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Os saberes sobre a cidade: tem pos de crise?*


Christian T opalov
Tradução de Maria Cristina da Silva Leme
R evisão de Jorge O seki

O título desta co m u n icação utiliza o term o das “ cid ad es-d in ossau ros” n os E stad os U n i­
“ crise” . Foi um a su g estão dos organizadores d os. A cada ép o ca , os especialistas da cida-
d este con gresso, m as foi tam bém um a com o­
did ade que volu n tariam en te adotei para fazer sem risco um a term in ologia da “ crise^H-para
crer que iria falar de um assu n to im portante. enunciar a urgência de uma “ questão urbana” .
É preciso, en tretan to, adm itir um a evidência Estas ob servações in trodu tórias têm um ob je­
sem pre renovada e sem pre esqu ecida. C ada tivo m u ito sim ples: indicar o o b jeto e m étod o
ép o ca tem , de tem p os em tem p os, necessida­ desta com u n icação. N ã o quero dizer que não
d e de se pensar, ou p elo m en os aqueles que exista h oje, n ovam en tê7õu sob n ovas form as,
p or p rofissão produzem idéias têm n ecessida­ u m ã ~ cn sed ã cid ã d è~ e ~ d o território. P odere­
de de pensar sua ép o ca , co m o radicalm ente m os discuil-lá e esTé~cõngrèsso n ão deixará de
n o v a . E stam os sem pre face a o “ sem prece­ o fazer. Q uero sim p lesm en te sugerir q u e, ao
d en te” . J ^ H fo rm ^ ca d a j^ zjn a i^ jíerm a n en te, fazê-lo, gu ardem os a m em ória d os discursos
vivem os “ um a virada” . M etáfora perigosa, passad os de n ossas d iscip lin as e q u e, se deve­
p orq u e a geom etria sugere q u e a lo n g o prazo m os nos repetir um p o u c o , que ao m enos nós
o u se fa z zigu ezagu es ou se acaba por girar o saib am os. É para isso , tam b ém , que p od e
em circu los. servir a história. M eu o b je tiv o esta noite é
p ortanto lim itad o. N ã o p reten d o desenvolver
U m a das form as d esta representação d o pre­
um d eb ate sobre a crise na socied ade, m as
sente c o m o nunca v isto se exprim e através
sobre a crise eventual de n ossa pequena cornu-
d o vocabiiláiÍQ d a “ crise” : um a ordem de
n fd ã je de p rod u tores de _r_ej>reseiitações$J
c o i s a s u e co n h çcem o s ou crem osijçonhecer
c ien tifica s1 s o bre a cid ad e e o território^ era
e f p ortanto, um a ordem de p aja v ra s_ sfijes-
síntese sob re a crise de n o sso s con h ecim en tos.
fã zem , sem que o s traços da ordem q u eJ h e
seguem sejam ainda legíveis. H á. en tã o , ur- Parece-m e que esta crise existe realm ente. D es-
gênçia_d£_pensax_o n o v o e escutar aqueles tà vez, a en cen ação d o dram a. assjgurada..pe-
q u e são p_agos para isso . A parecem duas d e­ lo u so d o term o “ crise” , n ã o é de tod o inade­
m and as in sisten tes d os produtores de repre­ q u a d a . O que se d esfa z h o je n ão são apenas o s
sen ta çõ es eru d itas, lig ad as, por um lad o, -à m od os in telectu ais de o n te m , é u m axon stru ^
p o siçã o q u e ocu p a m face a o restante da s o ­ jçãü Jiistórica, m u ito an tiga, da relação_entrs
cied a d e e, por o u tr o , às rivalidades intelec­ saberes e poderes n o s d o m ín io s que nosJnte.-
tu a is, aos p rocessos de form ação e con testa­ ressam . C reio que è necessaria um a perspecti­
çã o de legitim id ad es n o interior d o cam po va tem poral lon ga para m edir a am plitu d e das
so cia l que co n stitu em . m udanças em curso: um sécu lo , ou taTvez m a is.
n o çã o de “ crise urban a ” m e parece ser C om in fin itas variantes ou através de m últi­
u m a ilu stração gritan te d este fen ôm eno.~H õ- plas con trovérsias, n ossas d isciplinas e seus
j e se há um a crise urbana _é p o rq u e existe p aradigm as se ed ificaram sob re umã_faase~cõ-
u m a crise eco n ô m ica há d ez ou q u inze anos m um : o elo estreito entre o discurso .cjentjfi^
c o ê lj jy r__
a trás, p orq u e h avia u m a “ crise de cresci- ________ ô g fe sS J io c S i ______________________
~ entre os saberes sobre
m e n to " . A G rande D ep ressã o d os an os 188b''*1-a cid ad e ou o território e um projeto progres
fe z nascer um a c iê ncia da “ degeneração ur- sistã 3e racionaliza çã o . C reio que este elo
b a n a ” na Inglaterra e o s “ ro a rin g tw en ties” esta em vias de se d issolver e, p ortanto, a
p roduziram um e stu d o crítico da aberração base de to d a esta con stru ção se desm anchar.

* C onferência apresentada n o I V E n co n tro N acional da A N P U R , Salvador, 28 d e m aio d e 1991.

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Os saberes sobre a cidade: tem pos de crise?

