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ALBERT CAMUS: FENOMENOLOGIA E ABSURDO

Ac. Camila Jourdan - Filosofia – UERJ


Orientadora: Prof. Cléa Góis - UERJ

Resumo: Este artigo se propõe caracterizar Abstract: This article intends to characterize
de maneira introdutória a presença da feno- in an introductory way the presence of Ed-
menologia de Edmund Husserl na obra filosó- mund Husserl's phenomenological in Albert
fico-literária de Albert Camus, mostrando em Camus's philosophical-literary work, showing
que sentido ela se aproxima e em que sentido in that felt she approaches and in that felt she
ela se afasta do enfoque existencialista dos stands back of the authors' of your time exis-
autores de sua época e, em especial, da tentialist focus and, especially, of the proposal
proposta sartriana. Primeiramente, explicita- sartriana. Firstly, we will show sinteticamente
remos sinteticamente o método fenomenoló- the phenomenological method and your con-
gico e a sua utilização contemporânea pelo temporary use for the existentialism. To pro-
existencialismo. A seguir, relacionaremos os ceed, we will relate the same ones with the
mesmos com os conceitos básicos da obra basic concepts of the work “camusiana”, to
camusiana, a saber: o absurdo, a revolta e a know: the absurdity, the revolt and the sensi-
felicidade sensível. Para tanto, partiremos da tive happiness. For so much, we will leave of
seguinte hipótese: Albert Camus pretende the following hypothesis: Albert Camus in-
responder à mesma questão que deu origem tends to answer to the same subject that cre-
ao pensamento moderno existencialista fe- ated the thought existentialist modern phe-
nomenológico, ou seja, saber se diante da nomenological, in other words, to know before
consciência do absurdo a vida vale a pena. the conscience of the absurdity the life is
Porém, Camus não considera fundamental worthwhile. However, Camus doesn't consider
noções como: liberdade, escolha e historici- fundamental notions as: freedom, choice and
dade. Assim, ele pretende se manter fiel a history. Like this, he intends to stay faithful the
falta de sentido tanto do mundo quanto do sense lack so much of the world as of the
homem, superando o absurdo somente na man, only overcoming the absurdity in the
afirmação trágica do mesmo. tragic statement of the same.

Palavras-chave: Albert Camus. Edmund Key-Word: Albert Camus. Edmund Husserl.


Husserl. Absurdo. Absurd.

Introdução

tese normalmente aceita pelos manuel Kant.

É mais variados autores que as


questões fundamentais do
pensamento moderno são, senão
Não cabe aqui analisar a crítica kan-
tiana, apenas ressaltar que as ques-
introduzidas, pelo menos representa- tões levantadas na obra de Kant
das na História da Filosofia, por Im- subjazem o método fenomenológico

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de Edmund Husserl e, portanto, aos condições de toda experiência, pois


conceitos camusianos. permitiriam a síntese do múltiplo. Isso
incluiria o próprio sujeito que experi-
Kant estabelece, como é sabido, os menta, pois seriam regras pelas
limites do conhecimento racional. quais identificaríamos o diverso na
Com isso, ele introduz na modernida- unidade.
de a questão fundamental da separa-
ção entre o homem e a natureza. Assim, Kant faz o conhecimento ob-
Desde os mitos, passando pelas reli- jetivo depender igualmente dos da-
giões e por toda a história do pensa- dos sensíveis e da razão, refutando
mento, essa cisão foi pensada a par- tanto o ceticismo (já que o conheci-
tir da capacidade humana de cogni- mento objetivo é possível), quanto o
ção, ou seja, o homem se separa da dogmatismo (já que ele não dá conta
natureza pois é capaz de estabelecer de uma ontologia da realidade). O
conhecimento sobre ela, criando as- preço desse milagre talvez seja o
sim uma segunda realidade conceitu- primeiro desespero moderno (nos
al. Ao longo da história, boa parte dos termos de Camus, o absurdo): aquilo
pensadores se dedicaram, implícita que o homem conhece (fenômeno)
ou explicitamente, a resolver essa não é o mundo em si mesmo (nou-
separação.1 Kant inaugura a moder- menon). Para alguns, o fim da meta-
nidade afirmando justamente essa física; para outros, uma nova faceta
cisão através da sua teoria do conhe- da mesma. É da separação entre
cimento2. Ele une empirismo e raciona- conhecimento e mundo, que também
lismo a partir da separação entre a reali- é uma separação entre o abstrato e o
dade (como as coisas são nelas mesmas) sensível, a mente e o corpo, 3 que o
e a forma como a conhecemos (como as pensamento precisará dar conta a
coisas aparecem para nós). Para Kant, partir de então.
nosso conhecimento se dá a partir da
ordenação de nossas intuições nas cate- Foi a isso que Nietzsche chamou A
gorias do entendimento. As intuições só Morte de Deus, ou, nas palavras do
seriam possíveis nos conceitos puros de romântico Friedrich Hölderlin, O
nossa sensibilidade, a saber: o espaço e Afastamento Categórico: virada de
o tempo. Eles dariam a forma em que costas mútua entre homens e deu-
algo é experimentado. Já as categorias, ses. É nessa impossibilidade de me-
seriam os conceitos puros, ou melhor, tafísica que o afastamento entre ho-
aquilo que permitiria conceitos em ge- mem e mundo provoca, é nesse va-
ral. Elas dariam a forma de como zio deixado por uma epistemologia
algo é pensado e seriam, portanto, que torna ausente a possibilidade de
critérios absolutos para nosso saber,
1
Posteriormente a Kant, podemos ressaltar o Ro- que surge o Método Fenomenológico
mantismo Alemão como um bom exemplo dessa
tentativa de síntese através da experiência estética.
2 3
Pode-se a apontar a própria obra de Kant resolu- Kant não propõe essa separação, pois a própria
ções para essa cisão. Afinal, ela seria, em certo intuição sensível é abstracta. No entanto, essa seria
sentido, cognitiva mas não ontológica. No entanto, mais uma afirmação da referida cisão, afinal, no
não cabe aqui nos aprofundarmos nessa questão. homem, mesmo o sensível seria abstracto.

