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Ernesto Rosa Neto

Professor de Prática de Ensino da Matemática, História da Ciência


e Matemática da Universidade Mackenzie
Coordenador do Departamento de Vídeo do Colégio Anglo-Latino
Ex-professor de Matemática, História da Matemática e Prática de
Ensino da Universidade de São Paulo
Dez anos de participação em programas educativos da Rádio
e Televisão Cultura (RTC) de São Paulo

DIDÁTICA
DA
MATEMÁTICA
Supervisão editorial: João G u i z z o
Coordenação da edição: W i l m a S i l v e i r a R o s a d e M o u r a
Redação: L e o n a r d o C h i a n c a
Preparação de originais: R e m b e r t o F r a n c i s c o K u h n e n
Ilustração: C a r l o s R o b e r t o d e C a r v a l h o
E d u a r d o Seiji Seki
Capa: P a u l o César P e r e i r a
Ary Normanha
Produção gráfica: G r a p h i c D e s i g n

ISBN 85 08 01922 x

1987

Todos os direitos reservados pela E d i t o r a Ática S . A .


R . Barão de Iguapé, 1 1 0 — T e l : P A B X 2 7 8 - 9 3 2 2
C. Postal 8 6 5 6 — E n d . Telegráfico " B o m l i v r o " — S. Paulo
Etapas de aprendizagem

INTRODUÇÃO
Q u a n d o u m h o r t i c u l t o r f a z u m a plantação d e a l f a c e , t a l v e z s a i b a ,
m a i s o u m e n o s , q u e e s s a p l a n t a p o s s u i d u a s histórias: a história d a
espécie ( q u e e v o l u i u d e s d e o a p a r e c i m e n t o d a v i d a ) e a história d e
c a d a pé ( d e s d e a s e m e n t e até a f a s e a d u l t a ) q u e , a p r o x i m a d a m e n t e ,
r e p e t e a história d a espécie.

A a l f a c e , c o m o q u a l q u e r o u t r o s e r v i v o , p o s s u i u m código gené-
t i c o próprio, constituído d u r a n t e o s milhões d e a n o s d a história d a
s u a espécie, q u e d i r i g e a história d e c a d a indivíduo. É i m p o r t a n t e
r e s s a l t a r q u e a história d a espécie d i r i g e a história i n d i v i d u a l , m a s não
a determina.

D o i s e r r o s e x t r e m o s o h o r t i c u l t o r não p o d e c o m e t e r : a passividade
d e não i n t e r v i r n o d e s e n v o l v i m e n t o d a a l f a c e , já q u e e l a está g e n e t i c a -
m e n t e p r o g r a m a d a , e a utopia d e i n t e r v i r a r b i t r a r i a m e n t e , p a r a i m p o r
s u a v o n t a d e . É p r e c i s o t r a b a l h a r u s a n d o o c o n h e c i m e n t o d a s próprias
l e i s d a n a t u r e z a , p r o m o v e n d o o d e s e n v o l v i m e n t o e até i n f l u i n d o n a s
d u a s histórias, d e n t r o d e c e r t o s l i m i t e s : c a p i n a r , a d u b a r , d e f e n d e r , p r o -
v o c a r mutações e t c .

É preciso c o n h e c e r as etapas d o d e s e n v o l v i m e n t o d a alface p a r a


dar à planta o t r a t a m e n t o adequado: saber qual o m o m e n t o d o plantio,
d o t r a n s p l a n t e , d a c o l h e i t a e t c . P o r t a n t o , não só a história d a espécie,
m a s também o a m b i e n t e v a i d e t e r m i n a r a história i n d i v i d u a l . O h o m e m
trabalha o ambiente. Logo, quanto mais conhecimento ele tem, mais
atuante pode ser.

