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Preparatório para Concursos em Biblioteconomia

Módulo 2 - Aula 03
Prof. Thalita Gama

AÇÃO CULTURAL E LETRAMENTO INFORMACIONAL

AÇÃO CULTURAL com as pessoas que entram em contato com a


cultura e a arte do que com o objeto cultural ou
Resume-se na criação ou organização das condições
artístico em si. A atenção se desvia da obra para o
necessárias para que as pessoas inventem seus
homem, entendido como fazendo parte de um
próprios fins e se tornem assim sujeitos – sujeitos
grupo ou de uma comunidade.
da cultura, não seus objetos. Seria o ideal. Tratada
por Coelho (1989) em três momentos distintos da E num terceiro momento, no fim da década de 60,
história, cada um com objetivos próprios e se verá surgir uma preocupação que não é mais
determinados, e duas orientações que os com a Arte nem com o coletivo mas com o
caracterizam. indivíduo. Os espaços culturais procuram abrir
zonas de desenvolvimento para o indivíduo e sua
No primeiro desses momentos ocorreu o contrário
subjetividade. Esses espaços apresentam-se como
da ação e sim a valorização da instituição. Foi o
local de cultivo e desenvolvimento de um indivíduo
tempo do museu por exemplo. O tempo em que se
que se reconhece e afirma como tal, capaz de
armazenavam obras, com o propósito dominante
dispensar as muletas da massa informe.
de preservá-las e, assim, preservar os “bens
culturais da humanidade”. A filosofia dessa época Nesses três momentos é possível identificar duas
era que o que existe e tem valor é um bem, e a tendências na orientação das modalidades de ação
função do bem é integrar-se a um patrimônio, cultural praticadas. A primeira procurou valorizar a
formar um patrimônio. E o patrimônio é para ser obra de arte em si, ou os produtos culturais de
preservado, retirado de circulação. A arte sempre modo geral. Decorrência desta foi a ênfase dada ao
pode ser patrimoniada como um bem, portanto, tratamento e transmissão das linguagens formais
patrimonizável. O museu surge assim para estéticas que deveriam servir para o
preservar e cultuar a obra, Arte “patrimônio da desenvolvimento de indivíduos plenos. A segunda
humanidade”, havendo pouquíssima ou nenhuma tratou de valorizar a pedagogia de transformação
preocupação com o usuário daquele espaço, nele de indivíduos isolados em grupos estruturados cujos
admitidos apenas na medida em que se membros compartilhassem um mesmo conjunto de
conformavam às regras do culto: silêncio, valores, capazes por isso de reforçar os laços
veneração e reconhecimento a arte....São os comunitários através da desalienação dos contatos
tempos da “ação cultural” voltada para o produtor humanos, e como consequência, levando-os a criar
cultural, se é que isso tem sentido, e para seu e desenvolver novos projetos sociais.
possuidor.
O objetivo da ação cultural não é construir um tipo
Só num segundo momento - ainda no século XIX determinado de sociedade, mas provocar as
mas, de modo particular, ao redor e a partir da consciências para que se apossem de si mesmas e
segunda guerra mundial – é que se pode falar de criem as condições para a totalização, no sentido
ação cultural com mais propriedade: é quando as dialético do termo, de um novo tipo de vida
instituições culturais passam a preocupar-se mais
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derivado do enfrentamento aberto das tensões e sociológica e antropologicamente a criação de uma


