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EFOMM
SUMÁRIO
Pág.3 ---------- 2010-2011 Pág.15 ---------- 2004-2005
Pág.5 ---------- 2009-2010 Pág.17 ---------- 2003-2004
Pág.7 ---------- 2008-2009 Pág.19 ---------- 2002-2003
Pág.9 ---------- 2007-2008 Pág.21 ---------- 2001-2002
Pág.11--------- 2006-2007 Pág.23 --------- 2000-2001
Pág.13 ---------2005-2006
COMO TREINAR
Este documento traz os textos das provas de
português da EFOMM, do ano 2000 até o ano
2011.
As provas de redação da EFOMM são
conhecidas por seus temas abstratos, geralmente
baseados nos textos das provas de português.
Então minha sugestão é a seguinte: que
você interprete cada texto das provas e delas
crie um tema, depois faça uma redação baseada
nesse tema.
Afirmo que essa é apenas uma sugestão,
cada um tem seu modo de treinar redação.
Espero tê-los ajudado,
Henrique Audi Morokawa
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2010-2011
A Última Crônica - Fernando Sabino
"A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao
balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta.
Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco
ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária
algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de
ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer
num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico,
torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar,
curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança:
"assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço
então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
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cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns
pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha
agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está
olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de
bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se
convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo,
nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a
cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso."
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2009-2010
Bruno Lichtenstein
Mas com toda a certeza o menino Bruno Lichtenstein jamais leu esses versos.
Também com certeza nunca lhe explicaram o que é vivissecção, nem lhe disseram que
seu cão ia ser vivisseccionado. Tudo o que ele sabia é que lhe haviam carregado o
cachorro e que iam matá-lo. Se fosse pedi-lo, naturalmente, não o dariam. Quem, neste
mundo, haveria de se preocupar com o pobre menino Bruno Lichtenstein e o seu pobre
cão? Mas o cachorro era seu amigo — e estava lá, metido em um porão, esperando a
hora de morrer. E só uma pessoa no mundo podia salvá-lo: um menino pobre chamado
Bruno Lichtenstein. Com esse sobrenome de principado, Bruno Lichtenstein é um
garoto sem dinheiro. Não pagará a licença de seu amigo. Mas Bruno Lichtenstein havia
de salvar a vida de seu amigo — de qualquer jeito. E jeito só havia um: ir lá e tirar o
cachorro. De longe, Bruno Lichtenstein chorava, pensando ouvir o ganido triste de um
condenado à morte. Via homens cruéis metendo o bisturi na carne quente de seu amigo:
via sangue derramado. Horrível, horrível. Bruno Lichtenstein sentiu que seria o último
dos infames se não agisse imediatamente.
Bruno Lichtenstein, da cabeça aos pés, tremia de susto e de alegria. Foi aí que
ele ouviu uma voz áspera e espantada de homem. Era o dr. Loforte. O dr. Loforte
surpreendeu o menino. Um menino pobre, que tremia, que havia arrombado a
Faculdade. Só podia ser um ladrão! Bruno Lichtenstein não explicou nada — e fez bem.
Para o dr. Loforte um cachorro não é um cachorro — é um material de estudo como
outro qualquer.
O texto acima foi extraído do livro "1939 - Um episódio em Porto Alegre (Uma fada no front)", Ed.
Record - Rio de Janeiro, 2002 - pág. 37.
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2008-2009
Encontro na praça
José Luís da Cunha Fernandes, morador no Saco de São Francisco, uma tarde
dessas, teve um encontro singular. Ia voltar de barca para Niterói e portava sua máquina
fotográfica. Sua intenção era pegar o pôr-do-sol no Rio de dentro da barca. Mas ali na
Praça 15 de Novembro, em frente à estação de embarque, deu-se o encontro de José
Luís com uma rara personalidade.
