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Tradução
EDUARDO BRANDÃO
Revisãqtécnica
SALMA TANNUS MUCHAIL
MÁRCIO ALVES DA FONSECA
Martins Fontes
São Paulo 2006
Esta obrn foi publicada ongina/mente em francês com o /(tu fo
LE POUVOIR PSYCHJATRJQUE por Édilions du Se11i/ , Paris.
Copyright © Seuil/Gnllimnrd, 2003.
Co1n1right © 2006, Uvrarin Marfins Fontes Editora Udn.,
Srio Paulo, pnra a presenteedição.
1• edição 2006
Foucault,Michel, 1926-1984.
O poder psiquiátrico : curso dado no College de France
(1973-1974)/ Michel Foucault; ediçãoestabelecidapor Jac-
quesLagrange,soba direçãode FrançoisEwald e Alessandro
Fontana; traduçãoEduardoBrandão; revisãotécnicaSalma
Tannus Muchail, Márcio Alves da Fonseca . - São Paulo :
Martins Fontes,2006. - (Tópicos)
06-2871 CDD-616.89001
Índices para catálogo sistemático:
1. Ética e loucura: Psiquiatria: Ciênciasmédicas 616.89001
2. Loucura e ética: Psiquiatria:Ciênciasmédicas 616.89001
Nota ········ ··· ···· ···· ·· ··········· ···························· ·· ···· ···· ········ ···· XI
Índices
Índice das noções.................................................... 481
Índice de nomesde pessoas.... .... ..... ... .... .. .. ... .. ... .. 495
Índice de nomesde lugar....................................... 509
OTA
*
O PODERPSIQUIÂTRICO
4
fa~ com que o_asil_o 1:~º seja, como nos diriam os psicosso-
c10 ogos,uma1nshhnçaoque funciona de acordocom certas
regras;e um ~ampo na realidade olatizadopor uma dissi-
e na essencialdo poder,que adquireportantosua forma
suafigura, suainscriçãofísica no próprio corpo do médicd.
Mas essepoder do médico, claro, não é o único oder
ue se exerce;porque,no asilo como em toda parte, o po-
er nunca éF aquilo que a guém detém, tampoucoé o que
emanade alguém.O podernãopertencenema alguémnem,
á1iás,a um grupo; só há poderporquehá dispersão,inter-
mediações,redes 1 apoiosrecíprocos,diferençasde otencial,
e asagens,etc. nessesistemade diferenças,que será re-
ciso analisar,que o poderpoaesepôr em funcionamento.
r, Vocêstêm portantoem torno do médico toda urna sé-
uie de intermediações;os principaissão os seguintes:
Os vigilantes,primeiro, aos q_uaisFodéréreservaa tare-
fa de informar sobreos cfoentes,de ser o olhar não armado,
nao científico, urna es écie de c a ~ o qual vâi
se exercero olhar científico, isto é, o olhar ob·etivodo ró rio
psiquiatra. Esse olhar intermediário, proporcionado_pelos
vigilantes,é iguâlfhenteum olhar ue devesevoltar paraos
servenes, ísto é, para os 9ue detêmo último elo da autori-
a e. vi anteê,ortanto,ao mesmotemyoo mestredos
u timos mestrese aquelecujo ·scurso,cujo oThar, cujasoô-
serva oese relações devem QOSsibilitara constitui ão do sa-
ber médico.O que sãoos vigilantes?Como devemse ? "Há
que exigir num vigilante de insensatosurna estaturade como
'berrirroporcionada , músculoscheiosde força,e vi or, uma
p ostura altiva e intrépida se for o caso,urna voz cu·o tom
sejafulminante uandoneces~ário;,além disso,ele deveser
e uma probidadesevera ter:..costumespuros uma firmeza
compatívelcom formas docese persuasivas[...] e uma do-
cili ade absolutaàs ordensdo médico."")
.. Enfim - eu passopor cima de certo númerode interme-
diações-, a última etapaé constituída elos serve es e
detêmum po er cunos1ssímo. e fato, o serventeé Q
o inEermeâianodessarede, dessadiferençade t.___
8 O PODER PSIQUIÁTRICO
*
Temosaí, por assimdizer, um primeiro pacotede pro-
blemas.É o ponto de partidado que eu queria estudarum
pouco esteano. Grossomodo,é o ponto de chegadaou, em
todo caso,de interrupçãodo trabalhoque eu havia feito antes
na História da loucura16• É nesseponto de chegadaque eu
gostariade retomaras coisas;só que com certo númerode
diferenças.Parece-meque, nessetrabalho,de que me sirvo
como referênciaporque é, para mim, uma espéciede back-
ground para o trabalhoque faço agora,havia certo núme-
ro de coisasque eram perfeitamentecriticáveis,sobretudo
no último capítuloem que eu chegavaprecisamenteao po-
der asilar.
Em primeiro lugar, creio que eu havia ficado numaaná-
lise dasrepresentações. Parece-meque eu tinha tentadoes-
AULA DE 7 DE NOVEMBRODE 1973 17
con10 que w11 hábito dos reis perdera cabeça.É urna cena
que ten1 ünportânciaporquepõe em cenaexatamenteo que
podia ser, desdeessaépoca,a práticapsiquiátricaenquanto
manipulaçãoregradae concertadadas relaçõesde poder.
Eis o texto de Pinel, que é o que circulou na Françae tor-
na conhecidoessecaso:
"Um monarcaUorge III, rei da Inglaterra; M.F.] entra
e1n maniae, paratornar suacura1naisprontae mais sólida,
não se faz nenhumarestriçãoàs medidasde prudênciada-
quele que o dirige [notem a palavra:é o médico; M.F.]; por
conseguinte,todo o aparelhoda realezase desvanece,o alie-
nado, afastado da fami1ia e de tudo o que o rodeia,é relega-
do a um palácio isoladoe encerradosozinhonum quartocujo
chão e cujasparedes são forradasde colchõespara que ele
fique impossibilitadode seferir. Aqueleque dirige o tratamen-
to lhe declaraque ele não é mais soberano,que devedali em
dianteser dócil e submisso.Dois dos seusantigospajens,de
urna estaturade Hércules,são encarregadosde atenderàs
suasnecessidades e prestar-lhetodosos bonsofícios que sua
condiçãoexige, mastambémde convencê-lo de que ele está
sob a inteira dependênciadelese que doravantedeve obe-
decer-lhes.Elesobservamcom ele um tranqüilo silêncio,mas
em todasas ocasiõesfazem que sinta o quantoeles lhe são
superioresem força. Um dia, o alienado,em seufogoso de-
lírio, recebeduramenteseu ex-médicoque o vem visitar, e
o cobre de dejetose imundices.Um dos pajensentra ime-
diatamenteno quarto semdizer nada,agarrapela cintura o
delirante,tambémreduzido a um estadode sujeira repug-
nante,derruba-onuma pilha de colchões,despe-o,limpa-o
com urna esponja,troca suasroupase, olhandoparaele com
altivez, afasta-selogo em seguidae volta para o seu lugar.
Lições assim,repetidasa intervalosdurantealgunsmesese
secundadas por outrosmeiosde tratamento,produziramuma
cura sólida e semrecaída."2
Eu gostariade analisarum pouco os elementosdessa
cena.Há, primeiro, parece-me,algo que salta aos olhos no
texto de Pinel, que tomouemprestadode Willis, que era o mé-
AULA DE 14 DE NOVEMBRO DE 1973 27
e, ao seu corpo.
