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MARCELO KNOBEL
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Conselho Editorial
Presidente
MÁRCIA ABREU
Comissão Editorial
MÓNICA G. ZOPPI foNTANA ( Coordenadora)
CÁRMEN LÚCIA HERNANDES AGUSTINI - FRED A INDURSKY
GRECIELY CRISTINA DA C O STA - MARIA INÊS PETRUCCI ROSA
TAIS IR MAHMUDO KARIM
Thierrv Guilbert
As EVIDÊNCIAS Do
DISCURSO NEOLIBERAL
NA MÍDIA
Tradução
Guilherme Adorno
Luciana Nogueira
Luís Fernando Bulhões Figueira
Mónica G. Zoppi Fontana
�EDITOR�
'i:INWl=M-
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELO
SISTEMA DE B IBLIOTECAS DA UNICAMP
DIRETORIA DE TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO
Bibliotecária: Helena Joana Flipsen - CRB-8' / 5283
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Tel.: (19) 3521-7718/ 7728
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 13
Os três polos "democráticos". 17
Poder político e mídia 17
Poder da opinião ou opinião do poder? 19
O que é o discurso neoliberal? .. 20
Discurso neoliberal, liberal, ultraliberal, capitalista? 20
Sete "evidências" liberais a desconstruir:
O contexto ideológico.... .. .
. ...... . 24
As tópicas neoliberais 27
A análise do discurso neoliberal ... 31
O ponto de vista da análise do discurso .. 31
A escolha do ''suporte". 32
Contextos sócio-históricos: "Crises sociais".. 33
1. A DISSIMULAÇÃO IDEOLÓGICA 37
1. 1 Ideologia ou propaganda? 39
1.2 A dupla dissimulação .. 42
1.2.1 O sagrado constitutivo e o sagrado mostrado .. 43
1.2.2 A ''racionalidade" do discurso .. 45
4. UM "QUADRO NATURAL" 81
4.1 Qiadros primários 82
4.2 A manipulação dos quadros 83
4.2.1 A ''naturalidade" do DNL .. 84
4.2.2 ':A tempestade das subprimes". 87
5. O BOM MODELO .. 93
5.1 A competição .. 94
5.1.1 A comparação com o vizinho... 98
512 A "exceçãofrancesa" .. 102
513 O "bom aluno" 109
5.2 A guerra dos chefes . . . ......... ......... ..................................... ........... 109
7
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MIDIA
8
PREFÁCIO A EDIÇÃO BRASILEIRA
9
NOTA AO LEITOR BRASILEIRO
11
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MIi •ii\
1hierry Guilbert
12
INTRODUÇÃO
• Trad. Herbert Caro e Ernesto Vinhaes. Rio de Janeiro, Record, 2013 (N. da R.)
Encontramos esse lugar-comum de diversas formas, em diversos suportes e diferentes épocas, por exemplo: a famosa "língua de
madeira" da esfera politico-midiática; este ver,o de Moliere: "Eu vivo de boa sopa, e não de linguagem bonita"; este provérbio brasi
leiro: "A palavra não tempera a sopa"; ou ainda esta canção popular do século XX: "Palavras, palavras".
Thierry Guilbert. Le discours idéo/ogique ou la force de /'evidence. Paris, L'Harmattan, 2007, pp. 200-201.
13
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAi NA MIi •ii,
Para uma desmistificação dessa expressão, ver Julien Duval. Le mythe du "trou de la Sécu". Paris, Raisons d 'Agir, 2006.
4 Nao entraremos aqui no falso debate sobre a objetividade. É evidente para toda análise de discurso que a objetividade absolu·
ta nclo existe. Ver, a esse respeto, um artigo muito esclarecedor de Jacques Bouveresse. "Noam Chomsky et �s calomniateurs".
Le Monde Diplomatique, maio de 2010, pp, 14·15.
14
INTRODUÇÃO
15
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBf RAI NA MIi >I ,.
B Ver Jean-Claude Beacco & Sophie Moirand. "Autour des discours de transmission de connaissances". Langages, n. 117, 1995,
pp. 32-53.
16
INTRODUÇÃO
Poderpolítico e mídia
Metáfora emprestada de Jacques Bouveresse. "Karl Kraus, le monde intellectuel et la presse". Pour une analyse critique des
médias. Le débat pub/ic en danger. Bellecombe-en-Bauges, Éditions du Croquant, 2007, pp. 71-94.
17
AS EVIDÊ NCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAi NA MilllA
10 Sobre esses grupos, ver lgnacio Ramonet. Nouveaux pouvoirs, nouveaux maitres du monde. Un monde sans cap. Québec, Édi
tions Fides, 2001 [1996]; Serge Halimi. Les nouveaux chiens de garde. Paris, Liber/Raisons d'Agir, 1997; "L'empire des médias".
Maniêre de voir, n. 63, Le Monde Diplomatique, 2002.
11 Os artigos da imprensa são submetidos desde os anos 1980 ao ditame das 'expectativas dos leitores", o que reduz ainda mais
a pluralidade. Ver Patrick Champagne. "Le journalisme à l'économie" Actes de la Recherche en Sciences Sociales, n. 131-132,
2000, pp. 3-7; e Julien Duval. 'Concess1ons et conversions à l'économie". Actes de la Recherche en Sciences Sociales
n. 131-132, 2000, pp. 56-75.
12 �irnid!lde-entrepode!,olilic.oe proprietários de meios de comunicação, ver "Combat pour les médias". Maniére de
voir, n. 80, Le Monde Diplomatique, avril-mai 2005, sobretudo Marie Bénilde. "En France, une affaire de families", pp. 36-39.
13 Ver Halimi, 1997; e Evelyne Pinto (dir.). Pour une analyse critique des médias. Bellecombe-en-Bauges, Éditions du Croquant,
2007.
14 Ver Duval, 2000; e Guilbert, 2007. Nossas análises (a primeira, sociológica; a segunda, discursiva) convergem: a imprensa
francesa (do jornal Figaro ao Libération passando por Le Monde, Le Point, Le Nouvel Observateure L'Express) tem uma estrutu
ra socioeconômica e um conteúdo ideológico que favorecem a difusão de uma visão neoliberal do mundo atual.
18
INTRODUÇÃO
15 Ver Éric Landowski. La société réfféchie. Paris, Seuil, 1989; Patrick Champagne. Faire f'opinion. Paris, Minuit, 1990; Jeannine Ri·
chard·Zappella "Variations interrogatives dans la question de sondage" (pp. 5-18) e "Mobilisation de l'opinion publique par les
sondages" (pp. 60-75). Mots, n. 23, 1991; e minha contribuição a esse debate (Guilbert, 2007).
19
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA M IDIA
16 Termo proposto no Colóquio Walter Lippmann, ocorrido em agosto de 1938 em Paris; seu ato oficial de nascimento seria devido
a L. Rougier e F Hayek com a ocorrência "tradition néolibé@le" segundo Nathalie Krikorian. "Européanisme, nationalisme, libé
ralisme dans les éditoriaux de Louis Pauwels (Figaro-Magazine, 1977-1984)". Mots, n. 12, 1986, p. 184.