D e a c o r d o c o m M u l l e r ( 1 8 2 1 - 1 8 9 7 ) , célebre médico n a t u r a l i s t a ,
c a d a indivíduo p o s s u i u m a história q u e t r a n s c o r r e a c o m p a n h a n d o a p r o -

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x i m a d a m e n t e a história d a espécie à q u a l p e r t e n c e . E l e f o r m u l o u u m a
l e i s e g u n d o a q u a l " o d e s e n v o l v i m e n t o d o indivíduo é u m a recapitulação
a b r e v i a d a d a história d e s u a espécie". E s s a l e i é m u i t o útil, d e s d e q u e
não s e j a a p l i c a d a r i g i d a m e n t e . A espécie h u m a n a , p o r e x e m p l o , f o i
e v o l u i n d o até c h e g a r a o q u e é h o j e , p a s s a n d o p o r p r o f u n d a s t r a n s f o r -
mações. E c a d a indivíduo e m p a r t i c u l a r também s o f r e u m a série d e
m e t a m o r f o s e s , q u e começam n o útero m a t e r n o e c o n t i n u a m d e p o i s d o
nascimento.

A s s i m , o f a t o d e t e r a p r e n d i d o a a n d a r e r e t a m e n t e n a Pré-história
não i m p l i c a q u e o h o m e m já nasça s a b e n d o a n d a r . C a d a criança d e v e ,
s o z i n h a , p a s s a r p e l a s e t a p a s d a espécie h u m a n a , a p r e n d e n d o a a n d a r
e m pé, a f a l a r , a c o n t a r , a a d q u i r i r noção d e conservação e a s s i m
p o r d i a n t e . E c a d a criança f a z i s s o n u m r i t m o próprio.

A B i o l o g i a e s t u d a a evolução d a espécie h u m a n a ; a Psicogenética


e s t u d a a evolução i n d i v i d u a l .

PIAGET
J e a n P i a g e t ( 1 8 9 6 - 1 9 8 0 ) , psicólogo suíço m u n d i a l m e n t e f a m o s o
p o r s e u s e s t u d o s n a área d a Psicogenética, r e a l i z o u experiências q u e
e v i d e n c i a r a m q u a t r o estágios n o d e s e n v o l v i m e n t o lógico:
Estágio sensório-motor — V a i d e s d e o n a s c i m e n t o até c e r c a d e
2 4 m e s e s . N e s s e período, a criança p a s s a d e a t i v i d a d e s p u r a m e n t e r e f l e -
x a s à formação d o s p r i m e i r o s hábitos, d e p o i s à coordenação e n t r e
visão e preensão ( o l h o s e mãos), à p r o c u r a d e o b j e t o s e s c o n d i d o s , à
prática d e a t o s i n t e n c i o n a i s , à complexificação e diferenciação d e
e s q u e m a s d e ações e à resolução d e p r o b l e m a s p o r compreensão.
Estágio pré-operatório — V a i d o s 2 a n o s , a p r o x i m a d a m e n t e , até
c e r c a d e 7 a n o s . E s s a f a s e t e m início c o m o a p a r e c i m e n t o d a l i n g u a g e m ,
q u e é u m a função simbólica. Começa a c u r i o s i d a d e ( p o r quê? c o m o ?
que é isto?), aparece o pensamento intuitivo.
Estágio das operações concretas — V a i d o s 7 a o s 1 2 a n o s , a p r o -
x i m a d a m e n t e , e é o q u e m a i s interessa neste l i v r o . N e s t a etapa d o
d e s e n v o l v i m e n t o , a criança a i n d a está t o t a l m e n t e l i g a d a a o b j e t o s r e a i s ,
c o n c r e t o s , m a s já é c a p a z d e p a s s a r d a ação à operação, q u e é u m a

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CLASSIFICAÇÃO D A S ESTRUTURAS COGNITIVAS

Estágio Características Idade Noções matemáticas

meses

1. A t i v i d a d e s reflexas 0—1
1. SENSÓRIO-MOTOR

2. P r i m e i r o s hábitos 1 —4
3. Coordenação e n t r e visão 4— 8 Maior/menor
e preensão
4. Permanência do o b j e t o , 8—11 Noção de espaço, f o r m a s
i n t e n c i o n a l i d a d e dos atos
5. D i f e r e n c i a ç ã o dos esque- 11 — 18
mas de ação
6. Solução de p r o b l e m a s 18 — 24

anos

1. Função s i m b ó l i c a 2— 4 Desenhos
2. PRÉ-OPERATÓRIO

(linguagem)
2. Organizações representa- 4— 5 Contagem, figuras geométricas
t i v a s , p e n s a m e n t o intui-
tivo
3. Regulação representativa 5— 7 Correspondência termo a termo,
articulada conservação do n ú m e r o , classi-
ficação s i m p l e s

