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Paul-Michel Foucault - Uma caixa de


ferramentas para a História da Educação?
. r. JOSÉ GONÇALVES GONDRA

Um pesadelo me persegue desde a infância: tenho diante


dos olhos um texto que não posso ler, ou do qual apenas
consigo decifrar urna ínfima parte. Eu finjo que o leio, sei
que invento: de repente, o texto se embaralha totalmente ('
não posso ler mais nada, nem mesmo inventar,
minha garganta se fecha e desperto.
(FOUCAULT, 2000, p. 72)

Voz interrompida em 25 de junho de 1984, suas palavras, apro-


priadas de modos os mais diversos, ainda hoje são objeto de reflexões
em vários países, patrocinadas por interesses bastante heterogêneos,
como se pode observar nos seminários ocorridos por ocasião da pri-
meira década de seu falecimento' e, também, neste ano, em que se
procura marcar as duas décadas de ausência das palavras fortes, 111-
quietantes e difíceis de Paul-Michel Foucaulf'.

1 Na França, podemos fazer referência ao Seminário intitulado "Au risque de Fouceult" (.


ao dossiê da revista Rue Descartes n° 11, "Fouceuli dix ans eprés", No Brasil, POdl'Ill11S
fazer referência a três livros, frutos de eventos sobre as contribuições foucaultianns:
Michel Fouceult - da arqueologia do saber à estética da existência (1998), Retrato" di'
Fouceuli (2000) e Imagens de Fouceuli e Deleuze (2002).
2 A título de exemplificação, vale registrar os seminários "Atualidade de Foucnuu",
ocorrido na UERJ, entre os dias 16 e 18/6/2004 e o "Fouceuli: perspectivas", de Ci1I-;ill'r
internacional, proposto pela UFSC, entre os dias 21 e 24 de setembro. Na França, um
sinal dos debates pode ser tomado pelo artigo "A herança difícil de Foucn ulí", de
Jacques Ranciere. Com um outro alcance, mas no interior deste mesmo registro, vale
assinalar a publicação do n" 81 da Revista Cult, de junho de 2004, que produziu um
dossiê intitulado "O efeito Foucault", com textos de Renato Janine Ribeiro, Salma Tnnnus
Muchail, Eliane Robert Moraes, João Camillo Pena e Sergio Adorno.

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Palavras usadas como arma de sedução, prOVOC1(;'1(1 " 11,· •• ",- seguimento à tradição da família de médicos. Aos 22 anos, licencia-
bate. Seduzem à reflexão permanente, atraem para u mn 1(l111l.1 01, se em Filosofia e, aos 23, em Psicologia".
pensar móvel, encantam pelas possibilidades que deixam ('1111"\ ,'1 O gosto pela leitura, manifestado desde a juventude, é apurado
fascinam pelos arranjos que promovem, deslumbram pela 1)1'('1 1(1',1 ao longo de sua formação, sendo leitor atento e voraz de vasta bibli-
ção de um mundo heterogêneo e inacabado, do qual a vida (' dl'!l ografia. Após sua diplomação em nível superior, aos 25 anos é aceito
vada, ao mesmo tempo em que por ele é responsável. Desse lll()(!", como agregée de Filosofia na École Normale, tendo tido, igualmente,
suas palavras também elegem pontos de combate, express(ls n.r-. a experiência como psicólogo no Hospital Saint-Anne. Aos 27 anos,
fortalezas do marxismo, da Psicanálise, do existencialismo e da 11('1 publica a introdução do livro Sonho e existência, de Biswanger, inti-
menêutica. Afastamento, portanto, da teleologia, da universalid.t tulada "Doença mental e personalidade". Aos 35 anos, sustenta a tese
de, da soberania e da substância. de doutorado Folie et Déraison, peça fundamental para se compreen-
der sua inserção na paisagem intelectual francesa. A tese, posterior-
Palavras de dupla face, com miradas bem marcadas, manejadas
com afinco e graduadas pelos ambientes em que são enunciadas, re- mente publicada com o título de História da loucura, contém sinais de
uma disposição que vai acompanhar a trajetória foucaultiana: a refle-
cortam objetos os mais variados, via de regra associados a uma crítica
xão acerca da modernidade, as condições de seu aparecimento, sua
regular e aguda a componentes fundamentais da Modernidade. Nes-
legitimação e efeitos. Nessa tese, Foucault faz emergir uma desconti-
se movimento, muitos saberes são historicizados, entre eles a própria
nuidade, que instala o problema da loucura tanto no nível da teoria
história" que ele busca "revolucionar", segundo os termos de Veyne
como no das práticas, isto é, do pensamento elaborado sobre o tema
(1988). E, pois, no interior desse quadro que procuro refletir acerca
da loucura e o das práticas associadas ao louco. Fazendo uso de um
da presença de Foucault na História da Educação no Brasil, o que
procedimento que passou a ser designado de arqueológico, Foucault
supõe, de partida, reconhecer a complexidade desse investimento,
constrói a hipótese de que, até a Revolução Francesa, a categoria psi-
agravado, nesse caso, pela rarefação de esforços com este tipo de
quiátrica de doença mental ainda não havia sido formulada. Segundo
recorte e, ao mesmo tempo, pela proliferação dos empregos aos quais
ele, até esse período recente da história, a loucura era considerada
as contribuições foucaultianas vêm sendo submetidas em domínios
como uma doença entre outras tantas, de acordo com a racionalidadv
e ambientes diversificados.
médica própria da época clássica. A inexistência da categoria" doença
mental" é acompanhada da ausência do hospital psiquiátrico, cuja in-
Uma vida, uma obra venção tem conseqüências profundas no sentido de afirmar um ('S
quema classificatório, voltado para desclassificar tudo aquilo que pas-
25 de junho de 1984. Há 20 anos, a morte corta a palavra de uma sa a ser julgado como perigoso, diferente, anormal, criando, assim.
inteligência luminosa, de um debatedor brilhante, de um polemiza- condições morais para segregar, encarcerar e isolar o outro. Medid.1
dor como poucos. Interrompe o curso de uma reflexão que ousou pro- que, no limite, concorre para afirmar os cânones da razão, ao 1ll1',C;lllt'
blematizar poderosas formas de inteligibilidade, como o marxismo, a tempo que a institui como guia ou régua para formar o ser humano "
psicanálise, o existencialismo e a hermenêutica. Enfim, a morte, rápi- para o bom funcionamento da vida em sociedade.
da e silenciosa, calou um dos críticos mais agudos da Modernidade. Ainda preocupado com questões associadas ao estatuto LI.! cii'WI,1
A curta vida de Paul-Michel Foucault (PMF) teve início em 15 verdade, PMF vai publicar O nascimento da clinice, As pala \".,/s (. 01', " I J

de outubro de 1926, em Poitiers. Filho de família de médicos, o pai sas e Arqueologia do saber, todos na década de 1960, ESSI' "(1I1J1111III
e o avô eram cirurgiões, teve uma irmã, mais velha, e um irmão costuma ser descrito como resultante da "fase" arqucológi.». 11.1 '1llod
mais novo. Nessa cidade, viveu sua infância e juventude. Lá tam-
bém conheceu os horrores e atrocidades da II Grande Guerra Mun- 3 Foucault tem sido objeto de biografias e de verbetes, dentre (>1111'.1", 1I,,,oI.1Ii,l.toI,,, I.
dial. Com 20 anos, muda-se para Paris, onde vai cursar a École estudos, No primeiro caso, d. os dois livros de Eribon (J 990 (' 1'1%i 1'.11,'" "<"l':lI".!'-
Normale Supérieure, a despeito da pressão que sofrera para dar o dicionário de André Burguiere (1993).