Ninguém reparava nela, no insólito de sua presença, no inesperado de sua
postura, em tudo que era de chamar atenção. Mas José Luís, que sabe ver, e não apenas
olhar, maravilhou-se. Maravilhou-se e voltou imediatamente à infância, pois o ser que
ali se encontrava parado em meio à multidão, ele o conhecera em menino, e desde então
nunca mais o vira. Nunca. E de tanto não o ver, por assim dizer se esquecera dele. As
conversas, as leituras, as atividades de todo dia não costumam referir-se à existência
dessa figura de repente desaparecida. Então, ela ficara encaixotada num desvão da
memória, mas tão escondido estava o caixote que era como se não existisse. E assim se
passaram anos.
O que José Luís encontrou na Praça 15 foi uma esperança.
E estava pousada no alto da caixa de correio. Estava pousada.
Quantas crianças de hoje conhecem a esperança? Quantas ligam esse nome a um
organismo vivo, que habita o folclore pela cor, que é promessa de felicidade? Menino
do interior ainda pode ver, um dia ou outro, a esperança. Menino da cidade, terá muita
sorte se a encontrar no Alto da Boa Vista ou no Parque da Cidade. Mas no cotidiano dos
bairros superpovoados, nas ruas inteiramente plantadas de edifícios secos e agrestes,
quem já viu esse bichinho? Quem sabe de sua esperteza em imitar folhas de arbusto,
iludindo não só os outros insetos, que ele deseja papar, mas até a gente?
Pois em contrário a todas as possibilidades, a esperança postara-se naquele
trecho febril do Rio de Janeiro, não ligando para o tumulto, a pressa, o barulho, a poeira,
o fumo de descarga dos veículos. Ele elegera o cocuruto da caixa da ECT para a
habitação provisória. Ali estava, quieta, verde, ortóptera, saltadora mas imóvel,
mimética mas em sua cor natural, estridulante mas silenciosa, guardando todas as
potencialidades: simplesmente esperança, esperança para servi-los.
E em que servia a esperança ao povo que ia quase correndo e não lhe dava a
mínima confiança? Só José Luís era capaz de sabê-lo, por ser o único a tomar
conhecimento do inseto em cima da caixa. Percebeu logo que a esperança cumpria
delicada tarefa.
Em primeiro lugar, oferecia ou tentava oferecer boas notícias nas cartas
colocadas no interior da caixa. Palavras de carinho, promessas de emprego,
reconciliações, doente que ficou bom, dívida que se conseguir pagar, beijos. Talvez as
cartas dissessem o contrário disso, mas a esperança concentrava seu princípio influente
nas próximas correspondências, as definitivas. Bem que a ECT podia designar a
esperança para seu logotipo. Inseto ágil, pulando como ele só: imagem de velocidade,
que se vem conseguindo implantar no tráfego postal.
Em seguida, a esperança dirigia-se a todos, que voltavam a Niterói ou vinham de
lá; e ainda aos avulsos, que ficam por aqui mesmo, e transitam na Praça. ―Ó vós todos
que passais, aqui estou (dizia a esperança em seu falar tetigonídeo, que o vulgo
infelizmente não capisca) para que repareis o meu verde e o guardeis na rotina pelo que
ele vale. Vale o melhor. Vale a capacidade de transformar o real em transreal e usufruir
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as coisas deleitáveis que esse pode distribuir em forma de paz de espírito e coração
sensível. Nem tudo é sujo na vida. Há claridades. Mas a claridade começa dentro de
você, de vós mesmos... Depois é que ela se espalha pela cidade e pela vida dos outros.
Eu, a esperança, à maneira dos reis antigos, vos envio saudar.‖
Ninguém ouviu, ninguém traduziu. Só José Luís, que documentou a presença da
esperança, fotografando-a. Ia fotografar o crepúsculo, mas antes teve a sorte de
fotografar nada menos que uma virtude teologal em minúscula forma vivente.