1. Operações s i m p l e s , re- Reversibilidade, classificação,


gras, p e n s a m e n t o e s t r u - seriação, t r a n s i t i v i d a d e , conser-
3. OPERAÇÕES
CONCRETAS

t u r a d o f u n d a m e n t a d o na vação de t a m a n h o , d i s t â n c i a ,
manipulação de o b j e t o s área, conservação de quantida-
7— 9 de descontínua, c o n s e r v a ç ã o da
massa (7 anos)

2. M u l t i p l i c a ç ã o lógica Classe-inclusão, c á l c u l o , conser-


vação do peso, c o n s e r v a ç ã o do
v o l u m e , f r a ç õ e s (9 anos)
4. OPERAÇÕES

1. Lógica hipotético-deduti- 12 — 13 Proporção, c o m b i n a ç õ e s


FORMAIS

va, raciocínio abstrato (12 anos)

2. Estruturas formais 13 — 15 D e m o n s t r a ç ã o , álgebra


(13 anos)

N o t a : As idades constantes do quadro são apenas um referencial. Elas variam muito


de criança para criança. Além disso, ela pode estar num estágio em relação
a um comportamento e em outro em relação a outro comportamento.

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ação i n t e r i o r i z a d a . É também n e s s e estágio q u e começa a c a p a c i d a d e
d e c l a s s i f i c a r e d e f a z e r transformações reversíveis, i s t o é, q u e p o d e m
ser i n v e r t i d a s , v o l t a n d o à o r i g e m , q u e p o d e m s e r d e s m o n t a d a s . C o m e -
çam a s e e s t a b e l e c e r a l g u m a s noções d e conservação.
Estágio das operações formais — V a i d o s 1 1 o u 1 2 a n o s até
m a i s o u m e n o s o s 1 5 . É a f a s e e m q u e a p a r e c e o raciocínio lógico: a
criança já é c a p a z d e p e n s a r u s a n d o abstrações.

C a d a estágio s e r v e d e b a s e p a r a o estágio s e g u i n t e ; porém o d e -


s e n v o l v i m e n t o não é l i n e a r n e m a p e n a s q u a n t i t a t i v o . Há r u p t u r a s n o
m o d o d e p e n s a r , há mudanças d e q u a l i d a d e p r o v o c a d a s p e l o d e s e n -
v o l v i m e n t o q u a n t i t a t i v o d e a t i v i d a d e s . P o r i s s o , a s m e n s a g e n s são i n t e r -
pretadas de m o d o s diferentes e m cada etapa de desenvolvimento d a
criança. I s s o é f u n d a m e n t a l e m educação. É i m p r o d u t i v o , e até p r e j u -
d i c i a l , t e n t a r c e r t a s a t i v i d a d e s c o m a l u n o s q u e a i n d a não estão n o
estágio d e assimilá-las. A s s i m , u m a l u n o p o d e não a p r e s e n t a r b o m
r e s u l t a d o n u m d e t e r m i n a d o a s s u n t o e d e n a d a adiantará f a z e r r e c u p e -
ração. É necessária u m a correspondência e n t r e o d e s e n v o l v i m e n t o p s i c o -
genético e a s a t i v i d a d e s p r o p o s t a s n a e s c o l a , l e m b r a n d o s e m p r e q u e o
p e n s a m e n t o c r e s c e a p a r t i r d e ações, o u s e j a , v a i d o c o n c r e t o p a r a o
a b s t r a t o , d a manipulação p a r a a representação, e d e s t a p a r a a s i m -
bolização.

Como avaliar o desenvolvimento psicogenético

A l g u m a s experiências d e avaliação d o d e s e n v o l v i m e n t o psicogené-


t i c o são p a r t i c u l a r m e n t e i m p o r t a n t e s n a Matemática. V e j a m o s a s
principais.

