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lO iu uses
2. I. Bar~cellc)5. Lliust;avo.
osdirewlS
Nem a necessidade nern 0 desejo, mas 0 amor
pdo poder, é 0 demonio da humanidade.
Dê~se aos ho mens todo 0 possivel -saude, alimento,
abrigo, prazer- edes continuam infelizes e
caprichosos, porque 0 demonio está sempre
à espreita; e ele precisa ser satisfeito.
Tire,se dos homens tudo 0 maïs e satisfaça-se esse
demonio; entäo eles serào quase feHzcs - tao
felizes quanto podem ser homens e demànios.
- FRIEDRICH N IETZSCHE,
Aurora
SUMÁRIO
ABERTURA 15
9
e uma con~
ea
que
na
uma
e coma cura"
coma uma as
nossas
nossos nossos
novo
e suas
1{)
principnimente lá que ela está, a atma, mais do que nunca, repri,
midn e aprisionada, tornando~nos a todos reféns de suas metá·
foras. E é na munoo dos negócios que podemos, com 0 autor
deste livro, enxergar nlais claramente as idéias de poder que nos
engendram e nos moldam.
Portanto, é para 0 mundo dos negócios e sua administraçáo
que 0 analist a junguiano leva aqui urn othar psicológico, eert a'
n)ente unico, na tentativa de recuperaçäo de modelos mais saudá-
veis de relaç6es, e em busca de "descobrir como, de que modos
particulares e especificos as idéias de poder atuam em nossa psico-
logia diária".
Levando a ref1exäo de cunho psicológico agora para os domi>
nios da Economia e da Administraçäo, James Hillman mantém~
se, coma sempre, fiel à sua metáfora básica, a a1m3) tornando aque~
les mais diretamente envolvidos na universa das empresas, e dos
empreendimentos, mais conscientes das fantasias e desvios que
ton10U a idéia de poder nos se us diversos estilos de apresentaçäo.
GUSTAVO BARCELLOS
analista junguiana
Säo PauIa, dezembro de 2000
11
liPos de roder
AHERTURA
16 Tros DE PODER
s;lria para se nmnter na suprema posic,::io qut' ainda d{'ti'rn sohrc
nossa vida ao virar das p,iginas Jo calend:iriol
As idéias do lllundo dos negc)cios, tnis corno hen<;, trOGI 1
ASERTURA 17
o das rcHgiü("~. lnll'rlorizou-sc. Cîov('r na at ravés de nwios psicolö-
gicos. A Econnnlla tlctcrtnina qtWnl est;, indufdo e quem e'\t::i
marginali:ado, distrihuindo os prèu\ios eos castigos da ri(tllf'Z~J e
da pobreza. do privilégio e da exclus:lo. Por ser a jnterinriz~lÇ;iq
de Sllas idéias lUl) fenötneno Uio inquC'stionrivc1 e universal, é na
Economia que reside 0 inconsdente contcmporflnco e onJe a
análise psicológica se faz mais n.ecessária. Nossa viJa pessoal näo
é maïs 0 lugar da inconsciência - as sessöes de terapia, os grupo~
de ajuda ou de aconselhamento familiar, as nove1as e entrevistas
da televisao escancaram os armários das paixöes e das dores pri~
vadas. 0 inconsciente é exatamente 0 que a palavra diz: aquilo
que é roenos conscien~e por ser mais usual, familiar e cotidiano.
E essa é a ciranda diária dos negócios.
Por causa de seu domfnio universal, as idéias dos negócios,
em particular a que sustenta 0 seu poder -a própria idéia de
poder-, devem tornar,se 0 faco de interesse de toda e qualquer
psicologia que tente entender os membros da sociedade contem,
poränea. Os negócios nao säo urn mero fator, urn componente
entre os muitos que afetam nossa vida. Suas idéias fornecem a
trama e a urdidura básica inescapável na qual säo tecidos os
padröes do nosso comportamento. N ao podemos escapar da Eee--
nomia. Desconsiderar 0 desejo de lucro, a vontade de possuir, os
°
ideais de salário justo e justiça económica, ressentimento con B
18 TIPOS DE PODER
o éo
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DE
cia e almoços com podcrosos; Iivros sobee 0 poder e ataques de
prepotència; Ieme do poder e ferramentas do pocler; acessos de
roder e loucos pelo poder; até cançöes do poder e animais de
poder do xamanismo cla Nova Era. 0 poder, como idéia geral,
pede diferenciaçao t e essa é a segunda intençäo des te livro: distin ...
guir os grupos de idéias que comp6em a pa1avra "poder" e consti,
tuenl sua bagagem. Por exemplo: se você dissesse "quero mais
poder", 0 que estarÎa pedindo? Mais energia vital ou maïs oportu,
nîdades para dotninar situaçöes confusas? Muis reconhecimento
ou mais resistência para carregar seu {ardo? Você guer urn cargo
de maior prestigio ou quer ter mais voz ativa nas decisöes? Quer
liderar ou dar ordens? Quer ser amado pelo apoio que dá ou
respeitado peio temor que infunde? T odas essas idéias contam
quando se pretende distinguir e diferenciar. Em filosofia, diferen,
dar urn fen6meno, deixando que ele se mostTe sem preconceitos,
sem moralizar, advertir ou impor uma posiçäo sobre os demais, é
chalnado de método fenomenológico. Portanto, 0 que apresento
aqui é uma fenomenologia das idéias sobre 0 poder.
Diferenciar tipos eestilos leva a uma extensäo geral do po-
der pessoal. Esta é a terceira intençäo deste livro: ampliar a idéia
de poder, fazendo~a penetrar nas regiöes do sentimento, do inte-
lecto e do espfrito, que estäo além do exercicio do poder pela
vontade humana. Essa extensäo para aspectos normalmente näo
considerados no estudo do poder tem por objetivo oferecer maio--
res potenciais ao meu leitor. Bern, se este livro tem a intençäo de
"potencializar","" para que fazer 0 esforço de lê-Io? A "potenciali-
AI;\FRn:RA 23
a a
comerem
o tema à é
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e
em nossa 3
vraséum
DE
atenta considcraçäo da nossa fata. Freud deu continuidade a tal
ahordngcn1. Inicialmcnte, chamou sua psicanálise de "cura pe1a
{uIa". Para termos consciência de alguma coisa, precisamos pri,
mciro chcgnr às palavras certas, porque as palavras sao carregadas
de subentendidos. Coma numa sessäo de terapia ou num almoço
de n.cgócios, você e eu nos sentamos [rente a frente e usamos a
n1esn11ssÏlna palavra -"poder" , por exemplo-, e ainda assim
estan10S utilizando idéias radicalmente diferentes encerradas nessa
palavra.
Sem atençäo para as palavras, a pessoa se torna dumb nos
dois sentidos desse termo da lingua inglesa: emudecida e inlbecili,
zada. Essa "mudez" (e näo me refiro a problemas fisicos na laringe)
se traduz nas cegas e grosseiras exibiçöes de poder chamadas de
brutalidade policial~ gangsterisn1o, estupro, violêncîa cioméstica,
agressäo gratuita, embriaguez ao volante, torcida esportiva baru-
lhenta, poluiçao sonora, maus modos, armas em mäos de crian~
ças. A linguagen1 expressa todos os matizes da emoçao; dai, pre'
cisamente, a sua beleza - e 0 seu poder. Desprovidas do sentido
das palavras, nossas expressöes emoeionais tornam,se primitivas,
ffsicas e sem sentido.
