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do povo brasileiro já não permite o ressurgimento de figuras sorri

dentes e demagógicas como a de Getúlio Vargas, que tomaram a

CARTA INFORMATIVA SOBRE MIM MESMO   233

si o encargo
enc argo de pensa
pe nsarr em lugar
luga r do
do povo,
povo, que apenas aplaudia.
aplau dia. A
geração da ditadura, que depois entrou para as responsabilidades da
administração, sofreu com a deficiência de não haver exercido a
liberdade e o exercício da responsabilidade política no tempo de sua
 juventu
 juve ntude.
de. Este
Es te foi um dos maior
ma iores
es males
ma les da ditad
dit adur
ura,
a, que não veio
a ser compensado por nenhuma das decantadas vantagens oferecidrs
 pelos homens
hom ens so sorri
rride
dent
ntes
es de então.
então .
É claro que as massas também são alcançadas pela sabedoria
filosófica através do ensino democratizado, que vem sendo progres
sivamente instalado. Através deste o Brtsil de amanhã será também
uma cabeça pensante, além de continuar o coração afetivo que sem
 pree foi.
 pr
Particularmente a propósito das tarefas vitais consegue a mrssa
fazer uma Filosofia, pois estas são de sua vivência profunda. A
intuição exercida pelo povo é notoriamente espontânea em tudo o
que diz respeito à sobrevivência.
A reflexão filosófica não deve fugir à História. Há de ocupar-se
com as correntes filosóficas ocasionalmente vigentes. Sem qualquer
restrição à valid-de da questão em si mesma, o filósofo há de
inquirir pelo relativismo, pragmatismo, vitalismo, intuicionismo
alógico, existencialismo, neopositivismo, materialismo dialético, mate
rialismo científico e espiritualismo, porquanto estas modalidades de
 pensa
 pe nsame
mento
nto se enco
en contr
ntram
am pr
pres
esen
ente
tess nos es
espír
pírito
itoss de hoje.
hoj e. E st
star
aría
ía
mos fora do tempo não examinando o que eventualmente ocupa o
homem atual.
A ciência experimental ofereceu importantes oportunidades à
retificação
ceram dos conceitos
a Filosofia filosóficos.
da Natureza, A que
quer no Físicadize respeito
a Biologia esclare
aos corpos,
quer no que é da vida. O mesmo acontece com a Psicologia Experi
mental que aclarou a Psicologia Racional. Esclareceu ainda a signi
ficação de manifestações pseudo-religiosas atribuídas, indevidamente,
ao sobrenatural. Assim também a Sociologia do Pensamento lança
um pouco de luz sobre a formação mental de cada época. A Paleon
tologia revolucionou o conceito sobre o lugar do homem no universo,
estabelecendo-o como continuidade de um tronco animal e identifi
cando-o como estrutura instável através dos milênios.
A Filosofia, além de se instituir como um valor apreciável em
si mesmo, exerce também uma função na ordem prática do homem.
 Ne
 Nesta
sta apresenta
mente apre
as sentam-se
m-se m
imediatas etas
eta s gerais
gera is e como
configuram-se outra
ou trass mais
mais
mai s humanas.
imediat
ime diatas.
as.Marcam,
Segura
Seg ura

sobretudo, o que leva o peculiar nome de humanismo. O humanismo
tem, contra si, toda a espécie de moralismos radicalizantes, que

234  EVALDO
 EVALDO PA
PAUL
ULI 

 pr etend
 prete ndem
em alcan
alc ança
çarr os fins último
últ imoss sem os objetiv
obj etivos
os imediat
ime diatos
os da
civilização terrestre. Todavia, por mais efêmeros que sejam, os bens
 passag
 pa ssageiro
eiross oferecem
oferec em ainda
ain da algum valor.

 pa rteA
 p a rt humanização
e no todo semépre
plena
tod o é sempre menquando
menos
os impocoloca
im porta ntee odoacento
rtant que onoindivíduo
indivíduo.
indivíd A
uo autô
au tô
nomo, sobretudo quando liberado como pessoa, isto é, como composto
racional. Mesmo quando trabalha pelo bem da comunidade, este
conteúdo coletivo só se exerce, em última instância, em benefício dos
componentes da comunidade.
Pode haver uma Filosofia Brasileira ou Nacional em tudo o
que diz respeito à temática mais em foco, no país. Também os seus
 pensa
 pe nsado
dores
res estão
estã o su
sujei
jeitos
tos à eventualid
even tualidade,
ade, imprim
im primind
indoo ao pensam
pen samen
en
to direções ora mais, ora menos felizes. É claro, ainda, que para um
relativista, historicista, culturalista somente pode haver uma Filosofia
Brasileir
Bra sileiraa como
como há Filosofia Alem Alemã,ã, Francesa
Fran cesa etc., porque
porq ue nestas
ne stas
modalidades
cias cósmicasdee humanas.
pensamento nada existe de absoluto, apenas tendên
À pergunta se a reflexão filosófica deve abrir-se prra uma visão
transcendental da realidade na perspectiva das razões metafísicas
importa responder que nada há de se estabelecer sem antes ques
tionar. Até para os dados intuitivamente evidentes (evidência explí
cita) é preciso colocar-se num instante abstrato anterior, a fim de
indagar sobre sua procedência intuitiva. Mas o transcendente não é
intuitivamente conhecido; a ele, portanto, só se poderia chegar atra
vés de uma operação raciocinativa. Mesmo assim, é necessário levan
tar a questão, porque não o fazer seria estabelecer dogmaticamente
a sua não-existência.
Uma vez situado o problema como dependente de uma operação
raciocinativa, dependerá do valor das premissas. São bem conhecidas
as posições dos sistemas filosóficos neste particular. Os princípios
que sustentam o silogismo valem em Aristóteles; nesta área, portanto,
caminha-se até o transcendente. Não acontece o mesmo em Kant,
que os reduz a formas do entendimento, de sorte que deles somente
nasce um Deus-idéia. No monismo Deus morre para renascer de outro
modo; aqui o transcendente se confunde com o próprio mundo em
que vivemos. Esta posição encontra dificuldades, porquanto lhe é
difícil conciliar a noção de Deus (suficiente e perfeito), com a do
mundo (pelo menos aparentemente contingente e imperfeito).

E por quee haveríamos


de suficiente de unir estas
perfeito? Negadas ao conceito de mundo
exigências e outrasa exigência
similares,
deixa de se levantar a questão do transcendente. Assim já ia acon
tecendo em Kant e sucede em Sartre. Sobretudo para este não tem

CARTA INFORMATIVA SOBRE MIM MESMO   23 5

sentido reclamar pela inteligibilidade das coisas e, portanto, não


tem significação estabelecer o que elas exigiriam para serem inteli-
giveis e justificadas.

dos Como sempre


princípios se da
gerais vê, razão,
tudo depende
quer da das premissas, especialmente
inteligibilidade racional quer
da suficiência existencial.
Dada a importância da questão — pois a negação ou aceitação
do transcendente em muito altera a mundividência — importa cons
cientizar a Filosofia, no sentido de examine
examine r seriamen
seria mente
te os elementos
eleme ntos
da premissa, dos quais depende a conclusão. Esta dramaticidade não
é bem sentida pelos homens que advogam em linha horizontal.
Todavia, em instantes fugidios, parece que a significação integral das
coisas não deixa de surgir como pergunta aqui e ali, no decorrer
das tarefas de significado contingente. E fica, então, o homem de
 promoç
 pro moção
ão horiz
ho rizon
ontal
tal a estabele
esta belecer
cer um mome
mo mento
nto de dúvida, passa
pa ssand
ndoo
a in
indig
dig ar: af
afinal
inal,, para que isto?
isto? É quando o problema da da mundi
vidência toma feição vertical e se agiganta. Ainda que para ele sem
resposta, começa a se firmar como um drama. Este estado de angústia
se encontra, sem dúvida, presente no íntimo do homem moderno.
Há uma conexão íntima entre a posição gnosiológica e a ética,
similar à do problema da transcendência.
A Filosofia é uma ciência objetiva. Dadas, porém, as circunstâncias
subjetivrs em que se desenvolve, está sujeita a inúmeras peripécias,
muito mais do que se pode imaginar. Cabe à Sociologia do Pensa
mento determinar os condicionamentos psico-sociológicos, ecológico-
sociológicos, étnico-sociológicos e mesmo económico-sociológicos, que
influenciam
A explicaçãoo mítica,
pensamento do indivíduo
própria do homemsituado em tais
primitivo circunstâncias.
e ingênuo, é um
caso mui peculiar de sociologia do pensamento, que deve ser levrdo
em conta no estudo da mentalidade que domina em todos os livros
do homem semítico. Depois, ao iniciar o homem a explicação racional,
continua a ser manifesta a influência circunstancial. E assim não se
 pode
 po deria
ria senão espe
es pera
rarr que a Filosofia
Filos ofia do grego fosse divers
div ersaa da do
homem medieval e, enfim, da do homem moderno. E assim também
diversas tendências atuarão — como processo sociológico — sobre o
 pensa
 pe nsame
mento
nto da sociedade
socieda de feudal, da burgu
bu rguesa,
esa, da cacapi
pital
talist
istaa (de
capital privado e de capital estatal). A criação de “movimentos” e
"escolas”, que se sucedem e se transformam, é a clara prova do que
a Filosofia tem muito de contingente e eventual nos seus resultados.
Feita esta verificação sociológica e encontradas as explicações,
inclusive suas leis evolutivas, cabe ao filósofo precaver-se mais do
que no passado. O cérebro eletrônico na Filosofia é uma necessidade.

2 36  EVALDO PAUL
PAULI 

O ateísmo contemporâneo assume feições que levam a pensar.


Os conceitos sobre Deus e a Religião têm sofrido notáveis alterações
na Filosofia Moderna, em especial a partir de Kant. Se, para alguns,
Deus renasce apenas de outro modo, no monismo, para outros sim
 plesme
 ples mente
nte não tem sen
sentido
tido o pro
problem
blema.
a. Ainda que se possam
pos sam ap
apre
re
sentar motivos, como o do simples esquecimento de Deus, por causa
do tumulto das tarefas práticas, os verdadeiros motivos do ateísmo
são de natureza gnosiológica. Por isso, apenas uma forte e renovada
Teoria do Conhecimento poderia alterar a situação e restabelecer o
antigo prestígio da Teodicéia.
Com referência ao sobrenatural, surgiram também sérias restri
ções na mente do homem moderno, que se hão de rtribuir outra
vez a motivações oferecidas pela Psicologia Experimental, pela His
tória e pela Sociologia. Uma revisão geral de seus argumentos é
tentada consequentemente pelo cristianismo, judaísmo, islamismo,
 budism
 bud ismoo e esp
espirit
iritism
ismo.
o. Ineg
Inegavelm
avelmente,
ente, a disp
displicên
licência
cia da vida cômoda
cômoda''
de uns e da luta pela sobrevivência de outros condiciona a mudança
de conceitos; mas não se pode negar que a bruma do agnosticismo,
que se difunde vagamente por todo o mundo, especialmente nas elites
intelectuais e universidades, fun
fund:
d: menta-
menta-se
se em motivações intelectuais
de difícil tratamento, que não atuavam sobre o homem de há poucos

séculos.
 Não há Filoso
Filosofia
fia Cr
Cristã
istã se, pela pa
pala
lavr
vraa cristã
cri stã,, se deva ind
indica
icarr
um conteúdo de revelação sobrenatural a ser integrado no corpo da
Filosofia. Este, intrinsecamente, é um saber especificamente racional,
a caminhar pelas conexões das evidências alcançadas pela razão.
O cristianismo, entretanto, criou como que uma situação socioló
gica para a Filosofia. Sob esta perspectiva extrínseca, admite-se a
denominação de Filosofia Cristã. Em tal condição, pode ela ser dos
mais variados matizes, desde a que simplesmente não contraria o
cristianismo até a que positivamente toma a revelação cristã sobre
natural (como o admitem os cristãos), como critério extrínseco da
verdade filosófica.
Entretanto, não é aconselhável uma denominação de motivação
extrínseca. A Filosofia deve denominar-se, antes de mais nada pelo
seu modo intrínseco de se definir. As denominações extrínsecas,
admissíveis na Sociologia e na História do Pensamento, estão, por
causa desta condição acidental, sujeitas a um alargamento nunca
 bem definido. Po
Porr isso ho
hoje
je não se sabe verda
ve rdade
deira
irame
mente
nte o que
denominar Filosofia Cristã, se quisermos com isso apenas referir-nos
ao conteúdo,

CARTA INFORMATIVA SOBRE MIM MESMO   237

A par de sugestões positivas, o cristianismo tem influído também


negativamente sobre a Filosofia, por circunstâncias em geral psico-
-sociológicas. A convicção fácil que a Fé tem gerado em certos filó
sofos, os tem posto em clima excessivamente otimista. Não havendo
sentido as dificuldades dos problemas, não os têm examinado com
aa angústia de uma problematização
linha agostiniana, de fundo platônico.exigente.
AindaSobretudo
que mais écauteloso,
otimista
Tomás de Aquino é ainda um otimista, no seu aristotelismo cristia
nizado. O mesmo Aristóteles, o mais parcimonioso dos gregos, é,
 pa
 p a ra o homem
hom em modern
mod erno,
o, um otim
ot imist
istaa no que concerne
conc erne ao rendim
ren diment
entoo
da especulação filosófica.
Para a avaliação da Filosofia Cristã é necessário ainda levar em
conta que o orfismo e o pitagorismo influenciam o pensamento judai
co dos últimos cinco séculos antes de Cristo, do mesmo modo como
influenciaram o pensamento grego. Desenvolve-se o conceito de espí
rito como algo substancialmente separado do corpo. É evidente que
o cristianismo não radicaliza como o fizeram tais correntes de opinião,
mas participa do clima por ele gerado.
Quer sejamos cristãos quer não, a Filosofia deve, cada vez mais,
libertar-se de situações sociológicas. Assim como a Ciência positiva
que, com seus métodos racionais, é o arrolamento progressivo de
evidências rigorosamente observáveis e até controláveis por um cé
rebro eletrônico. No dia em que se reduzirem os sistemas filosóficos
aos esquemas eletrônicos, a Filosofia terá a mesma oportunidade
de se revelar segura, de maneira a se colocar na mesma linha de
 prest
 pr estígi
ígioo das ciências
ciência s exatas.
exa tas. E sta
st a libert
lib ertaç
ação
ão do sociológico não
nã o impli
impl i
ca em esquecer os temas do cristianismo e nem os problemas de uma
nação.
 

