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Entendendo Foucault

apresenta o trabalho de
Michel Foucault em um
contexto turbulento tanto na
filosofia quanto na política,
e explora a missão do autor
em expor as ligações entre
conhecimento e poder nas
ciências humanas, em seus
discursos e nas instituições.
Este livro explica, de forma
pratica e ilustrada, como
Foucault derrubou suposições
da sociedade sobre diversos
temas comportamentais que
são assuntos de pesquisas e
estudos filosóficos.

É possívej, ainda, conhecer


mais sobre o envolvimento de
Foucault com a psiquiatria
e a medicina clínica, seu
ativismo político e os
aspectos transgressivos
de prazer e desejo que ele
promoveu em sua escrita.
CHRIS HORROCKS f
ZORAN JBVTIC

ENTENDENDO:
FOUCAULT

Entendendo é uma premiada coleção de livros ilustrados sobre os pensadores e


os temas mais importantes da história. Aborda teorias fundamentais de diversos
campos de estudo, tais como filosofia, psicologia, ciências, política, religião, es-
tudos culturais e linguística. Cada livro é escrito por um reconhecido especialista
do assunto e ilustrado por um artista gráfico. De forma agradável, a coleção ofe-
rece informações úteis e objetivas para leitores que tanto buscam um primeiro
contato, como desejam adquirir um conhecimento conciso sobre o assunto.

TRADUÇÃO: MARCOS MARCIONILO


Text copyright © 1997, Chris Horrocks
lllustrations copyright © 1997, Zoran Jevtic
Todos os direitos reservados.
Tradução para a língua portuguesa:
copyright © 2013, Texto Editores Ltda.

Título original: Introducing Foucault

Diretor editorial: Pascoal Soto


Editora executiva: Tainã Bispo
Editora assistente: Ana Carolina Gasonato
Assistentes editoriais: Fernanda S. Ohosaku, Renata Alves e Maitê Zickuhr

Preparação: Paula Jacobini


Revisão: Maria Luiza Lima Almeida
Capa e diagramação: Vivian Oliveira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Angélica llacqua CRB-8/7057

Horrocks, Chris
Entendendo Foucault / Chris Horrocks, Zoran Jevtic; tradução
de Marcos Marcionilo. - São Paulo: LeYa, 2013.
176 p.: il. (Entendendo)

ISBN 978-85-8044-780-4
Título original: Introducing Foucault

1. Filosofia 2. Foucault, Michel, 1926-1984 I. Título II. Jevtic,


Zoran III. Marcionilo, Marcos

13-0205 CDD100

índices para catálogo sistemático:


1. Filosofia

2013
Todos os direitos desta edição reservados à
TEXTO EDITORES LTDA.
[Uma editora do Grupo Leya]
Rua Desembargador Paulo Passaláqua, 86
01248-010 - São Paulo - SP - Brasil
www.leya.com.br
Twitter: @EditoraLeya
V
EU, MICHEL FOUCAULT

Para d e s c o b r i r o v e r d a d e i r o M i c h e l F o u c a u l t é p r e c i s o p e r g u n t a r
"qual deles?".
D e v e m o s olhar p a r a a v i d a d o h o m e m e m si, a q u e l e q u e , a i n d a
m e n i n o , q u e r i a ser u m p e i x e d e a q u á r i o , m a s t o r n o u - s e u m f i l ó s o f o e
historiador, a t i v i s t a p o l í t i c o , f e t i c h i s t a d o c o u r o , best-seller, militante
incansável p o r c a u s a s d i s s i d e n t e s ?

3
FOUCAULT, O AUTOR?

Ou d e v e m o s encarar Foucault c o m o o autor, cuja obra c o m b i n a


intuição brilhante e detalhes excêntricos, unindo a prática filosófica
c o n t e m p o r â n e a à a r q u e o l o g i a d o s m u i t o s d o c u m e n t o s q u e ele
p a c i e n t e m e n t e r e c u p e r o u d a história? E o q u e t e r í a m o s d e excluir,
diante das expressivas mudanças de suas posições teóricas no
d e c u r s o d e s u a carreira?

O próprio Foucault
problematizou o sentido
de autoria — uma função,
d e f e n d i a ele, q u e e s c l a r e c i a o u
escondia muitas contradições.

TEMOS
PB RRBSCINPIR PB
NOSSO COSTUMB PB BUSCRR
R RUTORIPRPB PB UM RUTOR B
TBMOS, BM VBZ P/SSO, PB MOSTRRR
COMO O POPBR PO PISCURSO
FORÇR TRNTO O RUTOR
QURNTO SBUS
JNUNCIRPOS.

Por isso é q u e F o u c a u l t
relutou e m escrever sua
própria biografia ou buscar
alguém q u e o fizesse por
ele. M a s , d e p o i s d e s u a
morte, foram escritas
várias d e l a s .

4
U M H O M E M TRANSDISCURSIVO

Foucault c u n h o u o t e r m o t r a n s d i s c u r s i v o para descrever, por


e x e m p l o , q u e ele n ã o é m e r a m e n t e o a u t o r d e u m livro, m a s o a u t o r
d e u m a teoria, t r a d i ç ã o o u d i s c i p l i n a .

P o d e m o s dizer q u e ele f o i , n o
mínimo, o impulsionador de um
m é t o d o d e pesquisa histórica
que teve muitos efeitos no estudo
da subjetividade, d o poder, d o
conhecimento, do discurso,
d a história, d a s e x u a l i d a d e , d a
loucura, d o sistema penal, e
p o r aí v a i . Daí s u r g i u o t e r m o
foucaultiano.

Existem muitos
"Foucaults" — e todos
eles t ê m t e x t o s , o u
características e m
u m a rede de poder
institucional; u m
regime de verdade e
conhecimento, ou o
discurso d o autor e
suas obras.
Exploremos, então,
as muitas facetas de
Foucault.

5
O PROJETO DE FOUCAULT

Foucault b u s c o u explicar o meio M a s F o u c a u l t n ã o t o m a a ideia


pelo qual o s seres h u m a n o s de subjetividade filosoficamente
tornaram-se historicamente i s o l a d a . Ela v e m v i n c u l a d a — e
s u j e i t o e o b j e t o de práticas e é até m e s m o produzida por
discursos políticos, científicos, conhecimento e poder — a
e c o n ó m i c o s , f i l o s ó f i c o s , legais e práticas de separação, como
sociais. o psiquiatra, que separa o louco
do são.
MINHfí QUESTfíO Classificação científica: onde
FUNPRMENTRL: *QUE N
a ciência classifica o indivíduo
FORMA PE RRZfíO E QURIS c o m o o s u j e i t o d a v i d a (biologia),
CONPIÇÕES HISTÓRICRS
d o trabalho (economia) e d a
V LEVRM R ISSO?". S
l i n g u a g e m (linguística).
Subjetivização: o modo como
o i n d i v í d u o se t r a n s f o r m a e m
sujeito d e s a ú d e , s e x u a l i d a d e ,
c o m p o r t a m e n t o etc.
FICÇÃO E M FOUCAULT

" E m m e u s livros, b u s c o fazer u s o f i c c i o n a l d o s m a t e r i a i s q u e r e ú n o o u


a g r u p o e, d e l i b e r a d a m e n t e , f a ç o c o n s t r u ç õ e s f i c c i o n a i s c o m e l e m e n t o s
autênticos."

Vamos, então, "ficcionalizar" a vida de Foucault transformando-a e m u m


relato b i o g r á f i c o d o f i l ó s o f o e d e s u a o b r a .

P a u l - M i c h e l F o u c a u l t n a s c e u n o d i a 15 d e
/CRPRUMfípè\
outubro d e 1926. Seus pais eram A n n e
( MINHAS OBRfíS \
M a l a p e r t e o b e m - s u c e d i d o c i r u r g i ã o Paul ( éPRPTBPB
Foucault. Eles v i v i a m e m u m a c i d a d e V MINHR PPÓPPIR J
c o n s e r v a d o r a c h a m a d a Poitiers, n a F r a n ç a \&OGPRFIfí / >

Paul-Michel Foucault teve u m a irmã,


Francine, e u m i r m ã o c a ç u l a , D e n y s .

Foucault tinha Nr
cabelos castanhos,
um narigão e olhos
azuis. Ele n ã o
gostava do nome
Paul-Michel, porque
crianças maldosas
faziam-no soar c o m o
" P o l i c h i n e l o " ! Ele m u d o u s e u n o m e p a r a M i c h e l — t a l v e z e m
d e m o n s t r a ç ã o d e a f e t o p o r s u a m ã e , q u e insistiu p a r a q u e ele
mantivesse o nome que recebera no batismo.
7
CATÓLICOS AFETADOS E MENINOS DO CORO

Foucault era católico. Mais tarde, Ele s e t r a n s f e r i u p a r a o L i c e u ,


ele d i s s e q u e g o s t a v a d o ritual p r o p r i a m e n t e d i t o , e m 1 9 3 2 , e ali
a f e t a d o d a f é c a t ó l i c a . Ele a t é permaneceu até 1936 — o ano e m
c a n t o u e m u m c o r o d e igreja p o r q u e ele v i u c h e g a r e m r e f u g i a d o s
certo tempo. d a G u e r r a Civil E s p a n h o l a .

1 9 3 0 : P a u l - M i c h e l foi m a t r i c u l a d o Foucault era u m ciclista


na classe elementar d o Liceu entusiasmado e jogava ténis, mas,
Henri-IV, b e m c e d o . c o m o era míope, quase s e m p r e
p e r d i a a b o l a . Ele a d o r a v a ir a o
t e a t r o e, d e v e z e m q u a n d o , a o
'PORQUE EU QUER/R cinema.
FICRR COM MINHfí
IRMR.

Ele f o i u m a l u n o p r e c o c e e
disciplinado. Conhecimento
representava promoção
social para sua classe.

U m a perfeita infância
burguesa... não acham?

8
17 d e j u n h o d e 1940: Pétain,
primeiro-ministro francês,
negocia o armistício. Os
alemães usam a casa de
férias dos Foucault c o m o
dormitório para seus oficiais.
H Foucault rouba d a milícia
colaboracionista madeira para
a escola. Ele continua indo
muito bem nos estudos, mas
atrapalha-se nas provas de
verão em 1940.

Ele é t r a n s f e r i d o p a r a u m a e s c o l a c o n f e s s i o n a l , o C o l é g i o S a i n t -
- S t a n i s l a s , e g a n h a p r é m i o s e m F r a n c ê s , História, G r e g o e Inglês.

1 9 4 2 : F o u c a u l t inicia s e u s e s t u d o s f o r m a i s e m Filosofia.

J u n h o d e 1 9 4 3 : ele é a p r o v a d o n o baccalauréat (bacharelado), o exame


d o s i s t e m a d e e n s i n o f r a n c ê s p r e s t a d o a o final d o E n s i n o M é d i o . D i s c u t e
c o m s e u pai s o b r e s u a carreira. M e d i c i n a ? M i c h e l F o u c a u l t a c h a v a q u e
n ã o — ele q u e r i a ir p a r a a i n s t i t u i ç ã o a c a d é m i c a m a i s p r e s t i g i a d a , a
École N o r m a l e S u p é r i e u r e (Escola N o r m a l S u p e r i o r - ENS), e m Paris.

9
PARIS - OS 1 0 0 MAIS

F o u c a u l t a m a v a e s t u d a r História, m a s H y p p o l i t e
o c o n v e n c e u d e q u e a Filosofia p o d i a e x p l i c a r a
História.

M a s a História é apenas u m a evolução


v a g a r o s a r u m o à razão? A Filosofia t e m l i m i t e s ?

10
GEORG W I L H E L M FRIEDRICH HEGEL ( 1 7 7 0 - 1 8 3 1 )

H e g e l p e n s a v a q u e o q u e é real
é racional e q u e a verdade é
"o todo" — um sistema grande
e c o m p l e x o q u e ele c h a m o u
d e a b s o l u t o . Ele a c r e d i t a v a
que a mente, ou o espírito,
era a r e a l i d a d e ú l t i m a . A
mente tem uma consciência
d e si e m c o n s t a n t e e x p a n s ã o ,
e a Filosofia n o s p e r m i t e
desenvolver a autoconsciência
d o " t o d o " e n o s libertar d a
desrazão e da contradição do
conhecimento parcial.

R RRZRO é
'R SOBERRNR PO MUNPO..
R HISTÓRIR PO MUNPO;
PORTRNTO, RPRESENTR-SE
R NÓS SEGUNPO UM
PROCESSO RRCIONRU
KOJÈVE E HEGEL

O filósofo A l e x a n d r e K o j è v e
(1900-1968) resgatou Hegel
da perspectiva romântica
s e g u n d o a q u a l ele t e r i a
um desajeitado criador de
sistemas.

Hegel agora era m o d e r n o !

Esse H e g e l " a f r a n c e s a d o " e r a


a última palavra!

F o u c a u l t t i n h a prazer c o m e s s a
versão violenta d a História.

12
O RETORNO DE HEGEL

H e g e l d e r a início a o e m p r e e n d i m e n t o d e e x p l o r a r o i r r a c i o n a l e d e
i n t e g r á - l o a uma razão e x p a n d i d a . M a s isso a i n d a fazia p a r t e d a t a r e f a
m o d e r n a d a Filosofia — a b u s c a d e u m s i s t e m a t o t a l q u e p u d e s s e
absorver a d e s r a z ã o ?

Foucault não estava rejeitando a r a z ã o c o m o tal, mas recusou-se a


v ê - l a c o m o u m a " s a í d a " o u c o m o r e s u l t a d o inevitável d a H i s t ó r i a . S e u
c o m p r o m e t i m e n t o c o m a Filosofia n ã o v i s a v a a a p r e s e n t a r u m s i s t e m a
p a r a as c o n d i ç õ e s n a s q u a i s o c o n h e c i m e n t o o u a v e r d a d e s ã o p o s s í v e i s
o u c o n f i á v e i s ( c o m o o fez Kant), m a s a e x a m i n a r q u a i s s ã o o s e f e i t o s
h i s t ó r i c o s d a razão, o n d e e s t ã o s e u s limites e q u e p r e ç o isso i m p õ e .

13
O ESTUDANTE FOUCAULT

E m j u l h o d e 1 9 4 6 , F o u c a u l t c o n s e g u i u fazer o e x a m e d e a d m i s s ã o à
E N S . F i c o u e m q u a r t o lugar. A E N S a c e i t o u s u a m a t r í c u l a !

A v i d a lá e r a d u r a . F o u c a u l t era a n t i s s o c i a l , c o n t r o v e r s o , e n f e r m i ç o e
d a d o à depressão. O ambiente ferozmente competitivo da prestigiosa
escola não ajudava muito. M e s m o assim, Foucault trabalhava
i n t e n s a m e n t e . S e u s c o l e g a s o d e t e s t a v a m e a c h a v a m q u e ele e r a
maluco.

Ele c o r t o u o p e i t o c o m u m a n a v a l h a , p e r s e g u i u o u t r o e s t u d a n t e
e m p u n h a n d o u m p u n h a l e e m 1 9 4 8 t e n t o u s e m a t a r t o m a n d o pílulas. Foi
q u a n d o teve seus primeiros contatos c o m a psiquiatria institucional.

14
O F O U C A U L T GAY

Todavia, nem t u d o eram sofrimentos. Foucault era u m piadista


e x p e r i e n t e e u m e x c e l e n t e d u e l i s t a c o m u m a t o a l h a m o l h a d a . Ele
c h e g a v a até m e s m o a e s c a l a r o s t e l h a d o s e, c e r t a vez, r o u b o u u m livro
e m u m a loja (uah!). S e u a p e l i d o e r a " F u c h s " ( r a p o s a , e m francês) p o r
causa de seu c o r p o esguio e d e sua inteligência intensa.

Escândalos sexuais arruinavam


c a r r e i r a s . Leis o p r e s s o r a s
d e c l a r a v a m q u e era u m a o f e n s a
homens dançarem juntos em
qualquer ambiente público. A vida
secreta de Foucault explodiria mais
tarde, em seus escritos sobre a
t r a n s g r e s s ã o , a sexualidade, o
prazer e o c o r p o .
CORRENTES FILOSÓFICAS...

Foucault estava interessado em duas vertentes filosóficas


d o m i n a n t e s na França, as filosofias d a experiência, d o
sujeito, d o sentido e d a consciência: e x i s t e n c i a l i s m o e
fenomenologia.

I A obra d o existencialista J e a n - P a u l S a r t r e (1905-1980)


i n d a g a o q u e é existir e n q u a n t o ser h u m a n o , c o m o o s
indivíduos fazem a experiência de sua própria existência,
c o m o fazem escolhas e lidam c o m a liberdade e a
autenticidade.

M a r t i n H e i d e g g e r (1889-1976) priorizava
TOPO SENTI PO NO o Ser e m vez d a existência.
MUNPO N&O é RNTERIOR
OU INRTO, ELE PERIVR PR
EXISTÊNCIR. ESSfí é UMR
VLOSOFIR BRSERPR NO y

SUJEITO.

EU REJEITO R
PISTINÇRO HRBITURL
ENTRE UM SER PENSRNTE PORTRNTO, OS SERES^
E UM MUNPO EXTERNO, | HUMRNOS HRBITRM R V/PR
OBJETIVO. NÓS SOMOS NÓS RPRENPEMOS COISRS,
SERES-NO-MUNPO. QUESTIONRMOS COISRS,
PISCUTIMOS COISRS^

F o u c a u l t iria verificar c o m o e s s a D a s e i n a n á l i s e ( t e r m o r e f e r e n t e à
psicoterapia existencial heideggeriana) forneceria u m instrumento
m e d i a n t e o q u a l o ser d e u m p a c i e n t e p s i q u i á t r i c o , p o r e x e m p l o , é
central para u m entendimento do m u n d o psiquiátrico.

16
E FENOMENOLOGIA

A f e n o m e n o l o g i a é a i n v e s t i g a ç ã o d a m a n e i r a c o m o as c o i s a s — o b j e t o s ,
i m a g e n s , ideias, e m o ç õ e s — s u r g e m o u e s t ã o p r e s e n t e s e m n o s s a
consciência.

A f e n o m e n o l o g i a f a z isso sem r e f e r ê n c i a a o status d o s o b j e t o s f o r a d a


c o n s c i ê n c i a q u e t e m o s d e l e s . Ela s u s p e n d e o o b j e t o " e m s i " e o l h a
apenas para nossa e x p e r i ê n c i a dele.

Algumas versões de PEVEMOS


f e n o m e n o l o g i a pura, c o m o a EXCLUIR TOPRS RS
RFIRMRÇÕES B TEORIRS RCERCR
de E d m u n d H u s s e r l (1859-
POS CONTEÚPOS PR CONSCIÊNCIR, NR
1938), b u s c a m a s b a s e s d o
TENTRTIVR PB PESCOBRIR ESTRUTURRS
conhecimento humano.
INRTRS OU FORA/IRS PE CONSCIÊNCIR QUi
CONSTITUEM TOPRS RS POSSIBILIPRPES,
PE EXPERIÊNCIRS MENTRIS.

A fenomenologia
de Maurice Merleau-Ponty
( 1 9 0 8 - 1 9 6 1 ) t e n t a d e s c r e v e r as
percepções d o s indivíduos na
m e d i d a e m q u e eles e x p e r i e n c i a m
o e s p a ç o , as c o r e s , a luz.

Os fenomenólogos não estão interessados e m


e x p l i c a ç õ e s . Eles q u e r e m a e x p e r i ê n c i a i m e d i a t a !

17
A CIÊNCIA E SUA EPISTEMOLOGIA

A história e a f i l o s o f i a d a c i ê n c i a .

A e p i s t e m o l o g i a é a teoria d o c o n h e c i m e n t o . Essa
disciplina examina o que é cognoscível, o que deveria
ser c o n t a d o c o m o c o n h e c i m e n t o e s e o c o n h e c i m e n t o é
certo em c a m p o s que incluem a ciência.

18
A VERDADE COMO ATIVIDADE

Eles c o n s i d e r a v a m a c i ê n c i a e o c o n h e c i m e n t o n ã o c o m o v e r d a d e s
objetivas ou constantes, mas c o m o atividades "comunitárias"
d e s c o n t í n u a s q u e c o n s t r o e m a verdade. Enquanto Bachelard enfatizava
o s p r o b l e m a s d a p r á t i c a c i e n t í f i c a , K o y r é rejeitava a ideia d e q u e as
teorias eram objetivamente válidas.

A s o b r a s d e s s e s p e n s a d o r e s e x p u s e r a m as p r e t e n s õ e s objetivistas e
racionalistas d a ciência a o q u e s t i o n a m e n t o , e m b o r a eles ainda b u s c a s s e m
" e x p l i c a r " a c i ê n c i a s e g u n d o s u a s regras, e s t r u t u r a s o u p s i c o l o g i a . .

19
"CANG"

Canguilhem atacou a cegueira da


psicologia acerca de suas próprias
c o n d i ç õ e s — as bases e m que e pelas
q u a i s ela c o n s t r ó i o c o n h e c i m e n t o

O s p s i c ó l o g o s s ã o i n c a p a z e s d e definir c o e r e n t e m e n t e o o b j e t o d e
seus estudos. A psicologia é um empirismo compósito, codificado em
m o d a literária p a r a fins d e e n s i n o — e é u m a d i s c i p l i n a p o l i c i a l .

A c i ê n c i a é u m a e x p l o r a ç ã o d a r a c i o n a l i d a d e e m a ç ã o , m a s isso p o d e
ser v i s t o h i s t o r i c a m e n t e .

A s v e r d a d e s científicas e s t ã o a b e r t a s à d i s c u s s ã o , m a s não s ã o m e n o s
"reais" por conta de sua contingência. Desse m o d o , o conhecimento
científico é visto c o m o o r g a n i z a d o , o p e r a c i o n a l e sujeito a m u d a n ç a . Ele
s i m p l e s m e n t e n ã o existe " f o r a d a q u i " .

20
O PROJETO DE FOUCAULT ASSUME FORMA

A ideia d e F o u c a u l t era
tomar alguns dos termos
e m é t o d o s d a história d a
ciência e aplicá-los a outro
objeto filosófico: o ser
humano.

F o u c a u l t n ã o e s t a v a feliz e s t u d a n d o a e x p e r i ê n c i a c o m o b a s e p a r a o
c o n h e c i m e n t o e m si m e s m o , p o i s isso a i n d a e s t a v a m u i t o c e n t r a d o n o
sujeito e aceitava q u e alguém pudesse retomar estruturas de sentido
p r é v i a s o u inatas.

Diante disso, Foucault definiu a experiência — por exemplo, d e


loucura ou sexualidade — e m t e r m o s d a experiência d e indivíduos
historicamente situados e o m o d o pelo qual essa experiência se
enraizava no discurso científico e no discurso filosófico.

21
CORRENTES POLÍTICAS

F o u c a u l t s e filiou a o P a r t i d o C o m u n i s t a F r a n c ê s (PCF), e m 1 9 5 0 , p o r
indicação de seu depressivo mentor marxista, L o u i s A l t h u s s e r (1918-
1990). T r a t a v a - s e d e u m p a r t i d o stalinista n o a u g e d e s e u p o d e r , p o r q u e
ainda gozava d a credibilidade proveniente de suas atividades da
Resistência d o t e m p o d a guerra.

M a s F o u c a u l t n ã o e s t a v a lá m u i t o c o m p r o m e t i d o , e r a r a m e n t e ia às
reuniões de partido.

C o r r e n t e s p o l í t i c a s d e q u e t i p o ? C o m o as d o b i ó l o g o stalinista T . D.
L y s e n k o (1898-1976), que acreditava que características d o m u n d o
biológico eram herdadas e determinadas.

F o u c a u l t e s t a v a c o m e ç a n d o a ver q u e o c o n h e c i m e n t o c i e n t í f i c o e s t a v a
relacionado mais c o m o p o d e r d o que c o m a v e r d a d e .

E, d e a c o r d o c o m o d o g m a d o P a r t i d o , s u a h o m o s s e x u a l i d a d e estaria
automaticamente alinhada c o m a "decadência burguesa".
23
FOUCAULT EXPLODE

N a p r i m a v e r a d e 1 9 5 0 , F o u c a u l t fez s e u s e x a m e s finais e p a s s o u p e l o
e s t á g i o e s c r i t o . M a s s e u e x a m e oral s o b r e " h i p ó t e s e s " o d e s a p o n t o u . Ele
t i n h a t e n t a d o s e exibir!