Os chineses afirmaram durante séculos que as pessoas reeor-
relT} à violência ffsica porque suas palavras falharam. T alvez a
cura da violência se inicie com a cura pela fala, urn processo que
começa na escuta da potência das palavras.
o emudecimento e a imbecilidade nao aparecem apenas
na final violento do espectro cia mudez. Na outra ponta, encon,
tratnos 0 amargo esvaziamento de poder sentido por tanta gente
incapaz de encontrar palavras para expressar seu desespero além
de vagos resmungos sobre "potendalizaçäo". A palavra "potencia~
Huu" turnou,se a grande scnha para atraÎr as pessoas às tendas de
cura e auto·ajuda do carnaval terapêutico. Atualtnente, oluitas
ABERTIJRA 25
o
urn senso
a ver cam 0
",",V"''''''''''_·A.'-U' e a __ '''_''' __ ' ' ' '.
à coma se
os e
dessas idéias. Tambérn näo podemos esperar que idéias tacanhas
ebaratas sejam tratadas por uma terapia das emoçóes. É impen-
sávd dcixar 0 cérebro ou seu hemisfério esquerdo de fora e espe. .
rnr discernimcnto critico sobre as distorçóes da nliclia e urn alto
nivel de inteligência nos debates nacionais. Nào importa corn
quanta sinceridade eu trabalhe meus sentimentos em relaçäo
<l0 poder, se minha mente ainda estÎver arrebatada por ansiosas
ABERTURA 27
ed
nossa CaS3. É
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nossas
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esse
sua
sua estrutura em
mos como
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nos
28 DE
da esposa eoestupro para afirmar 0 poder masculino. No entan..
ra, quando se define poder como uma influència (conexàes,
nepotismo, criaçäo de redes), semelhante à das müfias da Itália e
Japäo, ou quando de é dcfinido pe1a nomeaçäo para urn cargo ou
funçäo, COH\O na antigo império austroAhungaro dos Hnbsburgos,
entäo 0 papel da {orça na sociedade é mitigado por outros estHos
de poder.
o mesmo ocorria na tradicional sociedade britànica, onde
o poder era definido principalmente pela subordinaçào dentro
de urn sistema de classes opressivo. Os bobbies (policiais) londri#
nos näo portavam armas: sua voz e seus modos eram a força que
administrava a má conduta e mantinha os stiditos britànicos lino
devido lugar". T ambém quando 0 poder se define pelas relaçëes
com ancestrais, espiritos e poderes sobre-humanos, os tab us e as
iniciaçöes altamente elaboradas alteram 0 próprio significado da
força e controlarn a violência indiscriminada. Antes que nossa
sociedade possa limitar na prática os gastos com armamentos,
proteger os cidadäos em seus lares e nas ruas ou aprovar leis efe--
tivas sobre controle de armas, precisamos adquirir maior dareza
sobre nossas noçöes de poder.
o anseio por novas idéias e ferramentas intelectuais para
!idar com os efeitos coercitivos das idéias näo pensadas é u ma
profunda fome da alma, Foi 0 que descobri em meu ensino itine~
rante, em consultas particulares eretiros com pessoas de todo 0
pais. As re1açöes humanas consolam, os grupos de apoio nutrem e
o sucesso dá reake, mas as idéias "potenciaHzélll1" 0 espirito e
abrem seus olhos para vislumbrar possibilidades. Nào quero acre-
ditar que sejamos urn povo essenciabnente obcecado por segu ..
rança (cadeados, seguro, prisöes, proteçäo, leis de patente), nern
um povo escravÎzado aa consurno, cnfeitiçudo peln nlidia, r elo
cntrctenÏJnento e peIa cclebridadc, um povo dependente de rda·
A8ERTURA 2Q
cionan1enh'\S. Ndo quero crcr quc sejamos lima socicJadc narci-
sistica, apaixonada por SU:l pröpria inf:tndn a ponto de neg.u as
t'ragédias
...
nadonais, incapaz de itnnginar urn futura signincativo .
Es,.--es diagnósticos observatn apenas os sintomas, scm ir à s{ndr()~
nle fundanlental~ da qualos sîntomas silo meras mnni(estaçàes
flutuantes, queshlo de nloda. A sfndrome mais profunda é a inér~
cia do espirito, uma passividade que näo encontra vocaçào e se
intirnida diante da vlsao inlaginativa, do pensamento aventuroso
e do esdarecimento intelectual. 0 fato de nos imaginarmos hoje
como uma naçäo de vitimas atesta UJn vazio no espirito nacional.
Esses sao sintomas da a1ma em busca de clareza. Clareza é 0
essencial.
A a1ma procura desesperadamente 0 poder da mente para
aplicá-lo à impotència que experimenta. Embora queiramos idéias,
ainda nao aprendemos a manejá~las. Nós as consumimos depressa
dernais. E como nos livramos delas? Colocando~as em prática.
Aparenternente, sabemos fazer uma unica coisa com as idéias:
aplicá-las, convertê-las em algo usável. Para nós, a "boa idéia" é
boa porque poupa tempo ou dinheiro ou facilita as coisas. A idéia
mOfre ali mesmo, na sua con.versäo em ato. Ela perde sua força
geradora de vida. Os estóicos gregos falavam de urn logos sperma#
tUws, a palavra geradora ou pensamento seminal. À medida que
essas idéias-sementes sao postas em prática e concretizadas, dei~
xam de gerar outras idéias na reino das idéias.
Quando a Dra. Joyce1yn Elders propöe a legalizaçáo das
drogas ou os Libertários sugerem a eliminaçao do imposto de renda
da pessoa ffsica, apressamo,nos a julgar, passando de irnediato a
argumentar sobre as conseqüências práticas ou a iInpraticabi J
30 Tros DE PODER
previdência e saûdc, a populaçäo pobre, as projeçöes de verbas
para a segurança nadonal? 0 dcbate enfoca "fatos" hipotéticos,
n10ddos de implcmentaçáo, tendências de opiniäo e posiçöes
polfticas, negligendando as plagas mais distantes do pensamento
e do sentimento. Isso porque as îdéias contidas nas sementes
lançadas pela Dra. Elders ou pelos Libertários fomentam ramifi,
caçöes no reino do pensamento - ramificaçöes que säo absoluta-
mente independentes dos "como" da prática. A legaHzaçäo das
drogas implica idéias de juventude, vfcio, remédios, bebidas,
liberdade, cidades e prazeres, enquanto impostos evocam os
probIernas complexos da ciência politica - natureza do gover-
na, relaçäo entre receita edespesa, e princfpios da tributaçäo coma
pagamento de dfzimo, como caridade, como penalidade, coma
distribuiçäo de renda e assim por diante. Paralisados pelo "corno"
e peIo "quem", evitamos brincar com 0 "0 quê" e revirá,lo em
nossa mente; evitamos a idéia como diversäo, a ideaçäo como
urn esporte que nos proporciona tante prazer e exercicio mental
quanto outras formas de jogo. Infelizmente, nao somos uma na ..
çäo que vara a noite discutindo idéias, porque estamos cansados
da luta para colocá,las em prática.