20
INTRODUÇÃO
17 Respectivamente (e apesar do titulo para o primeiro), Alain Bihr. La novlangue néolibérale. La rhétorique du fétichisme capitalis
te. Lausanne, edição Página 2, Cahiers libres, 2007: e Pascal Durand (dir. J . Les nouveaux mots du pouvoir. Abécédaire critique
Bruxelles, Aden, 2006. Ver também o site <http://divergence.be>.
18 "La mondialisation, le chômage et les impé@Ms de l'hurnanisme", Unesco, "Science et hurnanisme", abril de 1999, pp. 9-10, ci
tado em René Passet. L'illusion néo/ibé@le Paris, Flamrnanon, 2000, pp 21-22 (coleção Champs)
19 Segundo a equação semântica: neo + liberalismo = novo + conservadorismo. A tese segundo a qual os oximoros paralisam o
pensamento é desenvolvida por Olivier Reboul. Discours et idéologie. Paris, PUF, 1980.
20 Eis aqui três ocorrências: uma em Le Nouvel Observateur de 7/12/95 sob a pluma de Roland Joffrin ("Le spectre de Maastricht"):
"A Europa apareceu como o meio de alinhar pela força a sociedade francesa sobre as normas ultraltberais em vigor em escala
mundial" (destaque do autor), as duas outras em Le Monde Dip/omatique de janeiro de 1996, uma no editorial de lgnacio Ramo
net "A esperança": "Uma única instrução extraída da terminologia darwiniana cara aos ultraliberais: 'adaptar-se', isto é, renunciar,
abdicar, se submeter", a ou!@ no artigo de Serge Halimi "Os meios de comunicação e os miseráveis": "Alain Touraine, sem dú
vida porque ele acabava de cometer um panfleto ultraliberal' (destaque do autor nos dois treçhos).
21
AS EVIDÊ NCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MifJIA
21 Respectivamente: Durand, 2006; Duval, 2000: Philippe Merlant. "Un projet alternatif à l'économisme". Transvmales Science/
Culture, n. 3 (nova série), 2002.
22 Philippe Breton. La parole mampulée. Paris, La Découverte & Syros, 1997, p. 46.
23 Segundo o próprio termo de lgnacio Ramonet, diretor e editorialista do Monde Diplomatique em 1995.
24 Esse conflito é sinônimo de guerra para os zapat1stas e o comandante Marcos: "Na nova ordem mundial, não há nem democra·
eia, nem liberdade, nem igualdade, nem fraternidade. Trata-se de uma guerra planetária, a pior e a mais cruel, que o neolibera·
lismo conduz contra a humanidade" (Comandante Marcos, Le Monde Dip/omatique, agosto de 1997).
22
INTRODUÇÃO
25 Ver Albert Jacquart. J'accuse /'économie triomphante. Paris, Calmann-Lévy, 1995; Viviane Forrester. L 'horreur économique. Paris,
Le Livre de Poche, 1996; Pierre Bourdieu. Contre-feux, Propos pourservir à la résistance contre l'invasion néolibérale. Paris, Liber
·Raisons d'agir, 1998 e Contre-feux 2, poor un mouvement social européen Paris, Liber-Raisons d'agir, 2001; Passet, 2000; Du
rand, 2006.
26 Como escreveu tão bem JoséOrtegayGasset "[...] é a linguagem que às vezes consegue exprimir comomáximodeill)!oximação
algumas das coisas que se passam em nós. Nada além disso. Ao contrário, quando o homem se põe a falar, ele o faz l)Olque
acredita que vai poder exprirrn r tudo o que pensa E eis ai a ilusão! A linguagem não permite tanto" (José Ortega y Gasset.
'Préface pour le lecteur trançais'. la révoffe des masses. Paris, Les Belles Lettres, nova edição, 2010 (1937], p. 48).
27 P Watzlawick (1978) estima que, numa conversa ordinária, somente 1/5 do que é dito é informação "pura"; os locutores consa
grariam os 4/5 restantes a comunicar, isto é, a utilizar a linguagem para se constituir como su1eitos e para estabelecer a relação
com o outro.
28 R. Passet não véaí nada de coerente: 'Odogma não está inscrito em nenhumcódigo. Ele não corresponde a nenhuma escola acadê
mica de pensamento, mesmo se reivindica para si um liberalismo duvidoso" (Passet, 2000, p. 19).
23
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MllllA
24
INTRODUÇÃO
31 Neil Fligstein. "Le mythe du marché". Actes de la Recherche en Sciences Sociales, n. 139, 2001, p. 12.
32 Alain Mine, por exemplo, escreve: "O capitalismo não pode ruir, é o estado natural da sociedade. A democracia não é o estado
natural da sociedade, o mercado �m" (citado por Jacques Robin. "L'affrontement entre le tout-économisme et l'ere information
nelle". Transversales Scíence/Culture, n. 3 [nova série], 2002, p. 33).
33 Karl Polanyi. La grande transformation. Paris, Gallimard, 1983 [1944]. p. 189.
34 John Maynard Keynes. The Endoflaissez-faire. Marseille, Agone, 1999 [1926], pp. 17-19 (coleção Contre-feux).
25
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MIDIA
35 Idem, ibidem.
36 Ver Passet, 2000, o parágrafo intitulado "Les moutons de Panurge". [Expressão que significa: pessoa influenciável, que se deixa levar
pelos outros semrefletir; "maria vai comas outras". (N. da l)]. Ver também, por exemplo, a ruina tão súbita quanto irracional da Bolsa
"dos países emergentes" do Sudeste Asiático em 1999.
26
INTRODUÇÃO
As tópicas neoliberais
37 Yves Dezalay & Bryant Garth. "Le Washington consensus. Contribut1on à une sociologie de l'hégém001e du neolibéralisme"
Actes dela Recherche en Sciences Sociales, n. 121-122, 1998, pp 3-22.
38 O Consenso de Washington, noção forjada por Williamson em 1990, designa "os pontos comuns a todas as reformas prescritas
como remédios às dificuldades financeiras da América Latina". Ela se expande em 1994 a "uma convergência universal entre as
doutrinas e as políticas econômicas" (Dezalay & Garth, 1998, p. 3). Segundo Passet, "o Consenso de Washington - fruto direto,
no inicio dos anos 1980, de uma cúpula do G7 -, cujos 'dez mandamentos' enumeravam os béneficios da livre circulação dos
capitais no mundo acompanhada de uma total libérdade para empreender, ao mesmo tempo denunciavam as tentações vindas
do Diabo dissimuladosob as formas do 'Estado-providência"' (René Passet. "Porter l'espérance". TransverSoiesScience/Cuiture,
n. 3 [nova série], 2002, p. 24).
27
AS EVI DÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MlillA
39 Pierre Bourdieu & Loic Wacquant. "La nouvelle vulgate planétaire". Le Monde Diplomatique, ma1 2000.
40 Milton Friedman, prémio Nobel de economia em 1976, desempenhou um papel muito importante na difusão dessa ideclogia: ver
Dezalay & Garth, 1998, e Gérard Dostaler. "Milton Friedman, croisé du libéralisme". Altematives Économiques, n. 228, 2004, p 76.