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e, posteriormente, o Existencialismo. noscente (epochê)5. Para a Fenome-


Nesse último, como veremos, é fun- nologia, não existe nenhuma realida-
damentalmente na existência do indi- de se escondendo atrás dos fenôme-
víduo que esse vazio será retratado. nos. Isso não significa que a aparên-
cia seja a realidade. Nem tão pouco
O Método um idealismo subjetivista. Afinal, para
Husserl, é necessário se chegar às
Edmund Husserl é considerado o essências dos fenômenos (eidos) e
precursor do Método Fenomenológi- essas essências são objetivas, são
co, uma proposta epistêmica que para todos. Isso significa que os fe-
precisa dar conta da demanda kanti- nômenos revelam a realidade e que
ana, pretendendo rigor científico e as essências são, elas mesmas, fe-
abrangência ontológica. Ou seja, nômenos.
Husserl quer um saber objetivo que
forneça a realidade do conhecido, em Segundo Husserl, a relação cognitiva
certo sentido, um fenômeno que seja possui um pólo intencional e um pólo
noumenon. Dito de outro modo: Hus- objetivo. O primeiro, o pólo da cons-
serl precisa que a aparência Seja. ciência, só existe em relação com o
Esse é o princípio fundamental da segundo, o objeto. Por outro lado, a
Fenomenologia: a quebra da separa- própria consciência é possibilidade
ção entre aparência e coisa em si, de aparição desse objeto. Pode-se-ia
que propõe unir novamente o mundo dizer, então, que a consciência e o
e o homem. fenômeno estão em relação de bi-
condicionalidade, ou seja, implicam-
Para Husserl, o Ser essencial do se mútua e necessariamente, sendo,
mundo só pode ser descoberto a par- portanto, equivalentes. O objeto se-
tir da sua relação com o Eu. Isso por- ria, em sua essência, uma aparição.
que, partindo das idéias de Brenta- E é essa essência-aparição, esse
no4, Husserl considera a intencionali- fenômeno-noumenon, que a Feno-
dade como característica fundamen- menologia pretende enfocar. A cons-
tal da consciência. Ou seja, a consci- ciência seria o fundamento da possi-
ência é sempre consciência de algu- bilidade do objeto, ou seja, da apari-
ma coisa. Através desta noção, Hus- ção. No entanto, como vimos, por ser
serl pretende superar a cisão entre intencional, a consciência também
abstrato (homem) e sensível (mun- requer como possibilidade um objeto
do). Para tanto, seria necessário, em independente dela. O pólo intencional
um primeiro momento, a chamada é condição de sua própria condição,
“redução fenomenológica”: suspen- a saber, o pólo objetivo. Nesse senti-
são da crença em uma realidade ob- do, ela implica uma realidade objeti-
jetiva independente do sujeito cog- va, enquanto aparição que se revela
4
Filósofo e psicólogo alemão do final do século
imediatamente a ela, na intuição das
XVIII. Brentano reintroduziu na filosofia a noção essências. O pólo objetivo nada mais
medieval de que a intencionalidade é o aspecto
fundamental da consciência. Foi considerado por
5
isso o precursor da Fenomenologia. Vocábulo grego que significa ‘abstenção’.

