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Autor Psicólogo (UFPB), Mestre em Serviço Social (UFPB), Doutor em Ciências da Educação
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Arte e neurociência
Para entender a relação Arte e neurociência, se faz necessário compreender algumas
funções do cérebro, começando pelo encéfalo. O encéfalo funciona em um sistema
integrado, raramente uma parte funciona isolada.
Por exemplo, o homem, ao tocar um violino, ativa simultaneamente várias áreas
encefálicas (córtex motor, córtex sensorial e áreas de associação), para realizar a mesma
ação.
Tocar violino é a expressão de um comportamento complexo. O comportamento
pode ser definido como qualquer tipo de movimento em um organismo vivo. Assim sendo,
o comportamento tem tanto uma causa como uma função. Embora a flexibilidade e a
complexidade de um comportamento possam variar muito, o encéfalo é o órgão que exerce
o controle destas funções. O encéfalo pode ser comparado a um maestro, que organiza e
utiliza continuamente a atividade sensorial e motora para executar uma sinfonia. Neste
exato momento, o seu encéfalo está executando a sua sinfonia! (Cury, 2007).
O sistema nervoso age fazendo a interação do organismo com o ambiente percebe e
identifica as condições ambientais externas, bem como as condições reinantes dentro do
próprio corpo, elaborando respostas que adaptem a essas condições.
O cérebro é um conjunto de estruturas que se situa no topo da coluna vertebral. A
parte de evolução mais recente do cérebro é o neocórtex, que é mais desenvolvido nos
humanos do que nos outros animais, é uma camada fina de neurônios que envolvem a
superfície do cérebro. É aí que o pensamento ocorre e onde residem três quartos dos
neurônios de um cérebro humano.
Os estados mentais são produzidos por padrões de atividade neural, o
conhecimento, definido como aquilo que dirige o fluxo cognitivo de um estado mental para
outro, deve ser codificado nas conexões neurais, a entrada de qualquer novo conhecimento
de longo prazo no cérebro requer a modificação de sua anatomia.
A expansão e refinamento das funções do encéfalo foram desenvolvidas através das
vivencias com a experiência subjetiva-representacional, desde o princípio da humanidade
onde a representação de uma mão, com gordura e carvão, impressa na parede da caverna,
criou uma transposição de realidade, impulsionou o processo mental de reorganização
mental para aceitação dessa experiência como aprendizagem. Esse resquício de quebra dos
limites do real gerou a potencialização de refazer a experiência com novas possibilidades
de representação, a experimentação do pigmento sobre a mão, mostrou uma representação
oposta, e ampliou o universo de representações com animais e cenas mais estruturadas.
Essa experiência, provavelmente, produziu reorganizações neurais no artista
primitivo. As representações produzidas podem ter induzido os expectadores a
vivenciarem através da observação, experiências de representações secundarias,
percebendo essas representações e reorganizando a função mental para convivência com
essa nova “realidade”. Pode-se estender a partir dessa dedução, que o limiar que separou o
ser humano dos outros animais foi a capacidade de “representação” da natureza. É
impressionante o avanço do desenvolvimento do comportamento humano a partir dessa
fase, o raciocínio se complexificando com processos mentais se reestruturando a cada nova
experiência dedutiva. Os processos de abstração que transformaram a humanidade estão
ligados aos fundamentos da Arte.
As funções mentais complexas que associam o aprender por imitação,
compreendidas a partir das recentes descobertas dos “neurônios-espelhos.
Essa função foi descoberta por acaso, há cerca de dez anos. Três cientistas italianos
da Universidade de Parma conduziam um experimento com um macaco. Instalaram fios
numa área de seu cérebro que é responsável pelo movimento. Sempre que o macaco
pegava ou movia um objeto, determinadas células cerebrais disparavam. O monitor em que
os eletrodos estavam ligados registrava a área de localização desses neurônios e emitia um
sinal. Como era verão, um dia um aluno entrou no laboratório tomando um sorvete.
Quando o rapaz levou a casquinha à boca, o monitor começou a apitar. Foi aí que os
cientistas se espantaram: o macaco permanecia imóvel. A cena voltou a se repetir com
outros alimentos, como amendoins e bananas. Portanto, a resposta de seus neurônios-
espelhos só podia vir da ação de outra pessoa. Os cientistas perceberam que as células
cerebrais disparavam quando o macaco via ou ouvia alguém fazer algo ou, ainda, quando
ele mesmo realizava uma tarefa. Assim chegaram às primeiras conclusões sobre a
capacidade dos neurônios-espelhos.