Fe r n a n d o   A r r u d a   Ca m p o s

11
MEU NEOTOMISMO
 

I. DADOS BIOGRÁFICOS

 Nasci em São Carlos, Esta


Es tado
do de São Paulo,
Paulo , aos 17 de maio
mai o de
1930. Sou o quinto de uma série de sete filhos, dos quais apenas eu
consegui sobreviver. Meu pai, José Rodrigues de Arruda Campos, é
natural de Itu e provém de tradicional estirpe, dos Rodrigues da
Silveira e dos Campos Pacheco. Minha mãe, Iná Vaz de Arruda
Campos, descende, longinquamente, dos antigos colonizadores por
tugueses.
Filho único, constitui sempre o centro da atenção paterna. Meu
 pai viu-me ingre
ing ressa
ssarr na Faculd
Fac uldad
adee de Direito; minha
min ha mãe leu, dias’
antes de morrer, meu primeiro artigo filosófico publicado.
Cursei o primário e o secundário em São Carlos (S.P.), no tra
dicional Instituto de Educação “Álvaro Guião”.
Em 1949, matriculei-me no Seminário Maior do Ipiranga, em
São Paulo, pensando ter sido chamado para o Sacerdócio. No ter
ceiro ano do Curso de Filosofia, acometido de forte cansaço físico
e mental e de um começo de esgotamento nervoso, tive de abandonar
os estudos e deixar, definitivamente, o Seminário, não sem grande
tristeza, visto ter passado ali um dos mais felizes momentos de
minha vida.
Sou de temperamento irrequieto, insatisfeito, introvertido e
místico.
Amo deveras a reflexão, a vida interior. Quando, ainda no
Seminário, comecei a entender o que era a Filosofia, senti que
encontrava, em seu estudo, a minha verdadeira vocação. Um pro
fessor,
sóficos,que havia acompanhado
disse-me aí meus
um dia que eu progressos
recebera de Deusnosumestudos filo
verdadeiro
carisma e que eu deveria, por conseguinte, aproveitá-lo com serie
dade e responsabilidade.

242 FERNANDO ARRUDA CAMPOS 

Estas palavras de um homem que unia a ciência à santidade e


humildade de vida, calaram-me fundo no espírito e, egresso das
solitudes claustrais, jamais abandonei o estudo da Filosofia.
Sou profundamente religioso, acostumado a ver Deus em todas
as coisas e a senti-lo no mais íntimo de meu ser. Foi com este espírito
de fé e resignação que assisti meu pai e minha mãe na hora da
morte.
Em 1953, matriculei-me na tradicional Faculdade de Direito dd’
Largo São Francisco, tendo concluído o curso em 1957. Bacharel
em Direito, nunca me senti inclinado a exercer a advocacia. Dedi
quei-me, a partir de 1958, ao ensino, tendo lecionado em vários
colégios, permanecendo, como professor de português, por oito anos
consecutivos, na Escola Normal e Ginásio Estadual “Jesuíno de
Arruda” em São Carlos (S.P.). O diuturno contato com a juventude,
durante todos estes anos de magistério secundário, constituiu-me
 prove
 pr oveitos
itosaa experiê
experiência,
ncia, da qual me beneficio agora
agora,, na idade
idad e madu
ma dura.
ra.
Em 1965, consegui, através de concurso público, ser admitido
Técnico de Administração, função que exerço até o presente, no
Departam
Dep artamento
ento de Admin
Administração
istração de Pessoal do Estado (DAPE)
(DAPE),, em
São Paulo.
Estive ligado, por profunda e sincera amizade, a Luiz Washington
Vita. Foi ele quem me possibilitou a realização de um trabalho
sério e metódico no âmbito da Filosofia, quer sugerindo-me o tema
e iniciando-me na técnica do trabalho científico, quer orientando a
 pesq
 pe squis
uisaa e, enfim, pr
propi
opicia
ciand
ndo
o a public
publicação
ação de me
meuu estud
estudo.
o.
Desenvolvo, atualmente, minhas pesquisas fora dos quadros uni
versitários. Estou ligado ao Instituto Brasileiro de Filosofia, do qual
sou membro e colaborador da Revista e à Sociedade Brasileira de
Filósofos Católicos. Considero, de igual forma, providencial a cir
cunstância que me levou ao conhecimento dos Padres Jesuítas do
Colégio São Luís e das Faculdades Anchieta, que tão carinhosamente
me ofereceram uma sincera e desinteressada amizade.
Sou grato, de modo particular, ao Padre Stanislavs Ladusãns, S.J.,
que me convenceu a ingressar na Sociedade dos Filósofos Católicos,

onde tenhoreais
quecedor, encontrado, atravésdedorer.lizar-me,
possibilidades diálogo aberto e realmente
no campo enri-
da reflexão
filosófica.

 MEU
 MEU NEOTOMISMO 243

II
II.. ESTRUTURA DO PENSAM
PENSAMENTO
ENTO FILOSÓFIC
FILOSÓFICO
O

II. 1. — Gênese e evolução


Divido meu pensamento filosófico em três fases distintas.
l.a
l. a Fase Formativa  (1963 — 1965), que precedeu à elaboração de
meu livro, Tomismo e Neotomismo no Brasil , caracterizada, sobre
tudo, por uma complementação dos conhecimentos hauridos no
curso filosófico, pelo que se explica o caráter um tanto escolar dos
trabalhos publicados, neste período. Mantive-me, nesta fase, ferre
nhamente apegado aos princípios de um tomismo tradicional, quase
sem abertura ao pensamento moderno e contemporâneo.
2:' Fase Informativa   (19
(1966 — 19
196
69),
9), em que rea
realize
lizeii as pe
pesq
squi
uisa
sass
necessárias à elaboração de meu livro sobre tomismo e neotomismo
no Brasil,filosófica,
reflexão época emaoque tomei tempo
mesmo conhecimento
em que da
menatureza
adestrei peculiar da
na técnica
do trabalho científico. Comecei também, neste período, a informar-me
a respeito das várias tendências existentes no pensamento neotomista
contemporâneo, como esforços reflexivos de repensamento da doutri
na do Angélico, segundo as exigências da Filosofia Moderna e Con
temporânea.
3.a Fase Reflexiva  (de 1970 em diante), em que pretendo desen
volver meus trabalhos, em obediência às exigências do saber cientí
fico, procurando, através de um esforço crítico, adquirir uma com
 preens
 pre ensão
ão cad
cadaa vez ma
maior
ior dos pr
prob
oblem
lemasas e um
umaa visão cada
cad a vez
vez mais
mai s
 prof
 pr ofun
unda
da dos asassu
sunto
ntoss estu
estudad
dados.
os. Proc
Pr ocur
uroo agora,
ago ra, atr
atrav
avés
és de provei
pro vei
toso diálogo, abrir-me a todas as correntes do pensamento moderno
e contemporâneo, colocando-me, ao mesmo tempo, diante das várias
direções em que se orienta o neotomismo atual, numa atitude “cul-
turalista”, visando integrá-las numa visão compreensiva de totali
dade, enquanto representam formas diversas de vivência da filosofia
do Aquinense, na época atual. O tomismo, apesar de nascido no século
XIII é, pela veracidade e eternidade de seus princípios fundamentais,
sempre vivo e atuante.

II.2. — Conceito de Filosofia


Assumindo posição francamente tomista em face da conceituação
do saber filosófico, estabeleço nítida distinção entre este e o saber
científico. Para mim, a Filosofia não é o conjunto de todas as ciên
cias positivas nem estas são absorvidas naquela; há, entre ambas,
nítida distinção de objeto formal.

244 FERNANDO ARRUDA CAMPOS 

Ultrapassando o plano da simples descrição empírica, o plano


 pura
 pu ram
m en
ente
te fenomen
fenomenológico,
ológico, desenvolve-se o discurs
disc urso
o filosófico
filosófic o no
nível metafísico, propriamente dito. Inquirindo sobre a inteligibilidade
radical do mundo, do homem e de Deus; sobre o fundamento do
valor de verdade de nosso conhecimento e do valor de bondade de
nossos atos humanos, é este, com efeito, um discurso sobre o ser:
o ser que, considerado enquanto tal, é ato existencial, esse,  a razão
fundamentadora de todas as coisas. O discurso filosófico é, deste
modo, um discurso sobre o fundamento.
Mas o ser, ato existencial, esse , é, para nós, um horizonte puro
de inteligibilidade. Manifestando-se nos exatos limites da essência,
esconde-se ele, ao mesmo tempo que se manifesta, em sua íntima
Verdade; escapa-nos, portanto, sempre no mesmo ato em que o
 proc
 pr ocur
uram
am os apr
apree
eend
nder.
er.
Deste modo, o problema do ser nos é dado num fundo de mis
tério; o mistério, que encontram
enco ntramosos sempre, quando colocolocamos
camos o
 pr oblem
 prob lem a do fun
fundam
dament
ento;
o; o mi
misté
stério
rio que é, p a ra nós, motivo, não
de interrogação apenas, mas, antes de tudo, de admiração e respeito.
Desconhecer, portanto, este problema, recusar-se a considerá-lo,
declarando válida apenas a problemática, que se desenvolve, no nível
fenomenológico,
fenomenol ógico, das ciências positiva
positivas,
s, é descon
desconhece
hecerr o verdadeiro
verdad eiro
sentido do ser, é postergar ao olvido todo um vasto campo de conhe
cimento, no qual a Realidade se mostra em sua forma mais origina!
e profunda, o qual, entretanto, é impossível de ser atingido em si
mesmo, através do método experimental e da visualização peculiar
às ciências positivas.

cursoFechar-se,
sobre o portanto, ao discurso
fundamento, filosófico, entendido
enclausurando-se como
na pretensa o dis
auto-sufi
ciência do saber científico, é fechar-se ao próprio sentido do ser;
é, portanto, declarar absolutamente incognoscível tudo o que ultra
 pass
 pa ssaa os limite
limitess do conh
conhecime
ecimento
nto científico.

II. 3. — Posição em face do neotomismo atual

O que melhor denota a vitalidade e pujança do tomismo é, a


meu ver, sua capacidade
capacidad e de “re-n
re-nasce
ascer”
r”,, “re-elaborad
re-ela borado”
o” e “re-j
“re-juv
uve-
e-
nescido”, num contexto cultural assaz diverso daquele, em que foi,
originalmente, pensado e elaborado por Santo Tomás de Aquino.
O repensamento da Filosofia do Aquinense no mundo de hoje,
tarefa que o neotomismo atual se propõe realizar, constitui, em sua
expressão mais original e profunda, um abandono do tomismo, haurido

M E U  N E O T O M I S M O   245

mi obra dos comentadores, numa tentativa de volta à fonte, à


"intenção de Santo Tomás”, a qual, enquanto "pensamento pensante”, é
capaz de dar sentido e consistência ao "pensamento pensado”.

Mister hegeliana,
expressão se faz queaquireflitamos,
transpostaatentamente, sobre oassaz
para um contexto, sentido da
diverso
do idealismo de Hegel.
Ela significa, em primeiro lug?.r, que o pensamento do Doutor
Angélico não é, de forma alguma, uma "filosofia acabada”: dizer   a
verdade  foi talvez a preocupação exclusiva do Aquinatense, o princípio
norteador de seu pensamento, a finalidade de toda a sua atividade
reflexiva. Jamais pretendeu ele, contudo, ter dito toda a verdade,
como se, após a elaboração do tomismo histórico, conforme se
apresenta em sua obra, nada mais houvesse a dizer, estando aos
 pensad
 pen sadore
oress vindouro
vind ouros,
s, que lhe quisessem
quise ssem ju rar
ra r fidelidade, reser
res erva
vada
da
apenas a banal tarefa de comentar-lhe a doutrina e glosar-lhe as
teses, definitivamente elaboradas.
Para o Aquinatense, sabemo-lo bem, não é a verdade propriedade
exclusiva de homem algum, nem pode ela ser exaurida, em sua
totalidade, por nenhum sistema filosófico. A prova disto é que, ade
rindo à Filosofia de Aristóteles, em suas teses fundamentais, inte-
grou-a, através de original e profundo esforço de reflexão, numa
visão mais vasta e muito mais profunda da realidade. Em conse
quência disto, os princípios da Filosofia do Estagirita, reelaborados
e repensados à luz do Platonismo e do Cristianismo — não se olvi
dando aqui a valiosa contribuição do pensamento pré-aristotélico —
 pude
 pu deram
ram re
ress
ssur
urgi
girr numa
nu ma nova
nov a síntese,
sínte se, que constitu
con stitui,i, talvez, a mais
mai s
expressiva manifestação da cultura medieval, no âmbito da Filosofia.
Ela significa, em segundo lugar, que aquilo que, no pensamento
do Doutor das Gentes, aparece como mais valioso não é, talvez, o
que foi pensado e expressamente dito, mas o que é latente,
os princípios que, raramente formulados, são, no entanto, prenhes
de sentido, capazes, portanto, pela riqueza que encerram, de dar um
sentido original e profundo ao pensamento pensado. Isto vem
 perm
 pe rmiti
itir,
r, por
po r outro
ou tro lado, que eles sejam
sej am vividos, em seu genuíno
significado, sem perda de sentido, sem deturpações nem distorções,
num contexto cultural bastante diverso daquele em que foram
originalmente vividos.
Em terceiro lugar, isto significa que o tomismo, assim entendido,
encontra-se aberto a um constante e proveitoso diálogo com todas
as formas do pensamento moderno e contemporâneo. É justamente
esta abertura ao pensamento moderno e atual que lhe permite um
aprofundamento constante e sucessivo de sua doutrina e um repen-
samento de suas teses fundamentais.

246 FERNA NDO A R R U D A CA


C A M PO
PO S  

Trata-se aqui, com efeito, não de fundir mundividências diversas,


nem de assimilar sistemas inassimiláveis, mas de fecundar o tomismo
histórico com elementos tirados de um contexto cultural diferente
do seu, de tal modo que, fecundado, possa ele desenvolver suas
implícitas virtualidades, fazendo vir a lume toda a força de sua
interna estrutura e todo o vigor de sua verdade.

II
III.
I. ATIVIDADES NO CAM
CAMPO CIENTÍFICO
CIENTÍFICO

Encontro-me ainda no início das atividades no campo cientifico.