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é do que o termo objetivo da consci- Na introdução de O Ser e o Nada6,


ência intencional. A consciência, em Sartre comenta a identificação de um
seus diferentes modos, dá diferentes objeto a partir de uma essência (ei-
sentidos às coisas. No entanto, o dos) que é, ela mesma, fenômeno
sentido tem de existir independente (embora, um outro tipo de fenômeno).
de ser constatado pela intuição das Sartre chama a atenção para o fato
essências. de que permanecendo sempre no
nível da aparência, poderíamos pro-
Para a Fenomenologia, consciência e curar infinitamente a essência da
fenômeno (nos termos de Sartre: o essência da essência. para identificá-
Para-Si e o Em-Si) são equivalentes. las como essências. Justamente por
Mas, embora dependam um do outro, isso, a essência precisaria se revelar
não podem colapsar totalmente. Ao de maneira imediata, através de uma
longo de sua teoria, Husserl acaba intuição O sujeito intencional precisa-
retomando o conflito pré-crítico entre ria transcender a série de aparições
idealismo e realismo. Afirmando tê-lo individuais (série infinita que jamais
superado, Husserl o mantém no pri- aparece completamente) rumo a es-
vilégio ora do aspecto subjetivo, ora sência intuída (finita e que aparece).
do aspecto objetivo dessa condicio-
nalidade mútua. Segundo Sartre, haveria um fenôme-
no do Ser e um Ser do fenômeno. O
O Existencialismo de Jean-Paul primeiro, enquanto fenômeno, teria
Sartre ele mesmo um Ser com base no qual
apareceria: o Ser do fenômeno do
É justamente do método fenomeno- Ser (não haveria nisso uma progres-
lógico, dessa redução de algo à sua são ao infinito porque o Ser seria
série de aparições, que parte o filó- imediato e somente um). Por outro
sofo e romancista contemporâneo lado, o Ser do fenômeno jamais po-
francês Jean Paul Sartre. Sartre é deria se reduzir ao fenômeno do Ser,
considerado um dos principais filó- pois necessita da transfenomenalida-
sofos do Existencialismo. Com ele, a de para fundamentar a condição fe-
questão dos limites do conhecimento nomênica. O percebido se remeteria
humano se torna explicitamente a àquele que percebe. Haveria portanto
questão da separação entre homem um Ser do perceber, que não estaria
e mundo. É de um certo vazio provo- no percebido e que seria a consciên-
cado por essa cisão que o Existenci- cia intencional, o qual Sartre chamou
alismo tratará. Os temas fundamen- Ser-Para-Si. E haveria um Ser do
tais do Existencialismo são: a indife- percebido, que não estaria no perce-
rença absurda e incompreensível do ber e que seria maciço, fechado e
mundo, a escolha e a liberdade hu- pleno, o qual Sartre chamou Ser-Em-
mana diante dessa incompreensão. Si. Temos então o seguinte esquema:
6
SARTRE, Jean Paul. O Ser e o Nada - Ensaio de
Ontologia Fenomenológica. Trad.: Paulo Perdigão.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

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SER→SER-PARA-SI (consciência)→Ser do fenô- separação sujeito/objeto. Se ela não