Carlos Drummond de Andrade
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2007-2008
São Bernardo (Graciliano Ramos)
Conheci que Madalena era boa em demasia, mas não conheci tudo de uma vez.
Ela se revelou pouco a pouco, e nunca se revelou inteiramente. A culpa foi minha, ou
antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste.
E, falando assim, compreendo que perco o tempo. Com efeito, se me escapa o
retrato moral de minha mulher, para que serve esta narrativa? Para nada, mas sou
forçado a escrever.
Quando os grilos cantam, sento-me aqui à mesa da sala de jantar, bebo café,
acendo o cachimbo. Às vezes as idéias não vêm, ou vêm muito numerosas – e a folha
permanece meio escrita, como estava na véspera. Releio algumas linhas, que me
desagradam. Não vale a pena tentar corrigi-las. Afasto o papel.
Emoções indefiníveis me agitam – inquietação terrível, desejo doido de voltar,
tagarelar novamente com Madalena, como fazíamos todos os dias, a esta hora. Saudade?
Não, não é isto: é desespero, raiva, um peso enorme no coração.
Procuro recordar o que dizíamos. Impossível. As minhas palavras eram apenas
palavras, reprodução imperfeita de fatos exteriores, e as dela tinham alguma coisa que
não consigo exprimir. Para senti-las melhor, eu apagava as luzes, deixava que a sombra
nos envolvesse até ficarmos dois vultos indistintos na escuridão.
Lá fora os sapos arengavam, o vento gemia, as árvores do pomar tornavam-se
massas negras.
– Casimiro!
Casimiro Lopes estava no jardim, acocorado ao pé da janela, vigiando.
– Casimiro!
A figura de Casimiro Lopes aparece à janela, os sapos gritam, o vento sacode as
árvores, apenas visíveis na treva. Maria das Dores entra e vai abrir o comutador.
Detenho-a: não quero luz.
O tique-taque do relógio diminui, os grilos começam a cantar. E Madalena surge
no lado de lá da mesa. Digo baixinho:
– Madalena!
A voz dela me chega aos ouvidos. Não, não é aos ouvidos. Também já não a
vejo com os olhos.
Estou encostado à mesa, as mãos cruzadas. Os objetos fundiram-se, e não
enxergo sequer a
toalha branca.
–Madalena...
A voz de Madalena continua a acariciar-me. Que diz ela? Pede-me naturalmente
que mande algum dinheiro a mestre Caetano. Isto me irrita, mas a irritação é diferente
das outras, é uma irritação antiga, que me deixa inteiramente calmo. Loucura estar uma
pessoa ao mesmo tempo zangada e tranqüila. Mas estou assim. Irritado contra quem?
Contra mestre Caetano. Não obstante ele ter morrido, acho bom que vá trabalhar.
Mandrião!
A toalha reaparece, mas não sei se é esta toalha sobre que tenho as mãos
cruzadas ou a que estava aqui há cinco anos.
Rumor do vento, dos sapos, dos grilos. A porta do escritório abre-se de manso,
os passos de seu Ribeiro afastam-se. Uma coruja pia na torre da igreja. Terá realmente
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piado a coruja? Será a mesma que piava há dois anos? Talvez seja até o mesmo pio
daquele tempo.
Agora seu Ribeiro está conversando com d. Glória no salão. Esqueço que eles
me deixaram e que esta casa está quase deserta.
– Casimiro!
Penso que chamei Casimiro Lopes. A cabeça dele, com o chapéu de couro de
sertanejo, assoma de quando em quando à janela, mas ignoro se a visão que me dá é
atual ou remota.
Agitam-se em mim sentimentos inconciliáveis: encolerizo-me e enterneço-me;
bato na mesa e tenho vontade de chorar.
São Bernardo, Rio de Janeiro, Record, 1983.
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2006-2007
Seca
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Nesse pé o fazendeiro, para acabar com a história, resolveu mostrar bom
coração; e gritou para o corredor:
− Menina! Manda aí uma cuia com um bocado de farinha!
