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Revista Iberoamericana de Psicomotricidad y Técnicas Corporales

ISSN: 1577-0788. Número 31. Vol. 8 (3). Páginas 77-92


Recibido: 05/07/2008
Aceptado: 15/07/2008

A r e la çã o psicom ot or a na for m a çã o
clínica do psicom ot r icist a
The psychom ot or relat ion in t he Psychom ot or Therapist clinical t raining
Suza na Ve loso Ca br a l

A ação do psicom ot ricist a se especifica no at endim ent o ao suj eit o com o um t odo,
enfocando um olhar para seu funcionam ent o corporal, m as, sobret udo, para o que
ele sofre em seu corpo, devido a suas angúst ias e conflit os.
At ravés da relação psicom ot ora, na psicot erapia corporal, o sent ido da cura passa
pela busca da consciência, que se volt a sobre o discurso, sobre o j ogo do desej o
com a libido, inscrit o na hist ória pessoal, ou sej a, para o suj eit o e seu m odo de
est ar no m undo.
Na cena m ont ada para o vivido da relação psicom ot ora se encont ra o suj eit o, divi-
dido, ordenado pela linguagem e que t om a consciência do próprio corpo at ravés da
palavra.
O suj eit o vivencia esse corpo- escrit ura que, por ser falt ant e, pode se dirigir para o
sim bólico. O corpo fala, m as porque ele é falt a, ele sai do circuit o curt o do desej o e
pode se inserir no sim bólico at ravés de m ím icas, gest os, post uras, t ensões e m ovi-
m ent os. O corpo t orna- se esse subst rat o corporal do Eu que é, para o suj eit o,
subt ração.
Na relação psicom ot ora colocam - se face a face o suj eit o, o grupo e o psicom ot ricis-
t a. Est e é o anim ador do grupo. Anim ar vem do lat im anim a. Trat a- se de infundir
alm a, est ar de corpo e alm a no diálogo corporal. O anim ador cria o espaço t erapêu-
t ico para que se m ont e a cena do j ogo psicom ot or e nest e int ervém m odulando e
dinam izando as at ividades, além de pont uar e est abelecer os lim it es e as regras do
agir ( ou sej a, as at uações são cort adas) .
Na clínica psicot erápica psicocorporal o psicom ot ricist a t am bém recorre às int er-
pret ações. Ele est á de corpo e alm a no j ogo, m as t em t am bém a post ura de obser-
vador dos processos que ocorrem na m ont agem t erapêut ica psicom ot ora e, para
isso, m ant ém cert a dist ância, recorrendo à sua com preensão do j ogo e à sua pró-
pria im agem inconscient e do corpo, para revelar em seu t ônus, seu t oque, seu
m ovim ent o, seu colo, sua cont enção física e m odulação de gest os, as respost as
t erapêut icas às dem andas surgidas no j ogo expressivo e sim bólico psicom ot or.
Assim , o psicom ot ricist a deve t er um bom nível de conhecim ent o t eórico para t ra-
balhar com seus pacient es. Um a com preensão que lhe perm it a diagnost icar e acom -

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panhar o suj eit o e seus sint om as, m as deve, sobret udo, vivenciar as t écnicas que
vai prat icar e form ar- se do pont o de vist a pessoal para poder lidar com o sofrim ent o
do out ro.
O psicom ot ricist a em form ação deverá passar pela experiência de j ogar seu próprio
j ogo psicom ot or para, ent ão, poder aprender a decodificar as suas est rat égias rela-
cionais e, a part ir daí, com preender as da criança que vai at ender em sua prát ica
clínica.
Segundo Nuria Franc, responsável pela Escola I nt ernacional de Psicom ot ricidade
Relacional, com sede em Barcelona, e form adora- supervisora da prim eira t urm a de
brasileiros no Rio de Janeiro, em 1993, o j ogo sim bólico é prioridade no at endim en-
t o escolar e clínico.
«O inst rum ent o da Psicom ot ricidade Relacional é o j ogo livre, espont âneo, não diri-
gido e sem j ulgam ent o m oral. O psicom ot ricist a o observa e decodifica. I st o lhe
perm it e definir, at ravés do j ogo de papéis ( dram at ização espont ânea) e da repet ição
de com port am ent os da criança, quais as est rat égias relacionais que ela em prega
para enfrent ar ou desviar- se de conflit os e dificuldades» ( Franc, 1990) .
Do nosso pont o de vist a, arm am - se na cena psicom ot ora t rês t ipos de j ogo livre: o
expressivo, o sim bólico e o fant asm át ico.
Sobre o j ogo expressivo podem os dizer que:
«( ...) o j ogo funcional, as correrias, o subir em lugares alt os, o equilibrar- se sobre
rolos ou bolas grandes, o j ogar- se cansado e relaxado no chão, após int ensa at ivida-
de, são t odos exercícios funcionais, m as, com o são realizados diant e do anim ador e
no seio da relação est abelecida ent re est e, as crianças e o grupo, ganham sent ido de
descarga de t ensões, de busca de afirm ação pessoal, além de aprovação social.
Est es j ogos, port ant o, são expressivos de si m esm o, de si no confront o com os
out ros e do prazer que as habilidades e o funcionam ent o corporal perm it em revelar»
( Cabral, 2001,p. 41- 42) .
Já o j ogo sim bólico seria const it uído por:
«Jogos represent at ivos, de faz- de- cont a e dram at ização, em que se busca o prazer,
o dom ínio da angúst ia e at é m esm o a solução de conflit os, por sua possibilidade de
‘equilibrar ’ as fant asias ou fant asm as, ou sej a, o m undo int erno, com a realidade
ext erna» ( Cabral, 2001, p. 42) .
E o j ogo fant asm át ico const it ui- se de:
«Mom ent os em que os fant asm as irrom pem m ais livres da censura, m ost rando seu
sent ido at ravés de signos lúdicos prat icam ent e sem desvios, recorrendo a um m íni-
m o de condensações, m et áforas e deslocam ent os» ( Cabral, 2001, p. 44) .
A form ação volt ada para a relação psicom ot ora na clínica im plica sem pre num t ripé
de prát icas e est udos int erligados: t eórico, t eórico- prát ico e vivencial.
No plano da t eoria t orna- se necessário ret ornar às font es dos que escreveram so-
bre o desenvolvim ent o infant il com o Piaget , Wallon e Vygost ky. É im port ant e, t am -
bém , referenciar- se nas cont ribuições da Psicanálise de Freud, Melanie Klein, Win-
nicot t , Dolt o, Kest em berg. Na prát ica psicot erápica psicocorporal, a leit ura do in-
conscient e, dos conflit os e das angúst ias segue o m odelo da psicanálise, e o est udo
dos t eóricos que escreveram especificam ent e sobre a criança é necessário.