E m 1 9 5 1 , f i n a l m e n t e , foi
a p r o v a d o , m a s ele e s t a v a
f u r i o s o p o r t e r t i d o d e falar
sobre "sexualidade" em
s e u e x a m e o r a l . Ele a i n d a
não sabia quão importante
esse assunto estava para se
tornar...

Depois d e ter simulado u m a


depressão para escapar do
s e r v i ç o militar, e m 1 9 5 1 , ele
c o m e ç o u a pesquisa para seu
doutorado na exclusivamente
masculina F u n d a ç ã o Thiers.
Foucault era impopular.

N e s s e t e m p o , ele t e v e
u m c a s o a m o r o s o e,
depois de um ano,
evadiu-se para a
U n i v e r s i d a d e d e Lille,
para assumir o posto de
professor-assistente.

Para relaxar n o s
feriados de verão,
Foucault visitou sua
m ã e e a a j u d o u a fazer
picles de pepino e a
regar o j a r d i m .

24
RUMO À PSICOLOGIA?

iiJilÉlH

RLTURR, EU
RINPR NfíO T/NHR FUNPRPO
R PSICRNfiUSE EM TEOR/RS
UNGUÍSTICRS. EU ESTRVR EXPONPO
X \MINHRS IPEIRS SOBRE R IPENTIFICRÇfíG
'4 fe RELRCIONRNPO-RS COM RS
4
INCLINRÇÕES POS GRFRNHOTOS
«t1 - > MIGRRTÓRIOS E POS
ESGRNR-GRTRS.

Eh
VOCê é UM
GPFRNHOTO, E
J/OCê, E VOCê..

F o u c a u l t f o i visitar S a i n t - A n n e , o h o s p i t a l p s i q u i á t r i c o d e Paris. Ele e s t a v a


muito interessado na base "racional" para a pesquisa — essa base
p r e c i s a v a ser q u e s t i o n a d a .

Ele t a m b é m e s t a v a o b c e c a d o c o m o s t e s t e s d e R o r s c h a c h e t e n t o u
aplicá-los a seus colegas d e faculdade. "Dessa maneira, saberei o que
eles t ê m e m m e n t e " .
25
SONHOS EXPERIMENTAIS?

F o u c a u l t n ã o t i n h a u m r e l a c i o n a m e n t o fácil c o m a p s i c o l o g i a
e x p e r i m e n t a l . Ele a c h a v a q u e a p e s q u i s a d e J a c q u e l i n e V e r d e a u x —
p s i q u i a t r a e a m i g a d e s u a família — s o b r e o s r i t m o s r e s p i r a t ó r i o s d e
p e s s o a s o u v i n d o a " S i n f o n i a d o s s a l m o s " , d e S t r a v i n s k y , e r a ridícula,
tanto q u a n t o as pretensões filosóficas de Lacan.

M e s m o a s s i m , ele a u x i l i o u V e r d e a u x e m u m a t r a d u ç ã o e i n t r o d u ç ã o
a o b r a Sonho e existência, d e L u d w i g B i n s w a n g e r (1881-1966). M a s
isso e s t a v a r e l a c i o n a d o c o m o s i n t e r e s s e s d e F o u c a u l t : a daseinanálise.
B i n s w a n g e r diz:

26
A PSICOLOGIA ENCONTRA HEIDEGGER

Escrita e m 1 9 5 3 , a o b r a d e F o u c a u l t , Psicologia de 1850 a 1950, refletia


s u a s t e n t a t i v a s d e analisar o status d a P s i c o l o g i a c o m o u m a c i ê n c i a c o m
seu objeto — a existência humana.

F o u c a u l t a f i r m a v a q u e a h i s t ó r i a d a P s i c o l o g i a é c o n t r a d i t ó r i a : ela q u e r
ser u m a c i ê n c i a o b j e t i v a — c o m o a B i o l o g i a —, m a s e n t e n d e q u e a
realidade h u m a n a n ã o é s i m p l e s m e n t e p a r t e d a " o b j e t i v i d a d e n a t u r a l " .

Doença mental e psicologia (1954) foi p u b l i c a d o p o r F o u c a u l t p a r a


tentar explicar diferentes m é t o d o s psicológicos — o fenomenológico, o
existencial, o marxista.

27
DOENÇA E MARX

N e s s a leitura m a r x i s t a , a l o u c u r a é r e s u l t a d o d a a l i e n a ç ã o d e si m e s m o
e d a h i s t ó r i a , p o r q u e as c o n d i ç õ e s m a t e r i a i s s ã o i n s o l ú v e i s .

Não é porque alguém está doente que


está alienado. É porque está alienado
que está doente.

A s relações sociais determinadas pela


e c o n o m i a atual, à guisa de competição
exploração, guerras imperialistas e
luta d e c l a s s e s , d ã o a o h o m e m u m a
experiência de seu ambiente humano
que é constantemente assombrada
pela contradição.

Transformar as relações no
ambiente social poderia solucionar
a d o e n ç a d e u m a vez por todas.

F o u c a u l t e s t a v a n e g a n d o q u e a d o e n ç a m e n t a l p u d e s s e ser v i s t a e m
termos negativos e sustentando que e m b o r a a Psicologia tivesse
p a s s a d o d a d i s c u s s ã o d a e v o l u ç ã o (Ciência) p a r a d i s c u t i r o h o m e m i
(História), ela a i n d a s e v i n c u l a v a a p r e c o n c e i t o s m o r a i s o u " m e t a f í s i c o s " .

28
AMOR E M DIFICULDADES

Em p r i n c í p i o s d o s a n o s 1 9 5 0 , Foucault t a m b é m conheceu Paul


Foucault frequentava os m e s m o s V e y n e ( n a s c i d o e m 1930), q u e
grupos em que circulava o viria a e x e r c e r f o r t e influência
jovem génio da música, Pierre e m História da sexualidade de
B o u l e z ( n a s c i d o e m 1925). E Foucault.
também conheceu e teve um
caso apaixonado c o m J e a n Veyne achava Foucault
B a r r a q u é (1928-1973), um jovem excessivamente misógino,
c o m p o s i t o r . Eles p a r t i l h a v a m e n q u a n t o F o u c a u l t era d a o p i n i ã o
o mesmo gosto por Heidegger de que a heterossexual idade
e Nietzsche. Foucault deu a d e Veyne era simplesmente
B a r r a q u é ideias literárias p a r a entediante!
serem transformadas em música.
Em d e z e m b r o de 1955 Foucault
OUÇR
RQUI: PEIXE r e g r e s s o u a Paris p a r a o Natal.
FOUCRULT, PRRR SEU O caso a m o r o s o c o m Barraqué
PRÓPRIO BEM... ESSE HOMEM n ã o ia lá m u i t o b e m .
^PESTRUIRó VOCê PEPOIS QUE
TIVER PESTRUÍPO R SI
MESMO.
SUÉCIA!

E m a g o s t o d e 1 9 5 5 , F o u c a u l t foi c o n v i d a d o a a s s u m i r u m p o s t o n o
Departamento d e Estudos Românicos na Universidade de Uppsala, na
S u é c i a , p o r i n d i c a ç ã o d e G e o r g e s D u m é z i l — " o professor" — (1898-
1986), e s p e c i a l i s t a e m religiões e m i t o l o g i a s i n d o - e u r o p e i a s . D u m é z i l
utilizava u m a f o r m a antecipada d e e s t r u t u r a l i s m o .

Seu trabalho se concentrava em conjuntos de relações constantes,


universais entre e interculturas.

I Foucault se tornou professor-assistente d e Francês e


I l e c i o n a v a L í n g u a e Literatura. Ele t a m b é m foi i n d i c a d o
I c o m o diretor d a Maison d e France, b e m c o m o a d i d o
I cultural.

30
FOUCAULT, O BEBEDOR

F o u c a u l t c o z i n h a v a m u i t o b e m e g o s t a v a d e r e c e b e r s e u s a m i g o s . Ele
t a m b é m bebia bastante, para c o m p e n s a r as longas noites escuras. E
saía e m b u s c a d e a v e n t u r a s c o m h o m e n s .

Foucault c o m p r o u u m Jaguar esportivo m a r r o m — usando o dinheiro de


s u a família — c o m o q u a l e n c a r a v a b u r a c o s e v a l a s q u a n d o e s t a v a m u i t o
irritado. E ia m u i t o a E s t o c o l m o , o n d e d e s f r u t a v a d a c o m p a n h i a , d a s
histórias e d a s c a n ç õ e s s u a v e s d e M a u r i c e C h e v a l l i e r ( 1 8 8 8 - 1 9 7 2 ) .

Ele d e u aulas s o b r e " A c o n c e p ç ã o


d o a m o r n a literatura f r a n c e s a , d o
Marquês de Sade a Jean Genet"
para um público
eminentemente
feminino.
A BIBLIOTECA DE UPPSALA:
O NASCIMENTO DA LOUCURA

Ele d e c i d i u d e f e n d e r e s s a
pesquisa c o m o tese de
d o u t o r a d o , m a s ela fazia
parte de u m a obra muito
g e n é r i c a e literária p a r a
o empirismo de Uppsala.
Foucault t e n t o u j u s t i f i c a r
sua abordagem.
AS INDISCRIÇÕES DE FOUCAULT

F o u c a u l t s e m u d o u p a r a V a r s ó v i a , a f i m d e dirigir o C e n t r o F r a n c ê s . A
P o l ó n i a f u n c i o n a v a p e s s i m a m e n t e . A i n d a n ã o havia s e r e c u p e r a d o d a
S e g u n d a G u e r r a M u n d i a l . F o u c a u l t e s c r e v i a à luz d e v e l a s . A política era

Nesse clima d e suspeição, fez sexo c o m u m j o v e m q u e trabalhava para


a polícia, p a r a p o d e r p a g a r s u a f a c u l d a d e . F o u c a u l t foi c o n v i d a d o p e l o
embaixador a deixar Varsóvia.
LUTA KA LAMA

Foucault viajou c o m u m a inspetora d o


M i n i s t é r i o d a E d u c a ç ã o e m u m a visita a
C r a c ó v i a . I n a d v e r t i d a m e n t e , ela i r r o m p e u p o r t a
adentro d o quarto d o "Fuchs" — para flagrá-lo
nos braços d e u m rapaz.

A l g u m t e m p o depois, Foucault afirmou que esse episódio o impediu


d e deter o s a c o n t e c i m e n t o s das rebeliões d e maio d e 1968, p o r q u e o
M i n i s t é r i o d a E d u c a ç ã o n ã o levara a sério s e u s p l a n o s d e r e f o r m a !

Ele s e m u d o u p a r a H a m b u r g o , p a r a
outro Instituto, o n d e apresentou ao
escritor A l a i n R o b b e - G r i l l e t (1922-
2 0 0 8 ) o s c l u b e s d e striptease, os
p a r q u e s e as salas de espelho.

Foucault teve até u m lance c o m u m


travesti.

Ele t a m b é m l e v o u o r o m a n c i s t a P i e r r e
G a s c a r ( 1 9 1 6 - 1 9 9 7 ) p a r a assistir a
l u t a s d e m u l h e r e s n a l a m a n o bairro
vermelho. A clientela d o s bares tratava
F o u c a u l t d e "Senhor Doutor '.
3
1960-1961 - PANO RÁPIDO

O pai d e F o u c a u l t f a l e c e u . F o u c a u l t investiu s u a h e r a n ç a n a c o m p r a d e
u m m o d e r n o flat n a r u a Dr. Finlay, c o m v i s t a p a r a o rio S e n a .

E s t a m o s n a F r a n ç a d a Q u i n t a R e p ú b l i c a , d e C h a r l e s d e Gaulle. Vias
expressas pedagiadas, b o m b a s atómicas, a nova m o e d a , filmes da
Nouvelle Vague, t u d o p r o c l a m a v a u m a F r a n ç a m o d e r n a , m a s t a m b é m
inquieta.

D a n i e l D e f e r t , u m e s t u d a n t e d a École N o r m a l e d e S a i n t - C l o u d , foi
a p r e s e n t a d o a Foucault. Eles se t o r n a r a m p a r c e i r o s íntimos. Defert era
u m a militante antiguerra. F o u c a u l t e v i t o u e s s a q u e s t ã o e c o n c l u i u a
p e s q u i s a para seu História da loucura n o s a r q u i v o s e bibliotecas d e Paris.
35
DA FILOSOFIA À LOUCURA

E m m e i o a t u d o i s s o , ele c o n c l u i u
suas duas teses, as quais ILUMINISMO: O
decidiu submeter à Sorbonne, ESPÍRITO FILOSÓFICO,
CULTURRL E CIENTÍFICO PO
e m Paris. E a p r e s e n t o u u m a t e s e
SÉCULO XVIII. UMR CRENQR NR
c o m p l e m e n t a r sobre o filósofo
RRZRO, NO PROGRESSO, NR
do Iluminismo I m m a n u e l Kant
*MRTURIPRPE" PO HOMEM E
(1724-1804), na qual usou o termo UMR COMPLETR REJEIÇRO PR
" a r q u e o l o g i a " pela primeira vez, TRRPIÇRO, PR RELIGlRO E
q u e i n d i c a v a o p e r í o d o d a história PR RUTORIPRPE.
a o q u a l e l e i n c e s s a n t e m e n t e havia
d e retornar.

O s m e m b r o s d a banca, depois disso, passaram a ouvir o trabalho


principal d e Foucault...

36
HISTÓRIA DA LOUCURA (1964)

A História da loucura n ã o e r a u m a v i s ã o d a história d a l o u c u r a d o p o n t o


d e vista d e u m p s i q u i a t r a .

Mais tarde, Foucault disse q u e seu objeto era "o conhecimento investido
no sistema c o m p l e x o das instituições". Autoridades, suas práticas e
opiniões seriam e s t u d a d o s para demonstrar a loucura não c o m o um
d i s c u r s o científico o u t e ó r i c o , m a s c o m o u m a p r á t i c a c o t i d i a n a , regular.

37
LOUCURA E DESRAZÃO

Em vez disso, Foucault propôs um estudo preciso d a loucura e m si


(o h e i d e g g e r i a n o f r a c a s s a a q u i , p o r c a u s a d e s e u " s i l ê n c i o " a l é m d a
l i n g u a g e m d a razão).

"Para capturar um espaço, TEMOS


palavras s e m u m a linguagem, PE TENTRP PECURP
o refratário murmurar d e u m a NR HISTÓPIR RdUELE "PONTO
ZEPO" NO CUPSO PR LOUCUPR
l i n g u a g e m q u e p a r e c e falar p o r
NO QURL ELR FOI PEPENT/NRMENTE
si m e s m a . . . Falhar d i a n t e d e l a
SEPRPRPR PR PRZRO - TRNTO NO
levou a n e n h u m a formulação e CONFINRMENTO PO INSRNO COMO NO
ao retrocesso sem nenhuma \ISOLRMENTO CONCEITURL PR LOUCUPRy
a g i t a ç ã o a o s i l ê n c i o d o q u a l ela EM PELRÇRO R PRZRO, COMO
nunca se separou". PESPRZRO.
A ERA CLÁSSICA

F o u c a u l t c h a m a d e " e r a c l á s s i c a " o p e r í o d o d a história d a E u r o p a


entre o s s é c u l o s XVII e XVIII, p a r a m o s t r a r q u e a l o u c u r a é u m o b j e t o
de percepção dentro d e u m " e s p a ç o social" estruturado de diferentes
m o d o s a o l o n g o d a história. A l o u c u r a é u m o b j e t o d e p e r c e p ç ã o
p r o d u z i d o p o r p r á t i c a s s o c i a i s , e m v e z d e ser s i m p l e s m e n t e u m o b j e t o
d e p e n s a m e n t o o u d e s e n s i b i l i d a d e q u e p u d e s s e ser a n a l i s a d o .

E6TR
O QUE
PEPGUNTR a SUBSTITUÍPR
É R LOUCUPR?
POP OUTPR NOVR: "COMO R
^EXPEPIêNCIR PR LOUCUPR é POSTR,
EMPPÕTICR?'

T
F o u c a u l t ar g u m e n t a q u e , a n t e s d a T e m o s quatro fases históricas
Era C l á s s i c a , a r e l a ç ã o d a l o u c u r a e distintas percepções da
c o m a razão era m u i t o d i f e r e n t e . loucura.

1 39
1. A LOUCURA MEDIEVAL E A MORTE

No período medieval, a disputa 2. A LOUCURA NO


d o h o m e m c o m a loucura era
um d r a m a no qual t o d o s os
RENASCIMENTO
segredos d o m u n d o corriam
risco. A experiência da loucura A loucura assumiu visibilidade e m
era o b s c u r e c i d a por imagens d a finais d o s é c u l o XV.
Queda, d o s desígnios de Deus,
da Besta, d o fim dos tempos e A vida do h o m e m não é mais louca
do mundo. por conta da inevitabilidade d a
morte, mas porque a morte habita
A m o r t e era o t e m a dominante. A o coração da própria vida.
l o u c u r a d o h o m e m e s t a v a e m não
ver q u e o d o m í n i o d a m o r t e e s t a v a
p r ó x i m o . P o r t a n t o , era n e c e s s á r i o
trazê-lo de volta à sabedoria c o m
o espetáculo da morte.

40
A VERDADE DA LOUCURA

A l o u c u r a era a " v e r d a d e " d o


conhecimento, mas o conhecimento e
o aprendizado do h o m e m sadio eram
u m a loucura absurda. O personagem
literário d o L o u c o , e m s u a s á b i a
idiotia, j á s a b i a d i s s o .

BM
MINHA LOUCURfí,
PBMONSTRO O QUfíNTO R
VRóPRIfí RfíZfíO é LOUCfí..

Do s é c u l o XV e m d i a n t e , p o r m e i o
d a Literatura, d a Filosofia e d a A r t e ,
o sujeito é a p r e e n d i d o d e diferentes
m o d o s . A partir d e e n t ã o , a l o u c u r a
existe no homem. A e x p e r i ê n c i a d a
loucura a s s u m e a f o r m a d e s á t i r a
m o r a l , e m vez d e a m e a ç a s d e invasão
d o m u n d o p o r parte d a l o u c u r a ,
algo q u e aterrorizava p i n t o r e s c o m o
H i e r o n y m o u s B o s c h (1450-1516).
P o n t o s i n s e n s a t o s p a r a a l o u c u r a e erro
d a própria razão.

"A nau d o s insensatos" era u m a representação


simbólica do banimento e da peregrinação do louco
e m b u s c a d e razão.
3. A ERA CLÁSSICA DO CONFINAMENTO

Antigos leprosários a b a n d o n a d o s eram usados para u m a nova


i f i n a l i d a d e — c o n f i n a r . A i d a d e d a razão e n c a r c e r o u t a n t o o p o b r e
q u a n t o o i n s a n o . E m 1 6 5 6 , u m d e c r e t o f u n d o u o H o s p i t a l Geral e m
I Paris. U m e m c a d a c e m p a r i s i e n s e s e s t a v a c o n f i n a d o — o l o u c o
| junto c o m o pobre e o criminoso.

42
A MORALIDADE BURGUESA

R e a l m e n t e , o c o n f i n a m e n t o t i n h a m a i s a ver c o m o p r o b l e m a e c o n ó m i c o
d o desemprego, d a inatividade e d a mendicância. U m a nova ética d o
t r a b a l h o e n o v a s ideias a r e s p e i t o d o d e v e r m o r a l a g o r a s e v i n c u l a v a m a o
direito civil. O t r a b a l h o e r a a r e d e n ç ã o . O ó c i o , r e b e l i ã o . M e n d i g o s e r a m
f r e q u e n t e m e n t e a t a c a d o s p o r a r q u e i r o s às p o r t a s d a s c i d a d e s . . .

Enquanto o Renascimento
e x p u s e r a a l o u c u r a à luz, a Era
Clássica a via c o m o escândalo
o u v e r g o n h a . A s famílias
ocultavam tios loucos e primos
e s t r a n h o s e m asilos.

t i

ta

Mas o espetáculo tinha sua parte. No Hospital Bethlehem, e m Londres,


lunáticos eram exibidos a 96.000 pessoas por ano. A loucura, que antes
fora representada, agora era apresentada e m carne e o s s o — não mais
c o m o u m m o n s t r o d e n t r o d e a l g u é m , m a s c o m o a l g o p a r a o q u a l olhar.

43
TRATADOS COMO ANIMAIS

O c o n f i n a m e n t o n ã o e r a i n s p i r a d o p o r u m d e s e j o d e p u n i r o u d e corrigir
— m a s s i m p l e s m e n t e d e disciplinar e d e manter à parte. Desse m o d o ,
o s i n s a n o s p a s s a v a m a viver a t r á s d e g r a d e s , a c o r r e n t a d o s a p a r e d e s ,
c o m i d o s por ratos.

LOUCO N f l O é UM
HOMEM ENFERMO. 6UR
RNIMRLIPRPE O TORNR IMUNE
RO FRIO, R FOME E R POR.
LOUCURR RN/MRL O
PROTEGE.

A Medicina desse período percebia a loucura


c o m o um movimento excessivo de paixões
perigosas — o excesso d e aflição ou d e
a l i m e n t o levava à m e l a n c o l i a e a o delírio.

Tratamentos para a loucura eram dirigidos ao c o r p o d a pessoa insana,


b e m c o m o à s u a i m a g i n a ç ã o . N o r m a l m e n t e , tais t r a t a m e n t o s e r a m
a p l i c a d o s fora d o s h o s p i t a i s .

Música, corrida, viagens, imersão em água gelada, purificação c o m


elementos de limpeza e c o m "comidas c o m aspecto de lavagem" —
aliviavam espíritos febris.

44
REFORMA, ASILOS E APRISIONAMENTO
DE MENTES

Ali pelo final d o s é c u l o XVIII, r e f o r m a d o r e s p s i q u i á t r i c o s p a s s a r a m


a c o n s i d e r a r as m e d i d a s p u n i t i v a s c o m o t r a t a m e n t o s m a l é f i c o s . O s
insanos eram fisicamente libertados e s u b m e t i d o s a u m discurso moral,
e d u c a c i o n a l e p s i q u i á t r i c o . M a s , d e f a t o , eles p a s s a v a m a ser m e n o s
livres, p o r q u e a t é m e s m o s u a s mentes e s t a v a m s u j e i t a s a t r a t a m e n t o .

Razão e d e s r a z ã o e s t ã o , a partir
de então, separadas: a linguagem
p s i q u i á t r i c a se instala c o m o u m
m o n ó l o g o d a razão s o b r e a l o u c u r a
4 . 1 9 0 0 E FREUD, O DIVINO

Personalidades c o m o S i g m u n d F r e u d (1856-1939) silenciaram


d i a n t e d a c o n d e n a ç ã o d a l o u c u r a . Ele a b o l i u o r e g i m e d e s i l ê n c i o
q u e o s r e f o r m a d o r e s e m p r e g a v a m . E fez o l o u c o falar. M a s t a m b é m
d e s e n v o l v e u a e s t r u t u r a q u e incluía o p e r s o n a g e m m é d i c o — ele —
c o m o onipotente e quase divino.

P a r a F o u c a u l t , a ú n i c a m a n e i r a d e a l o u c u r a ser v i v i d a " e m si m e s m a " ,


f o r a d a r a z ã o a u t o r i t á r i a , é p o r m e i o d a A r t e e d a Filosofia.

O m u n d o q u e pensava mensurar e justificar a loucura por meio d a


P s i c o l o g i a t e m d e j u s t i f i c a r a si m e s m o d i a n t e d a l o u c u r a — d i a n t e d o
e x c e s s o d e o b r a s c o m o as d e A r t a u d , V a n G o g h e N i e t z s c h e .
RECEPÇÃO CRÍTICA

A o b r a d e F o u c a u l t q u e s t i o n a as o r i g e n s
d o status c i e n t í f i c o d a P s i c o l o g i a ,
s e m se s u b m e t e r à a u t o r i d a d e d e
fontes históricas d e informação. Não
t e n t a definir a l o u c u r a . Ela i n d i c a o s
modos segundo os quais a loucura
é vivida, i m a g i n a d a e d i s p e r s a d a —
fenomenologicamente — com algum
pretenso apoio à m u d a n ç a estrutural
(economia, sociedade, ciência).

Houve aqueles que


criticaram sua falta de
atributos históricos e suas
distorções.