Depois, retornando ao homem:
− Eu podia mandar prender vocês, para aprenderem a não matar bicho alheio!
Mas têm crianças, não é? Tenho pena das crianças! Leve essa farinha, comam e tratem
de ir embora. Daqui a uma hora quero o pé de juazeiro limpo e vocês na estrada. Podem
ir!
O homem recebeu a cuia, não disse nada, saiu sem olhar para trás. O outro
acompanhou, meio temeroso, tirou ainda o chapéu em despedida, e pegou no passo do
companheiro. O velho reclamava em voz alta – cabra desgraçado, além de fazer o
malfeito, recebe o favor e nem sequer abana o rabo.
Os trabalhadores, calados, acompanhavam com os olhos os dois estranhos que
marchavam um atrás do outro, na direção do juazeiro, do qual só se avistava a copa alta
ali no terreiro. Ninguém sabe o que pensavam; o dono da cabra deu de mão no couro e
foi com ele para trás da casa.
Aí a sineta bateu e os homens saíram para o serviço. Passando pelo juazeiro, lá
viram a família ao redor do fogo, os meninos procurando pescar pedaços da carne que
fervia numa lata. Mas o homem escuro, encostado ao tronco, via-os passar, de braços
cruzados, sem baixar os olhos. Ainda foi o dono da cabra que baixou os seus; explicou
depois que não gostava de briga.
MORALIDADE: Este caso aconteceu mesmo. Faz mais de trinta anos escrevi
uma história de cabra morta por retirante, mas era diferente. Então, o homem sentia dor
de consciência, e até se humilhou quando o dono do bicho morto o chamou de ladrão.
Agora não é mais assim. Agora eles sabem que a fome dá um direito que passa por cima
de qualquer direito dos outros. A moralidade da história é mesmo esta: tudo mudou,
mudou muito.
QUEIROZ, Rachel de. Cenas brasileiras. São Paulo: Ática, 1997, p. 14-17. (Para gostar de ler).
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2005-2006
Texto 1:
O Outro
Na redação, o secretário fazia sua cozinha, quando a senhora, não primaveril, mas
ainda não invernosa, dele se aproximou timidamente. E sacando da bolsa um recorte de
jornal, perguntou-lhe se sabia o endereço de Emílio Moura, autor dos versos ali
estampados.
O secretário explicou-lhe que o assunto era de competência do Silva, encarregado
do suplemento literário. O Silva não ia demorar, estava na hora dele. Não queria sentar-
se, esperar?
Ela recolheu cuidadosamente o fragmento e dispôs-se a aguardar o Silva, que, como
acontece nessas ocasiões, tardou um pouquinho. Mas que tardasse dois anos, não fazia
diferença, a julgar pelo semblante da senhora, de paciente determinação.
Diante do Silva, exibiu novamente o papelzinho e fez-lhe a pergunta.
— Endereço do Emílio Moura? Pois não, minha senhora. Com licença, deixe ver
aqui no caderninho: rua tal, número tantos, em Belo Horizonte ...
O rosto da senhora se transfigurou:
— Belo Horizonte? O senhor tem certeza de que ele está em Belo Horizonte?
— Se está, no momento, não sei, minha senhora. Mas sempre morou lá, isso eu posso
lhe garantir.
A senhora olhava para o papel, dobrava-o, esboçava o gesto de jogá-lo fora, depois
o desdobrava e alisava com carinho. E, na ponta de longo silêncio:
— Senhor Silva, este pedacinho de jornal me trouxe uma grande esperança e agora
uma profunda decepção. Muito obrigada. Desculpe.