Destituição,queda do rei portanto; mas não tenho a
impressãode que seja do mesmotipo que poderíamosen-
contrar, digamos,num drama shakespeariano:não é nem
Ricardo III ameaçadode cair sob o poder de outro sobera-
no4, nem o rei Lear despojadoda sua soberaniae errando
pelo mundona solidão,na misériae na loucura5 • Na verdade,
a loucura do rei Uorge ill], ao contrário da do rei Lear, que
o fazia errar pelo mundo,fixa-o num ponto precisoe1sobre-
tudo, o faz cair sob um poderque não é um outro poderso-
berano;ela o faz cair sob um poderque é de um tipo total-
mentediferentedo da soberaniae que, creio, se opõe a ela
tern10 a termo. É um poderanônin10, semnome,semrosto,
é um poder que é repartido entre diferentespessoas ; é um
poder, sobretudo,que se manifestapela implacabilidadede
um regulamentoque nem sequerse formula, já que, no fun-
0) O PODER PSIQUIÁTRICO
-cruasformas.
Ou a representação do rei ê!erreiro,de coura a de ar-
mas, o rei que ostentae torna sensívela suaonipotênciao
fêi Hêrcules,se assimpodemosdizer; e, ao lado dele1 abaixo
ãele, su6metiaosa essaespéciede 12oderesmagador,per-
sonagensque saoa nyresentação da submissão,da fr,aque-
za, a errata, a escravidão,eventualmenteda beleza.E essa,
p_o emosdizer, uma dasprimeirasoposiçõesq__ue encontra-
mos na iconografiado pôdêi reãl
Vocês têm outra ossibili dade, com um jogo de o osi-
ções,masque se dá de outra maneir . É o :r:ei nãohe.r:cúleo,
maso rei êle estaturahumana,que é despojadode todos os
signosvisiveis e imediatosda força física, que só é revestido
ãossiml5olos o seupoder; o rei em seumantode arminho,
~om seucetro,seuglobo e, abaixodele ou com a do-o,
a representação visível de urna for a ue lhe é submetida:
ossoaa os, os pajens,os servidores,que são a represent a-
çao de uma orça, mas de uma força que é, de certo modo,
comandaaasilenciosamente por intermédiodesses elen1en-
tos simi:;ólicos do poder: cetro,manto, coroa, etc. Parece-n1e
que e assrm,grossom o o, que se vêem representadas na ico-
nogr a asrelaçoéstlo rei com os servi ores: sempre no modo
da oposição,n1assob a forma dessas duas oposições.
Ora, aqui, nessacenacontada por Pinel a partir de Wtllis,
vocês encontramos mesmoselementos , mas inteiramente
deslocadose transformados.Por um lado, vocês têm a for -
ça selvagemdo rei, quevoltou a sera besta hun1ana, o rei qu
*
Entãoo que é essepoderdisciplinar?É dissoque eu que-
ria lhes falar estanoite.
Estudá-lonão é muito fácil. Primeiro porquetomo uma
escalade tempo, no fim das contas,bem ampla: tomarei
exemplosnas formas disciplinaresque vão aparecerno sé-
culo XVI e que se desenvolvematé o fim do séculoXVIII. Não
é fácil tambémporque, para fazer direito as coisas,seria
precisoanalisaressepoderdisciplinar, essajunção corpo-
poder,em oposiçãoa outro tipo de poder,que o teria pre-
cedido,que teria se justapostoa ele. É o que vou começar
a fazer, sem ter aliás muita certezado que digo a vocês.
Parece-meque poderíamosopor o poder disciplinar a
um poderque o precedeuhistoricamente,com o qual, aliás,
ele semisturoupor muito tempo,antesde triunfar. Essepoder
que o precedeueu chamarei,em oposiçãoportantoao po-
AULA DE 21 DE NOVEMBRODE 1973 53
*
O discursodasciênciashumanastem precisamentepor
função conjuminar,acoplaresseindivíduo jurídico com esse
72 O PODERPSIQUIÁTRICO
*
Encontramosoutra aplicaçãodessedispositivo discipli-
nar num outro tipo de colonizacão:não mais a da iuventude.
O PODER PSIQUIÁTRICO
6
ma simplesmentea colonizaçãodos_povos_colonizados.E
aí temosun1a histólia bem curiosa.SenapreCisover c01n cer-
to detalhecomo os esquemasdisciplinaresfora1n ao inesmo
tempo aplicadose aperfeiçoadosnas PºP1:1l~ç_õescolonia_is.
Pareceque essadisciplinarizaçãose fez, de lillCIO, de manerra
bastantediscreta,marginale, cwiosamente,em contraponto
à escravidão.
De fato, foram os jesuítas,adversáriosda escravidão-
por razõesteológicase religiosas,m~s. també1npor razõ~s
econômicas-,que opuseram,na Amencado Sul, a essauti-
lização,ao que pareceimediata,brutal e altamenteconsu-
midora de vidas humanas,a essaprática da escravidãotão
onerosae tãopouco organizada,outro tipo de distribuição,
de controle e de exploração[ ... *] por um sistemadiscipli-
nar. E as célebresrepúblicasditas "comunistas"dos guara-
nis, no Paraguai,na realidadeerammicrocosmosdisciplinares
nos quaisse tem um sistemahierárquicocujas chavesesta-
varn nasmãosdos própriosjesuítas;os indivíduos,as comu-
nidadesguaranisrecebiamum esquemade comportamento
absolutamenteestatutárioque lhes indicava a organização
do tempo a que deviam obedecer,indicava as horasdas re-
feições,de descanso,despertava-os à noite paraque pudes-
sem fazer amor e filhos na hora marcada11 • Plenaocupação
do tempo,por conseguinte.
Vi~ância pe~anente:nas aldeias dessasrepúblicas
guaranisca?aum hnha seu alojamento;mas, ao longo de
to??sos alo1amentos,haviaumaespéciede caJçadaque per-
mitia olhar pelasjanelas,as quais,é·c1aro,não fínham folhas
a__ fe~há-las,de modo que de noite pudessehavér umavigi -
l~nCia sobreo que cadaum fazia. Tinha-setambéme prin-
cipalmente_uma,espéciede individualização,pelo menosno
ruvel _da rrucrocelula~arniliar, já que cadauma - que, aliás,
rompiaa velh~ comurudadeguarani- recebiaum alojamento,
e er~ e_s:e~OJamento,precisamente,que era objeto do olho
da VIgilancia.
* Gravação: "humanos".
AULA DE 23 DE NOVEMBRODE 1973 87
*
De fato, existiu uma formalizaçãomuito nítida, muito
evidentedessamicrofísicado poderdisciplinar; essaformali-
O PODER PSIQUIÁTRICO
92
dência que foi stabelecido de uma vez por todas sob a for -
ma do casamento ou ob a fom1a do nascim ento. E é essa
ref rência ao ato anterior, ao estatuto conferido de mna vez
por todas, que dá solid ez à família; os mecanismos de vigi-
lânciaapenas e enxertamaí e, mesmoque não atuem., o per-
tencimento à família continua a se manter. A vigilância é
upletiva em relaçãoà fa1n ília; ela não é constitutiva, ao pas-
o que no sistemasdi ciplinaresa vigilância pern1anente é
absolutamenteconstitutivado sistema.