47
ANTIPSIQUIATRIA

O livro foi a c o l h i d o p e l a t e o r i a a n t i p s i q u i á t r i c a e c o n t r a c u l t u r a l d e
R. D. L a i n g ( 1 9 2 7 - 1 9 8 9 ) e d e D a v i d C o o p e r ( 1 9 3 1 - 1 9 8 6 ) e a i n d a
n o Anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia (1972) d e G i l l e s
D e l e u z e (1925-1995) e Félix G u a t t a r i (1930-1992).

48
F O U C A U L T VS. D E R R I D A , 1 9 6 3

Em u m a c o n f e r ê n c i a , o p ó s -
FOUCAULT
-estruturalista J a c q u e s D e r r i d a TENTOU ESCREVER UMR
(1930-2004) desconstruiu as três HISTÓRIR PR LOUCURR EM
p á g i n a s d e História da loucura, SI...
nas q u a i s F o u c a u l t d i s c u t e a s ESSRé
Meditações de René Descartes R PRRTE MR/S MRLUCR
(1596-1650). EM FOUCRULT. COMO ELE POPE
EV/TRR R VIOLÊNCIR QUE R LINGURGEM
PR RRZfíO (ORPEM, VERPRPE, O SISTEMR
PE OBJETIVIPRPE E R RRCIONRL/PRPE
à

UNIVERSRL) MOSTRR R
LOUCURR?
C L E R M O N T - F E R R A N D : O INÍCIO DO CONFLITO

F o u c a u l t s e t o r n o u u m intelectual r e s p e i t a d o . E s c r e v e u a r t i g o s e
f e z c o n f e r ê n c i a s , f e z crítica literária e f a l o u s o b r e d e s v i o s r e l i g i o s o s .
O relatório d e Canguilhem e o apoio d e Hyppolite levaram-no a
ser c o n v i d a d o p a r a u m p o s t o c o m o p r o f e s s o r n a U n i v e r s i d a d e d e
C l e r m o n t - F e r r a n d , e m 1 9 6 0 . A l i , ele e n s i n o u P s i c o l o g i a . Q u a n d o o
f i l ó s o f o c o m u n i s t a R o g e r G a r a u d y ( 1 9 1 3 - 2 0 1 2 ) foi t r a n s f e r i d o p a r a lá,
a p a r e n t e m e n t e p o r influência d o p r e m i e G e o r g e s P o m p i d o u ( 1 9 1 1 -
1 9 7 4 ) , t e v e início u m a c o n t e n d a a m a r g a .

Eles c h e g a r a m a o QUE VOCê TEM


e n f r e n t a m e n t o físico. CONTRA MIM?

í,
TENHO
NAPA CONTRA
VOCê. Só CONTRA A
ESTUPIDEZ.

50
LINGUAGEM E LITERATURA

N e s s e m o m e n t o , o i n t e r e s s e d e F o u c a u l t p e l a literatura e s t a v a e m
seu ápice, especialmente por romances que explorassem o insensato
d e s l i z a m e n t o e n t r e a l i n g u a g e m , s e u s e n t i d o e o s m u n d o s q u e isso
cria, tal c o m o o e x c ê n t r i c o Locus Solus (1914), d e R a y m o n d
Roussel (1877-1933).

les lettres du blanc sur les bandes du A d e s c r i ç ã o não é a


vieux billard (as letras b r a n c a s s o b r e a s fidelidade da linguagem
m a r g e n s (ia v e l h a m e s a d e bilhar) a seu objeto, mas o
nascimento constantemente
p o d e m se r t r a n s f o r m a d a s e m renovado de um
r e l a c i o n a m e n t o infinito e n t r e
les lettres du blanc sur les bandes du as palavras e as coisas.
vieux pillard (as c a r t a s d o h o m e m b r a n c o
s o b r e as \ relhas g a n g u e s d e s a l t e a d o r e s )
MEDICINA E METODOLOGIA

E m 1 9 6 3 , F o u c a u l t p u b l i c o u O nascimento da clínica, c o m b a s e e m s u a
leitura d e c a d a livro s o b r e m e d i c i n a clínica p r o d u z i d o e n t r e 1 7 9 0 e 1 8 2 0 .
" E s t e livro t r a t a d o e s p a ç o , d a l i n g u a g e m e d a m o r t e ; t r a t a d o o l h a r " .

A m e d i c i n a c l í n i c a e r a m a i s d o q u e o p i n i õ e s a p e n a s . Ela s e v i n c u l o u
à s c i ê n c i a s d o s é c u l o XIX, c o m o a B i o l o g i a , a Fisiologia e a A n a t o m i a ,
assim c o m o a i n s t i t u i ç õ e s c o m o os hospitais e a p r á t i c a s c o m o o
inquérito administrativo. Foucault queria prestar contas das r e g r a s desse
conhecimento.

EU ME
PEPGUNTRVR COMO
EPR QUE O CONHECIMENTO
POPIR TEP SUPGIPO, MUPRPO,
SE PESENVOLVIPO E OFEPECIPO R
TEOPIR CIENTÍFICR NOVOS CRMPOS PE
OBSEPVRÇÕES E OBJETOS, E COMO
JO RPPENPIZRPO CIENTÍFICO TINHR
SIPO IMPOPTRPO PRPR
PENTPO PELE.

'' V
\V -'

BIOLOGIA
FISlOÍOGIfí
PINflTOMtfl:
INVESTIGfíÇi

OBJBTI
E m C i ê n c i a , o m o d e l o d e o b s e r v a r , ver e n o m e a r é a b e r t o .
O CONHECIMENTO MEDICO MUDA

A p r á t i c a d a m e d i c i n a é m i s t u r a instável d e c i ê n c i a r i g o r o s a e d e t r a d i ç ã o
incerta. C o n t u d o , e n q u a n t o s i s t e m a d e c o n h e c i m e n t o , ela e n c o n t r a s u a
própria coerência. E esse conhecimento se transforma no decorrer d o
t e m p o — de uma linguagem de fantasia e mito...

ESTOU
FRLRNPO R
UNGURGEM PR FRNTRSIR y

MÉPICR RQUL MINHR


^MEPICINR NRO TEM BRSE;
PEPCEPTURL^

para uma linguagem que


assume a objetividade.
ESTRUTURALISMO

Este livro t a m b é m é u m e s t u d o q u a s e e s t r u t u r a l i s t a d e c o m o o s
discursos m é d i c o s organizam-se e m r e f e r ê n c i a a diferentes estruturas
— políticas, sociais, culturais e e c o n ó m i c a s — e u m a e m relação à outra,
a f i m d e d e m o n s t r a r as m u d a n ç a s q u e a f e t a r a m c o m o
j g ^ j p " - — — a s c o i s a s e r a m f a l a d a s o u vistas e o q u e era
possível ver e dizer e m d e t e r m i n a d o
período histórico.

A medicina simplesmente reorganiza a d o e n ç a segundo novos padrões


d e s i n t a x e — n o v a s r e l a ç õ e s e n t r e a l i n g u a g e m e a q u i l o q u e ela n o m e i a ,
vinculadas a outras m u d a n ç a s estruturais na sociedade, e m suas
práticas e instituições.

54
O CONHECIMENTO COMO CLASSIFICAÇÃO

Nossa percepção do corpo c o m o As doenças eram concebidas


o natural " e s p a ç o d a o r i g e m e d a c o m o algo q u e era transferido para
distribuição d a d o e n ç a " , c o m o o corpo quando suas qualidades
espaço determinado pelo a t l a s entravam em combinação com o
anatómico, é simplesmente um t e m p e r a m e n t o d o paciente.
d o s vários m o d o s s e g u n d o o s
quais a medicina f o r m o u seu Esse e r a o p e n s a m e n t o m é d i c o
"conhecimento". classificatório.

A Medicina das espécies (1770) Essa e s p a c i a l i z a ç ã o d a d o e n ç a


c l a s s i f i c a v a as d o e n ç a s c o m o era conceituai. A s doenças eram
e s p é c i e s sem u m a necessária hierarquicamente ordenadas em
ligação c o m o c o r p o . famílias, g é n e r o s e e s p é c i e s e m
termos de analogia e semelhança.
"O catarro é para a garganta o que
a disenteria é para o intestino".
O paciente era u m obstáculo
potencial à percepção das classes
ou espécies formais.

55
SINTOMAS

P o s t e r i o r m e n t e , a m e d i c i n a c l í n i c a (de 1 8 0 0 e m diante) v i a e " p e n s a v a "


as d o e n ç a s c o m o s i n t o m a s e não c o m o entidades ou espécies fixadas
e m u m g r á f i c o . P o r s u a vez, o s s i n t o m a s e r a m i n t e r p r e t a d o s c o m o
s i g n o s d e d e s e n v o l v i m e n t o p a t o l ó g i c o . A d o e n ç a n ã o s e referia m a i s à
d i s t r i b u i ç ã o d e e s p é c i e s e a s u a s r e l a ç õ e s ; p a s s a v a a ser e s p e c i a l i z a d a
no c o r p o c o m o nada além de uma coleção de sintomas.

D e s s a f o r m a , a partir d e e n t ã o , a l i n g u a g e m clínica e s t a v a e m c o m p l e t o
a c o r d o c o m a q u i l o q u e ela n o m e i a . Falar e ver é o m e s m o . A g o r a s e t e m
o olho falante d o m é d i c o clínico.

56
ANATOMIA - A TÉCNICA DO CADÁVER

A anatomia patológica se desenvolve — ou a teoria a n a t o m o c l í n i c a . A


d o e n ç a não denotava espécies ou conjuntos d e sintomas, m a s indicava
lesões e m t e c i d o s e s p e c í f i c o s .

O olhar clínico s o b r e a s u p e r f í c i e d o c o r p o s e t r a n s f o r m a e m u m olhar


para d e n t r o d o c o r p o .

Esse é o olhar d a d i s s e c ç ã o , q u e i n a u g u r a a m e d i c i n a d a s r e a ç õ e s
p a t o l ó g i c a s . O s t e c i d o s e o s ó r g ã o s s ã o a g o r a o lugar d a d o e n ç a . A
noção de classes de doenças ficou para trás.

57


O HOMEM E A MORTE

A MORTE NRO a MAIS UM FATO


ABSOLUTO, QUE PÕE FIM R VIP A E RO
^CURSO PE UMA POENQA. A MORTE AGORA a 0>
PRINCIPIO CONCE/TUAL POMINANTE.

" O o l h a r m é d i c o a t e n t o d e i x a d e ser a q u e l e olhar d o m é d i c o , p a r a


ser u m o l h a r a t e n t o q u e viu a m o r t e — u m g r a n d e o l h o b r a n c o
que desamarra o nó d a vida" — Foucault c o n c o r d a c o m G e o r g e s
B a t a i l l e ( 1 8 8 7 - 1 9 6 2 ) . C e r t a m e n t e , História do olho, o b r a d e Bataille,
erótica e fixada na morte, d e u a Foucault a i m a g e m d o olho c o m o u m
c o n c e i t o viável.

58
BARTHES FICA E N C I U M A D O

O livro d e F o u c a u l t v i r o u i m e d i a t a m e n t e cult.

E l o g i o a o l i v r o d e F o u c a u l t : "Ele p e r m i t i u à p r o f i s s ã o ver q u e a
Medicina não era simplesmente u m a prática mecânica, mas t a m b é m
u m a l i n g u a g e m q u e t i n h a e v o l u í d o c o m o t e m p o " (Dr. B e r n a r d K o u c h n e r ) .

C r í t i c a a o l i v r o d e F o u c a u l t : " F o u c a u l t n ã o c o n s e g u e ver a l é m d e s u a
p r ó p r i a e p i s t e m e . Ele é u m p r o d u t o d o p e n s a m e n t o f r a n c ê s d o s é c u l o XX
q u e privilegia o u d e s a f i a a s o c i e d a d e o c u l a r — f i l o s o f i a s d a p e r c e p ç ã o
visual, d a a p a r ê n c i a , d o e x a m e , d a p i n t u r a e t c . Ele d e v e r i a olhar p a r a
suas próprias premissas ao promover o olho c o m o princípio dominante"
(Martin Gay, p r o f e s s o r universitário).

Mas os estruturalistas afirmam q u e as ligações q u e


F o u c a u l t faz e n t r e o c o n t e x t o s o c i a l d a R e v o l u ç ã o
Francesa, s u a clínica e a m u d a n ç a n a s e s t r u t u r a s
perceptuais são oblíquas.

A o que t u d o indica, Barthes se apartou d e


F o u c a u l t p o r q u e c o b i ç a v a Daniel Defert, q u e
e s t a v a v i v e n d o c o m F o u c a u l t n a rua Dr. Finlay.

59
NIETZSCHE V E M E M SOCORRO

F o u c a u l t leu N i e t z s c h e p e l a p r i m e i r a v e z e m u m a praia, n a Itália, c o m s e u


a m i g o íntimo, M a u r i c e P i n g u e t (1929-1991), e m agosto d e 1953.

60
E m j u l h o d e 11<9 6 4 , e m u m a c o n f e r ê n c i a s o b r e N i e t z s c h e , F o u c a u l t
d i s c u t i u a história e a i n t e r p r e t a ç ã o , r e c o r r e n d o a o s " t r ê s m e s t r e s d a
suspeita": F r i e d r i c h N i e t z s c h e (1844-1900), S i g m u n d F r e u d (1856-
1939) e K a r l M a r x ( 1 8 1 8 - 1 8 8 3 ) .

PEPOIS
PB PBZ ANOS, FOUCAULT
CONTINUA PBBATENPO COM A
FILOSOFIA PAPA ESC AP AP PA IPBIA
HBGELIANA E MARXISTA PA HISTÓRIA
COMO ALGO QUE SE ESTENPE PARA UM
ABSOLUTO COMO UMA RESOLUÇÃO PAS
CONTRAP/ÇÕES E POS CONFLITOS. A
QUEM ELE POPE RECORRER?

O q u e i n t e r e s s a v a F o u c a u l t e m 1 9 6 4 e r a a n a t u r e z a infinita d a
i n t e r p r e t a ç ã o — as interpretações d e Marx das explicações
ideológicas burguesas; as interpretações d e Freud das explicações
que seus pacientes faziam das próprias neuroses e as d e Nietzsche
e m s u a d e f e s a d e q u e a Filosofia n ã o e n c o n t r a o c o n h e c i m e n t o , m a s
i m p õ e i n t e r p r e t a ç õ e s s e m f i m . Por q u e N i e t z s c h e foi t ã o p a r t i c u l a r m e n t e
útil a F o u c a u l t ?

61
CHEGA DE CONHECIMENTO

Para Nietzsche, era inconcebível imaginar


q u e a h i s t ó r i a levará a u m t o d o o u
revelará u m a v e r d a d e total.

Isso r e p r e s e n t a u m a
p o s s i b i l i d a d e radical
de ruptura c o m o
p e n s a m e n t o hegeliano
e sua alegação de que
a história nos c o n d u z
ao absoluto e total
c o n h e c i m e n t o . Isso leva
a duvidar d a razão!

62
AS PALAVRAS E AS COISAS

O interesse de Foucault na linguagem e na interpretação d o m u n d o


levou a s e u próximo livro, As palavras e as coisas: uma arqueologia
I
das ciências humanas, e s c r i t o e m g r a n d e p a r t e e m m e a d o s d e 1 9 6 4 e
e x p a n d i d o e m c o n f e r ê n c i a s f e i t a s n o Brasil, e m 1 9 6 5 .

O objetivo de Foucault é olhar para o m o d o s e g u n d o o qual o h o m e m


s e t o r n o u o o b j e t o d o c o n h e c i m e n t o n a c u l t u r a o c i d e n t a l . E ele faz isso
e l e g e n d o t r ê s p e r í o d o s n a história — o R e n a s c i m e n t o , a I d a d e C l á s s i c a
e a I d a d e M o d e r n a — e d e s e n t e r r a n d o o r e s p e c t i v o a priori h i s t ó r i c o d e
cada época.

A grade latente d e c o n h e c i m e n t o q u e organiza t o d o discurso científico e


d e f i n e o q u e p o d e o u n ã o p o d e ser c i e n t i f i c a m e n t e p e n s a d o : o p r o c e s s o
d e e s c a v a r e s s e s níveis é c l a s s i f i c a d o p o r F o u c a u l t c o m o a r q u e o l o g i a .

Seu projeto é descobrir os c ó d i g o s históricos e fundamentais de


n o s s a c u l t u r a — n o s s o p r e s e n t e —, n ã o revelar a s p e r c e p ç õ e s
fenomenológicas dele.

63
T E R M O - C H A V E N° 1 : A R Q U E O L O G I A

A "arqueologia", c o m o a investigação daquilo que torna necessária


u m a determinada forma de pensamento, implica em uma escavação
dos sedimentos do pensamento inconscientemente organizados.
D i f e r e n t e m e n t e d e u m a h i s t ó r i a d a s i d e i a s , ela n ã o a f i r m a q u e
o pensamento se acumula rumo a alguma conclusão histórica. A
a r q u e o l o g i a i g n o r a o s i n d i v í d u o s e s u a s h i s t ó r i a s . Ela p r e f e r e e s c a v a r
estruturas i m p e s s o a i s de conhecimento.

A a r q u e o l o g i a é u m a t a r e f a q u e não c o n s i s t e e m t r a t a r o d i s c u r s o c o m o
s i g n o s q u e s e r e f e r e m a u m c o n t e ú d o real, c o m o a l o u c u r a . Ela t r a t a
discursos, tais c o m o a medicina, c o m o p r á t i c a s que f o r m a m os objetos
d o s q u a i s eles f a l a m .
64
T E R M,Oo -- C H A V E N° 2 : E P I S T E M E

Uma epistem r e é a grade "subjacente" ou a rede que permite ao


pensamento organizar-se. C a d a período histórico t e m sua própria
e p i s t e m e . Ela limita a t o t a l i d a d e d a e x p e r i ê n c i a , d o c o n h e c i m e n t o e d a
verdade e governa cada ciência e m determinado período.

F o u c a u l t r e m a n i p u l o u a ideia d o p a r a d i g m a d e T h o m a s K u h n .
TAXONOMIA OU CLASSIFICAÇÃO

A l i n g u a g e m é c e n t r a l p a r a o p r o j e t o d o livro. F o u c a u l t a p r e s e n t a u m
breve relato d o escritor argentino J o r g e L u i s B o r g e s (1899-1986) s o b r e
uma enciclopédia chinesa.

Ele d i v i d e o s a n i m a i s d e a c o r d o c o m u m a c l a s s i f i c a ç ã o e x ó t i c a :

CA) PERTENCENTES
RO IMPERAPOR; CB)
EMBALSAMAPOS; (C) POMESTICAPOS;
CP) LEITÕES; CE) SEREIAS; CF) FABULOSOS;
CG) CACHORROS SOLTOS C...J CN) QUE,
PE LONGE, PARECEM MOSCAS.

ISSO
PEMONSTRA AS
LIMITAÇÕES PE NOSSOS QUAIS
PRÓPRIOS SISTEMAS PE A SfíO AS FRONTEIRAS
PENSAMENTO. PE NOSSO PRÓPRIO MOPO
PE PENSAR? COMO ê QUE NÓS
ORGANIZAMOS O MUNPO? COMO
OS CÓPIGOS CULTURAIS IMPÕEM
ORPEM R EXPERIÊNCIA?

IV
v* W n
1

66
A EPISTEME DO RENASCIMENTO

A s p a l a v r a s e as c o i s a s estavam unidas por sua v e r o s s i m i l h a n ç a . O


h o m e m do Renascimento pensava e m termos de s i m i l i t u d e s : o teatro da
vida, o espelho d a natureza. Havia quatro â m b i t o s d e verossimilhança.

E m u l a ç ã o era
a semelhança
dentro d a
distância: o céu
se assemelhava a |
u m rosto porque
tinha " o l h o s " — o

A conveniência
ligava as coisas
próximas a
outras, por
exemplo animal
e planta, criando
uma grande
"cadeia" d e ser.

A s i m p a t i a vinculava
uma coisa a t o d a outra
coisa pela atração
universal, por e x e m p l o
o destino d o s h o m e n s à
trajetória d o s planetas.

U m a " a s s i n a t u r a " foi c o l o c a d a p o r D e u s e m t o d a s as c o i s a s , p a r a


indicar s u a s a f i n i d a d e s — m a s e s t a v a e s c o n d i d a , p o r isso a b u s c a p e l o
c o n h e c i m e n t o a r c a n o . S a b e r era a d i v i n h a r e i n t e r p r e t a r , n ã o o b s e r v a r ,
n e m d e ml oonnss t r a r .
67
A EPISTEME CLÁSSICA

A s e m e l h a n ç a d e s m o r o n o u . A discriminação agora era u s a d a para


estabelecer i d e n t i d a d e s e diferenças. O conhecimento tinha um
n o v o e s p a ç o . Não se tratava mais de adivinhar, m a s d e ordenar. A
classificação d e identidades estáveis e separadas é c h a m a d a d e
representação.

A a n á l i s e nasceu, anunciada por D o m Quixote, o cavaleiro criado por


M i g u e l d e C e r v a n t e s (1547-1616). Quixote é o alienado por excelência
e m u m m u n d o d e razão baseado e m identidades e diferenças, não e m
signos e similitudes.

~~lSSO é
UM GIGANTE - OU
TALVEZ UM MOINHO PE A

VENTO.

BOBAGEM
ANALÓGICA.'
ELE TEM CLARAMENTE
A IPENTIPAPE PE UMA
MãQUINA PE FAZER
ALIMENTO R BASE PE
AR.

68
ESTOU USRNPO
MãTHESIS - UMR CIÊNCIR UNIVERSRL
PR MEPIPR E PR ORPEM..

E HA TRMBÉM R TRXINOMIR - UM PRINCÍPIO


PE CLRGSIFICfíçfiO E PE TfíBULRÇfíO
OPPENRPR.

O c o n h e c i m e n t o substituiu a
v e r o s s i m i l h a n ç a universal c o m
diferenças finitas. A história foi
p r e s a e t r a n s f o r m a d a e m tabelas.

R
RRZRO
OCIPENTRL ENTROU
NR ERA PO JUÍZO.

69
SIGNOS CLÁSSICOS

No período clássico, a linguagem é vista c o m o transparente, s e m a


menor necessidade de esconder ou de "ocultar" vínculos. Os signos
não são mais i m p o s t o s às coisas, mas agora estão " d e n t r o " d o
conhecimento, significando certeza e probabilidade. Gravuras e palavras
não estão vinculadas à ordem das coisas, mas à própria representação.
Novos c a m p o s empíricos, então, se estabelecem.

gramática geral
REPRESENTAÇÃO SEM U M SUJEITO

A representação clássica não t e m mais necessidade d e u m sujeito c o m o


a realeza. Ela p o d e s e t o r n a r visível p o r s u a s i m p l e s i n v i s i b i l i d a d e —
aparecendo no e s p e l h o d a r e p r e s e n t a ç ã o . O verdadeiro sujeito nunca
é encontrado no q u a d r o — ou na pintura — c o m o u m sujeito histórico
d e vida, trabalho e linguagem. A episteme clássica não isolou u m c a m p o
específico próprio ao h o m e m .

A x i o m a : na episteme clássica o sujeito é o b r i g a d o a escapar d e sua


própria representação.

71
OS ANOS 1 8 0 0 : DA O R D E M À HISTÓRIA

Nos anos 1800, a descontinuidade


instaura o fim d a episteme clássica —
u m a m u t a ç ã o d a o r d e m para a história.

A cultura europeia está


inventando para si mesma
uma profundidade na qual
o que importa não são as
identidades, os caracteres
distintivos, ou os quadros
A episteme m o d e r n a permanentes com todos os
investiga o h o m e m e m
seus possíveis trajetos e
si m e s m o c o m o s u j e i t o
raízes, mas as grandes forças
h i s t ó r i c o . É por meio d o
ocultas desenvolvidas na
homem que o conhecimento
base de seu núcleo primitivo
se torna possível nos
e inacessível de origem,
conteúdos empíricos da
causalidade e história.
vida humana: o corpo
humano, suas relações
sociais, suas normas e
valores.

Forças mais profundas


foram substituídas pelas
regularidades de superfície
do conhecimento clássico:
categorias dinâmicas,
históricas de explicação.