41 Notadamente utilizando o Wa/1 Street Journal (Dezalay & Garth, 1998), jornal econômico e financeiro mais vendido no mundo.
42 Dezalay & Garth, 1998, p 11.
28
I N TRODUÇÃO
43 Feulner, um dos diretores da Heritage Foundation, inventa um termo para definir esse tipo de mensagem: "the brief-case tesf'.
Análises e recomendações tão concisas quanto possível que devemos poder ler e integrar no carro a caminho de um encontro
(ibidem, nota 22).
44 Michel Vilette. "Vendre ou se vendre. Notes sur une altitude 'libérale' devant la vie". Regards Sociologiques, n. 21, 'Le néolibéra
lisme". 2001, pp. 87-98.
45 Para uma análise das reestruturações financeiras e sociológicas desse "campo", ver Dezalay & Garth, 1998; Champagne, 2000;
Ramonet, 2001.
46 A nocão de "discurso constituinte", um tipo de discurso que se constitui se autojustificando, pode ser aplicada ao discurso
neoliberal, ver Guilbert, 2007. Para um retorno a essa noção, ver Dominique Maingueneau & Frédéric Cossutta. "L'analyse des
discours constituants". Langages, n. 117, 1995, pp. 112-125.
47 Frédéric Lebaron. "L'impérialisme de l'économie". Actes de la Recherche en Sciences Socia/es, n. 121-122, 1998, pp.104- 1 07.
48 As medidas de tipo "ajuste estrutural" impostas ao governo grego por alguns desses organismos na primavera de 2010 fornecem um
exemplo muito esclarecedor disso.
29
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MilJIA
Qyadro 1
O papel discursivo das matemáticas na economia
30
INTRODUÇÃO
54 Para uma apresentação a um só tempo sintética e rica dessa disciplina francesa nascida em 1969, ver Francine Maziére. L'anafyse
des discours. Paris, PUF, 2005 (coleção Que sais-je). Para uma apresentação da abordagem anglo-saxã, ver Adele Petitclerc &
Philippe Schepens. "Criticai Discourse Analysis I". Semen, n. 27, Université de Besançon, 2009.
55 Viktor Klemperer. LTI, la tangue du Ili Reich. Paris, Albin Michel, Pocket, 1996 [1947], p. 35 (coleção Agora).
31
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MIOIA
56 Por exemplo: Éric Hazan. LOR, La propagandedu quotidien. Paris, Liber/Raisons d' Agir, 2006: Durand, 2006: René Mouriaux (dir)
Lexique usuel critique de /'idéologie dominante économique et sociale (Lucides). Paris, lnstitut d'histoire sociale/CGT, 2009.
32
INTRODUÇÃO
57 Assim, o pronome que domina nesses artigos não é eu, como poderíamos esperar, mas nós (ou ainda um a gente que tem valor
de nós); para uma analise mais aprofundada, ver Guilbert, 2007.
58 A noção de paradoxo esta no centro das teses desenvolvidas por Watzlawick, 1978; ver também Paul Watzlawick, Janet Helmick
Beavin & Don D. Jackson. Une logique de la communication. Paris, Seuil, 1972. No paradoxo, a mensagem contraditória "diz
respeito a si mesma" e "barra a própria possibilidade da escolha" (Watzlawick et ai., 1972, pp. 217 e 226).
59 Sophie Moirand propôs chamar esse fenômeno de "momento discursivo" (Sophie Moirand. "Moment discursif". ln: Patrick Cha
raudeau & Dominique Maingueneau (org.). Dictionnaire d'analyse du discours. Paris, Seuil, 2002, p. 389.
33
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MIDIA
• RégieAutonomedesTransportsParisiens[EmpresaPúblicaAutônomadosTransportesParisienses]eSociétéNationaledesChemins
de Fer [Sociedade Nacional de Ferrovias]. Os grevistas dessas duas empresas bloquearam os transportes durante as greves de 1995.
(N. da T.)
60 lgnacio Ramonet ("Malade la France?", editorial, Le Monde Dip/omatique, abril de 2006), apresenta assim o CPE: "Como no caso
do CNE [Contrato de Novos Empregos], o empregador se vê reservada a possibilidade, durante os dois primeiros anos, de
romper o contrato sem formalizar motivação por escrito".
34
I N TRODUÇÃO
61 Em maio de 2005, 54% dos franceses reJeitaram por referendo a Constituição para a Europa; a opinião da maioria dos meiosdeco
municação era totalmente divergente da opinião dos franceses.
62 Em dezembro de 2007, a proclamação da reforma das univer�dades (LRU), considerada por estudantes do ensino superior e médio
como a porta aberta para uma pnvat1zaçâo progressiva da universidade.
63 O inverno e a primavera de 2009 foram igualmente ricos em movimentos sociais diversos contra as "reformas" governamentais:
manifestações massivas de cidadãos convocadas pelos sindicatos, movimentos dosprofessores universitários e dos estudantes, do
"mundo médico", de parteiras, de agentes penitenciários, entre outros.
64 Corinne Gobin (org.). Conffits redistributifs et égalítaires: Des objets invisibles pour l'actualíté?. Actes du 4e. Congres de
/�ssociation Be/ge des Sciences Politiques{ommunauté Fram;aise (ABSP-CF), Louvain-la-Neuve, 24-25 de abril de 2008. Cf.:
<http://www.absp-cf.be>. Ver também R. Cussó; A. Oufresne; C. Gobin; G. Matagne & J.-L. Siroux (org.). Le conffitsocial éludé.
Louvain-la-Neuve, Academia Bruylant/ABSP-CF, 2008 (coleção Science Politique).
65 Ver Guilbert, 2007, pp. 84-86. O termo "predisposição", assim como a expressão "imposição simbólica", são emprestados de P.
Bourdieu (Ce que parler veut dire. Paris, Fayard, 1982).
35
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MIDIA
36
A D I SS I M U LAÇÃO I D E O L Ó G I CA
Ver lgnacio Ramonet. "La pensée unique" [O pensamento único], Le Monde Diplomatique, editorial, 1aneiro de 1995, mas tam
bém Forrester, 1996; Bernard Noêl. La castration menta/e Paris, POL, 1997; Breton, 1997; Bourdieu, 1998 & 2001; Passei, 2000;
Durand, 2006 "La censure invisible". Para uma análise mais aprofundada dessa nação de evidência, ver Guilbert, 2007.
Passei, 2000, p. 19.
Retomo essas fórmulas da linguagem corrente, na medida em que elas refletem uma visão sócio-histórica partilhada, mas a utiliza
ção das aspas significa que eu não as assumo.
37
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MIDIA
4 Segundo o titulo de Francis Fukuyama, La fin de l'histoire et /e dernier homme [O fim da história e o último homem). Paris,
Flammarion, 1991.