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instaura uma ruptura em relação à epistemologia, o que não autoriza de se acompanhar o conjunto de comentários que vêm sendo gC'I';]l !Il~, ('
a deduzir a ocorrência de uma isomorfia de procedimentos nesses reproduzidos em relação às contribuições foucaultianas (', taml«: 11 I,
três livros". Problematizando o modo tradicional de estudo dos con- de se ter acesso ao regime de apropriação de que as mesmas têm sido
ceitos científicos, a arqueologia procura realizar uma história dos sa- objeto. Trata-se, pois, de submeter a reflexão acerca da histó ri» 11U
beres, fazendo desaparecer qualquer idéia do progresso da razão. De complexo jogo composto pelas figuras do autor, obra, comentário ('
acordo com Machado (1988), a riqueza da arqueologia consiste no apropriação, ele mesmo objeto de problematização por parte deste
fato de a mesma acenar para a capacidade de se refletir acerca das "eu", chamado Paul-Michel Foucault.
ciências do homem enquanto saberes, investigando as condições de Diante desse cenário, cabe assinalar que o mesmo torna-se ain-
sua existência com base na análise do que dizem, como dizem e porque da mais complexo se levarmos em consideração que, ao manifestar
dizem, exigindo, para tanto, a realização de uma análise conceitual ca- interesse por procedimentos e objetos os mais diversos, PMF provu-
paz de estabelecer descontinuidades no nível dos referidos saberes. cou reações em campos disciplinares distintos, como a Filosofia.
O final dos anos de 1960 e os anos de 1970 podem ser caracteriza- Medicina, Direito, Antropologia, Psicologia, Pedagogia e História,
dos como um tempo em que PMF realiza duas mutações. Expressão afetando igualmente os objetos recobertos por tais disciplinas. Con-
de uma mutação no modo como percebe a Filosofia e a própria fun- verteu-se, portanto, em item obrigatório no catálogo das reflexões
ção do intelectual, Foucault politiza-se, interessando-se pela teoria so- acerca dos saberes contemporâneos, como recurso para responder Zl
cial, flexionado seus procedimentos em direção à genealogia e voltando- indagação acerca do que somos e como chegamos a ser o que hoje
se para um novo objeto; o governo dos outros, isto é, a problemática do somos. Para dar conta desse desafio, ele reservava-se no direito de
poder. Os anos de 1980 testemunharam um novo deslocamento, assi- aparecer onde não era esperado, reivindicando uma espécie de n50-
nalando, dessa vez, um interesse pelo modo como os homens se autogo- lugar de produção de seu discurso, ou melhor, de que o mesmo não
vernam, como desenvolvem o governo de si. Trata-se, portanto, de poderia ser bem acomodado na forma de repartição dos saberes em
um interesse cuja ênfase encontra-se voltada para o aspecto ético". vigor. Freqüentemente indagado acerca de sua posição, respondia
com a incerteza de onde estava e para aonde iria. Sobre sua condi-
Refletir acerca da presença de PMF na História e na História da
ção de filósofo e de sua relação com a história, respondia não enxer-
educação supõe ter esses elementos no horizonte. Requer também o
gar a questão nesses termos". Sua perspectiva não era a de se alojar
reconhecimento de que esses deslocamentos são evidenciados em um
neste ou naquele compartimento disciplinar. Sonhou com uma nova
conjunto ainda mais heterogêneo das coisas ditas e escritas por Fou-
ordem dos saberes. Lutou por uma des-disciplinarização. Estando
cault, em aulas, palestras, entrevistas, notas, jornais e revistas em vários
ele instalado e produzindo a insatisfação com os efeitos da Modrr-
pafses-, alguns ainda inéditos". Requer ainda admitir a impossibilidade
nidade, as contribuições foucaultianas concorreram para expandir
os limites do pensável, tornado, sob sua lente, produto e prod u lt rr
4 No Brasil, a melhor reflexão acerca desta "fase" encontra-se nos livros de Machado (2000 da história, condição que, rebatida em vários domínios, colocou ('111
e 1988)
xeque a natureza dos procedimentos e dos objetos por eles rccx ,['l'I
5 Um exame mais pormenorizado destas mutações pode ser encontrado nos trabalhos de
Eribon (1990 e 1996), Franche (1997), Machado (1988), Rabinow & Dreyfus (1995) e tos. Aqui, o que vou procurar demonstrar é que Foucault entrrntou
Veiga-Neto (2003), alguns dos fundamentos da história, discutindo seu estatuto (' SII.I',
6 Os textos da coleção "Ditos & Escritos", no Brasil, foram organizados e selecionados por práticas, a ponto de Veyne (1998) considerá-lo o historiador ,\(',11,.1
Manoel Barros da Motta e publicados em 5 volumes pela editora Forense,
do, o remate da história. Contribuições que ajudaram ,1 rl'(!t-IIIIII
7 Em recente evento sobre a atualidade de Foucault, realizado na Universidade do Estado
do Rio de Janeiro, entre os dias 16 e 18 de junho de 2004, o prof. Guilherme Castelo
contornos e limites dos canteiros da história, mas tarnbérn ()', .10\
Branco fez referência a textos publicados no Jornal do Brasil (12/11/1974) e na Revista própria oficina e ofício do historiador.
Manchete (16/6/1973t que não integram a coleção dos "Ditos & Escritos". Nesta linha,
o n" 5 da Revista VERVE (2004) também apresenta a entrevista inédita "Michel Foucault,
uma entrevista: sexo, poder e política da identidade"
8 A respeito deste debate, d. O'Farrel (1989).

