O documento discute o papel do corpo no processo de criação do ator. Primeiramente, analisa como as ciências cognitivas podem ajudar a entender a integração entre corpo e mente do ator. Em seguida, discute como emoções e sentimentos são fundamentais nesse processo e como razão e imaginação também são processos corpóreos. Finalmente, defende que o corpo do ator deve ser visto como corpo-mente na criação artística.
Descrição original:
Título original
Maria Angela de a P M - Corpo Na Criacao Artistica Do Ator
O documento discute o papel do corpo no processo de criação do ator. Primeiramente, analisa como as ciências cognitivas podem ajudar a entender a integração entre corpo e mente do ator. Em seguida, discute como emoções e sentimentos são fundamentais nesse processo e como razão e imaginação também são processos corpóreos. Finalmente, defende que o corpo do ator deve ser visto como corpo-mente na criação artística.
O documento discute o papel do corpo no processo de criação do ator. Primeiramente, analisa como as ciências cognitivas podem ajudar a entender a integração entre corpo e mente do ator. Em seguida, discute como emoções e sentimentos são fundamentais nesse processo e como razão e imaginação também são processos corpóreos. Finalmente, defende que o corpo do ator deve ser visto como corpo-mente na criação artística.
Universidade Federal de Gois - UFG Corpo, emoo, razo. A proposio deste artigo buscar uma compreenso do corpo do ator nos processos de pesuisa e criao c!nica. Com base nos estudos das Ci!ncias Cognitivas " ue investigam as rela#es entre corpo e ambiente, poss$vel compreender o corpo do ator como um %lu&o continuo entre emoo, sentimento, imaginao e razo na sua relao com o ambiente, no caso, o da pesuisa de linguagem teatral. 'sta anlise deve-se primeiramente a uma perspectiva contempor(nea do %azer teatral onde o trabal)o do ator conuiste versatilidade e )abilidade de dilogos com a diversidade de linguagens ue comp#e a cena contempor(nea con%igurando no treinamento para atores, entre outras caracter$sticas, a busca por uma interpretao teatral ue integra corpo*mente. A segunda razo deve-se + necessidade de trazer para esta re%le&o novos con)ecimentos a cerca do corpo produzidos pelas Ci!ncias Cognitivas onde esta uesto da integrao corpo*mente gan)a e&plica#es cient$%icas e esclarecedoras para uma re%le&o mais pro%unda da relao do corpo do ator no processo de criao teatral. 'm sua pesuisa ,- papel do corpo no corpo do ator. /01102, Azevedo mapeia as discuss#es, tcnicas e treinamentos sobre o corpo. 'sta uesto teve sua primeira semente lanada por 3tanislavs4i no 5todo das A#es F$sicas. 6e l pra c, o corpo %oi gan)ando respaldo e import(ncia no processo de criao do ator. Como ela aponta, a sistematizao de trabal)os corporais, a in%lu!ncia das artes marciais, o desenvolvimento de tcnicas da educao somtica %oi constituindo cada vez mais, instrumentos de treinamento e e&presso do corpo do ator. 7o8e o treinamento corporal constitui instrumento para desenvolver a to buscada presena c!nica, os estados de prontido e ateno, o 8ogo e a e&pressividade do corpo, inserido em uma diversidade de pesuisas de linguagem teatral. 'ste %oco na uesto do corpo do ator redirecionou a uesto da emoo, dos sentimentos, da razo e da imaginao no trabal)o do ator. Atualmente, busca-se uma interpretao do ator ue compreende a integrao corpo*mente. 