Descobriu-se que os seres humanos têm neurônios-espelho muito mais perspicazes,
flexíveis e altamente evoluídos do que os encontrados nos macacos, um fato que teria
resultado na evolução de habilidades sociais mais sofisticadas nos seres humanos.
Espalhados por partes fundamentais do cérebro – o córtex pré-motor e os centros
para linguagem, empatia e dor – esses neurônios agem quando realizamos uma
determinada ação e nos momentos em que se observa alguém realizar essa ação. Na sua
forma mais básica, isso significa que ensaia ou imita mentalmente toda ação observada.
Segundo a descoberta dos neurônios espelho que a observação do movimento
permite partilhar a experiência, senti-la como se fosse do observador. Num certo sentido,
isto significa que, mentalmente, há movimentos com a observação do movimento. Assim, a
descoberta dos neurônios espelho implica demonstrar que são as aprendizagens e
experiências sensório-motoras que fazem sentir e compreender as imagens vistas.
O cérebro humano tem múltiplos sistemas de neurônios-espelho especializados em
executar e compreender não apenas as ações dos outros, mas suas intenções, o significado
social do comportamento deles e suas emoções.
Estudos recentes têm mostrado que eles são fortemente relacionados com a
capacidade de aprender. Além de responder a ações dos outros (daí o nome espelho), eles
podem ser a chave para descobrir como o ser humano começa a sorrir, andar, falar e até
dançar. Num plano mais profundo, pode explicar a relação entre as pessoas e como as
diferentes culturas são entendidas. "Compreender as intenções dos outros e ter empatia
pelas emoções deles são as principais funções descobertas até o momento", disse a ÉPOCA
o neurocientista Marco Iacoboni, da Universidade da Califórnia, um dos principais
especialistas no assunto.
Por isso, a descoberta das funções dos neurônios-espelhos vem sendo considerada
um dos principais feitos da neurociência. Há cientistas que comparam o nível de
importância desses estudos ao das células-tronco. O cérebro tem cerca de 100 bilhões de
neurônios - dos quais 5% são espelhos. Não são muitos, mas, se tudo o que se estuda sobre
eles for comprovado, esses cinco bilhões respondem por muito do que somos.
Os neurônios-espelho nos permitem captar a mente dos outros não por meio do
raciocínio conceitual, mas pela simulação direta. Sentindo e não pensando. A descoberta
está sacudindo várias disciplinas científicas, alterando o entendimento de cultura, empatia,
filosofia, linguagem, imitação, autismo e psicoterapia. E também de fatos do cotidiano.
Toda a linguagem é baseada em neurônios-espelho, segundo Michael Arbib,
neurocientista da University of Southern California. Tal sistema, encontrado na parte
frontal do cérebro, contém circuitos superpostos para a língua falada e a linguagem dos
sinais.
"Quando você me vê executar uma ação, você automaticamente simula a ação no
seu cérebro", diz Marco Iacoboni, neurocientista da Universidade da Califórnia, Los
Angeles (UCLA), que estuda o tema.
Encontradas em várias partes do cérebro, essas células disparam em resposta a
cadeias de ações relacionadas a intenções.
"Mas agora vemos que os neurônios-espelho absorvem a cultura diretamente, com
cada geração ensinando a próxima por meio do convívio social, imitação e observação",
completa Patricia Greenfield, psicóloga da UCLA.
Os neurônios-espelhos são especializados em imitar. Novos estudos mostram como
isso afeta nosso comportamento, como essas células cerebrais nos levam a agir de acordo
com o que os outros fazem, e não apenas com o que o próprio cérebro manda, e ainda, tudo
o que vemos alguém fazer, fazemos também, nem que seja apenas em nossa mente. Os
neurônios-espelhos leem a mente dos outros. E influenciam nosso comportamento a partir
da leitura.
