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A ARTE DE ENSINAR
II. O P R O F E S S O R ......................................................................................... 28
V a n ta g en s e d esva n tag en s do m agistério
R equ isitos do bom professor:
— C o n h ecer a m a té ria q u e ensina;
— G o star dela;
- G ostar dos alunos:
m ás escolas e m aus alunos;
— C on h ecer os alunos:
q u an to aos m ais jo v e n s;
qu an to aos in d iv íd u o s e tipos;
qu an to aos excên tricos;
C o n h ecer o u tras coisas:
o senso de hum or, p or exem p lo .
»,i uai idades do bom professor:
A m em ória;
— A fô rç a de von tad e;
A bondade.
m o:; M É T O D O S D O P R O F E S S O R 86
Á p rep a raçã o das lições:
P lan ejam en to;
H enovação dos conhecim entos.
A ( (im uiiicação dos conhecim entos:
Os três m étodos
A ligfio e xp o sitiva :
diçfio;
n o ta i de au la e seu uso;
eudêncla ou pontuação.
7
<i m étodo "tu to riu l” :
oi ijH in i' o b jetivo s;
dificu ld ad es;
im p ortân cia;
procedim entos.
A exp lica çã o :
o n exam es;
1U
N a m a io ria dêsses casos, a qu estão é de pu ra sem ân tica. A m u itos
têrm os da n o m en clatu ra p e d a gó g ica corren te, o A u to r im p rim e a ce p
ção pessoal, senão até sign ificad os v a riá v e is . A com eçar, com o vim os,
pelos qu e dá à p a la v ra “ ensin o” — com u n icação social exten sa, n a
escola e fo ra dela, m as tam b ém a fu n çã o orden ad a do professor, r e
g u lad a e p la n e jad a, p a ra se r v ir com e fic iê n c ia a u m a clien te la certa
— a dêstes alunos, n ão a d aqu eles. E m am bos os casos, H igh et salien ta
a im p o rtâ n cia do c a rá te r “ a rtístic o ” do trab alh o , em q u e m u ito d e v erá
v a le r a in tu ição, o entusiasm o pessoal e a liv r e inspiração.
M as isso b a stará n a escola, p a ra q u e se ob ten ha bom ensino?... P o d e -
se, aind a n esses casos, d isp en sar os p receito s de u m a té cn ica q u e ta m
bém tem evo lu íd o no tem p o e que, nos ú ltim os decênios, se tem
ben eficiad o d e con hecim entos ob jetivo s, h au rido s em d ife re n tes ram os
da ciên cia?...
A a titu d e de H igh et em fa ce do p ro b le m a é su til, podendo m esm o,
ò p rim eira v ista , ser acoim ad a de con trad itória. P o r todo o corpo da
obra, em bo ra não d e form a sistem ática, êle se socorre não só da
trad ição, m as da ciên cia atual. N o te -se, p or exem p lo , o longo trech o
rtn qu e e x p lic a e recom en d a aos m estres o esq u em a da classificação
f/t; tem peram entos, de Sheldon, o rgan izad o depois de lo n gas pesqu isas
11<- c a rá te r q u a n tita tiv o e in fe rê n cia e statística; v e ja m -s e as passagen s
rin qu e la m e n ta as la cu n a s da psicologia, o qu e in d ire ta m e n te sig n ifica
i|tic d ela se d e v e rá e sp e ra r m u ito m ais do que, h o je, aos m estres o fe -
rece; tam b ém os pontos em qu e fa la da ap licação do prin cíp io do jôg o
aos exercício s escolares, e dos recu rsos d a em u lação e da com petição
no in cen tivo dos tra b a lh o s de cad a classe — assuntos, todos, b em
d efin id os no estudo o b je tiv o da ap ren d izagem . E, se aind a h o uvesse
d ú vid as a resp eito, b a sta r ia re le r o p refácio, em q u e o A u to r d e c la ra
■jue recorreu a gran d es in stitu tos cien tífico s, a esp ecia listas em p sico
logia e h ig ie n e m en tal, em p siq u ia tria e estudos sociais, p a ra assim
e lu cid a r a lgu n s dos m ais im p o rtan tes pro blem as q u e aborda.
No entanto, lo go às p rim eiras p ágin as, em ite ju íz o s q u e p a recem
c o n tra d izer a o rien tação adotada. Eis, em suas p ró p ria s p a la v ra s, ou
tir m o s m ais resum idos, o q u e a í p ro cla m a : “ O trab alh o de q u alq u er
p ro fessor c a re ce d e ser ordenado e b em p la n e jad o no qu e re sp eita aos
f ilo M as isso não to rn a o seu ensino cien tífico. O ensino im p lica
"«■moções” , q u e não p odem ser sistem àticam en te dom inadas e ap licadas.
A « w rn elh a-sé à p in tu ra de um qu ad ro ou à çom posição de u m trech o
mufiieid... E m n ív e l m ais singelo, será com o c u id ar de u m jard im , ou
i i e r e v e r um a c a rta a u m am igo: d evem os la n çar d en tro o nosso co-
P ijlo ... D e o u tra form a, terem os a rru in ad o o nosso ensino, os nossos
ilumiH, e u nós m esm os...”
