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Pesquisa Teórica
em Psicologia
Aspectos Filosóficos e Metodológicos
O rganizadores
Caro Lina Laurent i
P s ic ó lo g a , d o u to r a e m F iio s o fia peLa U n iv e r s id a d e F e d e ra i d e S ã o C a rio s e p r o fe s s o r a d o D e p a r ta
m e n to d e P s ic o lo g ia d a U n iv e rs id a d e E s ta d u a l d e M a rin g á .
la u re n tic a ro l@ g m a Í!.c o n n
C a ro lin a L a u re n ti
C arlos E d u a rd o Lopes
S a u lo de F re ita s A ra u jo
(Orgs.)
Pesquisa Teórica
em Psicologia
Aspectos Filosóficos e Metodológicos
N UHFIP hogrefe
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões!
Sumário
In tro d u ç ã o .................................................................................................... 7
M e to d o lo g ia da p e s q u is a c o n c e itu a i em p s ic o lo g ia ................................. 41
F o n te s de c o n fu s ã o c o n c e itu a i na p s ic o lo g ia ........................................... 71
Introdução »
A necessidade da pesquisa
teórica em psicologia
M as se av an ço s m e to d o ló g ic o s em p e sq u isa s e m p íric a s n ã o g a ra n te m a
so lu ç ã o de p ro b le m a s c o n c eitu a is, o q u e fa z e r? A re s p o s ta p a re c e sim ples:
A d esp eito d a im p o rtân cia dos resu ltad o s d a p esq u isa teó rica p a ra a fo rm ação
e atu ação d o psicólogo, a á re a ain d a carece de pub licaçõ es q ue discutam a au
tonom ia epistêm ica desse tip o de p esq u isa, especialm ente n o que diz resp eito
ao Brasil. P artin d o d essa con statação , o objetivo d este livro é discutir filosófica
e m eto d ologicam ente a p esq u isa teó rica em psicologia, en ten d id a aq u i com o
a investigação de teo rias e conceitos psicológicos. Para tan to , reú n e seis capí
tulos que com pilam reflexões e experiências dos au to res n a execução e o rien
tação d e tra b alh o s de n a tu re z a teó rica, em nível tan to de g rad u a ç ã o q u a n to
de pós-graduação. N o p rim eiro capítulo, in titulado R e la ç õ e s e n tr e p e s q u is a
O s cap ítu lo s q u a tro e cinco, de a u to ria d e Saulo de F reitas A raú jo , ilu stram
com o a investigação h istó ric a p o d e e n riq u e c e r a p e sq u isa teó rica em psico
logia. O cap ítu lo A in te g ra ç ã o e n tr e a h is tó r ia d a p s ic o lo g ia e a filo s o fia d a p s i
c o lo g ia c o m o p r o g r a m a d e p e s q u is a te ó r ic a defen d e u m a p ersp ectiv a p ro m is
sora p a ra o fu tu ro d a p e sq u isa h istó rica em psicologia, a saber, a p ro p o sta
de u m a h istó ria filosófica d a psicologia. E ssa d efesa pauta-se n a a p reciação
d as d ificu ld ad es de in te g raç ã o e n tre h istó ria e filosofia d a ciência, d iscu tin d o
seus im p a c to s so b re a p e sq u isa h istó ric a em psicologia. N o cap ítu lo cinco,
in titu lad o A in v e s tig a ç ã o h is tó r ic a d e te o r ia s e c o n c e ito s p s ic o ló g ic o s: b re v e s
c o n s id e r a ç õ e s m e to d o ló g ic a s , são a p re s e n ta d a s algum as d ire triz e s m eto d o
lógicas p a ra a e la b o raç ã o e rea liz a ç ão de p ro je to s v o ltad o s à investigação
C a ro lin a L au ren ti
C arlos E d u a rd o L o p es
(O rgs.)
C arlos E d u a rd o L opes
A tu alm en te, as d iferenças e n tre p e sq u isa em p írica e p esq u isa te ó ric a são
ev id en tes. P esquisas em p íric a s lid am com d a d o s o b tid o s a p a rtir de investi
g açõ es do m u n d o (físico o u social) m ed ia d as p o r u m b a c k g r o u n d teó rico , do
qu al p a rtic ip a m c o m p ro m isso s filosóficos m ais ou m en o s explícitos e reg ra s
m an tid as p o r u m a co m u n id a d e científica. P esq u isas teó rica s investigam esse
b a c k g r o u n d te ó ric o q u e o rie n ta as p e sq u isas e m p íric a s1, q u e vai d esd e a rela
ção e n tre co n ceito s até sua d im en são h istó ric a . N esse sen tid o , p a re c e haver,
em p rin cíp io , u m a e stre ita relação e n tre investigações e m p íricas e teó ricas:
sem te o ria n ã o h á fato s, o u ain d a, d iferen tes teo rias fo rn ecem d iferen tes
fatos e, p o rta n to , o e sclarecim en to p ro m o v id o p o r p esq u isa s te ó ric a s p a re c e
ser c o n d itio s in e q u a n o n p a ra as p e sq u isa s em p íricas. D e o u tro lado, os
p ró p rio s d a d o s o b tid o s p o r p e sq u isa s em p íricas, s o b re tu d o q u a n d o p a re c e m
n ã o se a ju s ta r a o q u e é te o ric a m e n te p re v isto , lan ç a m d e sa fio s à p e s q u is a
te ó ric a . A p re s e n ta d a d e ssa fo rm a , a re la ç ã o e n tre p e s q u is a e m p íric a e
E ste cap ítu lo tem o objetivo d e d iscu tir as relaçõ es en tre p e sq u isa teó rica e
em p írica n a psicologia c o n te m p o râ n e a . P ara ta n to , essa q u e stã o será con-
tex tu a liz ad a n a rela çã o e n tre filosofia e ciência, e sta b elecid a d esd e a m o
d e rn id a d e . D esse m o d o , d escrev em o s, ain d a que b rev em en te, o p ro ce sso
de s e p a ra ç ã o e n tre filosofia e ciência n a m o d e rn id a d e , d e sta c a n d o que u m a
rela çã o h a rm o n io sa en tre as ativ id ad es te ó ric a e em p íric a foi p re se rv a d a
nas p ro p o sta s iniciais d a ciência m o d e rn a . P ro sseg u irem o s m o stra n d o que,
g raças a algum as m u d an ç a s o c o rrid a s na ciência e n a filosofia no século X X ,
essas d u a s ativ id ad es d istan ciaram -se, d a n d o origem a d u as fo rm as de p e s
q u isa d iferen tes e relativam ente a u tô n o m a s. Isso c rio u co n d içõ es p a ra q u e a
relação e n tre p esq u isa s e m p íricas e te ó ric a s d eix asse d e se r n e c essa ria m e n te
h a rm o n io sa . A rg u m en ta re m o s q u e u m dos reflexos d esse p ro ce sso n a psico
logia c o n te m p o râ n e a foi a fra g m en ta çã o d o c am p o psicológico, q u e p asso u a
se p o la riz a r e n tre os e x trem o s científico-objetivo v e rs u s filosófico-subjetivo.
E ssa p lu ra lid a d e d a psicologia co n d u z, p o r su a vez, a d iferen tes relaçõ es
e n tre psicologia, ciência e filosofia, e, co n seq u e n tem e n te , a m o d o s d istin to s
de c o n sid e ra r as relaçõ es e n tre p e sq u isas em p íricas e teó ricas. P a rtin d o d es
sas co m b in açõ es, discutirem os q u a n d o as relaçõ es en tre esses dois tip o s de
p e sq u isa são h a rm o n io sa s e q u a n d o são conflituosas.
