáculo necessário a s e r

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Márcia Pi! a Valle/Neuza Maria de Fátima Guareschi O Esporte de Alto Rendimento: Produção de Identidodes e Subjetividodes no Contemporâneo

u l t r a p a s s a d o a cad;i (.ia, g l o r i f i c a n d o a c o n q u i s t a d e m a i s u m a e t a p a também né?... tu api-ende a te relacionar com as pessoas


a t i n g i d a . O c o r p o l o a à mercê d e várias técnicas. São i n s t a u r a d a s diferente. Porque eu era. tri 'nerd' assim no colégio, sabe,
d i v e r s a s p e d a g o g i . s q u e p a s s a m a p r o d u z i r e s s e c o r p o atlético. tri isolado do pessoal, sabe... Acho que por timidez eu fica-
O conceito de Foucault sobre o estabelecimento de tecnologias va num canto sempre, tipo isolado, mai-s na mudxa, sabe?
do e u é f u n d a m e n i ; i neste c o n t e x t o para e n t e n d e r m o s c o r n o o espor- Ajudou um monte este lado. T u acha que tu ficasse mais
t e i n t e r p e l a o s a t l e t a s . O c o n c e i t o d e s s e a u t o r {apud L a r r o s a , 1 9 9 5 , sociável assim? É, exatamente. Ajudou por causa da tur-
p . 5 6 ) é e n t e n d i d o c o m o a q u e l a s práticas q u e ma sejnpre, né? Antes da natação, no colégio, eu dificil-
mente formava turma, coisa assim.
p e r m i t e i T i a o s indivíduos e f e t u a r p o r c o n t a própria o u c o m
a a j u d a d e o u t r o s , c e r t o número d e operações s o b r e s e u N o c a s o d a natação e x i s t e i n c l u s i v e u m a série d e práticas c o m o
corpo e sua a l m a , pensamento, conduta, o uqualquer f o r m a a depilação d e p a r t e s o u m e s m o c o m p l e t a d o c o r p o p a r a a s c o m p e t i -
d e s e r , o b t e n d o a s s i m u m a transformação d e s i m e s m o c o m ções e q u e a c a b a m p o r m a r c a r l i t e r a l m e n t e a s diferenças n o c o r p o
o f i m d e alcançar c e r t o e s t a d o d e f e l i c i d a d e , p u r e z a , s a b e - destes atletas.
dória o u . i m o r t a l i d a d e . O próprio c o r p o p a s s a a s e r v i s t o e m s u a f o r m a e s u a c o m p o s i -
ção e m b u s c a d o m a i o r r e n d i m e n t o . Há u m a o r d e m biotecnológica
D e s s e m o d o , ' ' b d i s c u r s o d o s a t l e t a s q u e estão i n s e r i d o s n o c o n - q u e s e c o n j u g a c o m a organização d o t r e i n a m e n t o : e x a m e s d e l a c t a t o ,
t e x t o e s p o r t i v o t r a d u z a s transformações q u e vão s e n d o e f e t u a d a s a o d e c a p a c i d a d e cardioirespiratória, e s t a b e l e c i m e n t p d o p e r c e n t u a l d e
l o n g o d o p r o c e s s o d e competição: ' g o r d u r a , e t c . vão s u b m e t e n d o o c o r p o a u m c o n t r o l e d e q u a l i d a d e
q u e a c a b a p o r t r a n s f o r m a r a própria experiência c o n c r e t a d o c o r p o .

Se eu começasse tudo de i%ovo euforia de novo, sabe? Eu


não me arrependo de nada e poiíto. Uma coisa do esporte Porque é dolorido, prova de piscina dói, rasga tudo, né?
que é ruim isso é a parte social que tu perde uni pouco, tipo dá um cansaço e tal,, então às vezes dá assim "bah, será
a alimentação, assim tudo regradinho, bonitinho...tem co- que eu vou mesmo, sabe ?" e acabo indo. O cara fica
midas que deve evitar, tem outras que deve comer e tcd. meio assim tião querendo enfrentar o problema, né? Tá
na água tem que te doar mesmo, aí etitão tu pode. Quan-
A transformação d e s i v a i s e d a n d o p r o g r e s s i v a m e n t e n o c o n - do eu caio na água, tipo assim, tu. nada trezentos metros e
t e x t o e s p o r t i v o e a s técnicas d o t r e i n a m e n t o , o s próprios r e s u l t a d o s começa quinhentas coisas na cabeça "será que é isso aqui
alcançados vão s e n d o t o m a d o s c o m o v e r d a d e s p e l o s u j e i t o e q u e l h e mesmo?" meio que fraqueja assim, sabe, daí no final eu
p o s s i b i l i t a m manter-se nesse sistema. consigo reagir.