Classificação
C o r t a r e m c a r t o l i n a q u a d r a d o s e círculos d e d o i s t a m a n h o s , ama-
relos e vermelhos.

P r i m e i r o , d e i x a r q u e a criança b r i n q u e l i v r e m e n t e c o m a s peças.
D e p o i s , p e d i r q u e as descreva: isto é u m q u a d r a d o p e q u e n o , v e r m e l h o
etc. P e d i r que as classifique p o r cor, o u f o r m a , o u t a m a n h o . (Classificar
p o r c o r é s e p a r a r a s peças e m a m a r e l a s e v e r m e l h a s ; p o r f o r m a é s e p a r a r
q u a d r a d o s d e círculos.)

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Crianças m u i t o n o v a s não f a z e m classificação. E s s a operação é
a t i n g i d a c o m 5 o u 6 a n o s . C o m m a i s i d a d e , a criança p o d e c h e g a r a
u m a classificação m a i s c o m p l e x a .
E s s a experiência também p o d e s e r f e i t a c o m b l o c o s lógicos ( v e r
capítulo 3 , página 7 0 ) , c o m c a r r i n h o s d e várias m a r c a s , c o r e s , t a m a n h o s
etc.

Conservação do número

oooooooo o o o o o o o o
oooooooo oooooooo
C o l o c a r n a m e s a o i t o t a m p i n h a s d e g a r r a f a e p e d i r à criança q u e
também c o l o q u e a m e s m a q u a n t i d a d e . T e m o s então u m a situação c o m o
a mostrada n o primeiro quadrinho. Dizer:
— E s t a s t a m p i n h a s são m i n h a s , a s o u t r a s são s u a s ; q u e m t e m
mais?
A r e s p o s t a será:
— Igual.
E m s e g u i d a , j u n t a r a s d e l a e espaçar a s s u a s , c o m o n o s e g u n d o
quadrinho, e perguntar:
— Q u e m t e m m a i s , e u o u você?

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Crianças d e 4 a 5 a n o s responderão q u e você t e m m a i s . D e 5 a
6 a n o s , ficarão n a dúvida. A s d e 6 a n o s já darão a r e s p o s t a c o r r e t a ,
p e r c e b e n d o q u e o espaçamento não a l t e r a o número.

Seriação
Q u e b r a r dez palitos de sorvete e m t a m a n h o s diferentes, variando
d e centímetro e m centímetro.

P e d i r à criança q u e o s c o l o q u e e m o r d e m . Até c e r c a d e 6 a n o s ,
a criança não o fará. A p e n a s separará o s p a l i t o s e m g r a n d e s e p e q u e -
n o s , o u o s juntará e m p e q u e n o s c o n j u n t o s . Após o s 6 o u 7 a n o s , já
será c a p a z d e f a z e r a s comparações c o r r e t a m e n t e e c o l o c a r o s p a l i t o s
em ordem.

Conservação da quantidade descontínua


P a r a e s s a experiência são necessários d o i s c o p o s d e f o r m a t o s b e m
d i f e r e n t e s u m d o o u t r o e u m a c a i x a c o m grãos o u cápsulas.

I r p a s s a n d o l e n t a m e n t e o s grãos d a c a i x a p a r a o s d o i s c o p o s ,
grão a grão, c o m a m b a s a s mãos, a o m e s m o t e m p o . D e p o i s d e já t e r
p a s s a d o c e r t a q u a n t i d a d e , p e r g u n t a r à criança e m q u e c o p o há m a i s
grãos.

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Respostas q u e c o s t u m a m s e r d a d a s p o r crianças d e até 6 a n o s :
— Este copo é mais alto, t e m mais.
— Neste t e mmais porque é mais largo.
D e p o i s d o s 6 a n o s a s r e s p o s t a s são c o r r e t a s :
— Têm a m e s m a quantidade.

Conservação do tamanho
M a t e r i a l necessário: d u a s t i r a s d e c a r t o l i n a i g u a i s , c o m c e r c a d e
1 2 c m d e c o m p r i m e n t o , e q u a t r o "vês" i g u a i s .

