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M I M i ) 0 M A i K K l AL.I.

SMC) KSlMRIIlVl
Além d o
Materialismo Espiritual
Chõgyam T r u n g p a
••Q percurso c o r r e i o do c a m i n h o csptrituiil c um processo
m u i í o suti! c n ã o alguma coisa a que p o s s a m o s a n r a r - n o s inuu-
n u a n u n i e . E x i s i e m numerosos d e s \ i o s cine levam a uma tlistor-
ç a o egoccnirada da e s p n i i u a l i d a t l e ; jiodemos ÍILKIU-UIIS, imaL!i-
nafuk) que estamos nos desen\t>lvendo espiriiualmenie Ljuando.
na verdade, não ía/enios senão lonaiccer ntí^sti emtcenirismo
por meio de t é c n i c a s es|m'Uuais. A essa d i s i i i r ç ã o hastca potle
d a r - s f o nome de niau-nalisnio cspuiutaí."

-1/(7/7 da fnatcnddMiii) fsi^ininíii e j t r a n s c r i ç ã o de duas


scnes de palestras dadas pov Irnn^Líiia Hinpi)che. em i'-J7í)"7I.
\ palestras discutem, em primeiro lugar, as varias maneiras
. l a s quais ^is pessoas se e n v o l v e m com o materialismo espin-
•.lal. a.s muitas formas de auio-ilu:^ao c m LJUC OS aspu^anles
[H)dem cair. l)ep(Ms desse passeio pelos desvios ao longo do
:''a!cto. discutimos o vertiadeiro caminho espiritual, em seus
intt>rnos mais amplos

"() que Sc apresenta aquie um e i i ! o L | u e huth,-.la clássico -

.ao no senitdo tíMinaí. mas uo scntidii tle nu)strar o cerne do


iloquv hudisía da e s p i n i u a l i d a d e . .Apesar de nao ser l e í s l a . o
•iminho budista nao» contradiz a^ LÍiscipiinas teisías. As diíe-
:,'íiças c n i r e os Lannnhos s ã o mais uma t,[nestao de c n í a s e e de
iicto^lu. ()s p r o h i c i n a s básicos du materialismo espiritual sai*
o n u m s a todas as disciplinas es|iH'iluais

IS9N a 5 - 3 1 S - 9 0 0 5 - -

KDí r o R A c:rLi R í \
o 'fiS531 60005

cuLTRix 3 - edição
C h o g y a m T r u n g p a , R i n p o c h e , f u n d o u várias c o m u n i d a d e s c o n -
t e m p l a t i v a s b u d i s t a s n a América d o N o r t e , s e n d o as d u a s m a i o r e s
K a r m a D z o n g , e m B o u l d e r , C o l o r a d o , e Karmé Chòling, e m B a m e t ,
V e r m o n t . Também f u n d o u u m a c o m u n i d a d e terapêutica e x p e r i m e n t a l
e c r i o u o I n s t i t u t o N a r o p a , e n t i d a d e académica n a q u a l e s t u d a n t e s
p o d e m e x p e r i m e n t a r a interação e n t r e d i s c i p l i n a s b u d i s t a s e o c i d e n -
t a i s . S e n d o d i r e t o r e p r i n c i p a l i n s t r u t o r desses c e n t r o s , r e p r e s e n t a u r u Introdução
a m i g o e m e s t r e d e meditação p a r a inúmeros a l u n o s .
C o m o a décima p r i m e i r a encarnação d o T r u n g p a T u l k u , f o i
e d u c a d o desde a infância, p a r a s e r o a b a d e s u p e r i o r d o s m o s t e i r o s
S u r m a n g , n o leste d o T ' " ^ e t e . Após u m l o n g o e árduo t r e i n a m e n t o ,
f o i i n i c i a d o e e n t r o n i z a d o c o m o h e r d e i r o das linhagens de M i l a r e p a A série d e p a l e s t r a s a q u i c o n t i d a f o i p r o f e r i d a e m B o u l d e r .
e P a d m a s a m b h a v a . A s s i m , c o n c l u i u seus e s t u d o s m e d i t a t i v o s e i n t e - C o l o r a d o , n o o u t o n o de 1 9 7 0 e n a p r i m a v e r a de 1 9 7 1 . Naquela
l e c t u a i s nas tradições Kagyú e N y i n g m a . ocasião, estávamos f o r m a n d o K a r m a D z o n g , n o s s o c e n t r o d e m e d i -
O b r i g a d o a d e i x a r s e u país e m v i r t u d e d a invasão d o T i b e t e tação e m B o u l d e r . E m b o r a a m a i o r i a d e m e u s a l u n o s f o s s e m s i n c e r o s
p e l o s c o m u n i s t a s chineses e m 1 9 5 9 , T r u n g p a p a s s o u três a n o s n a e m s u a aspiração d e s e g u i r o c a m i n h o e s p i r i t u a l , t r a z i a m p a r a o
índia, i n d o d e p o i s p a r a a I n g l a t e r r a c o m a finalidade d e e s t u d a r c a m i n h o u m a g r a n d e d o s e d e confusão, m a l - e n t e n d i d o s e e x p e c t a t i v a s .