É por isso que, nas páginas adiante, nao elaborarei aplica,
ç6es diretas ou receitas para resolver os enigmas administrativos
de organizaçöes e empresas. Tenho receio de engaiolar os pássa-
ros cedo demais. Prirneiro, vamos refletir sobre 0 que nos vier à
mente, vamos senti·lo, ponderá,lo, pesá,lo. 0 método das próxi#
mas páginas nao consistirá em análises longas nern em coleta de
provas. Minha idéia sobre as idéias é que das prirneiro devem
ser entretidas. Depois, precisarn inflan1ar outras, melhores, em
nossa Jnente, capélZes de n1elhorar imprevisivelmente nossa vida.
Minha tátÎca é mais explodir do gue explicar; é manter as idéias
concisas, ftlpiJas, calnrosas e soltas, do Inodo que for possivel
ABERTURA 31
ae
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32
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em . . . . . . . . . . . . . .
an
de paradigma". Mais apropriado seria dizer "teoria da catástrofe".
A vitalidade de uma cultura depende menos de sua histófÎa e
esperanças do que da sua pronta capacidade para acolher a força
divina e daimänica* das idéias.
ABERTURA 35
1
o Herolsmo mutunte do poder
INTRODuçÄO
e as
se resume numa
o
na
a
menores
na
uma
DE
rável eficücia. Por eV(Kar imagens da natureza, coma árvores flori#
das, frutas anladureccndo, crianças sonhando crescer, Hear fortes
e assutnir responsabilidades, a palavra "crescimento" transmite a
n1cnsagem heróica muito rnelhor do que conceitos como "progres~
so » , " avanço " ou "cl esenvo1Vlmento.
. "A cab an d0 por se tornar urn
dos prindpais indicadores de poder, 0 crescÎmento virou tarn*
bénl seu sinónimo, uma vez que a capacidade de crescer supoe
urn potencial inato para sobreviver eveneer na selva competi,
tiva. "Crescer ou morrer" pendula come 0 relógio de urn avó
vitoriano que nos empurrasse para a frente 24 horas por dia.
Quando examinamos a idéia de cresdrnento, vemos que
está amarrada a uma companheira de igual importäncia: a idéia
de eficiência. Isoladamente, crescimento significa proliferaçäo
minuciosa e infrutffera, 0 alastrar de ervas daninhas asfixiantes, 0
enlaranhar de redes entrecruzadas, a expansäo sem rumo, redun,
däncia por todos os lados. Burocracia é simplesmente 0 cresci,
mento natural que se mudou para dentro de quatro paredes. 0
crescimento da natureza é desordenado, extravagante, pródigo;
por isso, é preciso eficiência para manter sua funcionalidade e
garantir a sobrevivência. Sobrevivência do mais adaptado trans~
forma,se, assim, em sobrevivêncîa do mais eficîente. Essa trad u'
çao acontece com a maior fadHdade) porque 0 darwinismo sodal
e suas metáforas biológicas tloresceram no mesmo periodo
vitoriano em que surgiratn 0 industrialismo e suas metáforas
mecánicas - entre elas, a de eficiência. Mas a eficiência também
näo acontece no vazio. Depende de cuidaclosa mediçao, de pen'
sar nos nÛlneros e nas decisóes que neles se baseiarn. É 0 que
chamamos hojc de "contabilidade de custos", "análise de custo/
bcneffcio", "bottom line". Esses süo os novos móveÎs do escritó-
rio rnoJerno, quc sc cncontram pregados no pisa da o1entalidade
das cmpresas e süo lnantidos no lugar por especialistas chaolauos
contadores.
INTRODUCÀO 41
o em se
1.
e novos .
e manu . .
os novos . e
encare seu
mo
DE
obra, no peso nlorto da tradiçao. Talvez 0 inimigo a ser derro,
tado repouse exatamente no coraçäo do próprio heroismo, sua
própria inércia; indolèncîa e resistência na confronto com 0 modo
heróÎco. Enquanto nüo encarar a si mesmo, 0 herolsmo perma~
ncee cm negaçao, incapaz de ver suas pröprias propens6es auto~
destrutivas, mesmo que redabre seus esfarços de açäo heróica.
Dado que 0 movimento do heroismo clássico é para a frente e
para citna, a tnais dificil de todas as tarefas da consciénCÎa heróica
é olhar para dentro, para 0 seu próprio fmpeto, 0 mito que a
impele na direçáo do seu firn cruel: I--Iércules enlouquecido, Jesus
crucificado, Édipo cego, Agamenon assassinado pela esposa,
Moisés morrendo antes de chegar à Terra Prametida. Poderäo
corporaçöes gigantescas como a OM, a IBM, 0 Kmart e naçöes
poderosas coma os Estados Unidos, que se alçaram ao topo por
meio da dedïcaçäo aas aspectos heróÎcos da expansäo e do melho-
ramento, despertar para as trágicas canseqüências do modelo que
täo bern já lhes serviu? Poderá 0 herofsmo mudar seu próprio
paradigma?
Se novos estilos de heroîsmo säo exigidos, entäo 0 serviço e
a manutençäo seräo mUlto valorizados, enquanto 0 crescimento
e a eficiência passaräo a ser imaginados de modo diferente. Caso
contrário, a inércia dos modos de pensamento do século XIX
dîrigirá as mäos da eletr6nica do século XXI. As máquinas mu-
daräo radicalmente, mas, a n1enos que a mente n10bilize se us
mitos, Hércules, Marduk e Moisés continuaräo ocupando a sufte
executiva. 0 exercicio inteligente do poder começa na mente
capaz de penetrar nas estruturas mais profundas de suas açöes.
Vamos observar a primeira das estruturas que tanto afetam nos-
sas noçöes de poder: a eficiência.
INTRODuçÀO 43
.L'I....4.11..«..A,.&.6 e
seu . . . . _. . . . . . . . . _. . . . . . . em seu
res em o
impossivcl colctar hens c ouro; a execuçäo à beira das covas
requcria muitos soldados para atirar, sendo impraticáve1 manter
o sigilo; havin urn excesso de confusao, pois aIgurnas vitimas
fingiml1 estar nlortas para escapar, alguns soldados nao atiravam
ete. Eficiência, aqui, deve ser entendida apen as e täo~somente do
ponto de vista daquele que está no poder: 0 executor. Em outras
situaçöes, pode-se dcfinir uma execuçäo eficiente do ponto de
vista da vftima: morte rápida, indolor, comum, sem requintes de
crueldade.
Eis urn tree ho de uma das setenta entrevistas feitas por Gitta
Sereny com Franz Stangl:'"
EFlCIÈNCIA 45
ao
, seus
e
sua
a
OC . . . . . . . . . 'O.J'" a
à . . . . . ", , , . . . . .
. . . . . . . ,._"-,_....., esrna,
mas morrer .
numa mesa
a
o e cria
as idndes cambalcavam para fora dos vag6es, cegados pela luz do
dia ou dos hoJofotes, aterrorizados e confusos, semimortos por
(aha de ar I desidratados, aturdidos, dcbilitados, histéricos, inca,
pa zes de entender as ardens. Se virassem à esquerda em vez de
virar à direita, se gaguejassem, näo ouvissem uma ordem, hesi..
tassem~ fizessem uma pergunta, atrasarîam 0 procedimento -logo,
era01 açoitados para avançar ou baleados aH mesmo. Nada devia
interferir na eficiência dos procedimentos.
