Você está na página 1de 2

Contos de fadas e amadurecimento humano

O espaço geográfico no qual se dão os Contos de Fada, constituem-se pela lógica


do sobrenatural e do imaginário, ou seja, pela lógica dos conteúdos simbólicos do
Inconsciente Coletivo.

A floresta, no mundo fantástico, constituirá passagem quase obrigatória no


caminho daqueles que precisam libertar, transformar, aprender, resgatar, e/ou
superar a si mesmos ou aos outros.

A Floresta é um símbolo universal, associa-se à origem da vida, ao útero, ao


feminino, ao mundo emocional caracterizado pela ambiguidade e pelo conflito entre
tudo o que é luminoso e sombrio na nossa psiquê.

Dessa forma, a ambivalência da Floresta que oferece a vida e a morte, o sossego e


a desesperança, a salvação e o abandono, nos remete ao vai-e-vem característico
das emoções, do desafio afetivo que é reconhecer nossas próprias variações
emocionais frente à vida. A vida que é gestada no útero materno, no corpo
feminino, e nos confronta com as limitações da sobrevivência regida pelas
demandas corpóreas e pela inquietação emocional.

Portanto, no campo simbólico a Floresta corresponderá às exigências características


do enfrentamento da vida. No plano psicológico, viver não é apenas satisfazer as
demandas fisiológicas do corpo. Viver é aprender a conjugar as demandas do corpo
e da mente, ou seja, encontrar formas de gerenciar as emoções que nos compele a
ser o que somos. Esse é o caminho do desenvolvimento humano pleno, é o que
podemos chamar de maturidade.

Psicologicamente falando, atravessar a Floresta é mergulhar nos nossos medos, é


enfrentar nossos conflitos emocionais e nossas resistências psíquicas, àquelas que
nos tentam com a aparente segurança do mundo infantil. A suposta inocência da
infância nos acena com a promessa de uma vida sem sofrimentos e sem dúvidas,
mas não se pode ser inocente para sempre. A felicidade, para ser usufruída, implica
o reconhecimento das dúvidas e o enfrentamento do sofrimento, o que só é
possível com a perda da inocência, com o amadurecimento.

O caminho da Floresta nos Contos de Fada leva à descoberta de que o mundo não é
tão perfeito quanto esperávamos, mas, em compensação, nos mostra que ele é
muito mais rico e diversificado do que a vida “segura” da casa paterna. É nessa
diversidade que a criança pode reconhecer as infinitas possibilidades da vida,
aprendendo a utilizar os seus próprios recursos emocionais para transformar-se
num adulto capaz de fazer escolhas e decidir o próprio destino. Essa transformação
psicológica, gestada no ambiente florestal, pode ser vista em muitos Contos: João e
Maria, Peter Pan, Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, A Bela Adormecida, O Príncipe
Sapo, Pele de Urso, Os Seis Cisnes e muitos outros. Os elementos naturais que
condicionam o ambiente florestal no campo imaginário – a presença de água, sol,
animais, monstros, bruxas, fadas, anciãos etc., – revelam o tipo de desafio
emocional que é necessário ao amadurecimento do personagem.

O castelo, como toda construção simboliza o mundo social, o universo adulto


padrão da sociedade humana. Logo, o castelo simboliza o mundo dos pais. A
floresta associa-se ao desconhecido, em contraponto às construções humanas – o
castelo – das quais conhecemos todos os detalhes, já que foram feitas por nós, e
por nós são controladas. A floresta, a natureza, é o reino do que é animal,
indomável, obscuro, autêntico… divino. A cidade, a civilização é o reino do familiar,
do que é humano, domesticável.
Todos nós sabemos que amadurecer não é fácil, e todo mundo já experimentou a
dor de buscar os seus próprios caminhos, romper com os valores que lhes foram
ensinados e definidos como certos e/ou errados, e correr para a floresta escura
numa viagem interior que levará a um processo de autoconhecimento, o encontro
com aspectos emocionais e cognitivos que precisam ser confrontados, vivenciados e
equilibrados para se tornar um ser completo.

Ao contrário das crianças que vivenciam as emoções de forma estanque


alternando-as abruptamente – ou se está feliz ou triste, irritada ou receptiva – a
pessoa madura emocionalmente equilibra as várias nuances da vida afetiva
combinando-as num mosaico sútil e dinâmico em que cada experiência afetiva é
vivenciada em toda a sua diversidade e abrangência.

Já os sonhos são um caminho seguro para os processos inconscientes. Mergulhar


no próprio inconsciente, foi justamente esse processo de autoconhecimento que
permitiu que Branca de Neve se tornasse uma mulher adulta, capaz de escolher
sozinha o destino que queria dar a sua vida.

Você também pode gostar