A arte compreendida sob a perspectiva das funções cerebrais complexas demonstra
a importância das vivências artísticas para o exercício da sensibilidade e das
reorganizações das estruturas neurais impulsionadas pelas composições artísticas. A
composição artística em sendo um conjunto de estímulos organizados de forma equilibrada
e harmônica, instiga no observador “um entrar” nessa estrutura e vivenciar, dependendo da
linguagem artística, uma exercício da sensibilidade, onde a mente é conduzida por
experiências no nível de deduções, sensações e sentimentos que se organizam em uma
nova percepção experimental fora da vivência cotidiana. A Arte, geralmente, causa uma
sensação de prazer, onde os estímulos da atividade artística provocam a produção de
hormônios específicos, portanto, uma atividade de necessidade individual e coletiva de
equilíbrio mental. Daí, os principais eventos sociais de convívio social serem recheados de
atividades artísticas, como também a Arte está em todas as formas de relações
mercadológicas, em propagandas onde as estratégias de convencimento usam a Arte como
meio de sensibilização. Independente do uso, a Arte é uma atividade onde o ser humano
embala a mente.
A Arte na educação é um caminho para definir e ampliar horizontes.
Para entender a natureza humana ou sua relação com o mundo, tem que se
considerar a vida emocional das pessoas. As emoções têm um princípio neural, são
expressas como estados de felicidade, tristeza, medo, ansiedade, culpa, paixão. A
linguagem, utilizada para denominar essas emoções, é rica e variada. O desafio da
neurociência é estudar os componentes da comunicação neuronal necessários para gerar os
estados emocionais. Assim como são também as emoções que estão no âmago da
expressão artística, desde a poesia, passando pelo cinema, até a pintura. De fato, uma razão
pela qual as pessoas apreciam a arte é que ela evoca emoções, que independentemente de
serem agradáveis ou desagradáveis, foram habilmente captadas, reordenadas e transmitidas
nas obras de arte (Cury,2007).
Os estudos de Damásio (1998) enfatizaram um aspecto importante da ligação entre
emoção e fatores cognitivos, em sua hipótese do marcador somático, determina que sinais
“marcadores” surgidos de emoções e sentimentos agem para guiar o comportamento e as
tomadas de decisões, em um processo que se estabelece normalmente de modo
inconsciente. Segundo essa hipótese as emoções estão normalmente ligadas a pensamentos,
decisões e ações de uma pessoa.
O contato do expectador com uma produção artística provoca sensação (ação de
sentir), os estímulos são captados, interpretados e a reação emocional provocada é
resultado do construto do observador com relação a suas vivências, que são provocadas
pelo estímulo artístico.
Arte e imaginação
Imaginação é a representação mental das coisas (objetos, eventos, ambientes, etc.)
que presentemente não estão sendo percebidas pelos órgãos sensoriais, é um fenômeno
cognitivo, traduz a habilidade em criar e experimentar situações virtuais, de combinar
informações de forma pouco comum ou de inventar imagens mentais.
A imaginação tem o potencial de representar coisas que jamais haviam sido
observadas pelos seus sentidos em momento algum, As imagens mentais podem, mesmo,
representar coisas que absolutamente não existem fora da mente da pessoa que as cria, essa
condição desenvolvida pelo ser humano e experienciada através da Arte, coloca essa
atividade como propulsora do desenvolvimento das ideias, e das criações que
transformaram o mundo.
A maioria das pesquisas sobre a imaginação, na psicologia cognitiva, focalizou a
imaginação visual, a representação mental do conhecimento visual (p.ex., objetos ou
ambientes) não-visíveis presentemente aos olhos. Pesquisas recentes demonstraram que a
imaginação pode envolver representações mentais em quaisquer modalidades sensoriais
não apenas na modalidade visual. Pelo menos hipoteticamente, cada forma de
representação mental está sujeita à investigação e alguns cientistas estudaram cada uma das
representações sensoriais. Pesquisas que utilizam as técnicas de neuroimagem funcional
têm mostrado, repetidamente, que o ato de imaginar ou visualizar, ativa muitas das mesmas
regiões do cérebro ativadas pela percepção, (Cury, 2007).
As práticas da Arte-Educação nas escolas sempre fizeram uso da imaginação como
parte importante no processo de aprendizagem, mas o uso dos resultados de pesquisas
científicas referentes ao processo cognitivo da imaginação pode trazer informações
valiosas a serem incorporadas na área pedagógica. A organização das práticas com
estímulos sendo ministrados de acordo com o desenvolvimento perceptivo dos alunos,
onde as atividades sejam ministradas com um conjunto elementos previamente
estabelecidos, seguindo as especificidades de cada linguagem, inter-relacionadas enquanto
diversidades representativas, estimulando de forma mais direcionada e produtiva na
expansão da criatividade e cognição.