72
O HOMEM COMO O B J E T O MODERNO

Economia

Para o e c o n o m i s t a D a v i d R i c a r d o ( 1 7 2 2 - 1 8 2 3 ) , r i q u e z a a g o r a é t r a b a l h o ,
m e n s u r a d a e m t e m p o , p r o g r e s s o industrial e labor n ã o p r o d u t i v o . O
homo economicus é o ser h u m a n o q u e g a s t a , u s a e d e s p e r d i ç a s u a v i d a
e v a d i n d o - s e d a i m i n ê n c i a d a m o r t e . Ele é u m ser f i n i t o . . .

Biologia

Em Biologia, G e o r g e s C l u v i e r
(1769-1832) p a s s a a se interessar
pela f u n ç ã o e pela d e s c o b e r t a d a s
invisibilidades p o r meio d a a n a t o m i a .

A s e s p é c i e s v i v a s " e s c a p a m " d a c o n f u s ã o prolífica d o s


i n d i v í d u o s e p o d e m ser c l a s s i f i c a d a s e x c l u s i v a m e n t e p o r q u e
e s t ã o v i v a s e n ã o c o m b a s e n a q u i l o q u e elas o c u l t a m . O s
s e r e s s ã o c o n t í n u o s . A v i d a p a s s a a ser v i s t a c o m o a raiz d e
t o d a existência, c o m o t e n d o u m a história biológica.

73
RESUMO

A l i n g u a g e m não é mais o meio soberano para se organizar ou


r e p r e s e n t a r o c o n h e c i m e n t o . Ela é u m o b j e t o d e c o n h e c i m e n t o c o m o
q u a l q u e r o u t r o , q u e p o d e ser i n v e s t i g a d o d o m e s m o m o d o c o m o a s
c o i s a s v i v a s , a s r i q u e z a s , o s v a l o r e s e a história.

A q u e s t ã o a g o r a n ã o é o q u e t o r n a as p a l a v r a s p o s s í v e i s , m a s s e n ó s
s o m o s c a p a z e s d e d o m i n á - l a s . A luta f i l o s ó f i c a a g o r a é fazer n o v a s
c o n e x õ e s e n t r e a l i n g u a g e m e o ser.

partir d e e n t ã o , o h o m e m é v i s t o p o r e s s a s c i ê n c i a s m o d e r n a s e m
s u a e x i s t ê n c i a real. S e , s o b a e p i s t e m e c l á s s i c a , o h o m e m c o m o o
sujeito central d o c o n h e c i m e n t o estava ausente (como e m Velasquez), a
e p i s t e m e m o d e r n a vai a l é m , e s q u e c e n d o q u e o h o m e m c o m o o c e n t r o
d o p e n s a m e n t o era simplesmente u m a m u t a ç ã o epistêmica.

74
O H O M E M E SEU DUPLO

A Idade Clássica conferiu aos seres h u m a n o s u m a posição privilegiada


na o r d e m d o m u n d o . O h o m e m não era visto c o m o u m c o n h e c i m e n t o
finito c o n t o r n a d o p e l o t r a b a l h o , p e l a l i n g u a g e m e p e l o c o r p o . Por s u a
vez, n a e p i s t e m e m o d e r n a , o h o m e m é t a n t o u m a f i g u r a f i n i t a q u a n t o u m

O c o n h e c i m e n t o e m sua f o r m a histórica, social e e c o n ó m i c a q u e


" t r a n s c e n d e " a r e f e r ê n c i a d o h o m e m a si m e s m o .

Isso q u e r dizer q u e o p e n s a m e n t o m o d e r n o é i n c a p a z d e evitar a b u s c a


p o r s e p a r a r o u r e c o n c i l i a r e s s e h o m e m duplo: c o r p o vs. c u l t u r a , n a t u r e z a
vs. história, f e n o m e n o l o g i a (experiência) vs. m a r x i s m o (história).

75
QUÃO RACIONAIS SÃO AS CIÊNCIAS HUMANAS?

M a s as c i ê n c i a s h u m a n a s — Psicologia, Sociologia, História Cultural


etc. — suscitam um problema para a episteme moderna. O h o m e m p o d e
t o m a r a si m e s m o c o m o u m objeto de ciência? A ideia d e h o m e m n ã o
é s i m p l e s m e n t e u m a p r o j e ç ã o d e outras ciências c o m o a B i o l o g i a ? A s
c i ê n c i a s humanas n ã o s ã o e x c e s s i v a m e n t e e m p í r i c a s e i n t e r c a m b i á v e i s
p a r a p o d e r e m ser p e n s a d a s c o m o a l g o m a i s a l é m d e irregulares?

Essas c o n t r a c i ê n c i a s (psicanálise, e t n o l o g i a ) ,
que buscam esse "outro", mantêm a
a u t o c r í t i c a d o h o m e m e m seu ponto m á x i m o .

76
O FIM DO H O M E M - O SUJEITO ACABOU?

A s ú l t i m a s linhas d e As palavras e as coisas: " A n t e s d o f i m d o


s é c u l o XVIII, o h o m e m n ã o existia. Tal c o m o a a r q u e o l o g i a d e n o s s o
pensamento facilmente demonstra, o h o m e m é uma invenção recente. E
talvez seu f i m e s t e j a p r ó x i m o " .

O livro s e t o r n o u u m best-seller — t e n d o perturbado sartrianos,


marxistas e católicos humanistas...
CRITICAS

U m a d a s c r í t i c a s f e i t a s a F o u c a u l t dizia q u e ele f e z u m c o r t e m u i t o
severo entre as epistemes moderna e clássica, muito estanque. O n d e
f i c a v a m a s s o b r e p o s i ç õ e s e a s d e f a s a g e n s e p i s t ê m i c a s ? E o q u e dizer
d o p a p e l d a m a t e m á t i c a e d a s c i ê n c i a s d u r a s n a história?

S a r t r e dizia q u e F o u c a u l t d e u à s p e s s o a s a q u i l o d e q u e elas
necessitavam — u m a síntese eclética para demonstrar a
impossibilidade d a reflexão histórica.

78
ISSO N Ã O É U M C A C H I M B O
O surrealista belga R e n é M a g r i t t e Foucault, e m sua resposta de
(1898-1967) escreveu u m a carta 1 9 7 3 , t r a n s f o r m a d a e m livro,
a Foucault, t e n t a n d o explicar a t o m o u c o m o e x e m p l o e título as
d i f e r e n ç a e n t r e s i m i l i t u d e (das o b r a s d o p r ó p r i o M a g r i t t e , Isso
c o i s a s , c o m o a c o r d a s ervilhas) e não é um cachimbo (1926) e Os
verossimilhança (do p e n s a m e n t o , dois mistérios (1966). O p r o b l e m a
que "se assemelha" ao m u n d o d a v e r o s s i m i l h a n ç a — a relação
q u e ele vê). e n t r e as p a l a v r a s e as c o i s a s — é
e s t u d a d o nessas duas pinturas.

OLHEMOS
PARA SUR A BO RPAGEM
HETEROTÓPICR - SIGNIFICRNPO
UM OU OUTRO - NR QUflL OS VÍNCULOS
TRAPICIONAIS ENTRE LINGUAGEM E IMAGEM
^fíO TOLPAPOS, TORNAPOS PIFERENTES
POSTOS EM TENSRO.

Foucault traça dois princípios relevantes na pintura ocidental, q u e


l e v a r a m d o s é c u l o XV à o b r a d e M a g r i t t e .

79
IMAGEM E TEXTO

N a s p i n t u r a s o u i l u s t r a ç õ e s , t e x t o (palavras) e i m a g e m ( v e r o s s i m i l h a n ç a s )
aparecem frequentemente juntos, mas um está sempre s u b o r d i n a d o
a o o u t r o . P o r e x e m p l o , u m a i l u s t r a ç ã o p o d e servir d e t e x t o , o u u m a
letra n u m a p i n t u r a trompe 1'oeil p o d e servir d e i m a g e m . Existe u m a
h i e r a r q u i a entre assemelhar o m u n d o por meio d e imagens e usar a
n ã o v e r o s s i m i l h a n ç a ( r e p r e s e n t a ç ã o ) p o r m e i o d e p a l a v r a s (elas n ã o s e
parecem c o m o mundo).

W a s s i l y K a n d i n s k y (1866-1944) tentou dissolver a representação


pintando formas abstratas que estavam afirmando serem "coisas" —
"isso é u m triângulo amarelo" — q u a n d o não estavam representando
nada.
80
flfllllflllflff

CfíMPBBUL,
CRMPBELL,^
CRMPBBLL,
KCRMPBBLU.

PBPGUNTB
A pintura de Magritte corrói a
A SI MESMO: O QUE
AQUI "NRO é UM CACHIMBO"? A representação, ou a relação
IMAGEM, O TEXTO, A PALAVRA "ISSO"? dos signos c o m o mundo, mas
TANTO A IMAGEM QUANTO O TEXTO t a m b é m se recusa a fechar a
ESTRO P/NTAPOS NO MESMO SUPORTE... fissura entre imagem e m u n d o .
PE MOPO QUE SRO SEMELHANTES, MAS
Apenas semelhanças subsistem
PIFERENTES. QUANTO MAIS TEXTO E
IMAGEM TENTAM CONVERGIR, — u m a série d e s i g n o s v i s u a i s
MENOS SENTIPO Hõ ALI! e linguísticos s e m referência
e x t e r n a . C o m as latas d e s o p a
d e A n d y W a r h o l (1928-1987),
a semelhança é infinitamente
multiplicada na i m a g e m .
81
TUNÍSIA! 1 9 6 6

Foucault assumiu u m posto na Universidade de Túnis, na


T u n í s i a . A l i , o e s t i l o d i s t e n d i d o d e v i d a c o m b i n o u c o m ele —
b o a c o m i d a , m a c o n h a e b e l o s r a p a z e s . Ele m o r o u e m Sidi
Jllfl
Bou Said — à época uma colónia de expatriados franceses
c o m a m b i ç õ e s artísticas —, c o m v i s t a p a r a o mar.

Foucault d e u aulas sobre Nietzsche, Descartes e


M a n e t n a u n i v e r s i d a d e . Ele c o m p a r o u a s p i n t u r a s i
de E d o u a r d M a n e t (1832-1883) c o m os romances
d e G u s t a v e F l a u b e r t (1821-1880). A m b o s
exemplificavam o nascimento do m o d e r n o e rompiam
c o m as c o n v e n ç õ e s d a representação.

Na obra d e Manet, a superfície pintada não mascara


s u a m a t e r i a l i d a d e . Ela c h a m a a a t e n ç ã o p a r a s u a
"pinturidade".

Le Bar des Folies-Bergère é um exemplo disso.


82
LUTAS

Em d e z e m b r o de 1966, explodiu
u m a rebelião estudantil e m Túnis, e m
p r i n c í p i o , p o r q u e a polícia e s p a n c o u
u m e s t u d a n t e q u e n ã o teria p a g a d o
u m a p a s s a g e m d e ônibus. E virou u m a
r e v o l t a a n t i s s e m í t i c a q u a n d o Israel
d e r r o t o u o e x é r c i t o á r a b e na G u e r r a
d o s Seis Dias, d e 1 9 6 7 . F o u c a u l t foi
p a r a d o e m u m a barreira policial q u a n d o
I levava u m j o v e m a m a n t e (que t i n h a s i d o
\ p l a n t a d o p e l a polícia) p a r a c a s a . Foi
j q u a n d o Foucault se tornou descontente
| e p o l i t i z a d o . Ele e s c o n d e u o c e n t r o d e
publicações sedicioso dos estudantes
dissidentes e m seu quintal.


j I
V
O psicólogo G e o r g e s L a p a s s a d e (1924-2008) interrompeu
b r u s c a m e n t e u m a c o n f e r ê n c i a q u e F o u c a u l t e s t a v a d a n d o . Ele foi
m a n d a d o d e volta para a França, m a s continuou afirmando que
F o u c a u l t n ã o foi c o r a j o s o o s u f i c i e n t e p a r a s e d e f e n d e r .

E m 1 9 7 5 , eles s e e n c o n t r a r a m p o r a c a s o .

Foucault deu um tapa no rosto dele por causa de um personagem


ridículo p a r e c i d o c o m F o u c a u l t q u e L a p a s s a d e inserira e m u m r o m a n c e !
ESPAÇO ESTRUTURAL

F o u c a u l t f o i a Paris e m 1 9 6 7 p a r a fazer c o n f e r ê n c i a s s o b r e o e s p a ç o
p a r a u m p ú b l i c o d e a r q u i t e t o s . A o b s e s s ã o d o s é c u l o XIX c o m o
m o v i m e n t o e c o m o t e m p o tinha sido substituída pela p r e o c u p a ç ã o
estrutural na organização espacial d o s elementos. Não se tratava d e
u m a n e g a ç ã o d a história, m a s d e o u t r o m o d o d e lidar c o m o t e m p o
e c o m ela. A h i s t ó r i a d a e s p a c i a l i d a d e c o m e ç o u c o m G a l i l e o G a l i l e i
(1564-1642), que substituiu o m u n d o f e c h a d o da Idade Média pelo
universo infinitamente a b e r t o .

Foucault t a m b é m discutiu h e t e r o t o p i a s
— "outros espaços" — c o m o espaços
privilegiados para indivíduos e m t o d o s
de passagem.

E ele c h e g o u a s u a a f i r m a ç ã o c e n t r a l q u a n d o d i s s e : " O e s p a ç o é
fundamental e m qualquer exercício de poder".

84
A ARQUEOLOGIA DO SABER (1969)

Esse livro é t a n t o u m a i n v e s t i g a ç ã o m e t o d o l ó g i c a s o b r e o
conhecimento, a história e o discurso q u a n t o u m a autocrítica.
F o u c a u l t a f i r m a r a q u e , e m A história da loucura e Nascimento da
clínica, d e r a e x c e s s i v o c r é d i t o à e x p e r i ê n c i a d a l o u c u r a e m si m e s m a .
S u a história e r a m u i t o s u j e i t o - c e n t r a d a — a r r a i g a d a à filosofia d a
consciência.
Esse n o v o livro t r a z i a u m a síntese. O s a b e r e r a u m a á r e a entre a
opinião e o c o n h e c i m e n t o científico e estava incorporado não apenas
em textos teóricos ou em instrumentos experimentais, mas em todo
um corpo de práticas e de instituições.
Ele m i r a v a o s p e r í o d o s e s t á v e i s d e l o n g o p r a z o p o r b a i x o d o s
acontecimentos históricos e das personalidades...

RSSIM COMO
FIZEMOS NR ESCOLR
PRS RNRIS PR
0 ^^RISTÓRIR.

HISTÓRIR, PRRR
MIM, PRSSRVR, ENTRO, R SER
(SIMULTRNERMENTE PESPERSONRUZRPR
\E FORMRPR POR REGRRS E RELRÇÕES
COMPLEXRS - RS FORMRçõES
PISCURSIVRS.

85
O DISCURSO

Foucault larga as epistemes c o m o o princípio d o m i n a n t e d a história e


passa a afirmar o d i s c u r s o .

D i s c u r s o s n ã o s ã o s i s t e m a s l i n g u í s t i c o s o u m e r o s t e x t o s — eles s ã o
p r á t i c a s , c o m o o d i s c u r s o c i e n t í f i c o d a p s i c a n á l i s e e s e u s níveis
institucional, filosófico e científico.

A o analisar e n u n c i a d o s — unidades singulares q u e constituem u m a


f o r m a ç ã o d i s c u r s i v a —, p o d e m o s ver s u a s r e s t r i ç õ e s e o lugar e m q u e
eles situam o falante.

Nesse c a s o , o paciente e o analista.

86
A S R E G R A S DO D I S C U R S O

E x i s t e m t r ê s r e g r a s p a r a a f o r m a ç ã o d o d i s c u r s o . O d i s c u r s o requer:

S u p e r f í c i e s d e e m e r g ê n c i a : áreas sociais e culturais por meio das quais


o d i s c u r s o a p a r e c e - p o r e x e m p l o : a família, o g r u p o d e t r a b a l h o o u a
c o m u n i d a d e religiosa.
A u t o r i d a d e s d e d e l i m i t a ç ã o : instituições c o m conhecimento e
autoridade, c o m o o direito ou a profissão médica.
G r a d e s d e e s p e c i f i c a ç ã o : u m sistema por meio d o qual diferentes tipos
de loucura, por exemplo,
^ l ^ l l ^ ^ ^ p o s s a m ser r e l a c i o n a d o s A ,
á M ^ " H f e k c o m outros no discurso JH*k
^SHÍI^^^^^hÍ p s i q u i á t r i c o . S3Mí
Estudando o
| t Discurso

^ 7 Foucault afirma

j g
q u e t o d a história é
um d o c u m e n t o d o mm

li
passado — com as
m a r c a s q u e ela d e i x a
Jp em nosso presente
Mjji p o r m e i o d e livros,i.
relatos, a t a s , ,JÈÊ
||k construções,
• costumes. \ y mia

/?5VfiVfOS TRRTRR
ESSES POCUMENTOS \
COMO MONUMENTOS -
NAO ROR CONTR PE SUR
m m
REFERÊNCIR R VRUPRPE
HISTÓRICR, MRS POR SI A

MESMOS. m^POCUMENTOS
NfíO PEVEM
SER ESTUPRPOS
PRRR PETERMINRR SUR
PRECISÃO HISTÓRICR. ISSO
SERIR RECONSTITUIR
R *VERPRPE" PR
HISTÓRIR.

87
O DISCURSO CRIA SEU OBJETO

Q u a n d o o s d i s c u r s o s m é d i c o , legal e j u d i c i á r i o s e r e f e r e m à l o u c u r a ,
eles j a m a i s s e r e f e r e m a o b j e t o s o u e x p e r i ê n c i a s f i x o s e n ã o o s a b o r d a m
c o m o s e e s t i v e s s e m t r a t a n d o d o m e s m o o b j e t o . E, n ã o o b s t a n t e , p o d e
haver regularidades entre esses discursos.

O c o m p o r t a m e n t o c r i m i n o s o p o d e d a r o c a s i ã o a t o d a u m a série d e
o b j e t o s d e c o n h e c i m e n t o (caráter c r i m i n o s o , f a t o r e s h e r e d i t á r i o s
e ambientais) apenas porque um conjunto de r e g r a s e c o n d i ç õ e s
foi e s t a b e l e c i d o e n t r e a s i n s t i t u i ç õ e s . Isso n a d a a c r e s c e n t a à
criminalidade, m a s suas relações e diferenças nos permitem dizer
algumas coisas sobre a criminalidade c o m o discurso.

88
FOUCAULT E ALTHUSSER..

A ideia d e e n u n c i a d o d e F o u c a u l t
c o r r e s p o n d e a o t e r m o i d e o l o g i a , tal
c o m o utilizado p e l o f i l ó s o f o m a r x i s t a
Louis A l t h u s s e r (1918-1990).

>

A s f o r m a ç õ e s n ã o d i s c u r s i v a s d e Foucault (práticas e processos


e c o n ó m i c o s , instituições) p r o d u z e m d i s c u r s o s e t o r n a m - s e
o r g a n i z a d a s (ou d i z - s e q u e s e t o r n a m o r g a n i z a d a s ) p o r eles; d e
m a n e i r a s u p e r f i c i a l m e n t e similar, a b a s e e c o n ó m i c a d e A l t h u s s e r e s t á
relacionada c o m sua superestrutura ideológica.

89
J
CONTRA O ESTRUTURALISMO

E m b o r a Foucault fosse visto c o m o u m m e m b r o da "Gangue d o s Quatro


Estruturalistas", ao lado de Barthes, Lacan e C l a u d e L é v i - S t r a u s s
( 1 9 0 8 - 2 0 0 9 ) , ele r e a l m e n t e n ã o e r a u m e s t r u t u r a l i s t a . H a v i a m u i t o d e
história e de fenomenologia e m sua obra.

EUMB^
PISTANCIO PAQUELES
O estruturalismo é QUE SfíO CHAMAPOS PE
basicamente rejeitado ESTRUTURALISTAS" PORQUE NfíO
por Foucault c o m o ESTOU Lã MUITO INTERESSAPO NAS
POSSIBILIPAPES FORMAIS ARRESENTAPAS
excessivamente monolítico,
ROR UM SISTEMA COMO A LINGUAGEM...
demasiadamente estático e ESSA CONTROVÉRSIA PARTICULAR ESTfi
c o m p l e t a m e n t e inflexível a SENPO EXPRESSA, NA ATUALIPAPB,
transformações. EXCLUSIVAMENTE POR MÍMICOS E
1CROBATAS. MINHA ARQUEOLOGIA^
HISTORICIZfl O SENTIPO.

90
RECEPÇÃO À ARQUEOLOGIA

SUR
RRQUEOLOGIR PO SRBER
â VISTR COMO UM BEM-VINPO
RTRQUE R COMBRUPR PISCIPUNR
^CONHECIPR COMO HISTÓRIR PRS GILLES
IPEIRS. PELEUZE RFIRMR
QUE TRRTR-SE PE UM RPELO
R HJMR TEOPIR GEPRL PRS
PPOPUÇÕES R SEP MESC LR PR COMO
UMR PRÕTICR REVOLUCIONÕRIR NR
QURL O WSCURSO' RTIVO TOMR FOPMR
NO ELEMENTO PE UM EXTERIOR QUE é
INPIREPENTE R MINHR VIPR E R MINHR
MORTE". O HOMEM ESTA
PEFINITIVRMENTE MORTO'

•71

O JORNRL
VvJr COMUNISTR LR PENSÉE
(O PENSRMENTO) RCHR QUE
TRRTR-SE, NR VERPRPE, PE
UMR nEORIR MRTERIRUSTRE
HISTÓRICR PRS RELRÇÕES
IPEOLÓGICRS".
PREVISÍVEL!

91
1968 - PARIS E M DESORDEM

Q u a n d o r e g r e s s o u a Paris,
e m fins d e 1968, Foucault
estava careca. E t a m b é m
t i n h a p a s s a d o a usar u m
s u é t e r d e g o l a alta,
p a r a n ã o ter t r a b a l h o
de passar roupa.

Raspar a
c a b e ç a disfarçava a
i d a d e e fazia o s o l h a r e s
s e c o n c e n t r a r e m nele
aconteceu c o m o criminoso
gay J e a n G e n e t . T f 1

Ele r e g r e s s a v a a u m a A recondução de
s o c i e d a d e instável. Georges Pompidou
Os situacionistas, um c o m o premie e a
b a n d o d e radicais brutalidade d a polícia
subversivos que não foram de muita
demandavam a s e r v e n t i a . Paris t e v e
revolução na vida passeatas, violência e
cotidiana, tinham barricadas no dia 6 de
instalado o tumulto e m maio.
Paris.

Foucault assumiu u m p o s t o d e ensino na Universidade d e Nanterre, mas,


entediado c o m a Psicologia, desistiu d o trabalho duas semanas depois e
p a s s o u a e n s i n a r Filosofia n a U n i v e r s i d a d e d e V i n c e n n e s .

92
V I N C E: N N E S - EM CENA

E s s a n o v a u n i v e r s i d a d e era d i r i g i d a s o b u m r e g i m e d e " p a r t i c i p a ç ã o "


— t o d o s t i n h a m v o z . M a s o P a r t i d o C o m u n i s t a F r a n c ê s via a q u i l o
c o m o u m a a r m a d i l h a : " U m a r e s s u r g ê n c i a d a v e l h a i d e o l o g i a liberal. Ela
consiste na negação d a realidade d o s a n t a g o n i s m o s d e classe e na
afirmativa d e q u e os c i d a d ã o s d e u m a nação — ou t o d o s os m e m b r o s
de u m a e m p r e s a — t ê m idêntico interesse e m sua prosperidade".

Tratava-se d e u m a universidade muito b e m equipada, a primeira a


ensinar p s i c a n á l i s e d e m a n e i r a a p r o p r i a d a . J a c q u e s L a c a n a visitou e
observou que o regime de Pompidou estava usando publicamente a
universidade c o m o instrumento de propaganda. O governo estava d a n d o
às e s q u e r d a s u m p a r q u i n h o o n d e elas p u d e s s e m s e digladiar.
Os estudantes o destrataram.

by0

mi

LRCRN
FOI EMBORR.
O QUE
VOCÊS ESTRO
BUSCRNPO, ENQURNTO
REVOLUCIONÁRIOS, é
UM MESTRE. E HRO PE
ENCONTRA-LO.