Ia retirar-se, sem que o Silva compreendesse níquel, mas voltou-se, e rapidamente
desfolhou esta confidência:
— Há quatro anos ando à procura de Emílio Moura. Éramos muito amigos, ele
fazia versos lindos, que eu, na qualidade de sua melhor amiga, lia em primeira mão. Um
dia, contou-me que ia viajar para Montevidéu, onde ficaria algum tempo. Escreveu-me
de lá duas vezes, e da segunda anunciava que seguiria para o Canadá. Nunca mais
recebi a menor notícia. Ninguém sabe informar nada. Quando li no jornal esta poesia
com o nome dele, fiquei cheia de esperança, mas agora não sei o que pensar. O senhor
me diz que Emílio Moura tem cinqüenta anos e é professor em Belo Horizonte. O que
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eu conheço tem trinta e dois anos e nunca morou em Minas, que eu saiba, mas como os
versos dele são parecidos com estes que o seu jornal publicou! A mesma doçura, uma
sensação de fim de tarde, meio triste, o senhor não imagine ... Enganei-me. Desculpe
mais uma vez, e passe bem, Sr. Silva.
Saiu, levando nas mãos o papelzinho, como uma flor.
Carlos Drummond de Andrade
Texto 2:
Me responda, sargento
Dez anos, sargento, apartada do João. Uma tarde, sem se despedir, montou
no cavalinho pampa, em dez anos de espera nunca deu notícia. Com a morte do meu
velho, que me deixou o sítio, quinze dias atrás lá estava eu, bem quieta, cuidando da
casa e da criação, ajudada pelo meu afilhado José, esse anjo de oito aninhos. Quem vai
entrando sem bater palma nem pedir licença? Chegou maltrapilho, chapéu na mão me
rogou para fazer vida comigo. Mais de espanto que de saudade aceitei, bom ou mau, eu
disse, é o meu João.
Nos primeiros dias foi bonzinho, quem não gosta de uma cabeça de homem
no travesseiro? Logo começou a beber, não me valia em nada no sítio. Eu saía bem cedo
com o menino a lidar na roça, o bichão ficava dormindo. Bocejando de chinelo e
desfrutando as regalias, não quer castigar o corpinho, não joga um punhado de milho
para as galinhas. Só então, sargento, burra de mim, descobri o mistério: ele voltou por
amor da herança. Na primeira semana vendeu o leitão mais gordo do chiqueiro, não me
deu satisfação, o sargento viu algum dinheiro? Nem eu.
Ontem chegou bêbado e de óculos escuro, espantou o menino para o terreiro
e, fechados no quarto, bradou que eu tinha um amante, o meu afilhado bem que era filho
e, antes de contar até três, eu dissesse o nome do pai. Por mais que, de joelho e mão
posta, negasse que havia outro homem, por mim o testemunho dos vizinhos, ele me
cobriu de palavrão, murro, pontapé. Pegou da espingarda, me bateu com a coronha na
cabeça. Obrigou a rezar na hora da morte e pedir louvado. Que eu abrisse a boca,
encostou o cano, fez que apertava o gatilho. Não satisfeito, sacou da garrucha, apagou o
lampião a bala. Disparou dois tiros na minha direção, só não acertou porque me desviei.
Uma bala se enterrou na porta, a outra furou a cortina, em três pedaços a cabeça do São
Jorge.
Cansado de reinar, deitou-se vestido e de sapato, que a escrava servisse a
janta na cama. Provou uma garfada e atirou o prato, manchando de feijão toda a parede:
―Quero outra, esta não prestou‖. Deus me acudiu, ao voltar com a bandeja ele roncava
espumando pelo dente de ouro. Agarrei meu filho, chorando e rezando corri a noite
inteira, ficasse lá no sítio era dona morta. E agora, sargento, que vai ser da minha vida,
que é que eu faço?
Dalton Trevisan. O pássaro de cinco asas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1975.
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2004-2005
Texto 1:
Memórias da Casa Velha
Vou subindo a ladeira calçada de pedras velhas irregulares e escorregadias,
ladeada de casas velhas, de paredes desbotadas. Tudo é silêncio e, não fosse aquela
mulher, também velha e desbotada, que me espia triste do alto de uma janela, diria que
ninguém mora mais aqui, que todos se foram, que muitos morreram e que outros se
mudaram.