A Arte transformou a humanidade e pode de forma bem aplicada, transformar a
educação.
Para Helmholtz (1821- 1894), a percepção é construída por meio de inferências que
inconscientemente se faz sobre o mundo em volta. Essas inferências são contrastadas com
informações que o organismo colhe do ambiente.
Cada vez que essas expectativas não são correspondidas, ajustamos nossos
preceitos, criando inferências e testando novas conjecturas (Baldo, 2002).
Diversas atividades artísticas como músicas, melodias, danças, esculturas, pinturas,
poemas, realizadas em todos os períodos da história da arte, traduzem uma época e foram
geradas com o funcionamento dos sistemas sensoriais e expressam sua mensagem também
com o acionamento dos sistemas sensoriais de quem as observa havendo uma interação
mútua.
Memória e aprendizagem
As vivências no dia a dia, são construídas a partir de inúmeras situações onde se
interage com estímulos e as respostas de acordo com a estrutura individual de
reconhecimento, ao estudar, aprender, colecionar fatos e acontecimentos, armazenar e
elaborar cultura, se está ativando o encéfalo. O encéfalo trabalha incessantemente enquanto
se aprende e armazenam as memórias.
A memória, capacidade de alterar o comportamento em função de experiências
anteriores, depende de estruturas localizadas em diferentes regiões do sistema nervoso; o
processamento de informações nessas estruturas neurais resulta em alterações nestas e/ou
em outras regiões, levando a alterações no funcionamento do sistema.
A cada nova experiência a memória é acionada, as experiências anteriores servem
para correlacionar e avaliar à luz do contexto presente, de forma a consolidar o processo de
cognição de reorganização da informação em uma nova aprendizagem
Os estudos de como ocorre o aprendizado e de como as memórias são armazenadas,
iniciam- se com a filosofia, prosseguiram por vários campos científicos e hoje são mais
profundamente analisados com a neurociência. O estudo científico da memória e do
aprendizado percorreu uma longa história e ainda tem muitas coisas a serem reveladas.
A definição do construto identitário deve-se em grande parte ao que se aprende, a
forma como se aprende e ao que pode ser lembrado. Assim, aprendizagem e memória
formam o suporte para todo o conhecimento, habilidades e planejamento. É através do
repertório mnemônico que se forma um banco de dados, para que se possa considerar o
passado, se situar no presente e vislumbrar o futuro.
Greenfield e Bruner (1969, p. 654) escreveram que as culturas com tecnologias
simbólicas “estimulam o crescimento cognitivo melhor, mais cedo e mais profundamente
que as outras”.
O cérebro funciona em módulos cooperativos, que se ajudam na hora de recuperar
informações. Quanto mais caminhos levarem a elas, mais fácil será o “resgate”. Exemplo:
se um conceito estiver conectado simultaneamente a uma imagem e a um som, pelo menos
três áreas diferentes do cérebro trabalharão para recuperá-lo. Dessa forma, inventar uma
imagem simbólica – associar conceitos a formas, palavras a sons, cores a significados e
assim por diante irá consolidar o aprendizado.
O aprendizado e a memória podem ser subdivididos, hipoteticamente, nos
principais estágios: codificação, armazenamento e evocação. A codificação refere-se ao
processamento da nova informação a ser armazenada e envolve duas fases: aquisição e
consolidação. A aquisição registra as informações em arquivos sensoriais e estágios de
análise sensorial, enquanto a consolidação cria uma forte representação da informação
através do tempo. O armazenamento, resultado da aquisição e da consolidação, cria e
mantém um registro permanente. Finalmente, a evocação utiliza a informação armazenada
para criar uma representação consciente ou executar um comportamento aprendido com
um ato motor (GAZZANIGA, 2006, p. 320).
A maneira como as informações são organizadas levou ao desenvolvimento de
teorias e modelos sobre a memória semântica.
O conhecimento semântico se consolida com a exposição a informações e a
possibilidade de integração dessas informações (RÜEGG, 2004). Assim sendo, a idade e a
escolaridade podem estar associadas ao maior e mais consistente conhecimento semântico.