Ver os autores citados na nota 1 acima, mas também Jacquart, 1995; Breton, 1997; e Noam Chomsky. Responsabilité des intellec
tuels. Marseille, Agone, 1998 (coleção Contre-feux).
Bourdieu, 1998, p. 31.
Edgar Allan Poe. "La lettre volée". Oeuvres en prose. Paris, La Plêiade, pp. 45-64.
38
A DISSIMULAÇÃO IDEOLÓGIÇA
1 .1 Ideologia ou propaganda?
'"[O delegado] jamais acreditou que fosse provável ou possível que o ministro tivesse deixado sua carta justo sob o nariz de todo
o mundo, como para melhor impedir qualquer individuo de percebê-la', explica Dupin, que desvela o estratagema" (idem, p. 61).
Idem, p. 62.
39
AS EVIDÊNCIAS DO DI SCURSO NEOLIBERAL NA MIDIA
10 Retomo, por minha vez, essa frase citada por Jean-Claude Michéa (Impasse Adam Smith. De f'impossibilité de dépasser/e capi
talisme sur sa droite. Paris, Climats, 2002, p. 19) e retomada por Pascal Durand (2006, La censure invisibfe, p. 39).
11 Idem, ibidem.
12 "O mais forte nunca é forte o bastante para ser sempre o mestre se não transforma sua força em direito, e a obediência em
dever", Jean-Jacques Rousseau. Ou contrai social. Paris, 10/18, 1973 (1754]. p. 64.
13 É essencial ao homem dar um sentido ao mundo e uma lógica a suas ações, segundo Hannah Arendt, "ldéologie et terreur: Un
nouveau type de régime". Les origines du totalitarisme: Le systéme totalitaire. Paris, Seuil, 1972 (1952], pp. 203-232 (coleção
40
A DISSIMULAÇÃO IDEOLÓGICA
Points essais). Ver também a esse respeito as noções de "pontuação" e de "ordem da realidade", Paul Watzlawick. La réalité de
la réalité. Confusion, désinformation, communication. Seuil, 1978 (coleção Points).
14 Para uma história dessa palavra, ver Breton, 1997: Almeida (d') Fabrice. "Propagande, histoire d'un mot disgracié". Mots, n. 69,
juillet 2002, pp. 137-148: e Mattelart Armand. La communication-monde, histoire desidées et des stratégies. Paris, La Découver
te, 1991
• As Grandes Escolas (Grandes Écoles) são estabelecimentos de ensino superior de grande prestigio na França. (N. da T.)
41
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MIDIA
1 .2 A dupla dissimulação
15 Segundo E. Durkheim, a noção de consenso é central para a coesão de uma sociedade. Trata-se aí de um CO/lsenso social "ra
cionalmente aceito". A questão é saber em que medida essa adesão é livre e racional.
16 Noél, 1997, p 145.
17 A famosa "ideologia dominante" dos anos 1970 é um pleonasmo, segundo R. Barthes. Para Reboul (1980, p 13), "a burguesia
lilleral tem também suas fórmulas-armadilhas, tão ma� perigosas na medida em que elas se dissimulam sob a aparência da
objitividàdeeda neutralidade".
18 Minha intenção não é amalgamar os regimes políticos sob os quais vivemos aos regimes totalitários que assolaram o século XX ou
que nos assolam ainda atualmente.
42
A DISSIMULAÇÃO IDEOLÓGICA
19 Faço uma rápida exposição aqui. Para mais detalhes, ver Guilbert, 2007.
20 Sacrilégio significa 'destruição do sagrado"; sacrifício, 'aceitação/submissão ao sagrado". Sobre esse ponto. ver Reboul, 1980.
43
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
44
A DISSIMULAÇÃO IDEOLÓGICA
22 lnverS<1mente, a evidência deixa de ser evidente a partir do momento em que ela é percebida.
45
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MIDIA
23 A racionalidade é igualmente um valor partilhado que transcende as épocas e que apresenta a vantagem de não ser suspeita de
ideologia.
24 Denis Jeambar. "Droit dans le mur" [Direito na parede]. Editorial, L'Express, 22/5/2003.
46
A DISSIMULAÇÃO IDEOLÓGICA
25 Idem, ibidem.
47
AS EVIDÊNCIAS DO D ISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
48
A DISSIMULAÇÃO I D EOLÓGICA
29 Bourdieu: "Um trabalho constante foi feito, associando intelectuais, jornalistas, homens de negócios, para impor como óbvia
uma visão neoliberal que, na essência, veste de racionalizações ec011ómicas os pressupostos mais clássicos do pensamento
conservador de todos os tempos e de todos os países" (1998, pp. 34-35).
49
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
• Líder sindicalista francês da Confédération Générale du Travai! (Confederação Geral do Trabalho), de 1999 a 2013. (N. da T.)
30 Gérard Dupuis. "Statu quo". Editorial, Libération, 12/5/2003.
31 A palavra "inclusive" significa aqui /mais do que isso/e comporta osubentendido confirmado pelafraseseguinte:/provaqueele não
entendeu nada/.
50
2
O Q UE N O MEAR Q UER DI ZER
51
AS EVI DÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
<2.1iadro 2
As palavras do neoliberalismo
52
O QUE NOMEAR QUER DIZER
53
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MIDIA
10 A repetição dessas fórmulas rígidas e seu aspecto habitual reforça ainda mais essa impressão. Ver o Capitulo 4.
54
O QUE NOM EAR QUER DIZER
11 O sintagma verbal é nomeado "predicado" na gramática clás�ca. sendo a nominalização o "tema" ou "tópico".
12 É o caso das pressuposições em geral. Ver Oswald Ducrot. Le dire et /e dit. Paris, Minuit, 1984.
13 Charles Rebois. 'Sauver l'essentiel" [Salvar o essencial]. Editorial, Le Figaro, 4-5/M995.
55
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
14 E de falar no lugar dos franceses. Ver o Capitulo 3, "A opinião pensa que...'.
• CSG é a Contribuição Social Generalizada, um imposto para todos os assalariados na forma de uma taxa retida na fonte, de acordo
com os rendimentos recebidos. (N. da T.)
56
O QUE NOMEAR QUER DIZER
57
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
15 Jean Dubois (org.) Dictionnaire de linguistique et des sciences du /angage. Paris, Larousse, 1999, o. 100.
58
O QUE NOMEAR QUER DIZER
16 Porcentagens de ocorrências de uma palavra numa lista produzida pelo levantamento das denominações mais frequentes no
corpus que compreende 184 artigos, isto é, a exaustividade dos artigos de opinião para cada um dos jornais considerados, du
rante o período dos movimentos de 1995 e 2003.