"0 sen hor näo poderia ter mudada isso?", perguntei. "Na
sua posiçäo, näo poderîa ter dada urn firn à nudez, aas açoi-
tes, ao horror dos vagöes de gado?"
ClNäo) näo, ndo. Esse era 0 sistema. Wirth 0 inventou. T udo
funcionava. E porque funcionava, era irreversivel. "
EFICIÈNCIA 47
que é e e uj q
causas
urn
a
a
ses ao
a causa
a causa
causa suce-
amerl . .
como causa o
DE
Qua o oerro
em sua à
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era a _"''''_''''_.1.
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causas: a
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a se ...,_.JI.A. . .
coma
na-se 0 .....,. . . . . . . . . . .
eo
se urn
DE
bém às causas básicas. Quais säo os efeitos materiais de sua efi~
ciènda? 0 que você está fazendo à natureza material do mundo?
Qual é a essência do que você faz; qual principio formal a gover. .
na? E acima de tudo, qual é 0 seu propósito ou, nas palavras de
Aristóteles, "0 motivo pelo qual" suas açöes efidentes säo reali-
zadas?
Gitta Sereny pressionou Stangl para que revelasse a causa
flnal, 0 motivo pe10 qual 0 "rrabalho" em T reblinka tinha sido
levado a cabo. Em suas várias entrevistas, ele mendonOli 0 medo,
a necessidade de sobreviver e a inutilidade de protestar. Final,
mente, e1a lhe perguntou:
EFICIÈNCIA 51
veln essa ia Cfl'l d
l)8
tunm c()m a
(... ) Inas
auro
a
ousar ser
coma as
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em nossos a
eo amor
eo
amor ao amor ao
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nou . . se 0
os
a em name
DE
......... ,,,. . . . . . .~ . com
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e
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o
o coma um é
urn . "' . . ,......... . se
a
ou as
Sua
5.1
seus a (ll1Cfn 1
a
a _ L A L ' L A ........ vez
DE
CRESCIMENTO
os ramos
crlan . .
em uma
o
nosso
mos
os 5 ou 6
anose
uma
m 0
DE
inclicam monstruosidadcs , epidemias, feilira, futuras catástrofes,
extinçüo. 0 crescimento assumiu urn matiz cancerigeno. Usar
essa palavra agora é etnitir uma mensagem de perigo potencial,
seja em relaçäo à divida pûblica, à populaçao, ao subemprega,
aos sem-teto , à dimensào das cidades, ao tamanho da máquina
governamental, às particulas poluentes suspensas no ar, aas im~
postos, ao custo de vida, à taxa de colesterol e até aos nu.meros
mostrados pela balança do banheiro. Hoje, subir significa dec1inio.
o que antes era a medida do progresso tornou,se urn sinal de
problemas.
E nào há lugar em que isso esteja rnais daro do que na
reversào operada na idéia de desenvolvimento - uma das pala,
vras preferidas da economia urbana e da psicologia. Nesse caso, a
psicologia está urn pouco atrasada, porque ainda ensina e pro move
o desenvolvimento.
As liçöes básicas da psicologia do desenvolvimento provêm
dos arsenais vitorianos do darwinismo sodal e sua versäo do cres,
cimenta: seja grande, seja forte, seja urn vencedor. 0 progresso é
urn processo natural. Näo fique para trás; agarre sua vida com as
próprias maas e, coma urn heróÎ, supere os problemas. Essas idéias
ensinarn urn capitalisrno psicológico: como as inferioridades sao
superadas e as deficiências integradas oum ego que sempre cresce
e soma. Persanalidades desenvolvidas podem fazer tudo 0 que
quiserern; das cantralam seu destino.
Quanto a essa virada no valor da idéia de desenvolvimento,
a percepçäo da psicologia nao é maior do que a dos proprietários
de terra e corretores imobiliários. Pois, hoje, quando se espalha 0
boato de que as empreiteiras eos incorporadores estäo chegando,
os cidadäos se arrepiam e começarn a protestar. 0 "desbravador
de terras", a "companhia de 01e1horamentos", que anrigamente
promoviam a desenvolvimento, trans(ormaram,se também em
CRESC1MENTO 57
rea
a
recursos
coma
os
urn
como
no
e os
a
,e
É
. . . . . . . '. . . . """-' e na eco,
numa
eu era
como coma c()mo
nassas nas
1.
3.
5.
as aomesmo crescerem
e
na rumo
na
se t arrume a c
DE
da natureza, Gary Snyder declara que a melhor, talvez a ûnica
maneira de mlldar ti ma situaçäo é imaginar, ou mesmo declarar,
qUC você vai permanceer onde está, no seu lugar, pelo resto da
vitla.
o aprofundmnento obriga uma organizaçäo, come a casa-
mento, a mergulhar etn si mesma para chegar ao fundo de seus
probletnas. Ir até 0 funclo näo acaba na bott07n line, mas faz pene;
trar nos mitos e filosofias de apoio sobre os quais repousa a or ga,
nizaçáo - e também 0 casamento. 0 que ela vai sacrificar para
atingir seus objetivos e a que custo? Quais arestas está disposta a
aparar? Quais artiffcios pratica? Chegará a se sentir satisfeita, ou
ficará perpetuamente sob a pressäo de cresdmenta continuo,
chamada sucessa?
Por firn, 0 aprofundamento desce até 0 leito das idéias e dos
fundamentos morais que, coma 0 casarnento, vîabilizam a parce-
ria na organizaçäo. T erá essa organizaçäo princlpios que eu possa
compartilhar? Aspira às mesmas metas que eu? Praticamos prin-
cipÎos similares? Quais säo, de fata e de verdade, os principios
dela - e quais säo os meus? Estaremos juntos por dinheiro? Será
que nossa parceria é uma relaçäo utilitária - isto é, somos titeis
urn para 0 outro e eu, portanto, uso os negócios como eles me
usam? Quanto mais eu me aferrar a essas questöes e quanto mais
a organizaçäo permanecer con1 suas profundezas autoquestio'
nadoras, tanto mais estaremos crescendo juntos. Crescimento
no senrido de evoluçào e maturidade, que poderia ser chamado
de crescimento da alma.* Corno num jardim ou num casamento,
CRESClMENTO 61
o aprofunJmnento rctira do solo coisas (das e retorcidas. É tra ba-
lhar con) a sujeira.
62 T !pos DE PODER
uma só unidadc. De urn ponto de vista, isso é econörnico; de
outro, é poético.
Cortar gorduras, diminuir custos e dobrar tarefas erespon'
sabiIidades, inspirando-se numa filosofia rnesquinha "de enxuga-
mento", näo é 0 Olesmo que 0 processo de intensificaçäo na arte.
Se for arte, a intensificaçao há de ser medida por referenciais de
outro tipo - isto é, qualidade, em vez de eficiência. Valor durá l
CRESCllvtENTO 63
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rerne estar
outro corn di! a
DE
um dcsses medos: "V á em frente." Coma seria perder 0 marido,
ser itnpotcnte, enlouquccer, ter cáncer? Siga esse medo mórbido,
a fantasia irracional. Assuma riscos imaginários; ou, como diz
Robert Jay Lifton, 0 etninente psicólogo que estudou os hola. .
caustos e as catástrofes, a tarefa é imaginar 0 real, ou imaginar 0
tunis realisticamente possfvel as conseqüêndas do despimento,
visitar nlentahnente os cenários cia catástrofe e abandonar todas
as estruturas de segurança, as identidades confortáveis, as reali~
zaçèes, os planejamentos. Veja 0 que resta, pais para 0 cresci. .
mento só se conta verdadeiramente cam 0 que restar.