Sendo, talvez, um pouco en fático, diria que O que m arca d esd e a origem estas disciplinas
tudo se passa co m o se um lon go período his- é a procura de u m a ordenv escondida_soh_a_
tórico estivesse em vias de term inar. A o fen - _ desordem ap aren te, áo m esm o tem po q u e a
siva prática e intelectual das forças que_denO: d efin içã o de m eio s para remediar esta desor-
ininam os de ‘‘m ercad o’’~c5 nsegüiu7 de fa to , iJem. E scu tem os o s autores d ò R egion al P lán
destruir, tijo lo põr tijó lõ , um a casa qüe com - ' õ f N e w Y o rk , p rim eiro esforço de estu d o sis-
prèendià 111 uítãs Trior adias. Entre seus_.çons- tem ático de um a grande m etróp ole, lan çad o
trutõres e habitantes existem aqueles q u e, a em 1 9 Z l-c o m o a p o io da Russel Sage F o u n ­
partir das últim as décadas do século X IX , d ation . V ejam os o texto d o inglês T h om as
, têm põr o fício decifrar a ordem escondida A d am s, um d o s fun d ad ores do m ovim en to
^sob a d esordem urbana e demandajLuma irb GardéiTCil v _e. q tf_e_di rigiu_o -p rojeto:
tervençãõ con scie n ted a sociedade sobre o cu r- ( ...) P a ra o o b s e rv a d o r s u p erficial, a d estin ação
s o . ‘natural lLdâ5_coisas.. d o so io a seus d ife re n te s u so s p arec e te r sid o feita
pelo C h a p e le iro M a lu c o d o ch á d e A lice. A lg u n s,
D este p o n to de vista, toda um a série de cor­ en tre os m a is p o b re s , vivera em c o rtiç o s, em te rre ­
rentes intelectuais que se colocavam antes c o ­ n o s bem lo c alizad o s e d e g ra n d e v a lo r ( ...). A d o is
m o adversárias irredutíveis se encontram si­ passos d a B olsa d e V a lo re s, o a r está im p reg n ad o
m ultaneam ente desm obilizadas- Sua m á sor­ p elo a ro m a d a s to rre fa ç õ e s d e ca fé , a cem m e tro s
te com um sugere que estes irm ãos inim igos d e T im es S q u a re há o m a u ch e iro d o s m a ta d o u ­
ro s . T a l s itu a ç ã o é u m u ltr a je à o rd e m . T u d o p a ­
pertenciam à m esm a fam ília.
rece e s ta r n o lu g a r e r r a d o . T e m o s v o n ta d e d e a r ­
ru m a r esta co lc h a d e re ta lh o s e d e co lo c a r as c o i­
É o que go staria de m ostar agora: inicial­
sas em seus d ev id o s lu g a re s .3
m ente, enfatizar a relação estreita entre a
ciência urbana e _o_ projeto (te um a ordem D uas observações^ sob re este p equeno texto
espacial; em seguida, desenvolver duas gran­ d o qual p o d em o s encontrar dezenas de exem ­
des d im en sões destã últimaj-comoTirdern p ro ­ plos sem elh an tes em diversos lugares e em
dutiva e cõ n iõ ordem política; en fim , iiivo- diferentes m o m e n to s. .)
car a lgum as das estratégias sociais é in telec­
tuais que estavam à nossa d is p o s iç ã o , j á r a Em prim eiro lugar, a ciência das cidades nas-
realizar o p ròjêtõ fundador de n ossas ciên ­ ce de um a irritação j j u e dá lugar ao en u n cia­
cias. A q u estão será então saber o que nos d o fun d ad or de u m a “ q ú é s tio urbana” : qu al-
resta h o je. quer q u e seja a fo rm a co m o é caracterizado
o m al de q u e _a ciên cia d everá se o cu par.
tratar-se-á sem pre de recolocar as coisas, etn
seus lugares.. É m ou tras palavras, trata-se de
1. Ciência urbana e ordem espacial instaurar um a o rd em espacial n ova, m eio e
resultado de um a n ova ordem social.
H á algum tem p o já a cidade se torn ou ob -
jeto da 'ciência. D eixem os de lad o o lon go Em segu n d o lu gar, o s -teimo.s p elos quais a_
período, a p ó s a segunda m etade d o sécu lo realid ad e é a n alisad a ou sim plesm ente descri-
X V III, q u an d o se c onstituíram saberes par- ta d esign am im p licitam en te (co m o se em n e­
ciais sob re as sociedades u r b a n a s co m a es­ gativo) ü m m o ld e d esta o rdem a ser gestad a.
tatística sanitária, a ep id em íoloeia. a crimi-~ A d e s o r d e m e à im agem invertida de um a
n ologia am bientalista, a observação sistem á­ ordem esco n d id a , ain d a potencial", e q u e j -
tica dos cortiços e~dé~ seus h ab itan tes. T o - ciên cia urbana e u m a p olítica exp erim ental
-m em os ap en as, co m o p on to de partida, a devem T O rn an ea lr
em ergência de saberes sobre a cidade com o
P atrick G ed d es, b ió lo g o a u tod itad a, au tor de
ob jeto g lo b a l, co m o organism o, ou ainda,
Cities in evcflution, um dos principais in sp i­
para utilizar um vocabulário um p ou co a n a ­ radores de L ew is M u n ford , exprim e isto m u i­
crôn ico. c o m o sistem a. Entre os precurso-
to bem em um a p alestra à S o ciological S o-
res, C erdà, cuja Teoria geral da u rb a n iza ­
ciety de L on d res, em 1905: “ (•••) até para
çã o foi publicada em 1867. M as o m om en to
reconhecer o q u e é anorm al. e m ais ain d a -
decisivo é posterior: são os anos 1900-1910-
par_a. cem eaiáf-lo, n ó s d evem os con h ecer a lg u ­
q uando aparecem sim ultaneam ente na G rã-
m a c o isa d o cu rso n orm aL d á-eyoliiçãa” .3
Bretanha o " çity_ s u r v c / ’ e q “ town_pJanr
ning” , na França, a “ ciência das cidjjdes”_e- C om o u tro v o cab u lário e q u ase três quartos
o r‘ú rb an ism o’l,_n os É stad os/U n id os, o “ c itv de sécu lo m ais tarde, p od e-se ler em M anuel
plan n ing” , qu e prcccd e em_mais de u ma dé- C astells, grande revolu cion ário na época: “ O
cada a “ h u m a n -e c o le g y ” . trabalho teórico realizad o ( ...) perm ite um a

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Cbpci^o cx u c u a ic s 11 >->** - i