17 Assim que uma denominação é encontrada em uma publicação, ela é procurada nas outras.
59
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO N EOLIBERAL NA MÍDIA
60
O QUE NOMEAR QUER DIZER
20 Por exemplo, em 1995, "funcionário público", nomeação aparentemente neutra, está oposta, em Le Figaro, a "assalariado": "o
alinhamento, a termo, do regime de aposentadoria dos funcionários públicos sobre aquele dos assalariados" CTS/ll/1995): o
funcionário público é, além disso, amalgamado aos "descontentes": "É mais do que necessário reviver, por um efeito contagioso,
todos os descontentes. Alternadamente, os estudantes, os funcionários públicos, os ferroviários e as mulheres ocuparam as ruas"
(27/11/1995); e aos "agitadores irresponsáveis": "Os estudantes se criaram em 1968 e os funcionários públicos em 1936, enquan
to o franco desce e o desemprego cresce" (l/12/1995). Ao contrário, as conotações que o L'Humanité atribui ao termo "funcio
nário público" são claramente progressistas: "Não, senhor Ministro, os 'excluídos' não pedem as conquistas dos funcionários pú-
61
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
blicos. porque estas conquistas são válidas para todos!" (4/12/1995), "Os ferroviários, os agentes da RATP, os funcionários
públicos fizeram bem de arrebatar a manutenção da aposentadoria após trinta e sete anos e meio de trabalho" (20/12/1995).
21 Ver Guilbert, 2007, p. 31.
62
O QUE NOMEAR QUER DIZER
22 O termo "reforma" é, no entanto, uma especificidade de Le Monde relativamente ao resto do corpus. O cálculo estatístico do
"intervalo reduzido" para esta palavra é de 4,3 (vale lembrar que estimamos que um termo que alcança o índice de 2,5% é
"muito significativo" do posicionamento de uma publicação).
23 Jacques Julliard. "Le come-back des syndicats" [A votta dos sindicatos]. Le Nouvel Observateur, 7/12/1995 [chiraqu·1smo: reme
te à política de Jacques Chirac (N. da T.)J.
63
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
64
3
A O PI N I ÃO PEN SA Q UE . . .
O U O CAVALO D E TROIA
Sobre essa noção de opinião pública, ver Landowski, 1989, e Champagne, 1991.
Sobre as pesquisas de opinião ou enquetes, um trabalho linguístico foi realizado no inicio dos anos 1990 (cf. a revista Mots, n.
23, 1991, "Les discours des sondages d'opinion", coordenado por Jeannine Richard-Zappella, Michel Tournier e Pierre Fiala,
principalmente os seguintes textos: J. Richard-Zappella et ai. "Présentation": J. Richard-Zappella. "Variations interrogatives dans
la question de sondage", pp. 5-18, e "Mobilisation de l'opinion publique par les sondages", pp. 60-75: e P Achard. "La structure
énonciative du discours d'opinion", pp. 39-58.
• Institui Français d'Opinion Publique [Instituto Francês de Opinião Pública]. (N. da T.)
Por falta de espaço para analisar a enquete na integra, apenas a segunda questão será estudada aqui.
65
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLI BERAL NA MÍDIA
4 É um traço 1ornalistico. Cf. François Demers. "De certains 'raccourcis' mass·médiatiques comme 'argument politique"', Hermes,
n. 16, Argumenta/ians et Rhétoriques li (capitulo IV: "Rhétorique et argumentations dans la communication politique"), 1995.
Os psicólogos sociais mostraram que é maisfácil dizer "�m" que "não", e mais ainda se começamos dizendo ·�m". Ver Breton, 1997.
Ver "A dupla dissimulação", no Capitulo 1.
66
A OPINIÃO PENSA QUE . OU O CAVALO DE TROIA
O que coloca evidentemente um problema. A propósito dessa hipótese que evade os efeitos de polissemia, ver Jeannine Ri
chard-Zappella. 'Qu'est-ce qu'un noyau dur7 Ou comment les médias se constituent en tribunal du sens'. ln: Paul Siblot &
Françoise Madray-Lesigne (dir.). Langage et Praxis, Actes du Coloque à Montpellier, 24, 25 et 26 mai 1990. Montpellier, Praxilin
gue, 1993, pp. 170-179. A autora analisa uma pesquisa de 1988 que demandava, pela primeira vez, para uma amostra represen
tativa (na forma de questões abertas), uma definição de certos termos do campo político. Por exemplo, "Estado-providência",
"ganhos sociais' e "desregulamentação" receberam, respectivamente, 42%, 10% e 36% de não respostas ("não se pronuncia
ram"). E não foi divulgado o resultado das respostas "ruins".
8 Podemos nos perguntarse, na melhor das hipóteses, as enquetes não medem apenas o impacto da comunicação politico-midiática
sobre as opiniões dos entrevistados em relação a um assunto dado.
67
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
9 O exemplo acima mostra bem isso. Seria preciso estudar igualmente, do ponto de vista linguístico, o fechamento das respostas
propostas etc. Sobre esse assunto, ver J. Richard-Zappella. Mots, n. 23, 1991.
68
A OPINIÃO PENSA QUE . OU O CAVA LO DE T ROIA
10 Essa crença não é, certamente, nova, mas podemos considera rqueas pesquisas de opinião creditaram "cientificamente" suaexistên·
eia. Atribuímos, geralmente, a aparição da opinião pública ao Iluminismo e, mais precisamente, a Voltaire, no caso Jean Calas.
69
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
11 Jean de Coquet. "Le sens inné de /'opinion publique" [O sentido inato da opinião pública]. Le Figaro, 10/10/1978, citado em
Landowski, 1989, p 22.
12 Landowski, 1989, p. 35.
70
A OPINIÃO PENSA QUE . OU O CAVA LO DE TROIA
71
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA M ÍDIA
15 Além disso, eu igualmente distingo "a opinião física" (Guilbert, 2007, pp. 134-135). Childs (1965, apud Landowski. 1989) identifi
cou até urna cinquentena de significações diferentes para o termo "opinião".
72
..
A OPINIAO PENSA QUE OU O CAVALO DE TROIA
16 Georges-Elia Sarfati. "De la philosophie et l'aotropologie à la pragmatique: Esquisse d'uoe théorie lioguistique de la doxa"
Cognition, langue et culture, éléments de théor1sation didactique Umversité Paris VII - Grupo de Estudos em Psicolinguistica e
Didática (Geped), 2000, PP 39·S2.
17 Teun Vao Dijk. "Politique, idéologie et discou�·- Semen, n. 21, Univer�té de Besaoçoo, 2006, p. 76.
18 Isso é atestado, desde há muito tempo, pelos linguistas e cientistas que trabalham com a linguagem. Ver, por exemplo, Watzla
wick, 1978; e Romao Jakobson. Essais de /inguistique générale. Paris, Minuit, 1963.
19 Todorov, durante uma entrevista, respondeu assim a uma questão sobre a "manipulação da opinião": "A mídia é, frequentemente,
colocada a serviço de um fim que não tem nada de nobre: aumentar seu poder [de opinião]. É uma apropriação indevida do llumi·
nismo que nos priva de nossa autonomia. Nós acreditamos ser livres, mas estamos submetidos à propaganda que nos é desti·
lada pelas nossas pequenas telas, por nossos jornais. Eles são pluralistas, mas no interior de um quadro predeterminado".
(Tzvetan Todorov. "Un mouvement d 'émancipation" Magazine Uttéraire, n. 450, 2006, p. 33).
