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TESE MARXISTA
UMa.
102
f
RESPOSTA A LHA
TESE MARXBSTA
————w ■ o—
CURITIBA - 1953
POR
CMa./102/f
(10759/86)
CPDOC/lNDíPO
Fundação Getúli.' Vargas
10.^5°) (36
UP-UOüUUlbO-6
OS PRESSUPOSTOS DA REFLEXÃO E A SUA
FUNÇÃO NA INDUÇÃO DA VERDADE
!) "Voprosy fHotofH”» Moscou, números dc 1951*53 — "Der dtalektisehf MatcriaUsmus", Wten« Hcrder,
de Gustav A. Wcttcr, J9S2, pp. 539-556. — “Pr Búconis etc Vertdamío, «Stimnri AnpcUac Canccltaril,
Novum Oryanum SctonttoruTn’*. Ed. 2a , an. lt nr. 24, n, 30 — 3) Bacon, op, C, nr, 95. — <) lt>. nr. S5» —
f) Cato Prado Jr„ op. c.( p. 22?. — fi) Dc ver.t Í0, 9.
3
1) De Ver. 1Í4, od. t. — 2) In Boít. de Trin.» 6,2 — 3) Bacon, op., c, nr, 9J p. 105 — 4) Ib. pao. 105
nr, 93 — 5) Ib. nr. 10, p. 29. — 6) In BoOt. de trin. 6t2 — 7) 11 Met., Lcct, — S) II Met.» Lect. 1.
infinito e puro, mas de um espírito obras de Tomás dc Aquino e, antes,
finito que vivifica o corpo e conse cm «Dc sophisticis elenchis» de
quentemente conhece segundo o seu Aristóteles, como, aliás, o mesmo
modo de ser, dependendo do fantas Bacon o reconhece, embora persua
ma, dos sentidos, de tal ou qual dido da própria originalidade e su-
corpo concreto: «... modus cognos- periodade: «Doctrina enim de idolis
ccndi veritatem convenit naturae similiter se habet ad interprelatio-
animae secundum quod cst forma nem naturae, sicut doctrina de So
talis corporis» (1). S. Tomás tem phisticis Elenchis ad Dialecticam
pois, a mesma tese dc Bacon, en vulgarem» (6).
quanto ensina, que o estado dos
sentidos, do corpo, a nossa nature Um meio positivo e radical con
za, o temperamento de cada um tra a superbicialidadc e falsidade
exercem sôbre a inteligência huma no estudo da natureza é a aquisição
na influências profundas não só be das noções objetivas e dos princí
néficas, mas também que dificul pios verdadeiros recorrendo a «no
tam muito a busca da verdade e nos vo» e infalível método — verdadeira
indução, proposta por Bacon em o
fazem mesmo errar. A compleição
«Novum Organum» como «pars ae-
física constitui para muitos um dificans»: «Excitatio notionum et
grande obstáculo para a pesquisa axiomatum per induetionem veram
científica: «Quidam siquidem im- est certc proprium remedium ad
pediuntur propter complcxionis in- idola arcenda et summovenda» (7).
dispositionem, ex qua multi natu-
raliter sunt indispositi ad sciendum» A verdadeira indução não ante
(2) . O homem cai frequentemente cipa as respostas da natureza, mas
nos erros dominado pela fantasia espera que a natureza fale à inte
(3) , não sai do estado de ignorância ligência por meio da experiência
e de seus erros por causa da inati metódicamente ordenada, pois a ex
vidade intelectual: «Quidam autem periência isolada não passa de sim
impediuntur pigritia... laborem ples tentativa, servindo mais para
pauci subire voiunt pro amore scien- distrair o homem do que para ilu
tiae» (4). Também os erros origi miná-lo (8). Começando com ob
nados pelas relações sociais, pela servações numerosas, metódicas,
linguagem são bem conhecidos de organizadas, o homem não julgará
S. Tomás. Ensina, p. ex., que os de modo antropomórfico — «ex ana
erros cometidos pelos filósofos — logia hominis» — mas será dirigido
«idola theatri» — podem desviar as para que possa julgar com um ge
mentes c só por meio de um exame nuíno realismo sôbre o ser — «ex
diligente podem ser superados: «... analogia universi», o que é precisa
priores errantes circa veritatem mente o fim do filósofo. O filósofo
posterioribus exercitii occasionem não deve criar arbitràriamente um
dederunt, ut diligenti discussione mundo próprio, pequeno, imaginá
facta, veritas limpidius appareat» rio e ilusório, mas traçar na inteli
(5). gência uma imagem do universo
realmente científica, verdadeira,
Verificamos, pois, claramente, haurindo-a da experiência com or
que a «pars destruens» do «Novum dem fixa e bem marcada, mas alcan
Organum» — doutrina sôbre «ido çar esta visão do universo é impos
la» •— tão íntimamente conexa com sível lidando-se só com a razão e
a indução («... indicatio idolorum tomando-se uma atitude passiva.