reform u lação d as qu estões form uladas em um a A ciência urbana, a o .se. c o nstituir no in ício
perspectiva que ajud aria a criar as con d ições do seculo , está desde lo g o ligã3a a urna.püa^
de seu tra ta m en to c ie n tífic o e de sua supera­ tica, o planejam ento urbano. Ela lhe forn ece
çã o so c ia l, através de um a prática política su ajegitjm id ad e, seus con ceitos,-su a m eto d o —
ju s ta ” .4 logia e seus_£specialisLas. G raças a esta n ova
d isciplina que estão em vias de inventar, os
Estes d o is tex to s m e parecem se ap o ia r en u pais-fundadores se em an cip am de suas p ro­
um a base ep istem o ló g ica com um : uma re- fissões de origem , em que tinh am , em gerai,
p resen tação do p ro g resso e do m étod o p rá­ um estatu to subordinado: m édicos que se tor­
tico q u e con d u z e d efin e as categorias fu n ­ naram inspetores san itários, engenheiros em ­
d a m en ta is da a n á lise cien tífica. E toda a d i­ pregados pelas m unicipalidades, arquitetos for­
ferença e toda a sem elh an ça entre a ciênçja m ados na prática ou arquitetos d esp rovid os
p rogressista m oderna c a utopia. O s cien tis­ de relações pessoais que assegurassem um a
ta s, a o con trário d o s u top istas, sabem q u e o . clientela, assistentes sociais. M as ao m esm o
so c ia l n a sce do so c ia l e que a ação d eve o b e- tem p o, eles conservam suas ligações originais
d ecer às leis da realidade se pretendem per- com o m eio m ais am p lo on d e se form aram e
m itir q u e ela seja m o d ifica d a . M as, com o os do qual fazem parte, aquele d o s reform ad o­
u to p ista s, o s cien tistas forjam categorias de res sociais. De fato, n ão é su ficien te reivindi-
d escriçã o e de an á lise que perm item repre­ car .uma legitim idade cien tífica,-é preciso tam ­
sentar a realidade atual em sua relação n e ­ bém alcançar um a legitim idade so c ia l.q u eih es
cessária co m a q u ilo que se quer que ela se será concedida p elos grupos dom in an tes que
to rn e. E m ou tras p alavras, os m odelos d_e_ estão procurando d efinir as form as d_e_urna
in telig ib ilid a d e sã o estreitam ente relacion a: nova ordem social m ais p rodutiva e m en o s
d o s co m um m o d e lo de so cied a d e. c on flitu osa. N ão esqu eçam os que o títu lo ori­
ginai d o livro de H ow ard , G arden cities o f
C reio q u e se p o d e m ostrar, no detalhe, q u e i
to m o rro w , reeditado em 1902, era, em 1898,
este e lo in tim o entre o m o m en to c o g n itiv o e
T o m o rro w . A p eacefu l p a th to real re fo rm .
o m ô rn én tõ j T a t iç o é~ cq n strfü tivtraé n ossas
(A m anhã. U m cam in h o p acífico para um a
d iscip lin a s. Ele perm ite dar conla~~historica-
verdadeira reform a social).
m en te d o caráter variável de suas fron teiras,
seg u n d o ép o ca s e p a íses, de seus paradigm as,
A s relações entre os n o v o s especialistas e o
assim c o m o de seu s instrum entais, desde té c r
m eio reform ador n ão são destituídas de ten­
n icas d e pesq u isa de ca m p o ate categorias—
sões. O s candidatos à p rofission alização de­
esta tística s.
sejam se libertar da tutela estreita em que
S e esta p ro p o siçã o tem se n tid o , en tão se d es­ eram m antidos até aquele m om en to por seus
fa z a o p o siç ã o entre ciên cia e id eologia, e n ­ " p a trõ es” , a burguesia esclarecida. Eles in ­
tre p esq u isa básica e pesq u isa aplicada, e n ­ ventam um a profissão que con siste em fazer
tre ep istem o lo g ia e história das d iscip lin as. nascer um ob jeto da ciência e da prática, a
O u a in d a , estas d ico to m ia s que sã o reais, cidade com o totalid ad e, e em aplicar neste
d a d o q u e são fo rm u la d as p or atores, p od em ob jeto os m eios racionais de an álise e de in ­
ela s m esm as se tornarem ob jeto s de um a h is­ tervenção. M esm o que a m aior parte deles
tória so c ia l. seja prudente na delim itação de suas estraté­
gias cogn itivas, em fu n ção d os lim ites fix a ­
Eu m e referi a um m o d e lo de socied ade, e até d os pelas dem andas de sua base social, eles
m esm o a um a u to p ia fu n d ad ora, que estaria são inevitavelm ente con d u zid os a e n tr a r e m
na própria base d as ca tegorias da prática cien ­ co n flito com certos interesses em jo g o , in clu ­
tífica . E ste v o ca b u lá rio p od e causar c o n fu ­ sive os econ ôm icos - por exem p lo, um a parte j
sã o . D e fa to , o m o d e lo em questão não câi d os proprietários im obiliários rentistas ou as I
d o céu , n ã o é arbitrário e não d epende de com p anh ias de serviços urbanos.
um a pura história d as id éias. Ele d epende da
h istória so cia l da p ro d u çã o , das representa­ Em m uitos países, esta estratégia de “ a u to -
ç õ e s cien tífica s e, em particular, da história n om izacão" é co n duzida em um con tex to de
d o p róp rio m u n d o da ciên cia em si e de su as am pliação das com pe(êndaYdãs^ádm 7ni<;tra:
rela çõ es com a so c ied a d e . E com esta h ip óte­ ções lõ c á ü e centrais em m atéria de ord en a­
se q u e reto m o a “ ciên cia da cid ad e” e que çã o u rbana. D e form a natural, e geralm ente
g o sta ria d e interrogar ao m esm o tem p o n o s­ seirrd ogm as a p r ío r i sobre o papel do E sta­
sa s o rig en s e a fo n te de to d a s as n ossas ale­ d o , uma boa parte d os h om ens da ciência
grias e de to d o s o s n o sso s problem as. urbana tornam -se adm inistradores ou ex p erts