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Relações com a História todas as ciências do homem. Ao chamar atenção para a idade e posi-
ção da "História", cria condições para reconhecer que a idéia de uma
Visíveis em muitos dos textos de PMP, as formulações acerca da grande história plana e uniforme em cada um de seus pontos foi fra-
história adquirem um grau de sistematização no livro Arqueologia do turada no começo do século XIX.
saber, sendo um tema retomado em outros livros, aulas e nos seus
A constatação de uma espécie de reviravolta no modo de se com-
Ditos & Escritos, entre os quais podemos destacar três: Sobre as ma-
preender o saber histórico constitui-se em condição para pôr em dis-
neiras de escrever a história - entrevista com G. Bellour, 1967; Re-
cussão as relações deste e dos demais domínios do saber que assumem
tomar a história - conferência pronunciada no Japão, na Universidade
o homem como objeto. Para Poucault, compreender a "História" no
de Keio, em 9 de outubro de 1970 - e Nietszche, a genealogia e a
história, de 1971. Cabe, no entanto, assinalar que o modo como atua interior deste feixe de relações configura-se em um acontecimento de
nos "canteiros da história" já apresenta novidades desde a História grande importância, uma vez que o homem histórico é o que vive, fala
da loucura. e trabalha. Com efeito, uma vez que o ser humano se torna, de parte a
parte, histórico, nenhum dos conteúdos analisados pelas Ciências Hu-
Em 1966, ao voltar-se para o exame do homem que vive, fala e
manas pode ficar estável em si mesmo, nem escapar ao movimento da
trabalha como estratégia para refletir acerca dos discursos produzidos
"História". Com isso, ela forma para as ciências do homem uma esfera
em torno dessas funções, dá seqüência às aproximações que guarda
de acolhimento ao mesmo tempo privilegiada e perigosa, posto que:
com aqueles que, no âmbito da história das ciências e da historiografia,
demonstravam compromissos com uma história geral, problematizan- A cada ciência do homem ela dá um fundo básico que a estabelece,
do, assim, o recurso às totalizações que marcavam o saber histórico. No lhe fixa um solo e uma pátria: ela determina a área cultural- o episó-
livro deste ano, As palavras e as coisas, ao tematizar os limites da re- dio cronológico, a inserção geográfica - onde se pode reconhecer,
para este saber sua validade; cerca-as, porém com uma fronteira que
presentação, assinala o relevo atribuído à "História" em seus estudos,
as limita e, logo de início, arruína sua pretensão de valerem no ele-
acentuando que a "História" não deveria ser entendida como a coleta
mento da universalidade. [...] De sorte que o homem jamais aparece
da sucessão de fatos, tais como se constituíram. Para ele, a "História" é na sua positividade sem que esta seja logo limitada pelo ilimitado da
o modo de ser fundamental das empiricidades, aquilo a partir do que História. (1992, p. 388)
elas são afirmadas, portanto, dispostas e repartidas para eventuais
conhecimentos e para ciências possíveis. Para ele: Combate à universalidade 'dos saberes que vem acompanhado
do combate às totalidades e as formas de saber que pretendem afir-
A História, como se sabe, é efetivamente a região mais erudita, mais mar o conhecimento absoluto, pois a "História" mostra que tudo o
informada, mais desperta, mais atravancada talvez de nossa memó-
que já encontra-se pensado o será outras vezes por um pensamento
ria; mas é igualmente a base a partir da qual todos os seres ganham
existência e chegam sua cintilação precária. Modo de ser de tudo que
que ainda não veio à luz. Esse empreendimento é retomado e conden-
nos é dado na experiência, a História tornou-se o incontornável de sado no livro Arqueologia do saber, no qual PMP procura responder
nosso pensamento. (1992, p. 233) aos que o criticavam, apelando para o signo da falta: de rigor, de
método e de sistematização, por exemplo. Movido por esse clima,
Com o elevado estatuto atribuído à "História", não se trata de
Foucault organiza alguns procedimentos que, em sua perspectiva, de-
associar tal saber a procedimentos homogêneos, tampouco de tornar
veriam pautar as ações dos que se empenham em saber. Esse novo
as diferenças equivalentes. Antes de encerrar esse livro, o último ca- livro, estruturado em três capítulos", com uma introdução c conclusão.
pítulo, dedicado às Ciências Humanas, reserva o penúltimo item inti- Já na introdução, anuncia a mutação com a qual está comprometido
tulado "A História" para explorar aspectos deste incontornável do
pensamento. Abordara as Ciências Humanas, mas não a "História",
9 Capo II As regularidades discursivas, III- O enunciado e o arquivo e IV - A descrição
ainda que ela seja, segundo Foucault, a primeira e como a. mãe.de arqueológica.

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sociedade, formas de permanências, quer espontâneas, qucr (lr,I',dfli


quando sublinha a necessidade de substituição das velhas questões da
zadas. O documento não é o feliz instrumento de uma hisklri'l 'i"l'
análise tradicional" por questões de outro tipo:
seria em si mesma, e de pleno direito, memória; a história (", 1';11';1
que estratos é preciso isolar W1S dos outros? Que tipo de séries instau- uma sociedade, uma certa maneira de dar status e elaboração Ú I1IdS'
rar? Que critérios de periodização adotar para cada uma delas? Que sa documental de que ela não se separa. (1995, p. 7-8)
sistema de relações (hierarquia, dominância, escalonamento. Deter-
Essa posição gera, pelo menos, quatro conseqüências em forma
minação unívoca, causalidade circular) pode ser descrito entre uma e
outra? Que séries de séries podem ser estabelecidas? E em que qua- de novos problemas: a necessidade de se constituir séries, o acento na
dro, de cronologia ampla, podem ser determinadas seqüências dis- noção de descontinuidade, o apagamento do tema e da possibilidade
tintas de acontecimentos? (1995, p. 4) de uma história global e um certo número de problemas metodológi-
cos, cada qual associado a outros desdobramentos de que o livro vai
Esse novo questionário tem, no domínio da história, um rebati- se ocupar. Tarefa que, explícita, desenvolve com cautela", tateando a
mento indiscutível na própria relação que se estabelece com o docu- direção do próprio discurso e de seus limites, chocando-se com o que
mento e, por extensão, na noção de arquivo. Afastando-se da tese da não quer dizer, cavando fossos para definir seu próprio caminho e
possibilidade de se reconstituir o passado por intermédio do que ema- que toma forma, lentamente, em um discurso que, sente, ainda tão
nava dos documentos e de sua decifração, a posição foucaultiana é de precário como incerto.
outra ordem:
Caminho que continua a ser escavado nos seus quatro últimos
Ora, por uma mutação que não data de hoje, mas que, sem dúvida, livros", em aulas, palestras e entrevistas. Na entrevista concedida a
ainda não se concluiu, a história mudou sua posição acerca do docu- Raymond Bellour (1967), Foucault remete às novidades que via e que
mento: ela considera como sua tarefa primordial, não interpretá-lo, o atraíam na história: a periodização como problema, o estrato dos
não determinar se diz a verdade nem qual é seu valor expressivo, acontecimentos recortados pela história, o pertencimento da mesma
mas sim trabalhá-lo no interior e elaborá-lo: ela o organiza, recorta,
no âmbito das Ciências Humanas e a recusa a uma história montada a
distribui, ordena e reparte em níveis, estabelece séries, distingue o
que é pertinente do que não é, identifica elementos, define unidades,
partir do jogo da causa-efeito. Ao lado desses aspectos, Foucault tam-
prescreve relações. O documento, pois, não é mais, para a história, bém repõe a questão da escrita como problema, por se mover entre os
essa matéria inerte através da qual ela tenta reconstituir o que os registros de uma descrição infindável e a necessidade de fechamento,
homens fizeram ou disseram, o que é o passado e o que deixa apenas o que, por sua vez, recupera as 'reflexões em torno das relações entre
rastros: ela procura definir, no próprio tecido documental, unidades, os domínios discursivos e os não discursivos, o problema do autor,
conjuntos, séries, relações. (1995, P: 7)
da interpretação.
Ainda nesse registro, ele assinala: Na palestra para o público japonês, volta-se para a reflexão em
torno do estruturalismo e história e, por tabela, responde aos que bus-
É preciso desligar a história da imagem com que ela se deleitou du-
cam catalogar os seus procedimentos, incluindo-o na galáxia estrutura-
rante muito tempo e pela qual encontrava sua justificativa antropoló-
lista, lugar em que ele não se reconhece pelo modo como o estruturalismo
gica: a de uma memória milenar e coletiva que se servia de documentos
materiaispara reencontrar o frescor de suas lembranças; ela é o tra-
lidava com a questão do tempo e do lugar reservado à prática humana.
balho e a utilização de uma materialidade documental (livros, textos, Na seqüência, recoloca o problema do objeto da história, da noção de
narrações, atas, edifícios, instituições, regulamentos, técnicas, objetos,
costumes, etc.) que apresenta sempre e em toda parte, em qualquer
11 "Não se trata de uma crítica, na maior parte do tempo; nem uma maneír» de diz"r '1//"
todo mundo se enganou a torto e a direito; mas sim definir uma posiçio sin).;uldr 1''''''
exterioridade de suas vizinhanças; mais do que querer reduzir os outros ao "il,'",·i"."
10 "Que ligação estabelecer entre acontecimentos dispores? Como estabelecer entre eles
(FOUCAULT, 1995, p. 20)
uma sequência necessária? Que continuidade os atravessa ou que significação de con-
junto acabamos por formar? Pode-se definir uma totalidade ou é preciso limitar-se a 12 Vigiar e Punir (1975) e os 3 volumes da História da Sexualidade: A vontade dI' .'nl','r,

