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Psicotogia do

desenvolvi mento
e da âprendizagem
rr.i,,rirlr,i.l.,r

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Ruá Clda Vendrúin, í , Mo$urguê

êi3 CEP 3l2m-170 . Cúitib. . PR . Brasil

lnt€rsâb€res

( ('NçÍLno rDrroRrÀL

I'r lr,' l(Àli ll(Íh (presidênte)


l)rr lllena Codoy
l)r. Nclson LukDias Ariâd nê Nunes Wenger

I)Í. Neridos Santos


l)r Lrlí(;reEorBaranow

ADÀPrÀçÁo DE PRotElo cRÁFrco


Charles L. da Silva

M.iane G.bÍiele de Aíâujo

O.dc ht€mcimiá rle Cat.róg!çio ú tubu@çro (CIO


(Câ@. Br4ileüa do Uúo, SP, &âsü)

Mria Chiirdoê MdtÚú16


Psi@lo8ia do denvolvimlo e dâ áprendiu EerV
Chrbti.E Mlrtln üi Mrtâ, Cuitiba: lntêrs.bcr 2012
(Série Pêdagogiá cóntemporâEa).

Btbüo8 6.
lsBN 978-8S5972-562-9

r. Fra@s esla. 2, Psi@loglá dâ âpÉndüa8em


3. rbi@l%ia do d€mvolürgto 4. Psi.olôBiã eduociondl
L Título, II. Série,

cDD 370.1523

Índic pdâ @rálo:o sisroú o:


1. Psi@logia do degvolú,mto e da apmndi,ãgefr
(3)

Ieoria humanista:
a perspectiva de Rogers
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(j.r)olharesiniciais o lerapeuta foi capaz de estabelecet um relacionamenltt íntcnsaruente
pessoal e subjetiw com o cliente - relacionafido-se flõo conlo u t cicntista

Carl Rogers nasceu em Illinois, Estados Unidos, em rgroz e faleceu com um objeto de estudo, não coruo um médbo, esperando dingnosticor
em 1987. Representante da psicologia humanista, foi responsável, L, curar - mas cotno tnna pessoa com outra pessoa. Signilíca que o lera-
no contexto educacional, pela antipedagogia, ou pedagogia não dire- peuta acha que o cliente é unn pessoa de autooalor incondicional; dc aolor
tiva, que tem uma premissa basicamente fenomenológica, pois enfa- independentefienle de sua condição, comportafiento ou senli rcnlo.
tiza as ExpERIÊNCTAS da pessoa, seus vALoREs e sENTÍMENTot ou seja,
Moreira (199, p. 14r) ressalta ainda quq para Rogert 'b homem é
consiclera o aluno como pessoa.
irrtrinsecamente bom e orientado para o crescimento: sob condições
Rogars tanúém se ídentificou con a o entaÇôo htnnanista da psicolo- l.rvorávei9 não ameaçadoras, procurará desenvolver suas potenciali-
Sia cotúentpoúnea. A psicologia hununista sc opõe ao que considera dades ao máximo". Por isso, destacamos que sua teoria éhumanística
contL, tríste pessínislno e desespero íncrettlcs à uisão psicanalítica do ser t. Ícnomenológic4 "no sentido de que, para compreender o compor-
hnrnno, por mn lado, e à concepção tlc robô do scr hufiano relratnds no lnmento de um suieito, é importante entender como ele percebe a
co tpottanrcntaLisnrc, por outro. (Hall;Lindzey, gg4, p.3$) realidade" (Moreir4 1999 p. r4r).