2 A o b ra d e D escartes é em blem ática p a ra p erceb erm o s essa m istura. P ara esse autor, as discus
sões m etafísicas, que incluem , p or exem plo, as provas de existência de D eus no en fren tam ento do
ceticism o, são condição de possibilidade p ara a p ró p ria ciência (cf. D escartes, 1641/1973).
3 B urtt (1925) assinala que as principais características da metafísica d a ciência m oderna seriam : 1)
um a concepção de realidade com o partículas atôm icas (e eventualm ente subatôm icas) movendo-se de
acordo com leis gerais passíveis de serem descritas m atem aticam ente; 2) um a concepção de explica
ção em term o s de elem entos m ais sim ples relacionados tem poralm ente p o r meio de causas eficientes;
3) um a concepção sobre a m ente hum ana assentada no dualism o, na doutrina da distinção entre
qualidades prim árias e secundárias e no reconhecim ento do papel do cérebro. N o entanto, esse autor
adm ite que as m udanças na física e n a biologia contem porâneas estariam m udando essa metafísica.
eru d ita e m enos técnica do que a atual form ação científica. O p ró p rio N ew to n ti
n h a u m só lid o co n h e cim e n to de filosofia, e u m a d e c la ra d a a d m iraç ã o p o r fi
lósofos q u e o p re c e d e ra m 4. D esse m o d o , o co n te x to in stitu cio n al, e a fo rm a
ção d e c o rre n te d e sse co n tex to , inviabilizava u m a s e p a ra ç ã o c o m p leta en tre
as d im en sõ es filosófica e científica. C o n se q u e n te m en te , n esse p e río d o n ã o
fazia sen tid o p e n s a r em dois tip o s de p e sq u isa d iferen tes e a u tô n o m a s, u m a
teórico-filosófica e o u tra em pírico-científica. E m b o ra N e w to n te n h a se esfor
çad o p a ra s e p a ra r a antiga m etafísica d a nova física - ou h ip ó te se s de d ad o s
ex p erim en tais isso era feito p o r um a m esm a p e sso a e o rie n ta d o p o r com
p ro m isso s filosóficos m ais ou m en o s explícitos5; o re su lta d o foi u m a nova
fo rm a de relação en tre filosofia e ciência (Janiak, 2 0 0 8 ). N ã o h á , p o rta n to ,
dois “ N e w to n s” s e p a ra d o s e incom unicáveis, u m cientista e u m filósofo; há
u m N e w to n ap e n as, faz e n d o aquilo q u e d ep o is se co n v en cio n o u d e n o m in a r
com o física, o que, n a q u ele co n tex to , n ão estava de m o d o algum se p a ra d o
de q u e stõ e s filosóficas.
4 Uma das provas disso é q u e na carta em que N ew ton escreveu a fam osa frase: “ Se p u d e ver mais
longe é p o rq u e estava so b re o om bro d e gigantes” , ele considerou D escartes um desses gigantes
íían iak , 2008).
5 Leibniz foi possivelm ente o adversário mais em blem ático d a metafísica new toniana. Suas críticas
foram resp o n d id as, n a época, p o r S. C larke, o q u e pode ter contribu ído p a ra a ideia p o sterio r de
um a com pleta sep aração en tre ciência e filosofia: enq u an to N ew ton dedicava-se ao trabalho estrita
m ente científico, C larke voltava-se à filosofia. N o en tan to , com o apo nta Koyré (1957/1979}, Clarke
não era um m ero defensor d as posições filosóficas de N ew ton, ele provavelm ente foi incum bido
pelo p ró p rio N ew ton d e resp o n d er às críticas. Para tanto, N ew ton deve te r aco m p anh ad o to d a a
co rresp o n d ên cia en tre L eibniz e C larke, sugerindo pessoalm ente as respostas. Logo, a sep aração
deve-se m uito m ais ao fato de N ew ton não estar d isposto a enfren tar publicam ente o debate com
Leibniz do q u e à existência de u m a cisão entre atividade científica e filosófica.
6 R orty (1982) reco n h ece que “tais term os eram , m esm o nessa altura, desesperad am ente vagos",
m as m antém seu uso justificando q u e “ cada intelectual sabia aprox im ad am en te onde se situava em
relação aos dois m ovim entos” (p. xv).
7 D e m odo similar, W illiam James apresenta em suas conferências sobre pragm atism o (James,
1907/19 8 8) a filosofia d a ép oca em term o s d a p o larid ade en tre rad o n a lísta s e em piristas. Nesse
contexto, James considera o pragm atism o com o um a concepção in term ediária, que, ao m esm o
tem po em que reconhece a im p o rtância da ciência, continua defendendo o limite desse tipo de
conhecim ento e um a assim etria insuperável em relação à filosofia (haveria algo mais a fazer com a
filosofia do q ue m era epistem ologia científica).
8 O term o filo s o fia c o n tin e n ta l foi cu n h ad o p o r fiiósofos analíticos anglófonos p ara desig nar um
conjunto de filosofias originadas n a E uropa continental, principaim ente na A lem anha c na França.
As filosofias con tem p orân eas (do século XX) que se d estacam sob essa rub rica são a fenom enolo-
gia, o existencialism o, a teoria crítica e o pós-estruturalísm o (M ullarkey, 2009).
O c o n te x to in s titu c io n a l d a s u n iv e rs id a d e s a le m ã s e n tr e o fin a l d o s é
c u lo X IX e o in íc io d o s é c u lo X X ta m b é m p o d e a ju d a r a c o m p r e e n
d e r o c a so d e W u n d t (A ra ú jo , 2 0 1 3 b ; G u n d la c h , 2 0 1 2 ). O c re s c e n te
r e c o n h e c im e n to d a p s ic o lo g ia n a A le m a n h a , s o b r e tu d o d a p s ic o lo g ia
10 Seguindo as recom endações n ew to n ian as, filosoficam ente reform uladas p o r K ant (178 1/1 99 7),
W u n d t defende que a ciência, no caso a psicologia científica, deveria se exim ir de qu estões m eta
físicas a p r io r i (W undt, 18 9 5 /1 8 9 7 ). N o en tan to , o p ro jeto filosófico de W u ndt, no qual se insere
a psicologia, envolveria a constituição de u m a nova m etafísica (A raújo, 2010). N esse sentido, é
possível d izer q ue a psicologia de W u n d t ten ta m anter-se isenta e d istan te d a m etafísica (tal com o
a física de N ew ton tenta n ão se co m p rom eter com h ip ó teses não verificadas experim entalm ente),
m as sua filosofia não. A m etafísica w u nd tíana seria o últim o passo no pro jeto de reform a do co
nhecim ento h u m an o, que in teg raria, em u m to d o coerente, as diferentes desco b ertas em píricas das
ciências (A raújo, 2010).
11 O term o p sic ó lo g o em pregado nesse contexto é diferente de seu uso con tem p orân eo . Vale lem
b rar que até m eados do século XX n ão existia, n a A lem anha, psicologia com o disciplina indepen
dente, e, nesse sentido, tam b ém não existia, de m odo institucionalizado, o psicólogo profissional
(Ash, 1987; G un d lach, 2012). D essa form a, psicólogo, aqui, refere-se a professores com form ação
em filosofia, teologia, m edicina ou direito, que se dedicavam ao estud o de assuntos psicológicos.