religião c o m p a r a d a e P s i c o l o g i a , n a U n i v e r s i d a d e d e O x f o r d . Após D e s s e m o d o J u l g u e i necessário a p r e s e n t a r a m e u s a l u n o s u m a p a n h a d o
q u a t r o anos e m O x f o r d , f u n d o u o p r i m e i r o centro budista t i b e t a n o g e r a l d o c a m i n h o , c o m a l g u m a s advertências a c e r c a d o s p e r i g o s q u e
d e e s t u d o s e meditação n o hemisfério o c i d e n t a l — S a m y e l i n g , n a p o d e r i a m e n c o n t r a r a o percorrê-lo.
Escócia. E m 1 9 7 0 , v i s i t o u a América d o N o r t e e , e m r e s p o s t a a o P a r e c e a g o r a q u e a publicação dessas p a l e s t r a s poderá 'ser útil
i n t e r e s s e extraordinário d e s p e r t a d o p e l o s seus e n s i n a m e n t o s , d e c i d i u àqueles q u e se i n t e r e s s a m p o r d i s c i p l i n a s e s p i r i t u a i s . O p e r c u r s o
f i x a r refidéncia n o s E s t a d o s U n i d o s . c o r r e t o d o c a m i n h o e s p i r i t u a l é u m p r o c e s s o m u i t o s u t i l e não a l g u m a
Lecionou n a Universidade d o C o l o r a d o e t e m viajado largamente coisa a q u e possamos atirar-nos i n g e n u a m e n t e . E x i s t e m numerosos
p e l o s E s t a d o s U n i d o s e Canadá, c o n d u z i n d o seminários e p r o n u n - d e s v i o s q u e l e v a m a u m a distorção e g o c e n t r a d a d a e s p i r i t u a l i d a d e ;
c i a n d o conferências. É a u t o r d e u m a a u t o b i o g r a f i a , d e d o i s l i v r o s d e podemos iludir-nos imaginando q u e estamos nos desenvolvendo
p o e s i a e o u t r a s o b r a s , e n t r e o s q u a i s Tl-ie Myth of Freedom e Sham- e s p i r i t u a l m e n t e q u a n d o , n a v e r d a d e , não f a z e m o s senão f o r t a l e c e r
bah: Sacred Path of the warrior. n o s s o e g o c e n t r i s m o p o r m e i o d e técnicas e s p i r i t u a i s . A essa distorção
O l e i t o r q u e desejar m a i o r e s infoririações s o b r e o s c e n t r o s d e básica p o d e dar-se o n o m e d e materialismo espiritual
T r u n g p a p o d e e s c r e v e r , e m inglês, p a r a : V a j r a d h a t u , 1 3 4 5 S p r u c e A s p a l e s t r a s d i s c u t e m , e m p r i m e i r o l u g a r , as várias m a n e i r a s
S t . , B o u l d e r , C o l o r a d o , 8 0 3 0 2 U . S . A . ; o u , e m português, p a r a o p e l a s q u a i s as p e s s o a s se e n v o l v e m c o m o m a t e r i a l i s m o e s p i r i t u a l ,
G r u p o d e E s t u d o s d o D h a r m a , Cabca P o s t a l 8 . 3 1 2 , 0 1 0 5 1 São P a u l o , as m u i t a s f o r m a s d e auto-ilusão e m q u e o s a s p i r a n t e s p o d e m c a i r .
SP, Brasil. D e p o i s desse p a s s e i o p e l o s d e s v i o s a o l o n g o d o t r a j e t o , d i s c u t i m o s o
v e r d a d e i r o c a m i n h o e s p i r i t u a l e m seus c o n t o r n o s m a i s a m p l o s .