O que que tii acha que a natação mudou na tua vida? Ah, C o u t o ( 2 0 0 1 ) , a o trabalhar c o m Ideias d e L i p o v e t s k y , B a u d r i l l a r d
tudo. Relacionamento, o físico... o físico totalmente, né? e M a f f e s o l i , f a z contribuições i m p o r t a n t e s às questões q u e r e l a c i o -
Eu tinha problema um pouco de coluna, já era meio torto e n a m o espolie, a cultura d o corpo e o narcisismo de nossa sociedade.
magro, sabe, assim totalmente diferente. No relacionamento D i z q u e a ética d a f e l i c i d a d e contemporânea é p a u t a d a n a aparência

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Márcia Pillei éo Víille/Neuia Maria de Pátima ôuareschl O Esporte de Alto Rendimento: Produção de Identidades e Subjetividades no Contemporâneo

atlética e saudável, n a j u v e n t u d e e elegância. A s n o r m a s d o b e m - c o m e t i d o s nessas carreiras (uso de drogas, sobrecarga de treina-


e s t a r são t r a d u z i d a s n a s d o m e l h o r p a r e c e r . " O i m p e r a t i v o narcísico m e n t o ) são m o t i v a d o s p o r e s s a n e c e s s i d a d e d e excelência. A
d a a t u a l i d a d e g l o r i f i c a a c u l t u r a h i g i e n i s t a , dietética e d e s p o r t i v a " preocupação c o m o f u t u r o não e x i s t e , p o i s e s t e só será i n t e r e s s a n t e
(Couto, 2 0 0 1 , p. 42). se o s u j e i t o c o n s e g u i r d e i x a r a l g u m a m a r c a dé herói p a r a a p o s t e r i -
A t u a l m e n t e o sujeito é v i s t o n o seu presente e n a busca p e l o seu dade. V i v e - s e para o m o m e n t o e à luz dos h o l o f o t e s . O sujeito passa
b e m - e s t a r , , d e s t i t u i n d o q u a l q u e r p l a n o d e f u t u r o . A ética c o n t e m p o - a buscar o c o n t r o l e sobre si m e s m o e é n o c o r p o q u e esse processo
rânea d a f e l i c i d a d e ( c o n c e i t o d i s c u t i d o p o r L i p o v e t s k y ) não é m a i s tem maior visibilidade.
só c o n s u m i s t a , m a s c o n s t r u t i v i s t a n o s e n t i d o d e o t i m i z a r n o s s o s p o - P o r v e z e s , p r e s e n c i a m o s situações m a i s d e l i c a d a s c o m o lesões,
t e n c i a i s , d e não n o s r e s i g n a r m o s m a i s a o c o r p o q u e t e m o s , m a s p r o b l e m a s d e saúde, e m q u e a preocupação e m não d e i x a r d e r e n d e r
construí-lo e m a n t e r s u a j u v e n t u d e , n e g a n d o a ação d o t e m p o . A b u s - se sobrepõe à saúde d o próprio a t l e t a . O s u j e i t o s e s u b m e t e a s i t u a -
c a p e l o c o m p l e t o b e m - e s t a i " é característica p r e s e n t e n a c u l t u r a h e d o n i s t a ções d e risco, p o i s é m u i t o difícil l i d a r c o m a i m p o s s i b i l i d a d e d e não
e i n d i v i d u a l i s t a a t u a l . B a u d r i l l a r d p e n s a q u e a valorização d a saúde e se p e r c e b e r c o m p e t e n t e c o m o o e s p e r a d o p a r a u m a t l e t a d e a l t o ní-
d o equilíbrio orgânico é u m a simulação p a r a a b u s c a p e l a performance v e l . A questão d o t e m p o também é f u n d a m e n t a l p a r a e s s e s a t l e t a s ,
e m q u e o c o i p o , capturado pela publicidade, n e l a se r e a l i z a ( C o u t o , pois muitas vezes t r e i n a m m u i t o p o r u m resultado cuja chance de
2 0 0 1 ) . Desse m o d o , o discurso esportivo (e c o m p e t i t i v o ) retrata os alcançar s e r e d u z a u m a o u d u a s competições n o a n o . A s s i m , u m a
i d e a i s contemporâneos v i g e n t e s e m n o s s a s o c i e d a d e a t u a l . lesão o u p r o b l e m a d e saúde v e m a s e r u m obstáculo,na b u s c a d o
A dificuldade d e deparar-se c o m a passagem d o t e m p o , c o m o objetivo ao qual se d e d i c a r a m c o m afinco. E s s a e considerada u m a
e n v e l h e c i m e n t o e , c o n s e q u e n t e m e n t e , c o m o declínio d a performance d a s t a n t a s pressões q u e e s s e s a t l e t a s s o f r e m a o l o n g o d e s u a trajetó-
é u m a constante nos atletas. ria c o m p e t i t i v a :