meno do Ser-Para-Si nos permite sermos o mundo, nos
↓ ↓ permite conhecê-lo. No Nada, se da-
↓ fenômeno do Ser-Para-Si ria o diálogo homem/mundo. Assim, o
↓ homem forneceria sentido ao mundo
SER-EM-SI (maciço)→ Ser do fenômeno do Ser- e a si mesmo. Mas o Em-si, jamais
Em-Si seria afetado, nem pelo Nada, nem
↓ pela intencionalidade. A nadificação
fenômeno do Ser-Em-Si seria sempre entre Para-Si e Para-
Si.7 O Ser do Para-Si é justamente
O Ser-Para-Si da consciência, se- essa impossibilidade de coincidir-se
gundo Sartre, seria completamente com si mesmo (como já foi dito, sen-
voltado para fora, para o outro. Ele do o que não é e não sendo o que é).
seria o que não é e não seria o que é, A realidade humana, marcada pela
já que seria auto-constitutivo de seu carência, busca incessantemente
sentido a partir do objeto que intenci- coincidir-se consigo, sem jamais con-
onal. Já o Ser-Em-Si, seria o outro seguir. O homem só é livre por essa
necessário à intencionalidade. Como separação nadificante entre Para-Si e
ele jamais se revela à consciência, é Em-Si. Entretanto, essa mesma liber-
destituído de sentido. Seria essa se- dade ontológica do homem termina
paração entre Em-si e Para-Si a ab- os unindo novamente na doação de
surdidade da existência, a tão menci- sentido. Aquilo que era a-
onada separação entre homem e fundamento, torna-se o próprio fun-
mundo. damento a partir da liberdade. Será a
isso que, como veremos, Camus
A partir dessa separação surgiria o chamará suicídio filosófico.
Nada. O Nada surge à consciência
como seu fundamento na medida em Albert Camus
que ela se identifica como não sendo
o outro que intenciona. Ora, se ela, Albert Camus é um literato, um artista
como vimos não é o que é, pois se da palavra. Mas é também um filó-
volta para fora, mas também não sofo, um pensador. Camus formou-se
pode ser o que intenciona, justa- em filosofia na Universidade de Argel,
mente por intencioná-lo, a consciên- mas, ao invés de utilizar o discurso
cia encontra-se nadificada. A nadifi- argumentativo e sistemático, usou a
cação seria a impossibilidade da dramaturgia, os ensaios literários e
consciência ser objeto de si mesma, as narrativas romanescas para ex-
nessa nadificação surgiria a liberdade pressar seu pensamento. Essa es-
e a angústia de um fazer-se separa- colha pela forma artística não acon-
do de si. Por outro lado, essa nadifi-
cação permitiria a relação entre ho- 7
É possível se fazer a seguinte crítica à Sartre: se o
mem e mundo, já que qualquer rela- Para-Si não afeta o Em-Si, como então o pólo
ção pressupõe não se ser aquilo com objetivo da consciência poderia ser afetado? Ou
o que nos relacionamos, ou seja, a seja, como a consciência poderia realmente se
criar?

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tece por acaso: talvez seja o próprio sujeito sempre tem história, convic-
conteúdo do pensamento camusiano ções e perspectivas que ele não pode
que a determina. ver, já que interpreta a existência
através deles. Podemos resumir a
Uma idéia que parece perpassar to- tese fundamental do pensamento
das as obras de Camus é a de que camusiano da seguinte forma: a sen-
uma certa ‘experiência’ da beleza sibilidade absurda da separação en-
reúne no sensível, o abstrato. Toda a tre homem e mundo é indizível, trági-
sua obra pode ser lida a partir dessa ca e silenciosa porque é uma sensibi-
revelação do abstrato no próprio sen- lidade abstrata, que une na própria
sível. Melhor dizendo, o abstrato, separação o homem e o mundo.10
normalmente associado ao conceitu- Esse vazio não nega a certeza da
al, em Camus, a partir de uma con- morte e está diretamente associado à
cepção estética-mística de mundo, felicidade.11
aparece na sensibilidade. No entanto,
em Camus, a sensibilidade se dife- É por isso que se pode falar de núp-
rencia da experimentação. Para ele, cias entre o homem e o mundo atra-
não é a experiência que pode levar vés do próprio silêncio absurdo entre
ao abstrato, não é a experiência que os dois. Se o homem e o mundo não
pode tornar alguém sábio. Camus se podem se comunicar, a vida não faz
refere a uma forma de sensibilidade sentido e o suicídio é legítimo. Mas a
que, em termos platônicos, se relaci- sensibilidade do absurdo cria a bele-
ona muito mais com a contemplação za, possibilita a revolta e a sabedoria.
das idéias (só que em Camus essa Nessa sensibilidade, homem e mun-
contemplação é um certo modo de do se complementam. Então, o ab-
estar no próprio mundo), do que com surdo não é absurdo, ele se supera e
a experimentação.8 Esta seria uma a vida vale a pena. Mas é preciso que
sensibilidade fora do tempo, onde essa vida seja afirmada, é preciso
não há mais o sujeito que experi- que eu faça uma escolha no absurdo,
menta, nem o objeto experimentado.9 ou seja, é preciso que eu me revolte.
Essa total lucidez diante da falta de E, para haver revolta, é preciso que
sentido do mundo só seria possível não haja esperanças. Para Camus, a
na transcendência do sujeito, afinal o esperança é realmente o pior dos
8
males a sair da caixa de Pandora,
Como ele afirma: “Ver, e ver sobre a terra - como
pois ela impede a revolta ao negar o
esquecer essa lição? Aos mistérios de Elêusis
bastava contemplá-los.” Idem, p.10. E ainda: “Em
10
Tipasa, ver eqüivale a crer e não me obstino em “E, diante do vôo pesado dos grandes pássaros
negar aquilo que minha mão pode tocar e que meus no céu de Djemila, é justamente um peso de vida
lábios podem acariciar.” CAMUS, Albert. Núpci- que reclamo e obtenho. Entregar-me por completo
as, O verão. Trad.: Vera Queiroz da Costa e Silva. a essa paixão passiva: o resto já não mais me per-
São Paulo: Círculo do Livro, Copyright by Galli- tence. Possuo juventude demais dentro de mim
mard 1950 por Núpcias e 1954 por O verão, p.12. para poder falar da morte. Mas parece-me que, se
9
Ou seja: “Antes de entrarmos no reino das ruínas tivesse que fazê-lo, é aqui que encontraria a pala-
somos espectadores pela última vez.” Ou: “Não, vra exata para exprimir, entre o horror e o silêncio,
não era eu que importava, nem o mundo, mas a certeza consciente de uma morte sem esperança.”
apenas a harmonia e o silêncio que, vindo dele até Idem, p.18.
11
a mim, fazia nascer o amor.” Idem, p.8 e p.14. Conf.: Idem, pp.13-14.