O q u e se a p r e s e n t a a q u i é u m e n f o q u e b u d i s t a clássico - não
n o senrido f o r m a l , m a s n o senrido de m o s t r a r o cerne d o enfoque
b u d i s t a d a e s p i r i t u a l i d a d e . A p e s a r d e não ser teísta, o c a m i n h o b u d i s t a

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não c o n t r a d i z as d i s c i p l i u a s teístas. A s diferenças e n t r e o s c a m i n h o s
p a r a m a n t e r e i n c r e m e n t a r esse e u sólido. T e n t a m o s alimentá-lo c o m
são m a i s u m a questão d e ênfase e d e método. O s p r o b l e m a s básicos
p r a z e r e s e escudá-lo c o n t r a a d o r . A experiência ameaça c o n t i n u a -
d o m a t e r i a l i s m o e s p i r i t u a l são c o m u n s a t o d a s as d i s c i p l i n a s e s p i r i -
m e n t e revelar-nos nossa transitoriedade, de m o d o q u e l u t a m o s conti-
t u a i s . O e n f o q u e b u d i s t i começa c o m a n o s s a confusão e o n o s s o
n u a m e n t e para encobrir qualquer possibilidade de descoberta d a
s o f r i m e n t o , e atua n o sentido de destrinchar sua o r i g e m . O enfoque
n o s s a v e r d a d e i r a condição. " M a s " , poderíamos p e r g u n t a r , "se a n o s s a
teísta começa c o m a riqueza d e D e u s e a t u a n o s e n t i d o d e e l e v a r a
v e r d a d e i r a condição é u m e s t a d o d e s p e r t o , p o r q u e n o s o c u p a m o s
consciência d e m o d o q u e e l a e x p e r i m e n t e a presença d e D e u s . T o d a -
t a n t o e m e v i t a r q u e t o m e m o s consciência d i s s o ? " P o r q u e e s t a m o s
v i a , d a d o q u e o s obstáculos a o r e l a c i o n a m e n t o c o m D e u s são as nossas
tão i m e r s o s e m n o s s a c o n f u s a visão d o m u n d o q u e c o n s i d e r a m o s
confusões e n e g a U v i d a d e s , o e n f o q u e teísta também p r e c i s a l i d a r c o m
r e a l o único m u n d o possível. E s s a l u t a p o r m a n t e r o s e n s o d e u m
elas. O o r g u l h o e s p i r i t u a l , p o r e x e m p l o , causa t a n t o s problemas n a s
e u sólido e contínuo é o b r a d o e g o .
d i s c i p l i n a s teístas q u a n t o n o B u d i s m o .
. 0 ego, c o n t u d o , consegue apenas sucesso parcial e m s u a tenta-
D e a c o r d o c o m a tradição b u d i s t a , o c a m i n h o e s p i r i t u a l é o
t i v a d e d e f e n d e r - n o s d o s o f r i m e n t o . É a insatisfação q u e v e m j u n t o
p r o c e s s o d e a t r a v e s s a r e s u p e r a r a n o s s a confusão, d e d e s c o b r i r o
c o m a luta d o ego que nos inspira a e x a m i n a r o que estamos fazendo.
e s t a d o d e s p e r t o d a m e n t e . Q u a n d o e s t e e s t a d o se e n c o n t r a e n t u l h a d o
E , u m a v e z q u e s e m p r e e x i s t e m h i a t o s n a consciência q u e t e m o s d e
p e l o e g o e p e l a paranóia q u e o a c o m p a n h a , a s s u m e o caráter d e u m
nós i n e s m o s , t o m a - s e possível a l g u m d i s c e r n i m e n t o .
i n s t i n t o s u b U m i n a r . D e s s a f o r m a , não se t r a t a d e c o n s t r u i r o e s t a d o
U m a i n t e r e s s a n t e metáfora e m p r e g a d a n o B u d i s m o t i b e t a n o
d e s p e r t o d a m e n t e , m a s s i m d e q u e i m a r as confusões q u e o o b s t r u e m .
p a r a d e s c r e v e r o f u n c i o n a m e n t o d o e g o é a d o s 'Três S e n l i p r c s d o
N o p r o c e s s o d e c o n s u m i r as confusões, d e s c o b r i m o s a iluminação. S e
M a t e r i a l i s m o " : Í'^"Sen!iQr^da F o r m a " , o ' ' S e n h o r d a F a l a " ^ , e o
o p r o c e s s o fosse o u t r o , o e s t a d o d e s p e r t o d a m e n t e s e r i a u m p r o d u t o
" S e n h o r d a Menté^. N a discussão q u e se segue s o b r e o s Três S e n h o r e s ,
d e p e n d e n t e d e causa e e f e i t o e, a s s i m , passível d e dissolução. T u d o o
as p a l a v r a s " m a t e r i a U s m o " e "neurótico" d i z e m r e s p e i t o à ação
q u e é c r i a d o , m a i s c e d o o u m a i s t a r d e , t e m d e m o r r e r . S e a iluminação
do ego.