Cl\ESClMENTO 67
de uma vocaçáo. Assim, a repetiçào scria concebida nao coma uma
cotnp111süo. um fardo escravizador e desumanizador, mas coma
um modo de ernbelezar as coisas. Será que isso ajuda a entender
o entrosamento que os japoneses cdam entre seu estilo de traba-
lho repetitivo e mecanico e seu sentido de ritual e beleza e a quaH-
dade de seus produtos?
CRESCIMENTO 69
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a
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DE
_ , -leclfnio de prognHuas dcsgastados, recuo dos postos avan~
soes, u
çados das esperanças ~~Inhicios~s e nprovisionamento ~os planos
de pensiio- sáo tnetaforas evtdcntes do avanço da ldade nos
horn cns e nas n1ulhcres. Muis do que isso, tais acontecÎmentos
podem ser itnaginados como gestalts que se abrem de suas estru~
(uras habituais para espaços novos e inexplorados. Uma expe-
riència está cm andatTIcnto. Aa Ier esses processos como sinais
de contraçäo e decadênda, esqueee~os as idéias mais antigas do
mundo, idéîas de eomo 0 próprio mundo "nasceu": creatio ex
nihilo, criaçäo a partir do nadat 0 que vem primeiro é ° nadat
Essa vÎsäo, como disse, se coaduna täo bern com certas filo ..
sofias orientais que somos levados de novo a perceber que as
idéias estäo a serviço de poderes arquetfpicos: a idéia ocidental
de crescimento, tal como apresentada na primeira lista no inieio
deste capitulo, combina com a criança, enquanto a de Goethe,
Dorfles e do budismo combina com 0 senex, 0 velho. Meu ponto
de vista é simples: nao conseguitnos ver coisa aIgu ma a nao ser
através da lente dos arquétipos. 0 que a "sabedoria oriental" vê
como creseimento parece decadência patológica para a visäo
arquetipica da criança em desenvolvünento. 0 que 0 naturalismo
otimista da criança vê como saudável expansäo das redes e maior
facilidade parece, para 0 octogenário, uma tola distraçäo e uma
desintegraçäo naquilo que a filosofia oriental chama de "as dez
mil coisas", uma metástase cancerosa de proliferaçäo.
o que estou chamando de "perspectiva arquetîpica da crÎ#
ança em desenvolviInento" está na raiz da idéia de erescimento
heró1cO, pois os heróis -Moisés, Jesus, Hércules, Perseu, Davi,
Édjpo- começam coma bebês ou crianças 31neaçadas, vulne-
f<iveis, abandon.aJas. "Maior = Mclhor" oferece U01a defesa
grändiosa gut' parece proteger contra a insegurança quc está no
nûcleo da força heröÎca, ou 1l1CSn\O suplantá-la.
CRESCtt>.tENTO 71
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no novo
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preza r 0 crescimento cm favor de limites, pequenez e modelos de
crescimento zero. Nào acredito que esses cr!tieos tenham deba,
tida suficienten1ente a idéia em si e, por isso, seus repûdios näo
satisfaz em 0 profundo desejo humano que é simbolizado pelo ter,
n'\O "cresCÎlnento". Descartar a idéia só reprime esse desejo arque-
(ipico e deixa~o ainda envolto num simplismo infantilizado.
Estou tentando UIna abordagem diferente. Em vez de trod
car crescÎn1ento por näo~crescimento, fiz acréscÏmos à lista de
noçöes com que iniciei este capitulo. Procurei preencher a som-
bra dessas noçöes, levando a idéia de crescÏmento para regióes
mais profundas: intensificaçäo, repetiçäo, aprofundamento, despi-
mento e esvaziamento. Quando 0 crescÏmento passa a carregar
mais esses significados~ que escurecem sua inocência, ele deixa
de ser incompatfvel com as condiçóes demográficas, sociais e psi-
cológicas da realidade. E entäo nossos dificeis e até trágicos dile. .
mas individuais, empresariais e nadonais podem ser entendidos
coma necessários para perdermos 0 vido do otimismo e para 0
crescimento da a1ma. Epodemos encorajar a própria maturaçäo
do crescimento numa idéia maïs plenamente farmada e sutil,
mente diferendada, que chega munida de seus próprias Hmites
inibidores, mesmo permanecendo urn termo de inspiraçäo.
CRfSCIMENTO 73
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scn'u.\\ rsr:ravo. Serviço, tal como dcfjnido cm nossa cultura, rara,
mentc :lgregn podcr, só rcpresentando "potencializaçäo" para as
pcssn(\s C\p(lZCS de ordená-Io e para 0 sistema ao qual nos escravi,
zamos. Promessas polfticas de fazer 0 pais avançar näo serào cum,
pridas a rncnos que 0 setor de serviços preste urn bom serviço.
~1as 0 quc é urn bom serviçol Como pensar numa economia de
serviço se a idéia remete a uma economia escravagista?
Pelo que acabamos de ver em relaçäo à eficiência, fica daro
quc náo podemos melhorar 0 serviço meramente tornando-o ma is
efidente - isto é, rápido, sem atrito e sem falha. Se isso bastasse,
o problema estaria resolvido com equipamento digital confiável,
fibras ópticas, satélites, robós e softwares -. em outras palavras,
mais sisternas de produçào impessoais (camaras de gás e fornos
crernatórios?). De fato, 0 fator pessoal seria mais e mais eliminado
- e quanta aos "empregos"?
Cabe ainda perguntar; será que os sistemas de prestaçáo de
serviço, com hardware e software melhores, seriam capazes de
sozinhos melhorar a qualidade do serviço? Quando 0 dono de
urn restaurante abre uma segunda porta ao lado da que liga 0
SERVIÇO 75
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DE
EstOll contcstnndo csta abordagem cam toda 0 vigor de
qUC sou capaz, delincando uma oposiçäo exagerada entre produ-
tividadc e serviço. PrecisHtTIOS manter uma dara distinçäo entre
des, porquc se originam de atitudes psicológicas fundamental-
tnente difcrentes e até de estilos de vida arquetipicamente dife,
rentes. Para nossas idéias habituais, serv ir está mais próximo de
se slIbtneter; produzir é mais coma conquistar. A produçáo domi-
na a matéria; 0 serviço a ela se submete. Na Hnguagem do mito,
nossas idéias de emprego produtivo indicam a influência que teve
o tità grego Prometeu sobre 0 ego do tipo "faça você mesmo", ou
a de Hefafstos t 0 artesäo e fabricante de armas do Olimpo; isso
porque a produçäo constrói. Já 0 emprego no setor de serviços,
porque protege, conserva e favorece, aponta mais para Héstia, a
deusa do fogo do lar. Ela é quase invisive1 em seu serviço, embora
essencîal para manter a rotina diária. Nossa idéia de serviço tam~
bérn poderia. ser mais hermética, no sentido de Hermes, deus e
mestre da comunicaçao e da mediaçao, porque 0 serviço troca,
comunîca e lida com as mensagens de modo impessoal, sem se
envoiver corn a mensagem em si.