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Noções da dinâm ica do funcionam ent o neurológico e das principais funções corpo-
rais, com o t ônus, m ovim ent o, respiração, e a com preensão das unidades funcionais
de Luria são bases para a fundam ent ação t eórica. Além disso, o em basam ent o dos
est udos da psicom ot ricidade sobre as dim ensões do corpo funcional, cognit ivo, afe-
t ivo- fant asm át ico- relacional e social, sobre os dist úrbios psicom ot ores e sobre a
visão do exam e psicom ot or t radicional e livre, é subsídio para o enfoque do t raba-
lho com a relação psicom ot ora.
O referencial da Sem iót ica de Pierce nos aj uda a enfocar o que são os signos e
com preender com o os acont ecim ent os psíquicos os m arcam e com o prom over na
vivência a liberação da cadeia de signos que se evidencia com o associação livre
at ravés do j ogo psicom ot or.
Com a fluência do discurso lúdico, inserido na relação com o out ro, espera- se que
os signos m arcados com sinais de conflit o e angúst ia possam sofrer novas t radu-
ções. Por exem plo, um a criança regredida pode viver um espaço fusional no colo do
t erapeut a, m as com a int ervenção que a est im ula a «crescer», pode explorar o
am bient e, reencont rar o prazer de brincar conseguindo ent ão re- m apear suas es-
t rat égias relacionais e ganhar em aut onom ia.
As expressões icônica- indicial e sim bólica do j ogo corporal perm it em a ocorrência
de alguns rem anej am ent os inconscient es e pré- conscient es, além de levar a insi-
ght s que prom ovem um novo discurso do suj eit o em t erapia psicom ot ora.
O enfoque t eórico- prát ico no processo de form ação do psicom ot ricist a const a de
aulas apresent ando vídeos que ligam a prát ica à t eoria específica da psicom ot rici-
dade, de est ágios para observação de psicom ot ricist as at uando na clínica e, m ais
no final da form ação, de grupos de at endim ent o conduzidos pelos est udant es e
supervisionados por psicom ot ricist a didat a.
As vivências psicom ot oras form adoras que visam à relação num circuit o corporal
m ediat izado do desej o são prim ordiais para o t rabalho pessoal do fut uro psicom o-
t ricist a. Aí olhar, t oque, encont ros, m ím icas, t ensões, gest os e post uras, que ocor-
rem no j ogo psicom ot or, ganham o valor de fala corporal que se paut a pela subt ra-
ção, fundant e do suj eit o.
Sublinham os enfat icam ent e que nessa subt ração, at ravés da linguagem corporal e
não de qualquer gozo no corpo, é que a abordagem da psicom ot ricidade se especi-
fica. Ela se dá at ravés do j ogo relacional sim bólico, prom ovendo um a perda de
gozo, daquele «a m ais» const it uído pela t ensão que perm anece int rapsíquica, re-
presada pelo falo, e só aí pode se dar o acesso ao suj eit o na clínica psicom ot ora.
As vivências psicom ot oras fizeram part e do currículo desenvolvido na década de
novent a no Cent ro de Est udos da Relação Psicom ot ora de Belo Horizont e ( CERP) ,
escola m ineira aut orizada, ent ão, por André Lapierre. O program a seguiu a orient a-
ção das form ulações de Nuria Franc e André Lapierre, que foram desenvolvidas em
conj unt o por esses dois psicom ot ricist as para a criação de escolas brasileiras e sul-
am ericanas de psicom ot ricidade. No CERP houve a part icularidade de se dar m aior
ênfase à clínica psicom ot ora e à leit ura psicanalít ica de base.
A form ação, em nível de especialização de t rês anos, privilegiou o eixo de t rabalho
pessoal e o t eórico- prát ico, com vídeos de sessões em escolas e, sobret udo, em
clínicas, com observações diret as e, a part ir do 2 o ano, com est ágios supervisiona-
dos.