Cury (2007) traz a seguinte citação conhecimento semântico:
Equilíbrio
Equilíbrio é o estado no qual as forças, agindo sobre um corpo,
compensam-se mutuamente. Ele é conseguido, na sua maneira mais
simples, por meio de duas forças de igual resistência que puxam ou
atuam em direções opostas. Esta definição física é aplicável também ao
equilíbrio visual. O sentido da visão experimenta equilíbrio quando as
forças fisiológicas correspondentes no sistema nervoso se distribuem de
tal modo que se compensam mutuamente. O equilíbrio, tanto físico como
visual, é o estado de distribuição no qual toda a ação chegou a uma pausa.
Por exemplo, em uma composição equilibrada, todos os fatores como
configuração, direção e localização determinam-se mutuamente de tal
modo que nenhuma alteração parece possível, e o todo assume o caráter
de “necessidade” de todas as partes (FILHO, 2008. p.57).
Artista
Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (http://www.infopedia.pt/lingua-
portuguesa/artista) Artista = criador de obras de arte plástica.
Considerando as deduções anteriores, pode-se dizer que Artista é o profissional que
atual no campo das Artes, com domínio técnico, estético e criativo.
Para Candido (2006)
Obra de Arte
O mundo da obra de arte está na feliz utilização das forças obstinadas dos recursos
artísticos... não se podem ensinar os ímpetos da inspiração. Porém, o que em
grande parte pode ser ensinado e dirigido são as possibilidades de elaboração.
Temos que saber que, no fundo, são as forças dinâmicas dos recursos, que podem
dar alma e vida à obra de arte (p.270).
A arte é social não somente porque tem sua origem e sua finalidade na
sociedade da qual ela sofre ação e sobre a qual reage, mas porque ela
‘traz em si própria’, porque ela ‘cria uma sociedade ideal’, na qual a vida
atinge seu máximo de intensidade e expansão (p.32).
A glória da grande arte consiste em poder tolerar essa manipulação arbitrária de sua
superfície consciente, porque a sua verdadeira substância pertence a níveis mais profundos
e ainda não alcançados. A única coisa que parece ter importância para nós, é a complexa e
difusa subestrutura da arte. Ela teve a sua origem no inconsciente e o nosso próprio
inconsciente ainda reage a isso, preparando o caminho para reinterpretações sempre novas.
A imortalidade da grande arte parece estar ligada a perda inevitável de sua significação
original de superfície e a seu renascimento no espírito de todas as novas eras
(EHRENZWEIG, (s.d.). p.85).
A Arte na educação funciona como um elo entre o estudante e seu meio,
caracterizando a sua história, seus valores culturais, morais e sociais, através das
ilustrações e representações, construindo um mundo mental através das diversas
linguagens e práticas artísticas. A história do homem só pode ser relatada através da ótica
dos artistas, pois foram estes que durante séculos traduziram as representações do mundo
através de suas obras. O mundo visual do passado é resultado da sensibilidade,
conhecimento e técnica dos Artistas que através de seus trabalhos, permitem que o cidadão
de hoje tenha acesso à trajetória de sua existência enquanto produto evolutivo da espécie.
Arte-educação e seus processos mentais, na construção e potencialização de
redes neurais, enquanto diretamente ligadas à subjetividade, envolvem as funções
executivas do cérebro, que estão associadas ações de projeções mentais, inferências com
experiências vivenciadas e contextualizações funcionais. Esses elementos são inerentes
às diversas disciplinas da formação escolar, matemática, história, geografia, entre
outras. São campos mentais diretamente fortalecidos com o exercício da vivência
artística.
A arte provoca reações importantes tanto para quem produz quanto para quem
recebe, uma das propriedades da Arte é essa capacidade de provocar sensações e
construções mentais, o que traz também ao expectador a experiência transformadora.
A Arte tem uma função primordial para a vida, considerando que é organizada
no campo da imaginação, soma a experiência técnica, a vivência temática, o histórico
cognitivo e o acervo imagético arquivados na memória do artista, e o produto gerado
pela Arte é um conjunto de estímulos que incide no processo comunicacional e
reestrutura a cadeia cultural, reformulando o processo identitário numa dinâmica
constante durante o processo de inferências e reorganização de forças, que a cada novo
elemento acrescido é analisado e posicionado, na busca de uma interação equilibrada e
harmônica com o contexto social.
Arte é uma atividade de construção, arte transforma a mente e cria
potencialidades, arte na educação é responsabilidade com o destino da humanidade e
um direito de cidadania.
REFERÊNCIAS
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