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Antiguidade

o ser humano prudente é aquele que age como convém


A sabedoria prática ou prudência * (phronesis) constitui, segundo Aristóteles,
o princípio que permite aceder à "verdade prática". Seu exercício consiste de
fato em fazer as coisas aparecerem tais como elas são, encontrando a atitude
que convém a uma dada situação. A concepção aristotélica do ser humano
prudente* (phronimos) opõe-se assim ao relativismo do "ser humano medi­
Referências
da". Se este constitui exatamente uma medida (norma), não é absolutamente
Em vista da tripartição do saber clássico na Antiguidade (lógica, física e éti­ no sentido em que, como sustenta Protágoras, caberia a ele fixar, segundo
ca), a Ética a Nicômaco constitui a obra mais acabada da parte ética. Delimi­ sua percepção, o valor das coisas. Ao contrario, o phronimos se conforma, na
tando o campo dos assuntos humanos por exclusão da natureza e do divino, exatidão de seu juízo e de sua ação, à verdadeira natureza das coisas.
ela constitui o primeiro esforço para pensar a ação humana* de maneira
"O ser humano é um ser vivo dotado de palavra"
imanente e autônoma, reconhecendo-lhe assim uma positividade ontológi­
Esta definição, que permanecerá canônica para a posteridade, responde à
ca. De fato, Aristóteles (384-322 a.c.) faz nesta obra uma crítica de seus pre­
exigência da definição por gênero e espécie. A dimensão biológica da exis­
decessores, que veem na ação humana apenas um domínio de aplicação para
tência humana incorpora o ser humano ao gênero dos seres vivos. Da mesma
princípios exteriores, sejam eles os deuses do pensamento trágico, as formas
maneira que a planta ou o animal, ele está de fato sujeito à necessidade vital e
platônicas ou, mais pragmaticamente, as técnicas da sofística.
ao processo da geração e da corrupção. No entanto, para o ser humano, o fato
de viver "a partir da razão" (IV, I, 1119 b 15) introduz uma estreita relação
Problemática
com o tempo, com a possibilidade e com o bem, que institui uma dimensão
A pesquisa que foi feita aqui refere-se à definição do ser humano, problema
propriamente humana, irredutível à dimensão do fato biológico.
que dá lugar a duas respostas diferentes e rivais. Situando a essência do ser
humano no logos, que define o pensamento às voltas com as coisas humanas,
Aristóteles começa por assimilar o ser humano com sua atividade prática*  Conceitos
(praxis). Mas, no último livro, ao contrário, ele tende a suplantar esta resposta,
ão humana (praxis): a ação se define por dois traços principais: primeiro, ela é
identificando o próprio ser humano com seu princípio mais elevado, o espírito
Ilovimento quetem seu princípio no próprio ser humano e que depende dele,
(nous), e com seu acesso ao divino na contemplação (theoria). Desta forma, se vez que, ao contrário do movimento natural (por exemplo, o crescimento),
a dificuldade e a fecundidade da obra se encontram nesta tensão em torno da ;ulta de uma deliberação e de uma decisão; segundo, ela é seu próprio fim. Ao
questão, retomada pelo islã e pelo cristianismo, de saber se é no domínio das • :io da produção (poiesisl, que tem, como ela, seu princípio no pensamento

ações humanas ou na ultrapassagem de si mesmo para o absoluto que está a ,o, a ação não produz nada fora dela mesma e não pode, por conseguinte, ser
da como um simples meio.
verdadeira natureza do ser humano e, por conseguinte, sua felicidade.
dência (phronesis): utilizando o termo phronesis para designar a sabedo­
'ral, Aristóteles rompe com a concepção platônica da moral como objeto
Teses essenciais saber necessário e universal. Ele afirma contra esta concepção que não há
.tia senão do necessário, o que o leva a dissociar o campo da ação, imerso na
A felicidade é o bem supremo 'ralidade e na contingência, do campo do conhecimento, que tem por objeto
Se os seres humanos buscam a felicidade, nem todos eles a entendem da mes­ ,poral e o necessário. A phronesis constitui, portanto, a inteligência propria­

ma maneira. Parece, então, que não há um bem supremo, mas vários (prazer, ré prática, capaz de ver o que é bom ou mau para o ser humano em situações
.ares.
honra, riqueza, virtude). Aristóteles deduz daí que o bem não é universal e
que não se pode fazer dele a ciência. O bem não transcende o mundo huma­
no como se ele se encontrasse "além do ser" (Platão). Vai tratar-se então de
definir um bem "praticável" propriamente humano.

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