73
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
• Force Ouvriére [Força Operária] é uma confederação sindical francesa. (N. da T.)
20 Serge July. "Le flip social" [A virada social]. Editorial, Libération, 10/6/2003.
74
A OPINIÃO PENSA QUE . OU O CAVALO DE TROIA
21 Pierre Georges. "Au plus malin" [Ao mais astuto]. Crônica, Le Monde, 13/5/2003.
22 Por isso a existência das pesquisas de opinião. O leitor pode consultar, acima, as dúvidas formuladas a propósito da aferição da
"opinião" pelas pesquisas.
75
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA M ÍDIA
76
A OPINIÃO PENSA QUE . OU O CAVALO DE TROIA
isto é, para criar uma nova realia, uma nova doxa. Dito de
outro modo, a opinião, assim apresentada e assim carregada
da autoridade de uma voz coletiva, não tem mais o aspecto de
uma opinião subjetiva. Ela se torna uma evidência, algo ób
vio, um senso comum.
Ainda é preciso acrescentar um outro fator não despre
zível a esse procedimento: a repetição midiática. Ela é uma
grande força de construção das evidências: "Em nossas so
ciedades midiáticas, repetição vale demonstração". 23 A repe
tição é tão característica e constitutiva do discurso neoliberal24
que P. Bourdieu lhe conferiu um nome: "envelopamento
contínuo". 25 Ela é constitutiva no sentido em que transforma
(constitui) as opiniões "individuais" vindas da ideologia neo
liberal em conhecimentos compartilhados e em consenso, por
tanto, em evidência; além disso, ela acaba por inibir todo
pensamento crítico.
Desde os movimentos de 1995 e de 2003, as evidências
que-cada-um-conhece sobre a aposentadoria foram tão repe
tidas na mídia que paulatinamente se constituíram em evi
dências. Pudemos constatar o resultado em 2010: qual jornal
teria ousado sustentar que a "reforma" da aposentadoria não
era "necessária"26 ( ver Ô!iadro 3)? O debate se deslocou para
o tipo de reforma a adotar.
77
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
Qyadro 3
O envelopamento contínuo em 2010
27 Denis Perais e Mathias Reymond. "La réforme des retraites ? Urgente, unique, inévitable". Acrimed.org, 3/5/2010. Disponível em
<https://www. acrimed.org/La-refonme-des-retraites-Urgente-unique-inevitable>. Acesso em 27/1/2020.
28 Respectivamente, La Nouvelle République du Centre-Oeust, 16/6/2009; La Croix, 22/3/2010; e La République du Centre,
16/6/2009
29 Para uma apresentação mais completa desse procedimento, ver Guilbert, 2007.
30 A questão não é essa. A Análise de Discurso mostrou, há alguns anos, que os gêneros de texto, como o editorial ou o artigo de opi
nião, impõem fonmas de escritura particulares. No entanto, a parte individual não é completamente negada: a utilização/constitui-
78
A OPINIÃO PENSA QUE ... OU O CAVA LO DE TROIA
ção da opinião não é desenvolvida da mesma maneira, nem nas mesmas proporções, segundo os diferentes jornais (ver acima
"O sentido da opinião").
31 Guilbert, 2007, pp. 193-206).
32 Claude lmbert. "La confiance" [A confiança]. Editorial, Le Point, 11/11/1995.
33 Michel Schifres. "Quelques idées simples" [Algumas ideias simples]. Editorial, Le Figaro, 30/11/1995.
79
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
80
4
UM " QUADRO NATURA L"
Trad. Herbert Caro e Ernesto Vinhaes. Rio de Janeiro, Record, 2013. (N. da R.)
"Assim o liberalismo, como teoria e sobretudo como ideologia, é apresentado mais frequentemente como o ponto de vista "agora
realista" sobre o mundo, como um olhar "desideologizado" (Breton, 1997, p. 17).
81
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA M ÍDIA
82
UM "QUADRO NATURAL"
4 Idem, p. 317.
83
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
"La nouvelle alternative: Libéralisme ou barbarie" (Bourdieu, 1998, p. 32). Ver no Capitulo 6, o enquadramento por alternativa enca
minha, por deriva manipuladora, a 'falsa alternativa".
6 Forrester, 1996, p. 27.
Bourdieu, 1998, p. 34.
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UM "QUADRO NATURAL"
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AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA M ÍDIA
Qpadro 4
Origem do laissez-jaire
86
UM "QUADRO NATURAL"
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AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
88
UM "QUADRO NATURA�
21 Esse longo artigo comporta oito perguntas, das quais não tratarei in extenso por falta de espaço.
22 Exemplo: "Um crash [da bolsa de valores] corresponde a uma baixa de mais de 10% de um índice numa sessão. Ora, [...] os
piores episódios de pânico até aqui traduziram-se por baixas relativamente canalizadas a menos de 7%". A noção de crash é
apresentada aqui como uma verdade tisica ou matemática, fazendo da economia uma ciência exata.
89
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
90
UM "QUADRO NATURAL"
23 Yves Mamou. "Le retour de l'État, la solution aux dérapages du marché? Six économistes répondent" [O retorno do Estado, a
solução para as derrapagens do mercado? Seis economistas respondem]. Le Monde, 18/10/2008.
24 A avaliação da crise pelos governos foi mais significativa ainda, uma vez que, para retomar o léxico da inundação, ela levou a acres
centar novas "liquidezes", em vez de "desidratar o mercado".
91
5
O BOM MODELO
Mcluhan, 1976, p. 91 [Osmeios de comunicação como extensões do homem. 18. reimpr. Trad. Décio Pignatari. São Paulo, Cultrix,
2014. (N da R.)].
Watzlawick (1978, pp. 67-70) fala, para esta operação de "pontuação" ou de "ponto de vista", isto é, o fato de "impor uma ordem" à
"sequência de comunicação", mesmo e sobretudo quando ela parece não a ter: "O fato de ordenar as sequências num sentido ou
outro é o que podemos chamar, sem exagero, de realidades diferentes".
Goffman, 1981.
93
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA M ÍDIA
5.1 A competição
4 Sobre isso, ver Frédéric Lebaron. "Uma utopia realista". Le savant, /e pofitique et la mondiafisation. Bellecombe-en-Bauges,
Éditions du Croquant, 2003 (coleção Savoir/agir).
94
O BOM MODELO
Mesmo se isso é negado pelos fatos (aumento de preços, estresse no trabalho, desemprego em massa etc.), a crença na virtudeda
competição continua. Watzlawick (1978) mostra muito bem que é difícil abandonar nossas crenças e que as falhas tendem, ao con
trário, a reforçH1s cornplexificando a doutrina.
A posição dos JQfnalistas sobre o termo "mundialização", em 1995 e 2003, é ambtvaleote: o termo em � é evitado na rnaiona
dos jornais. Encontrei-o respectivamente 16 e 18 vezes - sendo 10 e 12 vezes em Le Monde Dip/omatiql/€ e 3 vezes em Le Nouvel
Observateur que fazem uso critico do termo. No entanto, é o quadro geral de referência encontrado no fundo de todas as ex
pressões que cito a seguir. Desse modo, pode-se deduzir razoavelmente que, em 1995, como em 2003, o tenno é muito marca
do, segundo os editores, para ser usado diretamente, daí essas formulações eufemisticas e/ou implícitas.