M o n t a r o esquema d a figura e perguntar qual tira é maior. V i r a r


o s "vês" e r e p e t i r a p e r g u n t a .

A n t e s d o s 6 a n o s , a criança dirá q u e a t i r a c o m o s "vês" v i r a d o s


p a r a d e n t r o é m e n o r . Q u a n d o v i r a m o s o s "vês", o c o m p r i m e n t o m u d a .

Após o s 6 o u 7 a n o s , dará a r e s p o s t a c o r r e t a . Terá a t i n g i d o a


noção d e permanência d o c o m p r i m e n t o .

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Conservação da área
M o s t r a r à criança d u a s b o l a c h a s r e d o n d a s o u q u a d r a d a s , i g u a i s .
D i z e r à criança q u e u m a b o l a c h a é s u a e o u t r a é d e l a . D e p o i s , q u e b r a r
a sua. P e r g u n t a r q u e m g a n h o u m a i s b o l a c h a . P o d e acontecer u m a res-
posta assim:
— A sua quebrou, ficou menos.

D e p o i s d o s 6 o u 7 a n o s , a criança dará a r e s p o s t a q u e o a d u l t o
e s p e r a . A experiência p o d e s e r f e i t a c o m " b o l a c h a s " d e c a r t o l i n a o u
outro material.

Classe-inclusão
São necessárias d e z o i t o peças d e c a r t o l i n a , s e n d o seis q u a d r a d o s
v e r m e l h o s e q u a t r o a m a r e l o s e o i t o círculos v e r m e l h o s .

R e p a r e q u e t o d a peça a m a r e l a é q u a d r a d a , m a s n e m t o d o qua-
d r a d o é a m a r e l o . Começar a s p e r g u n t a s :
— T o d o s o s q u a d r a d o s são v e r m e l h o s ?
— T o d a peça a m a r e l a é q u a d r a d a ?
— T o d o s o s círculos são v e r m e l h o s ?
— Há m a i s q u a d r a d o s o u m a i s círculos?
— Há m a i s peças o u m a i s q u a d r a d o s ?

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A última p e r g u n t a e x i g e a comparação d e u m c o n j u n t o d e peças
c o m u m seu subconjunto de quadrados. A idade para responder corre-
t a m e n t e a e s s a p e r g u n t a é m u i t o variável, f i c a n d o e n t r e 5 e 1 0 a n o s .
P a r a c o m p r e e n d e r o c o n c e i t o d e número, é f u n d a m e n t a l a percepção
d a inclusão d e c l a s s e s .

Conservação de quantidades contínuas (massa)


P a r a f a z e r e s s a experiência c o m a criança, p r e c i s a - s e d e d o i s c o p o s
exatamente iguais e u m terceiro, mais largo, m a s c o m a m e s m a capa-
cidade d o s outros.

E n c h e r c o m água o s c o p o s i g u a i s e p e r g u n t a r à criança e m q u a l
d o s d o i s há m a i s água. E l a dirá q u e a q u a n t i d a d e é i g u a l . D e s p e j a r o
conteúdo d e u m d e l e s n o c o p o m a i s l a r g o e v o l t a r c o m a p e r g u n t a .
Até 6 o u 7 a n o s , a s r e s p o s t a s m a i s c o m u n s são:
— A q u i tem mais.
— P o r quê?
— P o r q u e é mais alto.
Ou:
— E s s e t e m m a i s água.
— P o r quê?
— Porque é mais gordo.
D e p o i s d o s 6 o u 7 a n o s , a s r e s p o s t a s são c o r r e t a s :
— São i g u a i s .
— P o r quê?
— Este é mais baixo, m a s é mais largo.

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C a b e l e m b r a r a q u i q u e os cientistas e n t r a m n u m a o u t r a etapa,
n a q u a l a m a s s a não é m a i s c o n s e r v a d a , m a s m u d a c o m a v e l o c i d a d e ,
é r e l a t i v a . I s s o , porém, não é d a intuição c o m u m .

Conservação do peso
C o m a r g i l a o u m a s s a plástica f a z e r d u a s b o l a s i g u a i z i n h a s e p e r -
g u n t a r à criança q u a l é a m a i s p e s a d a . E l a responderá q u e são i g u a i s .
P e g a r então u m a d a s b o l a s e pressioná-la até f i c a r e s t i c a d a c o m o u m a
salsicha.