reconstiiuir encadeamentos?" (FOUCAULT, 1995, p. 4) 1976, O uso dos prazeres, 1984 e O cuidado de si, 1984.

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Ainda na Europa, seu ingresso nos domínios da história flJ( 1 s('


acontecimento e de documento, tudo isto como recurso para defen-
deu de modo pacífico, como pode ser percebido nos artigos de Chn r-
der uma história que se ocupasse do exame das transformações, apa-
tier, Le Goff e Revel, todos de 1997. Revel reconhece a presença d('
nhando as durações diferentes, com base em uma massa documental
Foucault desde os anos 1960, o que terminou por marcar a formação
composta de séries e de séries de séries.
de três gerações de historiadores, lembrando que estas relações pos-
O texto de 1972 reapresenta aspectos do programa foucaultiano suem uma história própria, ela mesma, com termos constantemen te
para a história, detendo-se especialmente no problema da origem, móveis. Lembra também que os historiadores, ao se relacionarem com
contra o que formula a noção de genealogia. Nas palavras com que a produção foucaultiana em momentos diversos, com preocupações e
inaugura sua reflexão, afirma que a genealogia é cinza, meticulosa e motivações particulares, produziram "muitos Foucault", por vezes ir-
pacientemente documentária, trabalhando com pergaminhos embara- reconhecíveis, dificilmente compatíveis e justapostos. Para ele, os lei-
lhados, riscados, várias vezes reescritos. Com isso, defende uma his- tores construíram uma série de Foucault sucessivos, parcialmente
tória preocupada com o exame da proveniência e da emergência dos desconexos, a partir de proposições que encontravam no autor, que,
objetos, o que, para ele. se constitui em condição para uma história eventualmente, alteravam a partir de suas próprias interrogações. Este
efetiva, distinta daquela dos historiadores pelo fato de não se apoiar regime de apropriação, com seus traços imperfeitos e impuros, não
em nenhuma constância e por ter o poder de inverter a relação entre cessa de atestar a presença de Foucault ao longo das últimas quatro
o próximo e o longínquo tal como estabelecido pela história tradicio- décadas nos domínios da história, mas não exclusivamente.
nal. A história efetiva lança seus olhares ao que está próximo. Não Mestre da inquietude, posição e qualidade que Le Goff atribui a
teme olhar embaixo, mas olha do alto, mergulhando para apreender Foucault, após analisar suas contribuições, a partir do exame de As
as perspectivas, desdobrar as dispersões e as diferenças, deixar a cada palavras e as coisas e Arqueologia do saber como estratégia para pen-
coisa sua medida e intensidade (FOUCAULT, 1988, p. 29) sar e construir as relações com a chamada História Nova, em que
Esse vasto programa provocou reações diversas na comunidade percebe pontos de aproximação e alguns reparos que estabelece. Tal
intelectual francesa e fora dela. Acolhido por um dos mais importantes esforço funciona como uma espécie de base para aproximar-se de um
historiadores, como Paul Veyne, é também objeto de rejeição de auto- conselho foucaultiano: a história está viva e continua. Portanto, não se
res como Sartre que lhe acusava de recusar a história e de considerar devia dele esperar um discurso que recusava e que lhe causava hor-
seu livro As palavras e as coisas um livro cujo alvo era o marxismo, ror: o discurso do declínio. Mas sim, na linha de seu conselheiro, o
voltado para constituir uma ideologia nova, a última barragem que a discurso da inquietude, uma inquietude que procura.
burguesia ainda podia erguer contra Marx. Althusser, a despeito da lon- Um relação difícil. Assim, Chartier tipifica as relações de Fou-
ga e continuada amizade, também reage a este livro, desestimulando sua cault com a corporação de historiadores, sobretudo pelo fato de que
tradução para o italiano, e, recolocando-se na condição de velho profes- todo o projeto foucaultiano de análise crítica e histórica dos discursos
sor, chega a escrever: "Vou ter que lhe passar um belo 'sabão'. Ele deu encontra-se, de fato, fundado sobre uma recusa explícita, termo a ter-
entrevistas idiotas sobre Marx." (apud ERlBON, 1996). Da parte de Ha- mo, das noções classicamente manejadas pela história das idéias: ori-
bermas, fora considerado antimodernista e um jovem conservador. No gem, totalidade, causalidade, continuidade. Diante disso, o próprio
Brasil, a circulação ampliada, a partir dos anos de 1970,estimulada com autor se coloca uma questão acessória: como é possível fazer uma lei-
suas vindas, as primeiras traduções e a produção dos primeiros traba- tura foucaultiana do próprio Foucault? Nesse caso, a alternativa foi a
lhos de inspiração marcadamente foucaultiana", conviveu com reações de seguir o percurso da vida, sem a preocupação com o "encontro" de
como a de Merquior, para quem ele era um niilista de cátedra". uma continuidade ou coerência, reconhecendo inflexões, mas também
aquilo que teria funcionado como traço comum. Nesse caso, as críticas
ao racionalismo, Modernidade, Iluminismo e revolução comparecem,
13 Cf. Machado et a!. (1978) e Costa (1979).
ainda que de modo diferenciado, ao longo dessa forma de pensar.
14 Outras reações podem ser observadas em Rouanet (1996).