U m a n a rra tiv a h istó rica b a sta n te d ifu n d id a em m an u ais d e h istó ria d a p si
cologia é q u e a in stitu cio n alização d a psicologia o c o rre u p rim e ira m e n te n a
A lem an h a, com a im p lem e n ta ç ã o do la b o ra tó rio de L eipzig (e.g., H other-
sall, 2 0 0 4 /2 0 0 6 ; S chultz & S chultz, 1 9 9 2 /1 9 9 6 ). S ubjaz a essa n a rra tiv a a
ideia de que a psicologia se co n stitu iu com o disciplina in d e p e n d e n te , com
alu n o s, p ro fesso res e u m c o rp o de c o n h ecim en to p ró p rio s q u a n d o se se
p a ro u d a filosofia e a d o to u m éto d o s científicos (p rin cip alm en te o m éto d o
e x p erim en tal) p a ra investigar os fen ô m en o s psicológicos. S chultz e Schultz
(1 9 9 2 /1 9 9 6 ), p o r exem plo, declaram :
Esse p ro ce sso de in stitu cio n alização o rie n ta d o exclu siv am en te p ela aplica
ção do co n h e cim e n to psicológico teve ao m en o s d u a s c o n seq u ê n c ia s visíveis
n a h istó ria d a psicologia. E m p rim e iro lugar, p ro p o sta s q u e se a fa stara m
dessa p re te n sã o em in e n te m en te ap licad a, m esm o q u a n d o e ra m re c o n h e c id a
m en te científicas, co m o as p sicologias de W u n d t, d e T itc h e n e r e de K õhler,
sim plesm ente foram ex tin tas e hoje, n a m elh o r d as h ip ó te se s, a p a re c e m a p e
nas co m o c u rio sid ad es em cu rso s de h istó ria d a psicologia. E m seg u n d o
lugar, esse tecn icism o d a p sico lo g ia m o d e rn a d e se n h o u u m a triste h istó ria
da in stitu cio n alização acad êm ica d e ssa disciplina, q u e p a ssa ta n to p e la fu n
d a m e n taç ã o ideológica d o n azism o na A lem an h a (G e u te r, 1987), q u a n to
pela ideologia do co n tro le social a p a rtir d o final d o século X IX nos E stad o s
U nidos (Abib, 1998; D an zin g er, 1 9 8 7 )'2.
12 Além disso, algum as vezes o tecnicism o na psicologia é levado às suas últim as consequências,
fazendo com que a funcionalidade do conhecim ento p rod u zid o seja con sid erad a mais im p ortan te
do que sua coerência. C o nsequentem ente, ainda que um a teoria seja filosoficam ente questionável
contenha contradições e careça d e clareza na definição de seus conceitos, se ela for capaz dc
resolver os problem as a que se p ro p õ e, ela deverá ser aceita. Esse “ pragm atism o g ro sseiro ” tem
expulsado até m esm o a epistem ologia do cam po psicológico, ao m esm o tem po em que propaga
equívocos e confusões conceituais.
13 A lgum as reco m en d açõ es atu ais d e restitu ir análises teó ricas na psicologia científica podem ser
entendidas com o tentativas de o rie n ta r essas análises p o r qu estõ es exclusivam ente epistem ológi-
cas, com o a coerência lógica dos enu n ciad o s, a teo ria d e v erdade e o u tro s assunto s relacio nad os
(cf. M achado & Silva, 200 7). M uitas vezes esse tipo d e reco m end ação está assen tad o em um a
teo ria mais ou m enos explícita, q u e defende q u e apenas essas questões fazem p arte do conheci
m ento científico.
L a to u r ( 1 9 9 8 /2 0 0 0 ) u sa u m a m e tá fo ra p a ra d e sc re v e r o fu n c io n a m e n to
d a ciên cia, q u e p o d e s e r e m p re g a d a aq u i p a ra e sc la re c e r o co n flito e n tre
p e s q u is a s e m p íric a s e te ó ric a s. D e a c o rd o co m e sse a u to r, a ciên cia av an ça
c ria n d o “c a ix a s -p re ta s ” , e n te n d id a s co m o c o n c eito s, id eias, p ro c e d im e n
to s, in stru m e n to s , q u e p a ssa m a ser ta c ita m e n te a c eito s p ela c o m u n id a d e
científica c o m o a -h istó rico s e, p o rta n to , in q u estio n á v e is. E ssas caix as-p re
ta s são p o n to s de p a rtid a p a ra o u tra s p e sq u isa s e, c o m o ta is, n ã o são (e
n ã o d ev em ser) m ais a s su n to de in v estig ação . A n o ç ã o de “ c a ix a -p re ta ” sin
tetiz a ju sta m e n te esta s c a ra c te rístic a s: p ra tic a m e n te n in g u ém sab e o que
h á ali d e n tro e, ao m esm o tem p o , elas são la c ra d a s p a ra e v ita r q u e sejam
a b e rta s p o r alg u ém . T udo se p a s s a c o m o se a p e sq u isa te ó ric a , q u a n d o n ã o
é in ó c u a , in sistisse em a b rir as c a ix as-p retas d a p e sq u isa e m p íric a , ou seja,
d isc u tir co n c eito s, co n te x tu alizá -lo s h isto ric a m e n te , s itu a r a te o ria em u m a
tra d iç ã o filosófica m ais am p la e assim p o r d ian te . Ao fazer isso, a p e sq u isa
te ó ric a m o stra q u e, m u ita s vezes, a c aix a-p reta é na v e rd a d e u m a caix a de
P a n d o ra (q u e g u a rd a algo q u e foi d e ü b e ra d a m e n te e sq u e c id o p e lo s p e s q u i
sa d o re s e m p íric o s em favor d o av an ço d a ciên cia). D esse m o d o , a p e sq u isa
te ó ric a o p e ra ria o b s tru in d o o c a m in h o d a p e s q u is a e m p íric a .
15 N esse artigo os au to res analisam a realid ade d a psicologia n o rte-am ericana, que evidentem ente
não c a m esm a do Brasil. Em nosso país, parece ain d a haver u m a m aior diversidade de produções
em psicologia. N o en tan to , se aco m p a nh arm os as políticas editoriais do s principais periódicos
brasileiros desco brirem o s que elas têm se aproxim ado do cen ário descrito p o r M achado. L o u ren
ço e Silva (2000). Por exem plo, a m aio ria dos perió dico s mais bem avaliados pelo G ua/is-Capes
restringem ou pelo m enos lim itam a publicação de trabalhos teóricos. D essa form a, os resultados
descritos p o r M achado, L ou ren ço e Silva (2000) talvez tam b ém possam ser en co ntrad os no Brasil
em breve.
p o d e ria ser a lcan çad a p o r pesq u isas teó ricas q u e to m assem essa teo ria com o
o b jeto de investigação, cria falsas lacunas que, p o r sua vez, culm in am na
a p re se n ta ç ã o de novas teo rias, q u e tam b é m se rã o m al co m p reen d id as. U m a
vez que esse ciclo n ã o é ro m p id o , as teo rias se m ultiplicam e in co m p ree n sõ e s
instituem -se, p a ssa n d o a s e r d issem in ad as n a p ró p ria psicologia. Isso aco n
tece ta n to n o âm b ito d a fo rm ação d e psicólogos p o r m eio de livros-texto im
p reciso s (e.g., T o d d & M o rris, 1983, so b re equívocos e n c o n trad o s acerca do
co m p o rtam e n ta lism o radical em livros-texto), q u a n to na p ro d u ç ã o de co n h e
cim ento em p esq u isas em p íricas, q u e sim plesm ente rep ro d u z e m d isto rçõ es
teó rica s (exem plos d essas d isto rçõ es p ro p ag a d a s p o r p esq u isas em p íricas são
e x a m in ad o s p o r M achado, L o u ren ço , & Silva, 2 0 0 0 , p p . 10-12).