9odemos arriscar dizer ue esta integrao a responsvel pela organicidade e veracidade da interpretao, pelo envolvimento do ator no %azer teatral e pela versatilidade e )abilidade dele para interagir + diversidade de linguagens a ue est su8eito na cena contempor(nea. -s depoimentos de 9eter :roo4 /";;;2 so claros nesta perspectiva. :roo4 considera ue uma interpretao viva, ue %a$sca centel)as de vida no espectador constitui-se de uma interpretao onde o ator est perceptivo, sensitivo e intelectualmente presente. Alguns apontamentos de Antonio 6amsio, neurocientista e cientista cognitivo, podem contribuir para uma mel)or compreenso da relao corpo e mente. 9ara realizar a ponte entre este cientista cognitiva e o teatro retorno a 3tanislavs4i. Foi preocupao de 3tanislavs4i buscar um mtodo onde o ator respeitasse as leis org(nicas da natureza como %orma de conuistar uma interpretao ue parecesse natural. 'ntre as metodologias de pesuisa de seu mtodo, 3tanislavs4i sugere ue o ator poderia buscar as emo#es e sentimentos de um cidado em seu cotidiano, porue via ali uma ao naturalmente desencadeada, tal como ele pensava a naturalidade de uma ao c!nica. Com 6amsio podemos compreender a plausibilidade desta )ip<tese. 3egundo seus estudos, 6amsio aponta para o %ato ue a emoo e sentimento so as %ormas primeiras de relao de um organismo com o mundo. =esta relao, o organismo se relaciona com um ob8eto ou uma situao. A emoo indica ao organismo a e&ist!ncia desse ob8eto ou situao. A emoo %az a ponte entre o ob8eto e&terno e o organismo. - organismo dotado de um mecanismo de regulao )omeosttica cu8a %uno manter a estabilidade interna dele. Assim a emoo desencadeada no organismo na sua relao com o ob8eto*situao e&terna desestabiliza o organismo, instigando-o a gerar uma reao adeuada nauela situao. A emoo gera estados corporais em rea#es %$sicas pass$veis de serem percebidas por um observador e&terno. - sentimento o ue o organismo sente nesta relao mediada pela emoo, ou se8a, dor ou prazer. 9ara 6amsio, o sentimento no e&presso e&ternamente, ele se constitui de um sentido interno do corpo. 'le consiste de um primeiro mapa neural a partir do ual o corpo organiza sua reao*ao adeuada + situao vivida pelo organismo. Assim, em organismos mais comple&os dotados de crebro, o sentimento gera este primeiro mapa. - crebro mapeia o corpo, mapeia o ob8eto e mapeia a relao entre eles desencadeando certo comportamento. >ale ressaltar ue nestes processos todos, mudam-se os estados emocionais, os sentimentos e, portanto, os estados corporais*mentais numa relao integrada. 9ara o ator, recon)ecer o lugar da emoo e do sentimento nesta perspectiva pode reorientar o papel deles na construo do personagem e no processo de pesuisa. =este ponto, no cabe mais emprestar uma emoo ao personagem ou e&pressar um sentimento ou ainda criar emoo e sentimento para o personagem, mas perceber com acuidade suas pr<prias emo#es e sentimentos a cada momento em sua relao com o processo de pesuisa de linguagem teatral, com o personagem, com a pea, com a cena, com as mem<rias e cone&#es ue capaz de realizar em seus estudos com a euipe /atores, diretor, iluminador, dramaturgo, m?sico, cen<gra%o, %igurinista2. A isto podemos c)amar de enga8amento na pesuisa. =o di%erente, ) ue o ator estar atento no espetculo, as emo#es e sentimentos ue a relao com a cena e com o p?blico suscita. =o treinamento e nos ensaios so os locais mais apropriados para o e&erc$cio desta percepo, compreendendo ue emo#es e sentimentos so responsveis pelos estados corporais e rea#es*a#es comportamentais do corpo nauela situao. 