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Considerados os t rês eixos de form ação, est e art igo pret ende discut ir, com m ais
profundidade, a quest ão da form ação pessoal para o t rabalho com a relação psico-
m ot ora em clínica, t om ando com o exem plo a prim eira t urm a form ada pelo Cent ro
de Est udos da Relação Psicom ot ora.
As vivências psicom ot oras foram consideradas a Unidade I I I de t rabalho, e nos t rês
anos seguint es foram apresent adas e vivenciadas pelos alunos com um a gradação
de t em as e propost as desde at ividades m ais abert as, m ais do t ipo j ogo expressivo,
at é out ras m ais sim bólicas que, em cert os m om ent os, chegaram a despert ar fan-
t asm as na experiência psicom ot ora os quais t iveram que ser cont idos e com preen-
didos pela t radução e int ervenção dos psicom ot ricist as didat as que dirigiam est a
área de form ação na referida inst it uição – Suzana Veloso Cabral e Daniel Silva.
Cada m ódulo de vivências ocorreu às sext as- feiras e sábados, nos dois horários,
m anhã e t arde, e com verbalização do vivido aos dom ingos pela m anhã.
No prim eiro ano a Unidade I I I const ou de cinco m ódulos.
1 o M ódu lo
Vivência m ais dirigida para exploração do espaço com olhos abert os e fechados e
depois para guiar uns aos out ros em m ovim ent o, com t roca de papéis. A seguir, a
dinam ização de m ovim ent os foi feit a at ravés de j ogo com balões pequenos e gran-
des e relaxam ent o para percepção do próprio corpo. O uso de j ornais forrando t odo
o chão cont inuou a m obilizar o prazer dos m ovim ent os. Só no final do m ódulo
com eçam os a buscar a criação de laços: iniciar o t rabalho em pequenos grupos,
com confiança, solt ando- se t onicam ent e, ent regando- se uns aos out ros, sust ent a-
dos por cordas, m as ainda no nível de um j ogo m ais expressivo do que no nível do
sim bólico.
2 º . M ódu lo
O prazer sensório- m ot or cont inuou a ser vivido com bolas de vários t am anhos, e a
propost a de const rução de um espaço individual, fazendo uso de caixas de papelão
e t ubos e da relação de grupo ( visit as aos espaços const ruídos) , t rouxe a int eração
grupal. O aprofundam ent o da consciência de si e a confiança no out ro foram vividos
at ravés do solt ar- se – sem o olhar do out ro ( ut ilização de m áscaras) – e do buscar
cont at os at ravés de sons e barulhos. Num segundo m om ent o, propôs- se criar um
circuit o a ser percorrido de olhos vendados com a aj uda de um guia para se viver a
ent rega; aí a confiança no out ro com eçou a m obilizar cont eúdos m ais sim bólicos.
No final do m ódulo ut ilizam os um rit m o de m úsica m ais carnavalesco para dar
m aior t ônus e dinam ism o à vivência, com a at ividade de fant asiar- se com panos
para viver suas fant asias pré- conscient es e inconscient es.
3 º . M ódu lo
Os m at eriais ut ilizados j á eram conhecidos, m as houve diferenciação ent re os t e-
m as propost os. Por exem plo, usar os j ornais para um ninho de relaxam ent o de t odo
o grupo; viver m ais acirradam ent e a disput a ent re subgrupos com bolas; criar um
personagem individual e int eragir com plem ent arm ent e com os out ros, usando pa-
nos e m aquiagem . No final, propusem os a criação de vínculos em pequenos grupos
e viver as ligações, fazendo uso de bam bolês e cordas de m odo m ais dinâm ico.

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4 º . M ódu lo
O obj et ivo de perm it ir m elhor com preensão dos m odos relacionais foi t rabalhado
em pequenos grupos de duas ou t rês pessoas, est abelecendo- se assim um cont at o
m ais próxim o, que foi m ant ido ut ilizando- se balões ent re os corpos e equilibrando-
os com diferent es part es do corpo. No final, inst rução foi liberar a disput a para
solt ar possíveis t ensões, podendo- se est ourar os balões dos grupos oponent es. Os
cont eúdos com eçaram a m ost rar t em as pré- edípicos, por exem plo, a regressão,
que pôde ser vivida de m odo m ais est rut urado com a criação de um parque de
diversões. O m at erial usado foi: caixas, barbant es, fit as adesivas e papelões. Para
t al vivência foi propost o que «babás» levassem crianças de at é set e anos para
passear. As babás t inham que agir conform e a idade que cada part icipant e t ivesse
escolhido para vivenciar e deviam se adapt ar às crianças, com eçando a leit ura
t ônica evit ando- se as próprias proj eções, ficando m ais disponíveis para o out ro.
Com o se form aram dois subgrupos e depois foi feit a a t roca de papéis, cada um
pôde se exercit ar nessa leit ura. A seguir, a propost a foi de vivenciar personagens
m ais proj et ivos fant asiando- se de papel branco, m ais com prido, de bobinas e de
j ornal, procurando- se buscar out ros personagens com plem ent ares. Num segundo
m om ent o, usando t odo o m at erial dest a vivência, prom ovem os relações duais cri-
ando um m undo para receber um a criança de creche e cuidar dela at é os 15 anos,
o que se fez com dois subgrupos e t roca de papéis. Houve rit m o e t ônus m ais alt o,
t erm inando com um a valsa de 15 anos e rock em seguida.
O obj et ivo das vivências passou a ser a est im ulação de j ogos m ais sim bólicos,
podendo aparecer na cena psicom ot ora signos m arcados que pudessem ser reco-
nhecidos e que est ivessem int erferindo nos m odos relacionais dos part icipant es,
que se alt ernavam no papel de filhos e de adult os responsáveis por um a criança.
5 º . M ódu lo
No m ódulo final desse prim eiro ano propusem os m ais j ogos sim bólicos levando o
grupo à int egração e confiança uns nos out ros e à afirm ação de cada um , que
podia, em cert os m om ent os, passar pela agressividade.
As recom endações foram para est abelecer relações em pequenos grupos, com bi-
nando, sem palavras, a profissão de cada um deles, fant asiando- se de acordo, com
m aquiagem t am bém , e int eragindo no j ogo com os out ros. A seguir, propusem os
um a dinam ização com encont ros m ais livres, com m úsica m ais rápida e a vivência
de agressividade m ais est rut urada, com uso de cordas, em dois subgrupos com
t roca de papéis: um grupo de anim ais dom ést icos ou selvagens que se com unica
por m ím icas e sons e um grupo de dom est icadores que vão capt urá- los, dom est icá-
los e criá- los. Logo depois, fizem os a propost a de viver a confiança no out ro percor-
rendo um circuit o que est im ulava sensações de t at o, calor, gost o, cheiro, além de
obst áculos criados por t úneis e cordas para passar por cim a ou por baixo, com
m áscaras, dividindo- se os part icipant es em dois subgrupos, com t roca de papéis
ent re guia e guiado. A finalização do ano buscou a int eração dinâm ica do grupo
at ravés do cont at o corporal desculpabilizado, com o uso de panos e, sobret udo, um
pano grande de oit o m 2 , podendo cada um rolar, esconder- se, ou aparecer sob esse
pano de m odo m ais dinâm ico.
No segundo ano de funcionam ent o do Cent ro de Est udos m udam os as dinâm icas de
vivências para encont ros m ensais de t al m odo que o vivido e a form ação pessoal
foram int ensificados.