6. Considerações finais
é preciso olhar p ara um a teoria psicológica com o algo que instrui a atividade
de p sicólogos, q u e o rie n ta esco lh as m eto d o ló g icas e técnicas. C om isso, é
p reciso m a n te r n o h o riz o n te a n ecessid ad e d e a te o ria ser em p iric a m e n te
su ste n tad a p o r p e sq u isa s e in te re ssa d a em a sp ecto s “re a is” , p alp áv eis, exe
quíveis, de m o d o q u e a p esq u isa teó rica , v o lta d a p a ra essa te o ria , n ã o p o ssa
se re su m ir a ela b o raç õ e s teó rica s vazias e inúteis. N esse sen tid o , é p reciso
re c o n h e c e r q ue m u ito do q ue vem se n d o p ro d u z id o sob a ru b ric a de p e s
q u isa te ó ric a talvez p o ssa ser a b a n d o n a d o sem q u a lq u e r p re ju íz o p a ra a
psicologia; co m o já haviam c o n sta ta d o M achado, L o u re n ço , P in h e iro e Silva
(2 0 0 4 ) em u m exam e d e p u b licaçõ es p o rtu g u e sa s: “as an álises q ue eram
su p o sta s serem co n ceitu ais são, em geral, um a rep o siç ão (eclética) de a r
g u m en to s e p o n to s de v ista de a u to re s diversos, co m o se da su a colo cação
em série no a rtig o em q u e stã o em erg isse, p o r g eração e sp o n tâ n e a , c lareza e
d istin ç ã o ” (p. 3 2 6 ).
Referências
B u r tt,E .A . (1 9 2 5 ). T h e m e ta p h y s ic a l fo u n d a ti o n s o f m o d e r n p h y s ic a l sc ie n c e :
a h isto r ic a l a n d c ritic a l e s sa y . L o n d o n : K egan Paul, T re n ch , T ru b n e r & Co.
L ato u r, B. (2 0 0 0 ). C iê n c ia e m a ç ã o : c o m o s e g u ir c ie n tis ta s e e n g e n h e ir o s s o
c ie d a d e a fo r a (I. C. B en ed etti, T ra d .). São Paulo: U n esp . (T ra b a lh o o rig in al
p u b licad o em 1998.)
Metodologia da pesquisa
conceituai em psicologia
C arlos E d u a rd o L opes
Q u a n d o a p e sq u isa é d e n a tu re z a co n c eitu a i, a q u e s tã o d o m é to d o g e ra l
m en te p e rd e d e s ta q u e , c o n d u z in d o à id eia de q u e esse tip o de p e sq u isa
s e ria re fra tá rio à d isc u ssã o de a sp e c to s m eto d o ló g ic o s. Isso , m u ita s vezes,
a c a b a re le g a n d o a p e s q u is a c o n c e itu a i a u m tip o de “ p e sq u isa m e n o r” e,
a lg u m a s v ezes, cria su sp e ita s q u a n to a o seu p ró p rio s ta tu s de p e s q u is a
(L a u re n ti, 2 0 1 2 ).
p rática , teo ria e práxis, ou teo ria e ação; as d iferen ças e se m elh an ças en tre
teo ria, p rin cíp io , lei e h ip ó te se ; a n a tu re z a e a e s tru tu ra d as te o ria s científi
cas; a relação e n tre te o ria e fatos; o e sta tu to cognitivo das teo rias, e assim
p o r d ian te (cf. F e rra te r M ora, 1 9 9 4 /2 0 0 1 , p p . 2 8 5 1 -2 8 5 2 ).
17 E m bora seja um a característica medieval, o princípio de au torid ade, p resente nesse m odo de
conceber a in terpre tação , d eco rre m ais d iretam en te d a m odern idad e. Isso p o rq u e, p arad oxalm en
te, ao m esm o tem po em que a m o d ern id ade criticou a au to ridade nas ciências naturais, continuou
aceitando-a c defendendo-a com o critério p a ra a validação de in terpretaçõ es de textos no âm bito
das ciências m orais (M artconda, 20 0 6).
p e rm itid a , pois o tex to estab elece lim ites in tran sp o n ív eis, a p a rtir dos quais
é possível id en tificar e rro s ou eq u ív o co s in te rp retativ o s (Eco, 1 9 9 2 /2 0 0 1 ).
Assim , o tex to exibe c e rta au to n o m ia em relação ao seu au to r, m as tam b é m
em rela çã o a o leitor, que n ã o está a u to riz a d o a “fo rçar u m a in te rp re ta ç ã o ” ,
ou seja, a a p re s e n ta r u m a in te rp re ta ç ã o sem o devido a m p a ro tex tu al, u m a
“ s u p e rin te rp re ta ç ã o ” (Eco, 1 9 9 2 /2 0 0 1 ). E m o u tra s p alav ras, o texto é a b e r
to a u m a p lu ra lid a d e de in te rp re ta ç õ e s, m as n ã o a q u a lq u e r in te rp re ta ç ã o .
A d e sp eito disso, a escolha das fontes sem p re será o rie n ta d a pelo p ro b lem a
de p esq u isa: que texto ou co n ju n to de tex to s p o d e ria m c o n te r as in fo rm a
ções n e c essá ria s p a ra se alcan çar o objetivo d a p esq u isa ? Em p rim e iro lugar,
é p reciso faz e r u m lev a n tam e n to da(s) o b ra(s) do(s) a u to r(es) do(s) tex to (s)
an alisad o (s). E ssa in fo rm a ç ã o p o d e ser e n c o n tra d a c o n su lta n d o artig o s es
pecíficos, índices d e o b ra s co m p letas, ed içõ es críticas e o u tra s fo n tes q u e
a p re se n ta m u m a lista d o s tra b a lh o s p u b lic a d o s d o a u to r 18. Vale re s s a lta r q u e
e v e n tu alm en te a lista de p u b licaçõ es de u m a u to r é a tu a liz a d a com tex to s
q u e tin h a m sido ig n o rad o s em u m p rim e iro m o m en to , p o rta n to , é im p o rta n
te levar isso em co n sid e raç ã o ao b u s c a r essa in fo rm ação .
18 Alguns exem plos dessas fontes são: a bibliografia com entada de W illiam Jam es (M cD erm ott,
1977); a G e s a m m e lte W e r k e de S. F reud (Freud, Bibring, H offer, Kris, & Isakow er, 1952); os ar
tigos de C a rra ra (1 992) e de Andery, M icheletto c S ério (2 0 0 4 ) sobre os trabalhos publicados de
B. F. Skinner.
O P r o c e d im e n to d e I n te r p r e ta ç ã o C o n c e itu a i d e T e x to (PIC T ) é u m a m a n e i
ra d e c o n s tru ir in te rp re ta ç õ e s e, p o r ta n to , p ro d u z ir m a te ria l p e rtin e n te ao
d esen v o lv im e n to d e p e s q u is a s de n a tu re z a c o n c eitu a i. D o m o d o c o m o se rá
a p re s e n ta d o , o PIC T e stá v o lta d o p a ra a an á lise d o u so d e u m c o n c e ito o u
d a re d e c o n c e itu a i de u m te x to p sico ló g ico , além de au x ilia r n a id en tifica
ç ã o de se u s c o m p ro m isso s e a fin id a d e s filosóficos. O p ro c e d im e n to n ã o
a b a rc a , p o r ta n to , a d im e n sã o h istó ric a d a an álise c o n c e itu a i, q u e p o d e se r
v islu m b ra d a a c re sc e n ta n d o -se alg u m as d ire triz e s d e s c rita s no c a p ítu lo A
in v e s tig a ç ã o h is tó r ic a d e te o r ia s e c o n c e ito s p s ic o ló g ic o s : b r e v e s c o n s id e r a
ç õ e s m e to d o ló g ic a s .