Ô con selho fin a l e a con clu são não podem se r contestados. O tr a -
liãllm ,1,1 professor não se resum e em tra n sm itir conhecim entos, ou
! «i.11 i i i .i d » q u a i s q u e r qu e sejam , m as em “ ed u ca r” , o qu e e n v o lv e
loii:» iitim isirra a fe tiv a , reclam an d o do m e stre os m elh ores dotes de
■ M preensfio e com u n icação hum ana. N ão ob stan te — e sem p reju ízo
disisn, uifis com v an ta ge n s — o tra b a lh o d id ático d e v e ser esclarecido
|üli i >■<r . i h , . técnicos bem fun dados, q u e orien tem os m étodos, de
íui,. , tão im p o rtan te qu e le vo u o A u to r a e sc re v e r o livro...
t- i ImhIo , ii In terp retação do trech o reclam a a lg u m a cau tela. P a ra
iiiiê não houvesse dú vid as, m elh or seria que na p rim eira p arte, o
A ü to i iivr . escrito que “ isso n ão im p orta em d a r ao ensino feiç ã o
<1i i -I i ífii n|)/ic(/çrto cien tífica, ou que tôda a edu cação seja cien tífica ,
a v i 11» im ndciit.r aos qu e suponham qu e a arte d e ensin ar se possa r e -
i i >, it iiiii ......ju n to de técn icas op erató rias de n atu re za m ecân ica. N a
• |...... . ■. fifi i.-i ú til tam b ém qu e com entasse a id éia con tida no v erb o
'im p lica i", u tilizad o no tex to . E ssa p a la v ra não sig n ific a “ co n sistir” ,
"• m "ii-prc:;cn tar” , nem “ se r” ou “ te r a essên cia de ...” Em in glês,
......tu t*i 11 português, en tre ou tras acepções, qu e não v ê m ao caso,
pOHui a de “ e n v o lv e r” , “ a b ra n g e r” , “ fa ze r su p or” , “ p ro d u zir com o
! iiiiM iliicn cia” — e, n um a dessas, é que se a ju sta no tex to. E assim
. ni.-ii.|i,i.i logo se co rrige a p o ssív e l dem asia de in te rp re ta ção n a p ri-
moii i parte.
C om p are-se a a rte de en sin ar com a de cu rar, que H igh et v á ria s
■• • p õ e em p a ralelo . T am b ém do m édico se e x ig e devoção a seu
mlHlei, nituição e com preen são h u m an a. M as disso n ão re su lta que
mi ÜHH possa c u ra r quando d espreze os con hecim entos técnicos da
i■ i **l . • ao; há m esm o, no liv ro , u m b elo trech o em que o A u to r nos
aconselha a m u dar de m édico, n esses casos... N em m esm o o pin tor,
nem d m úsico criarão m elh or, quando re fu gu e m as noções técn icas de
(|Ue se devem se r v ir — - a com posição das tin tas, ou as re g ra s da
ha> monia.
( 1 que H igh et d eseja p ôr em re lê v o , bem se v ê, é qu e os con h eci
m entos técnicos não bastam , porq u e n ão c riam o artista, com o não
. i Sam o bom professor. Q uem ensin a d ev e possuir, além disso, u m a
uiiipla visão das coisas da v id a e do m undo, do hom em e de seu
• I* hão, com a q u a l v iv ifiq u e a técn ica, in co rp o ran d o-a a um a f in a li
dade ju sta e digna... E nisso, p or certo, tem carrad as d e razão.
Keria errôneo, no entanto, a d m itir qu e as noções técn icas aí devessem
falta r, o ensino, ou a educação, e x ig e do m estre um a concepção da
natureza ideal do hom em , m as tam b ém a de suas cap acid ad es e p ossi-
IiiII d a d e s n aturais. C om p leta ou in com pleta, certa ou errada, essa
1111*i epi;ao e xiste sem pre.
! ’*« q u e não a d m itir qu e possa e d e v a ser esclarecid a pelo con h e
cim ento o b jetivo ou, afin al, p e la ciên cia?...
* *
*
* *
!
■*•l • •i i i >i ii In O pera com conceitos dc realidade. P o r si m esm a, não
tiflui iui ■ i ulha dos ob jetivo s, m uito em bora se ja cham ad a a opinar
IS
(Q tlff B ii.i cxo q íiib iiid a d e e a oportun idade das operações q u e se
devam i . ili ii paru alca n çá -los.
A f onsciPiifíá hu m an ística e n fre n ta u m a “ p ro b le m á tic a ” e p ro cu ra
ilví Ia p e t o pensam ento r e fle x iv o , próprio da filo so fia. R esponde
-<•• "ijut?" :,c d e v a fazer. A con sciên cia técn ica a p re se n ta-se com o um a
" jh s g i u á t i e a ' ' , e, p a ra respon der ao “ com o” se d e v a faze r, p ro cu ra bem
eàerd en n r os dados da exp eriên cia . M as será êrro supor q u e a um a,
■n iitia . d e v a opor, n ecessàriam en te. N a v erd ad e , nos dom ínios da
•!"■ a< ao elas se com p letam p a ra qu e a tu do se possa d ar e levação,
• n •• ilt- d ignid ad e e p len itu d e, m as tam b ém a n ecessária praticid ad e,
q u e à a r a o im p rim a eficiên cia, seg u ra n ça ou m enos in certeza.
i i con jugação , aliás, e x is tiu n a origem m esm a do m ovim en to
hum anista, n a R en ascen ça, quando então se opôs aos m étodos tr a d i-
i lonals, auto ritário s n a form a e no espírito. A o m esm o tem po que
en tu ava a im p o rtân cia dos p ro b lem as do hom em , p ro cu ra v a situ á -lo s
no am bien te das condições reais da v id a, razão p or qu e in c e n tiv a v a a
iiv ie indagação ou a pesquisa. P a ra isso, re co rreu ta m b ém às fon tes
Sfltigas d a cu ltu ra , buscando u n iv e rsa liza r o conhecim ento, no tem p o
t nu e.-,paço. Com o o b servam qu an tos estudam o assunto, d eterm in o u
uni dos períodos m ais flo rescen tes da h istó ria do pensam en to hum ano,
n#o só pelo su rto qu e deu às le tra s e às a rtes, com o pelos n ovos
«aiiijiiho.s que a b riu à in ve stig a çã o cien tífica.
< 'nmo o espírito do m o vim en to fôsse, porém , m ais an tigo qu e o nom e,
poi p rocedia da an tigu id ad e clássica, a edu cação h u m a n ística passou
a - ' i iden tificada, den tro em pouco, com o o in terêsse pelo estudo das
língua:; antigas, em si m esm as — o la tim e o greg o, especialm en te.