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a serviço d os aparelhos governam entais. E s­ A ciência region al, que nasce algu m as décadas
te m ovim en to tem m om entos de aceleração rriais tarde, "apola-se n os m esm os f.u n d ã m eiu _
espetacular no decorrer da primeira guerra tos. M ü d ã r ã escala dà an álise é m udar a esca ­
m undial, na depressão dos anos 30, ap ós a la de um p rojeto racion alizad or in alterado.
segunda guerra e no período de reconstru­ Traçar as fron teitas.d asjegiões^ Jiierarq u izar
ção que se segue. as cidades em redes, d esenhar a O s t iu n ir a s
urbanas, é tan to descrever uma._realidade._ço-
O paradigm a desta nova ciência urbana se m o fixar um a norm ãT É enunciar nojjue_coii=-
ap óia nas seguintes proposições: siste uma ,‘ ‘bõa^Lx£glãQ Zum Jêsen vo lv m iento
equilibrado e d en u n ciar as org a n iza çõ es ad-
1; -A cidade p od e se tornar num fator de
m inistrativas u11rapàssádà s, o s cofn p ortã m en -
I progresso. Para o discurso d om in an te dó
tos eco n ô m ico s retrógad os ou in ad ap tad o s.
úTrfifrò“quarto do sécu lo X IX , ela se cons-
I titu íã enTLüin-mal e m síT-Precisarriénté por Estas form u lações p odem parecer um p ou co
acreditar que se d isp õe então d os m eios ob soletas. Seu co n teú d o p arad igm ático ainda
cien tífico s e técn icos para controlar a ur­ é atual na m edida em q u e ele ressurge duran­
b an ização, esta m udança de perspectiva te quase um sécu lo n os vocab u lários cien tífi­
se torna p o ssível. O d esenvolvim en to ur­ cos e d ou trin ários os m ais d iversos. /
bano é a n a lisad o co m o evolu ção de um a
série de fu n çõ es. C ada uma delas resp on ­ Em to d o s os ca so s tratava-se de in stau rar um a
de a um a n ecessidade d o indivíduo ou da ordem esp acial, _qiie_deY£ria desdQÍ>raL--Se._£m
co letiv id a d e, seja esta necessidade perce­ uma_nova ordem p rod u tiva (garan tia d o p ro­
bida ou não pelas p op u lações (com o as gresso socTinXê~ürnã~nova ord em p olítica (ga­
d e habitações salubres) ou pelas ad m in is­ rantia d o progresscP clem ocrâtico). É o que
trações m unicipais (com o as de sistem as d esen volvo na segun d a parte.
racionais de transportes). Enquanto o b je­
to de ciên cia, as fun ções urbanas sã o o b ­
jetivas e p odem ser traduzidas por nor­ 2. Ordem espacial^ordem produtiva,
m as ( sta n d a rd s). ordem política
— »-
2. A cidade é um organ ism o, o u um sistem Por
a, falta de tem p o , en fatizarei ap en as um
o n d e o bom" ■funcionamento dos elem en- aspecto da relação entre racion alização u rb a­
_\V' • tõ s, depcndé'"do^'õ_m fun cion am en to do na e racion alização industrial.
cõ n jü n to e vice-versa. A ciericiãHa5~crda~-
des tem por o b jeto este sistem a, o estudo Np jn ício do_século,_ os_ ISÍ.orm adores-sociais
d e suas leis, o exam e de suas p atologias e são co n fro n ta d o s, nas m etróp oles d o s paísgs
a d efin ição de co m o rem ediá-l5s7 a plani- ind ustrializados, com u m a realidade urbana.
ficação sen d o o prim eiro dos rem édios. que evoca por d iversos traços aquela_dfij)aí-
ses p e r ifé r ic a r fíiS jí^ A s gran d es'cid ad es que
3. A ciência das cidades apóia-se_sobre_ijm os ob cecavam ficaram à m argem da prim ei­
m étõ3õ”éxpénm entáTcbncêbido so bre o rn o - ra revolu ção industrial - a da indústria têx­
d elo da m edicina: ela é àrte ao m esm o til, da m etalurgia pesada, da siderurgia. Seu
tem p o que cie n c ia l‘Se os princípios racio­ tecido e c o n ô m ic o , à parte os n eg ó cio s, as
nais da organ ização urbana são universais, finanças e o grande co m ércio de co n su m o
sua con cretização é sem pre singular. A ciên ­ de lu xo em ergen te, é form ad o por um a in fi­
cia repousa sobre a pesquisa, ela é um nidade de p eq u en as em p resas. A m aior par­
^ a g n ó s tic o e um progn óstico. Ela form u- te delas está so lid a m e n le -in te g r a d a -a —um a
la~süas prescrições de form a que as leis de cílvisão de trab alh o d om in ad a pela lógica ca­
d esenvolvim en to do organism o urbano p os- pitalista, porém IT fo r m a p rod u tiva que lhe
sanl ocorrer sem entrave. E la determ ina é pressuposta está au sen te. P or m últip las ra­
co m precisão as fo n tes da desordem : os zõ es, ligadas prin cip alm en te às .capacidades
| interesses eco n ô m ico s im ediatos, a b u ro -, de resistência a o assârariam ento. q u e jT gran -
I cracia, a sub m issão d os políticos a seu elei- cid ad e p rop icia à p op u lação.Jrab aIh ad o-
ito ra d o , o s m o d o s de vida inadequados das rãf a fáh>*fr:r-não~ existe na grande cid ad e". ou
p o p u lações. T an tos os alvos para a ação pelo m en os é b astan te m arginal. I
reform adora quantas serão as disciplinas-
irm ãs da ciên cia urbana: p lan ificação ec o ­ Ora, quand o n asce a ciên cia urbana. a fábri-
n ôm ica, ciência m unicipal e ciência p olíti­ ca é cada vez m ais gen ericam en te pen sad a
ca , so cio lo g ia e eugenia. com o o lugar típ ic o e a fo rm a necessária -de