93
JANEIRO DE 1969: AGRAVAMENTO EM
VINCENNES

Q u a n d o os estudantes d o Liceu Vincennes se tornou célebre:


Saint-Louis f o r a m proibidos pela vandalismo, pichações, um
p o l í c i a d e assistir a f i l m e s s o b r e m e r c a d o p a r a livros r o u b a d o s ,
maio de 1968, os estudantes drogas e uma presença ostensiva
da Universidade de Vincennes, d a polícia. G r u p o s c o m o a
a p o i a d o s p o r Defert e p o r F o u c a u l t E s q u e r d a Proletária q u e r i a m
(envergando um cativante terno de que a universidade funcionasse
veludo) ergueram barricadas em na base d o q u a n t o pior melhor.
apoio aos estudantes e atiraram Os Maoístas Revolucionários
pedras. cuspiram nos estudantes d o
Partido Comunista.
Q u a n d o a polícia invadiu a
u n i v e r s i d a d e , F o u c a u l t foi p r e s o .

Ótimo para sua credibilidade —


m a s ele s o f r e u p e l o s e f e i t o s
d o gás lacrimogênio!

NESSE
CUMR ULTPRESQUEPPISTR,
O COMUNISMO PASSOU R SEP
VISTO COMO UMR FPENTE
BUPGUESR -EEU TRMBéM
MORTE DE HYPPOLITE

Jean Hyppolite morreu e m outubro d e 1968. Sua cátedra no Collège d e


F r a n c e a g o r a e s t a v a v a g a . F o u c a u l t e s t a v a n a lista d e c a n d i d a t o s . Era a
h o r a d e ele a p r e s e n t a r s e u p r o j e t o d e e n s i n o .

F o u c a u l t foi b e m - s u c e d i d o e Sua aula inaugural, e m d e z e m b r o ,


tornou-se formalmente o professor indicou uma mudança de direção,
d a "história d o s s i s t e m a s d e "A ordem d o discurso" delineava
pensamento", no Collège de seus novos pensamentos...
France, e m abril d e 1 9 7 0 .

95
A VONTADE DE VERDADE

" E m t o d a s o c i e d a d e , a p r o d u ç ã o d o d i s c u r s o é, a o m e s m o t e m p o ,
controlada, selecionada, organizada e redistribuída de a c o r d o c o m
d e t e r m i n a d o n ú m e r o d e p r o c e d i m e n t o s c u j a f u n ç ã o é evitar s e u s
poderes e seus riscos."

Essa era u m a h i s t ó r i a d o p r e s e n t e e d o respeito das s o c i e d a d e s


a t u a i s p o r u m a o r g a n i z a ç ã o d o d i s c u r s o — m a s isso o c u l t a v a u m t e m o r
de u m d i s c u r s o d e s o r d e n a d o . A sociedade exerce u m a restrição
sobre o discurso "perigoso" excluindo-o, proibindo-o, dividindo-o,
disciplinando-o e rejeitando-o.
NOVO T E R M O : GENEALOGIA

A g e n e a l o g i a d e s c r e v e a t e n t a t i v a d e F o u c a u l t d e revelar o d i s c u r s o
n o m o m e n t o e m q u e ele s u r g e n a h i s t ó r i a c o m o u m s i s t e m a d e c o a ç ã o .
A g e n e a l o g i a i m p e l e F o u c a u l t a analisar o s c o r p o s d e c o n h e c i m e n t o
literário, b i o l ó g i c o , m é d i c o , religioso e é t i c o e a verificar c o m o tais
" c o n h e c i m e n t o s " d e v e m , p o r e x e m p l o , ser r e l a c i o n a d o s a o d i s c u r s o
s o b r e a h e r a n ç a o u a s e x u a l i d a d e . Ele é l e v a d o a e s t u d a r o s e f e i t o s
d o s d i s c u r s o s q u e s e p r e t e n d e m c i e n t í f i c o s — Psiquiatria, S o c i o l o g i a ,
Medicina — e m práticas c o m o o sistema penal no m o m e n t o e m que
eles s u r g e m .

aulas d e duas horas


que Foucault dava no
Collège de France estavam
s e m p r e l o t a d a s . Ele se s e n t i a
solitário n o t a b l a d o d e o n d e e n s i n a v a ,
sitiado por inúmeros microfones
ligados a gravadores, m e s m o c o m
uma tropa de jovens admiradores
ajoelhados a seus pés.
A GENEALOGIA CONTRA A HISTÓRIA

U m e n s a i o e m m e m ó r i a d e H y p p o l i t e , i n t i t u l a d o Nietzsche, a genealogia
e a história (1971), a p o n t a v a p a r a a r e l a ç ã o d a g e n e a l o g i a c o m a h i s t ó r i a
e a F i l o s o f i a . A r e f e r ê n c i a à p r ó p r i a Genealogia da moral, d e N i e t z s c h e
(de 1 9 9 8 ) , é ó b v i a . A f i r m a F o u c a u l t : " A q u e s t ã o é fazer u m u s o d a h i s t ó r i a
q u e a liberte para s e m p r e d o m o d e l o , simultaneamente metafísico e
a n t r o p o l ó g i c o , d a memória. A questão é transformar a história e m u m a
contramemória".
O QUE E U M AUTOR?

Agora, tudo é máscara. Por e x e m p l o , o n o m e d o a u t o r


n ã o s e r v e t a n t o p a r a definir s u a
Em u m a c o n f e r ê n c i a i n t i t u l a d a O i d e n t i d a d e , m a s faz p a r t e d e u m
que é um autor? (1969), F o u c a u l t discurso d a "função autor" —
e x a m i n o u o status d o a u t o r e s u a algo que envolve apropriação,
relação c o m o s t e x t o s . T o d a s a s propriedade e uma vontade
convenções que nós usamos para c o r r e s p o n d e n t e d e autenticar ou
"convocar" o sujeito fundante d o d e retomar as m o t i v a ç õ e s d o
autor estão e m questão... autor.

" O a u t o r n ã o p r e c e d e s u a s o b r a s ; ele é c e r t o p r i n c í p i o f u n c i o n a l p e l o
q u a l , e m n o s s a c u l t u r a , a l g u é m limita, e x c l u i , e s c o l h e e i m p e d e a livre
circulação da ficção."
99
TÓQUIO, 1970

Foucault visitou o Japão antes d e assumir seu posto no Collège d e


F r a n c e . N a U n i v e r s i d a d e d e T ó q u i o , ele r e s p o n d e u à s c r í t i c a s d e D e r r i d a
a s u a História da loucura e a t a c o u s e u d e s c o n s t r u c i o n i s m o — u m a
e s t r a t é g i a d e leitura i n t i m a d o t e x t o p a r a revelar s u a s c o n t r a d i ç õ e s e
afirmações.

PERRIPR
REPUZ RS
PRATICRS PISCURSIVRS
AS MRRCRS TEXTURIS. SE NRO
HA NRPR PE EXTERNO RO TEXTO,
SSR é UMR PEPRGOGIR R QURL PA
R VOZ PO MESTRE R SOBERRNIR
IUMITRPR QUE LHE PERMITE
REFORMULRR O TEXTO
INPEFINIPRMENTE.

ESSR
PEPRGOGIR
ENSINR RO RLUNO
QUE NRPR HA
^EXTERNRMENTE RO,
TEXTO.

PEPPIPR
INTERPRETOU MRL O
PISCURSO PE PESCRRTES SOBRE
R LOUCURR E NRO TEVE ÊXITO RO
K COMPRRRR R VERSRO FRRNCESR >
COM R VERSRO LRTINR PRS
MÉDITRTIONS.

100
M U D A N Ç A DE CASA

F o u c a u l t e Defert h a v i a m s e m u d a d o p a r a u m flat m u i t o i l u m i n a d o n o
o i t a v o a n d a r d e u m p r é d i o n a R u e d e V a u g i r a r d . Eles e n c h e r a m a s a l a -
- d e - e s t a r c o m livros, c u l t i v a r a m m a c o n h a e m c a n t e i r o s d e p e t ú n i a e
divertiram personalidades c o m o J e a n G e n e t (1910-1986) e a adorável
atriz J u l i e C h r i s t i e ( n a s c i d a e m 1941). Eles t i n h a m b e l a s v i s õ e s d o
t e r r a ç o , o n d e F o u c a u l t a d o r a v a ficar o b s e r v a n d o u m j o v e m q u e a p a r e c i a
t o d a s as m a n h ã s n o a p a r t a m e n t o e m f r e n t e .

RS
9 HOPRS ELE RBPE
R JRNELR, VEST/NPO UMR
TORLHINHR RZUL OU CUECRS RZUIS.
FICO ME PEPGUNTRNPO GURIS SONHOS
SEUS OLHOS ENCONTPRPRM NO VRGO
PE SEUS BPRÇOS, QUE PRLRVPRS OU A

PESENHOS ESTRO NRSCENPO^

101
FOUCAULT CONTRA CHOMSKY

Em u m p r o g r a m a d e tevê e m A m s t e r d a m , e m 1 9 7 1 , o linguista
r a c i o n a l i s t a N o a m C h o m s k y ( n a s c i d o e m 1928) d i s c u t i u c o m F o u c a u l t
s o b r e o t e m a d e poder e justiça na m o d e r n i d a d e .

i J
1
ii

J/J

NRTUREZR HUMRNR
EXISTE. ISSO NOS PERMITE
CHEGRR R UM CONHECIMENTO
CIENTÍFICO SEGURO. EXISTEM
PRINCÍPIOS INRTOS QUE POSSIBIUTRM
ROS HUMRNOS ORIENTRREM SEU
COMPORTRMENTO SOCIRL E
INTELECTURL ESTOU BUSCRNPO UMR
TEORIR PR MENTE MHTEMfiTICH
RRCIONRL CRRTESIRNR.

102
TENHO
MINHRS
SUSPEITRS QUANTO NRO HA SENTI PO
R EXISTÊNCIR EM INPRGRP SE EXISTE
PE VERPRPES
UNIVERSRIS^ NRTUPEZR HUMRNR - ESSE
é UM PISCUPSO PPOPUZIPO
EM RRTICULRÇRO COM R
TEOLOGIR, R BIOLOGIR ER A

R RÇfíO POLÍTICR
HISTÓPIR.
é GUIRPR PELR PRZRO
E PELR NRTUPEZR
HUMRNR.

NRO TEMOS PE
PPOCUPRP TEOPIRS
UTÓPICRS, MRS SIMPLESMENTE
INPRGRP COMO OS POPEPES
OPEPRM EM NOSSR SOCIEPRPE.
NOSSR TRPEFR é CONQUISTRP O
POPEP, NRO FRZEP JUSTIÇR.
R JUSTIÇR SIMPLESMENTE
RECONSTITUI O
POPER.

Aqui, Foucault está trabalhando c o m a noção d o i n t e l e c t u a l e s p e c í f i c o ,


q u e poderia produzir c o n h e c i m e n t o crítico s e m posar de senhor d a
verdade e da justiça.

103
ENGAJAMENTO POLÍTICO

Em dezembro de 1 9 7 1 , Foucault
ajudou a fundar o GIP (Grupo d e
I n f o r m a ç õ e s s o b r e a s Prisões).
Era o intelectual n a ativa!

O propósito d o GIP era coletar e difundir informações sobre o sistema


prisional — n ã o p a r a r e f o r m á - l o , m a s p a r a e x p ô - l o p o r m e i o d e
q u e s t i o n á r i o s e n v i a d o s a o s p r i s i o n e i r o s e a s u a s famílias.

T u d o isso c o n t r a u m p a n o d e f u n d o d e m o t i n s nas p r i s õ e s , g r e v e s d e
f o m e d e s e n c a d e a d a s pelos presos ligados ao GIP e por u m regime
prisional o p r e s s o r !

" A g u i l h o t i n a e r a a p e n a s o s í m b o l o visível d e u m s i s t e m a g o v e r n a d o p e l a
morte."
104
LEALDADES POLÍTICAS

Foucault atuava nessa é p o c a em apoio dos maoístas, m e s m o sem


compartilhar a crença deles e m "revolução cultural" e em um cenário de
" g u e r r a civil i m i n e n t e " .

Alguns m e m b r o s d o GIP viam os prisioneiros c o m o u m a imitação d o


p r o l e t a r i a d o . Por v e z e s , F o u c a u l t d e s c r e v i a a c r i m i n a l i d a d e — i n c l u i n d o o
r o u b o a lojas — c o m o u m a f o r m a d e r e v o l t a política.

O G I P s a q u e o u u m a delicatessen e

O primeiro panfleto d o GIP atacava os m a s c a r a m e n t o s opressivos d o


p o d e r : j u s t i ç a , t e c n o l o g i a , c o n h e c i m e n t o e o b j e t i v i d a d e . Ele a r g u m e n t a v a
q u e a " c l a s s e e s p o l i a d a " p o d e r e c o n h e c e r a p r ó p r i a o p r e s s ã o e a ela
resistir, s e m p r e c i s a r d o s i n t e l e c t u a i s . M a s , à q u e l a altura, o u t r a s c l a s s e s
estavam envolvidas: assistentes sociais, a d v o g a d o s e jornalistas se
juntavam aos protestos.

105
ATTICA

E m abril d e 1 9 7 2 , F o u c a u l t foi visitar o p r e s í d i o d e A t t i c a , n o s


Estados Unidos.

" U m a imitação d e fortaleza c o m o a Disneylândia, postos d e


vigia disfarçados de torres medievais... E por detrás desse
c e n á r i o c o m p l e t a m e n t e ridículo q u e a p e q u e n a t u d o o m a i s , v o c ê
d e s c o b r e a e x i s t ê n c i a d e u m a i m e n s a m á q u i n a . . . De e l i m i n a ç ã o " .

ml

E s s a e x p e r i ê n c i a viria a t e r e f e i t o s ]
d e c i s i v o s e m s e u p r ó x i m o livro.
D e r e t o r n o a Paris, o G I P p u b l i c o u ^
Suicídios na prisão (1973),
d e m o n s t r a n d o q u e 72 p r e s o s —
u m quarto deles imigrantes —
haviam tirado a própria vida
em 1972.

O G I P foi e c l i p s a d o p o r s e u p r ó p r i o
sucesso. Na medida em que os
presos se organizaram, o papel
d o G I P e d a e s q u e r d a e m geral
declinou, por volta de 1973.

106
O ASSASSINATO DA FILHA DO MINEIRO

A n o ç ã o d e "justiça popular" — q u a n d o um tribunal público julgaria o


"sistema" — tinha se tornado u m a preocupação para Foucault.

O assassinato, em 1972, de uma garota


d e 16 a n o s n a c i d a d e m i n e i r a d e B r u a y -
-en-Artois levou a p o p u l a ç ã o a apedrejar
a c a s a d a n o i v a d o s u s p e i t o , Pierre Leroy.

O GIP se envolveu no assunto. Jean-Paul


Sartre apareceu e fez u m discurso —
c o m o sempre.

107
IMIGRANTES MORTOS

Em n o v e m b r o d e 1972, M o h a m m e d Diab, q u e fora preso por engano, foi


m o r t o a t i r o s e m u m a d e l e g a c i a d e V e r s a l h e s p o r u m policial q u e insistia
t e r a g i d o e m a u t o d e f e s a — e q u e f o r a u m a f a t a l i d a d e ele e s t a r a r m a d o
naquele momento.

U m a m a r c h a d e p r o t e s t o foi m a r c a d a p a r a a c o n t e c e r n a s u b p r e f e i t u r á
d e Paris, o n d e 2 5 0 m a n i f e s t a n t e s a r g e l i n o s p a c í f i c o s t i n h a m s i d o
a s s a s s i n a d o s pela polícia, e m 1 9 6 1 . S e u s c a d á v e r e s t i n h a m b o i a d o
n o rio S e n a .

O comício explodiu e m violência.


A polícia a t a c o u , m a s s e u ú n i c o ê x i t o
foi ferir c r i a n ç a s q u e e s t a v a m n a fila d e
u m c i n e m a p a r a assistir
a 101 Dálmatas.

Foucault e o escritor
François Mauriac
foram presos e
jogados dentro de
u m a van.

O a m i g o d e Foucault, o escritor e artista P i e r r e K l o s s o w s k i (1905-2001),


s u g e r i u u m m o d o d e d e t e r a polícia: s i m p l e s m e n t e , fazer u m a fila d e 3 0
lindos h o m e n s a r m a d o s c o m bastões, e sua beleza deteria o passo das
C o m p a n h i a s R e p u b l i c a n a s d e S e g u r a n ç a (CRS).

108
ATIVISMO G A Y

Foucault foi sagaz ao introduzir


as q u e s t õ e s h o m o s s e x u a i s n o
esquerdismo, que até então as
i g n o r a v a . N o início d e 1 9 7 1 , a
Frente H o m o s s e x u a l d e A ç ã o
R e v o l u c i o n á r i a (FHAR) f o i
fundada. U m d o s artigos d e SIM!
s e u e s t a t u t o dizia: OS ÁRABES NOS
FODERAM. TEMOS
ORGULHO DISSO E
QUEREMOS
SER F O D I D O S
DE NOVO!
O p r o j e t o d e p e s q u i s a d e F o u c a u l t s o b r e Pierre
Rivière, e m 1 9 7 3 , c o n s o l i d o u s u a s t e n t a t i v a s d e ver
o crime c o m o discurso. O desconhecido assassino
d o s é c u l o XIX d e g o l o u s u a p r ó p r i a m ã e , s e u i r m ã o e
s u a i r m ã . D e p o i s d e e s t a r p r e s o , ele e s c r e v e u u m a
j u s t i f i c a t i v a d o c r i m e p a r a o juiz e o s m é d i c o s . . .

O d i l e m a : ele e r a l o u c o ? S e o f o s s e , q u e r e l a ç ã o u m
texto tão lúcido t e m c o m sua loucura?

O RTO
PE MRTRR E O RTO PB
ESCREVER, OS RTOS PRRTICRPOS
E RS COISRS NRRRRPRS FORRM
ÇNTRETECIPOS COMO ELEMENTOS PE
UMR MESMR NRTUREZR.

Rivière n ã o e s c a p o u d e u m
d i s c u r s o q u e ia a l é m d e l e . Foi
declarado culpado e sentenciado
à p r i s ã o p e r p é t u a . Ele s e s u i c i d o u
na prisão, e m 1840.
VIGIAR E PUNIR

A s c o n f e rrênc
ê n c i a s d e F o u c a u l t d e 1 9 7 2 - 1 9 7 3 , n a F r a n ç a e n o Brasil,
incluíam u m e x a m e d a s o c i e d a d e p u n i t i v a e d o p o d e r j u d i c i á r i o . E m
1975, s u a p e s q u i s a l e v o u à p u b l i c a ç ã o d e Vigiar e punir — o nascimento
da prisão.

O livro é u m a g e n e a l o g i a d a a l m a e d o c o r p o n o s c a m p o s político,
judicial e c i e n t í f i c o , e s p e c i a l m e n t e e m r e l a ç ã o à p u n i ç ã o e, s o b r e t u d o , a o
poder sobre e dentro d o c o r p o .

RS
RELRÇÕES PE
POPER PESRM SOBPB O
COPPO; ELRS O SITIRM, MRPCRM,
TPEINRM, TOPTUPRM, FORÇRM-
-NO R PESEMPENHRP TRREFRS,
R PBRUZRP CERIMÔNIRS, R
EMITIR SIGNOS.

KíGQ

Quanto mais organizado ou tecnicamente


ponderado o conhecimento se torna, mais perto
chegamos de uma tecnologia política do corpo.

111
MICROFISICA

Foucault não estuda apenas Foucault nomeia essa espessa


instituições c o m o a prisão, a rede de relações d e poder c o m o a
fábrica, o hospital e a escola, microfísica do poder.
ou simplesmente os discursos
judiciário e educacional, mas Esse p o d e r n ã o é e x e r c i d o c o m o
t a m b é m as e s t r a t é g i a s de poder mera obrigação ou c o m o uma
q u e o s próprios corpos adotam proibição para aqueles que "não
e m relação às instituições. o t ê m " . Ele o s cerca, é t r a n s m i t i d o
p o r eles e p o r m e i o d e l e s . Ele
o s p r e s s i o n a , e eles r e s i s t e m a o
domínio que o poder tem sobre
eles.

Punir o u vigiar t ê m e f e i t o s p o s i t i v o s e n e g a t i v o s s o b r e o c o r p o — e p u n i r
t e m u m a f u n ç ã o s o c i a l c o m p l e x a . O p o d e r seria a l g o i n s i g n i f i c a n t e s e
t u d o o q u e fizesse fosse o p r i m i r .

112
DA TORTURA COMO ESPETÁCULO

Foucault mapeia a m u d a n ç a ocorrida na punição, que passou de


espetáculo de tortura pública antes d o s anos 1800 para a obsessiva
s o b r e r r e g u l a ç ã o n a s p r i s õ e s (e p o r t o d o s o s lugares) a partir d o s a n o s

N o d i a 2 d e m a r ç o d e 1 7 5 7 , D a m i e n s , o r e g i c i d a , foi q u e i m a d o c o m
enxofre; sua carne, arrancada a torquês; suas feridas cobertas c o m
líquido f e r v e n t e e s e u s m e m b r o s a m a r r a d o s a q u a t r o c a v a l o s , e s t i r a d o s ,
esquartejados, arrancados. Depois, seus despojos foram lançados em
u m a f o g u e i r a — t u d o isso e m p ú b l i c o !

113
SALVAR A A L M A

M a s o c o r p o c o m o principal alvo d a vingança d o Estado o u d a


Monarquia desapareceu rapidamente. A publicidade se concentrou no
j u l g a m e n t o e n a s e n t e n ç a . A d o r física d e i x o u d e ser o e l e m e n t o p r i m e i r o
da punição. Enforcamento ou guilhotina eram atos rápidos, e o h o m e m
c o n d e n a d o estava d r o g a d o . Por quê?

P o r v o l t a d e 1 7 6 0 , a p u n i ç ã o " g o l p e a v a " a a l m a . Isso n a d a t i n h a a v e r


c o m b e n e v o l ê n c i a ; era, a n t e s , u m a n o v a c o n c e p ç ã o d o o b j e t o " c r i m e " ,
q u e envolvia paixões, instintos, impulsos e m confronto, efeitos d o m e i o
ambiente e d a hereditariedade.

AGORA
A PRÓPRIA CORTE
JULGA SUA COMPETÊNCIA
PARA SUPERVISIONAR O
CRIMINOSO EM CONFINAMENTO,
JRATAMENTO OU CORREÇfíO. CONHECIMENTO PA
OFENSA, O CONHECIMENTO
PO OFENSOR, O CONHECIMENTO
PO P/RE/TO; ESSAS TRÊS
CONPIÇÕES POSSIBILITARAM
EMBASAR O JULGAMENTO NA
VERPAPE.

A q u e s t ã o a g o r a n ã o é m a i s "ele fez
isso?", mas "o que é esse ato que
ele p r a t i c o u , q u a l é s u a c a u s a ? '

114
MÉTODOS BURGUESES

N o final d o s é c u l o XVIII, u m a p a r e l h o policial o r g a n i z a d o , i n f o r m a ç ã o


e s t a t í s t i c a s o b r e a p o p u l a ç ã o , u m i n c r e m e n t o d a r i q u e z a e o valor
m o r a l i m p o s t o às r e l a ç õ e s d e p r o p r i e d a d e s i t u a r a m o c o m p o r t a m e n t o
cotidiano s o b v i g i l â n c i a . Roubar não era mais u m ato antiautoridade,
mas um ato antissocial. A c i d a d e p u n i t i v a e a i n s t i t u i ç ã o c o e r c i v a
e s t a v a m , a partir d e e n t ã o , i n s t a l a d a s .

Nascera a s o c i e d a d e c a r c e r á r i a . O objeto das reformas do século


XVIII n ã o era p u n i r m e n o s , m a s p u n i r o u c o r r i g i r m e l h o r — p o r t o d o s o s
cantos!

115
REGRAS E REGULAMENTOS

O c r i m e a g o r a e s t a v a c o d i f i c a d o , e o p o d e r d e punir incluía s i g n o s
d e p e n d e n t e d e regras. A n o v a e c o n o m i a e a n o v a t e c n o l o g i a j u n t a s
g e r a r a m o q u e F o u c a u l t c h a m o u d e s e m i o t é c n i c a b a s e a d a e m seis regras.