conflitos surgidos na prática social concreta. ordem simbólica da linguagem, do trabalho, do
espaço, do tempo, do sagrado e do profano, do
Analisando vários conceitos de ação cultural,
visível e do invisível, enfim, das inúmeras esferas de
Aragão (1988) se refere que a ação cultural na visão
atuação humana.
de Paulo Freire é um processo de afirmação do
homem como ser consciente de sua realidade, mas A animação cultural são os eventos, ou qualquer
adverte que a ação cultural estará voltada para a atividade que o bibliotecário desenvolve na
libertação, fundamentada no diálogo. A ação biblioteca. A ação cultural ela é mais profunda tem
cultural conceituada por Paulo Freire, segundo a toda uma intenção, ao final da ação cultural o
autora, é constituído de quatro ações básicas: o usuário não pode sair passivo de tudo que ele
diálogo, a conscientização, a atividade educativa e a participou e sim transformado, com uma nova visão
libertação. O homem se transforma e evolui a partir de mundo.(BASÍLIO, 2013)
dessas ações. A ação cultural idealizada por Freire
Possibilidades de Ações culturais:
(1982) conscientiza e liberta o público das suas
barreiras, através da educação, faz o indivíduo ter Informar Debater/Discutir Criar
uma visão mais ampla do mundo. Pois é, através da
ação educacional e da interação que ele se torna Filmes Fóruns, Debates Oficinas
Palestras Blog Ateliês
ator da ação e reflete sobre os acontecimentos da
Livros Desafio Concursos
realidade onde está inserido. Artigos Avaliação Competições
Paineis
Coelho(1989) afirma que o teatro é a melhor forma
de ação cultural nas bibliotecas, pois faz o indivíduo
refletir sobre a sua realidade. Inserindo-se no tema
proposto o indivíduo faz parte da ação. No entanto, LETRAMENTO INFORMACIONAL
esta atividade é pouco desenvolvida nas bibliotecas. Segundo Gasque (2012) após a Segunda Guerra
Essa atividade poderia ser o primeiro passo para o Mundial, nos primeiros anos da Guerra Fria, os
desenvolvimento do indivíduo tornando-o cidadão. investimentos intensivos em ciência e tecnologia
Nesse particular a ação cultural é muito importante ocasionaram a denominada “explosão
nos processos da educação e da cidadania. Deve informacional”, termo que designa o crescimento
estar presente no cotidiano das pessoas por facilitar exponencial da produção científica e tecnológica.
uma ação cidadã na troca de saberes, no acesso e Para dar conta da grande quantidade de
uso ao conhecimento acumulado da humanidade. informação, organizá-la e disponibilizá-la,
Sobre propagar a cultura através da Biblioteca bibliotecas, indústrias e demais unidades de
Pública Silveira e Reis (2011) afirmam que: Todo informação começaram a implementar sistemas e
aquele que tencione estabelecer uma aproximação aperfeiçoar técnicas que a tornassem acessível com
entre o universo de práticas culturais e as maior rapidez possível.
atividades desenvolvidas no cerne de uma Assim, várias áreas de conhecimentos tentam rever
Biblioteca Pública deve iniciar sua empreitada o que e como fazer para subsidiar a difícil missão de
reevocando a ideia de que o conceito “cultura”, formar cidadãos reflexivos, críticos e autônomos.
independente se erudita ou popular, denota Dentre elas, a biblioteconomia, com a pretensão de
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democratizar a cultura, preservar e difundir o utilizadas para traduzir o termo original,


patrimônio bibliográfico da nação e apoiar o ensino information literacy. Na Espanha, por exemplo, usa-
e a pesquisa, reconhece a necessidade urgente de se frequentemente alfabetização informacional
capacitar os indivíduos – usuários e não usuários (Alfin), e em Portugal, literacia da informação. No
das bibliotecas e unidades de informação – a lidar Brasil, além do termo original, são utilizadas
de forma eficaz e eficiente com a informação. expressões como letramento informacional,
alfabetização informacional, habilidade
Em 1974, a expressão information literacy foi
informacional e competência informacional para se
cunhada pelo bibliotecário americano Paul
referir, em geral, à mesma ideia ou grupo de ideias.
Zurkowski e mencionada no relató- rio intitulado
Contudo, a tradução de information literacy mais
The information service environment relationships
utilizada tem sido competência informacional.
and priorities. O documento propôs a adoção, em
âmbito estadunidense, do letramento informacional O letramento informacional tem como finalidade a
como ferramenta de acesso à informação. Tal adaptação e a socialização dos indivíduos na
proposta toma fôlego a partir de 1989, sociedade da aprendizagem. Isso ocorre quando o
particularmente com as iniciativas nos Estados indivíduo desenvolve as capacidades de:
Unidos da América na área. Um evento relevante, o
• determinar a extensão das informações
National Forum on Information Literacy (NFIL),
necessárias;
ocorre em 1990, contando com a participação de
mais de 75 membros de instituições de educação, • acessar a informação de forma efetiva e
negócios e organizações governamentais. eficientemente;
Em 1998, a American Association of School • avaliar criticamente a informação e suas fontes;
Librarians (AASL) e a Association for Educational
Communications and Technology (AECT) publicam • incorporar a nova informação ao conhecimento
um documento detalhando as competências e os prévio;
indicadores a serem desenvolvidos pelos aprendizes
• usar a informação de forma efetiva para atingir
da educação básica. A seguir, em 2000, a
objetivos específicos;
Association of College and Research Library (ACRL)
publica os Padrões de competências informacionais • compreender os aspectos econômico, legal e
para o ensino superior, definindo os elementos social do uso da informação, bem como acessá-la e
característicos do letramento informacional, o usá-la ética e legalmente.
papel educacional das bibliotecas e a importância
O letramento informacional é um processo de
dos programas educacionais para a capacitação dos
aprendizagem, compreendido como ação contínua
aprendizes.
e prolongada, que ocorre ao longo da vida. O
No Brasil sobre o tema iniciam-se apenas a partir de sentido da aprendizagem relaciona-se à construção
2000. O termo foi mencionado, primeiramente, por do conhecimento, inerente ao ser humano, que
Sônia Caregnato, que o traduziu como alfabetização perpassa as várias atividades do comportamento
informacional, optando posteriormente por informacional, considerando as experiências e
habilidades informacionais como seu equivalente informações, que abrange as atitudes, as
em língua portuguesa. Muitas são as expressões disposições morais e o cultivo das apreciações
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estéticas. Assim, entende- -se tal processo como o Bons estudos!