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tspaço & Uebates n” 34 1991

uma ordem produtiva m od ern a. E sla creaca D e tod o m o d o , a ordem urbana que a n as­
poete ser vista em ãó com oTinTcritério fu n d a­ cen te ciência da cídade.procura n ão é-som eni.-
m ental de"diferenciação cm re prcrgressrstãs e te uma ordem prod u tiva, m as antes, provia
conservadores. Se os segundos considera m a velm ente, um a ordem p olítica.:. .1 ('‘i
grande indústria com o uma aberração in cô ­
m oda à qual é possível e necessário pôr um Já há algum tem p o, a cidade era sin ôn im o d e
term o, os prim eiros vêem nela o futuro..da civilização. Ela era o lugar da “ urbanidade” ,
H umanidade. Deste ponto de vista, o p atro­ qualidade particular das classes d om inantes
nato paternalista das indústrias rurais e as desde que elas tinham d eixad o de residir-nas
corporações de ofícios das grandes cidades suas terras. M as é som en te a partir d o in ício
estão do m esm o lado e se o p õ em tanto às d o século X IX , lo g o d ep ois que os “ antiquá-
antecipações proféticas de M arx, quanto aos rios” inventaram a tradição “ clássica” , que
p atrões esclarecidos das novas indústrias e a cidade (isto é A ten as e Rom a) torna-se tam ­
seus en gen h eiros, notadam ente um certo Ta- bém o lugar de n ascim en to d o cid ad ão ( c ito -
I ylor. Q uanto aos operários das m etrópoles, yen , Citizen). A partir do fim do “ bom selva­
I eles fogem das fábricas para as oficin as e, g em ” do llu m in ism o , os m itos fundadores
I q u an do p od em , deixam de ser a ssa la ria d o ^ , ^da cidadania passam a ser urbanos.
para trabalhar por conta própria. <; "1
>Do h istoriador francês da “ cidade an tiga” ,
N este co n flito , a ciência urbana nascente to V y Fu_stel.de Ç o u la n g e . n os anos 1860, ã M ax » /
ma claram ente partido. S ó o d esen volvim en- W eber nos an os 19 i Q._se d esenvolve uma
to do sistem a fa bril perm itirá realizar d ois de representação da cidade com o b e r ç o .d a .d e ­
seus principais objetivos: por um lado, d es­ m ocracia. E claro que este discurso dá lugar
congestionar as grandes cidades e descentra- a num erosas p rod u ções cien tíficas principal­
. lizar a s indústrias para as periferias ou cida­ m ente da parte de juristas ou de h istoriad o­
des satélites; por outro lado, separar de for­ res que estudam as origens do direito bur­
ma precisa no espaço zonas de tra b a lh o .e guês (vocab ulário que é tam bém o de Marx)
zonas de residência. P ara por fim à d esor­ e a revolução das com u n as da Idade M édia
dem urbana - da qúál o s bairros populares, na E uropa.
o n d e se m isturam cortiços e o f ic in a s s ã o o__
sím bo lo - a esperança está no d esen volvim en ­ Esta nova m itologia cien tífica das origens não
to p lan ejad o da expansão urbana. p od e ser separada d o discurso sobre a dege-
A partir da primeira guerra m undial, a m etá­ nerescência urbana que lhe é con tem p orân ea/
A cidade, que deu origem ao indivíduo e às
fora da cidade-fábrica se superpõe à m etáfo-
instituições políticas m od ern as, torna-se tam -
ra d o organism o urbano. Sob este p on to de
vista, o s arquitetos do m ovim en to m oderno bé m . Qj ugai_e m b_|_em átic o da d issojução d o
são p io n eiro s, em particular T o n i Garnier êm elo social. Para as so cio lo g ia s n ascentes, esta
1907 com seu projeto para .a .‘. ‘cid ad e .indus- q u estão é ob sessiva. T on n ies vê .a. “ socíed a- \
.tria l” ,.se g u id o por Le C orbusíer que .intro­ d e ” substituir a “ com u n id ad e” . Durkheim
duzirá. a.iiQ ção.de llm áquina d e.h ab itar’J_em analisa a a n om ia, T arde e P areto falam da
era d a s“ m ã siá s” 7 P a r k , um pou co m ais tar­
1926. E ste vocabulário d ifu n d e-se rapidam en­
d e. estudará" a “ desõreariizãcão so c ia l" . O s
te no interior da ciência urbana. A ssim ,
urbanista francês Jaussely d efin e em 1922 a a n tigos m o d elos da ordem p olítica são c o n -
d en ad os. e se quer fazer crer que é pela urba­
“ organ ização econôm ica das cidacfes com o.
uma espécie de ‘taylorização’em grande esca-_ n ização. N em a integração estreita entre os
la de um a enorm e o fic in a " .5 A lguns anos indivíduos nas com u nid ad es de vilarejos su ­
m ais tarde, o Regional Plan da Russel Sage p ostam en te “ trad icion ais” , nem a deferência
F oun d ation afirm a que “ o território de N ova d o povo às “ au toridad es sociais naturais” ,
York e seus arredores p od e ser com p arad o lem bradas com sau d ad e por Le Play, pare­
ao_piso de unia fábriça^.O p lan ejam en to re- cem viáveis na grande cidade.
_gional indica o m elh o r, uso d este piso .-..a__ Estas represen ta çõ es são a elab oração .cien tí­
adequação das áreas aos usos ” 6 fica de um p ân ico social am plam ente difun-
Çsta visã o , que se antecipa a m plam en te ao d id o entre a burguesia da ép oca. M as, sob
^desenvolvim ento da indústria, inspirará p or . ou tro p on to de vista, p. discurso cien tifico
.m uito tem p o as ciências urbanas e regionais.. abre n ovos cam in h o s. Recriar o elo social
C om p ou cas m odificações, ela sobreviverá à sob re n ovas bases: eis aí o program a d os fun ­
su b stitu ição da id eologia industrial pela ideo- dad ores das ciên cias sociais e tam bém dos
logia d a socied ade pós-industrial. especialistas nas n o v a s ciências da cidade.