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absurdo. E é essa revolta diante do na afirmação e na negação, ou seja,


mundo, as próprias núpcias com o na revolta, que o absurdo do mundo
mundo, a felicidade. O absurdo é um (separação entre o homem e a natu-
ponto de partida e não de chegada, é reza) é superado.14 Camus é um utó-
a partir dele que eu supero o próprio pico, para ele, a natureza supera o
absurdo. tempo, a história, aquilo que passa.
Mas Camus não seria propriamente
Talvez por isso Camus utilize uma um romântico, pois a sua natureza
forma artística para expressar con- não é idealizada, ela é absurda, trá-
ceitos. É ela que nos possibilita falar gica. Nem, tão pouco, um dialético,
de uma felicidade (abstrata) que é no sentido que conhecemos. A con-
sensível. Essa idéia está diretamente tradição do homem absurdo não é
ligada com a estética, no sentido gre- resolvida através de uma síntese
go de “sensibilidade diante do belo” dialética, ela é mantida. A sua revolta
(e não de obra de arte).12 Camus se é antes de tudo afirmativa, ela nega
volta para a Grécia Clássica e afirma para afirmar algo além do que está
uma experiência mística-trágica do negando. É menos uma síntese do
mundo, experiência que une princípi- que uma superação.15 A separação
os opostos na própria separação.13 É
12
Essa é uma idéia também presente no Idealismo Trad.: Valerie Rumjanek. - 4° ed. - Rio de Janeiro:
romântico alemão. Esse movimento filosófico Record, 1997, p.116.
14
propôs, a partir da dialética, superar a separação “Em seguida é preciso quebrar os jogos fixos do
kantiano entre noumenon e fenômeno. Essa super- espelho e entrar no movimento pelo qual o absurdo
ação se daria na experiência estética trágica. Foi supera a si próprio. (...) O absurdo, assim como a
também na Antigüidade Clássica grega que os dúvida metódica, fez tabula rasa. Ele nos deixa
autores dessa escola, incluindo o Nietzsche de O sem saída. Mas, como a dúvida, ao desdizer-se, ele
Nascimento da Tragédia, buscaram inspiração para pode orientar uma nova busca. Com o raciocínio
tal experiência fundamental, capaz de unir dialeti- acontece o mesmo. Proclamo que não creio em
camente (em certo sentido, na própria separação) nada e que tudo é absurdo, mas não posso duvidar
homem e natureza (em Nietzsche, Apolo e Dioni- de minha própria proclamação e tenho de, no
so). mínimo, acreditar em meu protesto. A primeira e
Não podemos aqui analisar profundamente em que única evidência que assim me é dada, no âmbito da
sentido se aproximariam e em que sentido se dis- experiência absurda, é a revolta.” CAMUS, Albert.
tanciariam de Camus essas correntes filosóficas O homem revoltado. Trad.: Valerie Rumjanek. - 4°
sob pena de nos afastarmos do tema desse trabalho ed. - Rio de Janeiro: Record, 1999, p.20.
15
que, afinal, é a Fenomenologia. Podemos aqui “Que é um homem revoltado? Um homem que
apenas apontar que os dois partem da mesma dlz não. Mas, se ele recusa, não renuncia: é tam-
questão: a separação entre homem e mundo. Não bém um homem que diz sim desde o seu primeiro
pretendemos com isso aproximar Camus dessas movimento. Um escravo, que recebeu ordens
escolas, afinal praticamente toda a história da durante toda a sua vida, julga subitamente inacei-
filosofia pode ser lida a partir dessa questão mo- tável um novo comando. Qual o significado desse
derna (embora essa separação seja vista como um não? Significa, por exemplo, ‘as coisas já duraram
aspecto da condição humana independente da demais’, ‘até aí, sim ; a partir daí, não’; ‘assim já é
época, ela é assim formulada na Modernidade). demais’, e, ainda, ‘há um limite que você não vai
Pretendemos apenas ilustrar melhor o tema que ultrapassar’. Em suma, este não afirma a existência
estamos tratando em Camus. de uma fronteira.” Idem, p.25.
13 O mesmo que Camus já havia dito no Núpcias:
“Reencontrava, assim, uma vida em estado puro,
redescobria um paraíso que é dado apenas aos “Pouca gente compreende que existe um recusa
animais dotados de maior ou menor inteligência. que nada tem haver com renúncia. Que significam
Naquele ponto em que o espírito nega o espírito, aqui as palavras que falam de futuro, de maior bem
ele alcança sua verdade e com ela sua glória e seu estar, de situação? Que significa o progresso do
amor extremo.” CAMUS, Albert. A morte feliz. coração? Se rejeito obstinadamente todos os ‘mais