A queixa principal de Gummesson é que, para pensar de
modo adequado sobre serviços, é indispensável que 0 tema seja
libertado do paradigma do produtivismo. Além disso, precisamos
primeiro reconhecer até que ponto estamos entrincheirados nos
paradigmas que vêm funcionando tao bern há tante tempo, mes ..
mo quando esses paradigmas "etnpurram." serviços para cima dos
clientes, que sentem tais inovaçöes como in1posiçao.
Refiro~me aqui ao serviço que antedpa as necessidades de
um produto, ou até rnesmo as inventa, induzindo 0 consumidor
a querer aquilo de ql1e näo necessita. Desse m.odo, urn bom ser-
viço dcfine,se COlno 0 forncdn1ento de produtos 'lue unem (ou
acorrentrun) 0 consulnidor às fontes de produçào e à superpro-
ser ca r
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nomesmo
corn as armas
nossas
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do para esse modo de pensar chinês, à medida que 0 emprego se
tClrna tiio importante quanto a produtividade para 0 bern,estar
do paîs. E é no setor de serviços que estao os novos empregos,
rne~n'lo se 0 imaginürio do setor permanecer preso aas antigos
paradiglnas da produçäo.
Como 0 imaginário dos negócÎos e da industriaperrnanece
50b a influência do paradigma da produtividade, urn paradigma
SERvrço 79
Annal. 0 'lUC é "qualidade" scnüo 0 ato Je cheg~jr
mais 0
80 TLPOS DE PODER
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de urn lado, c rcssentitnento agressivo, de outro. Só uma santa
. \'"1 de caridadc consegue prest ar serviço personalizado sem ser
Ifll. , .
tPIHada pda hostiHJade reprimida que ernana dessa sombra.
É a tarefa que dcmanda 0 serviço; a objetividade da tarefa
tr~lns[onna 0 serviço numa atividade ritual. Logo, é preciso olhar
o St'fvi\-'o tn.cnos pela pessoa do que pela coisa. acontecimento ou
situaçïo; lnenos pela servidäo "despotencializadora" do que pelo
re<:lke; nlcnos pela gentileza subjetiva do que pelo ritual objetivo.
Exatarnente cotno se encera 0 chäo para realçar seu brilho ou se
areja a sala depois que os outros foram para a cama.
Por ritual objetivo, entendo 0 modo pelo qual uma enfer~
meira banha 0 paciente imobilizado, urn sacerdote diz a missa,
um intérprete traduz 0 texto, urn ator representa seu papel. Em
cada urn desses casos, 0 aspecto pessoal interfere no desempenho
objetivo do serviço e nas especificaçöes da tarefa. A demanda de
serviço näo se limita às pessoas; tarnbém os objetos precisam de
serviço - a troca de óleo do motor, a limpeza do videocassete, 0
conserto do secador, a transmissäo da mensagem. Cerimónias
do consertador. Os objetos tèm personalidade própria a exigir
atençäo, exatamente coma nos filmes publicitários: a louça sorri
de prazer com 0 navo detergente e a madeira gosta da nova tinta
que a protege da deterioraçäo. T ratar as coisas como se elas tives~
sem alma, cuidadosamente, com baas ulaneiras - isso é serviço
de q ualidade.
SERV1ÇO 83
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apagando-se até n"lOffer. I)e...;p<Ht~n\O hcnigno - náo é i$-so que
temem aqueles que at~lGlnl 0 E$taJo do lx'n1·esrar social?
\' <..xè encontrar,-l outra granJe difcrença entre 0 que C"Stou
prop:JnJo aqui e a5- CritiG1S e tet.."ri3s habituais sohre 0 roder. 1\.j.o
in~-mos enfileirar os vário5 estilos numa linha sÎstemütica de teo·
ria. do maior para 0 menor, do mais forte para 0 m~lis fr;lco. do
rnais antigo rara mats recente etc. Nao estamos expondo tipos
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Cada uma das regiöes sob sen govcrno desafia a firmczn do
controle. Pantera e touro selvagetn, embriagucz, hissexualidade
teatral, olistério subterràneo, instabilidade vegetativa, populistn
democrático, criança terna e especiahnente seu ep(teto Sen hor
da Alma dificiltnente sao quaHdades que se coadunam com salas
de diretoria ou gabinetes governanlentais. A léln disso, DionisO I
que tirou seus seguidores da cîdade e os conduziu aos bosqucs,
jamais foi politicamente con"eto.
Mas vanlOS mudar de perspectiva. T entemos sondar, de
dentro para fora, a essência do po der que existe nessa configura ..
çäo, ao invés de tentar mantê-Io sob controle. Qual é a essênda
do poder dionisiaco? Qua1 0 fundalnento de sua atraçäo eperma ..
nência através dos séculos? Aparentemente, nunea adiantou ten,
tar controlar seu poder ou temer as conseqüências de seus exces~
sos. Nem no mundo antigo nem na psique contemporànea. Na
verdade, toda tentativa de controlar 0 incontrohivel só exacerba
os excessos. 0 assédio sexual na escritório corretmnente orde~
nado exemplifica 0 retorno exagerado da vitalidade dionisiaca
em situaçöes de pronunciado desespero n1cntal.
Na nos sa linguagem eorrente, a expressno que capta COln
mais simpliddade 0 n10do dionisfaco é: "Dcixa 1"ola1'''. Nüo ape-
oas seguir a maré, flutuar sem bussola ou porto, Inas fluir com os
movitnentos da psique, É como a dança -os dionisiacos costu~
mam ser mostrados dançando-, na qual se fundcln 0 conduzir e
o acompanhar; é a fusào da consciência individual cotn 0 cumpo,
onde as fronteiras se tornmn in)predsas. A pessou dcsenvol ve
uma sensibilidadc especial para as revcrbcrnçöes suhtcrrüne{ls,
de modo que sua vontade é abraçaJa peln grupo e r~presenw 0
grupo. (Dioniso aparece quase scmpre rodcu,lo por scu grupO,
seu thiasos.) 0 indivfduo incorpora a consdência do grupO e é
senhor (deus) de sua alma quando scnte eln si tudo 0 quc aeon'
CONTROLE 119
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poder da autoridade vetn do abdotne; sua c1ireçäo é para a ten:},
corno a gravidade.
A autoridade surge, talvez, à medida que a alma suhmerge
gravenlente -grave, eln inglês, significa grave e também tûmulo---,
quando a pessoa se torna urn ancestral, uma figura que represen i
*' Ctönico (do grego chthon, terra) significa algo sombrio primitivO
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DECISÄO
DEClSÀO 175
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endclTI os usos do tnedo para exdtnçäo e Humento Ja scnsihili~
dade e da percepçao ilnaginativa.