magni est usus», ibidem, nr. 40), E’ necessário que o filósofo seja
encontra-se, bem desenvolvida, nas ativo: entregue-se a analisar a rea-
1) Jb. nr. M, p. 208. - 2) Bacon, op. c, nr. 1H, p. 1M. _ 3) Ib. p. 11, nr. 11, p. 158 - 4) Bacon, op. c,
p. n. nr. IZ, p. 261. — S) — 1b. p. 27$, nr. 33,
6
I) Ib.» p. «4. nr. «7 etc. — (2 lb., nr. Ifls, p. 112. -» 2) "La théorle du jugemen d‘apn*s Sé. Thonas
d*Aquln'\ P, Hoenen S. J,, Roma, Pont. Uniu. Gregoriana. 1953, 2,a pp. 3S4. Esta obra importante está tra-
<tu2idu tamWm em inglís; "KcalHy^anct judgment occording to St. Thomas". Chicago. Henry Kcgcncry
Compang, 1952, p XV-3H. — in tibros Pnster. Analitpcorum. lt lecHo 30; na cdiçdo Leonina, t. I. p. 255,
onde está também o texto dc Arfstótctcs, em grego.
também um sentido mais restrito e lectual e a conduzem ao juízo, à pos
especial da indução: Aristóteles e se formal da verdade. A verdade
com êle S. Tomás entendem por in Induzida c um juízo; c por isso é que
dução, como os modernos (Bacon precisamente no juízo devemos a-
etc,), um processo pelo qual de um char os elementos para a justifi
ou vários casos particulares obser cação critica desta verdade.
vados passamos para uma proposi Todo o juízo pressupõe um ato
ção, um juízo comum, objetivamen anterior: simples apreensão, que é
te válido também para os casos não a primeira operação da mente hu
observados. S. Tomás e Aristóteles mana, Mas êste conhecimento é, por
têm plena consciência de um sério assim dizer, simples informação da
problema gnoseológico, suscitado mente. A inteligência representa, o
por este processo: com que direito objetivo, ela o possui intencional
podemos afirmar de todos os casos, mente, está conformada à realida
comumentc o que foi observado de de, mas não conhece ainda esta sua
um ou de poucos casos? Ou: pode conformidade, não sabe, se corres
mos nós, por meio desta indução — ponde à realidade o conteúdo repre
incompleta — chegar a uma verda sentado — «dispositio rei» — se
deira certeza sôbre o valor dos juí gundo S. Tomás, «Sachverhalt» —
zos universais? E’ possível o conhe segundo expressão moderna. Jul
cimento indutivo? Eis, o problema gando, porém, a nossa inteligên
de Caio Prado Junior, problema pe cia conhece. Pois vê que
rene! Êste problema não existe a na simples apreensão possuía uma
respeito da indução completa, bem representação intelectual da reali
conhecida e rejeitada por Bacon, dade e descobre a conformidade na
pois esta indução consiste na obser representação a conformidade com
vação de todos os casos particula a realidade. A primeira operação
res: é, porisso, uma simples enume da mente se refere à «quididade», a
ração, uma totalização. Por vários segunda — juízo — à existência,
motivos é injusto Caio Prado Ju mas nem sempre como atual: eis,
nior, quando, com uma mentalidade porque o caráter do juízo é existen
empirístico-positiva, declara que tô- cial.
da a indução aristotélica é «totali Uma pergunta é inevitável nes
zação do saber adquirido». Existe te ponto: por que via ou por que
a indução incompleta e existe o pro modo a nossa inteligência chega a
blema sôbre a legitimidade desta in conhecer a conformidade entre a
dução, insolúvel para tôda a filoso representação intelectual e a coisa,
fia empirista, sempre cética, qual como chega a saber que assim, co
quer que seja e, por isso, absurda. mo é representado, é na realidade
A inteligência humana, dotada da ou não é na realidade? A fenome-
capacidade de conhecer a verdade, nologia do nosso conhecimento nos
a qual, mesmo posta em dúvida, se manifesta o fato, que o homem
manifesta e se afirma, marcha, por exerce a reflexão antes de qualquer
várias vias e com multiplicidade de juízo. Precisamente esta reflexão,
atos para a conquista de sua per completa, é uma volta crítica sôbre
feição que encontra conformando-se o conteúdo da simples apreensão
ao ser, do qual recebe a sua unidade que revela a natureza, noética do
e especificação como faculdade. ato apreensivo, a evidência e con
Abstração e reflexão — dados ine duz, consequentemente ao juízo, po
gáveis da constatação fenomenoló- sitivo ou negativo. O juízo é, pois,
gica — caracterizam essencialmente um fruto desta reflexão crítica. O
a atividade dc nossa faculdade inte ôlho vê, mas não vê a sua visão: vê
M 8
(De Ver.,
9 -
J) S., Th, J, 17.1. 2) s. Th., 1, 12,1, 0(j. j. _ Ver10,í — <) De Ver., 11,1 ad, 1.