Ní»o seria de su rp reen d er que logo tom asse sen tido em in en tem en te
literário , por in flu ê n c ia do e x a m e das fontes, e, com êle, a do estudo
ei ainat ic:al, árido e sêco ■ — qu e H igh et, tão severam en te, aliás, em
M l liv ro condena. A in flu ê n cia e stética foi m ais in ten sa n a Itá lia que
ao n orte dos A lp e s, onde as hu m an idades, por m ais tem po ta lv e z,
foram 1raladas com o in strum en to de refo rm a d a v id a social. E, n a
eriaçfto da C om p an h ia de Jesus, p o d e-se v e r a in d a um re fle x o dêsse
m ovim ento, no q u a l a sabed oria se d e v ia u n ir ao espírito de v irtu d e
f de ju stiça — sapiens atque eloq u en s pietas.
É eert.o tam b ém que, no n eo-h um anism o, dos fin s do século X V I I I
c eom eços do século passado, em bora desejoso de re im p la n ta r nas es-
■■ •! i ii livre esp írito de pesquisa, essa fin a lid a d e con ju n ta com o qu e
perdeu A in d a assim , o p a p el da ciên cia n um eq u ilib ra d o m o v i
mento h u m an ista não d ev e ser subestim ado no m undo atual. Com o
bom observa D alia N ora, “ é im p o ssíve l a d m itir h o je u m a a tiv id a d e
q u alq u er sem ap licação da in te lig ê n cia e do estudo. Im p ossível e iló -
Hoje ein dia, nem o solo se c u ltiv a só com boa v o n ta d e e só
«•.In fidelidade a trad ição: p a ra fa z ê -lo p ro d u zir da m elh or m an eira
exarniiininn:; a te rra em sua com posição qu ím ica, n as constantes m eteo -
io lo j’ 11 ,i i|ue o rodeiam , no teo r v a r iá v e l de hu m an idade. P o r qu e ta l
■t, ui.i o,ío d e y e v a le r tam bém p a ra o cu ltiv o d a q u ele te rren o a b en -
L,.ui|u ]ii11 D cum, qu e 6 a pessoa h u m an a?,..”
Muo irrei iiHfiveis as ob servaçõ es do ilu stre p ro fessor do In stitu to
Nupí iíoi de 1'eduKoKÍu do A ten eu P on tifício de T urim , bem com o a
i o u r lii':*o <41it aí dei-.-i Im plícita S e as ap licações d<‘ gran de tecnologia,
11
< >n a fin a l das ap licaçõ es da ciên cia à v id a de hoje, v ie ra m d e seq u ilib ra r
.1 inundo — fazen do acre sce r os bens m a teria is e a cupidez por êles,
rom p reju ízo de m ais altos v a lo re s de esp írito q u e se gera m n a com -
1'i eensão de fra tern id a d e en tre os hom ens — m ais u m a ra zã o h a v e rá
para que os con flitos resu lta n tes sejam estudados p or m eios o b jetivo s,
q u e esclareçam a ação e p onham em e vid ên cia suas cau sas e resultados.
K essa, sem d ú vid a, a g ra v e qu estão q u e agora d e sa fia a a rg ú cia dos
lium ens de estudo e ação, sejam políticos, ad m in istradores, pensadores
ío c ia is ou educadores. M uitos p ro cla m a m que, p a ra q u alq u e r fe liz
..lução, será p reciso qu e não se e xtrem em , como a té aqui, os dom ínios
fim; fatos “ hu m an os” e o dos fatos “ n a tu ra is” . O rá p id o p ro gresso dos
dl l imos decênios, nos dom ínios d a antropologia, econom ia, sociologia
• •lem ais estudos sociais (in clu sive nos d a e d u ca çã o ), p a re ce rea lm en te
prom issor p a ra a elu cid a çã o do processo da cultura, sem a com p reen -
gfio <lo q u a l não h a v e rá m aior p o ssib ilid a d e de e n co n trar novos id eais
de vid a, m ais in tegrad o s ou, se assim o quiserm os, m ais tocados de
hum anism o.
* *
*
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[j..E i n us li m m a:; p reven ções qu e se ten h am con tra êste q u a lific a tiv o .
BffiaU Knto liiifi processos adm itam , com o ponto de p artid a, ju lg a m e n
tos <i. s híiH , <l<•■ ;<l<> qu e u tilizados por in ve stiga d o re s capazes, dem on s
tram .jii*- | u i d e s s a n atu reza tam b ém se su bm etem a sanções de
t Hei #-in ia i i lógico, na m edid a em qu e se m an ten h am den tro de
v i- 1 * iii.» - de re ferên cia ” rigorosos, porq u e defin id os os critérios, as
tOntíiçÕea e.; resultados, a qu e v ise a pesquisa. E, dêsse m odo, a p u -
jaiii ■ e.ii|iieinas funcionais, ou “ cau sa is” , sem o qu e todo esforço de
SHVggtlfMCfio p erd eria o seu sentido.
Tem ido e s s a , aliás, a form a de trab alh o já p or longos anos u tili-
■ •i . por v ário s cen tros de p esqu isa ( “ pesqu isa em a ção” , ou “ p a ra a
i ç l o " , com o tam b ém agora a d en om inam a lgu n s auto res am erican os)
h .jiiid (em dem on strado resu ltad o s dignos de con fian ça, em em p reen -
ÜmantoN como os de elab oração de pro gra m a s p a ra todo um sistem a
idu cuclorial, n em p or o u tra razão ro tu lad a de “ scie n tific curricu lum
i umwíi iirlion” . A m esm a fo rm a v e m sendo u tiliza d a p e la U N E S C O p a ra
.. . . h . p rojetos de “ educação fu n d a m e n ta l” , em v ário s países, esp e-
, tu lin en lf cm regiõ es su b d esen volvid a s. T ra b alh o s dessa n a tu re za in -
f* = «iii dados e xp e rim en ta is e n ão -e xp e rim en tais, segundo critério s
d^finldus por “ v a lo re s ” sociais, estéticos, cívicos e religiosos.