A nlenos que estejan10s dispostos a aceitar a idéia de que
causar me do dá prazer, nunca perceberemos a profunoidade
tot al do poder. Os casos de tortura documentados pel a Anistia
Internacional em todo 0 mundo atestam näo só a universalidade
da depravaçäo hll1nana~ mas tatnbétTI 0 prazer universaI de cau#
sar medo. l--Iolnens e lnulheres arnedrontam e torturam pessoas,
animais e coisas como parte do seu trabalho diário; a carreira do
medo deve dar alguma satisfaçäo além do cumprimento do
clever. Naturalmente, os filmes polidais e de terror capitalizam 0
medo associado ao poder. Cada voz alteada e olhar ameaçador,
cada revólver trovejante e troca de socos aumentam 0 ritmo car~
dfaco da platéia, de modo que) sentados ali na escuro, já näo
conseguimos dizer 0 que é autoridade legitüna, tirania despótica
ou me do puro esimpies. Em 05 Imperdodveis, citado entre os
vinte melhores filmes de todos os tempos, a distinçäo entre os
tipos de poder torna~se dara. Clint Eastwood e Gene Hackman
säo dois matadores impiedosos, mas Hackrnan, embora use a
insignia da autoridade, domina por n1eio da intimidaçäo, enquanto
Eastwood, urn criador de porcos falido, mostra 0 poder da autori,
dade.
o fascfnio pela crueldade e pela intimidaçäo parece estar
alojado na essência do caráter humano, näo apenas dos nort~
americanos e näo só dos despossuidos e vitimas de abuso. As
crianças se arrepiam de prazer ouvindo histórÎas de torturas, con'
tando assustadoras narrativas de fantasmas e assistindo a ima#
gens horrfveis na televisäo. 0 nome dado pela psicologia médica
ao erotismo do medo (sadismo), que une vitima e violador -e
espectador-, deriva do Marquês de Sade, cuja obra literária
esca. .
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1
181
TIRANIA
TlRANIA 183
velhos, e maïs cegos, essa tirania da consciênda habituaJ tornapse
cada vez mais visfvel para os outros. 0 estudo de Daniel Goleman
sobre como SOtTIOS iludidos por nossa própria consciência hahi~
tuallnostra que a regra unilateral tiranica é a base do auto~enp
gano.
.
Esse tipo de poder, que nos torna mais eficazes e também
n1ais cegos, vai maïs fundo, näo se limitando a ditar nosso com,
portamento exterior. É a regra tirànica do estilo, nosso est ilo de
pensar , trabalhar e nos relacionar, 0 estilo das nossas palavras e
gestos; e, como tudo isso se reune para integrar a personalidade,
a consciência se torna tirànica. Bebemos para escapar desse tira,
no; pedimos 0 divórcio, nos apaixonamos, largamos 0 emprego,
mudamos de casa, falimos, descemos corredeiras, voarnos de asa,
delta, brigamos com os filhos - tudo para escapar da puniçäo
cruel e incomum infligida pelo absolutistno da regra bem..suce-
dida. T udo foi subordinado a urn unico padräo tirànico. Toda
alteridade"'* desapareceu. A pessoa se tornou totalrnente eia mes--
ma e agora sofre com a regra autoritária.
Na medida em que toda organizaçäo, incluindo aquele gru~
po de damas e vagabundos que compöe cada psique humana~ é
uma associaçáo multipla, a regra do um será sempre ameaçada
por outros sentimentos e outros pontos de vista. Quanto mais
insistirmos em palavras como "integraçäo", "unidade" e "centra..
mento" t e quanto mais imaginarmos que 0 poder vem de "pOr
tudo junto", tanto maior se~á a probabilidade de que 0 cresd..
com
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garante liberdade em relaçüo à tirania politica, vale a pena
considerá-la por razöes psicolögicas.
o panteäo era de tal modo estruturaJo quc Zeus/]tlpiter,
por exemplo, era apen as 0 prÎlneiro entre seus iguais (fJrimus inter
pares). Ele näo podia invadir os dom{nios dos outros Jeuses do
Olin1po. Essa restriçao extrapola a noçäo de monarquia limitada,
porque 0 absolutismo näo é refreado apenas partilhando 0 po(k"!
cam uma oligarquia. Nem é litnitado pela leL A tirania começa
subornando a lei ou dobrando~a a seus interesses. Com.o a idéîa
de um panteäo corresponde à estrutura interna da psique, cIa
oferece restriçao no ponto exato em que a tirania tem origem -
isto é, na mente com sua fantasia de ser 0 governante ûnico e
absoluto. A propósito, os dicionários definem "absoluto" como
incondicionado, sem limitaçäo ou obrigaçao; independente, dey
cOHl.prometido. 0 absoluto é dispensado de relaçöes - urn agente
sem grilhöes, com totalliberdade de movimento. A mente tira p
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VETO
VETO 189
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pronta e virtuosamente, coma instrlltllCntos do pröprio purismo
estatal, que procura manter 0 corpo polJtico imunc a infecçöes
espirituais estranhas.
Como os purist as do espfrito nao se sllbmctem ao senso
comUln da consciència dotninante, eles parecem ter idéias loucas
e C001portamentos demasiado intensos. Será por acreditarem que
realmente poderäo mudar 0 mundo? A televisäo e a imprensa
popular (e existe itnprensa que näo seja popular?) os associam aos
se rial killers e aos solitários que cometem crimes hediondos con~
tra mulheres e crianças, e aos "excêntricos" que foram abduzidos
por extraterrestres. 0 status quo mobiHza todo 0 seu poder con~
vencional para perseguir, castrar, encarcerar e difamar 0 purismo,
a qualquer custo - corretamente ou injustamente.
Os puristas do espîrito, cujo lar fka parcialrnente fora deste
mundo, tornam,se inimigos do Estado porque seu estado mental
os c010ca à parte como Estados em si meslnos, assinl como
Solzhenitsyn se declarou urn Estado independente do governo
soviético. Solzhenitsyn, Prêmio Nobel de literatura, realmente
alimentou seu fogo na caverna da morte dos gulags eenfermarias
de cancerosos. Näo será 0 purismo, entäo, a mais supren1a forma
de poder? E esse tipo de poder, com toda sua tirania e absolu~
tismo autocentrado, näo estará também a serviço de urn tipo de
poder que bern pouco conhecernos, 0 poder dos espiritos?
'" Lewis Hyde, The Gift: lmagination and the Erotic Life of Property
(Random House/Vintage. Nova York, 1979).
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degrada 0 trabalho, reduzindo~o a escravidäo, e também degra-
da 0 prazer, vendo,o como ll)olecagcrn, fazendo~nos considerä~lo
urn parasita decadente ql1e exaure a força do poder.
En"! nenhu1l1 aspecto a oposiçüo entre trabalho e prazer se
torna tao evidente, e às vezes täo absurda, quanto na dcfesa do
Iocal de trabalho contra as Încursöes de Afrodite/Vênus sob 0
disfarce degradado do "assédio sexuaP'. Se imaginarmos que
essa deusa do prazer quer que a sensualidade e a alegria er6tica
encontrem urn lugar em tod os os espaços da vida, é lógico que
ela tentará entrar, por toclos os meios, em todos os lugares de
onde foi banida. Desse modo, a questao nao é mais impedir
quc 0 assédio sexual perturbe 0 ambiente de trabalho, esim:
por que a idéia de trabalho precisa ser tao separada do prazer?
Por que Eros, a beleza, a brincadeira, a frivolidade, a doçura, a
sensualidade, a seduçäo, 0 encanto eo flerte precisam estar mar,
ginalizados no singles bar e na cama para que 0 trabalho possa
ser administrado por uma ordem puritana de ternos escuros e
colarinhos brancos? Os mitos nos dizem que toda atividade,
como 0 trabalho de escritófÎo, que proîba a presença de Afrodite
é urn convite à sua vingança - e eia vive näo apenas nos tem,
plos do passado, mas também no tetnplo da a1ma, essa metáfora
filosófica para 0 corpo.