Conforme essa perspectiva, a pessoa ,tontém dentro de si as L) organisnm se rcaliza segundo as linhas determinadas pela heredita-
potencialidades para a saúde e o crescimento criativo,,, que não se r iadacle. Ele se torna tnais difercnciado, nrais expandido, nuis autônomo
desenvolvem apenas pelas influências negativas da famítia e da socie- t, rnis
socializaclo à medida Ere anndurece. Esta tendência básica de
dade "petas influências coercitivas e distorcedoras do tÍeinamento t
crcscimerúo - realizar-se e expartdir-se - é aista cofi ais cloreza quando
parental, da educação e de outras pressões sociais,, (Hall; Lindzey, o itrditríduo é obserpado durantc un longo período de tenryo. b(iste
1984, p.57).Para o teórico, o homem é um ser racional, livre (não deter- unr mouiruento para a Írcnte da oiàa de todas as pessors [.,.J. (Hall;
minado), realizador de seu destino. Lindzey, t984, p. 37o)
Autorrealizaçãq crescimento pessoal e liberdade para escolher são
O conceito de sELr é importante no trabalho de Rogers. Trata-se
as características do suieito como pessoa, para Rogers, Ele acredita
rlt' um processo contínuo de reconhecimento que o sujeito realiza:
qut, os indivíduos têm dentro de si a capacidade de descobrir que a
angú stia os faz infelizeg o que possibilita um processo de mudança I)t,ntro do cantpo de experiências está o self. O selt não é runa enlidade
cm sua vida para evitar esse sentimento. rctóuel, imutáael; entretanto, obserüqdo nu tdadonn rcnto, parecc ser

E importante destacar que as ideias de Rogers se relacionam à sua rslrír,el. Rogers corcluiu Ete a ideia do eu não rcprcsenta u a aüoflu-

erprcriência profissional refletindo sua terapia centrada no cLrENrE, l4ão de iruutrerát'eis aprendízagens e condícionantenlos efetuados na
crrr vt'z tle, no paciente. Ele considera que o termo clielÍe designa par- nn'snn direção .. . Esscncíahtrctúe é wtu gestalt cuio sigtifcação niuida

I ipaçiio ativa, voluntária e responsável do indivíduo - que busca


ir Lt srrsctlíael de mudar sensiuch ente (e até mesmo sofrer wrm reztíraoolta)

r, l('r.r[)('util , ao contrário do termo pÍtcicnlc, que associa o indivi- tut cLtrtscquência da mudança de qualquer destes elenrcntos, O self é
duo à tltrcnça, como explica Moreita (1999). uttta gestall organizada e consistente num prccesso cofistafite de Í()/-
f'a ro [{all e Lindzey (1984, p. jq), unr-sc t refornnr-se à nrcdída que as sitnaÇões nrudanr. [...] C) selÍ, ou
nessas circunstânciag
rrrrloconceito, é a tisdo que üna pessoa tenr por si própria, bascadt atu
npcríAncías passadas, estínrulações prcsentes e expectatípas fuluris.
(I'adiman; Frager, 79í16, p. 226-22Z)
Com base no conceito de sel, Rogers (1921, p. 165) construiu o con- "em contato com os problemas da existênci4 todos querem estudar,
ct,ito de sur ror*, compreendido como 'b coniunto das característi desejam crescer, procuram descobrir, esperam dominar, almejam
individuo mais gostaria de poder reclamar como descritivas
cas <1ue o criar" (Justo, 1987, p. 48).
de si mesmo". A distância entre o selle o sefideal poderia acarretai b; 'A aprendizagem significante ocorre quando a matéria de ensino é
no indivíduo insatisÍação, desconforto, dificuldades e até um obs- percebida pelo aluno como relevante para seus próprios objetivos,,
táculo para s€u crescimento pessoal: 'âceitar-se não é resignar-se ou (Moreira, 1999, p. r42): trata-se de perceber a nerrvÂrucrl do clue
abdicar de si mesmo; é uma forma de estar mais perto da realidade, se está estudando, ou seja, e o conteúdo associado à valorização
de seu estado atual" (Fadiman; FrageÍ, t#, p. 24). do '?u", das necessidades pessoais.
Valor próprio consideraçâo, autoestima e percepção positiva de rJ 'A aprendizagem que envolve mudança na organização do ,,eu,, -
si mesmo são palavras-chave para a realização pessoal na premissa na percepção de si mesmo - é ameaçadora e tende a suscitar
rogeriana: o organismo apresenta uma só tendência e esforço básico - resistência" (Moreira, 7gg9, p. a4z)t para Rogers, sempre que
realizar-se, manter-se e desenvolver-se na experiência (Rogerc, ag7a, o indivíduo aprende, ocorre uma mudança na organização do sef