Expressões encontradas, em 1995 e em 2003, respectivamente em: (1) L'Express; (2) L'Expansion; (3) Le Nouvel Observateur e
Le Point Uornais franceses classificados como de esquerda e de direita. (N. da T.)J.
8 Respectivamente: (1) L 'Express, Le Nouve/ Observateur, Le Point e Le Monde; (2) Le Figaro; (3) Paris-Normandie; (4) Le Point, (5)
Le Point e Le Monde [jornais franceses classificados como de esquerda e de direita. (N. da T.)].
95
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
O modelo do sucesso, da "história de sucesso" [success story]. é o homem que assume nscos tanto nos comerciais franceses
quanto nos filmes americanos "realistas", dos Garotos de Ouro [Golden Boys] dos anos 1980 aos "aventureiros das start-ups"
(Le Point, 15/9/2000, "La leçon des choses" [A lição das coisas)) dos anos 1990, em seguida, para os comerciais traders da
década de 2000. Assim, Michela Marzano (Extension du domaine de la manipulation: De /'entreprise à la vie privée. Paris, Pluriel,
2008, pp. 18·23) observa que, diferentemente do herói antigo, o herói moderno, se está disposto a assumir riscos, não está
pronto para o sacrifício: "Quem iria censurá-lo por isso? O problema é que ele não parece ter muito escrúpulo quando se trata
de sacrificar os outros. A dimensão do sacrifício está presente hoje, mas deve-se notar que ela nunca é nomeada em discursos
96
O BOM MODELO
ou profecias gerenciais (idem, p. 21, ênfase nossa). Esta última observação deve ser comparada com a "dupla dissmulação" do
discurso ideológico (ver Capitulo 1)
10 Bourdieu, 2001, p. 47.
11 Ver Laurent Willemez. Le droit du travai/ en danger: Une ressource collective pour des combats individueis. Bellecombe-en
·Bauges, Éditions du Croquant, 2006 (coleção Savoir/Agir); e Marzano, 2008.
12 A estrutura dos "open- spaces" [espaços abertos], onde todos veem e ouvem o que seus colegas fazem, foi concebida com esse
propósito.
13 Bourdieu, 2001, pp. 47-48.
14 Idem, p. 48. Bourdieu especifica: os "dominantes-dominados", "isto é, os executivos" são "sobrecarregados, estressados, amea
çados de demissão, mas estão, contudo, atrelados à empresa" (idem, p. 49).
97
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
98
O BOM MODELO
17 Coletivo. "Une nouvelle occasion manquée" [Uma nova oportunidade perdida]. Editorial, Le Monde, 23/12/1995.
18 Christine Ockrent "les cruautés du calendrier" [As crueldades do calendário]. Editorial, L'Express, 30/11/1995.
99
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA M ÍDIA
100
O BOM MODELO
22 Para uma análise mais detalhada desse procedimento, ver Guilbert, 2007.
101
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
5.1.2 A ''exceçãofrancesa"
23 Fórmula retirada do título do livro Lemal(rançais, de Alain Peyrefitte, publicado em 1976, entre dois cargos ministeriais: Ministro
da Renovação e Planejamento, depois Ministro de Assuntos Culturais e Meio Ambiente (1973-1974), sob o governo Pompidou, e
Ministro da Justiça no governo Barre (1977-1981).
102
O BOM MODELO
[... ]
Para votar não à reforma, a "exceçãofrancesa" votou não à Eu
ropa. Pode-se medir, neste escrutínio revelador, a força com
posta por manifestantes de todos os tipos. Acrescentemos
que, há vários anos, de 20% a 30% dos franceses não votam,
15% votam na extrema-direita e 10% na extrema-esquerda:
tantos "cidadãos inúteis que não participam da vida política, a
não ser para contestá-la" (2). Tal déficit de participação demo
crática (e sindical) é outra característica da diferençafrancesa.
[. .. ]
103
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO N EOLIBERAL NA MÍDIA
104
O BOM MODELO
27 Ver Capitulo 2.
28 Parece, de fato, que o autor está "competindo" com essa França.
105
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
106
O BOM MODELO
107
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA M ÍDIA
32 Alain Duhamel. "La société de déf1ance" [A sociedade da desconfiança]. Crônica, Le Point, 9/12/1995.
33 O pressuposto de "fazer de refém" incluído na subordinada relativa, o decalque "sans-cufottes"/"sans chómage" [sem desem
prego]. as simetrias temporais, os marcadores de evidência "sem dúvida', "de fato"...
34 Essa ideia é desenvolvida também na Conclusão.
108
O BOM MODELO
35 Ver Thierry Guilbert. "Conflits sociaux et médias: L'invisibilité de l'évidence" Conflits redistributifs et égalitaires: Des objets invi·
sibles pour l'actualité1. <http://www.absp-cf.be>, 2008.
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AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
36 Essa esquematização inscreve o discurso em uma narrativa, uma história e até um conto. 'As lógicas da comunicação e do ca
pitalismo triunfante" como narrativa é uma tese desenvolvida por Christian Salmon. Storytelling, /e machine à fabriquer des
histoires et à formater les esprits. Paris, La Découverte, 2007.
• De Villepin era então primeiro-ministro, e Sarkozy, o ministro do Interior. (N. da T.)
" Expressão francesa: 'ç'aurait été vache". (N. Da T.)
"' O Hôtel Matignon é a residência oficial do primeiro-ministro da França. (N. da T.)
37 Natacha Czerwinski, Elise Doàn, Corinne Lhail< & Éric Mandonnet. "CPE, l'histoire secréte' [CPE, a história secreta]. L'Express,
23/3/2006.
110
O BOM MODELO
38 O artigo foi escrito, é verdade, em pleno "caso C/earstream", que opunha - mas não era novamente uma "guerra de chefes"? - os
dois homens políticos.
111
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
112
6
ARGUMEN TAÇÃO OU M A N I PULAÇÃO?
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AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
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ARGUMENTAÇÃO OU MANIPULAÇÃO?
5 Idem, ibidem. Sarfati acrescenta: "Seu valor ideológico prevalece sobre sua consistência lógica".
6 Jean-Marie Klinkenberg. "L'argumentation dans la figure". Cahiers de Praxématique, n. 35. Montpellier. 2000, pp. 59-86.
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AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA M ÍDIA
7 Jean-Marie Colombani. "La fracture sociale" [A fratura social]. Editorial, Le Monde, 27/5/2003.
116
A RGUMENTAÇÃO OU MANIPULAÇÃO?
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AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA M IDIA
6. 3 Moldes argumentativos
12 Especialmente porque o livro de J. Marseille foi publicado mais tarde. No entanto, essa ideia não é nova.
13 Para uma análise mais precisa do termo "forças vivas", em relação com a distinção de Sieyes, ver Thierry Guilbert. "Forces vives".
ln: R. Mouriaux (ed.). Lexique usuel critique de l'idéofogie dominante économique et sociale (Lucides). Paris, Institui d'Histoire
Sociale-CGT, 2009, pp. 60-62.