f o s s e c r i a d a dessa m a n e i r a , h a v e r i a s e m p r e a p o s s i b i l i d a d e d e o e g o
O S e n h o r d a F o r m a refere-se à perseguição neurótica d o c o n -
r e a f i r m a r - s e , p r o v o c a n d o u m r e t o m o a o e s t a d o d e confusão. A i l u m i -
f o r t o físico, d a segurança e d o p r a z e r . N o s s a s o c i e d a d e a l t a m e n t e
nação e p e r m a n e n t e p o r q u e não a p r o d u z i m o s ; a p e n a s a d e s c o b r i m o s .
o r g a n i z a d a e tecnológica refleté n o s s a preocupação e m m a n i p u l a r
N a tradição b u d i s t a , a a i m l o g i a d o S o l q u e s u r g e p o r trás d a s n u v e n s
o a m b i e n t e físico d e m o d o a n o s s a l v a g u a r d a r d a s irritações i ^ r o v e -
é frequentemente empregada para explicar o descobrimento da i l u m i -
n i e n t e s d o s a s p e c t o s c r u s , r u d e s e imprevisíveis d a v i d a . E l e v a d o r e s
nação. N a prática d a meditação, r e m o v e m o s a confusão d o e g o a fim
a c i o n a d o s p o r botões d e c o m a n d o , c a m e e m p a c o t a d a , a r c o n d i c i o -
d e v i s l u m b r a r o e s t a d o d e s p e r t o . A ausência d a ignorância, d a sensa-
n a d o , p r i v a d a s c o m d e s c a r g a d e água, velórios p a r t i c u l a r e s , p l a n o s
ção d e opressão, d a paranóia, d e s c e n a u m a visão fantástica d a v i d a .
d e a p o s e n t a d o r i a , produção e m m a s s a , satélites meteorológicas,
D e s c o b r i m o s u m m o d o diferente de ser.._
máquinas d e t e r r a p l e n a g e m , l u z e s fluorescentes, empregos das n o v e
O c e r n e d a confusão é o f a t o d e o h o m e m t e r u m senso d e e g o
às c i n c o , televisão - t u d o são t e n t a t i v a s d e c r i a r u m m u n d o c o n t r o -
q u e l h e p a r e c e c o n t i n u e e sólido. Q u a n d o o c o r r e u m p e n s a m e n t o ,
lável, s e g u r o , previsível e p r a z e r o s o .
u m a emoção, o u u m e v e i t o , há o s e n t i d o d e q u e alguém t e m c o n s -
O S e n h o r d a F o r m a não s i g n i f i c a as situações d e v i d a e m s i
ciência d o q u e está a c o n t e c e n d o . Você s e n t e q u e você está l e n d o
q u e c r i a m o s p a r a s e r e m fisicamente ricas e s e g u r a s . R e f e r e - s e , a n t e s ,
e s t a s p a l a v r a s . Esse s e n s o d o e u , n a r e a l i d a d e , é u m o v e n t o transitório,
à preocupação neurótica q u e n o s i m p e l e a criá-las, a t e n t a r c o n t r o l a r
.descontínuo, q u e e m n o s s a confusão p a r e c e p e r f e i t a m e n t e estável e
a N a t u r e z a . O e g o a m b i c i o n a assegurar-se e e n t r e t e r - s e , b u s c a n d a
contínuo. C o m o t o m a m o s p o r r e a l a n o s s a visão c o n f u s a , l u t a m o s
e v i t a r t o d a e q u a l q u e r irritação. Desse m o d o , a g a n a m o - n o s a o s n o s s o s
p r a z e r e s e p r o p r i e d a d e s , t e m e m o s mudanças o u forçamos mudanças, d e r m o s t o d o s o s t r u q u e s e t o d a s as r e s p o s t a s d o j o g o e s p i r i t u a l ,
t e n t a m o s c r i a r u m n i n h o o u umplayground. t e n t a m o s i m i t a r a u t o m a t i c a m e n t e a e s p i r i t u a l i d a d e , já q u e o e n v o l v i -
O Senhor da Fala t e m a ver c o m o emprego d o intelecto n o m e n t o v e r d a d e i r o e x i g i r i a u m a c o m p l e t a eliminação d o e g o , e a
r e l a c i o n a m e n t o c o m o m u n d o . A d o t a m o s grupos de categorias q u e última c o i s a q u e d e s e j a m o s f a z e r é r e n u n c i a r c o m p l e t a m e n t e a e l e .