A in d a nesse sentido, em bora sem rig o r form al, “ A A r t e de E n sin a r”
ip r e w n ta con trib u ição a ser con sid erad a. O liv ro e x a lta , den tro do
lilte m a d e re fe rê n c ia p red o m in an te nos colégios e u n iversid ad es, a
Mid u e a ç ã o in te le c tu a l” , de cunho m a rcad am en te racio n alista , sem d e i-
iji . 1<- a flo ra r, no entan to, g ra v e s p ro blem as de in te gra ção so cial e
iimi ,il d.i ju v e n tu d e, a p e d ir m ais e m elh or pesquisa. D efen d e tam b ém ,
im p licitam en te, a id é ia de um a ed u cação e sp e cia liza d a de elites.
De q u alq u er form a, é fecun do. N en hu m le ito r d e ix a rá de so frer a
in iiiii neia das idéias q u e expõe. Ê le nos con ven ce de qu e n ão h á
sulmttl.utivo p a ra o pensam en to r e fle x iv o , quando hon estam en te fu n -
i- I" d em on stra q u e a p esq u isa dos p ro blem as hum anos n ecessita
á e s e n v o lv c r -se em todos os sentidos e p or todos os m odos, com ciên cia
r- cim -ciêncla...
* *
*
Ití
ilt>vidas re ferên c ia s b ib lio g rá ficas, com o im p o rtan tes esclarecim en tos
ü certos assuntos. N essa p arte, ju n ta ra m -se , e n tre parênteses, in fo r-
miiroos sôbre obras citadas, q u an d o se en con tram em portu guês.
No trab alh o de v e r te r “ A A r t e de E n sin a r” , tiv e o in e stim á v e l a u x ílio
.1. m inha espôsa, A id a de C a rv a lh o B ergstrõ m , e d e m eu filh o , D r.
M árcio C. B . L o u ren ço Filho, q u e assim m e e n co raja ra m no trab alh o
c m uitas v êze s m e ensin aram . A am bos a q u i con signo os m eu s a g r a
decim entos. D evo a gra d e ce r tam b ém à P ro fesso ra M aria Jo aq u in a
Komcro, ilu stre cate d rática d a U n ive rsid a d e do D istrito F e d e ra l, a
" i" ilu de com qu e atend eu a v á ria s solicitações, qu e lh e fiz, p a ra que
algun s trechos do liv ro , tão belos com o de d ifíc il v ersã o, p u dessem ser
transpostos p a ra a nossa lín g u a de m odo escorreito.
L O U R E N Ç O F IL H O
17
I Aíti
P R E F Á C IO
Êste livro trata de m étodos de ensino. Não cuida dos assuntos que
são ensinados, ou dos que o d everiam ser, nas escolas prim árias, se
cundárias, ou outras quaisquer. E x istem m ilhares de obras sôbre tais
assuntos; não tantas existem , porém , sôbre prin cíp ios gerais do ensino.
E, desde logo, torn a-se necessário d isting uir um a d e outra coisa —
os assuntos, dos m etódos. O d esen volvim en to da propaganda m ostra-nos
com o m entiras e to lices podem ser eficien tem en te ensinadas, e a h is
tória da educação evidencia que bons assuntos e im portan tes verdades
podem ser m u ito m al ensinadas. O que aq ui nos interessa não é arrolar
quais sejam os bons e os m aus assuntos, as boas e as m ás disciplinas,
mas os p rin cíp ios segundo os quais um a discip lin a q u a lq u er — d esde
que escolhida — possa ser b em ensinada. N em por isso, êste livro
d esen volve um a teoria de educação. A p resen ta apenas in ferên cias d e
rivadas da prática.
D e i-lh e o nom e de A r te d e E nsinar, p orqu e acredito q u e o ensino
seja um a arte, não um a ciência. P a rece-m e realm ente perigoso aplicar
os o b je tiv o s e os m étodos da ciência a sêres hum anos, d esde q ue to
mados com o pessoas, m uito em bora eu reconheça que os princípios
estatísticos possam ser m uitas v êzes u tiliza dos na explicação do com
portam ento de grupos de pessoas, e ta m bém não d esconheça que o
diagnóstico cien tífico dos ind ivíd uos, quanto à sua constituição física,
é sem pre ú til. C reio que a pretensão d e fix a r relações “ cien tífica s”
tnitre sêres hum anos é inadequada, ou ta lv ez m al proposta. É claro que
0 trabalho de q ualq u er p rofessor carece de ser ordenado e bem p la
nejado no que resp eita aos fatos. Mas isso não torna o seu ensino
" c i e n t í f i c o O ensino im p lica “ em oções” que não pod em ser sistem à -
t im in en te dom inadas e em pregadas; e im p lica va lores hum anos, que
perm anecem inteiram en te fora do alcance da ciência. U m a criança
• i i-ulii com todo o rigor “ cien tífico ” seria u m m onstrozinho digno de
l ’ifthulc. llm casam ento “ cien tífico ” seria apenas um a frá g il e p ertu r-
íiííc/k m rsão de um verdadeiro m atrim ônio. Uma am izade “ cien tífica ”
te r ia tu d Jria com o um a partida de xad rez. Ensino “ c ien tífico ” , m esm o
iIr ilmcipUiuiH cien tífica s, será in su ficien te, se é que alunos e professô-
tuh 1'immt como sêres hum anos. O ensino não é sem elh an te a um a reação
ijiiíniieti; uur.cmelha- se m u ito m ais à pintura de um quadro, ou à com -
jM<3ii/íio de um a peca m usical; ou, em n ív e l mais sin gelo, será como
1 iikífii de um jardim , ou escreve r um a carta a um amigo. Devem Os
lanpi? u mu ..i contçiío dentro dêle, devem os com preender que o ensino
não pode In f a t o m ediante fórm ulas fixa s. D e outro m odo, terem os
ifiiiiUiffidii d iminho trabalho, os nossos alunos e a nós m esm os.