O trabalho principal, até o presente, é meu livro Tomismo e Neoto- 
mismo no Brasil,  publicado pelo Editorial Grijalbo, em colaboração
com a Universidade de São Paulo, na coleção “Estante de Filosofia”,
dirigida pelo Professor
mais informativo Dr. Miguel
que crítico. É o Reale. É um
primeiro, estudo
creio monográfico,
eu, que se tenta
compor, no gênero, no país. O livro é prefaciado por Luiz Washington
Vita, que sugeriu o tema e dirigiu as pesquisas.
 Na prim
pr imei
eira
ra e segunda
segu nda fase quero
que ro refe
re ferir
rir os artigos
arti gos publicad
pub licadosos na
 Revista
 Rev ista Brasileira Filosofia :  “Moral e arte”, em  R.B
Brasile ira de Filosofia: .F.,,  vol. XIII,
 R.B.F.
fase. 50, abril-junho (1963) pp. 274-279; “Grandeza e miséria da pessoa
humana”, in  R .B .F .,   vol. XVII, fase. 65, janeiro-março (1967) pp. 36-41;
“Considerações sobre a Filosofia Moral de Jacques Maritain”, in
R .B .F ., vol. XVIII
XV III,, fase. 71, julho-set
julh o-set.. (1968)
(1968) pp. 31
311-322. Desejo men m en

cionar, outrossim, um trabalho didático, publicado pela Editora Nobel
(Memento de Psicologia e Lógica, São Paulo, 1965).
A partir de 1970, dirijo minhas reflexões, na direção da  pesquisa  
histórica, no âmbito do neotomismo e da Filosofia no Brasil. Cabe
citar, aqui: “A Influência da Escolástica no Tratado de Direito Natural
de Tomás Antonio Gonzaga”, em  R.B .F.,  vol. XX, fase. 78, abril-junho
 R.B.F.,
(1970); “Considerações sobre as Cinco Vias de Santo Tomás” in
.F.,  vol. XXI, íasc
 R.B.F.,
 R.B ía sc.. 83, julho
jul ho-se
-set.t. (1971)
(1971) pp. 323323-32
-329; “A Reflexã
Refl exãoo
sobre
sob re o Ser e o Agir
Agir,, na filosofia de J. De Finan Fin ance”,
ce”, in  R.B.F., vol.
XXII, fase. 86, abril-junho (1972) pp. 139-156;  Ibi  Ibide
dem,m,   fase. 87, julho-
-setemb
-set embroro (197
(1972)
2) pp.
pp . 273 293; “O Huma Hu manis nismo
mo Juríd
Ju rídico
ico de Gofredo
Gofre do
Teiles”, in  Hu
 Huma
manis
nismo
mo Pluridimens ional   (Atas da Primeira Semana
Plur idimensional
Internacional de Filosofia) São Paulo,  1974, vol. I, pp. 256-267; “A reela-
 boraçã
 bor açãoo do Tomismo no mundo
mun do de hoje
ho je:: o pensa
pe nsame
mento
nto filosófico de
J. De Finan
Fin ance
ce , in  R.B.F.,  vol. XXIV, fase. 96, outubro dezembro (1974)
 pp. 418-455; "A consciência
consciê ncia histó
hi stóric
ricaa como categor
cate goria
ia de base p ara
ar a a
reelaboração do pensamento tomista, no mundo de hoje”, in Convi-

 M E U N E O T O M I S M O 247

vium,  ano XIII, n.° 4, vol. 17, julho-agosto (1974) pp. 342-354; “A reela-
 boraçã
 bor açãoo do tomismo
tom ismo,, na obra
ob ra de Régis Joliv
Jol ivet”,
et”, in Convivium,  ano
XIV, n.° 4, vol. 18, julho-agosto (1975) pp. 320-352.

IV. ASPECTOS COMPLEMEN


COMPLEMENTARES
TARES DO 
PENSAMENTO FILOSÓFICO

IV. 1. — A Filosofia e a vida cult


cultural
ural brasileira
brasileira hodierna

Concluí a parte introdutória de meu livro Tomismo e Neoto- 


mismo no Brasil,  assinalando que "c preciso que o pensamento
tomista atual, no Brasil, não se limite, como bem ressalta Miguel
Schooyans, a "repetir e comentar as teses fundamentais de um
sistema filosófico do passado”, ou ainda "a repetir e comentar as
teses fundamentais
mento dos filósofos
atual, como acentua, do estrangeiro".
com propriedade, Luiz Se urge, no Vita,
Washington mo
“a fundação de uma cultura brasileira, integrada no espírito ocidental,
mas enraizada na realidade do Brasil, representativa de suas neces
sidades e expressão de seus anseios”, a Filosofia no Brasil deve
surgir como a mais alta expressão cultural. E se, par?, tal, devem
colaborar, eficazmente, as várias tendências atuais do pensamento
filosófico brasileiro, ao tomismo, devido às nossas condições histó
ricas, está reservada importante função neste empreendimento.
E será esta, talvez, a mais valiosa contribuição do pensamento
tomista para a cultura nacional: exercer função importante na criação
de uma Filosofia de bases autenticamente nacionais, apta a apre
sentar soluções, segundo
aos problemas a visualização
fundamentais, inerente
que surgem a seumesma
desta objeto cultura,
formal,
sendo, deste modo, capaz de agir, eficazmente, sobre ela.
À Filosofia Tomista competiria, assim, mostrar, por exemplo,
através de sua Moral Social, que o problema surgido no nível sócio-
-econômico, resultante da oposição entre a classe dos assalariados
e a dos possuidores de capital, encontra no solidarismo cristão uma
solução adequada e plenamente satisfatória.
Também o problema da educação nacional deveria, a meu ver,
ser objeto de estudos reflexivos, feitos em profundidade, à luz dos
 princíp
 prin cípios
ios filosóficos. Cumpre
Cum pre considerá-lo à luz da reflexão
reflexã o filosó
fica e enfocá-lo de forma bastante ampla, não só no que tange ao
educando, como ainda no que concerne ao meio e às condições da
atividade educacional em nossa Pátria. E seria este, pelo que me
 parece, o mome
mo mento
nto propíci
pro pícioo p a ra a abordage
abord agem,
m, à luz da Filosofia,
do importante e vital problema da Universidade Brasileira.

248 FERNANDO ARRUDA CAMPOS 

Outro problema de capital importância para o momento atual


da Nacionalidade é, segundo me parece, o religioso, surgido da
oposição dialética entre a Igreja institucional e um “catolicismo de
fachada e de nome”, cuja oposição é superada na vivência de um
Cristianismo genuíno e autêntico, fimdamentado no espírito ecumê
nico e inspirado na caridade. Pode aqui a reflexão filosófica, enfo
cando o problema à luz da Filosofia e da Religião, aduzir soluções
convincentes e satisfatórias, que correspondam aos anseios atuais do
 povo bra
brasile
sileiro
iro..
Vasto campo para a reflexão oferecem, no meu entender, as
variadas formas de expressão do fenômeno religioso encontradas nas
camadas culturalmente menos desenvolvidas, onde se incluem as
 prát
 pr átic
icas
as do “baixo
“baixo-esp
-espiritis
iritismo”
mo” e, so
sobre
bretud
tudo,
o, os “sincre
“sin cretism
tismos
os reli
reli
giosos”, dos quais a umbanda,  em suas mais variadas formas, parece
ser uma das mais expressivas manifestações.

IV.2. — A Filosofia, a juventude brasileira e 


as massas populares

Com a criação das faculdades de Filosofia e sua conseqüente


integração na estrutura universitária, iniciou-se, em nossa Pátria,
uma nova fase para a reflexão filosófica, a qual viria substituir
a autodidaxia: a fase da pesquisa, do estudo metódico, que precede
e prepara o trabalho cientifico.
 No ca
capítu
pítulo
lo in
intro
trodu
du tóri
tó rio
o à mi
minh
nhaa o br
braa so
sobre
bre tom
tomism
ismo
o e neoto-
mismo no Brasil, salientei que “a universidade é o lugar natural de
desenvolvimento de uma cultura orgânica, onde todas as parteé?
dessa cultura existem, em relação de mútua dependência e influência”.
A meu ver, duas missões impõem-se, sobretudo, às faculdades
de Filosofia, em pleno desenvolvimento no país: a formação de
 pesqu
 pe squisa
isado
dores
res e de pr
prof
ofes
esso
sores
res de Filoso
Filosofia,
fia, tan to do ensino
en sino médio
como superior.
A ambos compete a nobilíssima missão de levar aos jovens e
às massas populares a mensagem da verdade filosófica. O pesquisador
 bras
 br asile
ileiro
iro não deve, segund
segundoo m eu modo de enenten
tende
der,
r, inte
interes
ressar
sar-se
-se
unicamente em produzir obras técnicas, de ensino acroamático, des
tinadas a uma elite intelectual de especialistas em Filosofia; deve,
outrossim, — levando-se naturalmente em conta as circunstâncias em
que ele se encontra — dedicar-se à elaboração de trabalhos didáticos
e de vulgarização (que não é comercialização, nem corrupção do saber
científico)
científico) — acessíve
acessíveis
is ao grande públi
público.
co. Cumpre salientar, n
neste
este
sentido, a valiosa contribuição que o INSTITUTO BRASILEIRO DE

 M E U N EO T O M ISM O 249

FILOSOFIA, a SOCIEDADE BRASILEIRA DE CULTURA (Convivium)


e, mais recentemente, a SOCIEDADE BRASILEIRA DE FILÓSOFOS
CATÓLICOS vêm prestando à cultura filosófica brasileira, enquanto
 procur
 pro curam
am,, atrav
atr avés
és da realização
realiz ação de congressos,
congr essos, semana
sem anass interna
inte rnacio
cionai
nais,
s,
reuniões e conferências, não apenas possibilitar o surgimento de um
clima propício
propíc io à pesqu
p esquisa
isa e reflexão filosófica — através
atrav és do diálogo
entre aqueles que trabalham no mesmo campo do saber — como
ainda alargar o âmbito de ação da Filosofia de tal forma que, rom
 pendoo o limitad
 pend lim itadoo círculo dos especia
esp ecialistas
listas,, possa
po ssa ela at
atin
ingi
girr também,
tamb ém,
de modo eficaz e proveitoso, os iniciantes e "filosofantes”, isto é, um
 públicoo não-especializado.
 públic

IV.3. — Filosofia e filosofias

 No mundo
mu ndo hodiern
hod iernoo não há mais condições
condiçõe s p a ra a existênc
exist ência
ia de
uma única corrente
um diálogo sério efilosófica. A reflexão
proveitoso, abrir-se deve, portanto,
a todas através do
as correntes de
 pensa
 pe nsame
mento
nto mode
mo derno
rno e contemp
con temporân
orâneo.
eo.
Importa, portanto, conforme já salientamos, que o neotomismo
atual, ao mesmo tempo que se mantém fiel aos princípios da dou
trina do Aquinatense, esteja em condição de manter um diálogo
vivo e profundo com o pensamento filosófico contemporâneo.

IV.4. — Filosofia e ciências experimentais

As teses fundamentais da Filosofia surgem a partir do fenômeno


do bom senso,
senso, do fato físico
físico tal qual aparece, imediatamente, a
todo homem atento. Ë a partir deste que o filósofo elabora o fenô
meno técnico-filosófico que é o fato real, descrito por meio de noções
elaboradas pela reflexão metafísica ou física. Os dados científicos
são, entretanto, úteis à reflexão filosófica, subministrando-lhe uma
confirmação das teses fundamentais por ela estabelecidas. Por outro
lado, penso ser possível o repensar da Filosofia da Natureza a partir
das categorias científicas e creio mesmo que esta é uma das mais
importantes missões do neotomismo contemporâneo.

IV.5. — O papel da Filosofia na humanização da  


civilização atual
O pensamento moderno e contemporâneo, de Descartes a Kant,
de Kant a Hegel, de Hegel a Heidegger e a todas as formas do existen
cialismo ateu, orientou-se no sentido de separar o homem de sua

250 FERN AND O ARRUDA C AM P O S  

Fonte criadora, divinizando-o e constituindo-o centro da indagação


filosófica. Esqueceram-se, no entanto, tais pensadores de que o homem
só é grande, quando reconhece sua pequenez e sua miséria em face
do Absoluto.
Humanizar significa, antes de tudo, elaborar uma noção exata da
 pessoa
 pes soa huma
hu mana,
na, de seu constitu
con stitutivo
tivo metafísico
meta físico,, de sua realidad
real idadee
espiritual. É preciso que se evitem todos os desvios e as deturpações
da realidade para se chegar a uma genuína concepção da natureza
humana: ao conceito do homem como o ser que sintetiza, em seu
corpo, toda a perfeição dos graus inferiores dos seres materiais e
que se abre, por sua alma espiritual, substancialmente unida ao
corpo, ao imaterial e ao Absoluto.
Só uma
um a doutrina
dout rina do humanismo
hum anismo integral, que le
leve
ve em conta a
natureza material e espiritual do ser humano, pode dar ao homem
a consciência plena de sua verdadeira dimensão humana.
Humanizar significa, assim, para o homem, reconhecer-se como
“e-sistente”,
“e-sistente”, ser aberto
abe rto ao mundo,
mund o, capaz de elevá-
elevá-lo
lo ao nível do
do
Outro; ser, enfim, que, superando a relação Eu-Tu, é capaz de atingir
seu Ideal, a Fonte de seu ser, em direção da qual se encontra, natu
ralmente, ordenado.
O mundo ministra ao homem o material de seu conhecimento,
ao mesmo tempo que constitui seu palco de atividade. O homem
humaniza-o, criando valores, transformando a matéria, imprimindo
nela a marca de seu espírito. É exatamente enquanto faz existir os
valores no mundo, que a pessoa humana se realiza como valor; abrin
do-se
do-se p ara
ar a o mundo,
mun do, objetivand
obj etivando-se
o-se nele, conhece-se
conhece-se o Homem
Hom em como
tal: conhece-se, enquanto pessoa, a partir de sua situação de ser-no-
-mundo.
Abre-se o ser humano, deste modo, ao mundo, não apenas enquan
to este é, para ele, objeto de conhecimento, mas ainda enquanto,
agente criador de valores, transforma-o pelo seu trabalho. Este
é, desta maneira, ,o meio pelo qual o homem se dirige ao Outro,
 procu
 pro cura
rand
ndoo atingi-lo
atingi-lo em su
suaa inte
in terio
riorid
ridad
adee impenetr
impe netráve
ável.l. Mas é o
amor que vivifica o trabalho, enquanto, através dele, descobre
o homem a presença do Outro em seu próprio Eu. O amor é, assim,
a um só tempo, entrega e acolhimento. É entrega porque o amante
se dá a si mesmo, qual meiomeio oferecido ao amado, a fim fim de que
que
viva nele uma nova vida; é acolhimento que, entretanto, não supõe
indigência, passividade, mas plenitude, sobredeterminação, excesso de
existência que, não podendo ser empregada nos limites da natureza
 parti
 pa rticu
cula
larr do ser, faz com que este, sem nada
na da perd
pe rder
er de sua imanência
iman ência,,
 perman
 perm aneça
eça disponível
disponíve l para
pa ra o Outro.
Outro . Este
Es te aparece-lhe, então, qual