s e r v e m c o m o a l a v a n c a s , c o m o m e i o s p a r a m a n i p u l a r fenómenos. E n t r e t a n t o , não p o d e m o s e x p e r i m e n t a r a q u i l o q u e e s t a m o s t e n t a n d o
O s p r o d u t o s m a i s p l e n a m e n t e d e s e n v o l v i d o s dessa tendência sSo as i m i t a r ; p o d e m o s a p e n a s e n c o n t r a r a l g u m a área d e n t r o d o s l i m i t e s
ideologias, o s sistemas d e ideias q u e r a c i o n a l i z a m , j u s t i f i c a m e s a n t i - d o e g o q u e pareça s e r a m e s m a c o i s a . O e g o t r a d u z t u d o e m t e r m o s
ficam n o s s a s v i d a s . N a c i o n a l i s m o , c o m u n i s m o , e x i s t e n c i a l i s m o , C r i s - d o s e u próprio e s t a d o d e saúde, d e suas q u a l i d a d e s intrínsecas. E x p e -
t i a n i s m o , B u d i s m o — t o d o s n o s p r o p o r c i o n a m i d e n t i d a d e s , regras d e rimenta u m s e n t i d o d e g r a n d e realização e excitação q u a n d o c o n s e g u e
ação e interpretações d e c o m o e p o r q u e as coisas a c o n t e c e m c o m o _criar u m j o d e l o desse t i p o . F i n a l m e n t e c r i o u u m f e i t o tangível,
acontecem^ u m a confirmação d e s u a própria i n d i v i d u a l i d a d e .
A q u i , n o v a m e n t e , o e m p r e g o d o i n t e l e c t o não é e m s i m e s m o Se f o r m o s b e m - s u c e d i d o s e m m a n t e r a consciência q u e t e m o s d e
o S e n h o r d a F a l a . O S e n h o r d a F a l a i n d i c a a inclinação d o e g o a nós m e s m o s através d e técnicas e s p i r i t u a i s , o d e s e n v o l v i m e n t o e s p i r i -
jnterpretaF-ô-que -quei^^ue seja ameaçador o u i r r i t a n t e d e m o d o a t u a l autêntico será a l t a m e n t e improvável. N o s s o s hábitos m e n t a i s se
n g u t r a l i z a r . a ameaça o u transformá-la e m a l g o " p o s i t i v o " d o p o n t o t o m a m tão f o r t e s que fica difícil penetrá-los. P o d e m o s até c h e g a r
d e v i s t a d o e g o . O S e n h o r d a F a l a refere-se a o u s o d e c o n c e i t o s c o m o a o d e s e n v o l v i m e n t o t o t a l m e n t e demoníaco d a c o m p l e t a " E g o i d a d e " .
f i l t r o s q u e n o s r e s g u a r d a m d e u m a percepção d i r e t a d o q u e é. O s ^ E m b o r a o S e n h o r d a M e n t e detenha o m a i o r poder para sub-
c o n c e i t o s são l e v a d o s d e m a s i a d o a sério; são u t i l i z a d o s c o m o i n s t r u - v e r t e r a e s p i r i t u a l i d a d e , o s o u t r o s d o i s S e n h o r e s p o d e m também
m e n t o s p a r a s o l i d i f i c a r o n o s s o m u n d o e a nós m e s m o s . S e e x i s t e r e g e r a prática e s p i r i t u a l . O r e t i r o n o s e i o d a N a t u r e z a , o i s o l a m e n t o ,
u m m u n d o c o m c o i s a s a que se p o s s a d a r n o m e s , então o " e u " , a gente simples, sossegada, d i g n a — t u d o pode ser m e i o para n o s
c o m o u m a d a s c o i s a s nomeáveis, também e x i s t e . N o s s o d e s e j o é
p r o t e g e r d a irritação, t u d o p o d e s e r expressão d o S e n h o r d a F o r m a .
não d e i x a r espaço a l g u m p a r a dúvidas ameaçadoras, p a r a a i n c e r t e z a
O u t a l v e z a religião n o s fomeça u m a racionalização p a r a c r i a r m o s
o u a confusão. "~ ~
u m n i n h o s e g u r o , u m l a r s i n g e l o m a s confortável, p a r a c o n s e g u i r m o s
O S e n h o r d a M e n t e refere-se a o esforço d a consciência e m u m c o m p a n h e i r o afável e u m e m p r e g o estável e fácil.
c o n s e r v a r a percepção d e s i m e s m a . O S e n h o r d a M e n t e i m p e r a O S e n h o r d a F a l a também se e n v o l v e c o m a prática e s p i r i t u a l .