* *
*
(i Honi com eça por exam inar qual a atitude geral e quais as capa-
i i.i.i,/• </»(! fazem de um professor de ofício u m bom m estre, para
• iK,m, iHi.viur em revista os m étodos m ais aconselháveis. D epois disso,
itim iliéit se em várias direções. U m a das fôrças q ue têm ajudado a
m m lr u ii a nossa civilizaçã o é certam en te a in flu ên cia de fam osos
tn jior isso, alguns dos m ais capazes m estres do passado são aqui
lem brado*. Prim eiro, os Sofistas; depois Sócrates, Platão e A ristó teles;
f g p s i l Jesus C risto; ainda depois, os professores da Renascença; a se
guir, li;, .Icsuítas, bem como os m elh ores m estres do século passado e
tle li,, . :>i tem po; fin a lm en te, são evocados os pais de grandes hom ens
q ue a seus filh o s ensinaram a ser “ grandes” . Por ú ltim o, o livro lança
§ 1 olhou para o ensino da vida cotidiana, tal com o se dá dos pais para
ii -i 11 Ihn:; e en tre os cônju ges, de form a recíproca; tal com o é feito por
M d ie o s , sacerdotes, psiquiatras, p olíticos, propagandistas e m esm o
ã ftiítau e autores, q ue não sabem que estão ensinando ao púb lico. O
li ri ii conclui por salientar a profun da responsabilidade que sôbre todos
uns recai, sem pre que ten tem os ensinar algum a coisa a alguém . P ro -
finidii c vivificad ora, aliás, é essa responsabilidade.
* *
Por Imnerem debatido êste livro com igo e por m e h averem dado
m uitas inform ações e apresentado valiosas críticas, estou m u ito reco -
iiitcrítlo a num erosos amigos e colegas. E m p rim eiro lugar, ao m eu
próprio m estre, Dr. C y r il B a iley , p rofessor em érito do B a llio l C ollege,
t!e O xfo rd , a q u em êste trabalho é dedicado, com o um a pequenina
e.i/m ...mui iIa gratidão que lh e devo por sua orientação in telectu a l e
niniiiiile, durante v in te anos. D epois, ao P rofessor M ark V an D oren,
itn U niversidade de C olú m bia, q ue m e com un icou sua longa exp eriên cia
i/e tm in o , c que tev e a bondade de ler in tegralm en te os m anuscritos
• le .ir in ■mi, m ostran do-m e com o devia corrigir m uitas de suas d e fi-
<ii'ncu: ■■ I 'i>r m e h averem orientado sôbre pontos esp ecíficos, agradeço
mih Professores R alph A . B lanchard, da U niversidade de Colúm bia;
Alniihiioi Ple.vner, Nova Y o r k ; Dr. A lb e r t D. F reib erg , ãa “ P sy ch o lo -
fjienl ( 'm iiorntion", de N ova Y o r k ; F red erick C. Frant, da União dos
Semintirin:: T eológicos; W erner Jaeger, ãa U niversidade de Harvard;
A ith u i J c llcn .i, iin C olúm bia; Dr. Roger Lapham , de N ova Y o r k , cujo
íii tii Ir oi Your P ow er, é uma boa dem onstração prática da capaci-
itmle dr e u \auiv tjiie deve ter o m édico; G a b riel L ieg ey , da U n iv er-
•thtmlc -Ic Forilhitm , D en v er H n d le y , de Nova Y o rk ; C larence A.
M
M anning, da C olúm bia; Padre E d w in A . Quain. S. J d a U niversidade
de Fordham ; Dr. W. H. S h eld on , da F aculdade de M edicin a e Cirurgia,
da C olúm bia; L . O. S hu dd e, da “ Social S ecu rity A d m in istra tio n ” ;
L. P. W ilkinson, do K in g ’s C o lle g e , C am bridge; e B e n D. W ood, da
C olúm bia. E stou m uito recon h ecido tam bém aos serviços de d ocu m en
tação da B ib lio teca da U niversidade de C olú m bia, q ue m e p erm itiram
inform ações preciosas e a m aior parte das citações ( esp ecialm en te as
dos assuntos apresentados no capítulo I V ) , e que, de outra form a, me
custariam m eses de pesquisas; e, por ajuda sem elh an te, aos b ib lio te
cários do B a rn a rd C ollege. T erm in o por agradecer à m inha espôsa as
suas observações, as quais, como as de u m bom professor, sem pre m e
encorajaram .
G .H .
M
I
IN TR O D U ÇÃO
Md
Porque um dos principais deveres de cada m estre é saber esti
mular a outros.
Valo a pena repetir que êste livro não trata das disciplinas
i|u<- devam ser ensinadas. Não tenta discutir se a ciência, a
rHijuuo, ou a arte, ou as línguas estrangeiras devam ser en-
Miiadas, ou que relações essas várias disciplinas apresentam
entro :;i. Trata somente de métodos de ensino. Há numerosos
livro:: de primeira qualidade que expõem as disciplinas que
i Ir vai n concorrer para a educação de crianças, rapazes e moças,
l ; :,a:; disciplinas largam ente variam nos diferentes países e em
•lil. rrntes épocas. Mas os métodos de ensinar, dentro de certos
limites, parecem perm anecer mais ou menos os mesmos. Por-
!a 111o, neste livro não pretendemos m ostrar o que deva ser
insinado, mas sim como o ensino possa ser bem conduzido.
r?
II
0 P R O FESSO R
íí
"Mus, tiíihIa (11u* você não as empregue no ensino” , disse-lhe
t» 1'inii im meu amigo, “ certam ente se deleitará com essas
jipgtil, Vm o não gosta de M olière?”
ti iucrivcl homcnzinho sacudiu a cabeça. “Absolutam ente” ,
'li • "Nunca lí, nem lerei. P ara falar com franqueza, eu não
I■' iia.l.-i do francês. O que aprecio é o basquetebol. Nós
U niu:, l.i no colégio, um timezinho danado” .
N o sso p o n to o meu colega cometeu um êrro, dizendo: “Nesse
i-Hfio p«m que você não abandona o francês para ensinar bas-
■(tlolobül?”