Enfim, na família vocês têm todo esseentrelaçamento
de relaçõesque poderíamosdizer heterotópicas: entrelaça-
mentosdos vínculoslocais,contratuais, dos vínculosde pro-
priedade,dos compromissospessoaise coletivos, que lem-
bra o poderde soberania,e de modo algum a monotonia,a
isotopia dos sistemasdisciplinares. De sorte que eu coloca-
rei radicalmenteo funcionamentoe a microfísica da farru1ia
no nível do poderde soberania, e não no nível do poderdis-
ciplinar. Isso não quer dizer, a meu ver, que a farru1ia seja o
resíd uo, o resíduo anacrônicoou, em todo caso, o resíduohis-
tórico de wn sistemaem que asociedade estava inteiramen-
te penetradapelos dispositivosde soberania. A família não
é um resíduo,um vestígio de soberania, ela é, ao contrário,
parece-me,wna peça essencial,e cada vez mais essencial
ao sistemadisciplinar.
Creio que poderíamosdizer o seguinte: a família, na
medidaem que obedecea wn esquema não disciplinar, a um
dispositivo de soberania,é a articulação, o ponto de engate
absolutamente indispensáve l ao próprio funcionamento de
todos os sistemasdisciplinares.Quero dizer que a família é
a instânciade coerçãoque vai fixar permanentemente os
indivíduosaosaparelhosdisciplinares, que vai de certomodo
injetá-losnos aparelhosdisciplinares. É porque a família exis-
te, é porquevocêstêm essesistema de soberania que age na
sociedadesob a forma da família, que a obrigação escolar
age e que as crianças,enfim os indivíduos, essas singulari -
dadessomáticassão fixadas e por fim indivi dualizadas no
AULA DE 28 DE NOVEMBRODE 1973 101
0
agentesda organizaçãode um dispositivod~sciplinarque
ai se ligar, se precipitaronde se produz un1 hiato na sobe-
rania familiar?
Vejam o que acontec~ul:ist01icar1:1e1:te._A ~nç~o-psi
nasceuevidentementeno amb1toda ps1qwatna;isto e, nas-
ceu no início do séculoXIX, do outro lado da família, como
uma espéciede par em relaçãoa ela. Quandoum in~vídu_o
escapaà soberaniada família, é internadono hospital psi-
quiátrico, onde tratamde adestrá-loparaa aprendizagemde
uma disciplina pura e simples,de que lhes dei algunsexem-
plos noscursosprecedentes e em que, poucoa pouco,ao [lon-
go] do séculoXIX, vocêsvão ver nascerreferênciasfamilia-
res; e, pouco a pouco, a psiquiatriavai se apresentarcomo
empreitadainstitucional de disciplina que vai possibilitar a
refamiliarizaçãodo indivíduo.
A função-psinasceu,portanto,dessaespéciede par em
relaçãoà família. A familia requeriao internamento;o indi-
víduo erapostosob disciplinapsiquiátricae devia-serefami-
liarizá-lo. Depois, pouco a pouco,a função-psise estendeu
a todosos sistemasdisciplinares:escola,exército,oficina, etc.
Vale dizer que essafunção-psidesempenhou o papelde dis-
ciplina para todos os indisciplináveis.Cadavez que um in-
divíduo era incapazde seguir a disciplina escolarou a dis-
ciplina da oficina, ou a do exército,no limite a disciplina da
prisão, a fw1ção-psi intervinha. E intervinha com um dis-
curso no qual ela atribuía à lacuna,ao enfraquecimentoda
família, o caráterindisciplinável do indivíduo. Assim vocês
vêem aparecer,na segundametadedo séculoXIX, a impu-
taçãoà carênciafamiliar de todasas insuficiênciasdiscipli-
naresdo indivíduo. Depois,enfim, no início do séculoXX, a
função-psitornou-seao mesmotempo o discursoe o con-
trol~ de todos os sistemasdisciplinares.Essafunção-psifoi
o discursoe a instituição de todos os esquemasde indivi-
dualização,de normalização,de sujeiçãodos indivíduos no
interior dos sistemasdisciplinares.
. Ass~m'.v~cêsvêem aparecera psicopedagogiano inte-
nor da d1sc1plinaescolar,a psicologiado trabalhono interior
AULA DE 28 DE NOVEMBRO DE 1973 107
1cs ordrcs religieux, t. II, col. 326-354. [b] H . C. Lea, A Hi story of the
fnquisition of the Middle Ages,t. I, NovaYork, Harpers~nd Brothers,
1 7 pp. 243-304 [Hi stoire de l'Jnquisition au Moyen Age, trad. fr. S.
Rein~ch, t. I, cap.VI, " Les ordresmenctiants",Paris,Sociéténouvel-
le de librairie et d'édition, 1900,pp. 275-346]. [c] E. d'Alençon,ver-
b te " FreresMineur ", in Dictionnairede théologie catholique, t.VI (ci-
tado), col. 809-863. [d] P Gratien,Histoire de la fondation et de l'évolu -
tion de /'ordre des Freres Mineurs au ){VIII' siecle,Gembloux,J. Duculot,
1928. [e] F. de Ses evalle, Histoire généralede l'ordre de Saint-François,
Le Puy-en-Velay, Éd. de la Revue d'histoire fr~ciscaine, 2 vo~.,
1935-1937. [f] J. Moorman, A history of the FranciscanOrder from zts
Origins to the Year 1517, Oxford, ClarendonPress,1968.
(c) É em 1247 que o papaInocêncioIV faz entrar na família
dos " mencticantes " a ordem da Bem-Aventurada Virgem Maria do
Monte Carmelo.Sobreos carmelitas,ordemfundadaem 1185 por
Bertoldo de Calábria,cf.: [a] R. P. Helyot et ai., Dictionnaire des ar-
dres religieux, t. I, col. 667-705. [b] B. Zimrnerman,verbete"Carrnes
(Ordre des)" , in Dictionnaire de théologie catholique, t. II (cit.), col.
1776-1792.
(d) O papaInocêncioIV é quemdecidereunir numasó comu-
nidadeos eremitasdaToscanano âmbito da ordemdos agostinianos.
O. J.Besse,verbete"Augustin", in Dictionnairede théologiecatholique,
t. I, org. A.Vacant, Paris,Letouzeyet Ané, 1903, col. 2472-2483.So-
bre as "ordensmendicantes"em geral,cf. (além do capítuloque lhes
consagraH. C. Lea, A History of theInquisition..., pp. 275-346[Histoi-
rede l'Inquisition ..., trad. cit., t. I, pp. 458-9]): [a] F.Vernet,Les Ordres
mendiants, Paris, Bloud et Gay (" Bibliotheque des sciencesreli-
gieuses"54), 1933. [b] J. Le Goff, "Ordres mendiantset urbanisa-
tion dansla Francemédiévale",AnnalesESC,1970, n? 5: Histoire et
Urbanisation, pp. 924-65. M. Foucault retorna às ordens mendi-
cantesna Idade Média no âmbito de uma análisedo "cinismo"; cf.
Curso (cit.) do ano 1983-1984:"O governo de si e dos outros. A
coragemda verdade",aula de 29 de fevereiro de 1984.