É a perspectiva de melhora qtie me faz cotttinuar a nadar, E eti tinha operado o joelho, eu tinha um tempo de recupe-
no momento que eu achar que eu não tenho mais pra onde ração que é difícil. Porque é complicado tu vir para o trei-
melhorar, eu vou parar com. certeza. [...] Eu não sei se eu no e não conseguir treinar. É complicado saber que eu não
vou conseguir administrar a decadência. podia fazer aquilo tudo, mas aí fui levando.

Tu ainda tens nns bons anos pela frente, né? Tem duas Deparar-se c o m a impossibilidade de render o esperado é c o m -
olimpíadas no auge, né? Mas o pessoal ainda vai. Uma p l i c a d o , p o r q u e é d e p a r a r - s e c o m a s s u a s limitações. E n t e n d e r q u e
vez era 23, 24 anos, agora tem 30. Tipo o Gustavo Borges, não é possível s e m p r e c o r r e s p o n d e r a o e s p e r a d o d e s s e s e s p o r t i s t a s ,
a melhor fase da vida dele ê agora eu acho, tá nadando q u a l s e j a , a b u s c a i n c e s s a n t e p e l a superação e o r o m p i m e n t o d e t o d o s
super bem nas competições internacionais. os l i m i t e s é confrontar-se c o m u m a ferida e m s e u n a r c i s i s m o . A re-
cuperação d e u m a lesão, p o r . e x e m p l o , é u m d o s períodos m a i s difíceis
O m e d o d a p a s s a g e m d o t e m p o e d e não c o n s e g u i r alcançar d e t o l e r a r , p o i s é d e p a r a r - s e c o n s t a n t e m e n t e c o m s u a impotênciay
seus o b j e t i v o s d e r e n d i m e n t o f a z c o m q u e se v i v a todas as p o s s i - ineficiência. É c o n f r o n t a r - s e c o n c r e t a m e n t e c o m a s u a f a l i b i l i d a d e .
bilidades n o presente e penso q u e os excessos muitas vezes Se o discurso d o esporte de alto rendimento é justamente vencer e

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Márcia Pilia do Valíe/Neuia Maria de Fátima Guareschi O Esporte de Alto Rendimento: Produção de Identidades e Subjetividades no Contemporâneo

sLiperai-se constantemente, qtialquerevento que mostre o oposto pode alguém c a p a z d e s u p o r t a r a s a d v e r s i d a d e s e s u p e r a r t o d o s o s obstá-


