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Mentalidade Colonizada
Somos forjados no ferro, na cruz e na espada. Nosso sangue é o adubo que cultivou e
fez crescer as grandes cidades. Em cada pedaço desse chão existem manchas de sangue de
extermínio e da exploração do trabalho escravo. Até a chegada dos estrangeiros não havia
aqui a vergonha: havia o orgulho de ser filho da Terra e de ser forte. Laços familiares
construíam o sentimento de pertencer a um lugar e a amar sua terra ao ponto de não se
distinguir ser natureza ou outro. Os estrangeiros chegam, olham com olhos de exploradores,
não de construtores.
A Utopia era aqui, uma terra em que se tudo planta, tudo dá. Nossos habitantes
nativos sabiam encontrar o equilíbrio entre a natureza e o homem. Claro que moldavam a
natureza, mas nunca o suficiente a ponto de desequilibrar totalmente o ecossistema.
Formadores de florestas, caçadores, coletores e construtores de um habitat onde se era
possível viver e ser livre. Aqueles que aqui viviam antes da tomada pelos portugueses
construíram suas etnias de milhares de gerações encontrando ambientes onde se era possível
viver e manter seu grupo. Não havia escassez de alimentos. O ecossistema era suficiente para
manter mais de 6000000 de habitantes nativos. E havia espaço quando o alimento escasseava
bastava desmontar seu assentamento repartir em busca de uma nova região habitável. Claro
que havia guerras, disputas e sofrimento. Porém, era um Não formos colonizados até a
descoberta de ouro: Pero Vaz anunciava em sua carta não haver nenhuma riqueza aparente. A
vida e a diversidade não possuíam valor para aqueles que estavam sedentos de sangue para
explorar o ouro e enriquecer rapidamente numa nova terra.
Deleuze afirma que a função da filosofia é criar conceitos. São os conceitos que
ajudam o filósofo a explicar suas ideias, portanto o verdadeiro filósofo deve criar seus
conceitos. Claro que não se trata de uma tarefa fácil, para criar conceitos o filósofo deve ir
além do filosofar espontâneo e mergulhar no caos e na filosofia sistemática. Porém, não pode
se afogar nem no caos e nem no academiscimo, deve retornar e criar os conceitos que ajudam
na compreensão de sua realidade.
É neste sentido que, para compreender o presente precisamos de conceitos que não
existiam. Assim, neste texto, buscaremos criar dois conceitos que são necessários e essenciais
para compreender a realidade brasileira do século XXI: A mentalidade Colonizada e a
Esquizofrenia Política.
É praticamente impossível compreender o presente sem conhecer o passado. Toda
realidade atual é o resultado de um processo histórico que molda o presente com as formas do
passado. Sendo assim, podemos afirmar que a mentalidade brasileira atual é o resultado de
um processo histórico cujas raízes estão fortemente fincadas no período colonial.
Ao longo da história do Brasil existe modo de pensar que é o resultado de uma
mentalidade colonizada. Essa mentalidade criou no povo brasileiro uma falta de perspectiva de
futuro como nação. A mentalidade colonizada também pode explicar a falta de planejamento
e a busca de políticas públicas que diminuam as desigualdades sociais. A mentalidade
colonizada também nos ajuda a compreender os motivos que levam os grupos
economicamente mais favorecidos a preferirem políticas imediatistas a criarem um
planejamento de desenvolvimento à longo prazo. Também podemos citar a mentalidade
colonizada como a responsável pelo desapego de políticos, empresários e parte da classe
média com as riquezas nacionais e com o território brasileiro. A classe média em seu sonho de
enriquecimento fácil para então abandonar o país é o exemplo mais claro da mentalidade
colonizada em uma parcela significativa da população.
Neste texto, buscaremos as raízes históricas da “mentalidade colonizada”, conceito
que fundamentaremos para elucidar a questões sociais do presente.
Deleuze em seu livro “O que é filosofia” afirma que a função da filosofia é criar
conceitos. São os conceitos criados pela filosofia que explicam a realidade e nos ajudam a
compreender o presente. Mais que isso, os conceitos nos ajudam a questionar o stabilishment.
Neste sentido, podemos já podemos lançar o seguinte questionamento: o que seria o conceito
da “mentalidade colonizada”? Como essa mentalidade foi construída historicamente? Como o
conceito da “mentalidade colonizada” nos ajuda a compreender o presente?
Claro que podemos remeter a mentalidade colonizada à outros tempos e outros
povos. Porém, por motivos metodológicos e didáticos limitaremos o início de nosso conceito
ao “descobrimento” e colonização do Brasil, já que podemos situar as raízes da mentalidade
colonizada nos registros da formalização e da tomada de posse pelos portugueses do território
que hoje é chamado de Brasil. Já no registro do primeiro contato entre nativos e se
apresentam traços do pensamento que viria a forjar a mentalidade colonizada no povo
brasileiro: os nativos recebem os portugueses com presentes sem esperar nada em troca e a
busca pelas riquezas materiais se faz presente e explicita na passagem da carta de Caminha:
Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou
ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como
os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá.
Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á
nela tudo; por causa das águas que tem!