8. Cf. supra, pp. 74-5, nota 4.
9. JanVan Ruysbroek(1294-1381)funda em 1343 uma comu-
nidadeem Groenendaal,perto de Bruxelas,que ele transformaem
~arço de 1350 nu~a ordem religiosa vivendo sob a regra agosti-
mana, consagradaa luta contra as heresiase o relaxamentodos
costumesda Igreja. Cf.: [a] F. Hermans, Ruysbroek l'Admírable et
son école,Paris,Fayard,1958. [b] J. Orcibal,Jean de la Croix et les mystí-
AULA DE 28 DE NOVEMBRODE 1973 113
*
Voltemosagoraàscasasde saúdede Brierre de Boismont,
Blanche, etc. o fundo, de que se trata?Trata-sede tirar pro-
veito, e o máximo proveito,dessamarginalizaçãoem que con-
siste a disciplina psiquiátrica.Ora, se é evidenteque a dis-
ciplina psiquiátrica,em suaforma global, tem por finalidade
essencialpôr fora de circuito certo númerode indivíduosinu-
tilizáveis no aparelhode produção,vocêspodem,em outro
nível e numaescalamais restritae com uma localizaçãoso-
cial diferente,criar uma nova fonte de lucro*.
De fato, a partir do momentoem que certo númerode
indivíduospertencentes às classesabastadastambémvão, em
nome do mesmo saberque interna, ser marginalizados,a
partir dessemomentovai ser possíveldelestirar certaquan-
tidade de lucros.Vale dizer que vai se poderpedir às famílias
que dispõemde meios "pagarparaser curado".Vocês estão
vendo que, por conseguinte,vamoster um primeiro movi-
mentodo processoque vai consistirno seguinte:pedir, à fa-
mfüa do indivíduo declaradodoente,um benefício,massob
certo númerode condições.
É necessárioevidentementeque o doentenão possaser
curadoem casa.Vai-se continuarportantoa fazer valer, para
essedoente,fonte de lucro, o princípio do isolamento:"Você
não vai ser curadona suafamilia. Mas, se pedimosà suafa-
milia que paguepara você ser internadofora dela, temos é
claro de garantirà suafamilia que lhe devolveremosalguém
à imagemdela." Ou seja,é precisodar à família certo bene-
*
Esseexemplonosleva aliásao problemaque gostariade
abordaragorae que é: a esseespaçodisciplinar, ainda não
160 O PODER PSIQWÁTRICO
8. Ibid., p. 14.
9. Ibid.
10. Ph. Pinel, Traité médico-philosophiquesur l'aliénation men-
tale, ou la Maníe,op. cit., seçãoVI, § N, "Essaitentépour guérir une
mélancolieprofondeproduite par une causemorale", pp. 233-7.
11. J. Mason Cox, Observationssur la démence,trad. cit., Ob-
servationII, p. 77.
12. Ibid., p. 78.
13. Ibid., pp. 78-9.
14. F. Leuret,Fragmentspsychologiques sur la folie, cap.II, " Dé-
lire de l'intelligence",Paris,Crochard,1834: "A locadora de cadei-
ras de uma dasparóquiasde Paris,tratadapelo sr. Esquirol, [...] di-
zia ter em seuventrebisposque realizavamum concílio [...] . Des-
cartesdava como certo que a glândula pineal é um espelho em
que vem se refletir a imagemdos corposexteriores [...]. Porventu-
ra umadessas asserções é mais bemprovadaque a outra?" (p. 43).
Leuret faz alusãoà análiseque Descartesapresentasobre o papel
da glândulapineal na formaçãodas "idéias dos objetos que im-
pressionamos sentidos"em seu Traité de l'Homme (Paris, Clerse-
lier, 1664), in Descartes,Oeuvreset Lettres, ed. A. Bridoux, op. cit.,
pp. 850-3.
15. Concepçãosegundoa qual "julgar é afirmar que uma coi-
sa que concebemosé assimou não é assim,como quando,tendo
concebidoo que é a terra e o que é aredondez,afirmo sobrea ter-
ra que ela é redonda"(A. Arnauld e P. Nicole, La,Logique, ou l'Art
de penser,contenant,outre les regles communes,plusieursobservations
nouvellespropres à former le jugement(1662), Paris,Desprez,5~ ed.,
1683,p. 36). Cf. L. Marin, La Critique du discours.Sur la "Logique de
Port-Royal" et les "Penséesde Pascal", Paris,Éd. de Minuit (col. "Le
Senscommun"), 1975, pp. 275-99; e as observaçõesde M. Fou-
cault em [1] Les Mots et les choses,op. cit., 1~ parte, "Représenter",
pp. 72-81; [2] "Introduction" a A. Arnauld e Cl. Lancelot, Gram-
maire généraleet raisonnéecontenantles fondementsde l' art de parler
expliquésd'unemaniereclaíre et naturelle (Paris,Le Petit, 1660), Ré-
publicationsPaulet,Paris, 1969, pp. III-XXVII (in DE, I, n? 60, pp.
732-52).
16. Sobreessarealizaçãoteatral, cf. M. Foucault,Histoire de
la folie, op. cit., ed. de 1972,pp. 350-4.A segundaaula do Cursono
AULA DE 12 DE DEZEMBRO DE 1973 175
asseguraessaordem,essadisciplina,essaregularidade,essa
perpétuaocupação,que são necessárias. Assim, bem cedo,
por volta da décadade 1830, o trabalhoinscreveu-secorno
obrigaçãonos asilos- no começo,a fazendaSainte-Annefoi
um prolongamentodo hospitalde Bicêtre, antesde substi-
tuí-ld9. Como dizia Girard de Cailleux na épocaem que era
diretor do hospitaldeAuxerre,"descascarlegumes,fazê-los
passarpor certaspreparações toma-sefreqüentementeurna
ocupaçãomuito proveitosaparao tratamento"40• E essetra-
balho - isso é que é interessante- não é simplesmenteim-
postopor serum fator de ordem,de disciplina, de regulari-
dade,masporquevai possibilitara introduçãode um sistema
de retribuição.O trabalhoasilar não é um trabalhogratuito,
é um trabalhopago,e essepagamentonão é urna graçasu-
plementar,ele é o cernedessefuncionamentodo trabalho,
porquea retribuiçãodeve ser suficienteparasatisfazercer-
to número de necessidades que são criadaspela carência
asilarfundamental:a insuficiênciade comida,a ausênciade
toda gratificação (comprar fumo, urna sobremesa,etc.). É
precisoque setenhavontade,é precisoque setenhaneces-
sidade,é precisoestarnesseestadode carênciaparaque o
sistemade retribuiçãoimpostocom o trabalhopossafuncio-
nar. Logo, necessidade dessasretribuições,suficientespara
satisfazeressasnecessidades criadaspela carênciafunda-
mentale suficientementepequenas,ao mesmotempo,para
permanecerabaixo, é claro, de todas as retribuiçõesnor-
mais e gerais.
Enfim e sobretudo,a grandecarênciaque talvez tenha
sido organizadapela disciplina asilar é simplesmentea ca-
rência de liberdade. Vocês vêem como, nos psiquiatrasda
primeirametadedo séculoXIX, a teoriado isolamentomuda
pouco a pouco ou, vamosdizer, se aprofundae se comple-
ta. A teoria do isolamentode que eu lhes falava da última
vez era essencialmente comandada pela obrigaçãode esta-
belecerrupturaentre o ambienteterapêuticoe a família do
doente,o meio no qual a doençasehaviadesenvolvido ; e de-
pois vocêsvêemnasceressaidéia de que o isolament
194 O PODERPSIQUIÁTRICO
*G ravaçao:
- " também é ímportante" .