P. 96). c na percepção de si mesmo - por isso, pode ocorrer xrsrsrÊNcrl


Nesse sentido, o ensino deveria ser cENTRADo uo ar-uNo, e não ao aprender. .
mais no professor, pois é o aluno quem aprende. A proposta consiste, ,i) 'As aprendizagens que ameaçam o'eu' são mais facilmente per-
assim, na aprendizagem significativa, que compreende um envol- cebidas e assimiladas quando as ameaças externas se reduzem
vimento pessoal e se caracteriza por ser autoiniciada, penetrante e a um mínimo" (Moreira, aW, p. 1.43)t Rogers exemplifica essa
avaliada pelo educando. questão por meio do casode um aluno com dificuldades na leitura.
Quando forçado a ler em público, expondo suas dificuldades, ele
sc sentiria frustrado, desmotivado e ameaçado. Ao realizar um
(; z) A sala de aula nrovimento contrário de não exposição do aluno, o professor faci-
lilrdorcontribuiri.t para a Dr v t\ utç Ào DAs AM rAçAs LxrERNAs.
Agora, pense no seguinte cenário: uma sala de aula em que não exis- rJ "Quando é pequma a ameaça ao tu', pode-se perceber a experiên-
tem conteúdos mínimos para o aprender e o planejamento não está cia de maneira diferenciada e a aprendizagem pode prosseguir,,
rt lacionado ao proÍessor, tampouco ao processo avaliativo. Nesse (Moreira, aggg, p. 141,): esse princípio, relacionado ao anterior,
c()ntexto, os professores são chamados de /n cílilnclores, porque sua indica que, quando o aluno se sente sEcuRo, e não ameaçado,
íurrçào e apenas a de auxiliar os educandos com materiais de pes- a aprendizagem é facilitada.
rluisa, ou seja, partilhar com eles a responsabilidade pelo processq | ) "(;rande parte da aprendizagem significante é adquirida através
prov(,r os recursos de aprendizagem. de atos" (Moreirâ, 1gg,p. 1.471, ou sej+ através da pRÁrrcA: e pÍe-
lhra Ro6Jerg a facilitação da aprendizagem é o maior objetivo ciso envolver os alunos com questões e problemas de todos os
tla t,tlucação. A seguit explicitamos os princípios da aprendizagem lipos soc a'9 pol'ticos, literários etc. -, de modo a propiciar que
propostos pelo teórico, conÍorme Moreíra $ggg, p. t4z-t441: nprcndam por meio da pesquisa.

.r) "Scrcs humanos têm uma potencialidade natural para aprender", ,i) "A aprendizagem é facilitada quando o aluno participa responsa-
rrr st,j,r, nascem com uma 'I EN DÊNct A NATURAL pARA A pRENDfR: vclmente do processo de aprendizagem" (Moreira, tç4rg, p. r41):
.rssim a aprendizagem significante seria maximizad4 pois oaluno
busca o conhecimento relacionado aos seus interesses e ao seu E preciso trabalhar com apreço, confiança e aceitação no espaço
ritmo pessoal. Trata-se de uma At'RE\DtzAGLM voru.r rÁnll. |rlucativo: perceber e âceitar que o aluno tem sentimentos e valo-
h) 'A aprendizagem autoiniciada que envolve a pessoa do apren- lr.s tlue devem ser creditados. O professor deve ser autêntico, real,
diz como um todo - sentimentos e intelecto - é mais duradoura ,'rrr vez de disfarçar o que está sentindo em determinado momento,
e abrangente" (Moreir4 9gg, p. t41): quando a aprendizagem r onsiderando-se, evidentemente, que o respeito para consigo e para
envolve os ASpECTos coGNITrvo E AFETrvo, o aluno a percebe r rrm o outro deve sempre estar presente.
como própria dele, podendo mantêJa ou abandoná-la em Íace de outros termos, é fundamental que o professor aceite o aluno
Flm

uma aprendizagem que considere mais significativa. r orno ele e, não como gostaria que fosse, buscando a construção da

i) 'â independênci4 a criatividade e a autoconfiança são todas faci- , rrnrpreensão empática.