ser sentido c o m o u m a derrota: culos é u m dosefeitos q u eo discurso da cultura esportiva provoca,
t o r n a n d o - a a representação n a t u r a l i z a d a d e a t l e t a d e a l t o r e n d i m e n t o .
Então aí eu fiquei parado um tempão, sabe, quando eu tive
infecção aí eu deveria ter, precisava descansar, ter ficado O s e f e i t o s n o s m o d o s d e subjetivação e n a s
mais tempo parado, sabe? Só que aquele negócio de ter
identidades
que voltar para competir, eu voltei assim, não tava tão le-
gal, aí voltou mais forte ainda. Eittão se eu fosse pensar na A i d e n t i d a d e d e s s e s a t l e t a s d e natação d e d i c a d o s a o a l t o r e n d i -
minha saúde mesmo, eu teria que ficar mais tempo parado, m e n t o é a s s o c i a d a a o caráter d e saudável, b e l o e v e n c e d o r . E s s a s
para recuperar bem, ficar bem legal, para depois voltar. características f a z e m e c o a o s d i s c u r s o s médico, técnico-científico e
midiático contemporâneos, a j u d a n d o o s u j e i t o a s e n t i r - s e r e a l i z a d o
O d i s c u r s o d o e s p o r t e p a s s a a s e r r e p r o d u z i d o c o m devoção. por m e i o d e seus feitos. O discurso d a sociedade atual preconiza ati-
I m p e r a o desejo de vencer e c o m p e t i r a qualquer custo, m e s m o que a t u d e s c o m o a determinação, o esforço contínuo, a b u s c a d e l i m i t e s
d e s p e i t o d a saúde. I s s o p a r e c e i n c l u s i v e reforçar o caráter d e heróico q u e se c o a d u n a m p e r f e i t a m e n t e c o m o s ideais d o esporte, p e r m i t i n d o
n e s s e s a t l e t a s , p o i s r e s i s t e m a t u d o , até m e s m o à d o r e m f a v o r d a q u e e s s e s j o v e n s s i n t a m , p o r s u a prática, q u e estão p r e p a r a n d o - s e
competição: p a r a s u a v i d a f u t u r a e p a r a o m e r c a d o d e t r a b a l h o . O s g a n h o s narcísicos
f i c a m e v i d e n t e s não só p e l a produção e transformação d o c o r p o c o m o
As três últimas que eu nadei eu tava mal. Em (nome da n a gratificação p e r c e b i d a p e l o o l h a r d o o u t r o , q u e a q u i p o d e s e r e n -
cidade 1) uma vez eu nadei com febre lá, tava chovendo, t e n d i d o c o m o o o l h a r d a mídia, d o s a m i g o s , d a m e d i c i n a , d a família.
eu não tava me seritindo bem., eu tô mal, não vou nadar. Aí A s s i m , reforçar a s diferenças e m F a v o r d o e s p o r t e é reforçar o s
em (nome da cidade 2) eu tava me recuperando da gripe s i g n i f i c a d o s d e s u c e s s o , peiformance e x c e l e n t e e v e n c e d o r a q u e a
lá. Aí nadei mais ou menos. Aí tive urna recaída. Fui para i d e n t i d a d e d e atleta traz associada. M u i t a s vezes, esses sentidos aju-
(nome da cidade 3) ainda, aí tinha o Sul Brasileiro, eu fui d a m crianças e j o v e n s a s u p e r a r d i f i c u l d a d e s p e s s o a i s c o m o t i m i d e z ,
às onze da noite para (nom.e da cidade 3), cheguei tarde da dificuldade de inserir-se e m grupos, entre outras.
noite lá, aí quando eu voltei eu treinei mais três dias e vol- A s relações d e p o d e r q u e p e r m e i a m o s d i s c u r s o s d a c u l t u r a
tou pior a gripe. Aí fui no médico, mais antibiótico, uma e s p o r t i v a contemporânea só são p e r c e b i d o s p o r s e u s e f e i t o s , p o i s ,
semana parado, sem fazer nada, só ficar deitado na cama após s u a inserção n o e s p o r t e , o s s u j e i t o s vão s e n d o i n t e r p e l a d o s ,
descansando, porque senão vai virar pneumonia, porque constituindo-se e passando a responder desse lugar do esporte. Desse
tu- não deu o tempo certo, voltou antes e veio mais forte m o d o , já p o s i c i o n a d o s n e s s e s d i s c u r s o s d e e s p o r t i v i d a d e e
ainda, então é melhor olhar a tua saúde, primeiro esquece competitividade, muitas vezes os tomaiti c o m o verdades e passam
o esporte, esquece o Brasileiro tudo. a s u b j e t i v a r - s e a p a r t i r d e l e s . T e c n o l o g i a s d o e u são i n s t a u r a d a s e
operações s o b r e o c o r p o e s o b r e o s u j e i t o são p o s t a s e m prática n a
b u s c a p e l a realização, p e l o b e m - e s t a r , p e l o sucesso,, e performance.
O s m a r c a d o r e s identitários vão s e i n s c r e v e n d o não só n o c o r p o ,
O s atletas se r e a l i z a m por m e i o d e u m c o n t r o l e sobre si m e s m o s e a
m a s n o m o d o d e s e r d e s s e s s u j e i t o s . A representação d o a t l e t a c o m o

