Você está na página 1de 4

A importância dos Contos de Fada para as crianças

entre os 6 e 7 anos de idade?


Com base na Antroposofia.

Por Mariana Villares Pires – Socióloga e Pós Graduada em Pedagogia Waldorf e


Conhecimento Antroposófico, Professora Waldorf

Quando nasce uma criança, nasce um ser com uma história plena que vem desde sua
existência anterior a esse nascimento, na qual seu Eu cósmico, se encontra no mundo
espiritual.

A responsabilidade de pais e educadores é olharem para esse ser como único e auxiliá-
lo no processo de encarnação dos seus quatro corpos: o corpo físico, o corpo vital ou
etérico, o corpo astral e o Eu.

Os primeiros três anos de vida são quase que exclusivamente dedicados ao


fortalecimento das forças vitais e do desenvolvimento das principais capacidades de
andar, falar. Auxiliar a criança neste processo é poder proporcionar ritmo, e rotina,
além de muito afeto, a fim de que haja um crescimento saudável e a possibilidade da
primeira manifestação do Eu, que ocorre entre os 2 anos e 8 meses e os 3 anos. É
nesta idade que a criança diz pela primeira vez “Eu” e deixa de se referir a ela na
terceira pessoa.

Claro que esse Eu vai de fato vir para a criança um pouco mais tarde, já no segundo
setênio, mas o processo de encarnação, de plasmar as forças vitais no corpo físico
acontece fortemente entre os 0 e os 7 anos.

Ora, a alma da criança se encontra, durante este período, muito mais ligada ao mundo
espiritual do que ao mundo físico e ao ambiente que a rodeia. Nos primeiros anos de
vida, o ambiente que a rodeia tem um impacto imenso no seu comportamento e nos
seus estímulos e por isso os adultos à sua volta devem principalmente se preocuparem
em trazer imagens do Belo, em trazerem os sons do amor para envolverem aquela
criança no mais puro e lindo manto de carinho e proteção.
Cada idade tem, então à luz da Antroposofia, uma necessidade, uma necessidade da
alma, um alimento específico que ajudará a criança a conhecer o mundo externo que a
rodeia e a lidar com medos, vontades, desejos e frustrações.

Quando o corpo etérico deixa de plasmar no corpo físico com tanta intensidade todas
as suas forças, a criança começa a ter os dentes despontando e sua relação com o
mundo externo passa a ser cada vez mais forte e intensa.

Assim entre os 6 e os 7 anos, a criança começa a ser “produtora” dos próprios dentes e
isso mostra sua individuação a ser iniciada e a certeza de que a sua autonomia está a
ser cada vez mais conquistada. É por isso que à luz da Antroposofia e na pedagogia
waldorf se considera que é neste momento que a criança está pronta para o processo
de alfabetização, em que as forças do pensar serão estimuladas, sem prejudicar o
desenvolvimento dos órgãos do corpo, uma vez que quando este processo acontece
antes, as forças etéricas, que estão atuando para a formação saudável do corpo físico,
se forem levadas para o exercício do pensar, poderão fazer com que algum dos
sistemas do corpo físico e órgãos não se desenvolvam com toda a força necessária e
doenças poderão surgir mais tarde.

Esta noção de indivíduo integral, composto por 4 corpos, como Steiner apresentou, faz
com que os adultos que estão perto das crianças possam considerar sob os mais
variados aspectos as necessidades vitais, mas principalmente espirituais que esse Ser
necessita para ser Feliz!

Nos primeiros 7 anos de vida a criança se desenvolve por imitação e reproduz aquilo
que vivencia, de acordo com os exemplos que os adultos que a rodeiam vão dando.

Fazermos as crianças felizes e saudáveis auxiliando na encarnação do seu Eu é o papel


fundamental de pais e educadores.

É com base nesta noção de quadrimembração do ser Humano que entra


especificamente neste texto a importância de se contarem contos de fada entre os 6 e
7 anos de idade.

“Afortunadas as crianças que ouvem histórias! Acalentadas pela voz do narrador,


rejubiladas pela maravilha das imagens, deixam-se guiar pela luz das verdades
essenciais que ali se escondem. É que sua consciência está sendo povoada pelos
deuses.” Assim declara o filósofo Vicente Ferreira sobre a luz que se vê no rosto de
uma criança quando ela ouve um conto de fadas.

Os contos de fada atuam em um aspecto que não é visível aos adultos, eles se
encontram fora do tempo e do espaço e isso dá o alimento necessário que a criança
precisa nesta idade. Muitos pais têm receio de contar os contos tal qual foram escritos
e coletados pelos irmãos Grimm, mas aquilo do que a alma da criança necessita neste
momento entre os 6 e 7 anos, é exatamente o conhecer da dualidade entre bem e mal,
entre os diversos sentimentos que vivem dentro de nós e que ao serem
experimentados através das histórias contadas, ajudarão a criança a se conhecer e
conhecer seus próprios sentimentos. Esta identificação de sentimentos como medo,
insegurança, raiva, carinho, entre outros, através das histórias e dos contos de fada,
trazem tranquilidade e paz à criança. Isto trará equilíbrio emocional à criança.

O fato das histórias serem fortes, terem arquétipos de personagens más e boas, mas
apresentarem finais felizes, isto ajudará a criança a ver que há sempre saídas para as
diversas situações que a vida apresentar e dará às crianças forças para seguirem a vida
e lutarem pelos seus valores e conquistarem seu lugar no mundo. A vida é uma
incógnita quando somos pequenos, e tudo é uma novidade. As dificuldades do dia a
dia, os sentimentos que surgem com as relações interpessoais, como medo, rivalidade
com irmãos, a relação com os pais, entre outras, faz com que a criança peça que se
conte a mesma história várias vezes e se povoe sua memória de imagens ricas, com
descrições completas de momentos e de ações dentro da história que a ajudarão a
imaginar e a sentir de forma saudável.

“Utilizando os pensamentos mágicos das personagens, a criança fica aliviada por sentir
raiva e ter outros sentimentos destrutivos em relação a uma bruxa malvada, sentir
medo de um lobo voraz ou orgulho de um príncipe que consegue salvar a princesa e
chega a um final feliz.”

Desta forma os Contos de Fada são muito mais do que simples histórias, são cura para
a avalanche de sensações e sentimentos que as crianças experimentam ao chegarem a
este mundo, no qual a complexidade das relações entre os adultos surge como um
mundo a descobrir e a aprender a lidar.

Você também pode gostar