1O
tado por S. Tomás cm plena con sideratio ad nos ascendit quod talis
córdia com a posição de «Novum species herbae sanat febrientem
Organum». Começa exigindo um simplicitcr, hoc acciptur ut quaedam
motivo suficiente para a composi regula artis medicinae» (1). S. To
ção ou para o nexo da afirmação: más é ainda mais moderno, pois en
«Oportet ponere aliquod motivum et sina o seguinte: como os fatos, às
determinativum intellectus ad ta vêzes, são insuficientes para elimi
lem complexionem faciendam: ter- nar tôdas as dúvidas e dirigir bem
mini autem accepti, licet si compa- a mente, há necessidade, desenvol
rentur haberent ex se evidentiam, vendo a experimentação, de provo
non suficiunt tamen ad movendum car outros análogos, em condições
(et?) deter minandum intellectum escolhidas por nós: «... scientia
ad hanc compositionem potius quam rerum aequiri potest non solum per
illam». Argumenta logo depois com experientiam ipsarum, sed per expe-
experiência: Expcrimur namque rientiam quarundam aliarum ro-
continue in nobis ipsis, quod habe- rum: cum ex virtute luminis intel
mus diu multorum terminorum con- lectus agentis possit homo procede-
ccptus absque notitia principiorum rc ad intelligendum effectus per
complexorum, quae ex illorum ter causas et causas per effectus et si-
minorum coniunctionc constat. Fa- milia per similia et contraria per
teor enimme cognovisse quid ae- contraria» (2).
quale, quid demere, et quid rema-
net, nescivisse tamen hoc principi- Moderna, pois, fecunda e bem
um: si ab aequalibus aequalia de- completa é a noética da indução de
mas, quae remanent sunt aequalia; S. Tomás de Aquino, segundo a
et similis ratio est in aliis». A con qual induzimos a verdade, partindo
clusão de Caictano: «Oportet ergo de algo concreto, isto é chegamos
ultra conceptus terminorum incom- «ao abstracto pelo concreto». Êste
plexorum ponere aliquod determi concreto, porém — base e pressu
nativum seu motivum intellectus ad posto necessário da abstração for
talem compositionem faciendam. mal na reflexão — é bem diverso
Tale autem motivum oportet esse segundo a categoria de juízos indu
sensum, quoniam ante compositio zidos: às vezes êste concreto pos
nem principiorum Aristóteles mul- sui diversas formas sensíveis, re
lum motivum intellectus novit nisi presentadas na inteligência pela
sensum. Ergo necessário cognitio apreensão, sobre a qual se exerce a
complexa principiorum praeexigit
sensitivam experimentalem». reflexão; outras vêzes o concreto é
Mais. Encontramos textos de a mesma reflexão feita sôbre o con
S. Tomás, que falam sôbre a ne teúdo concreto ora mencionado; é
cessidade da experimentação para a um determinado ato de juízo, que
indução das leis da natureza. Assim serve como base e fonte para uma
verificamos melhor ainda à concór série de reflexões sôbre a natureza
dia essencial da posição tomista com noética das nossas operações e fa
a posição de Bacon e dos recentes: culdades cognoscitivas. Esta comu
«Ex memória autem multoties facta nicação porém não nos permite tra
circa eandem rem, in diversis ta tar da modalidade destas reflexões
men singularibus, fit experimen ou sôbre a indução dos princípios
tam ... Puta quamdiu medicus con-
sideravit hanc herbam sanasse So- noéticos em particular. Seriam ain
cratem febrientem et Platonem et da vários outros pontos para serem
muitos alios singulares homines, est desenvolvidos. Sem mais porém po
experimentum; cum autem sua con- demos concluir afirmando que o
1} Jn rost. Anal. II, Lect. 10, nr. II, ed. c., p. «I - I) S. Th., II!, 12, I ad. 1.
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