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M Ó K Í Í ! Pilia do Valie/Meuíca Macia de Fáíima Guareschi O Esporte de Alto Rendimento; Produção de Identidades e Subjetividades no Contemporâneo

v i s i b i l i d a d e m a i o r d e s s e p r o c e s s o é n o t a d a n o próprio c o r p o . S a - quantitativos, s e m considerarmos os efeitos n a subjetividade, c o m o


bendo que a identidade n acontemporaneidade é centrada fortemente pressupõe o p a r a d i g m a p o s i t i v i s t a d e ciência? E m função d e s s a s
n a c o r p o r a l i d a d e , p e r c e b e m o s q u e o s m a r c a d o r e s identitários i n s - problematizações, p a r e c e q u e é p r e m e n t e q u e s e d e s e n v o l v a m e s t u -
c r e v e m - s e p r i n c i p a l m e n t e n o c o r p o . A s s i m , a produção d o c o r p o d o s q u e i n v e s t i g u e m a s problemáticas d o s u j ' e i t o , u t i l i z a n d o o u t i - o s
atlético, p o r e x e m p l o , t r a z u m g a n h o narcísico p o r c o r r e s p o n d e r p a r a d i g m a s científicos q u e p o s s a m c o n t r i b u i r n a discussão d e s s a s
aos ideais, p r e c o n i z a d o s pela c u l t u r a . O c o r p o passa a s e r u m d o s questões.
modos privilegiados de visibilidade d o s discursos de bem-estar e
f e l i c i d a d e d e n o s s a ética contemporânea. Referências Bibliográficas
A prática e s p o r t i v a constituída c o m o u m a prática c u l t u r a l v a -
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l o r i z a o s u c e s s o e a otimização d a performance, g e r a l m e n t e r e l e g a n d o
2000.
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B E R N A R D E S , A . ; G U A R E S C H I , ' N . A C u l t u r a c o m o constituinte do sujeito
performance e x c e l e n t e t a l v e z s e j a m a i s e x a c e r b a d a e m m o d a l i d a d e s
e d o c o n h e c i m e n t o . I n : C A B E D A , S . ; S T R E Y , M . ; P R E H N . D . Novas
esportivas individuais e mque o desempenho depende exclusivamente Formas de Subjetivação na Cultura Contemporânea.. P o r t o A l e g r e ;
d o a t l e t a e não d e u m a e q u i p e o u t i m e , r e s u l t a n d o e m u m a m a i o r E D I P U C R S . (no prelo).
pressão p e l o r e s u l t a d o . O s u j e i t o s e s e n t e , m u i t a s v e z e s , destituído C O S T A , .1. F . P a l e s t r a p r o f e r i d a d u r a n t e a I I .Tornada d o Pós-Graduação e m
de virtudes, p o r q u e o q u e conta para o sucesso e para ser r e c o n h e c i d o P s i c o l o g i a - P U C R S , P o r t o A l e g r e , 14 s e t e m b r o d e 2 0 0 1 .
c o r n o u m b o m a t l e t a é a v i s i b i l i d a d e d a performcmce. E s s e é u m d o s C O U T O , E . G i l l e s L i p o v e t s k y ; estética c o r p o r a l e p r o t e c i o n i s m o técnico
efeitos q u e p r o d u z e m s o f r i m e n t o para esses j o v e n s . Esse s o f r i m e n t o , nas c u l t u r a s h i g i e n i s t a s e d e s p o r t i v a . I n : G R A N D O , J . C . ( O r g . ) A
a l g u m a s vezes, pode desencadear a d i f i c u l d a d e de m u i t o s atletas e m desconstrução do corpo. B l u m e n a u : E D I F U R B , 2 0 0 1
conseguir encerrar sua carreira esportiva de f o r m a tranquila, pois E P I P H A N I O , E . P s i c o l o g i a d o E s p o r t e : a p r o p r i a n d o a desapropriação.
e n f r e n t a r o declínio &à performance é, p a r a a l g u n s , intolerável. O u - Psicologia: Ciência e Proft.^são,C¥V, v . l 9 , n° 3 , p . 7 0 - 7 3 , 1 9 9 9 .
tras vezes, esse e f e i t o p o d e a i n d a desencadear u m s e n t i m e n t o d e v a z i o F R A G A , A . Anatomias Emergentes e o B u g Muscular. In: S O A R E S , C.
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capaz de suportar toda e qualquer adversidade, fica m u i t o c o m p l i c a - G U A R E S C H I , N . ; M E D E I R O S , P,; B R U S C H I , M . Psicologia Social e
d o e s o f r i d o l i d a r c o m u m a performcmce q u e não s e j a c o n s i d e r a d a E s t u d o s C u l t u r a i s : r o m p e n d o f r o n t e i r a s n a produção d o c o n h e c i m e n t o .
I n : G U A R E S C H I , N . & B R U S C H I , M . ( O r g s . ) P.úcologia Social nos
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saúde m e n t a l , p o i s ninguém c o n s e g u e m a n t e r - s e n o a u g e d o d e s e m -
penho portodo o tempo. H A L L , S . A C e n t r a l i d a d e d a C u l t u r a : notas~sobre as revoluções c u l t u r a i s d o
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m e n t e n e s t e capítulo, s e o s e n c a r a r m o s c o m o s e r e s mecânicos e