AUIA DE 9 DE JANEIRODE 1974 223
,. Gravação: "encontrar'' .
AULA DE 16 DE JANEIRODE 1974 259
*
As duasdefiniçõesconjuntasdo idiota comoalguémque
sofre de uma interrupçãode desenvolvimentoe do retarda-
do como alguémcujo desenvolvime nto, emboracontínuo,
é simplesmentemais lento são,creio, teoricamenteimpor-
tantes.Elas trazemvárias noçõesque vão ter pesona pró-
pria prática dessapsiquiatrizaçãoda criança.
Em primeiro lugar, o desenvolvimento,tal como é con-
cebidopor Seguinem seuTratamentomoral dos idiotas, não
é mais portanto,como em Esquirol,algo de quesomosdota-
dosou privadosdo mesmomodo queda inteligência, davon-
tade;o desenvolvimentoé um processoque afetaa vida or-
gânicae avida psicológica,é umadimensãoao longo da qual
sãorepartidasas organizaçõesneurológicasO\l psicológicas,
as funções,os comportamentos , as aquisições.E uma dimen-
sãotemporal,e não é mais uma espéciede faculdadeou de
qualidadede que seríamos dotados.
Em segundolugar, essadimensãotemporalé, em certo
sentido,comuma todos.Ninguémescapaa ela, masé uma
dimensãoao longo da qual podemosparar.Nessamedida,
o desenvolvimentoé comuma todo o mundo,masé comum
muito mais como uma espéciede ótimo, como uma regra
de sucessãocronológicacom um pontoideal de chegada.O
desenvolvimentoé portantouma espéciede normaem re-
laçãoà qual nos situamos,muito uiais do que uma virtuali-
dadeque possuiríamosem nós.
264 O PODERPSIQUIÁTRICO
11
fórmula que não deixa de ter a suasolenidade, os pais têm
o direito à dor, o Mestre tem o direito à autoridade.Mestre
da aplicaçãodo seu 1nétodo,Mestre da criança,Mestre da
família em suasrelações coma criança,Magi.ster, ele é Mes-
tre trêsvezesou não é nada",diz Seguin,que não devesa-
ber latim muito bem51 • Ele é mestreno nível do seu corpo;
deve ter, corno o psiquiatra,um físico impecável."O porte
e os gestospesados,comuns,os olhos distantesum do ou-
tro, mal torneados,embaçados, o olhar semvivacidade,sem
expressão;ou ainda, a boca massuda,os lábios espessose
moles, a pronúnciaviciada, arrastada,a voz gutural, nasal
ou mal acentuada",tudo isso estáabsolutamenteproscrito
paraalguémque querserMestredo idiota52• Ele deve apre-
sentar-sefisicamenteimpecáveldiante do idiota, como um
11
personagemao mesmotempopoderosoe desconhecido: O
Mestredeveráter um portefranco, uma palavrae um gesto
nítidos, uma maneira resolutaque o faça ser notado,ouvi-
do, olhado,reconhecido"imediatamentepelo idiota53•
E é ligado a essecorpo ao mesmotempo impecávele
onipotenteque o idiota devefazer suaeducação.Essaliga~
ção é uma ligaçãofísica, e o corpo do mestreé precisamen-
te aquilo por que deve passara própria realidadedo con-
teúdopedagógico.Seguinfaz a teoria e apráticadessecor-
po-a-corpoentrea criançaidiota e a onipotênciado mestre.
Ele conta,por exemplo,como conseguiudomaruma criança
turbulenta:,,.AH. erade umapetulânciaindomável;trepan-
do comoum gato,escapulindocomoum camundongo,nem
se podia cogitar de mantê-loimóvel por três segundos.Eu
o botei numacadeira,sentei-meem frente dele, segurando
seuspése seusjoelhosentreos meus;umadasminhasmãos
prendiaas duasdele sobreos seusjoelhos,enquantoa ou-
tra trazia incessantemente dentro de mim seurosto móvel.
Ficamosassimcinco semanas,fora dashorasde comere de
dormir." 54 Captaçãofísica total, por conseguinte,quevale para
essasujeiçãoe essedomínio do corpó.
Mesmacoisano casodo olhar. Como ensinarum idio-
ta a olhar?Primeiro,em todo caso,ensina-sea ele a olhar as
AULA DE 16 DE JANEIRO DE 1974 275
*
Temosportantodois processos:especificaçãoteóricada
idiotia e anexaçãopráticapelo poderpsiquiátrico.Comoes-
sesdois processos , que vão em sentidosopostos,puderam
dar lugar a uma medicalização*?
Houve,creio, parao acoplamentodessesprocessosque
ia~ em sentidosopostos,uma razão econômicasimples,
que está, em sua humildade mesma,e certamentemuito
mais que a própriapsiquiatrizaçãoda debilidademental,na
origem da generalizaçãodo poder psiquiátrico. De fato, a
célebrelei de 1838 que definia as modalidadesdo interna-
mentoe ascondiçõesde assistênciaaosinternospobres,essa
lei eraparaseraplicadaaosidiotas.Ora,nostermosdes~alei,
alguémque fosseinternadotinha o preçoda suapensaono
asilo pagopelo departamentoou pela coletividade_local ~e
que era originário; ou seja,a coletividadelocal erafinance1-
ramenteresponsávelpelos que eram intemados6t . O que
fez que durantetantosanossehesitasse,e o quefez que1;1e~-
mo apósa decisãode 1840sehesitassea internaros debe1s
* O manuscritoprecisa:"psiquiátrica".
O PODERPSIQUIÁTRICO
et affectives."
14. J. E. D. Esquirol, [1] verbete"Hallucinations",in Diction-
naire dessciencesmédicales,t. XX, Paris,C. L. F. Panckoucke,1817, pp.
64-71; [2] verbete"Idiotisme", ibid., t. XXIII, 1818, pp. 507-24; [3]
" De I1idiotie" (1820), in Des maladiesmentalesconsidéréessous les
rapports médica[, hygi,éniqueet médico-légal,op. cit., t. II, pp. 286-397.
15. '!rata-se da tesede JacquesÉtienneBelhornrne,defendi-
daem1?dejulho de 1824, Essaisur l'idiotie. Propositionssur l'éducation
des idiots miseen rapport avecleur degréd'intelligence,Th. Méd. Pa-
ris, n? 125,Paris,Didot Jeune, 1824; republicadocom algumascor-
reções,Paris,Germer-Bailliere,1843.
16. J. E. D. Esquirol, "De l'idiotie" (1820), in op. cit., p. 284.
17. J. E. Belhornme,Essaisur l'idiotie, op. cit., ed. de 1843, p. 51.
18. J. E. D. Esquirol, Zoe. cit. (supra, nota 16): "A idiotia come-
ça com a vida ou na idade que precedeo pleno desenvolvimento
dasfaculdadesintelectuaise afetivas... A demência,corno a mania
e a monornania , só começana puberdade." Cf. também J. E. Be-
lhornme, loc. cit. (supra, nota 10).
19. J. E. D. Esquirol, " De l'idiotie", pp. 184-5: "Os idiotas são
o que devem ser durantetodo o curso da suavida... Não se con-
cebea possibilidadede mudaresseestado",enquanto " a demên-
cia [...] tem um períodode crescimentomais ou menos rápido. A
demênciacrônica,a demênciasenil se agravama cadaano... Pode-se
curar a demência,concebe-sea possibilidadede suspenderseus
acidentes". É precisamentepor tambémconsideraremos idiotas
corno incuráveis que alienistascorno Louis Florentin Calrneil,
Achille [de] Foville, ÉtienneGeorget,Louis FrançoisLélut (1804-
1877), FrançoisLeuret (1797-1851) preconizamseu isolamento
nos asilos.