O P IC T é c o m p o s to p o r q u a tr o e ta p a s , se n d o c a d a u m a d e la s s u b d iv id id a
em p a s s o s . U m a d e s c riç ã o s u m á ria e e s q u e m á tic a d e s te p ro c e d im e n to
19 Q u a n d o for possível acessar u m livro em form ato eletrônico, a consulta ao índice rem issivo
pode ser sub stitu íd a p o r u m a b u sca d ireta pelos conceitos no co rp o do texto, em pregando recursos
com o "C T R L + F ” ou m ecanism os de b usca de aplicativos p ara leitura de e-bo ok s.
P rim eira e tap a: lev a n tam e n to dos p rin c ip ais co n ceito s d o texto
E sta e ta p a co n siste em listar os p rin cip ais co n ceito s c itad o s n o tex to e de
fini-los p au tan d o -se no p ró p rio texto. O p ro b le m a de p esq u isa é o q u e es
tab elece, em u m p rim e iro m o m en to , se u m co n ceito é “p rin c ip a l” o u “se
c u n d á rio ”. C o m o a e ta p a exige q u e os co n ceito s listad o s sejam definidos
pelo p ró p rio tex to - o que deve ser feito d e m o d o literal dim inuem -se as
ch an ces d e u m a “s u p e rin te rp re ta ç ã o ” , a o m esm o te m p o em q u e c u m p re o
c ritério d e ap o io tex tu al d a in te rp re ta ç ã o co n stru íd a .
2 0 Alguns exem plos dessas o b ras de re fe re n d a s pod em ser encontrados no capítulo A inv e stig a ç ã o
h istó ric a d e teo rias e c o n c e ito s p sic ológ ic os: brev es c o n sid e ra ç õ e s m e to d o ló g ic a s.
P asso 1: escreva as teses trad icio n ais (TT) citad as no tex to , id en tifican d o a
p a rtic ip a ç ã o de co n ceito s e d o u trin a s listad o s n a e ta p a an te rio r. E im p o rta n
te, n e ste p asso , d efin ir as teses trad icio n ais com base no tex to , a te n ta n d o
p a ra com o o a u to r as a p re se n ta ou define (co n sid ere o que foi d e scrito n a
e ta p a a n terio r);
P asso 2 : escreva as críticas (C) dirig id as às teses trad icio n ais (quais p ro b le
m as d e c o rre m da a d o ção das teses trad icio n ais?);
c a d a s n a e ta p a a n te rio r. O s e s q u e m a s a ju d a m a v is u a liz a r a e s tr u tu r a
a rg u m e n ta tiv a d o te x to , id e n tific a n d o re la ç õ e s e n tre c o n c e ito s, d o u trin a s
e te o ria s , b e m c o m o e v e n tu a is la c u n a s e e q u ív o c o s c o m e tid o s p e lo a u to r.
A id eia é q u e o e sq u e m a seja c a p a z d e s u b s titu ir o tex to o rig in a l, de m o d o
q u e su a v isu a liz a ç ã o seja su fic ie n te p a ra se fala r o u e sc re v e r so b re o tex to
sem v o lta r a ele.
P rim eira etap a: lev a n tam e n to do s p rin cip ais co n ceito s d o texto
S o b r e e x p lic a ç õ e s d a v id a m e n ta l
S o b r e a e x p lic a ç ã o d a v id a m e n ta l e o e s c o p o d a p sic o lo g ia
4. Considerações finais
Referências
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(T rabalho original publicado em 1968.)
21 P or tan tas razõ es, p o r seu d esp rezo aos deuses, p o r su as paixões, p o r seu am or à vida e ódio
à m orte, Sísifo foi co n den ad o pelos deuses ‘‘a e m p u rra r sem descanso um ro chedo até ao cum e
de um a m o n tan h a, de onde a p e d ra caia de novo em con seq u ên cia de seu p e so ” (C atnus, 1942, p.
161). C am us co m enta q u e os deuses “ tinham pen sad o , com algum a razão, q u e não h á castigo mais
terrível do que o trabalh o inútil e sem esp era n ça” {p. 161). C am us assinala ainda que a tarefa de
Sísifo (além de ser ab surd a) é trágica, a p a rtir d o m om ento em que ele se to rn a consciente de seu
destino. Sísifo é o “cego que deseja ver e que sabe que a noite não tem fim ’’ (p. 166). M as cabe
lem b rar q u e Sísifo “ está sem pre em m arc h a” (p. 166), hum ilhado, m as tam bém revoltado: Sísifo, o
m o rtal que d esp reza os deuses, p o d e a b an d o n ar sua tarefa ab su rd a e trágica.
1. Tradições e versões
#
2 .0 olho epistêmico
As d iferenças en tre essas d u a s trad içõ es filosóficas são tão significativas que
B lum enthal (1980) refere-se a d u a s c u ltu ras filosóficas e, co n seq u e n tem e n te ,
a u m cho q u e de cu ltu ras q ue rep e rc u te n a esfera psicológica d a n d o origem
a duas tra d içõ e s psicológicas distin tas. D an zig er (1 9 7 9 ) faz u m a an álise de
algum as rep e rc u ssõ e s sobre as psicologias de W u n d t e T itc h e n e r advindas
dessas d u a s tra d içõ e s filosóficas. U m a delas refere-se à co n cep ção d e ciência
psicológica. D e ac o rd o com a filosofia d o idealism o alem ão , a ciência é dual.
H á, de um lado, as ciências da cu ltu ra (G e is te w is s e n s c h a fte n ) e, de o u tro , as
ciências da n a tu re z a (N a tu n v is s e n s c h a fte n ). D e co rre d essa co n cep ção q u e os
conceitos relacio n ad o s com as ciências d a cu ltu ra são irred u tív eis ao s concei
tos relacio n ad o s com as ciências da n atu reza. D e aco rd o com a filosofia do
em p irism o inglês (e d o positivism o de E rn st M ach, q ue tam b é m foi a b raçad o
p o r T itch en er), a ciência é u n itá ria . H á, de u m lado, a re d u ç ã o de u m a ciência
m en o s básica a u m a ciência m ais básica: a ciência cujas leis seriam m ais abs
tra ta s e gerais. A sociologia seria re d u z id a à psicologia, essa à biologia, essa à
física, q u e seria a ciência m ais básica. H á, de o u tro lad o , a explicação de u m a
ciência m en o s básica p o r u m a ciência m ais básica. A física explicaria a biolo
gia, essa a psicologia, essa a sociologia. M as a recíp ro ca n ã o seria verdadeira:
a sociologia n ã o explicaria a psicologia, e assim p o r diante.
24 A atenção volitivo-seletiva é o fenôm eno psicológico paradigm ático p ara W undt e que levou o
autor alem ão a cham ar sua psicologia d e psicologia volítiva (Blum enthal, 1975).
25 Nas palavras d e S kinner (1969): “ É m uito sim ples p a rafrase ar a alternativa co m p o n am en talista
d izen do q ue na verdade existe ap enas um m u n do e que esse é o m undo da m atéria, pois a palavra
m a té ria p erd eu sua utilidade. Q u a lq u er que seja o estofo do qual o m undo é feito, ele contém
o rgan ism o s” (p. 248).