 MEU
 MEU NEOTOMISMO 251

figura viva,
viva, por quem está disposto a sacrificar
sacrificar até sua vida,
vida,
 pois que sabe reconhe
reco nhecer
cer nele a imagem
image m do Absoluto.
E visto que esta união se realiza, no mundo, a humanização deste
e,
de para
si a ele,
seus oirmãos,
mais profundo e fundamental
na luta por “compromisso”:
estrutura e condições de vidao mais
dom
humanas. É, pois, “comprometendo-se” no mundo, que o ser humano
se une ao Absoluto e se projeta para a paz de Deus, onde encontra a
realização plena e harmoniosa de sua natureza humana, sua eterna
e perene felicidade.
Esta é, segundo creio, a maneira mais profunda e autêntica de
experimentar-se o homem como existente: abrir-se ao mundo e,
através do trabalho no mundo, abrir-se ao Outro, reconhecido e
amado como a imagem real e autêntica do Ideal, conhecido e amado
em cada ato de conhecimento e de amor do Outro. E, porque esta
abertura se dá através de um ato de conhecimento e de liberdade
que, realizando se no tempo, permite, concomitantemente, ao homem,
 projet
 pro jetar-
ar-se
se p a ra além do tempo,
tem po, em direção
dire ção à Liberdade,
Liberda de, Fonte
Fon te de
toda liberdade, o ato livre, no qual e, pelo qual, o homem se experi
menta como existência presente, é também a assunção de seu passado
e a projeção deste em direção à sua existência futura.

IV.6. — A Filosofia Nacional e o pensamento  


filosófico estrangeiro

Todo autêntico filosofar é um esforço reflexivo e não apenas uma


simples e banal repetição do pensamento alheio. Mesmo numa filo
sofia de importação,
estrangeiras, em que
em detrimento se verifica ea criatividade,
da originalidade reprodução há dassempre
teses
uma assimilação vital do pensamento alheio, revestindo-se a exposição
de um colorido peculiar, próp
p róprio,
rio, que o distingue, de de certo
c erto modo,
do pensamento originário.
 Não se deve, porta
po rtant
nto,
o, ao que me parece,
parec e, meno
me nospr
sprez
ezar
ar a obra
ob ra
 produ
 pro duzid
zidaa por
po r nossos
nosso s pensad
pe nsadore
ores,
s, ainda
ain da que perte
pe rtenc
ncen
entes
tes à fase de
autodidaxia.
Ademais, penso que a Filosofia, que se desenvolve no Brasil de
hoje, começa, através da reflexão sobre sua história, a tomar cons
ciência de si mesma, de suas falhas e limitações, bem como de suas
reais possibilidades e efetivo valor.
Por outro lado, na avaliação do pensamento filosófico atual do
 país, deve-s
deve-see comp
co mputa
utar,
r, como fato
fa torr relevante,
releva nte, o papel exercido
exe rcido pela
Universidade, no seio da qual se situa a Faculdade de Filosofia.

2 52 FERNANDO ARRUDA CAMPOS 

 Na verd
verdade,
ade, o sa
sabe
berr filosófic
filosófico,
o, que se co
cons
nstitu
tituii e se desenvolve
em moldes realmente científicos, encontra na Faculdade de Filosofia,
integrada na Universidade, seu clima natural de vida.
Desenvolvendo-se, portanto, no seio de nossas faculdades de Filo
sofia, estruturando-se, segundo as exigências do saber científico, a
reflexão filosófica, que se realiza no Brasil de hoje, encontra-se em
condições de produzir obras de real valor e originalidade no campo,
que lhe é peculiar.
Entretanto, a fim de que se possa falar, em sentido próprio, de
Filosofia Brasileira,
Brasil eira, é preciso que o filosofar, qu
quee nasc
nascee e cresce,
em nossa Pátria, seja uma reflexão estruturada em bases autenti
camente nacionais, de modo que, sem negar a universalidade do saber
filosófico, brote das mais profundas exigências da Nacionalidade.
Deverá este saber estruturar-se na unidade orgânica de nossa
cultura e orientar-se no sentido de uma vasta e profunda compreensão
desta. Deverá, ainda, num esforço contínuo, a fim de penetrar-lhe a
essência, atingi-la, naquilo que ela possui de realmente válido e
valioso, estando, deste modo, apto a apresentar, segundo a visuali
zação própria a seu objeto formal, soluções para os problemas dela
emergentes.
Cabe frisar, aqui, a valiosa contribuição que vem prestando neste
sentido a Sociedade Brasileira de Filósofos Católicos, a qual, con
gregando
gregan do uma elite de pensadores nacionais, unidos po porr um idênti
idênticoco
amor à verdade e irmanados na mesma fé cristã, está apta a cola
 bora
 bo rar,
r, de modo eficaz e rea
realme
lmente
nte en
enriqu
riquece
ecedo
dor,
r, p a ra a con
constitu
stituiçã
ição
o
de um saber filosófico de bases autenticamente nacionais.

IV.7. — A reflexão filosófica e sua abertura para  


uma visão transcendental da realidade,  
na perspectiva das razões metafísicas

Penso que a reflexão filosófica deva, necessariamente, abrir-se a


uma visão transcendental da realidade, na perspectiva das razões
metafísicas. A Filosofia sem Metafísica seria, a meu ver, semelhante
a um corpo sem aalma.
lma. Foram as razões metafísicas que deram vigor
e vitalidade às grandes sínteses do pensamento antigo e medieval,
quer permitindo-lhes transcender os estreitos limites dos quadros
espácio-temporais, em que nasceram e se desenvolveram historica
mente, quer possibilitando-lhes nova vitalidade e pujança no espaço
cultural, em que se desenvolve o pensamento moderno e contem
 porâneo.
 porâ neo.

 MEU NEOTOMISMO   25 3

 Não creio, en
entr
tret
etan
anto
to,, que toda
to da refle
reflexão
xão metafí
me tafísica
sica,, n a época
atual, para ser autêntica, deva ater-se aos estreitos quadros da Crí
tica da Razão Pura. Importa transcender o mundo das idéias e das
essências puras e ingressar na própria realidade transubjetiva.
Julgo, ademais, que a posição de um Absoluto de exigência
reve
revela
la-s
-se,
e, no final do pró
próprio
prio processo dialé
dialético
tico,, qual imperiosa
impe riosa ne
cessidade de superamento da essencial inadequação existente, entre o
dinamismo da intenção da consciência, infinita, porque voltada a todo
objeto possível, e a expressão dos objetos, finita, porque circunscrita
aos horizontes do mundo.

IV.8. — A Filosofia e seus temas fundamentais

A Gnosiologia é o ponto de partida da Metafísica. Ela nos intro


duz, através da reflexão crítica sobre o valor de nosso conhecimento,
na realidade transubjetiva, no mundo do real. A metafísica é a ciência
do ser considerado enquanto tal — tanto do ser indeterminado quanto
do S er subsistente
subsis tente — e o sser
er é, antes de mais nada, ato de existir,
existir,
esse,  portanto, perfeição real.
A p a rtir
rt ir da Ontolog
Ontologia,
ia, a reflex
reflexão
ão me
metafís
tafísica
ica lleva
eva-no
-nos,
s, assim, à
inteligibilidade radical da natureza humana e ao conhecimento ana
lógico do Ser subsistente. Por outro lado, o conhecimento do homem
como ser inteligente e livre e a afirmação da existência do Ser
supremo constituem as pilastras fundamentais, em que se apóia a
Ciência Moral.
Moral. A Metafísica desemboca, assi assim,
m, n a Moral;
Moral; a teor
te oria
ia
ordena-se à prá prática
tica.. Fa
Faz-
z-se,
se, contudo, neces
necessário
sário aqui, em face da da
importância do assunto, uma precisão maior dos conceitos, um de
senvolvimento mais pormenorizado da matéria.

IV.8.1. — A Gnosiologia

Assumo, em Teoria do Conhecimento, posição francamente rea


lista, não de um realismo ingênuo, mas reflexivo e crítico.
 No início da aná
análise
lise reflexiva, descu
descubro-me
bro-me como su sujei
jeito
to que,
 porr um ato de inte
 po intencion
ncionalida
alidade,
de, se coloca em face do ob
objeto
jeto enqu
en quan
anto
to
nega sua total identificação com ele. O objeto é, então, algo que se
coloca diante de mim — Gegenstand   — como portador de signifi
cações, algo que possui, por conseguinte, a estrutura de um eidos, 
de uma essência,  cuja estrutura assume, para mim, a forma de
fenômeno. No próprio ato pelo qual intenciono o objeto, conheço-me
como sujeito intencional do universo de significações.

254 FERNANDO ARRUDA CAMPOS 

Inicia-se aqui a reflexão filosófica, a partir do momento em que


se começa a inquirir, em tomo do objeto, sobre a origem e o funda
mento das significações e, em torno do sujeito, sobre a origem e o
fundamento do ato que assume, para si, as significações.
É também aqui que se coloca a opção por uma solução realista
do problema crítico, como exigência da própria inteligibilidade radical
do fenômeno
fenômen o e do ser, posição do do fenômeno. Ela decorre
deco rre da impos
im pos
sibilidade de se conceber o fenômeno qual objeto puro, algo posto
como ser (desde o momento em que se pensa algo como objeto) e,
ao mesmo tempo, separado do ser (desde o momento em que se
 pensa
 pe nsa algo como objeto
obj eto puro
pu ro).
). Ela deco
de corre
rre também
tam bém da impossib
imp ossibili
ili
dade de se colocar a existência entre parênteses, de se praticar aqui
a "Einklammerung”” (colocação entre parênteses), de se pensar o ser  
e, ao mesmo tempo , recusar-se pensápen sá lo eenqua
nquanto
nto ser.
ser.

 Na verdade,
verd ade, conform
con formee nota
no ta com prop
pr oprie
rieda
dade
de Jacqu
Jac ques
es MariUi
Mar iUin,
n,
afirm ar o objeto como
como ser é afirmar
afirm ar algo
algo,, relacionado
relacionado com o ato
de existir — esse — algo que é. Julgar é colocar na existência
(real ou possível) uma coisa, em que se identificam dois objetos de
 pensam
 pen sament
ento,
o, pensa
pe nsado
doss como fo form
rmalm
almen
ente
te distinto
dist intos.
s. Quando julgo,
realizo sobre meus noemata,  no seio de meu pensamento, uma ope
ração, que não tem sentido, senão enquanto estes noemata  são inten
cionados por mim enquanto referidos à maneira pela qual existem
(pelo menos possivelmente), fora de minha consciência.
A solução do problema do conhecimento compete, pois, à reflexão
crítica. Esta deve transcender a síntese categorial, o plano predica-
mental
mento, aestrito
fim dedaelevar-se
síntese adeumconceitos,
último e tal qual se
supremo realiza
plano no julga
de unificação,
não estático, mas dinâmico, analógico e metacategorial, em que o
ser aparece, em sua natureza de ato existencial, em sua característica
existencial, visto qual termo extramental.
É preciso salientar que não se desenvolve este plano na linha
da limitação formal ou da essência, mas da finalidade, em que a
essência, o "dado” é inserido no plano da existência, referido ao ato
existencial, visto qual termo extramental.
É, portanto, no juízo, enquanto tem este por termo próprio não a
natureza ou a essência — plrno da limitação formal — mas o ato
existencial, que a inteligência exprime, formalmente, sua conformi
dade com o objeto, constituindo-o, desta forma, em seu ser de
objeto", libertando-o das condições subjetivas de assimilação.

 MEU NEOTOMISMO 255

IV.8.2. — A Metafísica

Para mim, a Metafísica tem por objeto o conhecimento do ser


enquanto
que tal: o ser no
está entranhado queexperimentável,
não pode ser constituindo-lhe
objeto de experiência,
a mais mas
ínti
ma essência; o Ser inexperimentável, que ultrapassa o plano empírico;
o ser indeterminado ou geral, que pentra e domina todo ente e o
Ser subsistente, infinito e divino, criador de todo ente finito. Ela é,
 portan
 po rtanto,
to, a um só tempo, Ontologia (enqu(en quan
anto
to conside
con sidera
ra o se
serr como
ser) e Teologi
Teologiaa natura
na turall (enquanto tra
t rata
ta do Ser subsistente).
subsisten te).
Considerando, por conseguinte, o ser enquanto tal, visa a Metafísica
a solução das aporias fundamentais da Filosofia, surgidas da oposição
dialética das categorias: uno-múltiplo, na ordem da essência; ser-não
ser, na ordem da existência, resolvendo-as numa síntese última, defi
nitiva, no Absoluto, que surge qual exigência de inteligibilidade
radical do próprio ser.
O Aquinatense, unindo a agudeza e profundidade de sua inteligên
cia, leu, no texto escriturístico — Êxodo 3,13-14 — não, de igual forma
que Agostinho,
Agostinho, a imutabilida
im utabilidade
de divina,
divina, mas o ato puro de existir,
descobrindo a sublime verdade,  que haveria de ser a “chave do
segredo” para a solução do problema do ser. Esta verdade, excelsa
e profunda, possibilitou-lhe a elaboração de uma filosofia do ser
que, porque mais compreensiva e mais profunda que a do Estaglrita,
haveria de se afirmar, com perene vitalidade, através dos séculos
vindouros.
Para Santo Tomás, o ser não é apenas um dos nomes de Deus,
mas sua própria essência metafísica. Deus é, para ele, o próprio
Ser subsistente, o  Ip  Ipsu
sum
m Esse Subsiste ns.   O Ato puro
Sub sistens. pu ro,, o  Noesis 
Noesi s  de Aristóteles, transforma-se assim, em sua filosofia,
 Noeseos Noesis
no próprio Ato de existir subsistente —  Esse Subsisten s,  constitutivo
Sub sistens,
da essência divina. Esta inefável realidade é a perfeição de todas as
 perfeições,
 perfeiçõe s, a atu
atuali
alida
dade
de de todo os atos. É ela o Ser realíssimo
realís simo,, o
qual torna a realidade inteligível. “As coisas existem, em virtude do
existir
ex istir divino, como a luz solsolar
ar existe
ex iste em virtud
vir tudee do sol”. A Criação,
como muito a propósito ressalta Gilson, nada é do que a comu
nicação de perfeição, um ato que, “partindo do Ato do existir,  Esse, 
termina, direta e imediatamente, no ato de existir”.