20. [a] J.E. D. Esquirol, ibíd., p. 284: "Tudo nelesdenuncia urna
organização imperfeitaou detidaem seudesenvolvimen t o. A aber-
tura do crânio,quasesemprese encontramvícios de conformação."
AULA DE 16 DE JANEIRO DE 1974 289
*
Eu gostariade abrir um parênteseaqui e inserirurnape-
quenahistória da verdadeem geral. Parece-me que pode-
ríamosdizer o seguinte.Um sabercorno o que ch_amamos
científico é um saberque supõe,no fundo, que hajaverda-
de em toda parte,em todo lugar e em todo tempo. Ou seja,
2 O PODERPSIQUIÁTRICO
* Gravação: "poderíamoschamá-lode" .
AULA DE 23 DE JANEIRO DE 1974 317
*
Na medicina em geral, de que eu lhesfalava agorames-
mo, a noçãode crise desapareceno fim do séculoXVIlI. Ela
desaparecenão apenas como noção- podemosdizer: de-
pois de Hoffmann37 - , mas tambémcomo ponto organiza-
dor da técnicamédica.Por que desaparece? Bem, creio que
pelos motivos que acabo de lhes apresentarno esquema
geral,ou seja,organiza-sea propósitoda doença,como hoje
a propósitode qualquercoisa,uma espéciede espaço,de
quadriculamentoinquisitorial38• E é essencialmente a edifica-
ção do que podemoschamargrossomodo de equipamen-
to hospitalare médicono séculoXVIII na Europa queasse-
gura a vigilância geralde populações,possibilitaestenderem
princípio o inquéritode saúdea todosos indivíduos39; o hos-
pital tambémpossibilitaintegrarà doençao corpo do indi-
víduo vivo e, principalmente,seu corpo morto40 • Em outras
palavras,vai-seter no fim do séculoXVIII umavigilância ge-
ral daspopulaçõese, ao mesmotempo,a possibilidadecon-
318 O PODER PSIQUIÁTRICO
11
mes du rêve", e cap.VIII, Bibliographie", Paris, PUF, 1967, pp. 11-
1
89 e 529-51.[c] H. Ey, [1] ' Brevesremarqueshistoriquessur les rap-
ports des états psychopatiquesavec le rêve et les états intermé-
diaires áu sommeil et à la veille", Annalesmédico-psychologi,ques,
14~ .série,t. II, junho de 1934; [2] Étudespsychiatriques,vol. I, His-
torique, Méthodologi,e1 Psychopathologi,egénérale,parte II, "Le 'rêve,
fait primordial' de la psychopathologie.Historique et position du
probleme//e '~Bibliographie",Paris,Descléede Brouwer, 2~ ed. rev.
e aum.,1862,pp. 218-28e 282; [3] "La dissolutionde la conscien-
ce dansle sommeilet le rêve et sesrapportsavecla psychopatho -
logie'/, Évolution psychiatrique,t. XXXV, n? 1, 1970, pp. 1-37.Ver as
páginasque M. Foucaultconsagraà questãona Histoire de la folie,
op. cit., ed. de 1972, pp. 256-61.
r 1t n ua uu1d u J· J· J..V v ...., ..., .., r -- - · - - · .1
gostariade começarhoje.
Claro, o corpo neurológicoainda é, é sempreo corpo
da localizaçãoanatomopatológica.Não há por que opor o
corpo neurológicoao corpo anatomopatológico.O segun-
do faz partedo primeiro, é, se assimpodemosdizer, um de-
rivado ou uma expansãodele. Aliás, a melhor prova disso
é que Charcot,num dos seuscursos,em 1879, dizia que a
constituição,os progressose, a seuver, inclusive o perfazi-
mento da neurologia,era o triunfo do espírito de localiza-
II
* O manuscritoacrescenta
: 11 De 1850 a 1870, emergênciade um
novo corpo."
ca rnemca.1ennua 111t_p1t:::s:,auuc:: yut:: u 1.a.\.:t:: a 1.aL.t: uu t.u1-
po-doentee do corpo-médicose faz de acordo com uma
disposiçãototalmentediferentena neurologiae na medici-
na geral. E é a instauraçãodessenovo dispositivo que me
parecesero episódioimportante,e é por isso que eu gosta-
ria de procuraridentificar o novo dispositivo que é instituí-
do assimpelaconstituiçãoe atravésda constituiçãode uma
neuropatologiaou de uma medicinaclínica neurológica.
De fato, o que é essedispositivo,em que ele consiste?
Como a captaçãodo corpo doente* se fazna clínica neu-
rológica?Ela se faz, creio eu, de maneirabem diferenteda-
quelacaptaçãodo corpo doentea que pudemosassistirno
momentoda formaçãoda anatomiapatológica;vamosdi-
zer, entreBichat2 e Laennec3 • Vou lhes dar já um exemplo,
pegandoum texto que nemé de Charcot;é um texto que se
encontranos arquivos Charcotda Salpêtrieree que certa-
mentefoi recolhido
,. por um dos seusalunos- não sabemos
qual, é claro. E uma observaçãode uma doente.Eis como
essadoenteé descrita:o sintomada doenteera muito sim-
ples, era o abaixamentoda pálpebraesquerda,que tem o
nomede ptose.Então,o aluno de Charcottoma parao pró-
prio Charcot, paraque ele dê uma aula sobreo tema,as se-
guintesnotas- não vou ler a descriçãode todo o rosto da
doente,só um pedaço:
"Se lhe mandamosabrir as pálpebras,ela levantanor-
malmentea do lado direito, masa do lado esquerdonão se
mexe de forma perceptível,como tampoucoa sobrancelha,
de modo que a assimetriasuperciliarse acentuaaindamais.
Nessemovimento[ ...] a pele da testase enrugatransversal-
mentedo lado direito, enquantofica quaselisa do lado es-
querdo.No estadode repouso,a pele da testanão fica en-
rugadanem à direita nem à esquerda[ ...J
* Na gravação,repete:"ao contrário"
1 · mgen1, u ·uJ nu k15u. L1a5 · · u.1 v JI.A.' - ... ----r- --
'-''-A
*
Creio que, se situarmosassima operaçãoCharcot,po-
demos ver como se desenrolaram ..., quer dizer, como se
II
constituíram o que chamareide as grandesmanobrasda
histeria" na Salpêtriere.Procurareianalisarisso,masnãoem
termosde históriados histéricos,nem tampoucoem termos
de conhecimentospsiquiátricosadquiridossobreos histéri-
cos, e sim em termosde batalha,de enfrentamento,de en-
volvimento recíproco,de disposiçãode ciladasem espelho,
de ataquee contra-ataque,de tentativade tomadade con-
trole entre os médicose os histéricos*. Não creio que te-
nha havido exatamenteumaepidemiade histeria;creio que
a histeria foi o conjunto dos fenômenos,e dos fenômenos
de luta, que se desenrolaramno asilo e tambémfora do asi-
lo, em torno dessenovo dispositivo médicoque era a clíni-
ca neurológica;e foi o turbilhão dessabatalhaque de fato
reuniuem tomo dos sintomashistéricostodo o conjuntodas
pessoasque efetivamentea elesse entregaram.Mais que
uma epidemia,houveum turbilhão, uma espéciede sorve-
douro histérico no interior do poder psiquiátricoe do seu
sistemadisciplinar. Pois bem, como isso se deu?Creio que
podemosdistinguir certo número de manobrasnessaluta
entre o neurologistae o histérico.