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I nt roduzim os m at eriais novos com o isopor, m assa plást ica colorida, elást icos, e no
circuit o de sensações colocam os m ais est ím ulos olfat ivos, orais e t át eis buscando
est im ular as percepções m ais sut is.
Tem as novos foram incorporados às vivências com o o de cont inent e e cont eúdo,
usando os panos para aconchego. O obj et ivo era experim ent ar o poder, com o uso
de panos, filós e t ubos, afirm ando- se perant e os out ros. Tam bém propusem os a
const rução de espaços e criação de obj et os, ut ilizando caixas, isopor e t ubos para
que cada um se sent isse dono de seu próprio lugar.
Out ra propost a foi a const rução seguida da possibilidade de des- const rução. Para
t al vivência, os part icipant es, divididos e m dois subgrupos, criaram duas fort alezas
de caixa de papelão, papel e j ornal, onde pudessem se abrigar e onde pôde surgir
a disput a e a conquist a do espaço no confront o com o out ro subgrupo.
Com os j ornais levam os o grupo a im aginar um a t ribo de prim it ivos e a viver as
relações de poder, de m asculino e fem inino, ent re os indivíduos. O obj et ivo seria
buscar, com as fant asias e arm as criadas de papel j ornal, a afirm ação de um poder
m ais prim it ivo.
Tam bém com part ilhar o próprio espaço foi propost o aos part icipant es: e m dois
subgrupos, cada um por sua vez criou m undos convidat ivos e depois foi convidar os
out ros que est avam relaxados para que viessem part icipar e com part ilhar corporal-
m ent e do cont at o. Era im port ant e prest ar at enção, logo na chegada, se alguém
est ava com o t ônus rebaixado, além de ver os sinais t ônicos de aceit ação ou de
recusa e respeit á- los.
Com as m áscaras propusem os experim ent ar encont ros com os out ros at ravés do
t oque e do cheiro, em seguida buscar o cent ro da sala, deixando- se fluir ao acaso
dos encont ros com os out ros, m as sem se perder, discrim inando o t ipo de t oque e
t ônus e a acolhida encont rada. Depois de cada um relaxar em seu espaço, a pro-
post a foi de buscar grupos nos quais eram feit os sons próxim os aos que cada
pessoa ou cada subgrupo produzia e que agradassem aos part icipant es. Aí a reco-
m endação era buscar a cooperação e saber aceit ar a proxim idade sonora do out ro.
Um cont at o ínt im o ent re os com ponent es do grupo foi est abelecido num a vivência
com m aquiagem e papel crepom , em pequenos grupos, quando cada um pint ou o
out ro criando personagens cuj o result ado só no final se viu no espelho. Com ist o
houve a vivência de ent rega e dependência do out ro e, diant e da im agem escópica,
cada um pôde fazer a avaliação da relação vivida.
O t rabalho com a relação dual foi aprofundado. Prim eiro buscando afinar a percep-
ção de quem se m ost ra m ais afirm at ivo e conduz a dupla em m ovim ent os com par -
t ilhados, depois t ent ando sair da posição de guia e de guiado, est abelecendo um
m esm o nível de encont ro, deixando fluir o cont at o sem ninguém dirigir e, finalm en-
t e, encont rando o acordo t ônico. O passo seguint e foi separar- se de m odo com ple-
t o, com um a despedida t ônica e progressiva, respeit ando a si e ao out ro e sem pre
ret om ando a si m esm o.
As relações t riangulares foram est im uladas com propost as de com part ilhar os es-
paços e m at eriais diversos com o bolas, panos, cordas, sem pre a t rês para que o
grupo com eçasse a t er m aior fluidez nas relações, e buscasse t am bém o lugar de
cada um no t riângulo edípico de m odo proj et ivo.