A Metafísica do Doutor das Gentes é, desta forma, eminentemente


realista e existencialista. O ser fundamentador, fundamento de todos
os seres, é a própria Realidade subsistente —  Ens Realissimu m.  Mas
Realis simum.
esta Realidade é o Ato Ato puro
pu ro de existir
exis tir subsistente,
subsis tente, do qual todo

256   FER
FERNANDO
NANDO ARRUDA CAM
CAMPOS 
POS 

ato de existir criado, perfeição última do ente, é   uma participação.


 Não apenas
ape nas o vir-a-ser é inteligível, m as o próp
pr óprio
rio ser, visto que
todos os seres, naquilo que são em sua essência e em seu agir,
existem como do  Ser, no  Ser e  para  o Ser.
Destarte, o ser que se desvela no ato de julgar, na cópula do
 julgam
 julg amento
ento,, como a alma
alm a da síntese
sínt ese judic
ju dicat
atór
ória,
ia, não é   apenas um
elemento de síntese conceituai mas, antes de tudo, ato existencial,
ato de existir, esse.  A síntese categorial, formal e predicativa conduz,
deste modo, à síntese metacategorial e transpredicativa, em que se
desvela o ser, ato existencial, posição e plenitude e, portanto, fim
 pa
 p a ra o espírito.
esp írito.
Aberto ao ser enquanto tal, é o homem o único ser mundano capaz
de "dizer” o ser; é ele, portanto, o logos  do ser, a “locanda”, a
clareira onde se manifesta o ser em sua alétheia.

Masdao ser
limites que sequal
essência, manifesta
posiçãoao da
homem,
sínteseque
dosse conceitos,
desvela nosnãoexatos
é o
ser em sua totalidade; o ser, ato de existir, esse, escapa-nos sempre,
em cada ato em que procuramos apreendê-lo: ele é, desta forma, um
 puro
 pu ro horiz
ho rizont
ontee de inteligibilida
intelig ibilidade,
de, aquilo em cuja
cu ja luz toda
to da essênci
essê nciaa
se toma luminosa, em cuja consistência todo ente se torna consistente.
O ser, ato existencial, manifesta-se, portanto, ao homem ao mesmo
tempo que se esconde em sua Essência, em sua Alétheia, e se esconde
ao mesmo tempo que se manifesta. É o homem, por conseguinte,
o pastor e não o senhor do ser: experimentando-o, fundamento
do ente é, entretanto, incapaz de experimentá-lo na inexaurível ri
queza de sua totalidade.
 Não pode, deste
de ste modo, o ser
se r reduzir-se
reduzir- se aos limites
limite s es
estre
treito
itoss da
essência. Proceder desta forma, tomá-lo essência, é dissimulá-lo e
na dissimulação está o desconhecimento do verdadeiro sentido do ser.
Assim, a fim de se conhecer o verdadeiro sentido do ser, impe
rioso se faz transcender o plano meramente fenomenológico e, pas
sando ao nível ontológico, descobrir o ser, posição do fenômeno,
aquilo que lhe dá sentido e consistência.
Recusando o espírito sua natural condição de e-sistente , de ser
aberto ao Ser, enclausurando-se numa fenomenologia do eu, experi
menta o vazio de sua idéia e, finalmente, o vazio de si mesmo, de
sua existência tornada idéia; experimenta o seu nada, o nada que
"absorveu” o ser, porque relegouse ao esquecimento o sentido do
ser. É este, com efeito, ao que me parece, o caminho que, em suas
últimas consequências, leva à destruição do ser e do próprio espírito

 MEU NEOTOMI
NEOTOMISMO
SMO   257

que, ser, logos do ser, esqueceu o sentido deste, preferindo antepor-


-lhe o nada de sua existência reconhecida absurda.
Para o homem, que é espírito, o caminho da Salvação é o caminho
do Ser. Não somos um ser-para-a-morte,  mas um ser-para-a-vida.  Ê
 porta
 po rtant
nto,
o, na realização
realiz ação,, no dom e no aco
acolhim
lhimento
ento do ser que o homemhom em
se realiza, autenticamente, enquanto ser. Para ele, abrir-se ao ser sig
nifica, com efeito, possuí-lo na autotransparência do conhecimento
espiritual de sua inteligência e amá-lo por um ato de autodetermi
nação de sua vontade livre. Isto, contudo, só se verifica na medida
em que elevando o ente mundano mun dano ao ser, eleeleva
va-o
-o,, por
po r este mesmo
ato, ao Ser subsistente, implicitamente afirmado em cada ato de
 posição
 posiç ão do seserr finito;
finito ; e, na medid
me didaa em que assim
ass im proced
pro cedee eleva-se
eleva-se a
si próprio ao nível do ser indeterminado e, de modo implícito e
tendencial,
tendenci al, ao
ao do Ser subsistente, conhecido
conhecido e amado em cada ato
de conhecimento e de amor do ser finito.
Exige, por conseguinte, a experiência ontológica, na linha “sub
 jetiv
 je tiva”,
a”, a aut
autop
opos
osse
se do es
espír
pírito
ito enqu
en quant
antoo ser, sua autoconsc
autoc onsciênc
iência,
ia, con
seguida através do poder de reflexão completa da inteligência, e sua
autodeterminação, realizada através do exercício livre de sua vontade;
na linha objetiva — enquanto se procura justificar a atribuição do
ato existencial a um ser finito como sua perfeição última — a refe
rência à Subjetividade e à Existência infinita: elevando o ente a
seu fundamento, refaz o espírito humano o Ato da Inteligência e da
Vontade infinitas, no qual todo ente é pensado e amado em seu
 próp
 pr óprio
rio Fund
Fu ndam
ament
ento,
o, em susuaa pr
próó pr
pria
ia Razão fund
fu ndam
amen
entad
tador
ora.
a.
Mas, porque o homem se encontra no ponto de convergência de
dois mundos — o da existência bruta e opaca, onde não há lugar
 p
 paa ra a liberda
libe rdade,
de, e o da Libe
Liberda
rdade
de su
subsi
bsiste
stente
nte,, Ato
Ato de exist
ex istir
ir
subsistente — compete-lhe a liberdade, nas condições precárias de
algo não definitivamente possuído, mas que, de modo diverso, deve ser
constantemente conquistado. Ê exatamente, na abertura ao ser,
ato existencial, esse,  ao ser indeterminado,
indeterminad o, que constitui
c onstitui o fun
fu n
damento de todo ente e ao Ser subsistente, implicitamente afir
mado na posição de cada ente enquanto ser, que o homem encontra a
via de acesso à verdadeira liberdade e, portanto, à realização plena
de sua existência autêntica.
 Na verd
verdade,
ade, é o segredo
segred o do Ser que, dando
dand o vida e se
sentid
ntidoo ao
espírito, a cada ato realmente livre, nos salva do nada, que caracteriza
a contingência de nosso ser finito. Por outro lado, o caminho do
Ser permite ao homem superar o medo e a angústia, que lhe corrói
a existência, eis que a Plenitude, penetrando-lhe no mais íntimo do

258 FERNANDO ARRUDA CAMPOS 

ser e acendendo, aí, o fogo poderoso e constante de um "eros” interior,


não lhe indica apenas o caminho da Salvação, como o conduz ainda —
desde que haja, por parte do espírito, a real disposição de aceitar,
com humildade, o dom do Ser — pela força e eficácia de seu poder,
à visão amorosa do Ser subsistente e, consequentemente, à reali
zação plena do homem, enquanto pessoa humana.
Colocada em tais perspectivas, a Metafísica, núcleo central,
tema axial, do pensar filosófico, é o centro luminoso, que ilumina
todas as outras ciências filosóficas, as quais se estruturam a partir
deste centro.
Assim sendo, o problema do ser da natureza (Cosmologia) e o
do ser humano (Antropologia Filosófica) só poderão ser suficiente
mente resolvidos e elucidados à luz da ciência do ser, enquanto tal.
Isto é, de igual modo, válido para a reflexão filosófica, entendida
como investigação sobre o fundamento das diferentes ciências (Filo
sofia da Matemática, da Reli
sofia Religi
gião,
ão, da AArte
rte,, do Direit
Direito
o e tc .. .) .
 Neste senti
sentido,
do, creio ser co
corr
rreto
eto af
afir
irm
m ar que sem MetaMetafísica
física não
 pode ha
have
verr Filos
Filosofia
ofia e sem um concei
conceito
to exa
exato
to da ver
verdad
dadee do ser
não pode haver Filosofia verdadeira.

IV.8.3. — A Moral

Assumindo, diante do problema moral, postura nitidamente neo-


tomista, julgo existir também aqui a necessidade de um repensa-
mento e de uma reelaboração dos princípios da moral tomista tra
dicional,
dicional, em face das exig
exigências
ências do pen
pensame
samento
nto modern
modernoo e conte
contem
m
 porâneo
 porâ neo..
Esta reelaboração deverá começar, segundo creio, por uma refle
xão sobre a história do pensamento moral, numa tentativa de não
apenas descobrir o valor de verdade, existente nas diferentes soluções
apresentadas ao problema ético, como ainda de avaliar o próprio
valor de verdade da moral tomis
tomista,
ta, o qual se manifesta, a meu v ver,
er,
no equilíbrio das soluções apresentadas, permitindo evitar o radica
lismo das posições extremadas de uma ética que, ignorando a natureza
espiritual do homem, visse nele apenas o aspecto de animalidade ou
que,
qu e, omitindo o aspecto animal e material,
materia l, tendesse a transformá-lo
em anjo.

As investigações realizadas neste sentido pelo neotomismo atual,


sobretudo por J. Leclercq e J. Maritain, parecem-me de suma valia
 par
 p araa o pen
pensam
sam en
ento
to neoto
ne otomi
mista
sta con
contem
tempor
porâne
âneo.
o. O que se visa, ne
nest
staa
 prim
 pr imeir
eiraa eta
etapa
pa da ree
reelab
labora
oração
ção da Moral nã não
o é, na verdade,
verd ade, a siste-

 MEU
 MEU NEOTOMI SMO   259

matização científica, a composição de um tratado completo de Filo


sofia Moral; deseja-se, de modomod o diverso,
diver so, “sanar   o terreno e abrir
avenidas, marcando articulações essenciais, determinando a ordem
moral das questões que uma ética autenticamente filosófica (uma
filosofia moral integralmente fundada na razão) terá de examinar”.
A reelaboração da Ética, no neotomismo atual, deverá, além de
manter estrita fidelidade ao espírito do pensamento moral do Aqui-
nense, corresponder às exigências fundamentais do homem de hoje,
no plano
plano ético.
ético. Ela terá, destarte,
d estarte, de abrir
ab rir se
se,, num esforço constante
de aprofundamento dos princípios éticos, em contínuo e profícuo
diálogo, ao pensamento moderno e contemporâneo.
Tendo por objeto de estudo o estatuto normativo do agir humano,
esta Ética, elaborada à luz do tomismo, terá que rejeitar todo “extrin-
secismo moral”. Um ato humano é moralmente bom ou mau por
si mesmo, independentemente de todo julgamento exterior que o
declare tal, de toda lei que o permita, ordene e defenda. Ela terá, de
igual modo, de recusar toda solução que procure fazer consistir a
 bondad
 bon dadee do ato humano
hum ano na aptidã
ap tidãoo deste
des te a prop
pr oporc
orcion
ionar,
ar, dire
di reta
ta ou
indiretamente, a felicidade, a plena satisfação do agente, quer seja
esta felicidade colocada no prazer sensível (hedonismo) ou no bem
humano, naturalmente completo (eudemonismo racional), quer, enfim,
seja posta num bem cujo gozo esteja reservado à vida futura (eude
monismo escatológico).
Da mesma forma, não irá ela auferir a bondade do ato humano,
tomando por critério a relação deste com o bem dos outros ou da
sociedade, a aptidão do ato “bom” de aumentar o bem-estar existente
no mundo, de favorecer a coesão e a prosperidade social.
Finalmente, a Ética de inspiração tomista irá rejeitar as posições,
que caracterizam as éticas cósmicas e biológicas, nas quais aparece
o universo como fundamento, condição e medida do ato moral.
Em sua reelaboração sistemática, aparecerá a moral tomista qual
ética de razão aberta, em que liberdade e razão estarão em mútua
dependência.
Tomando por centro de investigação o valor moral do ato
humano, deverá esta Ética apreciá-lo segundo a correspondência deste
ao julgamento da reta razão — da razão fiel à sua essência, a seu Ideal,
  da razão
razã o que se exerce racion
rac ionalm
almente
ente,, segundo
segund o su
suaa legislação
imanente e, portanto, que não se aliena, subordinando-se a alguma
lei estranha. Esta Ética irá mostrar, por conseguinte, que a corres
 pondên
 pon dência
cia do valor
valo r ao Ideal
Ide al é, de modo
mod o idêntico, corre
co rrespo
spond
ndênc
ência
ia à

260 FERNANDO ARRUDA CAMPOS 

razão reta, que visa a este Ideal, estando aberta para o Absoluto. A
 prim
 pr imeir
eiraa corres
co rrespo
pondê
ndênc
ncia
ia é, com efeito, conhecida
conh ecida atrav
atr avés
és da segunda,
segund a,
no próprio exercício da atividade julgadora.