Primeiramanobra:é o que poderíamoschamarde or-
ganizaçãodo cenáriosintomatológico.Creio que podemos
esquematizar as coisasda seguintemaneira:paraque a his-
teria pudesseserpostano mesmoplano de umadoençaor-
gânica,para que sejauma doençaverdadeiraque depende
de um diagnósticodiferencial,isto é, paraque o médicoseja
um verdadeiromédico,o histéricotem de apresentaruma
sintomatologiaestável.Por conseguinte, aconsagraçãodo
médico como neurologista,diferentementedo psiquiatra,
implica necessariamente injunçãodadaem surdinaao doen-
te, o que já dizia o psiquiatra:"Dê-me sintomas,mas sin-
produzida. _ .
Uma açãodireta sobrea doença:nao apenas permi-
tir-lhe revelarsuaverdadeao médico, mas produzi- la. O
hospital, local de eclosãoda verdad~iradoença.De fato,
supunha-se que o doente deixado em estadolivre ---- em
seu" meio", em suafamília, em seucírculo pessoal,com seu
regime, seus hábitos,seuspreconceitos,suasilusões- só
podia ser afetadopor uma doençacomplexa,confusa,in-
trincada, uma espéciede doençacontraa naturezaque era
ao mesmo tempo uma mistura de várias doençase um
impedimentopara que a verdadeiradoençase produzis-
se na autenticidadeda sua natureza.O papel do hospital
era,portanto,afastandoessavegetaçãoparasita,essasfor-
mas aberrantes,não apenasdeixar ver a doençatal como
ela é, masproduzi-laenfim em suaverdadeaté entãoem-
paredadae entravada.Suanaturezaprópria, suascaracte-
rísticasessenciais,seudesenvolvimentoespecíficoiam fi-
nalmentepoder se tornar realidade,por efeito da hospi-
talização.
O hospital do séculoXVIII deveriacriar as condições
paraque a verdadedo mal eclodisse.Era portantoum lugar
de observaçãoe de demonstração, mastambémde purifica-
ção e de prova. Era uma espéciede aparelhagemcomplexa
que deviaao mesmotempofazerdespontare produzirreal-
mente a doença:lugar botânicopara a contemplaçãodas
espécies,lugar aindaalquímicoparaa elaboraçãodassubs-
tânciaspatológicas.
Essadupla função é que foi assumidapor muito tem-
po ainda pelasgrandesestruturashospitalaresinstauradas
no sé~uloXIX. E duranteum século(1760-1860),a práticae
a teortada hospitalizaçãoe, de modo geral, a conçepçãoda
doençaforam dominadaspor esseequívoco:o hospital, es-
trutura_de acolhimentoda doença,deveser um espaçod
conhecunentoou um lugar de prova?
Daí toda uma série de problemasque perpassaram o
pensamentoe a práticados médicos.Eis alguns:
1) A terapêuticaconsisteem suprimir o mal, em redu-
zi-lo à inexistência;mas,paraque essaterapêuticasejara-
cional, para que possase fundar em verdade,não deve ela
deixara doençasedesenvolver?Quandosedeveintervir e em
quesentido?Deve-semesmointervir? Deve-seagir paraque
a doençase desenvolvaou paraque se detenha?Paraate-
nuá-laou paraconduzi-laa termo?
2) Há doençase modificaçõesde doenças.Doençaspu-
ras e impuras,simplese complexas.Não há, afinal, uma só
doença,de que todasas outrasseriamformas mais ou me-
nosproximamentederivadas,ou devem-se admitir catego-
rias irredutíveis?(DiscussãoentreBroussaise seusadversá-
rios a propósitoda noçãode irritação. Problemadas febres
essenciais.)
3) O que é uma doençanormal?O que é uma doença
que segueseucurso?Uma doençaque leva à morte ou uma
doençaque saraespontaneamente, terminadasuaevolução?
Era assimqueBichat seinterrogavasobrea posiçãoda doen-
ça entre a vida e a morte.
É sabidaa prodigiosasimplificaçãoque a biologia pas-
teurianaintroduziuem todosessesproblemas.Determinan-
do o agentedo mal e fixando-o comoum organismosingular,
ela permitiu que o hospitalsetorneum lugar de observação ,
de diagnóstico,de identificaçãoclínica e experimental,mas
tambémde intervençãoimediata,de contra-ataquevoltado
contraa invasãomicrobiana.
Quantoà função de prova,vemosque podedesapare-
cer. O lugar em que se produziráa doençaseráo laboratório,
o tubo·de ensaio;mas,aí, a doençanão se efetuanumacri-
se; reduz-seseu processoa um mecanismo,que se pode
ampliar; reduz-sea doençaa um fenômenoverificável e con-
trolável. O meio hospitalarjá não tem de ser, paraa doença
um lugar favorável a um acontecimentodecisivo; ele pos i-
bilita simplesmenteuma redução,uma transferência,uma
..1
m'dico.
S se qui s fazer uma II tno-epistemologia"do
p rsonag m m 'dico, serianecesário dizer que a revolução
past uriana privou-o do seu papel sem dúvida milenar na
produçãoritual e na prova da doença. E o desaparecimen -
to dessepapelfoi semdúvidadramatizadopelo fato de que
Pasteurnão só mostrou que o médico não tinha de ser o
produtorda doença"em suaverdade",masque, por igno-
rânciadaverdade,ele setomara,milharesdevezes,seupro-
pagadore seureprodutor:o médicode hospital,ao ir de leito
em leito, era um dos agentesmaioresdo contágio.Pasteur
causavanos médicosuma formidável ferida narcísica,que
eles levarammuito tempo para lhe perdoar;aquelasmãos
do médico,que deviampercorrero corpo do doente,apal-
pá-lo, examiná-lo,aquelasmãos que deviam descobrira
doença,trazê-laà luz do dia, mostrá-la,foram designadas
por Pasteurcomo portadorasdo mal. O espaçohospitalare
o saberdo médicohaviamtido até entãoo papelde produ-
zir a venda"crítica" da doença;e eis que o corpodo médico,
o amontoamentohospitalarapareciamcomo produtores da
realidadeda doença.
Asseptizandoo médicoe o hospital,foi-lhes dadauma
novainocência,de ondeambostiraram novospoderese um
novo estatutona imaginaçãodos homens.Mas estaé outra
história.
*
Estaspoucasanotaçõespodem ajudar a compreen-
der a posiçãodo louco e do psiquiatrano interior do es-
paço asilar.
Há semdúvidaumacorrelaçãohistóricaentredoi fatos:
antesdo séculoXVIII, a loucuranão era sistematicamente
internadae •e ra essencialmente
consideradauma forma do
erro ou da ilusão. Ainda no início da idade clássica,a lou-
cura era percebidacomo pertencenteàs quimerasdo mun-
do; ela podia viver no meio delase só tinha de ser separa-
da dela quando adquiria formas extremasou perigosas.