* 0

Q u a n t i d a d e m í n i m a : a p u n i ç ã o d e v e u l t r a p a s s a r as v a n t a g e n s d e s e
cometer um crime.
I d e a l i d a d e s u f i c i e n t e : a ideia d e d o r o u a r e p r e s e n t a ç ã o d a p u n i ç ã o
deve desestabilizar potenciais criminosos.
E f e i t o s l a t e r a i s : a p u n i ç ã o d e v e afetar o u t r o s , f a z ê - l o s ter m e d o d e
cometer um crime.
C e r t e z a perfeita: a punição se seguirá, inevitavelmente, ao crime
cometido.
V e r d a d e c o m u m : a e v i d ê n c i a d e v e ser p o n d e r a d a s e g u n d o o s p a d r õ e s
c o m u n s de prova.
E s p e c i f i c a ç ã o ó t i m a : os crimes são codificados c o m o classificações e
e s p é c i e s q u e individualizam o criminoso levando em conta sua saúde,
periculosidade etc.

116
DÓCEIS CORPOS

Os s i s t e m a s p r i s i o n a i s entram em cena, c o m o parte de u m a s o c i e d a d e


d i s c i p l i n a r ! À p u n i ç ã o s e g u e m - s e n o v a s regras, c u j o r e s u l t a d o é a
detenção, o trabalho (alguma atividade moralmente virtuosa, mas
t a m b é m u m a f o n t e d e m ã o d e o b r a barata) e u m r e g i m e d e h i g i e n i z a ç ã o
e d e o r a ç ã o . Essa e r a u m a r e f o r m a m o r a l . " O h o m e m m o d e r n o n a s c e
d e r e g r a s . " O c o r p o a g o r a é d ó c i l — s u j e i t o a m e l h o r i a s e à utilidade. A s
disciplinas são reforçadas e m t o d o s os lugares.

O corpo é transformado em um mecanismo de poder. Os soldados agora


s ã o t r e i n a d o s p a r a m a r c h a r . O s o p e r á r i o s d a s f á b r i c a s a g o r a t ê m lugares
determinados, atribuições e horários fixos. Alunos de escolas têm de
ficar s e n t a d o s e e s c r e v e r a d e q u a d a m e n t e .

117
O PAN-ÓPTICO DE BENTHAM

Vigilância e o b s e r v a ç ã o agora estão por t o d o s os lugares. O p a n -


- ó p t i c o , d e s e n h a d o p e l o f i l ó s o f o utilitarista J e r e m y B e n t h a m ( 1 7 4 8 -
1 8 3 2 ) , é u m a t o r r e a partir d a q u a l o g u a r d a , o m é d i c o , o p r o f e s s o r o u
o c a p a t a z p o d e m e s p i a r e a c o m p a n h a r c o m p o r t a m e n t o s . Ele s i t u a o s
c o r p o s no e s p a ç o , u m e m relação ao outro. Os sujeitos s o b vigilância
nunca s a b e m muito bem quando estão sendo espiados, portanto
passam a.seautopoliciar. x> y.:

118
POR QUE A S PRISÕES F A L H A M ?

E ó b v i oD qquue a d e t e n ç ã o e a " r e f o r m a " p r o m o v i d a p e l a p r i s ã o n ã o


r e d u z e m a d e l i n q u ê n c i a n e m o c r i m e . Diante d i s s o , o s g o v e r n o s
c o n c l u e m q u e precisam punir mais severamente ou reformar melhor.
F o u c a u l t inverte a q u e s t ã o : " P a r a q u e s e r v e a f a l ê n c i a d a p r i s ã o ? " Ele v ê
isso e m t e r m o s d e d e l i n q u ê n c i a — o s i s t e m a p r e c i s a d a s p r i s õ e s .

A v i g i l â n c i a policial leva p a r a
a prisão transgressores que,
na prisão, são t r a n s f o r m a d o s
e m d e l i n q u e n t e s . Eles C r í t i c a : F o u c a u l t faz a
p a s s a m a ser a l v o d a polícia, pergunta de maneira a
que regularmente m a n d a chegar exatamente a sua
determinado número deles de resposta. Trata-se de um
volta para a cadeia. argumento vicioso.

119
PODER/CONHECIMENTO

As prisões são indústrias de destaque de p o d e r / c o n h e c i m e n t o .

A s o c i e d a d e carcerária e suas "ciências", tais c o m o a Psiquiatria, a


Criminologia, a Psicologia e até m e s m o a Sociologia, garantem que os
juízes d a n o r m a l i d a d e e s t e j a m e m t o d o s o s l u g a r e s . " A r e d e c a r c e r á r i a
constituiu u m a das armaduras desse p o d e r / c o n h e c i m e n t o q u e fez c o m
q u e as ciências humanas se tornassem historicamente possíveis. O
h o m e m c o g n o s c í v e l (alma, i n d i v i d u a l i d a d e , c o n s c i ê n c i a , c o m p o r t a m e n t o
etc.) é o o b j e t o / e f e i t o d e s s e i n v e s t i m e n t o analítico, d e s s a d o m i n a ç ã o /
observação".

" N ã o p e ç a aos políticos para restaurarem os 'direitos' d o s


i n d i v í d u o s , t a i s c o m o a Filosofia o s d e f i n e . O i n d i v í d u o é
produto d o poder. O que é necessário é 'desindividualizar'
mediante multiplicação e deslocamento, diversas combinações.
Não se deixem enamorar pelo poder."
ELOGIOS E CRÍTICAS

Vigiar e punir atraiu m u i t a a t e n ç ã o . M u i t a s r e s e n h a s f o r a m f a v o r á v e i s .


" E s s e livro p r o v o c a r á u m c u r t o - c i r c u i t o n o s i s t e m a p r i s i o n a l . Ele a b a l a r á
nossa fé na ética."
'
GILLES
PELEUZE PISSE:

am
UM QURPRO MUITO PIFERENTE,
COM CRRRCTERES E PROCESSOS
PIFEPENTES PRQUELES COM OS QURIS R
4STÓRIR TRRPICIONRL, MESMO QUE SEJRy
MRRXISTR, NOS FRMILIRRIZOU/'

FOUCRULT
SIMPLESMENTE
NOS PEU O CONTRARIO
PO CR MINHO PO
ILUMINISMO PRRR R
LIBERPRPE: UMR
NAO LIBERPRPE A

PISTÓPICR.

w Clifford Geertz

J. G. MERQUIOR:
*FOUCRULT TOMOU MUITOS
FRTOS ERRRPRMENTE. ELE OMITE
O PRPEL PR REVOLUÇÃO FRRNCESR NR
SUBSEQUENTE SUBSTITUIÇÃO PR GUILHOTINR
PÚBLICR PELR PRISÃO. ELE EXRGERR, COMO SE
O ILUMINISMO FOSSE UM IMPULSO PISCIPLINRR
ESTROPIRPO E NAO RPMITE R RGÊNCIR
HUMRNR EM SUR HISTÓRIR - PESSE
JEITO, ELE Só POPE CONCLUIR PELR
TEORIR PR CONSPIRRÇAO."

121
BIOFASCISMO ESPANHOL

E m s e t e m b r o d e 1 9 7 5 , d e z c o m b a t e n t e s p e l a l i b e r d a d e d o ETA b a s c o e
d a f r e n t e a n t i f a s c i s t a F R A P e s t a v a m p a r a ser g a r r o t e a d o s p e l o r e g i m e d e
Franco. Duas condenadas estavam grávidas.

Foucault v o o u para Madrid c o m Y v e s M o n t a n d (1921-1991) e outros,


m a s f o i a v i s a d o d e q u e n ã o lhe seria p e r m i t i d o falar c o m a i m p r e n s a .
A polícia o fez embarcar d e volta e m u m avião d e turistas japoneses. E
Franco permitiu " g e n e r o s a m e n t e " q u e cinco militantes f o s s e m fuzilados
e m vez d e submetidos ao garrote.

O d i t a d o r gay m o r r e u n o d i a 2 0 d e n o v e m b r o d e 1 9 7 5 , d e p o i s d e t e r
s i d o m a n t i d o v i v o à f o r ç a d u r a n t e a n o s p o r s e u s m é d i c o s . Essa e r a u m a
miniatura d o b i o p o d e r de Foucault — a vida tecnicamente calculada e m
t e r m o s d e p o p u l a ç ã o , saúde, interesses nacionais etc.

Hr4 iãÊÊ&L
1 9 7 6 , A SEXUALIDADE C O M O HISTÓRIA

O projeto inacabado d e Foucault, constantemente retrabalhado,


c o m e ç o u a ser p u b l i c a d o . A história da sexualidade é uma tentativa de
entender a experiência d a sexualidade na cultura ocidental m o d e r n a — o
nascimento e o desenvolvimento do "sexo" e da "sexualidade" c o m o
objetos historicamente dados.

A autoconsciência do indivíduo c o m o sujeito de uma sexualidade. O


p r o j e t o e x i g i a u m a i n v e s t i g a ç ã o h i s t ó r i c a s o b r e a s e x u a l i d a d e , o prazer
e a amizade nos m u n d o s antigo, cristão e m o d e r n o . O primeiro d o s três
v o l u m e s , História da sexualidade: a vontade de saber, iniciava-se c o m
uma bomba.

123
SEXO E PODER

Desde o Renascimento, a cultura ocidental c o m e ç o u a desenvolver


novas e p o d e r o s a s técnicas d e internalização das normas sociais
relativas a o s c o s t u m e s e, e m particular, a o c o m p o r t a m e n t o s e x u a l : u m
r e f o r ç o d a c o n f i s s ã o c o m o o p r i n c i p a l ritual d a p r o d u ç ã o d e v e r d a d e .

124
O ANIMAL CONFESSIONAL

Ciências humanas, c o m o a Psicologia, a Medicina e a Demografia,


apoderaram-se d o c o r p o c o m o u m objeto de p r e o c u p a ç ã o social e d e
m a n i p u l a ç ã o g o v e r n a m e n t a l . Isso é q u e e r a g o v e r n a m e n t a l i d a d e e m
sentido amplo!

Sexo verdade!

125
A HIPÓTESE REPRESSIVA

P o d e - s e afirmar q u e houve u m a r e p r e s s ã o ou c e n s u r a a o s e x o ?
F o u c a u l t p r e f e r e a f i r m a r q u e existiu t o d o u m d i s p o s i t i v o p a r a a
produção de maiores quantidades dos discursos sobre sexo. A questão
p a r a F o u c a u l t n ã o é s e a l g u é m diz s i m o u n ã o p a r a o s e x o , m a s
c o n s i d e r a r o f a t o d e q u e isso é, a c i m a d e q u a l q u e r o u t r a c o i s a , f a l a d o .

Foucault não está negando que o sexo


foi p r o i b i d o , m a s e s t á a f i r m a n d o q u e a
r e p r e s s ã o é u m f a t o r q u e traz o s e x o p a r a o

Das c o n f i s s õ e s d o s c a t ó l i c o s a o s p r o g r a m a s d e b a t e - p a p o d e Ricki
Lake, meticulosas regras d e a u t o e x a m e garantem q u e os mais v a g o s
p e n s a m e n t o s s e x u a i s p o s s a m ser t r a z i d o s à luz e r a s t r e a d o s .

126
ADMINISTRANDO O SEXO

Por v o l t a d o s é c u l o XVIII, o s e x o s e t r a n s f o r m o u e m a l g o a d m i n i s t r á v e l ,
e m vez d e a p e n a s j u l g á v e l . O p o l i c i a m e n t o d o s e x o e s t a v a v i n c u l a d o à
e m e r g ê n c i a d a ideia d e g e s t ã o p o p u l a c i o n a l . O c o m p o r t a m e n t o s e x u a l
era u m p r o b l e m a p o l í t i c o e e c o n ó m i c o . R i c o s d e v a s s o s n ã o e r a m b o a
c o i s a p a r a o país.

Foi q u a n d o as c r i a n ç a s p a s s a r a m a t e r u m a s e x u a l i d a d e e x p r e s s a e
o r g a n i z a d a p e l a a r q u i t e t u r a e s c o l a r , p e l o d e s e n h o d o s d o r m i t ó r i o s e pela
i n t r o d u ç ã o d e u m a e d u c a ç ã o física e e s p i r i t u a l d i s c i p l i n a d a p a r a m a n t e r
suas mentes longe d o sexo.

127
A IMPLANTAÇÃO PERVERSA

O dispositivo d a s e x u a l i d a d e s e refere a o e x p r e s s i v o e h e t e r o g é n e o
c o r p o d e d i s c u r s o s , à s p r o p o s i ç õ e s f i l a n t r ó p i c a s , às i n s t i t u i ç õ e s , à s leis e
à s p o s i ç õ e s c i e n t í f i c a s . O dispositivo e m si é a r e d e q u e u n e t o d o s e l e s .

A m o r a l c r i s t ã e o d i r e i t o civil l e v a r a m a c a b o e s s a i m p l a n t a ç ã o
perversa. A organização da sexualidade normal e da sexualidade
patológica tinha quatro alvos: a mulher histérica, a criança masturbadora,
o casal malthusiano (crescimento d a população) e o adulto perverso.

128
HOMOESPÉCIE E A ETIMOLOGIA DO SEXO

"Aberrações", c o m o a masturbação, a homossexualidade e a sodomia,


são incorporadas pelo regime médico-sexual — cujo centro de atenção
era o a m b i e n t e familiar b u r g u ê s .

Anteriormente, a h o m o s s e x u a l i d a d e era apenas u m ato proibido. Agora,


o h o m o s s e x u a l e r a u m p e r s o n a g e m c o m u m h i s t ó r i c o , u m a infância e -
q u e m s a b e ? - u m a f i s i o l o g i a m i s t e r i o s a . Ele a g o r a e r a u m a e s p é c i e .
SÉCULO XX: REVELEM-SE TODOS!

Tabus e repressões foram sendo gradualmente revogados. O sexo


n o s é c u l o XX v o l t o u a ser c o n c e b i d o c o m o l i b e r a ç ã o . S i m , e m o u t r o
nível, a i n d a e s t a m o s i n c i t a n d o o s e x o a o d i s c u r s o . " A s p e s s o a s s e
s u r p r e e n d e r ã o d i a n t e d a i m p e t u o s i d a d e q u e d e m o n s t r a m o s a o fingir
despertar d e sua inatividade u m a sexualidade que t u d o — nossos
discursos, nossos c o s t u m e s , nossas instituições, nossas regras, nossos
c o n h e c i m e n t o s — e s t a v a o c u p a d o e m p r o d u z i r à luz d o d i a e e m
divulgar c o m um acompanhamento ruidoso".

S e r á M a d o n n a o final d o d i s c u r s o p o p d e l i b e r t a ç ã o e r e p r e s s ã o ?

f ^ l r

C r í t i c a : ele e x a g e r a n a
ligação d o confessionárú
c o m a Igreja.
A s e x u a l i d a d e foi
reduzida a uma prática
Religiosa.

130
O INCIDENTE COM BAUDRILLARD

J e a n B a u d r i l l a r d (1929-2007), o transgressor antiteórico francês,


p u b l i c o u u m e n s a i o p e r i g o s a m e n t e i n t i t u l a d o Esquecer Foucault (1977).

O P/SCUPSO PE
FOUCRULT é UM ESPELHO
PO POPEP QUE ELE
PESCPEVE.

FOUCRULT
IMPPIME ÊNFRSE
EXCESSIVR RO POPEP COMO O
r
PRINCÍPIO ÚLTIMO E PLENO, MESMO EM
SEUS MICPONIVEIS. ELE SIMPLESMENTE
PEPPOPUZ SEUS EFEITOS. MRS O
?OPEP é PESRFIRPO PELR SEPUÇfíO,
- QUE POPE FRZê-LO
PESRPRPECEP!

MINHR TEOPIR PR
SEPUÇRO é MRIS SUTIL.
ELR POPE LEVRP O POPEP
RO COLRPSO USRNPO RS
RPRPÊNCIRS PRPR
SEPUZIP.

Foucault perdeu a
c a b e ç a . O intelecto
d o mestre fora
contestado!

7
BRUPPILLRPP
FOI BRNIPOJ

M a s B a u d r i l l a r d fizera u m f a v o r a
F o u c a u l t . A o " e s q u e c ê - l o " , ele p ô s
a nu c o m o o s b a j u l a d o r e s e o s
aproveitadores de plantão estavam
transformando Foucault e m u m a
criatura sem sentido!

131
A AMÉRICA DE FOUCAULT

F o u c a u l t f o i c o n v i d a d o p a r a lecionar n a U n i v e r s i d a d e d e B e r k e l e y ,
C a l i f ó r n i a , e m 1 9 7 5 . E a m o u a Califórnia! Ele d a v a u m c u r s o s o b r e
s e x u a l i d a d e infantil, r e p r e s s ã o e p r á t i c a s " a n o r m a i s " — e s b o ç a n d o s u a
última g r a n d e obra. M a s havia prazeres para experimentar muito além
d o a u d i t ó r i o o n d e d a v a a u l a s . Ele a c h o u t e m p o p a r a relaxar n o d e s e r t o
t o m a n d o ácido e ampliando seu uso de drogas — u m a expressão d o
prazer a l é m d o sexo.

Ele s e h a b i t u o u a o ó p i o , à c o c a í n a , a o s poppers e a o L S D . U m a d e s u a s
" v i a g e n s " foi t ã o i n t e n s a q u e ele q u a s e e n t r o u n u m a d e l e g a c i a d e polícia
d e N o v a Y o r k p a r a p e d i r u m valium — e ele c h e g o u a ser a t r o p e l a d o p o r
u m carro enquanto usava ópio. "A cocaína desanatomiza a localização
s e x u a l d o prazer — q u e s e e s p a l h a p o r t o d a s as r e g i õ e s d o c o r p o " .

132
SADOMASOQUISMO: PARA A L É M DO DESEJO

Saunas, couro e s a d o m a s o q u i s m o A o discutir a prática homossexual


— F o u c a u l t se s o l t o u e m N o v a e m sucessivas entrevistas,
Y o r k e e m S a n F r a n c i s c o . Ele Foucault disse que o
c h e g o u a dizer, m a i s t a r d e , q u e s a d o m a s o q u i s m o n ã o era u m a
saunas c o m 800 clientes não prática agressiva, mas, antes, que
tinham equivalente na c o m u n i d a d e ela c r i a v a n o v o s p r a z e r e s — c o m o
h e t e r o s s e x u a l . M e s m o s e elas chuva dourada, escatologia e
f o s s e m h e t e r o s s e x u a i s , ele fistfucking.

Ele v i s i t o u o M i n e s h a f t n o M e a t P a c k i n g District, e m N o v a Y o r k , p a r a
desenvolver sua pesquisa. "O s a d o m a s o q u i s m o é a erotização do poder.
O b a - legal!"

133
PONTOS CEGOS

Foucault — s e m p r e a m b i v a l e n t e a c e r c a d o E s t a d o e s e u p o d e r — foi
c o n v i d a d o por u m a comissão governamental para dar u m a consultoria
s o b r e c e n s u r a e s e x u a l i d a d e . E m u m a série d e s u c e s s i v a s d i s c u s s õ e s ,
a s q u e s t õ e s d o e s t u p r o e d o a b u s o infantil f o r a m l e v a n t a d a s . A s
f e m i n i s t a s c o n c o r d a r a m c o m F o u c a u l t q u a n d o ele dizia q u e o e s t u p r o
era u m a questão mais d e violência q u e d e sexualidade.

MRS VOCêS
NRO POPEMOS ESTRO PEPUZINPO
RCEITRR SUR RFIRMRÇRO
QUE RLGUMRS PRRTES PO
PE QUE NOSSR REIVINPICRÇRO
CORPO (RS PRRTES SEXURIS)
PE UMR PUNIÇRO MRIS SEVERR SRO MRIS IMPORTRNTES QUE
K

PRRR OS ESTUPRRPORES OUTRRS.


FRLOCêNTRICR.

3
ESTUPRO
NRO ê R MESMR
CO/SR QUE UM TRPR
{NR CRRR E NRO SE TRRTR
RPENRS PE VIOLÊNCIR
FÍSICRJ

134
ABUSO INFANTIL - OU CONSENTIMENTO?

F o u c a u l t era m a i s p r u d e n t e n a q u e s t ã o d o a b u s o c o n t r a c r i a n ç a s e d o
d i s p o s i t i v o s e x u a l , p s i c o l ó g i c o e legal p a r a c o n t r o l á - l o . M a s n o q u e se
refere a a d o l e s c e n t e s , F o u c a u l t a f i r m a v a q u e eles p o d e r i a m s e d u z i r
adultos.

R QUESTRO COM
CPIRNÇRS PEQUENRS é
MRIS PIFÍCIL ELRS PEVEM
SEP PPOTEGIPRS PE SEUS
PPÓPPIOS PESEJOS.

E embora o clima de então fosse contrário a relacionamentos adultos-


- c r i a n ç a s , ele n ã o e s t a v a c e r t o d a n e c e s s i d a d e d e a lei intervir. S u a
p o s i ç ã o era, p a r a dizer o m í n i m o , h e s i t a n t e .

135
TÉCNICAS ZEN

F o u c a u l t v o l t o u a o J a p ã o e m abril d e 1 9 7 8 — ele a d o r a v a o país e


o s t e n t a v a u m q u i m o n o e m s e u a p a r t a m e n t o e m Paris. Ele t e n t o u p o r
u m t e m p o tornar-se um m o n g e . "O mais interessante para m i m é
m e s m o a vida em um templo zen".

A o d a r s e q u ê n c i a a s e u p r o j e t o d e t é c n i c a s d o s i - m e s m o , ele t e v e
d e s p e r t a d o o interesse pelo contraste entre a espiritualidade cristã,
q u e t e n t a b u s c a r d e n t r o d a a l m a i n d i v i d u a l ( " D i g a - m e q u e m v o c ê é") e
o m i s t i c i s m o z e n ("Eu s o u n i n g u é m i n d o a lugar a l g u m " ) , c o m t é c n i c a s
q u e o b l i t e r a m o i n d i v í d u o . S e u m e s t r e z e n lhe e n s i n o u a s e n t a r - s e n a
p o s i ç ã o d e l ó t u s e a respirar.

136
E m T ó q u i o , ele f a l o u s o b r e p o d e r e Filosofia.
O ERRO C O M O IRA

A política estratégica de Foucault


e n c o n t r o u r e s p o s t a n a c r i s e d o Irã. A
Sexta-Feira Negra — 8 de setembro
d e 1978 — viu o exército d o Xá
matar u m a massa de 4.000 pessoas.
F o u c a u l t foi e n v i a d o c o m o j o r n a l i s t a UM GOVERNO
e v o o u para Teerã. "Intelectuais ISLÂMICO NAO POPE
trabalharão juntamente c o m RESTRINGIR OS PIREITOS
CIVIS POR CRUSR PE SUR
j o r n a l i s t a s n o p o n t o e m q u e ideias e
VINCULRÇAO ROS PEVERES
a c o n t e c i m e n t o s se c r u z a m " .
RELIGIOSOS. O POVO
SR BERA O QUE
Ele a c r e d i t a v a q u e u m g o l p e militar é PIRE/TO.
seguido por u m a ditadura não
o c o r r e r i a p o r q u e o Islã s e o p u n h a
fortemente ao poder de Estado.

tf
A o n d a d e e x e c u ç õ e s o c o r r i d a s n o Irã d e p o i s d o f'-
golpe "religioso" silenciou Foucault.
RECAÍDA

Em 1980, Foucault a j u d o u a libertar R o g e r K n o b e l s p i e s s , preso


d e s d e 1972 por ter a l e g a d a m e n t e r o u b a d o 8 0 0 f r a n c o s . Em 1976,
ele violou a c o n d i c i o n a l , foi p r e s o n o v a m e n t e , a c u s a d o d e vários
r o u b o s a m ã o a r m a d a , e r e c o l h i d o a u m a d a s n o v a s prisões d e
s e g u r a n ç a m á x i m a . Roger K n o b e l s p i e s s e s c r e v e u seu primeiro livro,
q u e foi p r e f a c i a d o p o r Foucault. D e p o i s d i s s o , ele r e c e b e u indulto
pleno, foi l i b e r t a d o para se t r a n s f o r m a r e m u m a u t o r célebre.

MRS
Rí, EU FIQUEI
ENTEPIRPO, FIZ
, OUTRO "SERVICINHO" E
FUI PRESO EM 1933.

QUE
MICO!

