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A
tradição histórica identifica no tempo li-
A Filosofia nasceu
vre uma das principais condições que fa-
do ócio, momento voreceram o desenvolvimento da civiliza-
ção. Após a Agricultura e a domesticação
essencial para a
de animais, o homem pôde finalmente se desvencilhar
reflexão, para reciclar da pesada tarefa de lutar incessantemente pela sua so-
brevivência. Conseguiu, assim, expandir seu limite de
e reordenar conceitos e
ação para além da dimensão produtiva, criando também
valores. O tempo livre, dimensões sociais e simbólicas.
CRISTIANO DE JESUS É
condenado na sociedade Vale mencionar que o tempo livre foi um dos aspec-
MESTRANDO EM FILOSOFIA,
tos que permitiram o surgimento da Filosofia na Grécia MEStRE E DOUTOR
pós-industrial e cada Antiga. Supõe-se que a especulação filosófica surgiu a EM ENGENHARIA DE
ver. mais raro, faria partir da relativa estabilidade que foi conquistada pela PRODUÇÃO. É PROFESSOR
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Nietzsche também identifica a que a noção de causalidade é mera re-
tendência humana pela criação de es- presentação, ilusão da mente humana e
truturas lógicas para se agarrar. Em A que tudo está envolvido em forças circu-
gaia Ciência ele afirma que "a vida não lares, não forças que perpetuam, mas que
é argumento. Armamos para nós um criam e transformam.
mundo, em que podemos viver - ao Vale muito observar o alerta de Gil-
admitirmos corpos, linhas, superfícies, les Deleuze que em Nietzsche e a Filosofia
causas e efeitos, movimento e repouso, afirma que a crítica em Nietzsche não é
forma e conteúdo: sem esses artigos de nunca uma reação, uma atitude de vin-
fé ninguém toleraria agora viver". gança, rancor ou ressentimento, mas sim
Portanto, segundo Nietzsche, é pos- uma ação, uma expressão ativa de um
sível recuperar a liberdade e atingir a lu- modo de existência, uma agressividade a chance da realização de uma experiên-
cidez ultrapassando conceitos e medos que não apresenta a negação, mas sim a cia. Entretanto, somente é possível perder
supersticiosos, abandonando convicções e diferença: "a diferença é o objeto de uma algo que já se tem posse e a perda traz
a crença da posse na verdade incondicio- afirmação prática inseparável da essên- inevitavelmente a sensação de alívio ou
nada. É necessário também reconhecer a cia e constitutiva da existência. O 'sim' falta, o que não ocorre quando se "perde
falência dos juíws éticos que a sociedade de Nierzsche se opõe ao 'não' dialético; a uma oportunidade", visto que a experiên-
pretensiosamente insiste repousar sobre leveza, a dança, ao peso dialético; a bela cia nunca se concretizou, É preferível a
verdades absolutas. irresponsabilidade, às responsabilidades expressão "deixou de ganhar", pois ao ab-
O homem livre não nega o reino dos dialéticas". Assim sendo, Deleuze pro- dicar de uma experiência decide-se nun-
acasos, onde, conforme menciona Niet- põe que uma crítica de negação não é ca vivenciá-la e portanto nunca conhecer
zsche em Aurora, "tudo se passa sem sen- suficiente para um exercício completo da suas consequências. Portanto, trata-se de
tido, nele tudo vai, fica e cai sem que nin- liberdade, visto que ela ainda se apresenta abdicar de crescer e abrir caminhos, de
guém pudesse dizer, por quê? Para quê? ligada à realidade criticada e negada. A negar a existência em favor de uma segu-
Temos medo desse poderoso reino da verdadeira libertação surge com a criação rança impossível. Ifilo
grande estupidez cósmica, pois aprende- e a exploração de novos caminhos, com
mos a conhecê-lo, o mais das vezes,quan- uma força que não reage negando, mas
do ele cai sobre o outro mundo, o dos fins sim afirmando sua diferença. ADORNO, T. vc, HORKHEIMER, M. Dialética
do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio
e propósitos, como um tijolo do telhado e Tempo livre, portanto, somente é li- de Janeiro: Zahar, 1985.
nos atinge mortalmente algum belo fun". vre se existencial, se embriagado de vida, BACON, F. Nova Atlântida. São Paulo: Abril
Cultural, 1984.
A liberdade é possível àquele que não e embriagar-se de vida significa libertar-
CAlviPANELLA, T. A cidade do sol. São Paulo:
se agarra aos bem - ordenados sistemas -se do mundo prescrito, da realidade da ícone, 2002.
racionais e metafísicos, sejam eles políti- televisão,dos filmes em que tudo funcio- DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio
cos, morais, científicos, econômicos etc. na perfeitamente, e da visão científica em de Janeiro: Contraponto, i997.
DELEUZE, G. Nietzsche e a Filosofia. Porto:
Por isso mesmo não confia cegamente que tudo é amarrado e ajustado logica- Rés Editora, 2001.
na consciência, pois sabe que o conheci- mente. Embriagar-se de vida é permitir- MORE, T. Utopia. Brasília: Universidade de
mento também se dá fora do seu contro- -se ao prazer da existência, assim como Brasília, 2004.
NIETZSCHE, f. W. A gaia da Ciência. Coleção
le, isto é; por meio de impulsos e pulsões também permitir-se à dor da existência,
Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
de desejo, desejo de conquista, de poder Há quem deixe de viver por temer a dor . Humano, demasiado humano.
e de criação. Entende a linguagem como do erro e da perda, ou então insiste em Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril
Cultural, 1978.
mera porta-voz da consciência, que inca- torjar explicações racionais para não usu-
-77""'-;-" O nascimento da tragédia no
paz de abarcar o conhecimento no devir, fruir o prazer ou para apaziguar a dor. espírito da música. Coleção Os
na transformação constante, cria concei- Assim tudo fica mais fácil, mas inevita- Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
. Sobre verdade e mentira no
tos e se agarra a eles como pressupostos velmente se torna também artificial.
sentido extramoral. Coleção Os
de verdades incondicionais. Ele possui Às vezes o sentido de certas ex- Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
"moral de senhor", ou seja, é responsável pressões diz muito pouco ou está muito ~ PLATÃü. A República. Bauru: Edipro, 1994.
por si mesmo, sua moral é a moral em si, aquém da realidade que se pretende co- ~ PRONOVOST, G. Introdução à Sociologia do
'i:2 lazer. São Paulo: Senac, 2011.
por isso ele é quem determina os valores. municar. É o que ocorre na afirmação UJ
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