14 Simone Bonnafous & Pierre Fiala. "Présentation". Mots, n. 58, 1999, pp. 7-10.
15 Philippe Breton. "La 'préférence manipulatoire' du président du Front National". Mots, n. 58, 1999, pp. 101-125.
118
ARGU MENTAÇÃO OU MANIPULAÇÃO ?
16 Ruth Amossy. L'argumentation dans /e discours: Discours politique, littérature d'idées, liction. Paris, Nathan Université, 2000,
pp, 24-25.
17 Breton (1999) vincula os enquadramentos à sua deriva manipulatória: enquadramento qualificante/por reversão, por associação/
amálgama, por alternativa/fa Isa alternativa. Para oenquadramentodissociativo, propusacrescentara dissociação arbitrária(Thierry
Guilbert. "Approche d'un type de discours constituant: L'analyse du discours néolibéral dans l'éditorial". J. Richard-Zappella (dir. ),
Amiens, 2005 [tese de doutorado))
18 Breton, 1999, p 105.
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AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
120
ARGUM ENTAÇÃO OU MAN I PULAÇÃO?
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AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA M ÍDIA
122
ARGUM ENTAÇÃO OU MANIPULAÇÃO?
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AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
27 Attac: Associação pela Tributação dasTransações [Financeiras] para Ajuda aos Cidadãos; SUO (Solidários, Unitários, Democráticos)
são associações de sindicatos, consideradas próximas de movimentos altermundistas.
28 Alain-Gérard Slama. "Les enfants de Bourdieu" [Os filhos de Bourdieu]. Crônica, Le Figaro, 2/6/2003.
124
ARGUMENTAÇÃO OU MANIPU LAÇÃO?
29 Alain-Gérard Slama. "La France cassée" [A França quebrada] Crônica, Le Figaro, 12/5/2003.
30 Franz-Olivier Giesbert "Si on disait la vérité?'' [Se disséssemos a verdade?] Crônica, Le Figaro, l/12/1995.
31 Jean-Marie Colombani. "Equilibre" [Equilibrio) Editorial, Le Monde, 17/11/1995.
32 Coletivo. "La méthode Chirac" [O método Chirac) Editorial, Le Monde, 14/6/2003.
125
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
33 No último exemplo, o amálgama é reforçado pela nominalização (ver Cap. 2): o "muro" é constituído, por sua vez, de realidades eco·
nômicas e de restrições orçamentárias.
34 Este enunciado ("There is no alternative") é conhecido por seu acrónimo Tina.
35 Dezalay & Garth, 1998.
36 Breton, 1999, p. 107.
126
ARGUMENTAÇÃO OU MANIPULAÇÃO?
127
AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
Europeu: "O BCE não está substituindo os governos, os parlamentos dos 12 países-membros da zona do euro e os parceiros
sociais. Nós os encorajamos a avançar em direção a uma maior flexibilidade. [...] As economias que não podem mudar rapida
mente, que são inflexíveis, que não são ágeis, são muito penalizadas".
39 Pode-se notar que essa falsa alternativa não é nova: é a do "livre" mercado de trabalho e resulta da "lei liberal" da oferta e da deman
da. Nisso, ela é apenas uma consequência do (neo)liberalismo.
128
ARGUMENTAÇÃO OU MANIPU LAÇÃO?
40 "A aspiração", e não as reivindicações. Os "empregados", e não os estudantes e os alunos que eram, contudo, os principais mani
festantes. O discursoopera então um deslocamento lexical que tem toda sua importância argumentativa aqui. É fácil para Jacques
Chirac, que se baseia nas representações compartilhadas relativas aos assalariados como empregados pelas empresas, reduzir
sua "aspiração" ao fato de obter um trabalho ou de o manter. Daí a falsa alternativa: se você quer trabalho, aceite a flexibilidade.
41 Claude lmbert. "La réforme ou le déclin" [A reforma ou o declínio]. Editorial, Le Point, 2/5/2003.
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CO N C LUSÃO
Muitas vezes, com uma consequente decalagem de tempo. Ver Passet, 2002.
Porexemplo, a retomadae o desvio de duas fórmulas dos anos 1990: "A fratura social" de M. Gaucher e 'O pensamento único" de 1.
Ramonet.
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AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
O consenso da "comunicação"
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CONCLUSÃO
A metalinguagem da comunicação
Não se exclui pensar que alguns atores político-midiáticos são sinceros, que são incapazes de conceber uma oposição à ideologia
neoliberal com argumentos bem fundamentados.
4 Assim, em 2010, o ministro do Trabalho, Eric Woerth, não pretendia negociar a "reforma previdenciária" com os sindicatos, mas
discutir. De fato, a "verdade" pode ser negociada?
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AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA M ÍDIA
O metadiscurso do consenso
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CONCLUSÃO
Essa estratégia argumentativa também foi observada por Forrester 09%, p 109) - citada por La Tribune Desfossé (30/5/1994):
"Falar de contrapartida nesse domínio [diminuir os cortes de vagas de emprego em troca de subsid1os concedidos] denota uma
má compreensão da realidade econômica" -, e por Bourdieu (1998, p. 31): "'Os mercados financeiros' [...] que não pretendem
negociar, mas 'explicar"'.
Essa palavra é, evidentemente, bem pouco empregada �os jornalistas (ver o item "Nomear o acontecimento" no Capitulo 2).
10 Christine Ockrent. "Sous les pavés, \'Europe" [Sob o pavimento, a Europa]. Editorial, L'Express, 7/12/1995. [Podemos traduzir
pavés por pavimento, calçada... Faz-se aqui uma alusão irônica a um slogan de 1968: 'Sous les pavés, la plage!' - o pavé era a
pedra cúbica (o paralelepípedo), das ruas de Paris, que os manifestantes lançavam sobre a policia. (N. da T.)]
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AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
• Jacquerie, no original, refere-se à "Revolta dos Jacques", uma insurreição camponesa que teve lugar no norte da França, entre
28 de maio e 9 de Julho de 1358, durante a Guerra dos Cem Anos. (N. da T.)
" Carnaval, aqui, tem uma conotação negativa, significando desordem, baderna. (N. da T.)
11 Guy Sorrnan. "Le défouloir" [A revanche]. Artigo de opinião, L'Express, 7/12/1995.
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CONCLUSÃO
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AS EVIDÊNCIAS DO DISCURSO NEOLIBERAL NA MÍDIA
13 Para uma reflexão sobre a importância da palavra "realidade" no discurso neoliberal, ver Thierry Guilbert. "Réalités". /n: Mou
riaux (dir.), 2009, pp. 106-107; ver também alguns amálgamas (Capitulo 6).
14 Passet, 2002, p. 24. Os "fatos" remetem à "queda do muro de Berlim".
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CONCLUSÃO
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SO BRE A EQ U I PE DE T RA D UÇÃO
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