O valornomoral
mentação do ato visto
Absoluto, humano
qualserá, pois, que
Valor apreciado em sua
vale absolu funda
absolutamen te.  
tamente.
O ato humano será, assim, portador de valor moral, enquanto que
e, na medida em que, conformando-se à racionalidade plena, à retidão
da razão prática, estiver de acordo com o Valor que vale absoluta
mente.
Mas, se é em torno do valor moral do ato humano que se estru
tura o saber ético, necessária se faz, na sistematização deste saber,
a abordagem prévia do problema concernente ao universo de valores,
no qual se situa o valor moral. A axiologia integra-se, assim, numa
ética tomista, reelaborada segundo   exigências do pensamento atual.
es

Por outro lado, o emprego do método fenomenológico é, aqui,


de suma valia para uma descrição do universo axiológico. A análise
fenomenológica leva-
leva-nos
nos,, assim, à descrição fenomenológica do valor,
visto como o bem, considerado, na ordem da especificação, o
desejável, o amável, cujas palavras adquirem sentido, para nós,
através da experiência do desejo e do amor. É ainda aplicando-sé
este método, que nos será possível conhecer a riqueza de aspectos,
através dos quais se manifesta o fenômeno do valor.
O plano fenomenológico
fenomenológico não dev devee ser
s er tido, contudo, fechado
à existência: ele se abre ao plano ontológico, que o prolonga e
complementa. É, na verdade, neste último, que se desenvolve a reflexão
ética em sentido estrito. A análise fenomenológica orienta-se, portanto,
 para
 pa ra a ontologia; a simples
simple s descrição
desc rição do fenômeno,
fenômeno , pirra o fenômeno
fenôme no
visto como ser.
O valor aparece referido ao bem e o valor moral ao bem
moral: o bem que, visto em sua essência ontológica, se apresenta
em seu duplo aspecto de realidade perfectível,  enquanto se relaciona
com o sujeito, que para ele tende ou goza de sua posse e de  perfeição  
ou acabamento que, não implicando em relação a nenhum sujeito,
repousa na plenitude do ser.
Finalmente, parece-me igualmente válido, na reelaboração da
Moral tomista, o emprego do método dialético, não, evidentemente,
de uma dialética de contradições, mas de contrários. Reaparecerão
aqui, as antinomias fundamentais do uno-múltiplo, finito-infinito e a
oposição
em perigotrágica
todo odonosso
real ideal que, conforme assinala A. Marc., põe
destino.
Compete, pois, à ciência ética, vista sob tais perspectivas, a reso
lução definitiva, tanto na teoria como na prática, destas oposições

 MEU NEOTOMISMO 261


26 1

surgidas no próprio movimento pelo qual o homem, sssumindo seu


destino, no risco e no perigo, dá um sentido à sua existência. O ser
humano projeta-se, assim, em direção a seu Ideal, na posse do qual
encontra a plenitude de seu ser e de seu agir; ordenando sua con-
duta de acordo com as regras que lhe
lhe dita a reta razão,
razão, lança se em
em
direção a seu Bem Supremo, a fim de possuí-lo pelo conhecimento'
e pelo amor, em cujo conhecimento e amor, encontrará o perfeito
conhecimento e amor de seu próprio ser.

IV.9. — O problema da objetividade e subjetividade  


em Filosofia

Como já disse, assumo, em Filosofia, posição francamente rea


lista, de um realismo crítico. Sou contrário a toda forma de idea
lismo e julgo o pensamento íilosófico ser, antes de mais nada, con
tínua e com
mamos constante ascensão
certeza,
certeza, partindao
o Ser
part indo realíssimo, dos
da existência cuja seres
existência afir
materiais,
existentes fora de nosso espírito.
Existe, contudo, na Filosofia, um aspecto subjetivo, que não
 pode ser negado
negad o nem desconhecido.
desconh ecido. Toda
Tod a ciência é, de ce certa
rta forma,
form a,
 produçã
 prod uçãoo do espírito
esp írito.. O mundo
mu ndo das essência
essê nciass abstr
ab strat
atas
as,, das vi
sualizações
suali zações eidéticas é um mundo separado da existência existência transub-
transub-
 jetiva
 jeti va que, se não a nega, dela prescin pre scinde,
de, atrav
atr avés
és do ato abstrab strati
ativo
vo
da nossa inteligência.
inteligência. Há ainda, no sabe s aberr científico,
científico, a par p arte
te de
construção subjetiva — entia rationis  como diriam os Antigos —
as quais não possuem existência real transubjetiva, mas são neces
sárias para a elaboração das ciências e que, portanto, devem ser
levadas em conta pela reflexão filosófica.
Julgo, outrossim, que o mundo da consciência, da subjetividade,
do Eu e o da realidade transubjetiva,
transubje tiva, da objetividade, possam ser
explicados através de um método didático de oposição, oposição esta
superada em seu momento supremo, na síntese definitiva no Absoluto.

IV. 10. — A Filosofia e o ateísm


ateísmoo contemporâneo

Blondel nota, com propriedade, que há, para o homem, um


dilema: “ou torna-se deus sem Deus e contra Deus ou torna-se deus
 porr Deus e com Deus”.
 po
A frase blondeliana
conseguinte, ó deveras
que meditemos sobre rica
ela. em significado. É preciso, por
Em primeiro lugar, não nos diz Blondel que o homem é deus,
mas que deve "tornar-se deus”. Há, portanto, um “vir-a-ser”, um

FERNANDO ARRUDA CAMPUS 

caminho a ser percorrido, uma história a realizar-se. Deus se coloca,


assim, no final do processo histórico, não apenas qual termo último
a ser atingido, mas, ainda, termo primeiro que dá sentido à própria
existência histórica do homem.
Em segundo lugar, é preciso salientar que a expressão “tornar-se
deus” repete-se nos dois termos do dilema, a fim de indicar que não
há, para o homem, opção entre “tornar-se” ou “não tomar-se” deus.
O homem é, na verdade, o único ser mundano capaz de experimen
tar-se espírito. Experimenta-se ele tal, enquanto e, na medida em que
está aberto ao ser indeterminado. Mas, abrir-se ao ser indeterminado
é, de modo implícito, abrir-se ao Ser subsistente, portanto a Deus.
Ao homem não é dado, pois, recusar “tornar-se deus”, visto que não
lhe é dado recusar-se a existir.
Mas o homem pode "tomar-se deus com Deus e por Deus”, ou

“tomar-se
função da deus sem humana,
liberdade Deus e contra
como Deus”. Aquideé águas.
separadora que seÉ,coloca a
na ver
dade, pela liberdade e, através dela, que o homem decide sua
existência, dando um sentido a seu próprio ser, a seu humano
existir. Note-se, ademais, que se trata de uma decisão fundamental,
de decidir
decidir-se
-se a respeito de qual será o próprio
pró prio fundamento
fundam ento da
existência.
Ressalte-se, finalmente, a correlação das preposições "sem” —
“por”; “contra” — “com”. “Tornar-se deus sem Deus” significa, para
o homem, divinizar-se por seu próprio esforço, através do fecha
mento sobre si mesmo, o que denota a afirmação do mais genuíno
egoísmo. “Tornar-se deus por Deus” significa, diversamente, ver em
Deus a causa primeira, eficiente e final de seu humano ser e agir.
Significa, além disso, afirmar a efetiva presença de Deus em cada
um de seus atos, em cada momento de sua história, em cada etapa
do processo, pelo qual e através do qual se realiza o “tornar-se”.
Enfim, “tornar-se deus contra Deus” significa, para o homem,
divinizar-se de modo a colocar-se no lugar de Deus, a declarar a
morte de Deus, a fim de poder existir como deus. “Tornar-se deus 
com Deus” significa, diversamente, ascender à plenitude de si mesmo,
convertendo-se em real imagem e semelhança de Deus. É o homem o
único ser mundano que, na qualidade de espírito, participa, por sua
inteligência, da autotransparência e, por sua vontade livre, da autode
terminação
 po
 porta
rtant
nto,
o, redo
reto mSer
tom subsistente.
ar su
suaa essência Tornar
essênc ia hu
hum an a se
m ana deus com Deus
e “realizá-la” modsignifica,
de modoo pleno,
elevá-la à plenitude, o que, entretanto, só se torna possível, na medida
em que, realizando-a através da participação do ato existencial esse,

 MEU
 MEU NEOTOMISMO   263

 po rtan
 port anto
to en
enqu
quan
anto
to existe
existente,
nte, rea
realiza
liza a per
perfeiç
feição
ão ideal, a idéia de Deus,
Deus,
da qual participa e que, em Deus se identifica com o próprio Ser
divino.
Humanismo ateu e humanismo teísta são, por conseguinte, as
duas pa
partes
rtes do d
dilem
ilema,
a, as duas opções
opções,, que se apr
apresenta
esentam
m para o
homem de hoje.
O homem é, antes de tudo, um ser espiritual; é ele, com efeito, um
espírito-no-mundo. Porque é espírito, está, por sua própria natureza,
aberto a seu Ideal, que dá sentido e consistência à sua humana
existência. Porque espírito-no-mundo, é através do trabalho que
ele se relaciona com o Outro, a cujo nível é capaz de erguer o
mundo; relacionando-se com o Outro pelo conhecimento e pelo amor,
ele se abre a seu Ideal, implicitamente conhecido e amado no conhe
cimento e no amor do Outro — Deus.
Humanismo ateu e humanismo teísta (penso, sobretudo, no hu
manismo cristão) são, por conseguinte, posições antitéticas e incon
ciliáveis.
O humanismo ateu, por mais paradoxal que possa parecer, em
face de suas expressões, preponderantemente socializantes, é, a meu
ver, a mais lídima manifestação do egoísmo, do homem que, fechado
em si mesmo, “ensimesmado” em seu eu eu,, pretende
pretend e afirm ar se
auto-suficiente; do homem que se diviniza, colocando-se no lugar de
Deus, declarando a “morte de Deus”, pois é necessário que Deus
morra a fim de que ele se torne um deus.
Assim procedendo, esquece-se ele do verdadeiro sentido do ser.
E, porque é o Ser que dá sentido, o seu fechamento coloca o homem
numa posição completamente absurda. Apercebe-se, então, do nada
que lhe corrói a existência. Recusando o Ser, entrega-se, de todo, ao
nada de ser. Visto que só o Ser pode dar sentido à sua existência,
esta lhe aparecerá sem sentido, absurda portanto.
Contrariamente, no humanismo cristão, em que o homem é a
imagem de Deus, é o próprio Ser, conseguido através da luta e do
sofrimento, que dá um sentido à existência e, portanto, uma razão à
 pró
 pr ó pr
pria
ia lu
luta
ta e ao pr
próp
óprio
rio sof
sofrim
riment
ento.
o. Mas, na pe
persp
rspec
ectiv
tivaa de um
existir sem sentido e absurdo, não há razão alguma explicativa da
existência. O hom homem
em é, aqui, relegado não apeapenas
nas à angústia, mas,
ainda, ao desespero
desespero,, eis que
que,, criado pa ra a Esp
Esperança,
erança, encontra
enco ntra
o último fundamento de seu ser e de sua existência na desilusão
e na desesperança de seu nada.

264 FERNANDO ARRUDA CAMPOS 

IV. 11. — Filosofia e Cr


Cristianismo
istianismo

 Na abord
ab ordage
agemm do pr prob
oblem
lemaa do relacio
rela ciona
name
mento
nto entr
en tree Filosofia
Filo sofia e
Cristianismo, Razão e Fé, Filosofia e Teologia, ao que me parece,
deve-se evitar toda posição exclusiva e radical, quer no sentido de
um total racionalismo — em que a razão, absorvendo a fé, acabaria
 po
 p o r divinizar-se a si pr próp
ópria
ria — quer
qu er de u m fideísmo, em que a fé,
absorvendo a razão, levaria o homem à aceitação do irracional e
do absurdo.
Filosofia e Teologia são, deste modo, ciências independentes,
radicalmente distintas, tendo cada uma um campo próprio de inves
tigação, delimitado por um objeto formal peculiar a cada uma delas.
Elas se unem, contudo, numa ordem hierárquica, em que a Teologia,
quer pela natureza sobrenatural de seu objeto de estudo, quer pela
razão formal, garantidora de sua verdade, a infalível palavra de
Deus, ocupa o plano superior.
O saber teológico desenvolve-se, assim, num plano realmente
superior ao do discurso filosófico, no qual a Verdade é transmitida,
através da Palavra infalível de Deus, ao homem elevado pela graça.
É através da Palavra que lhe são comunicadas aquelas verdades que
 poder
 po deriam
iam,, de direito,
dire ito, ser
se r conheci
con hecidas
das pela razão
razã o n at
atuu ral
ra l (por
(p or exem
 plo, a existên
ex istência
cia de Deus) e as que u ltr ltrap
apas
assa
samm todo limite
lim ite do conhe
cer humano (por exemplo, a existência de Três Pessoas na Essência
Divina).
O saber teológico é, portanto, irredutível ao filosófico, a fé irre
dutível à razão. A fé não deve ser vista, por conseguinte, qual
natural prolongamento da razão natural; se, com efeito, comple
menta
 pla
 plano a razão
no da gra çaé eporque
graça do so a eleva
sobre
brena
natu a .um plano, absolutamente superior,
tural
ral.
Penso que não se deve, entretanto, exagerar esta "irredutibili-
dade”, a ponto de tornar impossível a união e a hierarquização deste
dois planos de conhecimento, destas duas ciências.
Com efeito, tanto a Filosofia quanto a Teologia visam a posse de
uma idêntica Verdade. Segundo penso, a ordem natural e a sobre
natural, objeto da reflexão filosófica e teológica, são duas traduções
da mesma e idêntica Verdade, da Verdade subsistente que constitui
a própria Essência de Deus. A primeira procede através da vivência
da Verdade, experimentada pelo espírito de forma imediata, na inti
midade de seu logos — não, porém, diretamente, em sua Essência,
mas de modo indireto, qual o fundamento e razão última de seus
reflexos criados. Na segunda, a Verdade é experimentada, diretamente
em sua Essência — não, porém, de forma imediata, mas através do
véu obscuro da Palavra.