A imprensa propalou
os desastrosos efeitos
das extravagâncias de
Foucault.

Na época, Foucault
estava envolvido c o m tantas controvérsias^
q u e e s t a v a s e n d o a c u s a d o d e fazer a b a i x o -
-assinados por qualquer coisa. Foucault
estaria indo além d o próprio alcance?

139
CONTRA O SOCIALISMO

Em maio d e 1 9 8 1 , os franceses elegeram o socialista F r a n ç o i s


M i t t e r r a n d (1916-1996) c o m o presidente. As relações de Foucault c o m
o s o c i a l i s m o estavam r o m p i d a s d e s d e sua recusa e m atuar na " q u e s t ã o
i n t e r n a " d a d e c l a r a ç ã o d e u m a lei m a r c i a l n a P o l ó n i a . F o u c a u l t , o
sociólogo Pierre B o u r d i e u (1930-2002), a escritora M a r g u e r i t e D u r a s
(1914-1996) e o ator Y v e s M o n t a n d (1921-1991) assinaram u m a b a i x o -
-assinado. Os socialistas replicaram q u e muitos intelectuais acharam
difícil d e e n g o l i r s u a vitória n a e l e i ç ã o d e 10 d e m a i o .

M a i s t a r d e , F o u c a u l t viajou p a r a a P o l ó n i a e m u m m i c r o - ô n i b u s c o m
m e m b r o s d o s Médicos do Mundo, l e v a n d o m a t e r i a i s i m p r e s s o s p a r a
apoiar a causa.

140
FAMA NOS ESTADOS UNIDOS

F o u c a u l t a d q u i r i u o status d e f i g u r a cult n o s E s t a d o s U n i d o s . C o m o
p r o f e s s o r v i s i t a n t e e m B e r k e l e y , ele d e u c u r s o s e m s e u s ú l t i m o s a n o s e m
á r e a s - c h a v e p a r a s e u s n o v o s i n t e r e s s e s , " v e r d a d e e s u b j e t i v i d a d e " . Em
o u t u b r o d e 1 9 7 9 , F o u c a u l t foi c o n v i d a d o p a r a d a r a u l a s na U n i v e r s i d a d e
S t a n f o r d , e m Palo A l t o , C a l i f ó r n i a .

A revista Time f e z u m a m a t é r i a s o b r e e s s e i n t e l e c t u a l q u e p r e c i s a v a
d e p r o t e ç ã o policial n a p o r t a d e s u a sala d e a u l a p a r a prevenir
a s u p e r l o t a ç ã o , m a s c u j a o b r a c o n t i n u a v a a ser i g n o r a d a p e l o s
historiadores e filósofos tradicionais.
DE VOLTA PARA O ILUMINISMO

O u t o n o d e 1983, Berkeley. Foucault d á u m curso sobre a o b r a d e


I m m a n u e l K a n t , Resposta à pergunta: o que é o Esclarecimento?. Em
1784, Kant via o Iluminismo c o m o u m a "saída" para a imaturidade
d o h o m e m . Pela p r i m e i r a vez, o g é n e r o h u m a n o s e via livre d e t e r d e
o b e d e c e r c e g a m e n t e ao d o g m a ou de pagar impostos.

N a a t u a l i d a d e , diz F o u c a u l t , o h o m e m a i n d a n ã o a l c a n ç o u a
maturidade e talvez nunca c h e g u e a alcançá-la. Mas subsiste u m
projeto crítico, q u e significa q u e nós d e v e m o s perguntar o q u e nós
s o m o s e analisar h i s t o r i c a m e n t e o s limites q u e n o s s ã o i m p o s t o s — d e
m o d o que tenhamos condições de transgredi-los!

Foucault renuncia à busca da verdade e aposta no c o m p r o m e t i m e n t o


crítico c o m o presente.

142
RUMO À
A MODERNIDADE

O que vem depois do


Iluminismo? A modernidade é
sua consequência? Foucault PRRR
discute o arquimoderno poeta R RTITUPE PR
francês, C h a r l e s B a u d e l a i r e MOPEPNIPRPE, O RITO VRLOR
(1821-1867), q u e e m sua PO PRESENTE ê INPISSOCIãVEL
PE UMR RVIPEZ PESESPERRPR POR
o b r a lutou p a r a a p r e e n d e r o
/MRG/NA-LO, PRRR IMRGINA-LO PE UM
"heroísmo" da vida cotidiana JEITO PIFERENTE PO QUE ELE é E PRRR
— a forma do presente — JRRNSFORMfi-LO, NfíO PESTRUINPO-O, j
n o s é c u l o XIX. M a s n ã o s e sJMRS RPREENPENPO-O TRL COMO^
trata apenas d e apreender o ELE ê.
momento.

A relação c o m o s i - m e s m o
d e v e , p o r t a n t o , ser u m a
atividade criativa e nietzschiana
d e d a r estilo à f o r ç a e à
fraqueza de alguém e não tentar
revelar u m " v e r d a d e i r o " e u .

143
CONTRA FOUCAULT

O filósofo a l e m ã o e herdeiro d o marxismo d a Escola d e Frankfurt, Jurgen


H a b e r m a s ( n a s c i d o e m 1929), a t a c o u F o u c a u l t e m u m a c o n f e r ê n c i a d e
1 9 8 3 s o b r e " O d i s c u r s o d a m o d e r n i d a d e " . Ele foi d e m a s i a d o l o n g e .

S e g u n d o ele, a o d e s c a r t a r a p o s s i b i l i d a d e d e e m a n c i p a ç ã o (a partir d a s
a n á l i s e s d e o p r e s s ã o e d e r e p r e s s ã o nas o b r a s d e F r e u d e d e M a r x ) ,
Foucault embotara e obscurecera todo o padrão de verdade. Nos
e s c r i t o s d e F o u c a u l t , n ã o havia d i f e r e n c i a ç ã o e n t r e c o n h e c i m e n t o e
mistificação — apenas poder e discurso.

NÓS
RINPR CRPECEMOS
PO IPERL PO ILUMINISMO PE UMR
CPiTlCR PRCIONRL PRS INSTITUIÇÕES
EU SOU
EXISTENTES, E NRO PE NEGRÇRO RPENRS.
UM INTELECTURL
FOUCRULT â NEOCONSEPVRPOP, POPQUE ELE
ESPECÍFICO. NRO POSO
NRO RPPESENTR NENHUMR JUSTIFICRÇRO
PE SENHOP PR VEPPRPE E
PRPR UMR RLTEPNRTIVR TEÓPICR RO PR JUSTIÇR, COMO VOCê.
CRPITRLISMO RVRNÇRPO. VEPPRPE UNIVEPSRL ê UMR
MÕSCRPR PO POPEP.

^ 7

144
O PRAZER E SEUS USOS

Em 1 9 8 4 , F o u c a u l t p u b l i c o u o s e g u n d o v o l u m e d e História da
sexualidade — o uso dos prazeres. Ele n o s r e m o n t a à c u l t u r a g r e g a
antiga, explorando o m o d o s e g u n d o o qual os filósofos e médicos
consideravam as regras d e c o n d u t a na atividade sexual. Os textos
dessa é p o c a já m o l d a v a m os indivíduos c o m o sujeitos éticos — cada
um deve questionar suas "práticas de si". Veem-se continuidades c o m
a e r a m o d e r n a e a p e r s i s t ê n c i a d e a l g u n s t e m a s a i n d a hoje.

PRPR PLRTRO WZ7-


-3147 R.CJ, R PPfiTICR SEXURL
NRO EPR V/STR COMO RNOPMRL.
EMBOPR, NRS LEIS, ELE TENHR PITO QUE
O SEXO ENTPE ROM ENS a CONTPR R
NRTUPEZR, NRO HRVIR UM JULGRMENTO
MOPRL RCEPCR PR NRTUPEZR
PO RTO, MRS PE SUR
QURNTIPRPB.

EXCESSO*
PE INPULGÊNCIR NRO é
BOR COISR. O PPRZEP SEXURL,
COM SUR SRTISFRÇRO INTENSR,
RSSEGUPR RS PESSORS R PPOCPIRÇRO E,
iEMBOPR NRO SENPO MR EM SI MESMR, ELR
POPE SOBPEPUJRP SEU OBJETIVO. O J
J>ESEJO POPE PESENCRMINHRP 1
PESSORS/

145
ALGUNS MODISMOS GREGOS

Chresis — o uso e a Askesis — exercícios


administração d a atividade de autocontrole usando
s e x u a l . D i ó g e n e s (+ 3 2 0 a . C ) , a meditação, jejuando e
o filósofo cínico, costumava p e r c o r r e n d o as ruas e m s i l ê n c i o
se masturbar na praça d o promovia o "si-mesmo" a
m e r c a d o para mostrar ao u m a estilização d a existência.
público q u e a sexualidade era A n t i f o n t e , o S o f i s t a (c. 4 8 0 - 4 1 1
uma questão de necessidade a.C): "Não é sábio q u e m não
básica. experimentou o feio e o péssimo;
Enkrateia — o d o m í n i o d e si p o r isso, n a d a h á q u e o c a p a c i t e
m e s m o e m vista de alguém a a f i r m a r q u e ele é v i r t u o s o " .
se transformar e m u m sujeito
moral. Trata-se d a relação
de alguém consigo mesmo.
S ó c r a t e s (469-399 a.C):
INQUIETAÇÕES ÉTICAS

A grande pergunta a que 1. Dietética. O corpo e a saúde,


Foucault queria responder era o u a falta d e l a . A d i e t é t i c a é
muito simples: " c o m o é que o constituída d e regras de conduta.
c o m p o r t a m e n t o sexual passou Banhos, caminhadas, alimentação
a ser c o n c e b i d o c o m o d o m í n i o e v ó m i t o a u x i l i a v a m a corrigir
d a e x p e r i ê n c i a m o r a l ? " . Ele t e n t a e x c e s s o s . M a s e x e r c i t a r - s e por
identificar c a m p o s d a s p r á t i c a s c o n t a p r ó p r i a era v i s t o c o m
gregas antigas nos quais a desagrado. O meio ambiente e a
"estilização d e s i " e s t i v e s s e m a i s temperatura eram determinantes
marcada. n o q u e dizia r e s p e i t o ao s e x o e às
"qualidades" do corpo.
A f r o d i s i a — prazeres sensuais
— caracterizam-se por três
i n q u i e t a ç õ e s é t i c a s n a Filosofia e
no Direito.

2. A b s t e n ç ã o . R e n u n c i a r a o prazer s e x u a l é v i s t o c o m o u m a f o r m a d e
s a b e d o r i a — c o m o u m m o d o d e ter a c e s s o à v e r d a d e .
147
AS CASAS DAS FAMÍLIAS

E c o n o m i a , t e r m o g r e g o q u e o r i g i n a l m e n t e s e referia à a d m i n i s t r a ç ã o
d a s c a s a s d a s f a m í l i a s ; t i n h a a ver c o m o c a s a m e n t o , c o m o p a p e l d a
e s p o s a e c o m o c o m p o r t a m e n t o extramarital. O dever d a mulher era
para c o m o marido. O marido tinha d e respeitá-la, m a s não estava
s e x u a l m e n t e restrito a p e n a s à p r ó p r i a e s p o s a . Ela p e r t e n c i a a ele, m a s
e l e p e r t e n c i a a si m e s m o e t i n h a d e ser s e n h o r d e s u a a u t o r i d a d e p a r a
p r e s e r v a r a a d m i n i s t r a ç ã o d a c a s a . C a b i a a ele fazer d a m u l h e r u m a
" p a r c e i r a " n a c o n d u ç ã o d a c a s a . Q u a l q u e r d e s d o u r o q u e ela f i z e s s e
recair s o b r e a c a s a seria p o s t o n a c o n t a d a m á g e s t ã o dele.

148
O A M O R PELOS GAROTOS

A homossexualidade, c o m o tal, não existia na Grécia antiga. As


categorias eram outras. O amor entre pessoas d o m e s m o sexo e o amor
e n t r e p e s s o a s d e s e x o s d i f e r e n t e s n ã o e r a m v i s t o s c o m o o p o s t o s . O tipo
d e a t o s e x u a l era irrelevante. L a s s i d ã o m o r a l s i g n i f i c a v a ser i n c a p a z d e
controlar o próprio desejo tanto por mulheres q u a n t o por rapazes. Não
havia d o i s t i p o s d e d e s e j o ; havia d o i s m o d o s d e d e s f r u t a r prazer.

149
GAROTOS PARA HOMENS

Mas por que a preocupação moral, O garoto cortejado não pode


m e s m o na Grécia antiga? Porque ceder muito facilmente, ou deixar
o desejo por garotos ou por o h o m e m esperar por muito
mulheres requeria determinados t e m p o , ou parecer fácil,
modos de comportamento.
E quando o garoto passava à
E n t r e h o m e m e g a r o t o , havia idade adulta, a relação passava a
regras de entrosamento. O h o m e m ser i m p r ó p r i a , a m e n o s q u e t i v e s s e
interessado por um garoto tem s i d o t r a n s f o r m a d a e m philia —
responsabilidades — contrqlar-se a m i z a d e . Os relacionamentos
a si m e s m o o u o f e r e c e r p r e s e n t e s . e r a m p r o v a s d e h o n r a e d e aidos
— dignidade. Um comportamento
apropriado e bem-sucedido
garantiria u m a b o a posição social.
A R E L. A Ç Ã O C O M A V E R D A D E

A atividade sexual e sua


relação c o m a verdade foram
desenvolvidas primariamente
e m relação a o a m o r p e l o s NRO
é R OUTPR
garotos, e não pelas mulheres,
METRPE PE SI MESMO
c o m o se v ê q u e s e r á m a i s t a r d e
QUE O INPIVÍPUO BUSCR EM
no período cristão. A verdade
OUTPR PESSOR; é R VEPPRPE
n ã o era e x p r e s s a e m r e l a ç ã o a o COM R QURL R RLMR ESTA
objeto d e amor, mas e m relação PELRCIONRPR - O MEIO
a o amor em si e à a l m a . OCULTO PE SEU RMOP.

n l

A conclusão de Foucault: a ética sexual d o s gregos antigos apresentava


d e s i g u a l d a d e s , m a s elas e r a m p r o b l e m a t i z a d a s p e l o p e n s a m e n t o c o m o
u m a r e l a ç ã o e n t r e o e x e r c í c i o d a l i b e r d a d e d e u m h o m e m , as f o r m a s d e
seu poder e seu acesso à verdade.

151
O RETORNO DO SUJEITO?

Estranho, não? Apesar d e t o d a s as


t e n t a t i v a s d e F o u c a u l t d e s e livrar
d o i n d i v í d u o h u m a n o , d e ver t u d o
c o m o discurso, dispositivo, poder e
i n s t i t u i ç õ e s , ele a i n d a s e c o n c e n t r a
no mais antropológico d o s temas:
a sexualidade, o "si-mesmo", a
individualização, o autocontrole ou
v o n t a d e . Q u e r dizer q u e F o u c a u l t n ã o
atava nem desatava?

A visão de Foucault da
h o m o s s e x u a l i d a d e na Antiguidade
não era c o m p l e t a m e n t e positiva...

HRVIR
MUITR
VIRIUPRPB

UMR OBSBSSRO
COM R PBNBTRRÇRO B
CBRTO TIRO PB RMBRÇR PB
BSTRR SBNPO PBSROSSUÍPO
PB SUR RRÓRRIR BNBRG/R,
TUPO ISSO à MUITO
PBSRGRRPRVBU

Foucault era totalmente contra a n o ç ã o d e que por meio d o sexo alguém


p o d e r i a d e s c o b r i r o " v e r d a d e i r o e u " — p o r isso s u a d e c l a r a d a p o s t u r a
a n t i c a l i f o r n i a n a (não o b s t a n t e t o d o o d i v e r t i m e n t o q u e ele o b t e v e e m S ã o
Francisco, o u 'Frisco).

152
O C U I D A D O D E SI

Em 1982, Foucault deu u m curso sobre a h e r m e n ê u t i c a d o s u j e i t o


(hermenêutica significa interpretação). O curso estava voltado
p r o p r i a m e n t e p a r a o c u i d a d o d e si e p a r a o d i á l o g o d e Platão, Alcibíades,
no qual Alcibíades d e b a t e c o m o virtuoso Sócrates.

O cuidado de si v e i o a ser o título d o t e r c e i r o — c o m o s e s a b e , t a m b é m


o ú l t i m o — v o l u m e d e História da sexualidade, d e F o u c a u l t . Esse v o l u m e
se concentra nos dois primeiros séculos d a era cristã nos m u n d o s
helénico e românico — e na nova importância d o casal, d o s papéis
p o l í t i c o s e d o s d e v e r e s c í v i c o s . O c u l t i v o d e si é u m a r e s p o s t a a e s s a s
mudanças em uma estilística da existência.

153
O CULTIVO DO SI-MESMO

Na Antiguidade tardia, os atos Agora, o cultivo pessoal se


sexuais eram vistos c o m o baseia mais sobre o indivíduo,
u m anseio q u e intensificava e m vista d e u m a arte d e viver
o relacionamento de alguém c o n s t r u í d a a partir d e p r i n c í p i o s
c o n s i g o m e s m o . A pessoa era universais d e natureza e d e razão
o sujeito d e seus próprios atos q u e todos d e v e m o b s e r v a r —
e c u l t i v a v a a si m e s m a . Esse qualquer q u e seja sua p o s i ç ã o
cultivo cristão primitivo d o s i - social,
- m e s m o n ã o e r a m a i s restrito o u
austero que a versão grega, mas
trazia u m a ênfase diferenciada.

O r e g i m e d o s a t o s s e x u a i s n a d a t i n h a a ver c o m a m o r a l , m a s c o m o
dispêndio de força.

154
ONIROCRITICA: OLHAR PARA OS SONHOS

A r t e m i d o r o (c. 150 d.C.) i n t e r p r e t a v a o s s o n h o s e m t e r m o s d e u m a


p r á t i c a diária d o s i - m e s m o — n ã o p o r m e i o d e u m a o r i e n t a ç ã o m o r a l ,
m a s s i m p l e s m e n t e m e d i a n t e a d e c i f r a ç ã o . O s a t o s s e x u a i s não eram
m o r a i s o u i m o r a i s e m si m e s m o s — m a s s o n h a r c o m a l g u n s a t o s
r e p r e s e n t a v a b o n s o u m a u s presságios. " S o n h o s sexuais vaticinam o
d e s t i n o d o s o n h a d o r n a v i d a s o c i a l . . . eles a n t e c i p a m o p a p e l q u e ele
d e s e m p e n h a r á n o t e a t r o d a v i d a familiar, n o e m p e n h o profissional e n o s
negócios públicos".

S e e s c r a v o s s o n h a s s e m m a s t u r b a n d o s e u s e n h o r , n a v i d a real, eles
s e r i a m s e n t e n c i a d o s p o r ele a o a ç o i t e . A e c o n o m i a e a lei e r a m lidas n o s
sonhos.

155
UNIR-SE E M CASAMENTO

Na R o m a antiga, a autoridade pública VOCêNRO


controlava os casamentos. O adultério POPE RCPEPITRP EM
ainda era u m a p r e o c u p a ç ã o ética, QURNTR FRLTR ME FRZ. EU
mas estava, então, sob a jurisdição R RMO TRNTO, E NÓS NRO
JSTRMOS HRBITURPOS Ry
d o poder público, não da conduta
SEPRPRÇÕES.
f a m i l i a r . O c a s a m e n t o ia d e i x a n d o d e ser
principalmente u m a estratégia política
p a r a ser u m a u n i ã o v o l u n t á r i a p a r a t o d a s
as classes — incluindo escravos. Não
era u m a instituição pública, m e s m o ainda
implicando e m obrigações entre marido
e mulher, isolando-os mais efetivamente.
Nascia a r e l a ç ã o c o n j u g a l .

PLÍNIO,
O JOVEM (67-772
P.CJ MOSTPR COMO R
PRIXRO FOI INTPOPUZIPR
COMO PISCUPSO EM SURS
CRPTRS R SUR ESPOSR,
^QURNPO ESTRVR LONGE, EM J

VIRGEM.

RS RNTIGRS E
'COSTUMEIPRS FUNÇÕES
GPEGRS PE PPIVILÊGIO
'• POSIÇRO SOCIRL CRÍPRM
PE MOPR - TPRTRVR-SE,
ENTRO, PE RMOP!

E s s e é o c a s a m e n t o r e l a c i o n a l : n ã o s e t r a t a a p e n a s d e p o d e r s o b r e "si
m e s m o " , mas de relação c o m os outros.

156
O SI-MESMO POLÍTICO

Retirar-se n o c u i d a d o d e si n ã o i m p l i c a n a
p e r d a d e u m a c e n a política, s o c i a l o u c í v i c a
mais ampla e no relacionamento d o s indivíduos
c o m ela. O c o m p r o m e t i m e n t o d o " s i - m e s m o "
c o m essa dimensão carecia de u m maior
entendimento acerca d e c o m o equilibrar
"afastamento" c o m "comprometimento", de
m o d o a encontrar o propósito da existência
humana dentro e fora de casa.

4?
O c o m p r o m e t i m e n t o d e a l g u é m c o m a política,
c o m as a r m a d i l h a s d o p o d e r e d o status n ã o
era m a i s á r d u o e p a s s a g e i r o . O p o d e r n ã o t i n h a
m a i s a ver c o m c u m p r i r d e v e r e s p a r a c o m o
o u t r o e p a r a c o m o e s t a d o , o u c o m ter n a s c i d o

157
O CORPO E O SI-MESMO

A M e d i c i n a n a R o m a d a e r a c r i s t ã a n t i g a n ã o t i n h a a ver a p e n a s c o m
a d o e n ç a e s u a c u r a . Era u m r e g i m e d e c o n d u t a e m t o d a s as á r e a s : a
casa, os banhos públicos, o meio ambiente, a hora d o dia ou a estação
d o a n o . C a d a u m t i n h a d e d a r a t e n ç ã o a si m e s m o e a o e s t a d o e m q u e
se encontrasse.

O b v i a m e n t e , o ato sexual era u m objeto


d e interesse e m sua relação c o m a
reprodução, a patologia da excreção, a
morte e as doenças.

O sexo não era u m dever n e m u m mal. N o s s o e s p e r m a nos permite


frustrar a morte, e o sexo é natural; c o n t u d o , a ejaculação é
esbanjamento e enfraquece. C o m o uma enfermidade.

158
OS R E G I M E S

Foucault afirma que, apesar de os atos sexuais estarem sob um


r e g i m e c u i d a d o s o , eles n ã o e r a m v i s t o s c o m o q u e s t õ e s m o r a i s . E r a m
s i m p l e s m e n t e nocivos s e i m p r o p r i a m e n t e p r a t i c a d o s , s e g u n d o G a l e n o
(131-200 d . C ) , o médico:

1 . P r o c r i a ç ã o , ter t o d o o c u i d a d o p a r a p r e p a r a r o a t o n o c o r p o e n a
a l m a . Permitir a o e s p e r m a reunir f o r ç a s e t e r u m a i m a g e m d o b e b é n a
m e n t e a n t e s d e procriar.

2. A i d a d e d o s u j e i t o , o prazer n ã o d e v e ter c o n t i n u i d a d e e m u m a i d a d e
avançada, nem começar muito cedo. As garotas devem menstruar antes
de perderem a virgindade.

159
3. O t e m p o f a v o r á v e l . P l u t a r c o
( 4 6 - 1 2 0 d.C.) a c o n s e l h a v a a n ã o
fazer sexo d e manhã.

4, T e m p e r a m e n t o s
individuais. As compleições
d e v e m ser p r e p a r a d a s p a r a o
sexo por meio de dietas (grão-
- d e - b i c o para o calor e uvas
para a umectação) e exercícios.

Mas nada de arremesso de


d a d o s , o m a t e r i a l n u t r i t i v o vai
p a r a as p a r t e s e r r a d a s .

160
O TRABALHO DA A L M A

A a l m a t i n h a i u m d u p l o p a p e l a d e s e m p e n h a r n a p r á t i c a s e x u a l . Ela
regulava as necessidades d o c o r p o , d e a c o r d o c o m suas tensões, e
a t u a v a p a r a corrigir e r r o s e m si m e s m a .