A p a re n te m e n te S k in n er (1 9 8 9 ) está d iz e n d o q u e a e la b o ra ç ã o d e u m a con
c ep ção rad ical do c o m p o rta m e n to e n fre n ta dois inim igos: o m en talism o e
o m aterialism o . S k in n er faz o tra b a lh o q u e W atson (1913, 1930) n ã o fez, o
q u e M erleau-P onty (1 9 4 2 /1 9 7 7 ) c h am o u de sad io e p ro fu n d o n a in tu içã o do
c o m p o rta m e n to , “ a visão d o h o m em com o d e b a te e ‘e x p licação ’ p e rp é tu a
com u m m u n d o físico e co m u m m u n d o so cial” (p. 3). O c o m p o rta m e n ta lis
m o rad ical visa cheg ar à raiz d o c o m p o rta m e n to e p a ra isso p rec isa fech ar as
p o rta s tan to ao m en talism o q u a n to a o m aterialism o , b em com o incluir n ã o
só a a ç ã o d o am b ie n te so b re o o rg an ism o , m as tam b é m a ação d o o rg an ism o
so b re o am b ien te. Pois é q u a n d o se faz isso q u e o c o m p o rta m e n to p a rtic ip a
de su a p ró p ria explicação. C om efeito, n a psico lo g ia de S k in n er, o c o m p o r
tam e n to é explicado p e la s c o n seq u ê n c ia s q u e ele p ro d u z : o c o m p o rta m e n to
é m o d ificad o e fo rtalecid o o u e n fra q u e cid o p e la s c o n seq u ê n c ia s q u e p ro d u z .
M as com o as c o n seq u ê n c ia s são p ro d u z id a s p elo c o m p o rta m e n to , em ú ltim a
3. A base empírica
2 6 S egundo A ristóteles (s.d ./1 9 7 9 ), a explicação pelas causas envolve as causas m aterial, eficiente,
form al e final.
27 W illiam s (1 983) observa que o term o e m p ir is m o foi usado nessa acepção pejorativa desde o
século XVII.
28 Q u an d o se fala em ciência em pírica pensa-se quase autom aticam ente no em pirism o epistêm ico.
C abe lem brar, todavia, que W u n d t distinguiu a psicologia m o d ern a d a psicologia tradicional dizen
do que a psicologia m o d ern a é em pírica e que a psicologia tradicional é metafísica: a prim eira é
científica e a segunda é filosófica. S eria interessante exam inar qu al é o sentido de e m p ír ic o em um a
psicologia o rien tad a pela cu ltu ra filosófica d o idealism o alem ão.
O u n as p a la v ras de H a n so n (1975):
2 9 O s filósofos pós-em piristas da ciência estão de aco rd o q u a n d o criticam o em pirism o epistêm ico
e a filosofia indutivista da ciência, m as disco rd am com respeito à concepção de ciência, com o se
verifica, p o r exem plo, no racionalism o crítico de Popper, na concepção de ciência com o paradigm a
dc Kuhn e no anarq u ism o m etodológico dc Feyerabend.
P sicologia com o ciência em p írica é so lid ária com a c o n cep ção de ciência
d efen d id a p elo e m p irism o ep istêm ico e pelo indutivism o. D essa p ersp ectiv a,
b u sca su a u n id a d e co n ceitu ai n a base em p írica, n a ex p e riên c ia , n a o b serv a
ção, n as p ro p o siç õ e s o b serv acio n ais, e ten ta , d esse m odo, e v ita r c o n fu são
conceituai. M as, a p a re n te m e n te , to d o esse p ro g ra m a está fad a d o a o fracasso
p o rq u e n ã o h á fatos n e u tro s, nem o b se rv a ç õ e s in d e p e n d e n te s de teo rias,
nem m eios racio n ais p a ra d ecid ir en tre te o ria s rivais.
Sem pre que um a teo ria seja subm etida a exam e e seja co rro b o rad a
ou falsificada, o processo tem que se deter em algum enunciado bási
co que d e c id a m o s aceitar: se n ão chegarm os a algum a decisão a esse
respeito, e não aceitarm os, p o rtan to , um enunciado básico, qualquer
que seja, o exam e não chegará a p a rte algum a, (p. 99)
4 .0 cientista e o filósofo
A m etaciên cia envolve dois d iscu rso s. H á o d isc u rso científico: u m d iscu rso
de p rim e ira o rd em q u e v ersa so b re o o b jeto d a ciência. E h á o d iscu rso filo
sófico: u m d iscu rso de seg u n d a o rd em que v ersa so b re o d isc u rso científico.
Isso B lanché (1976) traz à to n a q u a n d o escreve q u e “a ep istem ologia, q u e é
u m a reflexão so b re a ciência, é in clu íd a . . . n a m eta ciê n c ia ” (p. 13).
5. Considerações finais
30 Em sentido sim ilar, C ollingw ood (1981) escreve: “ U m cientista que nunca tenha filosofado so
b re a su a ciência, nunca p o d erá p assar de um cientista secun d ário , um im itador, um funcionário da
ciência. U m h om em que n u n ca ten h a gozado um certo tip o de experiência, não pode, obviam ente,
m ed itar sob re ela; e um filósofo que nunca ten h a trab alh ad o em ciência natural não p od e, eviden-
tem ente, filosofar sobre ela sem se to rn a r um lou co ” (p. 9).
Referências
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a llia n c e . Palo Alto, CA: S tan fo rd U niversity P ress.
O p o n to d e p a rtid a p a ra a c o m p re e n s ã o d a p ro p o s ta a q u i a p re s e n ta d a é o
c o n ju n to d e p ro b le m a s e lim ita ç õ e s d a te n d ê n c ia m eto d o ló g ic a d o m in a n te
psicologia (Ash, 1987) o u sim p lesm en te “ nova h istó ria d a p sico lo g ia” (Furo-
m o to , 1989). S eg u n d o F u ro m o to (1 9 8 9 ),
31 O fato de que a m aioria d o s novos h isto riad o res da psicologia com partilham o objetivo de
privilegiar as dim ensões políticas, sociais e institucionais da ciência em suas análises históricas da
psicologia não deve n os fazer ig n o rar as significativas diferenças m etodológicas e conceituais que
existem en tre eles (e.g., Ash & W oodw ard, 1987; B rock, L ouw , & van H o o rn , 2 0 0 5 ; Buss, 1979;
D anziger, 1979, 1990; Furom oto, 2 0 0 3 ; G rau m an n & G crgcn, 1996; Rose, 1998; Sm ith, 1988,
2013). Por exem plo, m esm o q u an d o eles afirm am que estão fazendo um a análise sociológica da
psicologia, eles n ão n ecessariam en te estão falando da m esm a coisa (e.g., B cnetka, 2 0 0 2 ; Kusch,
1999). Para um a investigação d etalhada do início de tal diversificação na historiografia da psicolo
gia nos Estados Unidos, ver .Ash (1983).
a) novos historiadores têm se com prom etido prem atu ram en te com
visões norm ativas sobre questões historiográficas, onde não há qual
q u er consenso: b) a pesquisa da nova história se baseia frequentem en
te em um a visão particular de ciência que n ão é largam ente aceita
p o r filósofos contem porâneos da ciência, e n em m esm o entendida p o r
filósofos profissionais da m esm a m aneira que os novos historiadores
frequentem ente a ssu m e m ;. . . d) as diretrizes norm ativas defendidas
pelos novos historiadores podem ser im possíveis de seguir de form a
consistente. (Lovett, 2 0 0 6 , p. 18)
3.3 Para m encionar ap enas um problem a, D anziger restringe a análise da intro specção antes de
W undt a Locke e K ant, deixando de lado aspectos essenciais dos debates do século XVIII sobre
o tem a. Para m aiores detalhes sobre este tópico, ver Hatfield (2 00 5) e S turm (2 0 0 6 /2 0 1 2 , 2 0 09).