litadas, quando a autocrítica e a autoavaliação são básicas e a Portanto, cabe ao aluno a confiança em sua capacidade de apren-
avaliação feita por outros é de importância secundária" (Moreira, rlt'r çror si mesmo, planejar/escolher seu próprio programa de estu-
t999, p. r.46} a ideia central desse princípio é a LIBERDÁDE asso- ,Lrs, ter disciplina e fazer sua autoavaliação, sendo a aprendizagem
ciada à AUToAVALTAçÀo. significativa adquirida na prática. Resumindo, ao aluno cabe buscar
j) 'A aprendizagem socialmente mais útil, no mundo moderno, é a ,
'
conhecimento e ao professor, facilitar sua busca.
do próprio processo de aprender, uma contínua abertura à expe- Vale destacat, por fim, que algumas regras são necessárias para
riência e à incorporaçâg dentro de si mesmo, do processo de instaurar um ambiente de aprendizagem significativa, e elas devem
mudança" (Moreir4 999, p. r43): o indivíduo deve arnrNorn rlr propostas pelo professor facilitador:
a lpnruorn -buscar o conhecimento -, isto 4 o professor não . (.struturar a aprendizagem com base em problemas reais;
ensina, mas facilita a aprendizagem do aluno. . ciisponibilizar recursos, tais como livros, laboratório9 CDs e DVDs;
O que seri4 então, uma aprendizagem significativa ou significante . elaborar um contrato de trabalho, realizado antecipadamente,
de acordo com Rogers? . clividir o trabalho em pequenos grupos;
pata Rogerc, mais do
. orientar a pesquisa;
Aprendizagem signit'ícatlte é, qtLe uma actLmulação
. construir a autoavaliação do aluno.
dc fatos. É uma aprendízagem que prouoca unu ruodit'icação, qrrcr seja
no comportamento do indioíduo, na orienlação da ação fntura que esco- Â questão que poderia ser levantada é se a aplicação dessa pro-
lha, L)u nas suas atítudes e na sua personal lade. É wna aprerulizagem pr rsta de aprendizagem seria possivel no Brasil, tendo em vista que

prnetntnte que não se limita a unt aumento de conhecitrcntos. (Moreira, ,{.Podem dirigir algumas críticas às ideias da antipedagogia, ou
1999, p. :.4z) 1', rlagogia não diretiva.
Llrna dessas criticas refere-se ao fato de qLte apÍátíca do lqissez faire
l)tssa forma, podemos perceber que, para o teórico, como men-
,r.r'sconderia por trás das ações do professor facilitador: deixar o aluno
cionarnos, o ensino deve ser centrado no aluno e o professor passa
l,rzer, enquanto ele finge que aprende. Essa prática seria o resultado
ir str um facilitador: 'Autenticidade e câpacidade de aceitar o aluno
,1, r I,rlta de um planejamento criativo, ousado e problematizador, rea-
eorro pessoa e de colocar-se no lugar do aluno são mais relevantes,
Irrl,rtlt,tlue, eventualmente, pode ser observada nos dias atuais.
;rara criirr concliçôes para que o aluno aprenda, do que sua erudição,
suas hobilidades e o uso que faz de recursos instrucionais" (Moreira,
1999, P. 147).
Alem disso, em um contexto social, econômico e cultural como
o do Brasil, como exigir dos alunos conhecimentos prévios, organi-
I
zação aÍetiva e processos de autoavaliação?
A teoria de Rogers, no entanto, possibilita um olhar ainda pouco
exploradq mas que é essencial para a prática pedagógica e para a
vida: acreditar no outro e acreditaÍ nas próprias possibilidades e
potencialidades acreditar que o 'tu' e o 'butro" são capazes de
-
se transformar, de criat de recriar, de realizar e de se reinventar
quando necessário.

4tividade
r. Com base nas ideias de Rogers a respeito do self da
aprmdizagem, da aprendizagem significativa, do ProfessoÍ
facilitador, entre outras, descreva os âlicerces de um
planejamento com premissa rogeriana. Não se esqueça
de determinar quem deverá planejar, avaliar e estruturar
o trabalho a ser eÍetivado em sala de aula.

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