conjunto das mudanças relativamente permanentes
resultantes das inter-relações entre a nova
informação, a reflexão e a experiência prévia, sem
desconsiderar as interações do indivíduo com o
meio social. O processo de aprendizagem pode
ocorrer de maneira informal ou formal. No primeiro
caso, o indivíduo aprende por observação, tentativa
e erro, ou com ajuda pontual de alguém que detém
a experiência. No segundo, diz-se que é formal,
quando sistematizado pelas instituições de ensino.
Nesse caso, reconhece-se que, no Brasil, o processo
de letramento informacional não tem sido foco da
educação, em especial da educação básica.
Somente na graduação, com a exigência dos
trabalhos de conclusão de curso (TCCs), os
aprendizes têm a possibilidade de desenvolver
atitudes científicas, adquirindo, assim, as
competências mínimas para produzir conhecimento
científico.

A implementação do letramento informacional


como programa sistematizado e formal requer
considerar questões como:

1. dificuldade em mudar a cultura pedagógica,

2. formação inadequada dos professores,

3. concepção de ensino-aprendizagem,

4. organização do currículo e

5. ausência de infraestrutura adequada de


informação.
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Referências: Disponível em: < http://goo.gl/FLJ8Rd> . Acesso em:


18 jun.2016.
ASSOCIATION OF COLLEGE AND RESEARCH LIBRARY.
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em:< http://goo.gl/561Zk1> Acesso em: 04 Brasília, DF, v. 39 n. 3, p.83-92, set./dez., 2010.
jun.2016. Disponível em:< http://goo.gl/7byt5Y> Acesso em:
06 jun.2016
BASÍLIO, Ana Paula Matos; OLIVEIRA, Maria Jaciara
de Azeredo; NÓBREGA, Nanci Gonçalves da. A
Biblioteca Pública como instrumento de ação
cultural. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO,25., 2013, Florianópolis,. Anais...
Florianópolis, 2013. Disponível em:<
http://goo.gl/Sdnktd> Acesso em: 04.out.2015

CABRAL, Ana Maria Rezende. Ação cultural:


possibilidades de atuação do bibliotecário. In:
VIANNA, Márcia Milton; CAMPELLO, Bernadete;
MOURA, Victor Hugo Vieira. Biblioteca escolar:
espaço de ação pedagógica. Belo Horizonte:
EB/UFMG, 1999. p. 39-45. Seminário promovido
pela Escola de Biblioteconomia da Universidade
Federal de Minas Gerais e Associação dos
Bibliotecários de Minas Gerais,1998, Belo
Horizonte. Disponível em:< http://goo.gl/xg77Bd>
Acesso em: 04 jun.2016.

COELHO, Teixeira. O que é ação cultural? Brasília:


Editora Brasiliense, 1989. (Coleção primeiros
passos).

GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias. Desafios


para implementar o letramento informacional na
educação básica. Educ. rev. vol.26 n°.1 Belo
Horizonte Apr. 2010. Disponível
em:http://goo.gl/8gHqT7 Acesso em: 05 jun.2016.

GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias.


Letramento informacional: pesquisa, reflexão e
aprendizagem. Brasília : Faculdade de Ciência da
Informação / Universidade de Brasília, 2012.

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