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As at ividades que visavam buscar o prazer sensório- m ot or cont inuaram a ser vivi-
das em vários m om ent os, increm ent ando percursos de obst áculos, danças grupais
e diversos j ogos expressivos de força e poder.
No t erceiro ano houve a int ervenção do psicom ot ricist a Daniel Silva e os alunos
alt ernaram ent re dois anim adores na Unidade I I I com as seguint es vivências:
Com a anim adora Suzana, desenvolveram - se j ogos psicom ot ores expressivos e
sim bólicos com o os descrit os a seguir.
1 º . M ódu lo
Usando grandes bolas de circunferência de um m et ro ou m ais, um pano grande de
8 m 2 e cordas grandes pendent es do t et o, foi propost a a criação de espaços a
serem com part ilhados em pequenos grupos, vivenciando o acolher, ser acolhido e
t rocar. As bolas grandes serviram para «ninar» uns aos out ros: um part icipant e
deit ava sobre um a bola grande e os out ros balançavam devagar o colega.
Fez- se novo j ogo para viver o poder, com t ubos e panos. No horário seguint e, foi a
vez de criar a com unicação at ravés de vozes alt as ( at é o grit o) e sons baixos,
obt idos com um relaxam ent o m ais profundo que perm it ia encont rar um a voz m ais
aut ênt ica. A part ir daí, da harm onia encont rada com algum som de out ra pessoa
pôde- se relacionar com ela ou com um pequeno grupo.
No final, a vivência foi de t ônus e equilíbrio com o uso de elást icos e cordas, que
perm it iram ganhar t ônus e sair do clim a m ais int enso propost o ant eriorm ent e.
2 º . M ódu lo
Propôs- se vivenciar regressivam ent e o cont at o m ais prim it ivo, com t odo o grupo
brincando de anim ais.
Logo a seguir, a vivência foi de relação m ãe- filho. Cada um relaxava, no início em
dois subgrupos, e depois cada criança de um subgrupo escolhia quais m ães desej a-
va, devendo est as perm anecerem relaxadas em espaços que const ruíram com pa-
nos, caixas e filós, at é serem encont radas pelos filhos. Houve t roca de papéis no
m om ent o seguint e.
As relações com plem ent ares deviam ser vividas t rês a t rês, com m aquiagem , papel
crepom e filó ( por exem plo, o casal e o filho, avó/ m ãe/ filho, et c.) .
Em seguida, com t odo o m at erial ant erior e os t ubos, os part icipant es podiam viver
o m undo com o lhes agradasse, deixando fluir o prazer sensório- m ot or.
3 º . M ódu lo
Esse m ódulo foi dirigido por Daniel e era a prim eira experiência do grupo com um
anim ador m asculino, o que m obilizou afet ivam ent e t odos os part icipant es.
O início da vivência foi de m ais dinam ism o e logo foi post o o t em a da diferença de
gênero e das relações de poder de cada um , além do com part ilham ent o com o
out ro.
As propost as foram :
a) Criar um a relação m ais profunda com os obj et os/ posse represent ados pelas
bolas e depois, com o descarga, t ent ar concent rar o m áxim o de bolas, poden-
do cada um unir- se em pequenos grupos.

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b) Com t odo o m at erial, ident ificar- se com o m asculino e o fem inino.


c) Com t odo o m at erial, viver o poder.
d) Usando panos, vivenciar o dar e o receber em dois subgrupos, com t roca de
papéis.
4 º . M ódu lo
Esse m ódulo reuniu pela prim eira vez um grupo m ist o de alunos de segundo e
t erceiro anos.
Foi anim ado por Suzana e as propost as, bem abert as, foram : explorar, solt ar- se e
brincar com t odos os m at eriais. Com os j ornais, ela propôs vivenciar anim ais de
quat ro pat as. Com as m áscaras, viver sons m ais profundos e os encont ros que
surgissem , at ravés do t oque e do cont at o.
A vivência do final do m ódulo foi a m ais int ensa, com a propost a de dar e receber.
Todo o grupo dispôs- se num t únel de cont at o no qual cada um passava no m eio de
duas fileiras de part icipant es e se ent regava ao t oque, abraços e cont at os que o
grupo quisesse lhe dar prodigam ent e.
5 º . M ódu lo
Foi anim ado por Daniel que fez as seguint es propost as:
a) Brincar e j ogar com as bolas e com os out ros.
b) Com panos, t ubos, cordas e bam bolês, viver o poder e o confront o com o
poder do anim ador. Depois relaxar.
c) Trabalhar as t ensões do grupo nos m em bros, nas art iculações, no rost o e na
boca num prim eiro m om ent o de relaxam ent o. Em seguida, diant e de um a
const rução de caixas e de isopor do anim ador, m obilizar o grupo para j ogar
com a agressividade e o enfrent am ent o com o poder da aut oridade, pois o
grupo poderia dest ruir a o que fora const ruído.
d) No início, sem usar m at erial, fez- se um a dança de t odo o grupo para cont at o.
Depois em roda, cada um ia ao cent ro e por sua vez form ava t renzinhos,
cordões e abraços de t odo o grupo. Em seguida, com m úsica m ais lent a os
part icipant es deviam dançar dois a dois. No final, t odos t rocaram olhares e
viam qual t ipo de relação corporal foi est abelecido, e o que com part ilharam
com os diversos part icipant es.
6 º . M ódu lo
Com Suzana e Daniel agindo em co- anim ação as propost as foram :
a) Com as bolas e os bam bolês, os part icipant es deviam brincar e ent rar em
relação uns com os out ros.
b) Usando a m aquiagem , viver a proj eção do out ro sobre si, aceit ando ser pin-
t ado e, depois, podendo m odificar sua pint ura. Usar t am bém panos para se
fant asiar.
c) Viver a relação m ãe/ pai e filhos ou out ros t ipos de relações t riangulares,
usando panos.

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d) Com t odos os m at eriais, viver a liberdade de se expressar e depois o dar e


receber, com os subgrupos alt ernando os papéis.
A part ir dest a experiência, os dois psicom ot ricist as didat as, Daniel e Suzana, discu-
t iram a progressão do vivido e a evolução pessoal de cada aluno e chegaram a um a
sist em at ização nort eadora para as at ividades que foram classificadas de acordo
com os t em as explorados, levant ando t am bém possíveis int ervenções do anim ador
para dinam izar o j ogo psicom ot or.
É bom est abelecer inicialm ent e que são obj et ivos das vivências para a form ação
pessoal do aluno:
1. Recuperar a capacidade de j ogar, ent ender a im port ância do j ogo, do
prazer na relação, pois t rat a- se de j ogar ent re adult os e não com o se
fossem crianças.
2. Viver a sensibilidade, o diálogo t ônico, a m odulação t ônica, a escut a cor-
poral.
3. Tom ar consciência das m odalidades de relação.
Os t em as foram classificados em seis grupos: aquecim ent o com at ividades sensó-
rio- m ot oras, diálogo t ônico, j ogos pré- edípicos, int erm ediários e edípicos, e j ogos
de conquist a da aut onom ia.
Cada um desses t em as divide- se em subt em as.
1. Aqu e cim e n t o: c) I gualdades e diferenças
a) Jogos de socialização d) Desest rut ura e est rut uração
b) Prazer sensório- m ot or 5. Jogos e dípicos:
c) Desbloqueio do cont at o a) Com pet ição
d) I nício do com part ilhar b) Sedução
e) I nício da afirm ação de cada um c) Sensualidade
2 . D iá logo t ôn ico: d) Sexualidade
a) Maior aproxim ação corporal t ôni- e) Afirm ação do poder pessoal
ca com o out ro f) Relações t riangulares
b) Confiança no out ro g) Quem é quem , quem é de quem
c) Busca do início de fusão ( lugar no t riângulo)
h) Cast ração
3. Jogos pr é - e dípicos:
a) Regressão 6 . Jogos de con qu ist a da a u t on o-
b) Cont enção/ acolhim ent o m ia :
c) Agressividade
d) Confiança/ desconfiança a) Aut onom ia
e) Relações duais b) Liberdade
f) Prazer sensório- m ot or c) Fluidez t ônica
g) Devoração d) Const rução
e) Reconst rução
4 . Jogos in t e r m e diá r ios:
f) Pluralidade de relações
a) Dom est icação
b) Desafio à ordem do adult o