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entre o homem e o mundo (o absur- da infinita distância entre o mundo e


do, a morte) não é negada. Para Ca- o homem.16 É somente na constata-
mus, o absurdo não é absurdo, por ção dessa separação que o homem
isso ele pode ser superado em uma revoltado pode superá-la. A felicidade
‘experiência’ estética. E essa ‘experi- em Camus realmente advém de uma
ência’ estética, situada entre a espe- escolha consciente: a revolta diante
rança e o desespero, é, de certa for- da injustiça do absurdo.17 Mas, dentro
ma, a experiência da revolta, experi- dessa escolha existe a vontade de
ência que nega e afirma, experiência felicidade, que é fundamental e que
da felicidade. A felicidade é, portanto, nega essa consciência através do
o único dever do homem, revelado na esquecimento que permite a inocên-
transvaloração do absurdo. Sendo cia.18 Ou seja, a felicidade é não ser
feliz, o homem dá sentido a vida e responsável, justamente o oposto da
supera o absurdo, afirmando a sua proposta existencialista. Para Camus,
condição. O que Camus parece nos escolher seria o problema, escolher
dizer é que há sofrimento na vida e seria não ser livre.19 O sujeito não é
que afirmar a vida inclui afirmar esse responsável ou culpado pelos seus
sofrimento, inclusive a morte. atos porque ele esquece de si. É
preciso que se faça uma escolha,
O Existencialismo Absurdo mas é preciso que se esqueça essa
escolha.
A partir dessas considerações pode-
mos notar o quanto Camus se distan- No livro O Mito de Sísifo20, Camus
cia do enfoque existencialista menci- analisa os principais autores fenome-
onado. Camus rompe com o existen- nólogos e existencialistas. Como vi-
cialismo em 1951, com a publicação mos, ele parte das mesmas questões
de O homem revoltado. No entanto, que esses autores. Segundo Camus,
como vimos, em A morte feliz e Núp- a questão fundamental da filosofia, a
cias (escritos no final da década de
trinta, quando ele sequer tinha tido 16
“Por sentir-se tão longe de tudo e até mesmo de
ainda contato direto com o existenci- sua febre, por experimentar tão claramente o que
alismo), já é possível notar clara- há de absurdo e de miserável na âmago das vidas
mais ordenadas, nesse quarto erguia-se diante dele
mente grandes divergências com a imagem vergonhosa e secreta de uma espécie de
essa corrente. Camus não defende liberdade que nasce da dúvida e da fraude.” CA-
um filosofia do sujeito. A liberdade MUS, Albert. A morte feliz. Trad.: Valerie Rumja-
nek. - 4° ed. - Rio de Janeiro: Record, 1997, p.67.
camusiana, não é a do sujeito que 17
Conf.: Idem, p.113.
escolhe, é a liberdade que nasce da 18
Conf.: Idem, p.109.
19
contemplação do absurdo, ou seja, “O erro, minha pequena Catherine, é acreditar
que é preciso escolher, que é preciso fazer aquilo
que se quer e que existem condições para a felici-
tardes’ do mundo, é porque se trata, da mesma dade. A única coisa que conta é a vontade de feli-
forma, de não renunciar à minha riqueza presente. cidade, uma espécie de enorme consciência sempre
Não me agrada acreditar que a morte se abre para presente.” Idem, p.121.
20
uma outra vida.” CAMUS, Albert. Núpcias, O CAMUS, Albert. O Mito de Sísifo - Ensaio
verão. Trad.: Vera Queiroz da Costa e Silva. São Sobre o Absurdo com um Estudo Sobre Franz
Paulo: Círculo do Livro, Copyright by Gallimard Kafka. Trad.: Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa:
1950 por Núpcias e 1954 por O verão, p.18. Livros do Brasil, s/data.