"< i *■ io que teria sido m elhor” , disse o visitante, já na porta,
(,poln o .senhor não encontra, para mim, um curso de francês
elementar. Foi para isso que vim até aqui. Adeus.”
N u m a mais o vimos. Não se pode dizer que êle nunca tenha
■l I o a ler La Fontaine e M olière. A mais estranha e a
111c-11icir coisa do ensino é que uma semente, lançada sôbre
terrcMU) aparentemente sáfaro, muitas vêzes brota e estende
rai/,os, para florescer mais tarde. É certo que, algumas vêzes o
|be, de forma bizarra e confusa, mas ainda assim mantendo o
impulso vital. Anos mais tarde, o homem do Sul poderá sentir
n■ 111‘ ’ I■
i Idéia trabalhando nêle, e, então, lembrando-se das pa-
Iíviiih do meu amigo, talvez tome real interêsse por sua dis-
( iplina. É provável que se tenha dirigido a outra universidade
paia aprender alguma coisa sôbre M olière e L a Fontaine; e,
possivelmente, agora estará como produtor e ensaiador de um
grupo do amadores, em sua escola, os quais representem O
A ourou/o, em tradução que êles mesmos tenham feito.
Mas também pode ser que não. Se êle nada conhecia sôbre
litoral tu a francesa, assem elhava-se a milhões de outras pessoas
no mundo, que odeiam o trabalho em que consomem suas vidas,
p nada mais fazem do que o mínimo nêle necessário, e, muitas
ve/oíi, nem isso. Eu costum ava observar coisa semelhante nas
lojas do música da Inglaterra. Se se pergunta a uma vendedora,
junto a o balcão, algum a coisa sôbre uma peça de Chopin ou
■!>- 11<>a;>y (\irm ichael, ela certam ente dirá que nada sabe, nem
mofituo ondo ôsscs autores hajam nascido. Aconselhará que se
espric pelo patrão, pois talvez êle saiba. Se vendesse meias de
soda, <‘Ia oorlamente saberia distinguir as diferentes gradações
•Io ' "i nos produtos desta fábrica ou daquela. Tratando-se,
piiiém, do obras de arte, para que saber?
I n inõ fa/ lembrar um caso quo ocorreu com Toscanini e
mu pi (melro violino. Numa excursão, Toscanini certa vez
chegou a uma nova cidade para reger uma orquestra, com a
qual nunca antes tivera contato. Principiou com alguma coisa
fácil, como Semíramis. Depois de um ou dois minutos, notou
que o primeiro violino o encarava com uma estranha expressão.
O homenzinho tocava razoàvelm ente bem o seu violino, mas
sua fisionomia denotava aborrecimento; e, quando êle virava a
fôlha da partitura para atacar um novo trecho, fazia caretas
como se sentisse algum a dor. Toscanini fêz parar a orquestra e
perguntou-lhe: “Prim eiro violino, está você, por acaso, doente?”
Imediatamente, a fisionomia do músico voltou ao natural.
“Não, obrigado” , disse êle, “ sinto-me perfeitam ente bem, se
nhor Maestro. Por favor, continue” .
“M uito bem, se você me assegura, vamos adiante. Comecem
em D, senhores” . A orquestra prosseguiu. Mas, quando Tos
canini lançou os olhos para o primeiro violino, viu-o pior que
dantes. Êle tinha a face tôda retorcida para um lado, os dentes
apareciam entre lábios raivosos, e a testa estava sulcada por
profundas rugas. Suava e ofegava, de fazer dó.
“Um momento, por favor. Senhor primeiro violino, o senhor
parece realm ente doente. Q uer ir para casa?”
“ Não, não, não, senhor Toscanini. Por favor, continue.”
“ Mas eu insisto” , disse Toscanini. “ O senhor parece real
mente doente. Não gostaria de repousar um pouco?”
“Não, não estou doente”, respondeu o primeiro violino.
“Então, que é que há?” perguntou o maestro. “ Você tem um
olhar terrível, e não esconde caretas de dor. D eve estar certa
mente sofrendo...”
“ P ara ser com pletamente franco” , disse o primeiro violino,
“ eu odeio a m úsica.”
Parece ridículo, não parece? Há, no entanto, m ilhões de
pessoas sôbre a terra em situação idêntica. Estão num emprêgo
que detestam, desempenham suas obrigações com má vontade
e de modo ineficiente, prejudicam -se a si mesmas e aos demais
mm quem trabalhem . M uitas vêzes isso parece que pouco
interessa. Se a mocinha da loja de música não responde, o
freguês pode esperar até que chegue o patrão, ou, na pior
hipótese, escrever ao editor. Mas, no caso do professor, a si-
Iikiç.io é de maior importância, pois a sua função é despertar
o:, jovens espíritos para assuntos de grande significação. Será
preciso que êle mostro a seus alunos, em cada gesto, em cada
entonação de voz (e lembremo-nos que os jovens tudo obaei
17
■ "Hi i ü | iH lic agudeza) que a m atéria que ensina parece-
llif di .11 mí importância, e que aprender não é de modo ne
n h u m iiiiin perda de tempo.