A seguir, apresent am os sugest ões de at ividades possíveis e de int ervenções que


podem m obilizar e dinam izar o j ogo expressivo e sim bólico.

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ATI VI D AD ES PARA O AQUECI M EN TO I N TERVEN ÇÕES POSSÍ VEI S


• Caminhar de todos os Sentir todos os movimentos e Animador pode se colocar diante
modos, 4 patas, ponta do pé, perceber a diferença na direção das pessoas de “quatro patas” ou
sozinho, a dois. da marcha, na rapidez, na soltura fazendo um túnel com as pernas.
e flexibilidade, etc.

• Arrastar e ser arrastado. Captar a mensagem corporal do Animador pode jogar bola para
outro e as mudanças tônicas, em perturbar o arrastado ou então dar
ritmo rápido, lento, brusco, etc. estímulo, como fazer um vento
gostoso, dependendo se vai
provocar uma reação ou estimular
o prazer sensório-motor.
• Idem com obstáculos. Introduzir o cuidado com o outro,
para evitar obstáculos.

• Sociometria de contato Atar uma parte do corpo com a Animador pode usar estratégias
(escolher ficar com alguém). do outro e sentir o levar e ser como as do arrastar e ser
levado pelo outro. arrastado.
Manter uma bola entre os corpos
da dupla, sem as mãos, Animador pode fazer cócegas para
caminhando inclusive no plano a bola cair, perturbando de modo
baixo, no chão. brincalhão.
• Máquina maluca (cada um Colaborar e perceber o ritmo do É possível entrar para quebrar o
continua o movimento do outro e estar disponível. ritmo do grupo e ver como se
companheiro, com novo adaptam.
movimento encadeado).
• Manter contato com o Maior implicação de contato com Animador faz molecagens de “ver”
olhar do outro. o outro. de perto, de olhar de longe, etc.

• Saltar e rolar. Reencontrar o prazer sensório- Pode-se chegar a rolar uns sobre
motor. os outros com sugestão do
animador.
• Metade do grupo, de Inicia o trabalho de confiança no Animador pode pegar copo de
quatro patas, são os outro, com sustos e brincadeiras. água e chapiscar em alguns, etc.
exploradores da selva e a
outra metade são os
elementos da selva: ventos,
bichos, pingos de chuva, etc.
• Todos são bichos e vão Inicia a possibilidade mais Animador pode provocar colocando
comer, usar, por exemplo, regressiva no sentido de deixar o “comida” sob a roupa.
espuma. pulsional mais à tona.

• Jogos de bola: jogar de Criam-se contatos e disputas. Animador entra na disputa em


vários modos. alguns momentos.

• Disputar para acaparar Criam-se colaborações e maior Idem.


(monopolizar) as bolas. contato através da agressividade,
com menos inibição.
• Ter um só objeto na sala Implica em dividir e compartilhar.
para jogar.

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ATIVIDADES PARA O DIÁLOGO TÔNICO INTERVENÇÕES


POSSÍVEIS

• Pôr bola de papel escondida sob a Cria-se luta lúdica que


roupa para cada um encontrar e tirar. permite menos bloqueio de
Pode-se recuperar a bolinha de cada contato.
um.
• Metade do grupo vai esconder objetos Confiança no outro que Animador marca espaço no
na sala e a outra metade, com olhos ajuda a guiar. chão com cordas como guia e
fechados, os procura. pode pendurar algo no corpo
de alguém parado.

• Pequenos grupos de mãos dadas e Tocar e ser tocado, ver o


se atam nós entre os corpos e um tônus de cada um.
participante de olhos vendados desfaz
os nós.

• Seis pessoas em pé em círculo e um Manter a confiança em


no meio se deixa jogar tonicamente nos nível mais profundo.
braços dos outros.

• Tensões no jogo cabo-de-guerra Ver tensão da oposição.

• Circuito de obstáculos e de Também trabalha com a


sensações. tensão.

ATIVIDADES PARA OS JOGOS PRÉ-EDÍPICOS INTERVENÇÕES POSSÍVEIS


• Cuidar / ser cuidado O animador entra na parceria
• Creche / mãe filho simbólica e fica alerta para que
os membros do grupo cuidem
• Maquiagem no rosto, vestir-se pelo outro uns dos outros; intervém se
• Pedir / responder necessário para significar
• Necessidades alguma vivência, pontuar ou
mesmo dar limites.
• Dar / receber
• Parque de diversões
• Relaxamento com recomendações e pós-jogo
• Tensões em grupos, em duplas
• Animais
• Conduzir/ser conduzido
• Lutas de subgrupos ou em duplas
• Onipotência

ATIVIDADES PARA OS JOGOS INTERMEDIÁRIOS INTERVENÇÕES POSSÍVEIS


• Domador de animais Dinamizar e modular o jogo
• Propor construções e desconstruções simbólico.
• Masculino/feminino
• Dizer Não