/L5 £ j
Voltar a perguntar:
— E agora, qual a mais pesada?
A s r e s p o s t a s d e crianças até 8 o u 9 a n o s serão:
— Esta é mais comprida, é mais pesada.
— Esta é mais leve porque é fina.
A p a r t i r d e s s a i d a d e , começam a d a r r e s p o s t a s c o r r e t a s .

Conservação de volume
M a t e r i a l necessário: d o i s c o p o s i g u a i s , c o m água até a m e s m a
a l t u r a , e d u a s b o l a s d e m a s s a plástica, também i g u a i s .

33
C o l o c a r c a d a b o l a n u m c o p o e d e i x a r q u e a criança p e r c e b a q u e
o s níveis s u b i r a m i g u a l m e n t e . R e t i r a r a s b o l a s e t r a n s f o r m a r u m a d e l a s
e m " s a l s i c h a " . Daí p e r g u n t a r :
— S e e u c o l o c a r e s t a s m a s s a s d e n t r o d a água, e m q u e c o p o o
nível d a água subirá m a i s : o d a b o l a o u o d a " s a l s i c h a " ?
A n t e s d o s 1 0 o u 1 1 a n o s , a criança não terá condições d e p e r -
c e b e r q u e o v o l u m e não s e a l t e r a c o m a deformação.

* * *

H á m u i t a s o u t r a s experiências n a e x t e n s a e f e c u n d a o b r a d e P i a g e t .
Porém, p a r a n o s s o s propósitos, e s t a s b a s t a m .

A escola deve p l a n e j a r suas atividades d e m o d o q u e o a l u n o possa


p a r t i r d e e l e m e n t o s c o g n i t i v o s q u e s e e n c o n t r a m e m s e u repertório,
p a r a então c o n s t r u i r o n o v o . O p r o f e s s o r p r e c i s a c o n h e c e r s e u s a l u n o s
p a r a f a v o r e c e r e s s a evolução c o m a t i v i d a d e s o p o r t u n a s . É inútil forçar
u m a a t i v i d a d e impossível p a r a a e t a p a e m q u e a criança s e e n c o n t r a ,
m a s também não s e p o d e f i c a r e s p e r a n d o q u e o a l u n o e v o l u a s o z i n h o ,
c o m o s e o c o n h e c i m e n t o e s t i v e s s e n o s códigos genéticos. É necessária
u m a interação e n t r e a s p o t e n c i a l i d a d e s d e c a d a e t a p a e o a m b i e n t e —
n o q u a l se i n c l u i a escola — q u e p r e c i s a s e r r i c o e m o t i v a d o r .

MATEMÁTICA CONCRETA

A s relações recíprocas e n t r e o d e s e n v o l v i m e n t o d o indivíduo ( o n t o -


gênese) e o d e s u a espécie (filogênese) l e v a m à integração e n t r e a s
teorias de Piaget e a Antropologia.
E s t u d o s teóricos p e r m i t e m c h e g a r a a l g u m a s constatações. P o r
e x e m p l o , a noção d e permanência d a m a s s a p a r e c e f a z e r p a r t e d a r e v o -
lução d o Neolítico, i s t o é, d o f i m d a Pré-história. C o m o v i m o s n o
capítulo a n t e r i o r , c o m o início d a a g r i c u l t u r a s u r g e a n e c e s s i d a d e d e
v a s i l h a s p e r m a n e n t e s p a r a a r m a z e n a m e n t o d o s grãos. E l a s já e x i s t i a m
a o n a t u r a l ( c u i a s , cabaças e t c ) , m a s não r e s i s t i a m a o f o g o , além d e
s e r e m p e q u e n a s e d e u s o p o u c o sistemático. T e v e início a fabricação
d e c e s t o s trançados e , e m s e g u i d a , s e u r e c o b r i m e n t o c o m b a r r o p a r a
r e s i s t i r a o f o g o . S u r g e a cerâmica. D u a s são a s direções q u e forçam a

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