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FRANCIS wOLFF

NOSSA HUMANIDADE
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possivel que Foucault tenha tido razão: essa morte do homempor mesma
ma posição metodolôgica (a explicação naturalista), um
ele prevista é provavelmente aquilo a que estamos assistindo desde a virad ressuposto metafisico
irada (o monismo
materialista) e o -

do século. por mais tempo uma mesma que nos


-

Um pouco mais acima, Foucault lança a hipótesei de que esse fim


ocupa figura do homem, a de um ser viva
como os outros, fruto da evoluçao e adaptado ao seu meio.
do homem como objeto do saber, Ou seja, o fim das Ciências Humanas

estaria ligado à onipotência cada vez maior do objeto linguagem.


O que
justifica essa predição é que a linguagem parecia, sobretudo no contexto DOIs PARADIGMAS: COGNITIVISMO X ESTRUTURALISMO
estruturalista francês da década de 1960, o catalisador e o unificador das
Ciências Humanas. Não havia, é claro,
se
aguardado esses
desenvolvimentos cientificos
Sobre esse úlimo ponto, Foucault sem dúvida se enganava. Pois o recentes para considerar o homem como um mero vivente.
Era a
grande
paradigma que hoje se impõe ante as Ciências Humanas triunfantes do contribuição das teorias evolucionistas do século XIX, em
século XX, essa nova figura do homem que vem tornando obsoleto o homem especial a de
Darwin. Essa posição epistemológica, porém, própria da Biologia, jamais
estrutural e, com ele, a onipotência do simbólico, do inconsciente represen- havia, antes do século XIX, traçado um programa de pesquisas para as
tativo, da oposição da cultura à natureza ou da humanidade à animalidade, Ciencias do Homem como um todo. A novidade é que a proposição: "o
essa figura não nasce de dentro das Ciências Humanas, de uma homem é um vivente como os outros se constitui paulatinamente como
Ciência do
Homem (a Linguistica) que acabaria por fagocitar as outras, mas de "definição" do homem-definição paradoxal, pois implica que o homem não
fora,'
de um grupo inédito de Ciências que tende a absorv-las; ela se deve ao tem contornos distintos. Essa verdade não tinha muito sentido cientifico
(ou
prodigioso desenvolvimento das Ciências do vivente e de suas diversas seja, fecundidade) fora do território dos biólogos ou dos paleontólogos. A
dependèncias: Neurociências (apoiadas na formação de imagens do cérebro "revolução cognitivista" mudou as coisas: foi sem dúvida ela que permitiu
e nas novas técnicas de
Biologia Molecular, que permitem ver o cérebro enm promover esse principio constitutivo das Ciências da Vida como nova figura
ação), Biologia da Evolução, Primacologia, Etologia, Paleoantropologia etc. Esse do homem. E conhecido o postulado metodológico das Ciências Cognitivas:
desenvolvimento determinou, por um lado, um novo considerar a "cogniç o" (o processo do conhecimento: percepção, memó-
paradigma naturalista, o
paradigma cognitivista, para as Ciências Humanas Psicologia, Linguística,
-
T1a, aprendizagem, inmaginação, linguagem, raciocínio, planificaç o da ação
Sociologia, Antropologia etc. - e, por outro lado, o aparecimento de novas e, de um modo mais fenómenos "mentais"
isto é,
Ciéncias Humanas dessa "virada naturalista"
etc.), geral, a mente, os

Psicologia Evolucionista, a
-
a pensamento, consciência, emoções etc.) como fenômenos naturais. No
Teleossemântica ou outras mais estudo do homem, o paradigma cognitivista foi aos poucos tomando o lugar
"polêmicas", Sociobiologia. O que
como a
caracteriza todas essas do paradigma estruturalista do século passado. Esses paradigmas têm trës
pesquisas interdisciplinares agrupadas em circulos
concêntricos redor do núcleo central
ao pontos em comum.
cognitivista é o fato de compartl dos sentidos
ao, em primeiro lugar, "paradigmas científicos", num

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PEcisos dados por Thomas Kuhn à palavra:5 "sucesso exemplar" de o
uma
Trata-se, com efeito, de uma
simples hipótese: "Não conhecemos ainda, por engu COria científica que serve em seguida de modelo para todas as outras. No
nem a forma nem a
promessa" do "evento de que no máximo podemos pres senur a

possibilidade" que veria o fim das Ciênclas


Humanas da teoria dos "traços pertinentes" (Troubetzko
essa mesma linguagem surge agora com cada vez(ibid.). OEStruturalista,
3 Se trata-se
maior insistëncia nurtd unidade
que devemos, mas não podemos alnda pensar, será que isso não
hguração vá agora abalar-se de que o homem esteja em vias de sinal que
é de toda do uso
5 devemos o sucesso, seguido
brilha mais forte em nosso
e
perecer, a meada
9 rutura das revoluções cientificas de Kuhn que numerosísslmos senudos do terno n0
horizonte o ser da ddo, dessa noção de "paradigma".
Entre os
observar que a retração do linguagem?" (ibid., p.397). "Alguns exemplos reconnetu
4
Fodemos tambem paradigma estruturalista das Hu d smo de Kuhn, pautamo-nos aqui pelo primeiro: leis, reorias, aplicações disposiivos
manas (ou, mais e
paricularmente, o fim da hegemonia
caminhou lado lado, no interior
a durkheimiana nas Cienct das exne
lO
Clentifico real exemplos
-
que englobam
a radições particulares
e coerentes

dessas Ciências, com um dão origem


avanço timido, a de tals fornecem modelos que
radiçõescompreensivas", "Hermenêutica do Cotidiano, da Socio pesquisa científica" (Capítulo 1, p.30).
Fenomenológica", em suma,exemplo
por as da uma
determi
logia rdas distintivo que, na organização de
de todas as aço pertinente" a um traço
a menor
num
sujeito ativo, mais do que abordagens humanas e recentrao
soclals nada I dois fonemas-sendo
para distinguir
o fonema

sujeltado. 8d, Serve efetivanente

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