O c o r p o n ã o vivia à a l t u r a d a a l m a . De f a t o , a a l m a t i n h a d e o b e d e c e r
à m e c â n i c a natural d o c o r p o e n ã o u l t r a p a s s a r o d e s e j o d o c o r p o . O
a n i m a l é o melhor e x e m p l o a seguir porque o sexo segue os ditames
do corpo — de excreção e de evacuação — não a doxa ou a crença
(popular) d e q u e o prazer é b o m .

A s i m a g e n s — phantasia — s ã o o b j e t o d e d e s c o n f i a n ç a p o r q u e elas
p o d e m estimular desejos vazios na alma.

Satiríase e ninfomania — os
extremos d o excesso d o desejo
sexual no h o m e m e na mulher
— p o d e m ser v e n c i d o s , se f o r
seguido o conselho de Rufo de
Éfeso:

161
GAROTOS IMPERFEITOS - OU UMA BOA
ESPOSA?

O Diálogo sobre o amor, d e P l u t a r c o , p õ e e m c o n t r a s t e o a m o r d o s


g a r o t o s c o m o a m o r d a s m u l h e r e s e m u m c a s a m e n t o . A q u e s t ã o é: q u a l
d e l e s a l g u é m d e v e e s c o l h e r ? Para p o d e r c o m p a r á - l o s , o d e b a t e a s s u m e
u m a base c o m u m para o amor — u m a e r ó t i c a unitária.

Plutarco t o m a emprestadas d o amor dos garotos suas tradicionais


características gregas — a reserva e a amizade — para mostrar c o m o
elas se aplicam à relação única d o casamento.

O a m o r d e u m r a p a z é, n a q u e l e
m o m e n t o , u m a m o r i m p e r f e i t o . Por
quê? Porque o amor d o s rapazes
é d e s a r m ô n i c o : a m o r físico e
verdadeiro amor são inadequados.

Charis - o u o a m o r
consentido, recíproco,
íntimo - está ausente da
relação potencialmente
a t i v o - p a s s i v a entre u m
h o m e m e u m rapaz.
A antiga ideia grega
de reserva não é mais
válida nessa nova
ética d o amor mútuo

E c o m o diz F o u c a u l t : " A
imperfeição d o amor pelos
rapazes prefigura até nossa
própria moral".

162
NAO TENHA MEDO!

O i m p a c t o crítico d o livro R. E hybris, é e x c e s s o . O


foi e c l i p s a d o p e l a r e p e n t i n a problema não é de desvio, mas de
enfermidade de Foucault. Em u m a moderação ou de excesso,
e n t r e v i s t a d e 1 9 8 3 a Paul R a b i n o w
e a Hubert Dreyfus, o sexo grego Em Berkeley, Foucault discutiu a
foi d i s c u t i d o : AIDS c o m um estudante durante
u m a pausa para um café.

Foucault ficou confuso q u a n d o a c o m u n i d a d e das pessoas portadoras


e / o u e n v o l v i d a s c o m a A I D S r e c o r r e à a u t o r i d a d e — m é d i c o s e religião
— e m b u s c a d e o r i e n t a ç ã o . C h e g o u a dizer: " C o m o p o s s o t e r m e d o d a
A I D S , q u a n d o p o s s o m o r r e r e m u m a c i d e n t e d e c a r r o ? S e fazer s e x o
c o m u m rapaz m e d á p r a z e r . . . "

Foucault desenvolveu u m a tosse renitente e m seu regresso à França e


queixava-se de indisposição, vertigens e constantes dores de cabeça.

163
A MORTE DE U M AUTOR

No dia 2 d e junho de 1984, Foucault teve um colapso e m casa e foi


levado à Clínica Saint-Michel, depois para o hospital Salpêtrière, no dia
9 d e j u n h o . Defert a c h a v a q u e ele s e r e c u p e r a r i a , e F o u c a u l t r e a l m e n t e
m e l h o r o u d u r a n t e b r e v e intervalo. Ele s e l a m e n t o u m u i t o q u a n d o n ã o
p ô d e assistir à p a r t i d a d e t é n i s e n t r e J o h n M c E n r o e e Ivan L e n d l , n a t e v ê ,
por causa de seu tratamento.

«mm

é*mm xtMmèt fr.60

A Morte de um Autor Ele r e c e b e u v i s i t a s e


reuniu-se c o m velhos
amigos, inclusive c o m
Deleuze. Foucault
c h e g o u a planejar
velejar p e l o m a r d a
China meridional para
resgatar pessoas e m
botes vietnamitas.

No dia 24 de junho, a febre de Foucault


se agravou. À s 13h15 do dia 25 de junho, 10
F o u c a u l t e x p i r o u . Ele t i n h a 5 7 a n o s .

T o d o s os amigos de Foucault estiveram


presentes e m seu funeral no dia 29 d e junho,
q u a n d o Gilles D e l e u z e leu u m t r e c h o d a
i n t r o d u ç ã o d e Uso dos prazeres. Exilados
poloneses enviaram u m a coroa de flores. O
c a i x ã o d e F o u c a u l t foi l e v a d o p a r a V e n d e u v e -
- d u - P o i t u , o n d e ele foi e n t e r r a d o . A m ã e d e
Foucault viveu por mais dois anos.
A AIDS

F o u c a u l t s a b i a q u e t i n h a A I D S ? É m u i t o p r o v á v e l q u e s i m . Ele c e r t a m e n t e
c o n v e r s o u s o b r e isso c o m s e u s a m i g o s , m a s n u n c a fez n e n h u m a
declaração pública.

O informe m é d i c o dizia q u e os antibióticos não foram capazes de conter


a infecção no cérebro — septicemia.

No dia 27 de junho,
o j o r n a l Le Monde
anunciou a morte
d e Foucault e m
primeira página e
p u b l i c o u seu ú l t i m o
texto — um apelo
pela libertação
de dois cidadãos
franceses presos

Especial Foucault
n a Polónia. A
edição de fim
de semana do
Liberation trouxe
u m "Especial
Foucault".

Jean-Paul Aron
(1925-1988) veio a
público e falou de
sua própria doença
e criticou o falecido
Foucault por não
ter feito o m e s m o ,
em uma atitude
controversa.

Defert f u n d o u u m
g r u p o d e [auto]
ajuda para os
p o r t a d o r e s d o HIV,
o AIDES.
A OBRA INACABADA

Foucault proibiu a publicação Guibert morreu em 1 9 9 1 , por


d e u m q u a r t o v o l u m e d e História suicídio c o m u m a m e d i c a ç ã o
da sexualidade, As confissões anti A I D S . N o r o m a n c e , S t é p h a n e
da carne, s o b r e o d e s e j o n o s é Daniel Defert e M a r i n e é a atriz
primeiros séculos d o cristianismo, Isabelle A d j a n i .
a ser p u b l i c a d o p o s t u m a m e n t e ,
b e m c o m o u m a obra sobre Manet. Depois da morte de Muzil,
Deixemos passar o t e m p o . . . Stéphane descobre uma maleta
cheia de chicotes, algemas,
O romance de Hervé Guibert, capuzes de couro e um aparelho
Ao amigo que não salvou a minha para práticas sadomasoquistas.
vida, era s u p o s t a m e n t e s o b r e a
vida d e Foucault (como "Muzil")
c o m AIDS. O romance descreve
as casas d e São Francisco
o n d e h o m e n s se encontravam
em banheiros - que também
funcionavam c o m o mictórios,
em caminhões adaptados
c o m o "câmeras de tortura
e a compreensão de
Foucault de seu destino.

166
FOUCAULT DISSECADO

Foucault s e m p r e atraiu críticas.


A seguir, a l g u m a s p o s i ç õ e s
SUR OBRR à
maioritariamente negativas:
BSPBTRCULRR, MRS é
POTRPR PB NBNHUM RIGOR
HISTÓRICO B PA PROVRS PB
UMR RBSQUISR IRRBGULRR BLB
SIMPLBSMBNTB SBGUIR O
PRÓPRIO INSTINTO.

SBU BSTILO é
RRROGRNTB B RBPLBTO PB
PúVIPRS, RO MBSMO TBMPO;
UM MéTOPO QUB COMB/NR
UM SUMARIO GBNsRICO
COM PBTRLHBS
BXCÊNTRICOS.

R e s p o s t a : Foucault pesquisava, mas de um m o d o que expressasse


u m a v i s ã o m e n o s c o m p l a c e n t e e m a i s a b e r t a d a H i s t ó r i a . Ele i d e n t i f i c o u
novos problemas, novas abordagens e novos objetos para o sujeito.

O filósofo americano p ó s - m o d e r n o , R i c h a r d R o r t y (1931-2007):


"Foucault subverte o conforto quase metafísico".

C r í t i c a : ele t e n t a ser fiel a c a d a é p o c a , f u n d a - s e e m d o c u m e n t o s p a r a


basear s u a s t e s e s e a i n d a d e m o n s t r a d e s p r e z o p e l a v e r d a d e o b j e t i v a .
M a s era o p r i m e i r o a a f i r m a r q u e a p r o v a e s t a v a d e s e u l a d o !

167
PERDAS DE FOUCAULT

O filósofo marxista americano,


F r e d r i c J a m e s o n (nascido e m
1934), disse: "Foucault t e m u m a
lógica d e 'o vencedor perde'.
Q u a n t o mais p o d e r o s a se torna
a visão de u m sistema total, mais
e m p o b r e c i d o o leitor s e s e n t e .
N e n h u m a resistência parece
trivial".

FOUCRULT
ESTA RS VOLTRS COM
UM PILEM ff: SE ELE ESTIVER R e s p o s t a : Foucault
PIZENPO R VERPffPE R RESPEITO
apresenta um novo
PR IMPOSSIBILIPRPE PE UMR VERPRPE
PESTffCffPff, ENTRO TOP ff VERPffPE ê paradigma (modelo) para as
SUSPEITff. MffS SE ESSE FOR O CffSO, ciências humanas, i m p o n d o
ENTRO ff VERPffPE PE FOUCffULT alguma ordem ao caos da
NRO POPE SUSTENTffR SUff razão. O n d e estaríamos
PRóPRIff VERPffPE.
nós sem sua visão d o
poder/conhecimento
d o Iluminismo e da
modernidade?

168
CONTRADIÇÕES

S e F o u c a u l t a c r e d i t a q u e a v e r d a d e e a razão s ã o m e r o s e f e i t o s d o
poder e que não existe fundamento — apenas discurso, o dispositivo,
as i n s t i t u i ç õ e s e t c . —, e n t ã o ele p e r d e , p o r q u e ele q u e r q u e s u a s t e o r i a s
s e j a m a c e i t a s c o m o v e r d a d e . C o m o F o u c a u l t p o d e ser a v e r d a d e e a
POLÍTICA INGÉNUA?

R i c h a r d R o r t y : " O a s s i m c h a m a d o a n a r q u i s m o d e F o u c a u l t é radical
chique e a u t o i n d u l g e n t e — s u a p o l í t i c a s e v i n c u l a a o prazer e a u m a
a b o r d a g e m d e s c e n t r a d a d o poder. U m poder assim perde seu sentido
na obra dele".

Clifford G e e r t z (1926-2006),
a n t r o p ó l o g o , a f i r m a v a : " F o u c a u l t era LEVR
RPBNRS TRÊS
u m objeto impossível — um historiador
SEMRNR6 CONVERTER
não histórico, u m cientista humano
MEU LIVRO NO SLOGRN: *R
a n t i - h u m a n i s t a e u m estruturalista 6EXURLIPRPE NUNCR
contraestruturalista". FOI REPRIMIPR".

As pessoas banalizaram seu projeto.

170
F O U C A U L T , IN MEMORIAM

Foucault deixou um grande legado — mas um legado inacabado.


S u a c r e s c e n t e p o s i ç ã o cult e s e u s u p e r c o m p r o m e t i m e n t o político
obscureceram sua contribuição a c a d é m i c a . Deixando d e lado sua recusa
e m discutir a mídia, a cultura d e massa e coisas m e n o s classicamente
embasadas, alguém pode se perguntar "Foucault desapareceu?".

R MORTE
PE FOUCRULT? PERPR PE
CONFIRNÇR EM SEU PRÓPRIO GÉNIO.
PEIXRNPO PE LRPO OS RSPECTOS SEXURIS,
R PERPR PO SISTEMR IMUNE â NRPR MRIS
QUE R TRRNSCRIÇfíO BIOLÓG/CR POS
OUTROS PROCESSOS.

Contínuas conferências sobre


"Foucault" são p r o m o v i d a s no m u n d o político
soft d a a c a d e m i a p ó s - m o d e r n a . " U m d i s c u r s o
sobre o poder e sobre o poder do discurso
— o q u e p o d e haver d e m a i s a t r a t i v o p a r a
intelectuais e d e p a r t a m e n t o s d e h u m a n i d a d e s
que estão preparados para o c o m b a t e , mas
estão fartos de d o g m a ? " .
171
O RETORNO DOS MORTOS

A o b r a d e F o u c a u l t é utilizada envolva conhecimento ou poder,


respeitosamente e pouco d a n d o u m verniz m e t o d o l ó g i c o
imaginosamente por historiadores conveniente a debates modernos
d a arte, teóricos culturais e pós-modernos.
feministas e teóricos políticos
d a e s q u e r d a privada d e direitos. Desse m o d o , a i n d ú s t r i a F o u c a u l t
L o n g e d e u m a l i b e r a ç ã o d a razão, é agora também uma formação
sua obra se transformou em uma discursiva — e m b o r a suas ideias
camisa de força. tenham perdido o esplendor de
seu radicalismo d o s anos 1960
E ele p a s s o u a ser a l t a m e n t e e 1970. Costuma-se falar d e
elogiado c o m muita frequência. Foucault atualmente apenas para
O h o m e m é quase um santo para escorar versões cansadas ou
alguns pensadores. Não é de se politicamente corretas d a História.
admirar, então, quando sua obra
parece caber superficialmente
em toda investigação que
L E I T U R A S E L E T A INDICADA

O b r a s de Michel Foucault

H i s t ó r i a d a l o u c u r a na i d a d e c l á s s i c a . Trad.: J o s é Teixeira Coelho


Neto. São Paulo: Perspectiva, 2010.
A s p a l a v r a s e a s c o i s a s . T r a d . : S a l m a T. M u c h a i l . S ã o P a u l o : M a r t i n s
Fontes, 2007.
A a r q u e o l o g i a d o s a b e r . T r a d . : Luiz Felipe B a e t a N e v e s . Rio d e J a n e i r o :
Forense Universitária, 2012.
Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e m e u irmão.
T r a d . : D e n i z e L. d e A l m e i d a . Rio d e J a n e i r o : G r a a l , 2 0 0 7 .
V i g i a r e p u n i r — o n a s c i m e n t o d a p r i s ã o . Trad.: Raquel Ramalhete.
Petrópolis: Vozes, 2007.
A história da sexualidade:
V o l u m e 1 : A v o n t a d e d e s a b e r . T r a d . : M . T. d a C. A l b u q u e r q u e , J . A . G .
A l b u q u e r q u e . Rio d e J a n e i r o : G r a a l , 2 0 1 0 .
V o l u m e 2 : O u s o d o s p r a z e r e s . T r a d . : M . T. d a C. A l b u q u e r q u e , J . A . G .
A l b u q u e r q u e . Rio d e J a n e i r o : G r a a l , 2 0 0 7 .
V o l u m e 3: O c u i d a d o d e s i . T r a d . : M . T. d a C. A l b u q u e r q u e , J . A. G .
A l b u q u e r q u e . Rio d e J a n e i r o : G r a a l , 2 0 0 7 .
O n a s c i m e n t o d a c l í n i c a . T r a d . : R o b e r t o M a c h a d o . Rio d e J a n e i r o :
Forense Universitária, 2 0 1 1 .
R a y m o n d R o u s s e l . T r a d . : M . B a r r o s d a M o t t a e V. L. Avellar R i b e i r o . Rio
d e J a n e i r o : F o r e n s e Universitária, 1 9 9 9 .
I s s o n ã o é u m c a c h i m b o . T r a d . : J o r g e C o l i . S ã o P a u l o : Paz e T e r r a ,
1989.

Entrevistas e Ensaios

P o w e r / K n o w l e d g e : Selected Interviews and Other Writings, 1992-77,


e d . C o l i n G o r d o n ; EUA: P a n t h e o n , 1 9 8 0 ; R e i n o U n i d o : Harvester, 1 9 8 1 .
F o u c a u l t L i v e : I n t e r v i e w s , 1 9 6 6 - 8 4 , e d . S y l v è r e Lotringer; EUA:
Semiotext(e), 1989.
Language, Counter-Memory, Practice: Selected Essays and
I n t e r v i e w s , e d . Donald B o u c h a r d ; EUA e Reino Unido: Cornell University
Press, 1980.
T h e F o u c a u l t R e a d e r , e d . Paul R a b i n o w ; EUA: P a n t h e o n , 1 9 8 5 ; R e i n o
U n i d o : P e n g u i n , 1 9 8 6 . U m a a n t o l o g i a m u i t o útil d a s p r i n c i p a i s o b r a s d e
Foucault, c o m u m a introdução muito clara.

174
Críticas
M i c h e l Foucault: B e y o n d S t r u c t u r a l i s m a n d H e r m e n e u t i c s , Hubert
L D r e y f u s e Paul R a b o n o w ; R e i n o U n i d o : Harvester, 1 9 8 2 . O b r a q u e s e
concentra em questões de "sujeição".
Foucault, M a r x i s m a n d History: M o d e of P r o d u c t i o n Versus M o d e
of I n f o r m a t i o n , Mark Poster: EUA e Reino Unido: Blackwell, 1984. U m a
resposta marxista à versão d e poder de Foucault.

Biografias
M i c h e l F o u c a u l t , Didier E r i b o n . T r a d . : H i l d e g a r d Feist. S ã o Paulo: Cia.
d a s Letras, 1 9 9 0 .
T h e Lives of M i c h e l F o u c a u l t , David Macey; Reino Unido: Hutchinson,
1 9 9 3 . Inclui a m p l a b i b l i o g r a f i a .

AGRADECIMENTOS

Chris gostaria d e agradecer a Zoran, Duncan, Richard e T o b y por sua


ajuda.

Zoran agradece a t o d a s as pessoas anónimas d o ciberespaço por sua


p e s q u i s a e a t o d a s as p e s s o a s q u e m ele c o n h e c e p e s s o a l m e n t e q u e o
a j u d a r a m o u f o r a m p a c i e n t e s c o m ele.

175
índice remissivo

Absoluto, o 11 seu pai morre 35 Marx, Karl 28, 61


AIDS 163-5 em Hamburgo 34 medicina 52-7
alma veja espírito homossexualidade 15 Medicina das espécies 55, 59
Althusser, Louis 23, 89 doença mental de 14 Merleau-Ponty, Maurice 17
arqueologia no Marrocos 82 Modernidade 143
Arqueologia do saber, >4 85, 91 em Paris 92 morte 58
estuda filosofia 9
Barraqué, Jean 29 na Suécia 30 Nascimento da clínica, O 52
Barthes, Roland 59 em Tóquio 1 0 0 , 1 3 6 Nietzsche, Friedrich 60-2
Bataille, Georges 58 em Vincennes 92-4
Baudelaire, Charles 143 quem é ele? 3-6 Palavras 66-7
Baudrillard, Jean 131 formações não discursivas 89 veja também linguagem;
Bentham, Jeremy 118 Freud, Sigmund 46, 61 imagem e texto Pan-óptico
Palavras e as coisas, As 63, 77
Canguilhem, Georges 20 Garaudy, Roger 50 PCF 23
Chomsky, Noam 102 Geertz, Clifford 170 período clássico 68-71
ciência 6 , 1 8 - 2 1 , 76 genealogia 97, 98 poder 1 0 3 , 1 0 5 , 1 2 0
confinamento 42-7 GIP 104-7 prisões 1 0 4 , 1 0 6 , 1 1 5 - 2 0
conhecimento 18, 62, 77, 9 6 , 1 2 0 Guibert, Hervé 186 psicologia 25-7
consciência 17 Psicologia de 1850 a 1950 27
corpo, o 158-61 Habermas, Júrgen 144 punição 111-21
Cuidado de si, 0 1 5 3 Hegel, G.W. F. 11-3
Cuvier, Georges 73 Heidegger, Martin 16 razão 1 1 , 1 3 , 1 6 9
história e loucura 38
Defert, Daniel 3 5 , 1 6 5 da experiência 22 realidade 1 1 , 1 9 , 52, 9 6 , 1 6 8 - 9
Derrida, Jacques 4 9 , 1 0 0 e genealogia 98 representação 68-71
desrazão veja razão História da loucura, A 35 Rivière, Pierre 110
discurso 86-9, 96 História da sexualidade 123,
doença 28 145,153 Sartre, Jean-Paul 16-48
Doença mental e psicologia 27 Homossexualidade 1 5 , 1 0 9 , 1 2 9 , Segunda Guerra Mundial 9
doença mental veja doença 149-51 ser, o 16
Husserl, Edmund 17 sexo 158-63
ENS 9 - 1 0 , 1 4 Hyppolite, Jean 1 0 , 1 2 , 95 si, 0 57-8
Episteme 65, 67-9, 72, 74-8 si político, o 157
Epistemologia 18 Iluminismo 36 sexualidade 123-34,145-52
Esclarecimento 142 Imagem e texto 80 Foucault 15
espírito 1 1 , 1 6 1 Interpretação 6 1 , 6 3 veja também
estruturalismo 30, 54, 90 Irã 138 homossexualidade
existencialismo 16 Socialismo 140
experiência 17, 21-2 Kant, Immanuel 3 6 , 1 4 2 sonhos 2 6 , 1 5 5
Klee, Paul 80
fascismo, Espanha 122 Knobelspiess, Roger 139 Stalinismo 23
Fenomenologia 17 Kojève, Alexandre 12 Subjetificação 6
filosofia 9, 22 Kuhn, Thomas 19, 65 Surrealismo 81
Foucault
nos Estados Unidos 132-3, Lacan, Jacques 25 Transdiscursivo 5
141 Lapassade, Georges 83
preso 9 4 , 1 0 8 Linguagem 5 1 , 54, 63, 70, 74 Verdeaux, Jacqueline 26
background6-10 Loucura 32, 38-47 Veyne, Paul 29
nascimento 7 veja também doença Vigiar e punir111-12,121
criticado 167-8
morre 164 Magritte, René 79, 81 Zen 136
drogas 132 Manet, Edouard 82

176
OS AUTORES

Chris Horrocks estudou História


Cultural no Royai Collège o f flrt,
em Londres. Ele é professor de
História da Arte na Kingston
University, em Surrey. E
continua vivendo em Tulse Hill,
South London.

Zoran Jevtic é um ilustrador e


autor multimídia de Londres.
Ele está envolvido em projetos
de animação, publicação na
i n t e r n e t e projetos musicais.

Conheça t a m b é m os outros
títulos da coleção Entendendo,
publicados pela LeYa:
• Jung
• Teoria Quântica
• Freud
• Slavoj Zizek
• Filosofia
• Psicologia
• Psicanálise
R obra de Michel Foucault - f i l ó s o f o , historiador, a t i v i s t a
p o l í t i c o , ícone g a y - f o i d e s c r i t a por ocasião de sua
m o r t e em 1984, de acordo com o colega e i m p o r t a n t e
historiador,"PauÍ Veyne, como " o mais i m p o r t a n t e
a c o n t e c i m e n t o do pensamento em nosso s é c u l o " .

0 a u t o r d e t l á s s i c o s como A história da sexualidade


e Vigiar e punir desenvolveu os c o n c e i t o s de poder,
a u t o r i a , transgressão e sexo, que t r a n s f o r m a r a m o
modo de pensar sobre os vínculos e n t r e os indivíduos
e a sociedade. Ele subverteu nossas posições sobre o
experiência e q percepção da l o u c u r a , da s e x u a l i d a d e ,
da c r i m i n a l i d a d e e das m u i t o f r e q u e n t e m e n t e b r u t a i s
p r a t i c a s de c o n f i n a m e n t o , confissão e disciplina s o c i a l .

Esse guia i l u s t r a d o de Chris Horrocks e Zoran J e v t i c


explora as dívidas de Foucault com f i l ó s o f o s como
Nietzsche, Kant, Sartre e Heidegger, seu status de
f i g u r a cult nos anos 1970 - t a n t o nos Estados Unidos
quanto na Europa seu curioso apoio à Revolução
I r a n i a n a , sua briga com Baudrillard e m u i t o mais.

LeYa
llill

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