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JOURDAN. Camila. Albert Camus: Fenomenologia e Absurdo 313

única questão verdadeiramente séria, logia Existencialista por ser uma filo-
é saber se vale a pena viver diante sofia, pelo menos em princípio, sem
da constatação dessa absurda sepa- esperanças, que parte da negação de
ração entre homem e mundo e da uma essência por trás das aparênci-
injustiça que se torna vida nessas as. Mas, para ele, a Fenomenologia
condições. É preciso saber se existe deve ir além de si mesma. A noção
algo que justifique a vida, pois, se de absurdo existencialista nasce de
não houver, eu posso me matar e eu um sentimento do absurdo, e é esse
posso matar o outro.21 O homem que sentimento que deve permanecer
faz isso é o homem absurdo, ou seja, fundamental. Por isso, Camus, ao
é aquele que mata a arte e a revol- contrário dos autores fenomenólogos,
ta22, matando as possibilidades de se recusa a considerar a aparência
superação do absurdo. No entanto, o como essência. O Método Fenome-
homem revoltado afirma o absurdo nológico, para ele, acabaria fundando
na beleza da vida. Ele é aquele que, uma metafísica, embora uma metafí-
a partir do absurdo, nega e afirma sica da aparência. Aliás, como qual-
através da revolta. Sendo assim, este quer método, ele pressuporia uma
homem não pode negar, com o suicí- metafísica como fundamento.24
dio ou com o assassinato, o próprio
absurdo que a permite.23 Ele o recu- Para Camus, nenhum conhecimento
sa, porém não renuncia. Como já foi é verdadeiro. Sua redução do mundo
dito, é preciso haver absurdo para se às aparências não as tornam essên-
superar o absurdo. Eu não me mato, cias. O único ‘conhecimento verda-
não me acovardo diante do absurdo deiro’ seria justamente o dessa im-
e, portanto, também não mato o ou- possibilidade, ou seja, a já mencio-
tro, afinal, o absurdo da vida é uni- nada sensibilidade do absurdo. Como
versal, para todos. vimos, essa sensibilidade não se dá
racionalmente, mas esteticamente.
Pode-se afirmar que o próprio Camus Ela, segundo Camus, “ilumina o
utiliza o método fenomenológico em mundo a uma luz que lhe é própria”,
sua obra e em suas análises. Ou possibilitando a superação do absur-
seja, ele suspende a crença na exis- do.
tência de uma realidade objetiva e
pressupõe a separação entre Em-Si e Diante do absurdo, podemos ter ati-
Para-Si. Camus elogia a Fenomeno- tudes afirmativas ou negativas, po-
dermos revoltar-nos ou suicidar-nos.
Camus opõe duas atitudes diante
21
Conf.: CAMUS, Albert. O homem revoltado. desse mesmo ponto de partida. Para
Trad.: Valerie Rumjanek. - 4° ed. - Rio de Janeiro:
Record, 1999, p.16. ele, tanto a Antigüidade, quanto a
22
CAMUS, Albert. Núpcias, O verão. Trad.: Vera
Queiroz da Costa e Silva. São Paulo: Círculo do
24
Livro, Copyright by Gallimard 1950 por Núpcias e CAMUS, Albert. O Mito de Sísifo - Ensaio
1954 por O verão, p.139. Sobre o Absurdo com um Estudo Sobre Franz
23
Conf.: CAMUS, Albert. O homem revoltado. Kafka. Trad.: Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa:
Trad.: Valerie Rumjanek. - 4° ed. - Rio de Janeiro: Livros do Brasil, s/data, p.23.
Record, 1999, p.34.