Quando chego à última curva, a respiração se faz difícil pelo esforço da subida,
mas sintome recompensado ao avistar o grande portão aberto em arco. Reconheço-o
facilmente, embora suas grades estejam enferrujadas e não brancas, como antigamente.
Até há pouco chovia. Agora um sol alegre ilumina a copa das árvores, vence a folhagem
e espeta seus raios na relva. Mesmo assim, quando entro, sinto a terra úmida debaixo
dos meus
sapatos.
Há quantos anos entrei por esta mesma alameda? Vinte, vinte e cinco? Talvez.
Lembro-me que ficara impressionado com a majestade do jardim. Seria ele mais belo
então? Mais tratado era, por certo. Agora, abandonado, tudo aquilo que perdeu em
simetria, em colorido, ganhou em placidez, em santidade. Sim, penso que estou a entrar
numa catedral vazia, enquanto caminho devagar, olhando em torno.
Antes havia marrecos neste laguinho: agora, folhas mortas bóiam, sem pressa de
chegar à outra margem. Aliás, não eram somente marrecos. Lembro-me de dois cisnes a
me olharem espantados, sem compreenderem que aquele menino também os via pela
primeira vez.
―Um dia um cisne morrerá, por certo‖ quando li o soneto de Salusse, numa
antologia de
parnasianos, lembrei-me imediatamente do casal de cisnes que vivia neste lago.
Se o cisne vivo nunca mais nadou, não sei. Sei que os bichos se foram todos.
Apenas os pássaros continuam a usufruir deste jardim. Oiço o chilrear de centenas deles
sobre a minha cabeça e, sem me importar com isso, vou subindo na direção da casa.
Foi o vento na minha nuca ou foi de pura saudade que me veio este tremor? Lá
está a varanda grande, cingida de trepadeiras. Minha mãe me segurava pela mão e
falava, mas o alvoroço das moças era mais alto que a sua voz. Uma delas (quem seria?)
apaixonou-se por meus cabelos louros e, naquela tarde em que aqui estive, penteou-me
tantas vezes!
Quando minha mãe abaixou-se para me beijar e partir, quase chorei na frente das
moças. Depois esqueci. Elas brincaram comigo, me deram lanche, me deixaram correr
no gramado.
Olho a casa e penso que a gente que mora lá embaixo, na ladeira, deve andar a
inventar coisas, a dizer que ela é mal-assombrada. Triste, coitada. Triste é o que ela é.
Sei que ninguém mais vem cá e esta roseira deve saber também, mas, sem
qualquer vaidade, continua a expor as suas rosas. Quanto àquele canteiro, que as
rolinhas estão ciscando, era de crisântemos, mas não se usa mais essa flor.
O casarão está em ruínas. Nada mais dá idéia de abandono do que esta janela de
vidros quebrados ou aquela fonte sem repuxo. Já não há os crisântemos de outrora, a
fonte , as moças na varanda, seu riso.
Tudo é silêncio, tudo é quietude. Somente os pássaros. Os pássaros e as
lembranças.
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Pela tarde, à hora do crepúsculo (hoje todos os crepúsculos terminam aqui)
minha mãe veio me buscar. Quase a vejo caminhando, a sorrir para mim. Tão moça e
tão linda (conta-se que, no seu tempo, foi a mais bonita aluna do Colégio Sion), ela me
acenava com um embrulho na mão; o presente que prometera, caso me comportasse
bem.
A alegria que senti ao revê-la! Lembro-me que corri em sua direção e tão afoito,
que caí de peito na relva, como um mergulho. O pão com geléia que uma das moças me
dera caiu também e lá ficou esquecido.
Não chorei. Contive as lágrimas como contenho agora, enquanto vou descendo
pelo mesmo caminho. Vou devagar, porém. Já não há nem a pressa, nem a alegria de
então.