32
Os saberes sobre a cida d e : tem pos de crise?

U m a circunstância tornará a tarefa urgente, i I P ercebe-se q u e justam ente o esp a ç o prim eiro I
C om a exten são do direito de vQ fO IO fiãlQ r 1 da d em ocrac ia represen tativa é um a circuns-
pãrtê~3ãs n ações industrializadas, as “ m as- | jcrição territorial, um b airro. A li votam os',
sá s” passam a irrom per nas instituições p o lí- eleitores e os partidos con stróem suas bases, é '
ticas, principalm ente a nível m unicipal. C o - lá que pod em ser ed u cad os e organ izad os os~
m o transform ar o s “ bárbaros” que vagavam cid ad ãos. Os regim es d em ocráticos não p o ­
às portas da cidade em cidadãos c o nscientes dem prescindir de discip lin as silen ciosas e do
de seus direitos e de seus deveres? N ão existe con stran gim en to ab erto. M as su a especifici­
geração espontânea do cid ad ão. É Jacob Riis, dade é se ap oiar tam bém ou em prim eiro lugar
um jornalista que nos anos 1890 construiu sobre f o rm as sociais a u to -regujadas: a com u-
sua carreira denunciando os cortiços novaior- nidadeTõcal reform ada pode bem ser uma delas^
quinos, que afirm a: “ não se p od e deixar as
pessoas_ viyereifi corilo7p o rco s e~ esperar qüè D esde sua origem , a ciência urbana está as­
^ le s se to m em -h tm s cid a d ã o s’’.1 sim em busca d este o b je tiv o d e ‘ 1reconstru-
ção so c ia l" em con jun tu ras e so b forrnas_.ex-
O s reform adores sociais se m o bilizam e^os trem am ente diversas.
partidos socialistas trabalham incessantem en-
Entre elas o “ urbanism o p lan ejad or” quer
te na “ educação do p roletariad o” . Fabricar
se trate d o u rb an ism o d o G a rd en C ity M o -
cidadãos, m oldá-los a partir de um a m até-
vem en l ou d o urb an ism o da carta de A te­
ria-prima d ifícil, torna-se çjara to d o s um' im -
n as. P ara os p lan ejad ores de to d a s as cor-
perativo de ordem prática.1H oje, o eu fem is­
rentes, a cid ad e-n ova ou a grande operação
m o utilizado para designar o m esm o traba­
planejada na periferia urbana prom etem m ais
lho histórico ju n to à pop u lação é “ apren d i-
que um a racion alização do esp aço: elas de-
i zado de d em ocracia” .
vem recriar as cõndiçÕes^déjrestãurãçlLCLjle
um a “ co m u n id a d e” perdida sob re n ovas.b a­
O ra, neste m esm o m om en to, no decorrer d os
ses. M od ifican d o radicalm en te o con ju n to das
anos 1900-1910. se produz um fen ôm en o su r­
atividades co tid ia n a s, elas perm itirão reor-
preendente. Para uma parte d os assistentes
ganizar não som en te os h áb itos individuais.
sociais, para o s urbanistas e logo em seguida
m as tam bém a vida coletiva d as çlasses.p ji-
para os so c ió lo g o s, a visão do bairro d q p u -
pulares. C om o dizja Ilen ry S ellier, prefeito
lar m uda de sinal. Percebe-se que estes lu ga­
so cia lííta e p rom o to r dos subúrbiõs-jardim
res não sã o m ais os “ a b ism o s” co m o Jack
na região parisiense n os_an os 1920, frata-se.
L on d on , jornalista e revolucionário, ainda
de “ ordenar a vida so c ia l” . 10 C o m o o dirá
os via em Londres em 1903 :E eles sã o o rg a ­
um p ou co m ais tarçie A rthur C . C om ey, c ity
nizados por sociabilidades e .por in stitu ições,
p la n n er d o N ew D eal, trata-se d e “ organizar
algum as das quais são a prom essa de u m a .
a co m u n id ad e” .
pacificação so cia l. A o final d os anos_1880,
Charles Booth já havia descoberto que a m ãiõ- Esta últim a exp ressão não é exclu sivid ad e dos
ria dos p u b s d o East End n ão eram nece s­ urbanistas tecn ocratas. O rganizar a com u n i­
sariam ente locais de perdição d estinad os ao dade “ pela b a se” é. d esd e a o rig e m, o ohjeti-
alco olism o e a o fecham ento peja p olícia, m as vo de um a ou tra corrente das c iê ncias da cid a-
locais de reunião, respeitáveis “ clubes de de, às vezes aliad a, às vezes o p o sta à prece­
trabalhadores” .5 A n oção de n e ig h b o rh o o d dente, m as necessariam en te em d iálogo com
w ork torna-se, nos an os 1910, um lugar c o ­ ela. A “ recon stru ção d o b airro" é nm lem a
m um d os so c ia l w o rk w ers n orte-am ericanos. central para os trabalhadores so cia is após os
Tod o s estes elem entos p ositivos da vida s o ­ se ttle m e n t h o u ses britân icos e norte-am erica-
cial popular poderiam se desenvolver sem en - nos do in ício clõ sécu lo, A m esm a preocupa-
trave caso fo ssem organ izad os co m o con vém ção está na base d os estu d os d e com u nid ad e
em um am biente reform ado. realizados em C h icago ao lo n g o e após os
anos_1920 e 1930. Ü m d o s ca p ítu lo s de T he
A s mudanças de vocabulário testem unham e s­ city, o livro-program a p u b licad o em 1925, as­
ta ev o lu çã o . A o s cortiços e hab itações in salu - sinado por Burgess, tem por títu lo “ C an n eigh ­
bres se o p õ em as cidad es-n ovas, aos slu m s o s b o rh o o d w o rk h a v e a scien tific basis? ”
n ovos n eieh b o u rh o o d so u co m m unities. O bair­
ro popular, por m uito tem po olh ad o co m o o Estes fun d ad ores têm a certeza n u e a an om ia
lugar de to d o s o s m ales sociais e d e to d o s os urbana p od e dar lugar a um e lo ren o v a d o , a
perigos, passa então a ser con sid erado co m o ser recon struíd o partindo de sociabilid ad es
o instrum ento de unia p ossivel regen eração. populares. Estas devem ser, por um lad o,

33
tspaço & Debates n ° 34 • 1991

respeitadas e protegidas, d esenvolvid as e re­ plinas são in stitu cion alizad as, principalm ente
form ad as co m a ajuda daqueles que so u b e ­ na CJniversidade, m ais precisam ente se afirm a
ram estu d á -la s. Este ob jetivo está no fu n d a ­ a legitim jdade e a especificidade da “xiên cia
m en to das principais correntes da pesquisa pura” . Em certos países, principalm enle-na
urbana, o n tem e h oje, da c ity s u r v e y à a n tr o ­ 'França e na Inglaterra, o s especialistas têm,-
p o lo g ia urbana, p assando pela so c io lo g ia da ,'d e fato, segun d o a expressão de Pierre Bour-:\
cultura urbana e a dos " m ovim en tos so cia is 1íd ieu , “ interesse no d esinteresse” .
u rb an os” . A reab ilitação do p o v o , em p reen ­
dida m uitas vezes em o p o siçã o a o s p rojetos M as, por ou tro lad o, seu estatu to social e os
d os tecn ocratas, d esem b oca freq ü en tem en te recursos a sua d isp osição dependem tam bém
na abertura de n egociações com estes. E ta l­ d o recon h ecim en to que a socied ade con fere à
vez o in d icio de que o discurso se dirigia a sua prod u ção. D e que atores e de que in sti­
eles, d esd e o início. tuições podem eles, p od em os n ós, esperai^es-
tê reconhecim ento? A s respostas a esta q u es­
N ã o se trata de am algam ar práticas cien tíficas tã o variam segu n d o o cu rso da história e se­
e p olíticas tã o d iferen tes. Preten d o su b lin har gu n d o o país, m as elas têm em tod os o s casos
q u e, c o m o principio de n u m erosos saberes s o - um im pacto d ecisivo sob re os papéis sociais
bre a cid a d e^ en con tra-se u m m esm o p ro ieto acessíveis a o s intelectuais c , p ortanto, sobre
,/ prático: realizar, graças a uma com u n id ad e o próprio d esen volvim en to cien tífico. É tal­
ü locarF econ stru íd árã"integração social das p o - vez em con jun tu ras on d e este reconhecim en­
pu la çõ es em u ma ordem d em ocrática. Isto po- to social torn ou -se prob lem ático que ap a rece,
' d e s e r co n sid era d o co m o uma situ ação a ser um a “ crise de p rojetos” , acom p anh ad a_d s
a p erfeiço a d a ou co m o um ob jeto que im p li­ um a “ crise de saberes” .
que em m ud an ças p olíticas fu n d am en tais. O
m éto d o para reconstituir a com unidade. perdi-, A s estratégias d isp on íveis se exprim em em
da p od e partir d e c i m a o u d a b a s e j d o p rojeto um núm ero lim itad o de figuras históricas, que
urbaiíisTico ou da o rg a n 1z a ç ã o p o pula r .J 5 v i - representam form as de legitim ação acessíveis
den tem en te, existem aí m uitas n u an cej. P o d e ­ a uns e inacessíveis a ou tros segun d o o país e
ríam os talvez observar um m ovim ento~pendu- a con jun tu ra. Deixarei de lado o erudito e o
lar entre estes d o is p ó lo s, ritm ado pelas p o ssi­ intelectual para m e deter m ais no ex p ert, no
b ilidades d e a cesso ao Estado oferecid as ou adm inistrador e no pesquisador de cam p o."
recusadas a o s especialistas segu n d o as c o n ­ ík r .> » . cVw . . n
jun tu ras p o lítica s, as d isciplinas e as n o v a s - O expert é um p rofission al cu ia legitim idade
gerações que entram no m ercado de trabalho.^ / ' se a poia em um “ saber fazer” e em u m a
capacidade em resolve^ problem as. D iferen-
Em todos_esses casos, e spera-se de um a 7’ terriêrítê d o cTeritis t a puro,_ ej_e_n ã o..pretende
dança urbana e da ciência que a o rienta um form ular por si m esm o as q u estões, m as rei­
'p ro g resso de ordem p olítica^ Ê ste progresso v in d ic a sér con su ltad o j^ sem pre que p ossí­
im plica na m obilização con scien te de atores vel, a c e ito . M as, para que as q u estões às quais
~ sõ ciã is: o sim p les jogo de m ercãdõ é jíilgãÜ o ele é capaz de dar resposta sejam colocad as,
in ca p a z d e p rod u zí-lo: Se T osse a e ou tra íõ r - é necessário que previam ente elas sejam reco­
"hiá, o ó b jèto d ã ciência urbana d esap arecia. nhecidas co m o q u estões pertinentes por aq u e­
les que d ecid em . Os cam p os de con su ltoria se
-con stitu em , p ortan to, e racas à d efinição de
3. Pretensões, decepções e estratégias “ p rob lem as” no v o s, em u m a in tera çã o entre
dos produtores de saberes os ínventores dtTumã" p ro fissã o e um a de-
m anda, ou m elh or, um m ercado. N ão existe
N a últim a parte desta exp osição gostaria de possib ilid ad e’ de con stru ção de um vocab u lá­
falar algu m as palavras sob re as p reten sões d o s . rio com um sem um a aliança social.
p rod u tores de saberes sobre a cid ad e e o terri­
A ssim nasce o urbanism o m odern o, no en ­
tó rio , as estratégias de legitim ação que e stã o a__
con tro entre can d id atos à p rofission alização,
sua d isp o siç ã o e de suas d ecep ções atuais.
filan trop os, industriais progressistas ou m u­
A ciên cia u rbana, c o m o outras ciên cias s o ­ nicipalidades reform istas. A ssim nasce a ciên ­
ciais, tem p erm anentem ente duas faces. D e cia e o p lan ejam en to region al, graças ao de-
um la d o , ela reivindica enunciar os saberes senvòlvim en to d e burocracias econ ôm icas, dos
p ro d u zid o s por p roced im en tos de o b jetiv a çã o governos cen trais o u regionais, dás fun d a-
d o m éto d o cien tífico , d istin tos d os saberes ções privadas ou dos organism os internacio­
. co m fin a lid a d e prática. Q uanto m ais as d isci- nais. A ssim nasce o planejam ento estratégico,
*3>1
Os saberes sobre a cidade: tem pos de crise?