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No limite, elas convergem para uma dupla "revolução" na esfera do sa- A possibilidade de se discutir a circulação das contribu iç(ícs
ber: a inexistência de objetosnaturais e a firme e reiterada crença em uma foucaultianas na área de História da Educação, bem como o regime
filosofia da relação, como procedimento para tornar explicável o modo de apropriação a que vem sendo submetido, supõe a continuidade l'
como os objetos aparecem, se transformam, são mantidos e caducam. aprofundamento de inventários acerca da produção, os quais vêm sen-
Do campo metodológico da história, cabe dirigir a atenção para do feitos de modos variados no Brasil e no exterior". Nessa direção,
os domínios dos saberes educacionais. Nesse caso, os anos de 1980 outras possibilidades de execução deste programa podem ser lembra-
podem ser caracterizados como aqueles em que Foucault começa a das, examinando-se, por exemplo, as condições de aparecimento e
ser objeto de uma apropriação mais alarga da no campo educacional, desenvolvimento da disciplina, as instâncias de organização do cam-
funcionando corno uma caixa de ferramentas empregada para a fa- po educacional, a imprensa pedagógica, os manuais, a produção no
bricação de reflexões sobre vários objetos". Tal fenômeno articula- âmbito dos Programas de Pós-graduação, a produção em âmbito na-
cional, a produção em âmbito regional, os programas das disciplinas,
se com a consolidação dos programas de pós-graduação e o
na graduação e nos programas de pós-graduação, a produção dos
arejamento das possibilidades do pensar, associado, igualmente, a
professores, pesquisadores e alunos associados à área, os processos e
uma renovação do mundo editorial, de revistas pedagógicas, da re-
programas de ingresso na carreira universitária na área e a produção
vitalização das associações e eventos acadêmicos nacionais e inter-
realizada e difundida em nível internacional, especialmente na Amé-
nacionais e do esforço continuado de tradução e de reedição dos
rica Latina, Europa e Estados Unidos.
trabalhos foucaultianos, aspecto ainda visível e combinado com o
Esse mapa, breve e inexaustivo, implica um primeiro reconheci-
aparecimento de novas traduções, corno a dos cursos do Collége de
mento, o de que esforços dessa natureza já vem sendo desenvolvidos
France e a dos Ditos & Escritos. Entrada e permanência, marca das
há um certo tempo. Tradição ancorada em uma preocupação de se
por usos heterogêneos, cabe reafirmar, também sofreu rebatimen-
recensear periodicamente um determinado campo para avaliar sua
tos nos canteiros da História da Educação.
movimentação, desenvolvimento, perspectivas e problemas, isto é, de
se fazer o que se costuma designar de "estados da arte"!". Diante das
Relações com a História da Educação múltiplas possibilidades de tornar esse terna pensável, optei por de-
senvolver um exercício de modo a que, considerando os esforços já
A fertilidade das reflexões foucaultianas também afetou os estu- feitos, em que cada um, de um modo bem determinado, procura per-
dos históricos da educação no Brasil, o que pode ser verificado, por ceber e discutir o que é problema para o nosso presente e para a nossa
exemplo, em dissertações e teses de doutoramento produzidas nos pro- atualidade no domínio da História da Educação, isto é, os "principais
gramas de pós-graduação em Educação. Visibilidade que também pode perigos'?" deste campo de pesquisa e ensino. Aproximando-me desse
ser observada nas instâncias e processos de difusão do saber produzi- movimento, procurei operar com um tipo específico de fonte, de modo
do na área, em eventos como a ANPEd16, nos Congressos Brasileiro, a tentar articular alguns dos elementos a que acabei de me referi r.
Iberoamericano e Luso-Brasileiro de História da Educação, assim como Trata-se das duas revistas temáticas de História da Educação, uma
na Conferência Internacional de História da Educação, para assinalar
os eventos regulares de alcance nacional e internacional. 17 Para o caso brasileiro, d. os trabalhos do GT (Denice Catani e Luciano Mendes, M.lr;.\
Helena Bastos, Maria Teresa S. Cunha e Marcus Bencostta), Balanços dos Lusos (("1.11';('1'
Nunes, Cláudia Alves, Cynthia Veiga & Joaquim Pintassilgo, Maria Stephanou '" ll.ivi.:
15 No campo da história, cf. também o texto da norte-americana O'Brien (1995). No Brasil, Werle e Ana Waleska & Sara Marques Pereira, Balanços dos CBHEs, HISTEDIlR, ;\';1'111,
cf. Rago (1995). Para o da educação, cf. Silva (2002), Veiga (2002) e Veiga-Neto (2003). Ibero, ISCHE, artigos de Mirian Warde, Clarice Nunes. Marta Carvalho, l.uci.uio ~kl\
16 De acordo com o trabalho de Catani e Faria Filho (2002), Foucault é o 3° autor mais des e Diana Vida!. Para o caso português, além dos balanços dos Lusos, d. [.1111[,,'1\\
citado nos trabalhos apresentados no Grupo de Trabalho de História da Educação da Gomes (1993) e, para o caso espanhol, cf. Escolano (1993).
ANPEd, ficando atrás de Roger Chartier e Pierre Bourdieu, sendo seguido por Le Goff. 18 Cf. Encontro do INEP "A ótica dos pesquisadores", no final dos anos K().

Uma curiosidade deste estudo é que não há referência a qualquer trabalho de Foucault 19 A respeito da preocupação em se compreender o que faz () no s so IH,·s,·tllt'. d.
entre os 10 mais citados, diferentemente da correlação observável nas outros casos. ERIBON, 1996.

296 297

de abrangência nacional, a Revista Brasileira de História da Educa- UFC, USP e UNESP, dentre outras. Com esses registros, podemos
ção (RBHE) e, a outra, de corte mais regional, a Revista História da afirmar que a RHE tem procurado se afirmar como uma revista tem a-
Educação (RHE). Essa seleção já implica deixar de lado um conjunto tica de HE, abrigando e acolhendo, em sua maior parte, a produção
de outras possibilidades de análise do que se produz e como vem se de autores de várias regiões/ países e também de seus associados,
produzindo a História da Educação no Brasil de nossos dias. Reco- constituindo-se em um periódico, cuja configuração escapa dos limi-
nhecer esses limites prévios estabelece algumas balizas para a nossa tes geográficos da associação da qual é o veículo oficial.
reflexão, sugerindo que, no interior de um campo em que proliferam No que se refere ao mapa temático, observa-se, nos 16 números
as possibilidades de análise, possamos especificar a plataforma na qual da RHE uma proliferação de objetos, indicando a exaustão de formas
esta espécie de diagnóstico encontra-se ancorada. Tomada essa deli- explicativas simples e mecânicas para o fenômeno da educação, afir-
beração, questões de outro alcance entram em nosso horizonte. Da mando que o mesmo não mais pode ser pensado com base em um
base documental, o que privilegiar? Autores, temas, períodos, insti-
único fator determinante, afastando-se, portanto, de qualquer pers-
tuições, perspectivas, fontes, recortes, processo avaliativo ...
pectiva monocausal. Nesse sentido, para efeito desse exercício, um
Vou aqui, valendo-se dos limites da "liberdade" permitida pelo recenseamento da produção divulgada nas páginas desse periódico
exercício, tentar estabelecer relações entre a produção de determina- indica a presença de temas associados ao debate teórico-metodológi-
dos problemas com o modo pelo qual os mesmos vêm sendo aborda- co, imigração, decência, livros e leituras, práticas educativas, impren-
dos, a partir do consumo de algumas das contribuições de PMF. sa pedagógica e religião, para enumerar alguns.
O modo como as questões são tratadas pode ser analisado,
A Revista História da Educação ainda que não seja o único procedimento possível, pela apropria-
ção que os autores fazem da literatura disponível. Esforço que, na
Veículo da ASPHpo, tendo seu primeiro número publicado em
percepção de Vidal e Faria Filho, poderia trazer uma grande con-
1997, a RHE vem sendo editada regularmente, dois números por ano,
tribuição acerca do processo de construção do campo da História
com uma circulação assegurada para os associados, sendo igualmente
da Educação:
comercializada nos eventos da área, como a ANPEd e os CBHEs.
Uma história das apropriações a que essas matrizes teóricas estive-
Publicou, nesses sete anos, 16 números, com um total de 135 arti-
ram e estão sujeitas no âmbito da pesquisa em história da educação
gos21, de autores nacionais e estrangeiros. Registro inicial revestido
no Brasil, nos últimos trinta anos, poderia trazer, sem dúvida, uma
de relevância, na medida em que, associada a uma entidade de cará- grande contribuição ao entendimento dos intercâmbios e aproxima-
ter regional, chama atenção a presença contínua, a partir de 1999, de ções, bem como das lutas e apagamentos que tornaram, e tomam
autores estrangeiros, sobretudo de franceses, argentinos, portugue- possível, atualmente, falar num campo de produção em história ,b
ses e canadenses. Aspecto igualmente percebido na RBHE, desde o educação em nosso país. (VIDAL; FARIA FILHO, 2004, p. 34)
seu primeiro número, em 200l.
Seguindo essa pista, fiz uma incursão bem inicial, de modo a ll's·
Ainda nessa linha, cabe observar a presença, na RHE, de autores
tar a presença de um determinado autor, cuja escolha foi prcsidi dn
instalados em outros pontos do país, o que ajuda a repensar o seu cará- por sua recorrência nos estudos de História da Educação, fato j,i cvi-
ter regional". Cabe assinalar a presença de autores da UFU, UERJ, denciável nos balanços produzidos por Greive e Pintassilgo (2()()()) ('
no de Catani e faria Filho (2002). Mas não unicamente. A npç,lo por
20 Associação sul-riograndense de pesquisadores de História da Educação, criada em 1996. esse autor pode ser creditada ao impacto que sua produção proVOCOll
21 Para essa contabilidade, foram considerados apenas os artigos, excluindo as resenhas e em diversos domínios de saber, inclusive na história. Por ser de difícil
documentos republicados.
classificação, a partir de seus trabalhos e formas de inserção na vi d a
22 Um reflexão sobre os nove números iniciais da RHE pode ser encontrada em PERES &
BASTOS, 2001. acadêmica, Foucault instaura um debate com a chamada história