34 Nas palavras dc Kusch: “ Sociologismo é a afirm ação de que os assim cham ados fatores ‘racio
n ais', isto é, teo rias, argum ento s e razões, são de fato fatores sociais” (Kusch, 1999, p. 177).
35 Para Kusch, “p a ra que algo seja um a instituição social, c suficiente que a lg u m coletivo tenha
um a crença auto-referencial sobre este algo” (Kusch, 1999, p. 172).
36 M ülbergcr (2001), p o r exem plo, afirm a que a análise de Kusch sobre a Escola de W ürzburg
enquanto um a instituição social é altam ente pro blem ática, no sentido de que Kusch a trata com o
um a unidade, ig no ran do a enorm e h eterogeneidade en tre os próp rio s m em bros daquela escola.
37 C om o explica B enetka, “um coletivo de pensam ento científico não c n ad a além de um a com uni
dade de cientistas que com partilham ponto s de vista sem elhantes: um g ru p o de pesquisa em labo
ratório, um a escola científica, u m a com unidade de especialistas, d epen dendo do que seja a unidade
de análise em questão. Fleck cham a de estilo de pensam ento as suposições que são com uns a um
grupo e que subjazem ao seu tra b a lh o ” (B enetka, 2 0 0 2 , p. 22).
38 Stephen T u rn er (1994), inicial m ente um entu siasta d a teo ria social co n tem porânea, subm eteu
o conceito de p ráticas a u m a crítica rigorosa. Para ele, o conceito é escorregadio e tem p roprieda
des m isteriosas. N esse sentido, ele m o stra que p ráticas sâo freq u en tem en te com preend idas com o
objetos reais com p ro p ried ad es m isteriosas, tais com o p o d e r causal. Por exem plo, ele pergunta:
Kse u m a cu ltu ra é u m objeto causal, com o ela age e que tipo de objeto ela é ? ” (T urner, 1994, p. 6).
Tais problem as levaram -no “a concluir que o conceito de p ráticas é profund am ente falho” (Turner,
1994, p. 11).
3. Relações
f
entre a história da ciência e a
filosofia da ciência
39 Por exem pío, L udw ik Fleck (1896-1961), N orw ood H anson e S tephen Toulm in (1922-2009)
foram alguns teóricos da ciência que en fatizaram , antes de K uhn, a im portância d a dim ensão histó
rica na co nstrução do conhecim ento científico (Fleck, 1 9 3 5/1 980 ; H anson, 1958; Toulm in, 1961).
4 0 Para ficar só na últim a década, houve u m a verdadeira explosão de p ro p o stas de aproxim ação
entre história e filosofia d a ciência. Isso inclui congressos, núm ero s especiais de p eriód icos especia
lizados tan to em história d a ciência (Isis) q u an to em filosofia d a ciência (E r k e n n tn is ), assim com o
artigos, livros e volum es editados. Para u m a ráp id a lista d e referências, ver A rabatzis e Schickore
(2012) e M auskopf e Schm altz (20 12 a, 2012b).
. . . ainda que possa ser inicialm ente útil analisar a visão de N ew ton
sobre o espaço em seus aspectos científicos, filosóficos e teológicos,
em últim a instância esses aspectos devem ser entendidos com o um a
unidade, pois N ew ton não se via fazendo filosofia em um m om ento,
‘física’ em outro, e ainda teologia em um terceiro, assim com o tam
pouco se via fazendo ‘de um a só vez’ essas três coisas ‘sep arad as’.
(D om sky & D ickson, 2010b, p. 14)
41 Isso não q uer d izer q ue essa relação não tenha sido ab o rd ad a anteriorm ente. Pelo eontrário,
histórias da psicologia filosoficam ente inclinadas não são algo novo (e.g., D essoir, 1902; Klenim,
1911; Leary, 1980; R obinson, 1982, 1995; Sm ith, 1986; W oodw ard & Ash, 1982). Alem disso,
nos trabalhos recentes em história e filosofia da psicologia, não faltam estud os que abordam de
um m odo ou de o u tro a relação entre fiiosofia e psicologia a p artir de um a perspectiva histórica
{e.g., Ash & Sturm , 2007; Feest, 2 0 0 5 /2 0 1 2 ; G reen, 1996; G undlach, 1993; Hatfield, 1990, 20 09;
H eideiberger, 1993; Koch & Leary, 1992; O sbeck & Held, 2014; Sturm , 2009; S turm & M üiber-
ger, 2012; Teo, 2013). O que está ausente, contudo, é um a explicitação e um a discussão mais sis
tem ática dos pressup ostos teóricos e m etodológicos subjacentes a esses estudos, assim com o suas
im plicações p a ra a historiografia d a psicologia. Mais especificam ente, debates sob re as im plicações
da H istória e Filosofia da Ciência (HPS) p a ra a história d a psicologia são praticam ente inexistentes.
Daí a necessidade dc um a nova abordagem a scr articulada no futuro,
5. Considerações finais
O s e x e m p lo s a p re s e n ta d o s a n te r io r m e n te d e m o n s tra m q u e a in te g ra ç ã o
e n tre a h is tó ria d a p sic o lo g ia e a filo so fia d a p sic o lo g ia é n ã o a p e n a s
p o ssív e l, m as fru tífe ra , p ro m is s o ra e d esejá v el. E m e s p e c ia l, eles re v e la m
c o m o u m a h is tó r ia filo só fic a d a p sic o lo g ia p o d e e n riq u e c e r n o s s a c o m
p r e e n s ã o h is tó ric a d o d e s e n v o lv im e n to d e te o r ia s e p r o je to s p sic o ló g i
c o s, a o a p ro f u n d a r o nível c o n c e itu a i d e a n á lis e e o fe re c e r in te r p re ta ç õ e s
o rig in a is e c o n v in c e n te s . A lém d isso , e le s p r e e n c h e m trê s c rité rio s : sã o
c rític o s, p o lic ê n tric o s e in te rn a c io n a is . C o n tu d o , p a r a q u e e ssa in te g ra
ç ã o p o s s a se d a r em la rg a e sc a la , sã o n e c e s s á ria s d is c u s s õ e s m e to d o ló g i
cas m ais sis te m á tic a s.
Referências
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A investigação histórica de
teorias e conceitos psicológicos:
breves considerações
metodológicas
1. Escolha do tema
2. Busca exploratória
3. Definição do problema
N o c a so de T h o m a s S tu rm ( 2 0 0 6 /2 0 1 2 ), o o b jeto de p e s q u is a esco lh id o
é a c o n tro v é rsia so b re a m e n s u ra ç ã o de e s ta d o s m en ta is n o sécu lo X V III,
fontes
A se le ç ã o d as fo n te s vai d e p e n d e r se m p re de u m ju lg a m e n to d o p e s q u i
s a d o r so b re a rele v â n c ia d o m a te ria l d isp o n ív e l s o b re o tem a p a ra re s
p o n d e r ao seu p ro b le m a d e p e sq u isa . Em o u tra s p a la v ra s, é o p ro b le m a
de p e s q u is a q u e gu ia a b u sc a e se leção d a s fo n tes. P o r isso , q u a n to m ais
c la ra m e n te fo rm u la d o estiv e r o p ro b le m a , m ais fácil se rá o p ro c e s s o de
se leção d as fo n tes.