'sta percepo au&ilia o ator a agir com a organicidade do momento e no com a marcao automatizada do espetculo. =esse sentido, o trabal)o de corpo gan)a import(ncia %undamental como est$mulo + criao art$stica na medida em ue a reorganizao do corpo conduz a novos est$mulos corp<reo*mentais, tanto uanto con)ecer a pea com pro%undidade organiza as a#es %$sicas. A conuista da percepo e consci!ncia corporal desenvolve )abilidades e&pressivas e comunicativas do corpo. Compreenda-se agora corpo como corpo*mente. Ainda com 6amsio, podemos compreender o lugar da razo e da imaginao no trabal)o do ator. 9rimeiramente, ) ue re%orar ue estes so processos de ordem corp<rea ue se constituem das imagens mentais pelas uais o crebro opera. 9ara 6amsio, pensar, raciocinar, imaginar, lembrar, plane8ar, ter consci!ncia so opera#es mentais de ordem cognitiva mais ampla com substrato org(nico pr<prio do %uncionamento do sistema nervoso e desencadeadas dos processos de emoo e sentimento advindos da relao do corpo com o ambiente. 9ara 6amsio, ) dois modos de ser da consci!ncia. A consci!ncia central ue provem deste modo bsico de relao entre corpo e ambiente, ou se8a, o (mbito das emo#es e dos sentimentos ue geram con)ecimentos necessrios + sobreviv!ncia imediata do organismo. Atrelada + consci!ncia central, segue-se a consci!ncia ampliada, responsvel por processos cognitivos mais amplos e comple&os, permitindo aos organismos assim dotados maiores possibilidades adaptativas. @azo e imaginao so, pois, processos cognitivos comple&os e %undamentais ao comportamento )umano. >ale lembrar ue estes processos cognitivos interagem tambm. A constituio de racioc$nio reuer mem<ria e imaginao. A imaginao constitui um processo composto de e&peri!ncias diversas do indiv$duo, mem<rias conscientes e inconscientes, solicita racioc$nios para concatenar idias ue em princ$pio nada teriam a )aver entre si. 'n%im, so processos de %lu&os de imagens mentais*mapas cerebrais, ue se misturam,con%luem, para direcionar a criao e e&presso de um con)ecimento. =o caso do ator, um con)ecimento art$stico. Assim, razo /e toda %orma de pensamento e racioc$nio a ela atrelada2 no um bic)o de sete cabeas ue tol)e a criatividade do ator. 'la instrumento para organizar a linguagem c!nica. 5as mais ue isto importante ressaltar ue no processo de criao do ator ela est presente. Aalvez nos a con%undamos com a auto-cr$tica, ansiedade e tantos outros obstculo da arte do ator. A imaginao, por sua vez, no um lugar de liberdade total e irrestrita, onde tudo pode. A %alta de limite nunca %oi %avorvel a prtica do ator, caso contrrio, no seriam necessrios 8ogos, regras nem linguagem teatral para se %azer teatro. Com a imaginao no di%erente. 9rimeiramente, a imaginao est vinculada aos processos da consci!ncia centralB em segundo lugar, ela estimulada por diversas %ontesC movimento cinestsico, mem<rias, e&peri!ncias, est$mulos verbais etc. e em terceiro lugar, ela %ruto de cone&#es ue nauele corpo com aueles processos corp<reo*mentais com auela )ist<ria capaz de %ormular. Concluindo. - corpo constitui o ei&o criador e comunicador da cena teatral. 'ste corpo implica movimentos sens<rio motor, percepo, consci!ncia, processos mentais nem %lu&o cont$nuo da relao do corpo do ator com o ambiente de pesuisa teatral. :ibliogra%ia AD'>'6-, 3Enia 5ac)ado de. O papel do corpo no corpo do ator. Coleo 'studos F Aeatro, n. "GH. 3o 9auloC 9erspectiva, 0110. :@--I, 9eter. A porta aberta. @io de JaneiroC Civilizao :rasileira, ";;;. 6A5A3K-, Antonio. O mistrio da conscincia. 3o 9auloC Compan)ia das Letras, 0111. -K6A, Mos)i. O ator invisvel. 3o 9auloC:eca, 011". 3AA=K3LA>3IK, Constantin. A prepara!"o do ator. @io de JaneiroC Civilizao :rasileira, ";G;. 1 Ci!ncias Cognitivas constitui-se )o8e de estudos inter, multi e transdisciplinares ue re?ne psic<logos, %il<so%os, bi<logos, neurologistas, neurocientistas, pesuisadores da Kntelig!ncia arti%icial