 MEU
 MEU NEOTOMISMO   265

É preciso salientar, pois, que tanto no saber filosófico, adquirido


 pela luz n atur
at ural
al da razão, qua
quanto
nto no teológico, que se desenvolve à
luz sobrenatural da fé, a Verdade nos é dada, não na plenitude de
sua Essência, na evidência total e plena de Si mesma, mas na
obscuridade, no mistério. No saber filosófico, o mistério constitui,
conforme dissemos, o fundo de todo conhecimento, de tal forma que
Ioda inquisição sobre o ser, toda problematização e todo questio
namento se colo coloca,
ca, necessariament
necessariamente,
e, sobre um fundo de mistério.
 No plan
planoo da Revelação, porporém,
ém, no que conc
concerne
erne às veverda
rdades
des dog
máticas, surge o mistério em primeiro plano. A Verdade, transmi
tida através da Palavra, aparece incompreensível ao espírito humano.
 Não que esta
es ta Verd
Verdade
ade seja, em si me
mesm
sma,
a, ab
abso
solut
lutam
amen
ente
te inc
incom
ompre
preen
en
sível. Para o Ser subsistente, que é a própria Verdade, que se possui
a si mesmo, na autotransparência e na autoterminação de sua Essên
cia infinita, o mistério não existe. Mas, o espírito humano, para quem
a Verdade é sempre uma conquista, para quem a posse da verdade se
condiciona
igualar-se a às limitações
Deus. Para ele,dea existência
sua essênc
essência
ia mistério
do finita, édenota
ele incapaz de
sua impo
tência em possuir o Ser, de modo absoluto, na plenitude de sua
Verdade.
Esta mesma tendência a possuir uma Verdade idêntica é, segundo
 parece,
 pare ce, o fun
fundam
damen
ento
to da uni
união
ão ex
exist
isten
ente
te en
entr
tree o sab
saber
er filosófi
filosófico
co e
teológico. A Filosofia deve, assim, ser vista aberta à Revelação.
Esta abertura permite um revigoramento da própria razão. Isto
se verifica, primeiramente, porque a fé pode sugerir à razão novos
aspectos de verdade e novas verdades, sobre as quais possa ela
refletir, considerando-as sob o aspecto de seu objeto formal, orien
tando, desta forma, a reflexão de modo independente da Revelação.
Em segundo lugar, porque a Revelação, mostrando a impossibilidade
de se admitir um fato, ao mesmo tempo, verdadeiro em Filosofia
e, falso em Teologia, impede que a Razão se desvie e sofra distorções
na conquista da Verdade.
Por outro lado, é preciso salientar que esta abertura é, ao que
 parece,
 pare ce, conseg
conseguida,
uida, eficaz e pe
perfe
rfeita
itame
ment
nte,
e, nu
numa
ma Filo
Filosofia
sofia es
estr
truu tu
tura
radd a
com base numa visão cristã do mundo, como acontece no tomismo.
A Filosofia começa por uma Teoria do Conhecimento que nos
introduz na Metafísica, terminando na Moral. A especulação é, assim,
orientada à prática. Mas todos os temas da Ética giram em torno
do fim últimodecisiva,
importância do homem,
vistocuja soluçãodeé, seu
tratar-se parapróprio
a pessoadestino.
humana, de
Aqui
faz-se necessário o alargamento do estreito quadro aristotélico, no
sentido de integrá-lo na visão mais ampla e mais compreensiva que

FERNANDO ARRUDA CAMPOS 

nos é dada pelo Cristianismo. Porque Deus não é apenas o Primeiro


Motor Imóvel, mas também o Criador, o fim último do homem é, antes
de mais nada, a glória de Deus, um assemelhar-se à Inteligência e
Vontade criadora, pela contemplação e pelo amor. Mas Deus, para
o qual o homem tende, o Deus que é capaz de saciar plenamente
seu desejo de felicidade, é o mesmo de Abraão e de Moisés, Iaveh,
que, através da Palavra, lhe promete mostrar-se face a face na pró
 pri
 p riaa Realidad
Real idadee de sua inefável Verdade. É o Deus que dá sentido
sen tido à
História da Salvação, enquanto o homem, transformado pela graça
sobrenatural, encontra em sua união com o Cristo, o único caminho
que o leva à derradeira paz do Imutável e do Eterno. O Deus buscado
assim — através do esforço que, numa tentativa de superar a finidade
e contingência natural de nosso espírito e a constante possibilidade
de erro, na conquista da verdade, procura ver a Fonte no espelho de
suas águas, no qual se reflete a pureza da Origem — não é outro
senão o Deus que, não contente
conte nte de “revelar se” ao espírito,
espírito , em seus
reflexos finitos, eleva-o à ordem superior da graça e lhe transmite,
de modo
eterna de direto, na infalibilidade
sua Essência divina. de sua divina Palavra, a Verdade
A Filosofia é, desta forma, vivificada e elevada pela verdade
cristã. Adquire, deste modo, à luz da Fé, um sentido novo. mais vasto
e profundo. Ela não é, então, apenas a ancilla theologiae,  mas, de igual
modo que a Verdade revelada, um raio de luz que, emanada da Fonte,
 perm
 pe rmite
ite ao homem
hom em ascend
asc ender
er à Origem. Mas aqui, diversa
div ersame
mente
nte do
que se dá no âmbito da Fé, a luz não é vista diretamente na Fonte,
através da Palavra, mas no espelho das criaturas, reflexos longínquos
e apagados da Fonte imarcescível da Luz eterna.
 

FILOSOFIA E VIDA

MEU DEPOIMENTO FILOSÓFICO HOJE


 

I. CURRICULUM
CURRICULUM VITAE

 Nasci em 3 de se
setem
tembr
broo de 1918, em São Paulo,
Paulo , SP.

Rio Bacharel em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do


de Janeiro.
Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo.
Professor do Departamento de Filosofia — Setor de Pós-Graduação
 — da Pon
Pontifí
tifícia
cia Unive
Universid
rsidade
ade Cató
Católica
lica de São Paulo.
Professor do Programa Filosofia Brasileira do Centro Católico
de Filosofia de São Paulo.

OBRAS PUBLICADAS
 A Noção de SeSerr em Maritain e Heidegger , ed. Cupolo, S. Paulo, 1955,
95 pp.
 A Filosofia no Br
Bras il , in  Histó
asil  História
ria da Filosofia Contempor ânea,   J. Hirs-
Contemporânea,
chberger, Herder, S. Paulo, 1963, 2/ ed. 1968, pp. 221 a 312.
 A Crítica Filosó
Filosófica
fica e o Livro Fatos do Es
Espír
pírito
ito Hum
Humano
ano de Gonçah 
Gonçah
ves de Magalhães, tese de doutorado, mimeografada, PUCSP, 1974,
114 pp. Microficha em IMS-Informações, Microformas e Sistemas
S. A., S. Paulo, 1975.

DIVERSOS
 Artig os: O Desafio Filosófico de Jac
 Artigos: Jackso n de Figueiredo , revista “Pre
kson
sença Filosófica”, São Paulo, 1975;  Bre
 Breves
ves Ap
Apont
ontam
ament os sobre a 
entos
Fenomenologta Pura de Husserl,   revista A Ordem , Rio, abril
de 1955;  Exis
 Existen
tencia
cialism
lismo
o e Re
Realis mo , revista “A Ordem”, Rio, abril
alismo
de 1952; Posição da Lógica, revista “Universidade”, Rio, julho de
1949; etc. etc.

270 GERALDO PINHEIRO MACHADO

Comunicações:  ao VIII Congresso Interamericano de Filosofia do


Instituto Brasileiro de Filosofia, Brasília, 1972 —  A Determina ção 
Determinação
Social das Idéias na perspec tiva de Hans Speier;  à II Semana
perspectiva
Internacional de Filosofia da Sociedade Brasileira de Filósofos
Católicos, Petrópolis, RJ., 1974 —  A Crítica Filosófica Brasile ira ;
Brasileira
ao XII
X II Congresso Mundial
Mun dial de Arquite
Arq uitetos,
tos, Madrid, 1975 — Criati
vidade Básica  (co-autoria Arquiteto Clementina De Ambrosis;
 publicad
 pub licadoo na revista
rev ista “Arqui
“Arq uite
tetu
tura
ra””, São Paulo, n.u 9, 1975, p. 79 e
segs.).
TRADUÇÕES
 A Exi
Existên
stência
cia na Filosofia de San
Santo
to Tom
Tomás
ás de Aqu ino ,
Aquino Etienne Gilson,
Duas Cidades, S. Paulo, 1962.
Tratado de Filosofia,  I.  Intr
 Introd
oduçã
ução
o Geral, Ló
Lógic
gica.
a. Cosmologia,  R.
Cosmologia,
Jolivet, Agir, Rio, 1969, 416 pp.

II. MEU DEPOIMENTO FILOSÓFICO

Posso iniciar um depoimento filosófico de teor autobiográfico


referindo o episódio de uma visita juvenil a Mário de Andrade?...
A hesitação vem de que Mário de Andrade — bem que tendo aceito
o título e o cargo de professor de Filosofia da Arte na antiga Univer
sidade do Distrito Federal (Rio, 1938) — foi na realidade o antifiló-
sofo, o heterodoxo do padrão filosófico acadêmico.
 Na rro, porém
 Narro, por ém,, a visita. Pode ocor
oc orre
rerr que p o r este caminho
cam inho inu
inu 
sitado venha a obter ao cabo um depoimento com relativa ortodoxia
no intrincado universo do schollar   de Filosofia
Filo sofia...
... Ela ocorreu nos
 prime
 pr imeiro
iross meses
mese s de 1936. Vivíamos então
ent ão — eu e outroou tross compan
com panhei
hei
ros de ginásio, todos entre os quinze e dezoito anos — dessa espécie
de espiritualidade literária,  certa forma de vida interior que rege o
relacionamento à procura de uma expressão exterior não só artística
como também vital, espiritualidade que parece alimentar desde o sé
culo passado um setor ponderável da intelligentsia brasileira.  Àquela
época líamos e relíamos o Contraponto   de Huxley. Apropriávamo-nos
avidamente de todas as edições da Livraria Globo, onde abria cami
nho Érico Veríssimo com Clarissa  e Caminhos Cruzados, onde se
esbarrava também com Chesterton — o Chesterton do Padre Brown
 — e onde as xilogra
xilo gravura
vurass de Goeldi compe
com petiam
tiam vivazmente no nosso
interesse com
com os
os textos literários. Povoavam diariamente este uni
verso adolescente Wilde, do  Re
 Retra to   e dos contos — o Wilde da vida
trato
que imita a arte — Hesse, Gorki, Pirandello, Dostoïevski, Tolstoi...
Sem dúvida Machado de Assis, Eça, Gonçalves Dias, Castro Alves,

FILOSOFIA E VIDA 271

mas os desafios nacionais eram para nós Cassiano Ricardo, Oswald


de Andr
Andrade
ade (confusamente enentrevisto
trevistos),
s), M
Mário
ário de Andrade
Andrade e . .. os
suplementos literários!

 pa rteEra
 parte da ohi quadro
histó ria depropício
stória qu
qualq uerpara
alque r br
bras  perpe
 pe
asile rpetra
iro trar 
ileiro de   aquele
r ntre
dentr soneto
e os que nos que fazia
anteced
ante cede
e
ram. Não só o fizemos como pagam pagamos os preço mais al alto.
to. Edi
Editam
tamosos
 para
 pa ra a pop
populaç
ulação
ão do entã
então
o Inst
In stit
itut
utoo de Ciências e Letra
Le trass um jo
jorn
rnal
al
 — O Símbolo   — que teve o fôlego de sobreviver, impresso em ca
racteres tipográficos, quatro a oito páginas em cada número, creio
que cerca
cerca de d dois
ois anos. Consi
Consignam
gnam essas páginas perdidas um iné
dito de Mário de Andrade — Viver   — que reproduzi em  A Filosofia  
no Brasil 1 e que Washingt
Washingtonon ViVitata iincorporou
ncorporou à admirável
admirável sísíntese
ntese
de Tendências do Pensamento Estético Contemporâneo no Brasil , -
uma de suas últimas obras.
Em tomo desse escrito de Mário de Andrade foi que se articulou
a visita querelatar
Coube-me lhe fizemos em grupo,
o encontro na sua residência,
no O Símbolo.   Como bom emrepórter
São Paulo.
no
vato, não deixei indicado um só dado concreto da entrevista — onde,
como,
com o, q ua n do ... O que se me fixofixouu porém deste paulista pouco
reverente naquela hora e meia de conversa foi o seguinte episódio.
Um dos meninos declarou a Mário que desejava ser escritor.  Ele
respondeu ao pé da letra que precisava estudar   muito muito!! A su
surpr
rpres
esaa
não foi
foi pequen
pequena. a. Ap
Aproxi
roximo
mo esta re
respo
spo sta daqu
daquela
ela dada por Manoel
Manoel
Bandeira, segundo o anedotário corrente: a um jovem poeta que
 prete
 pr etend
ndia
ia expr
exprimir
imir-se
-se em ver
versos
sos mo
moder
derno
noss livres, aco
aconselh
nselhou
ou a que
aprendesse bem a metrificação!

*   $

Haverá caminho para a passagem da idéia de uma espirituali


dade literária  à de uma espiritualidade filosófica  em que aquela1
aquela1
2

1.  G e r a l d o   P i n h e i r o   M a c h a d o , o . c ., in  Histó
 História
ria da Filos
Filosof
ofia
ia Contem
Contempo po
rânea,  J. Hirsch
Hir schber bergerger,, He Herde
rder,r, S. Paulo, 2. 2.aa ed., 1
19
968, p,
p, 29 artig o Viver  
298. O artigo
é   um
um rept
repto o endereçado à arte art e no Brasil e para o Brasil. Efetivamente o
traço dominante sobre qualquer outro da influência de Mário de Andrade
se nos afigura — assinalamos no loc. loc. cit.
cit. — o brasileirismo,
brasileirismo , tant
tantoo de inten
in ten
ção como de fat fato.
o. AntoAntonio nio Carl
Carlos os Vilaça
Vilaça observou
observou recentemente (Jornal (Jo rnal do
Brasil, Caderno B, 22-02-1975) com muita exatidão a nosso ver: “Se tivésse
mos de escolher uma tendência geral em sua obra tão variada, um aspecto
 principal,
 princ ipal, que a cara caracteri
cterizass
zassee como um conjunto, conju nto, sublin
sub linhar
haríam
íamos
os a aspira
asp ira

ção, tipicamente dela, de criar uma arte brasileira, uma obra que exprimisse
o Brasil, uma fala e até uma gramatiquinha brasileira que nunca chegou a
escrever, mas anunciou para que se percebesse que havia na sua língua tão
 própr
 pró pria
ia uma sistematic
siste maticidadeidade,, ou um rum o consciente,
conscie nte, um prog
pr ogra
ram
m a“
a“..
2. Luís W a s h i n g t o n , o . c ., Civilização Brasileira, 1967, p. 9.