298 299

tradicional, mas também com a história que busca redefinir seu estatu- Sexualidade, O uso dos prazeres, cumprindo a primeira mais uma
to, seus objetos e abordagens. Nesse sentido, o estudo da presença função de estruturação da reflexão, e a outra comparece como uma
desse autor nas pesquisas em História da Educação pode ser de grande referência mais pontual. A ênfase na Arqueologia do saber fica ain-
fertilidade, na medida em que funciona como um bom marcador de da mais acentuada pelo apoio da autora no trabalho em que Deleuze
posições, o que pode nos auxiliar na compreensão dos deslocamentos discute este livro de Foucault.
teóricos que vêm sendo operados no âmbito da História da Educação. Uma incursão, no último artigo da RHE em que Foucault foi refe-
No caso da RHE, esse autor é referido em nove artigos, como rido, permite observar que aí ele também cumpre uma função de dar
apoio para a reflexão dos estudos relativos às histórias de vida e ensi- sustentabilidade às reflexões da autora". Para tanto, refere-se a uma
no mútuo (n'T), memória e medicina social (n" 2), a produção dos parte da obra Arqueologia do saber e A ordem do discursei". Neste
saberes científicos (n° 4), currículo e relações escola-família (n° 5), ar- caso, as contribuições foucaultianas funcionam como elemento que
quitetura escolar (n° 8), educação comparada (n° 10) e livros escolares estrutura o próprio artigo em suas sete partes, nas quais é possível
(n° 12). Se tal evidência constitui-se em um elemento necessário para vislumbrar o emprego direto de categorias e/ ou termos foucaultia-
analisar as condições em que os estudos de História da Educação vêm nos (Em busca dos começos; A república de livros; métodos e doutri-
se processando, não é suficiente para refinar e tornar mais aguda esta nas; A "invenção" da unidade de métodos e doutrinas; Como se
reflexão. Movido por tal preocupação, procurei interrogar as formas posicionam os interlocutores; A "invenção" das similaridades de mé-
de utilização e as relações que os autores estabelecem com o seu refe- todos e doutrinas; Questionando algumas vontades de verdade e O
rente teórico. A título de exemplo, no artigo "Foucault e histórias de discurso como unidade e dispersão). Na recusa das origens, na recusa
vida: aproximações e que tais", a autora Beatriz Daudt Fischer assina- das unidades forjadas, na recusa à natureza das coisas e no questiona-
la que seu texto constitui-se em um ensaio provocado por uma dúvida mento das vontades de verdade, percebem-se as marcas de uma for-
instaurada durante a realização de uma pesquisa baseada em "histórias ma de reflexão, de um modo de indagar, de um vocabulário, de uma
de vida", em que pretendia adotar contribuições foucaultianas como gramática, enfim, de um procedimento historiográfico bem definido.
inspiração teórica. Organizado em quatro partes, o artigo analisa o
pertencimento de Foucault ao campo da história e sua inscrição na A Revista Brasileira da História da Educação
chamada corrente da História Nova, chamando atenção para os afas-
tamentos enunciados pelo próprio autor em relação a uma história Iniciativa patrocinada pela SBHE26,a RBHE teve seu primeiro
total, cronológica e teleológica, ao mesmo tempo em que indica a difi- número publicado em 2001, contando, até o momento, com 7 núme-
culdade de inscrevê-lo plenamente no interior do movimento da "His- ros, com um total de 41 artigos": Como na sua congênere, detecta-se
tória Nova", quando não pelo fato de que essa renovação produziu, a presença de autores de várias instituições do Brasil e do exterior. Um
ela mesma, um conjunto de inflexões, o que se constitui em dificulda- sinal de distinção pode ser atribuído ao fato da RBHE, a partir do n"
de adicional na filiação de um autor à mesma". Em seguida, a auto- 4, estar investindo na publicação de dossiês temáticos. Até o mo-
ra traz alguns elementos conceituais da metodologia da história de mento, houve três agrupamentos: "Negro e educação" (n" 4), "O pú-
vida, encerrando com um quádruplo questionamento acerca da con- blico e o privado na educação brasileira" (n" 5) e "Ensino de lli:-;kll'i,l
dução da pesquisa. Afora esse detalhamento e nos limites de um
artigo-ensaio, de alguém que se auto-representa como artesã inici- 24 Trata-se do artigo de lole Maria Faviero Trindade, intitulado "A ac!(l,',l(l d,1 ( .irtith.,

ante de um bordado possível (1997, p. 18), cabe sublinhar a presença Maternal na instrução pública gaúcha."
Aula inaugural do College de France, de 1970.
de duas obras: Arqueologia do saber e o volume dois da História da 25

26 Sociedade Brasileira de História da Educação, criada em 1999.


27 Adotado o mesmo procedimento, aqui só foram computados os artigos, s,'1\1 ,"nsilkrar
23 A respeito das "gerações" da Escola dos Annales, d. BURKE (1991) e DOSSE (1992). as resenhas e notas de leitura.