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Modernidade partem da mesma sa ausência de recusa, nessa quebra


constatação do absurdo. Na Antigüi- de tensão (Para-Si/Em-Si). Os exis-
dade, a atitude trágica grega seria tencialistas divinizam o absurdo,
uma possibilidade de posicionamento afirmando um Ser da experiência e
afirmativo diante dessa constatação. um sentido para a vida. Sem a recusa
Já a esperança do cristianismo nas- do absurdo, na aceitação do mesmo
cente seria uma atitude negativa di- como fenômeno, os existencialistas
ante da mesma. Na Modernidade, o acabam o negando. Pois, com isso,
pensamento que parte do absurdo é acaba-se a característica essencial
o Existencialismo. No entanto, Ca- do absurdo que é a contradição. Os
mus constata nos autores dessa es- existencialistas fenomenólogos privi-
cola a mesma esperança cristã que legiam sempre um lado da tensão. A
acaba negando o absurdo. Talvez por colocação da essência na aparência
isso ele proponha um resgate moder- nega a carência de sentido necessá-
no do pensamento grego como posi- ria ao absurdo. Já Camus, com a
ção afirmativa diante desse senti- revolta, pretende tirar do absurdo um
mento. princípio que o ultrapasse sem negá-
lo. Esse princípio é justamente a au-
Para Camus, a análise que Sartre faz sência de princípios metafísicos ou
da consciência, como separada de si, racionais. É preciso manter a tensão
bem como seu reconhecimento do entre uma razão limitada e um irraci-
mundo enquanto inumano, seriam onal recorrente. Nenhum dos dois
constatações da absurdidade da pode ser negado, nenhum dos dois
existência: essa estranheza diante de pode ser privilegiado.
nós e da natureza, essa certeza da
morte. O absurdo nasce desse con- É interessante notar como se dá a
flito entre carência de sentido (Para- presença dos pressupostos kantianos
Si) e ausência de sentido (Em-Si). em Camus, no que podemos chamar
Ele pressupõe então tanto um, de uma ‘dialética sem síntese’. Pri-
quanto outro. Porém, para Camus, meiramente, a natureza se recusa
diante disso, não é necessário se através da razão, mas a razão não
suicidar ou ter esperanças, não é renuncia a ela, ou seja, continua sen-
necessário ser existencialista ou do natural. Após, razão se recusa
cristão. Antes, é preciso manter-se no através do absurdo, nascido do con-
absurdo e torná-lo seu próprio senti- flito desta com a natureza, mas o
do na Revolta Estética. Se o absurdo absurdo continua sendo racional.
está tanto no homem, quanto no Finalmente, o absurdo se recusa
mundo, ele os une. No entanto, isso através da revolta, nascida do conflito
não o nega, isso o mantém. A revolta, deste com a razão, mas a revolta
como vimos, recusa mas não renun- continua sendo absurda. Portanto,
cia. O Existencialismo fenomenológi- para Camus, a existência humana é:
co, ao contrário, não recusa, mas 1) natural; 2) racional; 3) absurda; 4)
renuncia a seus pressupostos (o sen- revoltada. No silêncio da natureza
timento do absurdo), justamente nes- diante da racionalidade, surge o ab-

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surdo. Nessa síntese que mantém a nha inclusive a tensão. Esse religare
tensão, temos então uma nova antí- paradoxal deve ser, portanto, artísti-
tese, a revolta. Essa antítese conti- co.
nua mantendo a tensão na afirmação
e negação da tese. E essa tensão Como vimos, em Sartre, o ‘salto’
seria a própria vida. existencialista se dá no diálogo entre
homem e mundo, que o Nada gerado
O ‘salto’ existencialista, segundo pela própria separação acaba permi-
Camus, está justamente em fazer tindo através da liberdade. No en-
fundamento o que é a-fundamento. tanto, para Camus, a liberdade é
Por isso o religare camusiano é sem igualmente absurda, não há sentido
esperanças, ele mantém tanto a ra- nem na consciência, nem no Em-Si.
zão do homem, quanto a irracionali- Há apenas a tensão entre os dois,
dade do mundo e a tensão absurda que afirma o absurdo como condição
entre os dois. Ou seja, é um religare de si mesma. Assim, o diálogo entre
no sentido literal do termo, ou seja, homem e mundo se dá trágica e es-
não pretende deixar nada separado. teticamente na separação absoluta.
Camus quer um religare que mante-

Referências Bibliográficas

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Fradique Morujão – 4. ed.- Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.
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ria Gorete Lopes e Sousa, Porto: Rés-Editora, s/data.
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culo do Livro, Copyright by Gallimard 1950 por Núpcias e 1954 por O verão..
_______________. A morte feliz. Trad.: Valerie Rumjanek. – 4. ed. - Rio de Janeiro: Re-
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_______________. O homem revoltado. Trad.: Valerie Rumjanek. – 4. ed. - Rio de Janei-
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_______________. O Mito de Sísifo - Ensaio Sobre o Absurdo com um Estudo Sobre
Franz Kafka. Trad.: Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Livros do Brasil, s/data.

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