(Sérgio Porto, in Antologia Escolar de Crônicas)
Texto 2:
De volta à casa paterna
Como a ave que volta ao ninho antigo,
depois de um longo e tenebroso inverno,
eu quis também rever o lar paterno,
o meu primeiro e virginal abrigo.
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2003-2004
O canarinho
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Mas voltou. Na hora do almoço, a empregada veio dizer-nos que ele estava na
janela do edifício que se constrói ao lado, muito triste. É verdade. Lá está o canarinho,
sem saber de onde veio, sem saber aonde ir, sem saber ao certo se gostamos dele, triste,
arrepiado e com fome. Um ponto amarelo no paredão esbranquiçado, lá está o nosso
canário-da-terra, a doer em nossos olhos.
Vai-te embora, canarinho, que não te quero mais. Mas ele fica, brincando de
corvo, dizendo ―never more‖. Este refrão ―never more‖ me deixa meio esquisito. Estou
triste. Todo mundo aqui de casa está triste, ridiculamente triste, nesta manhã luminosa
de junho.
Paulo Mendes Campos
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2002-2003
Texto 1:
Árvores, mais árvores
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Já se disse que o poeta é um homem para o qual o mundo exterior existe. Nesse
mundo exterior o que há de mais belo é a árvore. Nós temos cada vez mais urgência de
poesia neste mundo mecânico e desarticulado. Deixai que a árvore reconduza a criança
às fontes da poesia perene e insubstituível!
REBELO, Marques , Árvores, mais árvores. In: Antologia Escolar de Crônicas, organizada por Herberto
Sales. Rio de Janeiro: Ed. Tecnoprint. S.A.
Texto 2:
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2001-2002
Uma galinha
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da
manhã.
Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para
ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua
intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se
adivinharia nela um anseio.
Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e,
em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o
tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde,
em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado,
hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada
viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa lembrando-se da dupla necessidade
de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar vestiu radiante um calção de
banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado
onde esta hesitante e trêmula escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-
se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua.
Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida a galinha tinha que decidir por si
mesma os caminhos a tomar sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um
caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia
soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às
vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava
outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão
livre.
Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que
havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se
poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na
sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria
no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a.
Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por um asa através
das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se
um pouco, em cacarejos roucos e indecisos.
Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida,
exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade,
parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou respirando,
abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração tão pequeno num prato solevava e
abaixava as penas enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a
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menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se
do acontecimento despregou-se do chão e saiu aos gritos:
— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! Ela quer o nosso
bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente.
Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre nem triste, não
era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe
e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer.
Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa
brusquidão:
— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!
— Eu também! jurou a menina com ardor.
A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a
família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida
para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: ―E dizer que a obriguei a
correr naquele estado!‖ A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o
sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas
capacidades: a de apatia e a do sobressalto.
Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se
de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o
corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça
a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.
Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se
recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os
pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado à fêmeas cantar, ela não cantaria
mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia
cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era
uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.
Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.
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2000-2001
Quem é carioca
Claro que não é preciso nascer no Rio para ser genuinamente carioca, ainda que
haja nisto um absurdo etimológico. É notório que há cariocas vindos de toda parte, do
Brasil e até de fora do Brasil. Ainda há pouco tempo chamei Armando Nogueira de
carioca do Acre, nascido na remota e florestal cidade de Chapuri. Armando conserva, de
resto, a marca acriana num resíduo de sotaque nortista, cuja aspereza nada tem a ver
com a fala carioca, que não cospe as palavras, mas antes as agasalha carinhosamente na
boca. Mas não é a maneira de falar, ou apenas ela, que caracteriza o carioca. Há sujeitos
nascidos, criados e vividos no Rio — poucos, é verdade — que falam cariocamente e
não têm, no entanto, nem uma pequena parcela de alma carioca. Agora mesmo estou me
lembrando de um sujeito ranheta, que em tudo que faz ou diz põe aquela eructação
subjacente que advém de sua azia espiritual. Este, ainda que o prove com certidão de
nascimento, não é carioca nem aqui nem na China. E assim, sem querer, já me
comprometi com uma certa definição do carioca, que começa por ser não propriamente,
ou não apenas um ser bem-humorado, mas essencialmente um ser de paz com a vida.