graças ao enfraquecim ento ou m udanças de O pesq u isador pretende por vezes ser som en -
orientação das burocrãciãF précedentes e pela té o eco fiel da realidade, dela fornecer uma
necessidade de negociar d ecisões públicas com in terp retã^ ãõêsjS èaficam en te cien tífica. M as,
grupos eco n ô m ico s ou organ izações p op u la­ com o' rêgTa geran~êle e~ co n d u zid o a ahraçãr
res, caso as in stitu ições estejam d ispostas a em larga m edida o que con sid era c o m o a
suscitar e financiar suas dem andas de pesquisa. ,rcãúsá d õ p o v o Tl e a se fazer_j)qrta-voz de
séus "sol rimerito s, d ê suas n ecessid ad es e de
A consultoria é, p ortanto, um m ercado em i­ _süas aspirações.
nentem ente flutuante, suas form as são d i­
versas e desigualm ente acessíveis aos preten­ Sob este p on to de vista, o itinerário d os p ro­
dentes segun d o os recursos de que d isp õem . fission ais d o trab alho social que inventam a
Suas ev olu ções têm , em tod os os casos, im ­ “ pesquisa so c ia l” é característico . D esd e o
plicações m ais am plas sobre a orien tação das mícTò do sé cu lo , eles se distanciam das pers­
produções cien tíficas. pectivas repressivas da “ carid ad e organ iza­
d a ” de o n d e sã o origin ários, para viver o
Por m uito tem p o acreditam os que o d estin o cotid ian o d os bairros p opulares das grandes
natural do e x p ert seria se tornar um ad m i­ cid ad es. D estas exp eriên cias e de seus m éto­
nistrador. A partir d_a_segunda. m etade..do. d os nasce a so c io lo g ia urbana, aquela dos
século X IX , a burocr.at.izaçãq das ..funções discíp u los de B ooth na L on d on S ch ool o f
adm inistrativas se d esenvolve n a,m ajor parte E con om ics, d os so c ió lo g o s de C h icago a par­
d os países co m a criação de um a fun ção pú- tir d os an os 1910, d os católicos sociais fran­
blica, o recrutam ento por con cu rso, o d e­ ceses de père Lebret a C h om bard de Lauw e,
senvolvim ento de institutos de form ação ou nos an os 1940. É tam b ém a trajetória de um
m esm o a p rofission alização p olítica. A bu - O scar Lewis ou de um Richard H oggart, fu n ­
rocratizacão anuncia o triunfo da adm inis­ dadores da a n tr o p o lo g ia urbana n os E stad os
tração cien tifica o n de as c o m petências subs- U n id os e na G rã-B retanha e inventores da
tituem o s p riv ilég io s_ d e nascim ento ou o s “ cultura da p ob reza” .
favores clientelistas.
C om o não fazer p aralelo com o itinerário dos
Desde en tão, as ciên cias da.ci.dade.são_xan- estudantes e ed u cad ores progressistas d o s an os
didatas naturais a adm inistrar e en contrarão 1960 que vã o ao p o v o oferecer as arm as da
co m o aliad os naturais o s p olíticos cu io in te- so cio lo g ia crítica? R eceberão eles, em troca,
resse p olítico é preconizaj^um apoljti_ca_des- um a n ova leg itim ação social m u ito necessária
pol.itjzada. a um a d iscip lin a cuja in stitu cion alização c o n ­
tinu a frágil e q u e, além d o m ais, recruta cada
A. expansão d as tecqocracias é particularm en- vez m ais fora das elites sociais tradicionais?
te rápida nos p eríod os em que a ideologia do
desenvolvim ento p la n ificado fornece ao p o - A s relações d o p esq u isador com o poder p o ­
der político um vócàE ulário suscetível de ci- lítico com p reen d em u m a form a particular de
m en tarau n id ad en acion al: aguerra de 1914-18 am bigü id ad e. A o con trário da p reten são n or­
na Europa, o N ew -D eal, o E stad o N o v o , o m ativa .d os prim eiros urb an istas, ele se pre­
W elfàre State, o partido trabalhista britânico, tende o interprete ~dã;T eletiv a s necessidades
o estado “ g a u lista ” francês, os E stad os U n i- sentidas p elo po v o e ign oradas p elos q u e d e­
dos de K ennedy e Joh n son . Nestes p eríod os, cidem , tecn o c ratas e p o lítico s. Sua m ensa-
nao somente os ex p erts são m o b ilizados pelo gem é, p ortan to, geralm en te-crífica, a O S é s -
Estado para o essen cial, m as tam bém p ovoam m o tem po em q ú e.vlsa_se_r o u v id o p elo poder.
a própria adm inistração. As ciências urbanas 'Porque ele dá form a ao social q u e o p o li^ co
conhecem , en tã o , um rápido desenvolvim en ­ ignora e o u e m ouieta o a dm inistrador, o p es­
to. Tornam -se ciências do E stado. quisador de cam p o ou o an tro p ó lo g o urbano
o in form an te privilegiad o do tecn ocrata.
O pesquisador de cam p o é um a figura d istin E n q u an to ele d em and a cada vez m a is d im o -
ta das precedentes. Sua c om petência co n siste cracia, é c o m o su b stitu to c ô m o d o à d em o ­
em reunir e form alizar os con h ecim en tos so- cracia representativa q u e o solicitam . , __
bre grupos sociais c u ia s p ossibilidades de ex-
pressão, no interior d o sistem a in stitu c io n a l,, E stas diferentes estratégias de legitim ação en ­
jjsão fracas e que, por algum a razão, con sti- \ con tram -se h oje em p erigo. C reio que se isto
tuem “ prob lem a” para as autoridades. Ele é 1 acon tece é p orq u e o p ro jeto cientificcj e prá­
pago para.observar o s que se x sco n d em , para tico que con stitu i o seu fu n d am en to 'é cada
fazer falar aqueles que se_calam . vez m ais co n testa d o . Para d em on strá-lo, é
preciso que eu retorne, brevem ente, a o que sólid as que delim itam o espaço no qual p o ­
as ciências urbana e regional podem propor de se dar a d em ocracia.
à socied ade.
A s ciências da cidade ap óiam -se, assim , so ­
Em prim eiro lugar, a ciência assum e um o b ­ bre uma relação privilegiada e am bígua com
jeto que so m en te ela tem con d ições de ver ou
a política. É com o E stad o que elas d ialo­
de fazer existir, um ob jeto que escapa aos
gam , às vezes visan d o seu cum e e a im plan­
o u tros atores sociais. Ela descobre o que está
tação de uma adm inistração racional, outras
invisível: o fa to social segundo D urkheim , a vezes passando pela base e esperando de uma
essên cia, c o m o dizia Marx, a lei, a estrutura.
participação popular esclarecida a transfor­
M esm o as p o siçõ es ep istem ológicas, as m ais
m ação do próprio E stad o. S e, por diversas
em píricas, im plicam nesta crença: o p rivilé­
razões, este d iálogo com a p olítica é inter­
gio d o observador sobre o observado con siste
rom p id o, m ais um a vez um a “ crise de sabe­
na transferência de saberes de lugares on d e
res” é provável.
estão disp ersos e co n fu so s, para ou tros o n d e
estão con cen trad os e sistem atizados. O clero
E n fim , é segundo o critério da racionalidade
teve sem pre acesso a m istérios cuja c o n te m ­
que são avaliadas as práticas da p op u lação.
p lação foi p roib id a aos leigos.
A ciência urbana é educadora d o p ovo. Os
L o g o , a ciên cia está em con d ições de en u n ­ prim eiros urbanistas ob servam sem prazer,
ciar um a racion alid ad e juiperjpj, glob al, que m as sem surpresa, que os háb itos populares
exprim e o s verdadeiros inter e s s e s ^ d ijç o r p o se contrapõem em geral aos ob jetiv o s de me­
social e pela q u a r p õ 3 è -se m ensurar a va lid a ­ lhoria que eles fixaram e esperam da trans­
de das representações, dos ob jetivos e das form ação do espaço con stru íd o que ela m o ­
práticas do com u m d os m ortais. N o n osso d ifiq u e em profun d id ad e os m odos de vida.
ca m p o , esta p o siçã o geral tem pelo m en os M udar a cidade para m udar o p ovo.
três p o n to s principais de aplicação.
E xistem progressistas q u e recusam esta pers­
É em n o m e desta racionalidade superior que pectiva paternalista ou autoritária e procu­
sã o descritas e criticadas as m odalid ad es c o n ­ ram no seio d o p ovo os germ es de um a ra­
cretas d o d esen volvim en to urbano e regio­ cion alid ade superior. E les buscam , portan­
nal. A recorrência ao tem a da “ d eso rd em ” to , sujeitos sociais que serão os agentes des­
n o discu rso da ciência urbana é gritante. E s­ sa racionalidade: por exem p lo “ as verdadei­
ta ciência é “ crítica ” e os con servad ores p a ­ ras classes trabalhadoras” d os reform adores
ra uns são sem pre os progressistas para o u ­ ingleses do in ício d o sécu lo, “ a classe traba­
tros. S e, por diversas razões, o m od elo de lh ad ora” dos socialistas e “ os n o v o s m ovi­
racionalidade que fundam enta esta crítica per­ m en tos so cia is” ou as m inorias oprim idas.
de sua clareza ou sua credibilidade, um p e ­ Estas diversas op erações teóricas e práticas
ríod o de “ crise de saberes” se anuncia. têm por propriedade com u m o fato de esta­
E em n om e deste m od elo que serão tam bém belecer m ais ou m enos exp licitam en te uma
a valiad as as p o líticas, os p olíticos, e o p o lí­ triagem entre o bom e o m enos bom para o
tico m esm o . C om efeito , a ciência urbana p o v o , ao designar o alvo de um a coop era­
con tém . QS__piincípios de um~~gb vern o racio- çã o possível entre os partidários da ciência
nal das cid a d es, raram ente áiüõtadci p elas.au - e os portadores da m ud an ça social. P ara ser
tõríd ãdès. C o m m aior òü "menor virulência, acreditada, a ciência urbana deve provar sua
o s cien tistas q u estion arão p ortan to, às ve­ capacidade de constituir o p ovo seja em ob ­
zes, a cegueira do príncipe, a irracionalidade je to de reform a, seja em su jeito da história
das in sllfiíiçõ es representativas ou ainda a e, freqüentem ente, os d ois ao m esm o tem po.
natureza de cla sse do E stado.
O ra, acontece que o p o v o lhes escapa. A s­
E stas críticas sã o geralm ente toleradas ou até sim h oje na Europa ocid en tal, as exp losões
m esm o levadas a sério pelas au toridad es. D e ijsociais se produzem justam en te nos espaços
fa to , m esm o se as recom endações d os esp e­ jiurban os nascidos de um p rojeto reform ador:
cialistas são por vezes contraditórias e n ão ii.os bairros de habitação p op u lar. Em outros
pesam m uito na prática, o m undo p olítico ' 'lugares, principalm ente na A m érica d o N or­
d e n o sso sé cu lo X X fez sem pre ap elo à ciên ­ te e d o Sul, m alogram as esperanças nos
cia para ju stifica r suas d ecisões. É talvez a m ovim en tos sociais urb an os. C on stata-se sua
principal vitória ob tid a pelos intelectuais, tal­ in tegração ao cotid ian o da vida m unicipal,
vez seja tam b ém um a das fronteiras m ais seu controle pela crim inalidade organizada,