q u a n d o u s a m o s d i s c i p l i n a s e s p i r i t u a i s e psicológicas c o m o m e i o s d e A o s e g u i r u m c a m i n h o e s p i r i t u a l , p o d e m o s s u b s t i t u i r n o s s a s crenças
c o n s e r v a r a consciência q u e t e m o s d e nós m e s m o s , d e n o s a g a r r a r a o a n t e r i o r e s p o r u m a n o v a i d e o l o g i a r e l i g i o s a , c o n t i n u a n d o , porém, a
s e n s o d e e u . D r o g a s , i o g a , orações, meditação, t r a n s e s , várias p s i c o - usá-la d a a n t i g a m a n e i r a neurótica. P o r m a i s s u b l i m e s q u e sejãrrr
t e r a p i a s - t u d o p o d e ser u s a d o c o m essa finalidade. n o s s a s i d e i a s , se as t o m a m o s c o m e x c e s s i v a s e r i e d a d e e a s . u t i l i z a m o s
O e g o é c a p a z d e c o n v e r t e r t u d o p a r a s e u u s o próprio, i n c l u s i v e para manter_no5so e g o , ainda assim estaremos sendo governados
a e s p i r i t u a l i d a d e . S e a p r e n d e m o s , p o r e x e m p l o , u m a técnica d e pelo Senhor da Fala.
meditação d e n t r o d e u m a prática e s p i r i t u a l p a n i c u l a r m e n t e benéfica, Se e x a m i n a r m o s nossos a t o s , quase t o d o s c o n c o r d a r e m o s ,
o e g o se põe, p r i m e i r o , a tratá-la c o m o u m o b j e t o d e fascinação e , p r o v a v e l m e n t e , e m q u e s o m o s g o v e r n a d o s p o r u m o u m a i s d o s Três
d e p o i s , a examiná-la. P o rfim,v i s t o q u e o e g o é sólido a p e n a s n a S e n h o r e s . " M a s " , poderíamos p e r g u n t a r , " e daí? I s t o é s i m p l e s -
aparência e não p o d e , d e f a t o , a b s o r v e r coisa a l g u m a ; só é c a p a z d e m e n t e u m a descrição d a condição h u m a n a . S i m , s a b e m o s q u e _a
a r r e m e d a r . E m t a i s circunstâncias, e l e p r o c u r a e x a m i n a r e i m i t a r a t e c n o l o g i a não c o n s e g u e pòr-nos a s a l v o d e g u e r r a s , c r i m e s , doenças,
prática d a meditação mnda He yujajTiedkn^^ D e p o i s d e a p r e n - insegurança económica, t r a b a l h o l a b o r i o s o , v e l h i c e .e m o r t e ; t a n T

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p o u c o n o s s a s i d e o l o g i a s n o s r e s g u a r d a m d a dúvida, i n c e r t e z a , confusão t i v a d e a c o m p a n h a r o padrão, u m a t e n t a t i v a d e a c o m p a n l i a r a ener^^ia
e desorientação; n e m p o d e m a s n o s s a s t e r a p i a s p r o t e g e r - n o s d a e a v e l o c i d a d e . D e s s a f o r m a , a p r e n d e m o s c o m o l i d a r c o m esses f a t o r e s ,
dissolução d o s a l t o s e s t a d o s d e consciência q u e v i e r m o s t e m p o r a - c o m o r e l a c i o n a r - n o s c o m e l e s , não n o s e n t i d o d e fazé-los a m a d u r e c e r
riãmentea alcançar óiTdãniesllusão e angústia daí d e c o r r e n t e s . M a s c o m o gostaríamos, m a s n o s e n t i d o d e conhecè4os c o m o são e d e
q u T o u t r a c o i s a p o d e m o s f a z e r ? O s Três S e n h o r e s p a r e c e m p o d e r o s o s t r a b a l h a r c o r n o s e u padrão! ~ " " —
d e m a i s p a r a s e r e m d e r r u r ' a d o s e não s a b e m o s c o m q u e poderíamos Há u m a h i s t o r i a s o b r e o B u d a e m q u e se c o n t a c o m o e l e , d e
substituí-los." u m a f e i t a , t r a n s m i t i u e n s i n a m e n t o a u m íimoso t o c a d o r d e cítara
P e r t u r b a d o p o r essas indagações, o B u d a e x a m i n o u o p r o c e s s o q u e d e s e j a v a e s t u d a r meditação. P e r g u n t o u o músico: " D e v o c o n -
p e l o q u a l o s Três S e n h o r e s g o v e r n a m . I n v e s t i g o u p o r q u e n o s s a s t r o l a r m i n h a m e n t e o u d e v o deixá-la c o m p l e t a m e n t e s o l t a ? " O B u d a
m e n t e s o s s e g u e m e se não h a v i a u m o u t r o c a m i n h o . D e s c o b r i u r e s p o n d e u : ' V i s t o q u e você é u m g r a n d e músico, d i g a - m e c o m o