Por isso mesmo, o carioca, pouco importa sua condição social, é um coração sem
ressentimento. Nisto, como noutras dominantes da biotipologia do carioca, há de influir
fundamentalmente a paisagem, ou melhor, a natureza desta mui leal cidade do Rio de
Janeiro.
Aqui, mais do que em qualquer outro lugar, é impossível a gente não sofrer um
certo afeiçoamento imposto pela natureza. A paisagem, de qualquer lado que o olhar se
vire, se oferece com a exuberância e a falta de modos de um camelô. O carioca sabe que
não é preciso subir ao Corcovado ou ao Pão de Açúcar para ser atropelado por um belo
panorama (belo panorama, aliás, é um troço horrível). Por isso mesmo, nunca um só
carioca foi assaltado no Mirante Dona Marta, que está armadinho lá em cima à espera
dos otários, isto é, dos turistas.
Pois o que o carioca não é, o que ele menos é — é turista. O que caracteriza o
carioca é exatamente uma intimidade com a paisagem, que o dispensa de encarar, por
exemplo, a Praia de Copacabana com um olhar que não seja o rigorosamente familiar. O
carioca não visita coisa nenhuma, muito menos a sua cidade, entendida aqui como
entidade global e abstratamente concreta. Ele convive com o Rio de igual para igual e
nesta relação só uma lei existe, que é a da cordialidade. O carioca está na sua cidade
como o peixe no mar.
Por tudo isso, qualquer sujeito que não esteja perfeita e estritamente casado com
a paisagem ou, mais do que isto, com a cidade, não é carioca — é um intruso, um corpo
estranho. E é isto o que transparece à primeira vista, não adianta disfarçar. O carioca
autêntico, o genuíno mesmo, esse que chegou ao extremo de nascer no Rio, esse não
engana ninguém e nunca dá um único fora — sua conduta é cem por cento carioca sem
o menor esforço. O carioca é um ser espontâneo, cuja virtude máxima é a naturalidade.
Não tem dobras na alma, nem bolor, nem reservas. Também pudera, sua formação,
desde o primeiro vagido, foi feita sob o signo desta cidade superlativa, onde o mar e a
mata — verde e azul — são um permanente convite para que todo mundo saia de si
mesmo, evite a própria má companhia — comunique-se. Sobre esse verde e esse azul,
imagine-se ainda o esplendor de um sol que entra pela noite adentro — um sol que se
apaga, mas não se ausenta. Diante disto e de mais tudo aquilo que faz a singularidade da
beleza do Rio, como não ser carioca?
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Apesar de tudo, há gente que consegue viver no Rio anos a fio sem assimilar a
cidade e sem ser por ela assimilada. Gente que nunca será carioca, como são, por
exemplo, Dom Pedro II e Vinícius de Morais, autênticos cariocas de todos os tempos,
segundo Afonso Arinos. A verdade é que nem todo mundo consegue a taxa máxima de
―cariocidade‖, que tem, por exemplo, um Aloysio Salles. No extremo oposto, está
aquele homem público eminente que vi passeando outro dia em Copacabana. Ia de
braço com a mulher e, da cabeça aos sapatos, como dizia Eça de Queiroz, proclamava a
sua falta de identificação com o que se pode chamar ―carioca way of living‖. Sapatos,
aliás, que não eram esporte, ao contrário da camisa desfraldada. Esse é um que não
precisa abrir a boca, já se viu que está no Rio como uma barata está numa sopa de
batata, no mínimo por simples erro de revisão.
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