Capítulo X - Metáfora e devolução: o livro de história no processo de
psicodiagnóstico interventivo
A devolutiva para os pais é mais facilmente realizada, do que para uma
criança, onde existem certas dificuldades para transmitir de forma efetiva e compartilhar a compreensão do psicodiagnóstico. Sugere-se a construção de uma história contendo os aspectos mais importantes observados durante o processo, sendo apresentado à criança em forma de um livro de história infantil. Segundo Souza (2003), o que diferencia o mito de uma fábula é seu caráter coletivo e sua origem, fundamentada em questões espirituais e acontecimentos históricos. Uma fábula é uma história construída por determinado autor e tem por objetivo a transmissão de uma ideia moral, um valor, onde estão inseridos situações do dia a dia e a maneira como as pessoas se comportam. Já os contos de fadas expressam conhecimento sobre questões humanas, focando as questões-limite da existência como nascimento, vida e morte. Para Bettelheim (1980), o caráter mágico dos contos de fada tem proximidade com o universo psíquico da criança, atingindo em suas diferentes nuances, possibilitando que ela entre em contato com suas lutas internas e problemas existenciais. Essas diferentes formas de apresentação de devolutiva no psicodiagnóstico infantil, são muito úteis aos psicólogos para a compreensão do psiquismo e dando maior confiabilidade ao atendimento, possibilitando assim, a construção de uma melhor e mais efetiva narrativa sobre a situação. O livro de história elaborado para devolutiva infantil é usado como metáfora no psicodiagnóstico, tem por objetivo a transmissão de alguns conhecimentos como, o de si, da sua história, seus conflitos entre outros. Nele, a verdade é apresentada de forma precisa e delicada, usando vocabulário de fácil entendimento infantil. De acordo com Ocampo e Arzeno (1974), a devolução é realizada em um ou duas entrevistas no final do processo psicodiagnóstico, sendo necessária para que o paciente possa integrar aspectos de sua identidade que estão dissociados, e o objetivo principal, é auxiliar o paciente a realizar uma integração psíquica dos aspectos de sua personalidade, contribuindo para a preservação de sua identidade. Existem formas diferentes de devolutivas no psicodiagnóstico, podendo ser realizadas parcialmente durante todo o processo, devendo ter um caráter terapêutico. Gardner (1993) criou a "técnica de relato mútuo de histórias", estimulando a criança a criar uma história, aprendendo seu tema psíquico, tomando-a como uma projeção, e então, ele formula e narra outra história para a criança com as mesmas características presentes na dela, mas introduzindo soluções de conflitos mais saudáveis do que aquelas originalmente proposta pela criança, tendo muito mais chance de ser escutado quando fala a mesma linguagem da criança, a alegórica. Essa técnica possibilita que o inconsciente da criança, na havendo confrontações diretas que suscitam ansiedade. Oaklander (1980) baseia-se nas concepções das Gestalt, tendo como objetivo ajudar a criança a tomar consciência de si mesma e de sua existência no mundo. “Contar e ouvir. E contando e ouvindo entrar em interação com o outro e, a partir desses conteúdos e dessa troca, construir-se como ser humano capaz de ter uma identidade (feito uma personagem), de sentir, pensar, imaginar (Gutfreind, 2003, p. 146). O livro de história é o resultado da compreensão de todo trabalho produzido no psicodiagnóstico, nele contém aspectos relevantes do desenvolvimento da criança e de suas relações com o meio em que vive, assim como uma compreensão de seus sintomas. Ao ouvir a história, observou-se o comportamento da criança durante e após a apresentação do livro: o reconhecimento que se tratava de sua história de vida, de querer compartilhar com seus pais, familiares e amigos, mas muitas apenas guardava o conteúdo, para esquecê-la até o momento de retomada. O livro é uma metáfora que relata a compreensão do psicodiagnóstico, e os personagens devem ser escolhidos em função das afinidades e analogias com os conteúdos evidenciados no processo, sendo fundamental que ele traduza a história de vida da criança, seus sintomas, as busca de atendimento e a relação com o psicólogo, a explicação dos sentimentos do personagem de identificação e a integração dos diferentes aspectos observados através da hora de jogo, testes, visitas, etc. A devolutiva dada através do livro tem se apresentado mais do que a etapa final do processo, ela remete às possibilidades de pesquisa quanto ao seu caráter terapêutico, as singularidades das histórias em função do momento evolutivo da criança e as repercussões na família. REFERÊNCIA ANCONA-LOPEZ, S. Psicodiagnóstico Interventivo: evolução de uma prática. São Paulo, Cortez, 2013.