300 301
uct ~n" b). Uíterenciação também notável no n" I. no qu.il
riuucaçao" procurei observar a presença de Foucault no periúlt iruo .1111 , ,
todos os artigos são de autores estrangeiros, especialmente convi .. que é referido. Neste, a autora, Ana Maria Magaldi, I'I·JlI<'I •. 1 ""

dados para compor este número. Quanto ao universo temático d a artigo intitulado "A governamentalidade29", última 1>"11<' d.. 11" '"
RBHE, observa-se, de modo similar à RHE, a produção de recortes "Microfísica do poder". Nesse caso, o autor comparece" 1'1 '11.1'. 11'
bem específicos, como a questão da história do livro e da leitura, referências bibliográficas, indício de um modo de comprccu.tv. ,I, I'

idéias pedagógicas, profissão docente, disciplinas escolares, debate estabelecer as relações entre o movimento da "escola nova" \. \I .I,
teórico metodológico, negros, público e privado e ensino de Histó- "renovação católica", com vistas a refletir acerca das COl1lI'V!t-llt 1.1'

ria da Educação, por exemplo. Neste caso, a recusa às explicações de dois agentes, a escola pública e a família, no cumprimento dI'
monocausais e geométricas também se constitui em uma marca da suas funções educativas.
produção disseminada neste periódico. No que se refere à presença Nesses dois casos", selecionados não sem um certo nível dv "rll,
foucaultiana, há oito artigos que empregam as contribuições deste trariedade, o que se observa é um outro modo de uso dos autore-s
autor, nos números 1, 3, 5 e 7. processado em um nível celular, seja para apoiar a reflexão rela t iva .J
A título de exemplificação, seguindo o mesmo procedimento ado- uma questão bem específica, seja para indicar um tipo de com prccn
tado no caso da RHE, o primeiro artigo em que se verifica tal presen- são do problema que se encontra em análise. Há, contudo, evidênci.u:
ça é o de David Hamilton, professor na Universidade de Umea, Suécia, de que os dois artigos procuram se aproximar do que, de um mod ()
intitulado "Notas de lugar nenhum: sobre os primórdios da escolari- geral, poderíamos chamar uma história-problema.
zação moderna". Neste texto, trata das iniciativas inovadoras dos
Menos arbitrário que este primeiro nível de aproximação consis-
métodos de ensino no século XVII, e a referência à Foucault (p. 57) se
te no esforço de se promover um mapa da produção utilizada, tor-
dá por meio do livro Discipline and punislr", de modo a apoiar a tese
nando visível a série de livros de Foucault aos quais os historiadores(as)
de que a disciplina e a didática poderiam promover uma disciplina
mental ou inculcar uma disciplina corporal, prefigurando a modela- da educação têm recorrido para fertilizar seus estudos. Exercício que
gem de corpos dóceis, passíveis de serem ensinados. poderia ser feito com qualquer autor, os recorrentes e os raros, mas,
para manter uma certa linha de reflexão, fiz um censo da presença de
O último artigo em que Foucault aparece como referência tam-
Foucault nas duas revistas como recurso para explorar uma dupla in-
bém é de autoria de Iole Trindade. Neste caso, A ordem do discurso
é o único texto referido, sendo que a autora inscreve seu trabalho no terrogação: qual e por que Foucault?
campo dos estudos culturais, afirmando trabalhar com a análise críti- Nos artigos da RHE, os textos referidos são: Arqueologia do
ca dos discursos em "sua versão foucaultiana" (2004, p. 111). A marca saber (4 vezes), Vigiar e punir (4 vezes), Microfísica do poder (3 ve-
foucaultiana, menos evidenciada na estrutura do trabalho, aparece no zes), História da sexualidade - O uso dos prazeres (2 vezes), Doença
vocabulário empregado, sendo assumida como "inspiração" no mo- mental e psicologia e A ordem do discurso (1 vez, cada um).
mento em que a autora analisa as atas do "Conselho Escolar". Neste Nos artigos da RBHE, os textos utilizados são: A governamentn-
momento maneja algumas ferramentas dispostas no A ordem do dis- /I
lidade, VigiIar e castigar. Nacimiento de Ia prisión, Microtisica dei
curso" como estratégia para observar que "determinados rituais defi- poder, La historia de Ia sexualidad: eI uso de 105 pIaceres, EJ ord cn
niam a qualificação que deveriam possuir os indivíduos e as posições deI discurso, Discipline and punish, VigiIar e castigar, Tecnologies ele ,I
que ocupariam na ordem do discurso" (p. 119). Como se trata de uma yo, Dits et écrits, Surveiller et punir, Les mots et Ies choses, Micrulf..,i-
autora que também teve artigo publicado na RHE, cujo referente é a ca do poder e A ordem do discurso.
sua tese de doutorado, é possível observar homologias entre ambos
no que se refere aos usos das contribuições foucualtianas. Isto posto, 29 Trata-se da 4a aula, de 1/2/1978, no College de France, recentemente rcpublicada no IV
volume dos Ditos & Escritos.
28 No Brasil, foi traduzido como "Vigiar e Punir - uma história da violência nas prisões." 30 Exceto O trabalho de Trindade.

302 303

Essa primeira aproximação permite explorar a primeira ind'lg.l- próprio campo de um modo indeterminado e provisório. Deslocnnu-n-
ção: qual Foucault está sendo "consumido" no território da História to que passou a exigir revisão de fundamentos teóricos, com efeitos na
da Educação? Em uma tentativa de síntese, poderíamos assinalar uma definição de objetos, fontes, periodização, bibliografia e na própria es-
presença mais forte de três referências: Vigiar e punir, Microfísica do crita, por exemplo. De um fenômeno cuja explicação já se encontrava
poder e Arqueologia do saber. Presenças explicáveis em dois níveis. contida na história econômica e/ ou na história política, e daí deduzido.
Um, a facilidade de acesso e de leitura, tendo em vista o fato de tais a História da Educação passou a reivindicar uma autonomia do fenô-
livros encontrarem-se traduzidos em inglês, espanhol e português. Ele- meno educacional, fazendo com que a tradição historiográfica deterrni-
mento que ajuda compreender, por exemplo, a rarefação dos Ditos e nista venha cedendo lugar à problematização dos objetos e apareci-
Escritos, só recentemente traduzido e publicado no Brasil, em cinco mento de novas abordagens e problemas, provocando um deslocamento
volumes, sendo o último de 2004. Um segundo nível pode ser associado no campo e fazendo aparecer outros "perigos".
à problemática tratada em cada artigo e à renovação pela qual a História Não explorada, quero deixar como questão a necessidade de se pen-
da Educação vem passando, especialmente, após o término da ditadura sar os critérios e motivos que terminam por promover a eleição de um
militar e o conseqüente "arejamento" verificado em diferentes níveis, o determinado autor na pesquisa em História da Educação. Que relações
que terminou por criar condições para se problematizar os fundamentos são estabelecidas com o conjunto dos autores selecionados entre si e com
teóricos que, de modo dominante, sustentavam as reflexões>'.
os demais autores da área? Que relações tal seleção guarda com o pesqui-
Agregável a esses elementos, como condição para tornar pensá- sador e com sua posição no campo da História da Educação? Como a
vel a renovação no campo da História da Educação, encontra-se tam- coleção de autores é articulada com os demais domínios do saber? Por
bém a expansão e consolidação da pesquisa na área da educação, via meio de que suportes e segundo que regras a bibliografia vem sendo
programas de pós-graduação, criação de agências de financiamento e lida/ apropriada? Inventário de questões que provavelmente concorreri-
associações de diferentes alcances, bem como o assentamento do en- am para tornar mais densa a reflexão acerca dos rumos que a pesquisa
sino de História da Educação na graduação e na pós-graduação e a em História da Educação tem tomado, bem como dos efeitos daí deriva-
realização de eventos regulares específicos, dentro e fora do País. O dos. No entanto, nesse aspecto, fico no nível da problematização.
exame do movimento verificado no domínio da História da Educação
Um outro ângulo, a partir do qual se poderia tentar pensar a con-
não pode ser apartado dessas condições mais gerais, e uma compre-
figuração e desafios da pesquisa em História da Educação, consiste no
ensão rigorosa dessa história recente encontra-se associada, portan-
exame dos eventos regulares e raros dessa área. Como exercício adici-
to, a um compromisso de compreender a vitalidade da área, inscre-
onal, trabalhei com as cinco edições dos Congressos Luso-Brasileiros
vendo-a em um campo de forças complexo e móvel.
de História da Educação (Lisboa - 1996, São Paulo - 1998, Coimbra
Isso posto, como e em que grau tais elementos podem nos auxiliar
2000, Porto Alegre - 2002 e Évora - 2004)32. Na série composta, nu-
na compreensão das inflexões teórico-metodológicas que vêm sendo
detive no exame da temática geral e no modo como a mesma foi rt'l'Or
operadas no domínio da História da Educação? Acredito que tais in-
tada, como procedimento para dar a ver as inclinações presentes IH'~;';"
dícios funcionam como atestado de uma busca e de uma disposição
tipo de acontecimento e como as mesmas funcionam como l'sp{'l'i(' dI'
em renovar a pesquisa educacional e a pesquisa histórica, instaurando
grade de reconhecimento do que vem sendo produzido no ca 111pu, n i.r-.
uma crise em relação aos modelos de inteligibilidade dominantes até
também como agenda, como perspectiva, como direção.
então, solapando seus fundamentos e instituindo uma forma de refle-
xão que compreenda o fenômeno da educação inscrito em um ponto, Variando na temática geral, o que sugere ênfases l'spl'dt'i,'.l·;, ,.l~,
cortado por forças distintas e desiguais, que termina por redesenhar o questões gerais privilegiadas nessas cinco edições adquirem \11\1 t1\.lill'