Compreende - se nessascondiçõesque o lugar privilegiado
em que a loucurapodia e devia eclodir em suaverdadenão
podia sero espaçoartificial do hospital.Os locais terapêu-
ticos que eramreconhecidoseram,em primeiro lugar, a na-
tureza,pois ela era a forma visível da verdade;ela tinha em
si o poder de dissiparo erro, de fazer as quimerasse dis-
sipar.As prescriçõesdadaspelos médicoseramportantoa
viagem,o descanso,o passeio,o retiro, o corte com o mun-
do artificial e fútil da cidade.Esquirol aindaselembrarádis-
so quando,ao projetarum hospitalpsiquiátrico,recomen-
dará que cada pátio interno se abra amplamentepara a
vista de um jardim. O outro local terapêuticopostoem uso
era o teatro,naturezainvertida: representava-se, encenava-
se parao doentea comédiada suapróprialoucura,dava-se
a ele por um instanteuma realidadefictícia, fazia-se,com
os cenáriose os figurinos, como se essarealidadefossever-
dadeira,masde tal modoque,pegonessacilada,o erro aca-
bassedespontandoaos olhos daqueleque era suavítima.
Essatécnica tambémn~o havia totalmentedesaparecido
no séculoXIX. Esquirol,por exemplo,recomendavaproces-
sar os melancólicosparaestimularsuaenergiae seu gosto
de lutar.
A práticado internamentono início do séculoXIX coin-
cide com o momentoem que a loucuraé percebidamenos
em relaçãoao erro do que em relaçãoà condutaregular e
normal; em que ela já não aparececomo juízo perturba-
dó, mascomodistúrbio na maneirade agir, de querer,de ex-
perimentarpaixões,de tomar decisõese serlivre; em suma,
quandonão seinscrevemaisno eixo verdade-erro-consciên-
cia, massim no eixo paixão-vontade-liberdade; momentode
Hoffbauer e de Esquirol. ''Há alienadoscujo delírio mal é
vis~vel; não há nenhum-cujaspaixões,cujasafeiçõesmorais
mmwçaoao a nnu ~u w1t ,u · · ;çJ.,v u ,-g;_g. _..., -
'-,Q;.1:11,C
ali nado voltam as sua prim iras afeiçõ s."* Qual é, com
feito, o proceso da cura?O movimentopelo qual o erro se
dissipae averdadeapar, e de novo?Não, e sim ''a volta das
aÍ) içõ moraisa seusjustoslimites, o desejode reveros ami-
gos,os filhos, aslágrimasdasensibilidade,a necessidade de
abrir o coração,de se encontrarno seio da família, de reto-
mar eushábitos''**.
Qual poderáentãosero papeldo asilo nessemovimen-
to de retomo das condutasregulares?Claro, ele terá antes
d mais nadaa função que se atribuía aoshospitaisno fim
do séculoXVIIl: possibilitardescobrira verdadeda doença
mental,afastartudo o que pode,no ambientedo enfermo,
mascará-la,misturá-la,dar-lhe formas aberrantese, tam-
bém,mantê-lae revigorá-la.Porém,mais que um lugar de
desvendamento, o hospital,cujo modeloEsquirol ideou, é
um lugar de enfrentamento;a loucura,vontadeperturbada,
paixão pervertida,deve encontrarnele uma vontadereta
e paixõesortodoxas.O face a face dasduas,seuchoqueine-
vitável e, na verdade,desejávelproduzirãodois efeitos: a
vontade doente,que podia perfeitamentepermanecerina-
preensívelpois nãose exprimiaem nenhumdelírio, traráseu
mal à luz do dia pela resistênciaque oporá à vontadereta
do médico; por outro lado, a luta que se estabelecea partir
daí deverá,se bem travada,levar à vitória da vontadereta,
à submissão,à renúnciada vontadeperturbada.Portanto,
um processode oposição,de luta e de dominação."É neces-
sário aplicar um método perturbador,quebraro espasmo
com o espasmo ... É necessáriosubjugaro caráterinteiro de
1. Objeto do curso
do psiquiatrasualegitimidadesocial,correntesditas "antipsi-
quiátricas"pretenderamrompercom todaassistênciaquere-
duziriaa complexidadeda situaçãodo doentea um problema
técnicoque caberiaa especialistascompetentestratar.O que
assinalao título de uma obra de·RogerGentis,A psiquiatria
deveserfeita/desfeitapor todos24•
2. Registro do curso
3. Ferramentas conceituais
31. Cf. supra, aula de 6 de fevereiro de 1974 (p. 400), em que é as-
sinaladaa diferençaentre a problemáticade Michel Foucaulte a dos
movimentosantipsiquiátricosanglo-saxõese italianos,que,propondo-se
comoalvo a "violência" exercidapelasociedadeem gerale pelapsiquia-
tria em particular,alinha-seà figura paradigmáticado "esquizofrênico"
que, recusando-se a constituir-seum "falso ego" alienadoe submetido
àsexigênciassociais,rasgaas máscarasdessaviolência ordinária,e gra-
çasao qual, comodiz R. Laing, "a luz começoua filtrar atravésdasfissu-
ras de nossosespíritosfechados"(The Politics of Experienceand the Bird of
Paradise,Londres,TavistockPublications,1967[La Politique de l' expérience.
Essai sur l'aliénation et l'Oiseau du Paradis, trad. fr. CL Elsen,Paris,Stock,
1969, p. 89]). Cf. as obras de David Cooper, [1] Psychiatryand Antips-
ychiatry,Londres,TavistockPublications,1967[Psychiatrieet Anti-psychia-
trie, trad. fr. M . Braudeau,Paris, Le Seuil (cal. "Le Champfreudien"),
1970]; [2] D.CoopereR. Laing, Reasonand Violence, Londres,Tavistock
Publications,1964 [Raison et Violence. Dix ans de la philosophiede Sartre
(1950-1960), trad. fr. J.-P. Cottereau,preâmbulode J.-P.Sartre,Paris,Payot
("Petite Bibliotheque Payot" 202), 1972]. Cf. tambémF. Basagliaet al.,
"L'Istituzione negata.Rapportoda un ospedalepsichiatrico",Nuovo Po-
litecnico, Turim, vol. 19, 1968 [F. Basaglia,"Les institutionsde la violen-
ce", in id., org., L'Institution en négation.Rapportsur l'hôpital psychiatrique
de Gorizia, trad. fr. L. Bonalumi, Paris,Le Seuil (cal. "Combat "), 1970].
O qu conf-ti a stecur o suaorigirtalida.d · m elação
a todasas t nd"ncia críticasque s desenvolveramdesdea
gu rra qu têm em comumtomarcomoalvo a "instituição"
a ilar, s ja para reformá-la,seja parasublµná-la, sejapara
negar ua legitimidade.
*
Ora, enquantoessascorrentescrí~ca~q~e-se d~se1:;º~-
eram desdea guerraestabelecema mstihuçaops1qwatn-
ca como ponto de problematização,o curso deslocao sítio,
II
atribuindo-se como princípio que aquilo com que se tem
d lidar, antesde lidar com asinstituições,sãoas relaçõesde
força nessasdisposiçõestáticasque perpassamas institui-
ções"48. De fato, a noçãode instituiçãoencerracerto número
11
estabelecimentos especiais",de médicos especializados",
11
4. Pontos de problematização
J.L.
" ( ntre · t . N .
62. DE, U, n?105, "Le grandenfermement
berg,marçode 1972}, p. 301.
ÍNDICES*