"Espero que goste" , diz a garçonete; por que 0 chefe nao
nos diz 0 mesmo quando nos sent amos para trabalhar ? N ao só
sentir prazer no trabalho, mas dar prazer, como urn amante. Näo
será esta uma capacidade tipica do poder, tanto quanto contro~
lar, liderar, influenciar?
Que tal considerar outro tipo de açäo? Con1o 0 ensino, como
a jardinagem. Ou a enfermagem pós~operatória. Os professores e
jardineiros exercem urn imenso poder em seus campos. Eles
dominam e controlam, sim, COln a caneta vermelha e a teso ura
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outros. Tais corolários dcsnH~nten) a idéia (jrt discutida) de que a
matéria é in{erior e passiva. idéin essa que inspira nossas atitudes
hiperenergéticas de produtividnde e desempenho. Ao contrário
dessa idéia passiva tradicional, que diz que a matéria deve ser
n10vida pelo etnprego de força superior (0 que, na prática, signi#
fica a força de Uln superior na cadeia do comando), a cosmovisäo
da sustentabilidade afirma que existe urn potendal inato cm cada
pessoa, em cad a tarefa, etn cada criatura, animada ou inanimada.
Esse potencial nao é inerte; de está, coma diriam os marxistas,
em cadeias.
A a1ma em cadeias, ou aprisionada, pertence ao repertó-
rio das irnagens filosóficas acidentais que recuam a urn passado
distante. Antes da ciência moderna, a fiIosofia da natureza
insistia que havia cente1has de fogo, ou almas, encerradas den-
tro de todas as coisas. Essas centelhas poderiam ser liberadas
por várias artes, sobretudo pela alquimia. A idéia de uma ima,
gem animada presa dentro de um bloco de matéria inerte inspira
as artes desde Pigmaliäo, 0 escultor, cuja estátua tinha vida, e se
repete com Michelangelo, cujo einzel libertava a imagem ine~
rente no mármore e näo apenas impunha sua própria inlagem ao
mármore.
o alquimista concebia sua arte como uma operaçao com as
forças naturais, de tal modo que liberava os potenciais inatos apri~
sionados à espera de articulaçao. 0 ouro era 0 sünbolo desse trans~
formar-se de inaçäo inerte e deprimida em realizaçäü máxima do
potencial. T odas as coisas, se tratadas apropriadamente, transfor,
mavam,se etn ouro. Essa analogia alquimica permanece viável
nos dias de hoje. É só pensar na aplicaçao do poder como maneira
artistica de encorajar e liberar os poderes Înatos nos outroS,
maximizando por meio da discriçao e näo da direçäo.
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de supervisäo hierárquica fosse correto enquanto a individuali-
dade livre e en"ante do modo dianisiaco de Handy fosse errada,*
Ou, para usar outro par: coma se a dara ordem e 0 formalismo
distanciado de Apolo fossem corretos, enquanto a astudosa e
rápida tomada de decisäes de Hermes fosse impensada, precipi..
tada e irresponsável. Ginette Paris escreve (contrapondo Apolo a
Afrodite): "Cada urn deles é necessário à dvilizaçäo [ou gerenda. .
mento], e uma mentalidade politefsta nos ajuclaria a reconhecer a
ambos, sem procurar jogar urn contra 0 outro" (op. cit., p.17).
Thomas Moore leva seu principio politeista ainda maïs longe: "No
politefsmo genuino, 0 conflito jamais se reduz ao sirnples dualisrno,
à dialética ou ao dilema das alternativas. Urna perspectiva politefsta
sempre se abre para crescente complexidade e possibilidades adi-
cionais" (op. cit., p.199). Esses escritores contemporäneos seguem
urn antigo preceito do dramaturgo grego Eurfpedes: "eada deus
exige de nós algo que só podemos pagar com a moeda do deus -
este é urn fata inescapáveL"
Imaginar uma escolha entre as figuras já nos enreda nurn
pensamento antagonista, lançando um padräo contra 0 outro e
criando uma guerra -ou urn processo- entre os deuses. Ora, a
questäo näo é optar por urn ou outro estilo, mas apreciar sua
diversidade. eada situaçäo enfrentada pelo gerenciamento terá
uma configuraçäo diferente e fará su as exigências próprias e
peculiares, as quais só poderäo ser liquidadas na moeda da figura
mitica que molda a situaçäo em sua origem. A habilidade gerencial
... Sobre 0 estilo dionisiaco, ver também Mia Nijsmans, "A Dionysian
Way to Organizational Effectivenesstt, em Psyche at Work, Murray
Stein e John Hollwitz (orgs.) (Chiron Publications , Wilmette, IL,
1992), pp.136~55.
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numa idéia porque "é realmente a certa" . Os conflitos entre as
pessoas, na elnpresa e na casalnento, suo as guerras dos deuses,
cujo descomunal poder olhnpico dá às idéiHS essa convicçäo. 0
sentitnento de certeza deve vir de algum lugar abaixo ou além do
ego usual, e assÎ1n é a identificaçao cam 0 poder inerente da idéia
que dá a quen1 a prolTIulga 0 sentimento de certeza.
Os mitos explicam até mesmo esse sentimento de certeza.
T ambém ele vem dos deuses, diz a história de Cassandra, Apolo
a desejava e lhe deu 0 dom da visäo profética umedecendo seus
lábios com a lingua. Mas Cassandra näo se entregou ao deus e
ele entäo lhe lançou uma maldiçäo: ninguém acreditaria naquilo
que ela via com tanta certeza. Embora pud esse seguramente
prever 0 que estava por vit, seus avisos caîam em ouvidos desa~
tentos. Ela só dizia a verdade e era considerada louca por seus
concidadäos troianos.
o sentimento de certeza nao depende da aceitaçäo dos
outros nern da confirmaçäo pelos acontecimentos. Ele vem de
outro lugar, como foi de Apolo para Cassandra. Essa é sua verda,
de e sua tragédia, e seu potencial para a insanidade paranóica.
Você viu como os mitos complicam as coisas - tornando a
men te cada vez mais cheia de duvidas, maïs sutil e sofisticada,
até mesmo em relaçäa à própria certeza?
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aque1es outros que de, pela negaçäo, faz desapareeer; mas que,
apesar de tudo, continuam a puxar os cordöes por trás da cena.
Citando mais uma vez 0 poeta Auden: "SOffiOS vividos por pode-
res que fingünos compreender".
Meu argumento, aqui, é psicológico, nada tendo de reli~
gioso no sentido usual de crença. 0 "eu" nào está sendo solici~
tado a acreditar. Urn senso psicológico dos poderes que enchem
nossa mente e nossas açöes, nos poröes e nas fîmbrias do reino
do "eu", nào exige prece, sacerdote ou escritura, näo pede confir-
maçäo ou testemunho, näo carrega culpa. Urn senso psicológico
desses poderes é apenas uma percepçao consciente, quase primi~
tiva e ingênua, de que, embora a vontade falhe e 0 coraçäo se
desespere, você nunca estará só, nunca ficará sem poder. Há algo
que sempre tem você em sua mente.
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