* *
*
i
primeiro curso de conferências as modernas teorias sôbre a
Verdade. Outro curso poderá ser um levantamento histórico
das idéias do homem a respeito de Deus. Poderá também con
duzir um grupo de discussão, mais adiantado, no estudo do
problema da Percepção (o que se passa em nós quando vemos
um objeto no mundo exterior? que espécie de conhecimento
podemos captar pelos sentidos?). Poderá ainda ler e preparar
notas para um futuro seminário que verse o problema da Alm a
e do Corpo (como estão associados? terá o corpo uma alma,
ou é a alm a que possui um corpo? um dêsses elementos cons
tituirá a m atéria e o outro, a form a?). A s conferências sôbre
a Verdade poderão levá-lo a um contato mais íntimo com
importantes problemas da lógica (inclusive com os da moderna
lógica m atem ática) e da semântica, e poderão conduzi-lo, por
outro lado, ao domínio dos problemas morais. A evolução da
idéia de Deus ajudá-lo-á a aprender a história — ninguém
conhece suficientem ente história — o que dará m atéria para
um livro sôbre a moderna teologia, talvez mesmo um estudo
sôbre as religiões antigas. Mesmo o problem a da Percepção, que
Icm ocupado a vida de muitos filósofos, poderá conduzi-lo a
outras questões igualm ente sedutoras: até que ponto é real o
mundo exterior? quais os lim ites últimos do conhecimento
individual? qual o tipo de conhecimento que nos é dado pela
<i<íticia? (E isso, como se percebe, o fará retornar ao problema
da Verdade, por outro prism a). Finalm ente, o problema da
Alma e do Corpo poderá levá-lo à psicologia, ao problema da
Imortalidade, ao interessantíssimo e pouco estudado tema da
inteligência dos animais e da vida social entre êles; e, por outro
caminho, muito atraente, ao campo que se está tornando cada
vc/ mais luminoso, em direção ao problem a de Deus e do co-
nlu>cimento de Deus pelos homens.
Nenhum dêsses assuntos pode ser esgotado no trabalho nor
mal de uma vida. M as o homem pode aprender muito sôbre
cnda um deles, e, aprendendo, tornar-se melhor professor, não
mi provido de mais conhecimentos como mais capaz de comu-
m. .u entusiasmo aos alunos. É lícito esperar que encontre novos
f- ma a investigar, não somente para escrever livros interes-
f.auteM e originais, mas para sugerir aos discípulos, com variada
oi ientftçiío, o estudo fie muitos outros temas com os quais se
Imi,.; ,i ampliar o conhecimento dti humanidade, O único perigo
41
• ■ 11h• se torne ml< i. .<I-. por muitas idéias ao mesmo tempo,
> iii que se possa delei para fix a r as suas próprias, num livro.
Ma:;, se planejai o trabalho, desde o comêço, provàvelm ente
lerá suficiente discernimento e fôrça de vontade para m arcar
n.s diversas fases de seu estudo, registrando de form a adequada
os resultados que vá obtendo.
Não será bastante, portanto, que se escolha o assunto. Um
professor sensato escolherá determinados setores que sejam ao
mesmo tempo interessantes e elucidativos; dêsse modo, o cres
c e n t e conhecimento dêles lhe dará um m aior sentimento de
domínio da disciplina, afastando a impressão de que esteja
implesmente exercendo um ofício. E isso, de algum a forma,
< nmunica-se aos alunos. Quando eu estudava francês na escola
secundária, tive uma professora, já de certa idade, robusta e
encantadora (nós a chamávamos Senhorita Groan, em bora seu
nome fôsse M c-Crone) que adm irava imensam ente a Victor
Hugo (*). M uitos professores de francês encantam-se com as
tragédias de Racine e nos falam das notáveis interpretações
teatrais a que já tenham assistido. Outros gostam de Verlaine
e Iiaudelaire. Mas é raro, mesmo na França, encontrar um
mostre que goste de V ictor Hugo como a Senhorita Groan o
apreciava. Quando nos lia os imponentes fogos de artifício de
faoa Chatiments, como a descrição de W aterloo, ela realm ente
.< ...... empolgada pela peça que nos dava a conhecer. Era
icualm cnte versada nos romances. Foi ela quem me guiou
Itra v é s de Les travailleurs de la mer, levando-m e à caverna
Hiilimarina, onde, ainda ofegante com o m eu longo mergulho,
enli o:; pulsos envolvidos por frios tentáculos (la pieuvre!); e,
quando ela nos lia os pequenos poemas de V ictor Hugo sôbre
crianças, nós nos sentíamos envolvidos por um estranho encan
tam ento. Era natural que, por vêzes, pedíssemos V ictor Hugo,
a fini de impedir que nossa mestra nos fizesse embaraçosas
pei/.Minta:; .sôbre assuntos que ainda não havíam os suficiente-
m enle c::tudado. Mesmo nessas ocasiões, admirávamos o sincero
f*i11 iiMa:;ino que se estam pava em sua face e lhe vibrava na voz.
Nenhum de nós saiu daquela classe sem saber que V ictor Hugo
f ia o maior dos poetas franceses. E se, por vêzes, não acredi
távamos muito nisso, pelo menos aprendíamos que a poesia pode
sei grande, pode ser emocionante e pode aquecer o coração; e
t +) ísigiiifii a, em iuglêN, m ulher dti rosto encarqutlhtido, ovelha rtuiliuna;
- t f - .- - . . 4Íf HÍfÍi 0 g e u l i i l i i . ia m e iito , |||Kí 4 § , /V t/•» T
éé
aprendíamos também que a poesia francesa m erece admiração
e respeito. M uito tempo depois, quando li o poema de M allarm é,
que tem êste suave fecho:
* *
❖
* *
*
41
l‘i' .!•' p o n t o , lima séria objeção pode ser levantada. “ Há
»*n•n . . I m : ::", <11i.i você, “ de que não podemos gostar” . Há
<|ii<* têm alunos realm ente detestáveis. Existem
('iiImh em que as alunas não pensam senão em sexo, e os
ílUnoM, senão em sexo e brigas; e todos odeiam os professores,
a escola c a educação. Como é possível gostar dêles?