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Márcia Pilia do Valle/Neuza Maria de Fátima Guareschi

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Cruuiça.fragmentação e integração na prática pedagógica. Dissertação
( M e s t r a d o e r a P s i c o l o g i a S o c i a l e d a P e r s o n a l i d a d e ) Ponlifícia
Caria Di Pierro
U n i v e r s i d a d e Católica d o R S , 2 0 0 0 .
Psicóloga f o r m a d a p e l a P U C - S P . E s p e c i a l i s t a e m P s i c o l o g i a d o E s -
V E I G A - N E T O , A . A s idades do C o r p o . I n ; A Z E V E D O , K R U G & S I M O N porte pelo Instituto Sedes Sapientiae. F o i Coordenadora d o Projeto
( O r g s . ) Utopia e Democracia na Eduacação Cidadã. P o r t o A l e g r e : E d .
U n i v e r s i d a d e / U F R G S / S e c . M u n . Educação, 2 0 0 0 . E s p o r t e Solidário - R u n & F u n . Experiência a p l i c a d a a a t l e t a s d e t r i a t l o ,
atletismo e judo.
W O O D W A R D , K . I d e n t i d a d e e Diíerença: u m a introdução teórica e
c o n c e i t u a i . I n : S i l v a . Identidade e Diferença. Petrópolis: E d i t o r a V o z e s ,
2000. E-inaU: c a r l a d i p i e i T O @ h o t m a i i . c o m

Fábio Silvestre da Silva


Psicólogo. S u p e r v i s o r d e giTipo d o P r o j e t o E s p o r t e T a l e n t o d o I n s t i -
tuto A y r t o n Senna. Coordenador de projeto d o C E D E C A (Centro de
D e f e s a d o s D i r e i t o s d a Criança e d o A d o l e s c e n t e ) d e I n t e r l a g o s . E s -
pecialista e m Psicologia d o Espoite pelo Instituo Sedes Sapientiae.
E-mail: p s i l v e s t r e @ u o l . c o i T i . b r
Fabíola Matarazzo
Psicóloga. E s p e c i a l i s t a e m P s i c o l o g i a d o E s p o r t e . Pós-graduada e m
P s i c o l o g i a Analítica p e l a U n i v e r s i d a d e São F r a n c i s c o . Pós-graduada
e m Psicologia d o Esporte pelo Instituto Superior de M e d i c i n a
D e s p o r t i v a e m C u b a . E s p e c i a l i z a d a e m Cinésidiogia Psicológica e

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