q u e o s Trés S e n h o r e s n o s s e d u z e m c r i a n d o u m ^ m i t o f u n d a m e n t a l : a f i n a r i a as c o r d a s d o s e u i n s t r u m e n t o . " D i s s e o músico: " E u não
o d e q u e s o m o s seres c o n c r e t o s . T o d a v i a , o m i t o , e m última análise, as d e i x a r i a ficar n e m d e m a s i a d o r e t e s a d a s r . c m d e m a s i a d o f r o u x a s . "
é falsOj u m a i m e n s a b u r ; a , u m a f r a u d e gigantesca, a r a i z d o n o s s o " D a m e s m a f o r m a , " a c u d i u o B u d a , " n a sm^praíica^a meditação
s o f r i m e n t o . P a r a f a z e r essa d e s c o b e r t a , e l e p r e c i s o u r o m p e r as d e f e s a s você não d e v e i m p o r n a d a c o m demasiada„força á s u a m e n t e , n e m
m u i t o c o m p l e x a s e r g u i d a s p e l o s Trés S e n h o r e s , c o m o fim d e i m p e d i r d e v e p e r m i t i r q u e fique a o léu." E i s aí o e n s i n a m e j i t 2 _ d e x Q m Q ^ d e t a r
q u e seus súditos d e s c o b r i s s e m o e n g a n o f u n d a m e n t a l q u e é a o r i g e m a. m e n t e ser d e u m m o d o b a s t a n t e a b e r t o , do c o m o s e n t i r o fluxo d a
d o p o d e r d e l e s . Não p o ; . e r e m o s , d e m a n e i r a a l g u m a , l i v r a r - n o s d o e n e r g i a s e m t e n t a r sujeitá-lo e s e m d e i x a r c|ue e l e se d e s c o n t r o l C j ^ e
domínio d o s Três S e n h c e s a m e n o s q u e nós, também, c o r t e m o s e c o m o a c o m p a n h a r o padrão d a e n e r g i a d a m e n t e . E s s a é a prática d a
a t r a v e s s e m o s , c a m a d a p o : c a m a d a , as s u a s c o m p l e x a s d e f e s a s . meditação.
A s defesas d o s S e n h o r e s são c r i a d a s c o m m a t e r i a l d a s n o s s a s TãTprática se f a z necessária, v i a d e r e g r a , p o r q u e o padrão d o
m e n t e s , q u e eles u t i l i z a m p a r a p r e s e r v a r o m i t o básico d a s o l i d e z . nosso p e n s a m e n t o , o nosso m o d o conceitualizado de conduzir a vida,
A f i m d e e n x e r g a r p o r nós m e s m o s c o m o este p r o c e s s o f u n c i o n a , o u é demasiado manipulativo, impondo-se ao m u n d o , o u completa-
p r e c i s a m o s e x a m i n a r n o s s a própria experiência. " M a s c o m o , " p o d e - m e n t e d e s g o v e m a d o e s e m c o n t r o l e . P o r c o n s e g u i n t e , n o s s a prática
m o s p e r g u n t a r , " h a v e r e m o s d e c o n d u z i r e s t e e x a m e ? Q u e método o u d a meditação p r e c i s a começar c o m a c a m a d a m a i s . s u p e r f i c i a l d o e g o ,
i n s t r u m e n t o v a m o s u s a r ? " O método d e s c o b e r t o p e l o B u d a f o i ^ a c o m o s p e n s a m e n t o s d i s c u r s i v o s q u e estão s e m p r e a a t r a v e s s a r - n o s a
meditação. E l e v e r i f i c o u q u e l u t a r p a r a e n c o n t r a r r e s p o s t a s não s u r t i a m e n t e , c o m a nossa tagareUce m e n t a l . O s Senhores e m p r e g a m o
e f e i t o . Só q u a n d o h a v i a b r e c h a s n a s u a l u t a é q u e l h e a c u d i a m d i s c e r - p e n s a m e n t o d i s c u r s i v o c o m o a s u a p r i m e i r a l i n h a d e defesa, c o m o
n i m e n t o s . Começou a dar-se c o n t a d e q u e e x i s t i a d e n t r o d e s i u m a peões, e m s e u esforço p a r a i l u d i r - n o s . Q u a n t o m a i s g e r a m o s p e n s a -
q u a l i d a d e s a d i a e d e s p e r t a q u e só se m a n i f e s t a v a n a ausência d e m e n t o s , t a n t o mais ocupados n o s tornamos mentalmente e tanto
l u t a . P o r i s s o , aprática d a meditação i m p l i c a " d e i x a r s e r " . m a i s n o s c o n v e n c e m o s d a n o s s a existência. D e s s e m o d o , o s S e r u i o r e s
1^ T e m h a v i d o u m a séne d e i d e i a s erróneas a c e r c a d a meditação. estão c o n s t a n t e m e n t e t e n t a n d o a t i v a r esses p e n s a m e n t o s , t e n t a n d o