F in a lm e n te , é p re c is o s e le c io n a r ta m b é m as fo n te s s e c u n d á r ia s , q u e são
p r in c ip a lm e n te c o n s titu íd a s p o r liv ro s e a rtig o s s o b re o te m a p e s q u is a
do. A q u i deve-se te r em m e n te os p e rió d ic o s m ais tra d ic io n a is d e c a d a
á re a . N o c a so d a p e s q u is a h is tó ric a d e te o r ia s e c o n c e ito s p s ic o ló g ic o s,
os m ais im p o r ta n te s são: J o u r n a l o f t h e H is to r y o f t h e B e h a v io r a l S c ie n c e ,
H is to r y o f P s y c h o lo g y , H isto ry o f H u m a n S c ie n c e s , T h e o r y & P s y c h o lo g y ,
I s is , S t u d ie s in th e H is to r y a n d P h i lo s o p h y o f S c i e n c e , H is to r y o f S c i e n c e ,
J o u r n a l o f th e H is to r y o f Id e a s . P a ra fa c ilita r a b u s c a , é a c o n se lh á v e l r e
c o rr e r às b a s e s d e d a d o s q u e a g ru p a m v á rio s d e s se s p e rió d ic o s , c o m o
J S T O R , P s ic I N F O e P r o je c t M u s e . Já os liv ro s sã o m ais fac ilm e n te id e n ti
ficad o s n o s c a tá lo g o s d e b ib lio te c a s, m u ito s d o s q u a is e s tã o a tu a lm e n te
d isp o n ív e is p a r a b u sc a o n l in e . E m a m b o s os c a so s, a b u s c a d ev e se r feita
a p a r t i r d a s p a la v ras-c h av e q u e c a r a c te r iz a m o te m a e o p ro b le m a d e
p e s q u is a em q u e s tã o .
5. Planejamento e cronograma
O p lan e jam e n to de u m a p e sq u isa h istó rica envolve essen cialm en te trê s ele
m entos: tem p o , p ro b le m a de p e sq u isa e q u a n tid a d e de fontes selecio n ad as.
O tra b a lh o in telectu al do p e sq u isa d o r consiste n a ten tativ a de co m p atib ilizar
da m elh o r fo rm a possível esses trê s fatores.
P ara que o tra b a lh o com as fontes seja fru tífero e eco n o m ize te m p o d o p es
q u isad o r, é fu n d am e n ta l q u e ele faça um reg istro de cad a fo n te co n su lta d a e
m onte seu p ró p rio arq u iv o de tra b a lh o . Isso p o d e ser feito em fichas avulsas,
c a d e rn o s de n o tas o u d o c u m e n to s e letrô n ico s (e.g., W o rd f o r W in d o w s ) . O
im p o rta n te é q u e em cada um dos reg istro s o p e s q u is a d o r a n o te a referên cia
com p leta d a fonte e as in fo rm a ç õ e s relev an tes q u e ele re tiro u dela, in cluindo
su a lo calização (n ú m e ro de p á g in a ou folha). Assim, o p e sq u isa d o r n ã o p re
cisa re to rn a r à fonte original cada vez q u e p re c isa r c o n su lta r aq u ela in fo rm a
ção, o q u e re p re s e n ta u m a g ran d e e c o n o m ia de tem p o .
A análise das fontes históricas req u e r m uita habilidade, principalm ente no que
se refere ao trabalho em arquivos (Bacellar, 2 0 0 6 ; C astro, 2 0 0 8 ). M as o p rin
cipal é que o pesquisador tenha to d o o tem po em m ente o seu pro b lem a de
pesquisa, a sua p erg u n ta geral e /o u as suas p erg u n tas específicas com o guia
p a ra a análise dos docum entos. N esse m om ento, a p erg u n ta fu ndam ental é: “o
que essa fonte m e diz sobre o m eu p ro b le m a? ”. Caso o pesq u isad o r p erca de
vista seu(s) problem a(s) de pesquisa e com ece a seguir to d as as inform ações
contidas nas fontes selecionadas, ele certam ente vai se p e rd e r ou desviar do
seu cam inho. Assim, ao final, ele terá um a m o n tan h a de inform ações, m as n ão
saberá o que fazer com elas. Ter o problem a em m ente é m uito im p o rtan te
q u an d o se vai acessar u m arquivo peia prim eira vez. Por exem plo, no prim eiro
contato com a co rresp o n d ên cia de um autor, é m uito fácil o p esq u isad o r se p e r
der nas m inúcias contidas nas cartas e esquecer do m otivo que o levou até elas.
8 .0 relatório final
Referências
C astro , C. (2 0 0 8 ). P e s q u is a n d o e m a r q u iv o s . R io de Janeiro: Z a h a r.
R o b so n N ascim en to da C ru z 42
A lém d isso, a p a rtir d a d é c a d a de 1980, pela p rim e ira vez, a b iografia ad
q u iriu s ta tu s q u ase u n â n im e de fen ô m en o legítim o de p e sq u isa en tre v ário s
cam p o s do co n h ecim en to , u ltra p a ssa n d o o m erc ad o e d ito ria l v o ltad o p a ra
O objetivo deste capítulo é ap resen tar, de m an eira in tro d u tó ria , com o o gêne
ro biográfico tem se inserido em u m a disciplina específica, a historiografia da
psicologia. Ao m esm o tem po, p rete n d e tam b ém avaliar com o a biografia p o d e
ria ser in co rp o rad a à pesquisa teó rica em psicologia, já que essa possibilidade
tem sido p o u co ex plorada n a literatu ra da área.
E m b o ra a p e n a s n a d é c a d a de 1990 ten h a se to rn a d o ev id en te um co n ju n to
de reflexões críticas so b re a b iografia científica, a lin h ad o co m as m u d an ç a s
filosóficas e h istó ricas d a h isto rio g ra fia da ciência, alguns esforços tím idos
e d isp e rso s de avaliação do p a p e l da biografia científica são identificados a
p a rtir d a d é c a d a d e 1970. O texto de B ru sh (1974), ho je u m clássico dos
estu d o s biográficos d a ciência, ex p õ e u m germ e desse em p en h o an alítico
desenvolvido n as d u as ú ltim as d écad as. A inda que p re o c u p a d o , so b re tu d o ,
com o v alo r d iscip lin ar d a b iografia científica, B ru sh foi o p rim e iro a n o ta r
o q u e tem sido c o n sid e rad o u m dos m aio res p a ra d o x o s d a fu n çã o do g ê n e ro
b iográfico na fo rm ação científica.
A biografia de S kinner sem pre foi utilizad a n as análises teó ricas e conceituais
da o b ra desse psicólogo. C o n tu d o , tem o cu p ad o lugar secu n d ário p o r m eio de
alusões genéricas e lacônicas a d eterm in ad o s episódios de su a vida. Exem plos
da biografia n as análises teó ricas e conceituais da o b ra de S kinner encontram -
-se, especialm ente, nos estu d o s que apreg o am q u e o d esco n h ecim en to desse
cientista acerca d a psicologia e suas relações pessoais, acadêm icas e institu
cionais explicariam p a rte das especificidades de su a p ro p o sta de ciência, m as
q ue essas q u estõ es p o d e ria m ser facilm ente d escartad as co m o p a rte s de u m a
h istó ria q u e n ã o p recisaria co m p o r aq u elas análises (e.g., C olem an, 1987).
lo eliciador. E ssas “terc eiras v ariáv eis” seriam d efin id as p elo e sta d o d e um
o rg an ism o , q u a n d o su b m etid o a algum a d ro g a, p o r exem plo, p elo n ú m ero
de eliciações de re sp o sta s, e n tre o u tra s cond içõ es.
5. Considerações finais
Referências
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Sobre os autores
C arlo s E d u a rd o L opes
Carolina Laurenti
R o b so n N ascim en to d a C ru z
E-mail: ro b so n c ru z 7 8 @ y a h o o .co m .b r
ISBN 9 7 8 -8 5 -8 5 4 3 9 -2 5 -5
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