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ATIVIDADES PARA OS JOGOS EDÍPICOS INTERVENÇÕES POSSÍVEIS


• Fantasiar-se
• Poder
• Construir o espaço pessoal Dinamizar e modular o jogo
simbólico.
• Encontrar o espaço nas relações
• Masculino/feminino
• Sim/não
• Ambivalência amor/ódio
• Identificação dos pontos negativos e positivos
• Dificuldades e potencialidades

ATIVIDADES PARA OS JOGOS DE CONQUISTA E AUTONOMIA INTERVENÇÕES


• Construção de cidades e coletivas O animador aí só entra no jogo
• Compartilhar quando requisitado.
• Escolha

Os t em as propost os e a classificação que est abelecem os, as sugest ões de at ivida-


des e de possíveis int ervenções dos anim adores foram elaborados de m odo a faci-
lit ar o t rabalho nas novas t urm as.
Nessas vivências, os alunos puderam t om ar consciência de suas form as de expres-
são t ônico- gest ual, de seus m odos de est abelecer relações e, alguns deles, de
conflit os inconscient es que em ergiram em algum as das vivências.
Com o exem plo, podem os cit ar o caso de um a aluna que, na vivência com bam bolês
e cordas, acabou fazendo um a bela m andala de int egração de si m esm a, t ecendo
as cordas coloridas dent ro de um bam bolê com t al beleza de produção que os
out ros part icipant es se j unt aram a ela e fizeram de seu t rabalho um sol do qual
part ia um cam inho que t odos percorreram . Ao final do percurso, ela pediu a aj uda
da anim adora para desat ar os nós, o que se deu com m uit a em oção; depois verbalizou
que com est a experiência sent iu que desfez vários bloqueios de criat ividade que sent ia a
part ir de sua hist ória pessoal com os pais adot ivos.
Out ro suj eit o, na vivência de percepções sut is, guiado por um a «m ãe abandônica»,
encont rou- se sob um filó branco com ext rem a perda de t ônus, sendo os únicos
índices de pedido de aj uda a sua m ão para fora do pano e sua respiração bloquea-
da. Tal expressão t ônico- gest ual, capt ada e t raduzida pela anim adora, conduziu a
um t rabalho de m at ernagem progressiva, levando o rapaz a se encaixar em seu
colo e viver um a fusão t ônico- respirat ória; depois, realim ent ado afet ivam ent e, re-
cuperado da dispnéia ant erior e pacificado em sua angúst ia, vivida iconicam ent e,
ele pôde sair do colo e reint egrar- se com aut onom ia ao grupo, no circuit o de sensa-
ções t át eis, gust at ivas, de odor e t ext uras. No m om ent o de verbalização, foi- lhe
sugerido ret om ar com a m ãe a hist ória de out ro seu nascim ent o. Num out ro dia o
rapaz relat ou que ela lhe descrevera um part o difícil, com circular de cordão e falt a
de oxigênio.

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Vem os nesses dois exem plos, t om ados ent re m uit os out ros, que o t rabalho t era-
pêut ico no grupo de form ação para a relação psicom ot ora passa por um a des-
sim bolização. O adult o habit uado a falar de si com palavras ent ra no j ogo expressi-
vo e sim bólico e pode ser capt urado, em m om ent os de surpresa, por vivências
fant asm át icas que revelam os signos m arcados de seu discurso e o percurso de sua
libido e do possível m al- est ar m arcado com o escrit ura em seu corpo e liberado no
j ogo psicom ot or espont âneo.
Escolhem os seis fot os para ilust rar as experiências dos alunos descrit as acim a.
VI VI DO DA MANDALA VI VI DO DA PERDA DE TÔNUS

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Com est as vivências, alguns alunos que fizeram t odo seu percurso t eórico e t eóri-
co- prát ico, com um núm ero exigido de supervisões de seu t rabalho, iniciado desde
o segundo ano de est udos, t erm inaram seus est udos. Eles apresent aram um t raba-
lho m onográfico t eórico- prát ico de conclusão de curso e fizeram j us ao cert ificado
de psicom ot ricist as, assinado pela direção do Cent ro de Est udos da Relação Psico-
m ot ora e por André Lapierre, durant e sua visit a de supervisão à escola.
Cabe salient ar que o nível de exigências da form ação propost a foi bem alt o e t ive-
m os um a evasão bast ant e significat iva, sobret udo quando com eçou a prát ica su-
pervisionada de grupos com crianças em creches ou clínica, de acordo com a opção
de cada aluno.
Por out ro lado, os alunos da prim eira t urm a, que form am os at é 1997, est ão reali-
zando ót im os t rabalhos com o profissionais da relação psicom ot ora e est ão coorde-
nando e/ ou m inist rando aulas em diversos cursos de especialização em Psicom ot ri-
cidade. Tam bém t em os not ícias deles t rabalhando j unt o às Secret arias de Educação
de diversas Prefeit uras de Minas Gerais, em Clínicas de Reabilit ação I nfant il, e t am -
bém apresent ando t rabalhos em Congressos da Sociedade Brasileira de Psicom ot ri-
cidade e at é m esm o colaborando com art igos em diversos periódicos, inclusive a
nossa Revist a I beroam ericana de Psicom ot ricidade.
O Cent ro de Est udos da Relação Psicom ot ora foi encerrado, com a últ im a t urm a, em
1997, e criam os a Especialização Lat o Sensu de Psicom ot ricidade na Universidade
FUMEC de Belo Horizont e, j unt o com a coordenadora do curso, Sonia Onofri, um a
de nossas ex- alunas.
Para concluir o t em a da form ação clínica do psicom ot ricist a, salient am os que o
pont o im port ant e dest e t rabalho de vivências e form ação pessoal dent ro da pers-
pect iva da relação psicom ot ora na clínica é que ele é m obilizador para a psicot era-
pia do fut uro profissional. Além disso, pela possibilidade de re- sim bolizar os vividos
e de haver, com o dissem os, um rem anej am ent o do inconscient e, com novas t radu-
ções no discurso do suj eit o, a part ir dessas experiências de relação psicom ot ora
m uit as condut as e m odos de se dirigir ao out ro podem ser rem odelados.
O psicom ot ricist a form ado para a relação psicom ot ora t orna- se capaz, ent ão, de se
colocar com o parceiro sim bólico de seus client es sem proj et ar- se na cena t erapêu-
t ica. Há um a espécie de t ravessia de seus fant asm as, at ravés do vivido na form a-
ção pessoal, sem elhant e à t ravessia de um processo psicot erápico que o habilit a
para anim ar o j ogo psicom ot or em clínica.