272 GERALDO PINHEIRO MACHADO

função que supomos acima exercida pela literatura passa a ser exer
cida pela Filosofia e em que os espirituais   compõem outra galeria
igualmente
igualmen te respeitável
respeitá vel atravé
atra véss dos
dos séculos?
séculos? Em que a exigência
exigência de
estudo apareça
apare ça menos surpreendente?
surpreenden te? Sobretudo, haverá no Brasil
a presença de uma tal modalidade de vida espiritual?
Podem enumerar-se quatro autores que oferecem, logo à primei
ra inspeção, elementos documentais para uma análise deste tipo.
Gonçalves de Magalhães, Farias Brito (ambos optando por certa for
ma de espiritualismo no esquema espiritualismo-materialismo), Gue
des Cabral (optando por certa forma de materialismo) e Jackson de
Figueiredo. Refiro-me
Refiro-me ao primeiro
prim eiro Jackson
Jack son de  Algumas Ref
Reflexõ
lexões
es so
bre a Filosofia de Farias Brito   (1916), não propriamente ao Jackson
de Pascal e a Inquietação Moderna  (1922) que já assumira a espi
ritualidade cristã.
Dos quatro autores mencionados aleatoriamente acima, Jackson,
seguramente
lista,  mas sem o mais inteligente,
embargo o maisaointelectual,
mesmo tempo o menos
representa um caso su 
intelectua-
gestivo para a pesquisa de vez que a empresa filosófica registrada
nas  Refle xõess  destinava-se a resolver um problema pessoal.A an
 Reflexõe
gústia do ceticismo — bem característico do ambiente literário do
começo do século — afrontava o jovem sergipano, ser crepuscular  
como dizia de si mesmo, que se debatia para escapar ao niilismo e
à imobilização
imobilização da inteligência decorrente
deco rrentess da posição cética.
cética. É um
desafio clássico
clássico que apela pa para
ra a Filosofia.
Filosofia. A reflexão,
reflexão, ou as refle
 xões  como denominou Jackson,3 4 eram exig
exigid
idas
as por uma conjuntur
conjunturaa
vital.
vital. Conjuntura
Con juntura de tipo intelectual,
intelectual, por certo, neste sentido vital,
vital,
mas nada intelectual no sentido acadêmico.
acadêmico. É o caso,
caso, a nosso
nosso ver,
único na ehistória
telectual da éFilosofia
filosófico
filosófico pon to brasileira,
o ponto par tidaa em
de partid de que
uma um problema in
biografia.
Assumir a Filosofia como instrumento para medir-se com o uni
verso, para dominar talvez os duros embates cósmicos e humanos
que desafiam cada homem, constitui projeto de extrema sedução a
certo tipo de inteligência. Na idade juvenil apresenta possivelmente
a este tipo de inteligência sedução quase
qu ase irresistível. Parece não só

3. Em sentido
sentido estritame
estrita mente
nte ac
acadêmico
adêmico possivelmente
possivelmen te não caiba
caiba a pre
pr e
ferência pelo texto de Jackson por este motivo de representar o equaciona-
mento e a tentativa de solução de um problema pessoal, embora intelectual.
E mais sugestivo  quanto ao nosso ponto — Filosofia e Vida.
4. As idéias de Farias
Faria s Brito, como observa G.G. Francovich, serviram
serv iram a
Jackson para definir
evocavam-lhe as suas filosofia
as
“la dramática próprias
próp rias de
idéias.
idéias. Decla
Declarando
rando
Kierkegaard”, que asas
o crítico
 Reflexões 
 Reflexões
de língua
castelhana acrescenta: “El filósofo danés pensaba por oposición a Hegel.
Jackson de Figueiredo profunidizió sus ideas contraponiéndolas a las de
Farias Brito" (Filósofos Brasilenos,  Losada, Buenos Aires, 1943, p. 121).

FILOSOFIA E VIDA 273

 po ssibi
 poss ibilita
litarr o esta
estabele
belecim
cimento
ento de um esqu
esquema
ema de co
comp
mpor
ortam
tamen
ento
to de
finindo objetivos e regrando o relacionamento, como alimentar uma
forma de vida do espírito perdurável e progressiva.

 Não poss
posso
o dizer que a Filoso
Filosofia
fia ten
tenha
ha rep
repres
resen
entad
tado
o esse papel
alguma vez para mim de modo claro e devo admitir que não fre-
qüentei aqueles ou outros filósofos brasileiros, senão depois de con
cluída a graduação universitária em Filosofia, em 1947, na Pontifícia
Universidade
Univer sidade Católic
Católicaa do Rio de Janeiro. A tartarefa
efa filosófica já se
me apresentava então sob outra perspectiva que não essa e eu dela não
esperava, nem lhe pedia, o ônus de fornecer-me o modelo do
minador da angústia existencial, tendo passado de permeio pela con
vocação militar e pela participação na Segunda Guerra em solo eu
ropeu. Mesmo quando comecei o curso de gradua graduação,
ção, em 194
1943, cla
ramente eram a curiosidade e o interesse de encontrar os autores
e os problemas filosóficos e me inteirar de uma pressentida riqueza

humana — um esboço, quem sabe, de projeto criativo — o motivo


dominante.
Sem embargo, havia praticado antes, em 1939, um misterioso
(misterioso para a minha auto-análise) vestibular na Universidade do
Distrito
Distrito Federai papara
ra o Curs
Cursoo de F Filo
ilosofi
sofia.
a. Já me encon
encontrava
trava com
 prom
 pr ometid
etidoo no Rio com o serviç
serviçoo m ilita
ili tarr regula
reg ular,
r, mas ain
ainda
da longe da hi
 pótese de alian
aliança
ça br
bras
asile
ileira
ira na gue
guerra.rra. No qu quad
adro
ro diário
diár io da vida
de recruta, no Batalhão de Engenharia da Vila Militar não consegui
achar disponibilidade para assistir sequer a uma aula e perdi a ma
trícula. Mas o que me perg pergunto
unto hhoje
oje é que objetivos e pr proje
ojetos
tos me
teriam
teria m llevado
evado àquele Curso de Filosof
Filosofia! ia! Sei bem porqu
porquee abando
aba ndonar
naraa
em 1938 o segundo ano do Curso pré-jurídico na Faculdade do Largo
de São Francisco,
cadarias das arcadasemdebatendo
S. Paulo, se
onde os colegas
Mussolini viriadesciam
a ser easquando
belas es
o
imperador do mundo, sem prestarem muita atenção ao olhar cético,
desconfiado, talvez
talvez mesmo irônico do compa
companheiro
nheiro silencioso.
silencioso. O curso
 juríd
 jur ídico
ico deixou em cer certo
to mom
momento
ento de respon
res ponder
der às minminhahass as
aspi
pi
rações.
raçõe s. Seriam aspirações p por
or certo confusas e de difícil
difícil resposta.
A ruptura terá sido reação prematura e possivelmente carente de orien
tação, mas autêntica e convicta. E o curso filosófico, por quê? Teriam
sido — através dos caminhos secretos do subconsciente e das vocações
 — as prepreleçõ
leções
es de Hi
Histó
stória
ria da Filo
Filosof
sofia
ia do Padr
Pa dree Castro
Cas tro Nery, no
Curso pré-jurídico, os motores daquele vestibular na Universidade de
Prudente de Moraes Neto?...
De qualquer forma, além desse vestibular, interesso-me por um
nutro
nutr o registro. Na seqtiência do elan literário, depois dos sonetos,
das reportagens, dos contos e das crônicas, muito me impressionou
o fato de que os jovens ideólogos do movimento denominado inte-

274   GERALDO PI
PINHE
NHEIR
IROO MACHA
MACHADO
DO

grali st a, que surg


surgiam
iam nos nossos grupos de rapazes, emb embora
ora sem nos
convencerem, pareciam acreditar nas idéias que formulavam. Não pro
 priam
 pr iamenente
te as soluçõ
soluções
es pol
política
íticass ou sociais que pro
propu
punh
nham
am e pela qua
quall
 pugnavam
 pugn avam — algun algunss com brbrav
avur
uraa — ma
mass a cir
circu
cuns
nstân
tância
cia de que to
to 
mavam a sério as idéias,  as quais para nós eram objeto apenas de
graça e beleza, de harmonia e finura estética, o anseio e vigor com
que se jogavam contra o positivismo, que para nós era uma categoria
histórica, o fato, enfim, de parecerem conduzir uma ação em função
de algumas idéias, chamou-me a atenção profundamente. Não pude
cuidar do desafio àquela época na profundidade em que me tocara.
Mas o certo é que, entendesse como entendesse a Filosofia, represen
tasse o que ela representasse para mim, escrevi, então, em 1937, um
artigo sobre a questão da Finalidade   para o efêmero jornal do movi
mento verde-amarelo de Cassiano Ricardo e Menotti dei Picchia, que
o publicou direitinho. Não me lembro do nome do jornal. Também
não me lembro do conteúdo do artigo (e não tenho dúvidas sobre a
sua inconsistência ideática...), mas a impressão — a impressão de
autor... — que me ficou gravada é que pela primeira vez escrevi algo
que pensava realmente... ou tentava pensar.

* * *

Será a Filosofia capaz de suportar efetivamente o encargo de for


necer um quadro consistente, ao mesmo tempo flexível e eficaz, de
organização e condução da existência humana? um processo intelec
tual vivo, que alimente, amadureça e aprofunde a vida interior, que
defina de certa forma uma personalidade, ou defina uma forma de
 perso
 pe rsona
nalida
lidade
de no homem
homem,, um
umaa ma
matriz
triz de ativid
atividade
ade e rela
relacion
cioname
amento
nto??
Ë uma questão. Pode bem ser um tema no interior da Filosofia
Ocidental. Possivelmente abrirá perspectivas interdisciplinares. Inte
ressará, por exemplo, à análise existencial  do tipo Rollo May, Binswan-
ger, Viktor Frankl.
Três Outro
Outross ingredientes ssee pre
prestari
stariam
am a compor o tema. Supo
Suporta
rta
a Filosofia, ademais, o encargo de ordenar o saber, de maîtriser   a
atividade intelectual e estabelecer um modelo crítico adequado à era
científica e tecnológic
tecnológica?
a? Es
Estar
tará,á, além disso, em ccondições
ondições de fornecer
um instrumento de inteligência à atividade confiante do homem, a
este grande poder de crer   que se distende mais do que parece à pri
meira vista na contex
contextura
tura da vid vidaa hum
humana?
ana? Poderá finalmente oofe
fe
recer ao homem um tipo de apropria apropriaçãoção da realidade? Des
Desde
de que
está no mundo, o homem cria. Cria o som, a luz, o sabor, as idéias,
os enunciados, a relação vivencial. Pode ele ser senhor da sua criativi
dade?? Pode a Fi
dade Filosofi
losofiaa estabelecer modelos sapienci
sapienciais
ais ordenadore
ordenadoress
do poder criador do homem?

FILOSOFIA E VIDA   275

O tema é viável. Mas como passar do tema — e do universo in-


terdisciplinar — à vida? Algumas dificuldades, ao que parece, se
ícforçam mutuamente na linha da criação e na da comunicação.

A leitura
criatividad
criatividade e dofilosófica
homem. da Masrealidade é certamente
a Filosofia — antes umdirigir
ante s que didesempenho
rigir — pareceda
dirigida por uma opção vital anterior. Não parece ter a eficácia de
 produz
 pro duzir
ir uma
um a opção. Parece
Par ece ter
te r a capacid
cap acidade
ade de estabele
esta belecer
cer modelos
modelo s
 para
 pa ra expre
ex pressa
ssarr e para
pa ra equip
eq uipar
ar operac
ope raciona
ionalme
lmente
nte uma
um a opção que lho
c anterior e que, em parte, escapa-lhe à análise, embora em par^e
 possaa não escapar-lhe.
 poss
 Na verda
ve rdadede a categ
ca tegoria
oria Filosofia é   em si mesma uma categoria
 problem
 prob lemátic
ática.
a. Não é pequepe quena
na a dificulda
dific uldade
de para
pa ra su
surp
rpre
reen
ende
derr a sua
identidade
identida de for
f oraa do universo grego grego antigo de onde provém. Encon En con
tra-se bastante ambígua fora dele. É ambígua na cultura latina e
na cultura cristã: particularmente o é na cultura cientifica moderna
e contemporânea onde a busca do específico filosófico — da identi
dade da Filosofia, do “o que é Filosofia?” e do “o que é filosofar?”
 — é um te temm a constan
con stante.
te. E, certam
ce rtamen
ente,
te, é um abuso
abu so ocidenta
ocid entall —
 permissível, n a tura
tu ralm
lm e n te..
te .... — prprop
opor
or e pesq
pe squi
uisar
sar uma
um a Filosofia
Filoso fia
Oriental. Será quase infalivelmente uma categoria inadequada à iden
tificação do pensamento onde aparentemente ela não foi pensada nem
foi necessária.
Resta verdadeiro, não obstante, que uma estante ponderável de
documentos se constituiu ao longo dos séculos indexada sob esta ca
tegoria. Um patrimônio onde se encontram alguns modelos amadu
recidos sob a pressão de desafios persistentes. Hoje este patrimônio,
ele próprio, se nos afigura um desafio à criação que tenha êxito em
 passa
 pa ssarr do tema
tem a para
pa ra a vida.
Outro repto é a comunicação. Estão decorridos quarenta anos
depois do artigo sobre a Finalidade.  Assumi devagar, com dificuldade,
a custo — em oposição ao desembaraço e à gratuidade juvenis —
que não se há-de escrever uma linha, uma frase, uma palavra se ela
não for exigida,
exigida, reclam
reclamada,
ada, necessária. Ainda
Ainda que apenas
apen as um modesto
mod esto
apelo acadêmico... Reclamada de fora ou de dentro, ou de fora e  de
dentro. Se não for um imperativo irrecusável. irrecusável. Noutras
Nou tras condiçõe
condiçõess
escrever é vão, é inútil.
inútil. É desperdício.
Ora, este reclam o.
o..... Será possível
possível — comunicativamente — ser
a Filosofia reclamada para além do questionamento, da problemati-

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