31 Certamente esse movimento também guarda relações com o chamado fim das experiên- 32A 6a edição está prevista para ocorrer em 2006, na Universidade I;"dn;t\ d,' I )[,,'rI,ltldl.l
cias do "socialismo real", o que instituiu novas possibilidades de se pensar, em diferen- Para compreender aspectos da história deste evento, cf os b<1I.",\,,,, do" 11\\",11""., 1>"111

tes domínios. como NADAr (1993) e CARVALHO (2004).

304 305

grau de clareza, quando se observa o regular e o desvio, com base nos adquiridos não sejam os mesmos em um corte horizontal, isto é, na
eixos temáticos", Como preocupação regular, encontra-se a reserva de simultaneidade não há universais. Em um corte mais vertical, na dia-
espaço para as questões de ordem teórico-metodológica da pesquisa cronia, os contornos também não são os mesmos, isto é, o objeto educa-
em História da Educação e as relativas ao processo de escolarização, cional não é eterno. Caracterizado por essa dupla inexistência, a de
presentes nos eixos de todos os Lusos. Eixos associados à imprensa universalidade e a de eternidade, o objeto educacional pode ser perce-
pedagógica, história da profissão docente, práticas educativas, história bido como efeito e como produtor de cultura, perspectiva que se tra-
da leitura e do livro, das instituições, das políticas educacionais, das duz em uma forte recusa de qualquer concepção que tenda a naturizá-lo.
relações entre religião e educação e da colonização, ao lado dos estu- As estratégias editoriais e associativas aqui referidas e objetivadas
dos voltados para o uso das categorias de gênero, etnia e geração, têm anunciam um florescimento no campo da História da Educação, o que
comparecido de modo regular neste evento. Como temas explicitados se processa não sem riscos. O exercício de reflexão que procurei desen-
de modo mais raros, podemos apontar para a questão das novas tecno- volver teve como ponto de partida e de apoio algumas práticas da pes-
logias digitais, da infância e da família, o que, no limite, não autoriza
quisa em História da Educação, disponíveis materialmente na imprensa
qualquer afirmação de que trabalhos nestas direções tenham estado pedagógica especializada e em um importante evento temático da área.
ausentes das edições em que os mesmos foram contemplados em eixos
Práticas de pesquisa associadas a dispositivos de legitimação do cam-
específicos, tampouco que a tal explicitação tenha correspondido a um
po. Práticas e processos de legitimação que, longe de serem os únicos,
volume expressivo de trabalhos voltados para o exame desses recortes.
dão a ver alguns dos "principais perigos" da História da Educação, isto
Assemelhado às iniciativas das revistas e contemporâneos a elas é, os problemas presentes que acompanham esta forma de reflexão,
(os Lusos têm início em 1996, a RHE, em 1997, e a RBHE, em 2001), o sendo que um deles diz respeito ao regime de circulação e de apropria-
que também pode ser detectado nos Lusos é o reconhecimento e for- ção das teorias que modelam os estudos produzidos nesse campo.
talecimento da tese de que a História da Educação constitui-se em
campo disciplinar específico, regido por regras próprias que delinei-
am e caracterizam uma forma de reflexão, daí, por exemplo, a previ- Pesadelo e sonho
são regular em abrigar, no espaço dos Lusos, os estudos que incidem
na reflexão de caráter teórico-metodológico e a recorrência dessa te- Na epígrafe, o pesadelo da criança diante da impossibilidade de
mática nas duas revistas, o que pode ser compreendido como expres- decifrar a verdade do texto, de encontrar sua substância mais pura e
são de uma política de investigação definida no / do interior mesmo sua forma perfeita constitui-se em expressão de um dos fundamentos
do campo da História da Educação. Acoplada a essa percepção, o que das reflexões foucaultianas. Outros foram explicitados em forma de
se pode observar é que a recente produção da área vem afirmando sonho, com o qual encerro este ensaio:
um modo de se fazer História da Educação, não mais tornada pensá-
Sonho com o intelectual destruidor de evidências
vel a partir de elementos exteriores ao objeto educacional. O que as
e das universalidades,
revistas temáticas da área e os Lusos têm ajudado a construir é uma
que detecta e indica nas inércias e nas coações do presente
concepção de que o objeto educacional constitui-se na tensão imprevisí-
os pontos de fraqueza,
vel entre diferentes forças e interesses, o que faz com que os contornos
as aberturas,
as linhas de força,
" Um esforça mais rigoroso suporia o exame do trabalhos selecionados em cada eixo, o
que poderia ser ainda melhor precisado por meio do exame do conjunto dos que foram aquele que se desloca sem cessar,
encaminhados para análise, associado a uma reflexão relativa aos termos dos respecti- que não sabe certamente onde estará
vos pareceres. Esta sugestão também tem a função de anunciar os limites a partir dos nem o que pensará amanhã,
quais esta reflexão foi desenvolvida. Aqui também não é possível por em discussão
eventuais equivalências entre os eixos, pela ausência de uma descrição mínima dos pois está extremamente atento ao
mesmos e das barreiras deste trabalho. presente. (apud ERIBON, 1996, p. 178)

306 307

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