36
U s saberes soDre a cidade: te m p o s de cnseY

sua deriva política populista ou sim p lesm en ­ G ostaria de term inar esta com u n icação com
te o retorno das fam ílias a estratégias indi­ um dilem a form u lad o há trinta e cin co anos
vidualizadas. por C laude L evi-Strauss n os T ristes tr ó p ic o s :
“ Se (o etn ógrafo) pretende con trib uir para a
Face a estas diversas circunstâncias, e exis­ m elhoria de seu regim e social ele d eve co n d e­
tem certam ente m uitas outras, os saberes co n s­ nar, sem pre on d e existirem , as co n d içõ es a n á ­
tituídos pela ciência urbana perdem m uito da logas àquelas que ele co m b a te, so b pena de
sua legitim idade social. perder sua ob jetivid ad e e sua im parcialid ad e.
P or ou tro lad o, o d ista n cia m en to q u e lhe im ­
p õem o escrúpulo m oral e o rigor cien tífico o
Conclusão im pedem de criticar su a própria socied ade,
d ad o que ele não q uer julgar nen h u m a para
É hora de concluir e deixar esp aço para as poder conhecer tod as. A tu a n d o em sua pró­
d iscussões. P rocurei exam inar, m e ap oian d o pria socied ad e, priva-se de com p reen d er o res­
na evocação d.e um .Longo p eriod o.h istórico - tante, m as ao querer tu d o com p reen d er, re­
do_qual so m o s o produto -. as co n d içõ es de nuncia a nada m u d a r.” 12
legitim ação social dos especialistas da cid ade
e_d o território.- D esde o n ascim en to destas ou m odificar ligeiram en te esta últim a frase
d isciplinas, intelectuais e ex p erts, ad m in is­ para fazê-la servir a o s m eu s p rop ósitos: “ A-
tradores e pesquisadores organizaram seus tuan d o em nossa própria so c ie d ad e, som os
discursos em torno de um p rojeto de p ro­ con d en ad os a n ão.com p reen d er o que é ne-
gresso dirigido direta ou indiretam ente ao cessàrioL m as ao q uerer tu .d o.com p reen d er,
p o lítico . A serenidade dos produtores de sa­ inclusive a form a pela qual com p reen d em os,
ber dependeu assim essencialm ente de suas renunciam os a qu aíqu er tip o d e m u d an ça" .
relações com o poder. Nos.sá p5sÜJra cien tífica _se. ap oia _sobre_um
fun d am en to em in en tem en te h istórico e con -
S ão justam ente estas relações que estão h oje tingente: a crença em um p rogresso p ossível
abaladas. C ertam ente, elas o estão porque graças à m obilização d os.sab eres pelos-deten-
as políticas m udaram , mas principalm ente por­ tores d o poder - nas p r o fissõ e s, n o E sta d o ,
que o s próprios term os de sua legitim ação nos m ovim en tos p op u lares ou_,__às_ ye_z.es,..rios
sã o ditados por um outro d iscu rso, p or um a três a o .m esm o tem p o .
outra racionalidade: aquela d o m ercad o, ou
C om o o etn ó lo g o d eve se distan ciar de su a
m elhõT~cl5~lucro.~As ciências da racion aliza­ .p róp ria socied ade., p recisam os, eu cr e io , re­
çã o urbana e das finalidades sociais sã o ra­ conhecer o arbitrário cultural que fu n d am en ­
dicalm ente colocad as em q u estão pelas ciên-
ta n ossos saberes. Isto n o s leva 3 renunciar a
; cias da celebração do m ercado e da “ revo­
um a dupla ilu são, a d e um a ciên cia livre d e
lução liberal” .
am arras e a de u m a p o lítica cien tífica.
O s especialistas de um as e de ou tras n ã o são M as existe, talvez, um * d iferen ça entre um a
d o m esm o m undo. N o sso saber está, aberta ilu são e um a crença. A p esq u isa das ordens
ou secretam ente, a serviço do E stad o , o d eles, escon d id as é m eu o fíc io e não ten h o o u tro. A
é~sta. sem co m p lex o s, a servic.o da .em presa. cren ça de que isto p o d e servir a u m progresso
' Q uaisquer que sejam nossas in clin ações p o lí­ é de m inha etnia e é a herança q u e m e d eixa­
ticas, n ossas d efinições disciplinares ou n o s­ ram m eus ancestrais. A lg u n s m e dizem que
sas preferências teóricas, tem os ta lv ez a l g o . está acabado, estes são m eu s adversários. C reio
em com um : o s adversários. tam b ém que são a gran d e m aioria. O p ro­
gresso e seus saberes sã o ilu sórios, que se­
A “ cris e ” de saberes sobre a cidade e o terri­
ja m . M as um a vez recon h ecid a a ilu sã o , me
tório resulta d o fa to d e que a evid ên cia refor-
resta a crença. Eu o sei b em , m as m esm o
m adora construída durante q u ase um sécu lo
assim , eu prossigo.
está profundam ente abalada, ou m esm o o u e
esta pertence a g o ra a o passado. A perda de
C h ris tia n T o p o lo v é so c ió lo g o , p e s q u is a d o r d o C e n ­
Legitimidade, social resultante se tran sform a
tre d e S ociologie U rb a in e (C S U ) - C N R S - P a ris .
lo g o em desencanto cien tifico. E n ão atrib ua­
m os n ossos problem as à “ crise das id e o lo ­
g ia s” . E xiste, de fa to , um a id eologia q u e c o n ­
tinua prevalecendo. E ste dado m e p arece im ­
portante para elaborar hoje n ossas escolh as
de pesquisa e nossas estratégias p ro fissio n a is.
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Espaço & DeDates n " 34 - la a i

Notas (...) th e arca o f N e w Y o r k a n d its en v iro n s


m a y be lin k e n e d to th e flo o r sp a ce o f a fac-
1. N o o rig in al, savantes. N. T. to ry. R e g io n a l p la n n in g d esig n a tes th e b est use
2. C o m m ite e o f th e R egional P lan o f N ew Y ork and o f th is flo o r sp a ce - th e p r o p e r a d ju s tm e n t o f
its E n v iro n s, R egional S urvey o f New Y ork and areas to uses.
iis E n v iro n s, N e w Y o rk : regional p la n o f N e w 7. J a c o b R iis, c ita d o p o r A lb io n F . B aco n , W h a t
Y o rk a n d iís en v iro n s, v. 1, 1929, p. 31: b a d h o u sin g m ea n s to th e c o m m u n ity , D e p a rt­
(...) T h e a ssig n em en t o f th e la n d io íhe various m ent o f Social an d P u b lic S ervice, S ocial S ervice
uses seem s to íh e su p erfic ia l observer to h a ve B ulletin n° 13. B o sto n : A m erican U tilita ria n As-
been m a d e b y th e M a d H a tte r at A lic e ’s tea so cia tio n , 1910, p. 12:
p a rty . S o m e o f th e p o o re st p e o p le live in con- Y o u c a n ’t let p e o p le liv e lik e p ig s a n d ex p ects
ve n ien tly lo c a te d slu m s o n high-priced la n d (...) th e m to m a k e g o o d citizen s.
A s to n e ’s th r o w fr o m th e s to c k ex change th e
8. Ja c k L o n d o n , 1903, T h e p e o p le o f th e A b y s s ,
air is fille d w ith th e a ro m a o fr o a s tin g c o ffe e ; a
New Y o rk , M acm illan . C h a rle s B o o th , L a b o u r
fe w h u n d r e d fe ct fr o m T im es S q u a re w ith th e
a n d life o f th e p e o p le o f L o n d o n , L o n d o n , v o l. 1,
sten c h o f sla u g h te r-h o u s e s (...) S u c h a situ a tio n
1989, p p . 94-105.
outrages o n e ’s sense o f order. E v eryth in g seem s
m isp la ce d . O n e ye a rn s to rearrange the hodge- 9. H en ry S ellier, “ Les asp ects n o u v e a u x d u p ro b le-
p o d g e a n d to p u t th in g s w here th e y belong. m e de 1’h a b ita tio n d a n s les a g g lo m é ra tio n s u rb ai-
3. P a lric k G ed d es, “ C ivics: as co n c re te an d a p p lied n es” , La vie u rbaine, n ° 15, av ril 1923, p 86.
S o ciology. P a ri I I ” , in S o c io lo g ic a l Papers, vol 2, 10. Ele o b serv a, a re sp e ito da vila d e C ra d o c k , V irgi-
1906, p. 95: nia: **it d o es rep resem lh e ty p e o f o rg a n ized c o m ­
(...) even to recognise, m u c h less treat, lh e m u n ity w hich can b e e sta b lish ed , in co n tra st w ith
ah n o rm a l, w e m u s t k n o w s o m e th in g o f th e th e in d e fin ite e x te n sio n o f th e ty p ica l s u b u r b "
n o r m a l co u rse o f evo lu tio n . (A rth u r C . C o m e y , M ax S . W e h rly , “ P la n n e d
[ 4. M an u el C aste lls, L a q u e stio n urbaine, P aris, F ran - C o m m u n itie s ” , in N a tio n a l R eso u rces C o m ite e ,
^ ç o is M a s p é ro , 1972, p. 440. -jO '* U rban ism C o m m ite e , S u p le m e n ta r y R e p o rt, vol.
2 , U rb a n P la n n in g an d L a n d P o licies, W a sh in g ­
5. L éon J a u sse ly , “ A v e rtisse m e n t” , in R a y m o n d U n-
to n , D . C ., 1939, p. 61).
w in , U é íu d e p r a tiq u e des p la n s d e ville. P aris:
L ib rairie C e n tra le des B eaux A rts , 1922, p. III. 11. N o o rig in al, e n q u e te u r d e terrain. N . T.
6. C o m m ite e o f th e R egional P la n o f N ew Y o rk , 12. C la u d e L e v i-S trau ss, T ristes tr ó p ic o s, P a ris , P lo n ,
R egional S u rv ey , v. 1, p 18: 1955, reéd itio n 10-18, 1962, p . 346-347.

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