REFERÊN CI AS:
Cabral, Suzana e out ros. Educar Vivendo: o corpo e o grupo na escola. Port o Alegre:
Art es Médicas, 1988.
Cabral, Suzana V. Psicom ot ricidade Relacional: prát ica clínica e escolar. Rio de
Janeiro: Revint er, 2000.
Franc, Nuria. Dossiê de psicom ot ricidade relacional. Barcelona, 1990. Text o inédit o.
Freud, Sigm und. Edição Elet rônica Brasileira das Obras Psicológicas Com plet as.
Direção da Edição de Jaym e Salom ão. Coordenação de Eduardo Salom ão. Reprodução
da Edição St andard Brasileira. Rio de Janeiro: I m ago Edit ora, 1969 ( 80) .

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A relação psicomotora na formação clínica do psicomotricista
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Lapierre, André. Educación psicom ot riz en la escuela m at ernal: una experiencia


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Lapierre, André. Da psicom ot ricidade à análise corporal da relação. Belo Horizont e.
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Lapierre, André. I nst int os, pulsões e fant asm as arcaicos. Buenos Aires, 1985. Text o
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Lapierre, André. Psicom ot ricidade, educação e t erapia. Buenos Aires, 1984. Text o
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Lapierre, André e Lapierre, Anne. El adult o frent e al niño - de 0 a 3 años. Barcelona.
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Lapierre, André. Psicanálise e análise corporal da relação - Sem elhanças e diferenças.
São Paulo: Lovise, 1997. 211 p.
Maurano, Denise e RODA, Daniela ( coordenadoras) . Agenda de Psicanálise, v. 2.
Quest ão da agenda: o corpo na psicanálise. Rio de Janeiro: Relum e Dum ará, 1990.
212 p.
Peirce, Charles S. Sem iót ica. São Paulo: Perspect iva,1977.
NOTAS DE CURSOS:
— Not as do curso «Form ação em Psicanálise», da Sociedade Psicanalít ica de Minas
Gerais. Minist rado pelo professor psicanalist a Jarbas Port ela, 1992 a 1993.
— Not as do cur so « For m ação em Psicom ot r icidade Relacional», da Sociedade
I n t er n acion al d e Psicom ot r icid ad e Relacion al. Min ist r ad o p ela p r of essor a
psicom ot ricist a relacional Nuria Franc, 1989 a 1993.

RESUM O:
A form ação do profissional para a relação psicom ot ora t erapêut ica requer um a
ex per iên cia pessoal qu e m obiliza a su a dispon ibilidade cor por al e o aj u da a
com preender suas próprias m odalidades relacionais. Est a com preensão possibilit ará
observar, t raduzir e int ervir no j ogo espont âneo do seu pacient e posicionando- se
com o seu parceiro sim bólico, m ost rando- se isent o de proj eções na cena lúdica
m ont ada. Os t em as a serem vividos podem ser classificados em seis t em as cent rais:
aquecim ent o com at ividades sensório- m ot oras, diálogo t ônico, j ogos pré- edípicos,
j ogos int erm ediários, j ogos edípicos e j ogos de conquist a da aut onom ia. A progressão

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possível desses t em as no t rabalho pessoal do aluno baliza a ação dos form adores
didat as para a relação psicom ot ora.

PALAV RAS- CH AV E:
Relação psicom ot ora; Form ação pessoal do psicom ot ricist a; Vivências.

ABSTRACT:
The personal form at ion of t he psychom ot or t herapist requires a vivid lived experience
t hat m ay m obilize it s body availabilit y and help his underst anding of his own relat ion
m odalit ies. This underst anding m akes it possible t o observe, t o t ranslat e and t o
int ervene in t he pat ient ’s spont aneous gam e, when st anding as a sym bolic part ner,
free of proj ect ions in t he gam e scene. The subj ect s worked can be classified in six
cent ral t hem es: heat ing wit h sensory- m ot or act ivit ies, t onic dialogue, int erm ediat e
gam es, pre- edypian gam es, edypian gam es and gam es of conquest of t he aut onom y.
The possible progression of t hese subj ect s in t he pupil’s personal work m arks t he
act ion of t he psychom ot or t herapist t eachers for t he psychom ot or relat ion.

KEYW ORD S:
Psychom ot or r elat ion; Per sonal for m at ion of t he psy chom ot or t herapist ; Lived
experiences.

D AD OS D A AUTORA:
Su z a n a V e loso Ca br a l. Psicóloga, Psicom ot r icist a t it ular e sócia de honra da
Sociedade Brasileira de Psicom ot ricidade, especialist a em Psicom ot ricidade pelo
Conselho Regional de Psicologia, 4ª . Região- MG, especialist a em Educação Especial
I nclusiva pela PUC Minas Virt ual ( Pont ifícia Universidade Cat ólica de Minas Gerais) .
Professora de Psicom ot ricidade de Especialidades Lat o Sensu de várias universidades
brasileiras ( Minas Gerais, Curit iba, Fort aleza, Recife e Aracaj u) .

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Agosto de 2008 Número 31

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