A l g u n : a s pessoas a c o n r i d e r a m u m e s t a d o m e n t a l s e m e l h a n t e a u m c r i a r u m a c_onstante s o b r e p o s i ^ ^ l d s , ppuiiãmgnt^, p a r a q u e n a d a
t r a n s e . O u t r a s p e n s a m n^^la e m t e r m o s d e t r e i n a m e n t o , n o s e n t i d o m a i s se p o s s a v e r alénTíeles. N a v e r d a d e i r a meditação não e x i s t e a
d e ginástica m e n t a l . A meditação, c o n t u d o , não é n e n h u m a dessas fambição d e s u s c i t a r p e n s a m e n t o s , e t a m p o u c o e x i s t e T~ãmbiçãQ.,dfr>
c o i s a s , e m b o r a U d e c o m e s t a d o s m e n t a i s neuróticos. Não é difícil j u p r i m i - l o s . P e r m i t e - s e a p e n a s q u e o c o r r a m e s p o n t a n e a m e n t e e se
n e m impossível U d a r c o m t a i s e s t a d o s . E l e s têm e n e r g i a , p r e s s a e u m t o m e m a expressão d e u m a s a n i d a d e básica. E l e s se t o r n a m a e x p r e s -
c e r t o padrão. A prática d a meditação i m p l i c a deixar ser — u m a t e n t a - são d a precisão e d a c l a r e z a d o e s t a d o d e s p e r t o d a m e n t e . i
Se f o r v a z a d a a s u a e s t r a t e g a d e e s t a r s e m p r e c r i a n d o p e n s a -
m e n t o s s o b r e p o s t o s , o s S e n h o r e s , então, a g i t a m emoções p a r a d i s t r a i r -
n o s . A q u a l i d a d e e x c i t a n t e , c o l o r i d a e dramática d a s emoções n o s
p r e n d e a atenção c o m o se estivéssemos a s s i s t i n d o a u m f i l m e a b s o r -
v e n t e . N a prática d a meditação não e n c o r a j a m o s as emoções n e m as
r e p r i m i m o s . V e n d o - a s c o m c l a r e z a , d e i x a u : j q u e s e j a m c o m o são,
não m a i s p e r m i t i m o s q u e s i r v a m d e m e i o s p a r a n o s e n t r e t e r e d i s t r a i r .
D e s s a m a n e i r a , elas se t o m a m a e n e r g i a inexaurível q u e e x e c u t a a
ação s e m e g o .
N a ausência d e p e n s a m e n t o s e emoções, os S e n h o r e s i n t r o d u z e m !
u m a a r m a a i n d a m a i s p o d e r o s a , o s c o n c e i t o s . A rotulação d o s fenô-
meno_s_ciia.ji^sensaçTo .de u m m u n d o sóíidõ"e d e f i n i d o d e ~ " c ó ^ a s ^
U m m u n d o estável r e a s s e g u r a q u e s o m o s , i g u a l m e n t e , u m a c o i s a sólida
e contínua. O m u n d o e x i s t e e , p o r t a n t o , e u , q u e o p e r c e b o , também
e x i s t o . A meditação i m p l i c a v e r a transparência d o s c o n c e i t o s , dc
s o r t e q u e a rotulação já não s e r v e c o m o m e i o d e s o l i d i f i c a r o n o s -
so m u n d o e a n o s s a i m a g e r n d o e u . A rotulação passa a ser, s i m p l e s -
m e n t e , a t o d e discriminação. O s S e n h o r e s a i n d a têm o u t r o s m e c a n i s -
m o s d e defesa, m a s s e r i a p o r d e m a i s c o m p l i c a d o d i s c u t i - l o s n o p r e -
sente contexto.
M e d i a n t e o e x a m e d o s seus próprios p e n s a m e n t o s , emoções,
c o n c e i t o s e d e m a i s a t i v i d a d e s m e n t a i s , o B u d a d e s c o b r i u q u e não
p r e c i s a m o s l u t a r p a r a p r o v a r n o s s a existência, não p r e c i s a m o s ficar
s u j e i t o s aõ j u g o d o s Três S e n h o r e s d o M a t e r i a l i s m o . Não há n e c e s s i -
d a d e d e l u t a r p a r a s e r m o s l i v r e s ; a ausência d e l u t a , e m s i m e s m a ,
é l i b e r d a d e . E s t e e s t a d o d e s p r o v i d o d e e g o é a realização d a N a t u r e z a
Búdica. Ú p r o c e s s o d e t r a n s f o r m a r o m a t e r i a l d a m e n t e p a r a q u e
d e i x e d e s e r expressão d a ambição d o e g o e passe a ser, p o r m e i o d a
prática d a meditação, expressão d a s a n i d a d e básica e d a iluminação —
eis o q u e poderíamos c h a m a r d e v e r d a d e i r o c a m i n h o e s p i r i t u a l .

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