Tudo i:;.io é perfeitam ente exato. Algum as escolas represen
tam um verdadeiro inferno. Quando Dickens descreveu Do-
ihrlioy;; I lall, o horror que nos com unicava provinha da tirania
do professor e de sua fam ília sôbre os alunos (*). Quando
K rale foi reitor em Eton, o mais desordeiro e brigão dos alunos
miiH|iiilava-se diante dêle, pois um êrro qualquer, em latim, era
■ piado com lágrim as e sangue” (**). Mas, em nossos dias,
dá se o contrário. São os alunos que freqüentem ente tiranizam
os mestres. Há escolas, em N ova Y ork, nas quais a polícia tem
Ido chamada para garantir a integridade física do corpo do-
( eule. Numa interessante novela sôbre uma aluna negra, que
vivia em Brooklyn, Jadie Greenway, I. S. Y oung (que traba
lhou por muitos anos em escolas de Nova Y o rk ), descreve
ilg u n s dos problemas com que se defrontam os professores das
Mi andes cidades. A heroína, mocinha de dezesseis anos, contrai
uma doença venérea de seu “namorado” marinheiro. Quanda
ui na de suas colegas zom bava dela por isso, Jadie feriu-a com
Uma navalha, que sempre trazia consigo para defender-se dos
i upa7.es que a atacavam no caminho de casa. Em tal escola,
lutas verdadeiram ente selvagens destruíam a sala de aula, e os
alunos que fôssem punidos atacavam os professores, ou os
(©ealavam depois da aula, quando não fôssem buscar os irmãos
mais velhos para uma desforra. Tenho conhecido professores
que realmente ficam acovardados diante de seus alunos, e que
(tmlem verdadeiro alívio quando toca a sinêta, e a ansiedade
<01 que vivem , pela intimidação, é transferida para o dia se
guinte.
K. o que é ainda pior, os rapazes e moças dessas escolas não
de sejam aprender. Imaginam a escola como um gasto inútil do
Iempo e uma prisão. Desejariam estar fora dela, ganhando di
nheiro, ou, simplesmente lá fora, perambulando pelos cinemas
e pe las esquinas. Embora adolescentes, estão desesperados por
■< i I>«>lliehoys MmII 6 u enrola particular que Charles Dickena (1812 1870) descrevo om
---!n /VM ih/09 N lv k h lt y , o n i j a p u b lir a ç g o m o v e u a o p in iã o p ú b lic a inulAsa c o n tra os m a u s
i>>t: /V lia T.
m m ? pequenina «idade litglêsa, gélebie pelo . olégin ai fundado por H enrique IV ,
-**• I » II iüg â ( nlle|e, pttt m uito tempo preterido por iam ilias aristocráticas p a ia a
vdu-n.fl:: de 66MS fiihos N ,l<$ |
48
se m ostrarem adultos. Como um dêles escreveu, numa compo
sição escolar, “ os prazeres da infância são um nada em compara
ção com as alegrias de ser a d ú l t e r o Êles se sentem am argu
rados por estarem presos numa sala em companhia de rapazes
e moças, quando m ais gostaria de estar, como os homens e
as mulheres, ganhando a sua vida, independentes. Não podem
perceber porque lhes seja útil aprender a geografia universal,
a história de seu próprio continente ou a literatura nacional.
A s distinções de classe social e os preconceitos de raça acen
tuam êsses ressentimentos. Nos Estados Unidos, um rapaz
negro está sempre predisposto a não gostar de um professor
branco, pois os negros odeiam tudo quanto lhes lem bre que
seus antepassados foram escravos. (“ A professora não me diz
direito o que devo fazer” , é o comentário menos acre). De
algum tempo para cá, numerosos im igrantes têm vindo de
Pôrto Rico; os portorriquenhos são cidadãos norte-americanos
mas, quase sempre, falam apenas o espanhol. A s crianças são
encantadoras, com olhos muito grandes e sorriso atraente, mas,
quando entram numa sala de aula dirigida por um professor
norte-americano, acham difícil o que se ensina e começam a
tornar-se agressivas. Em muitas escolas localizadas em favelas,
e isso em qualquer parte do mundo, de G lasgow a Valparaíso,
as crianças detestam os professores, porque êles se apresentam
como representantes da classe média, ao passo que os alunos
hí iq de classe menos favorecida; e, se seus pais são comunistas,
(0
M as acredito que grande parte do desajustamento em nossa
sociedade resulta, não de m aldade e corrução, mas sim ples
m ente de ignorância. Numa grande cidade, os bairros abastados
não sabem como vivem os bairros menos favorecidos. Seria
extrem am ente útil, portanto, que professores experimentados
pudessem expor a grupos de voluntários de serviço social —
nas igrejas, associações locais, sociedades promotoras do bem-
estar e outras — aquilo em que exatam ente consiste o pro
blema, tal como os professores o sentem, com debates sôbre os
meios de resolvê-lo. Nós não pedimos ao médico que resolva o
problem a do alcoolismo. Será bastante que atenda aos porta
dores de delírio alcoólico e aos cirróticos. M as necessitamos da
opinião dos médicos sôbre as causas dêsse m au ajustam ento
social, seus modos de expressão e meios de combatê-lo. Depois
disso, a responsabilidade é nossa.
* *
*
|R
|-. i por uma outra série de fases, que lem bram cer-
la§ t r tf a n i m a i s , Meninos de nove ou dez anos, por exem -
i>lin como eachorrinhos. Observe-se um grupo dêles, in-
, i. m, i ..ll.mdo, correndo, movendo-se com vigor, à toa, cheios
<!e li i fpi m inei energia, dando com os pés uns nos outros, ou
itlfaiitlo He eontra uma porta, tão descuidadamente como um
* ii*>.’ m 1......... o lombo de um seu igual, ou em barafusta
put iini.i moita. Quando êles estão empenhados num jôgo de
. ......... ler, seus olhos e dentes reluzem , e seu riso e expressões
níii• iluminados por gritinhos, tal como se dá com os fox-terriers.
A h murinhas, aí pelo meio da adolescência, são como cavalos
= (optes, impetuosas, capazes de trabalhar com afinco se ti-
V«i »im a rédea curta, mas verdadeiram ente felizes quando não
Ih*ilí.nm em nada e saltam a êsmo, com as crinas sôltas ao vento.
Tanto <>:; cães como os cavalos são criaturas amáveis, que po
dem ;:ei ciomesticadas, mas será um êrro tratá-los como se
fnw.i-m humanos. Também será errado lidar com cavalos como
nr In :,i ni cães, e com cães como se fôssem cavalos.
Portanto, se você estiver interessado em ensinar, não espere
■ IM.- o.*; jovens sejam iguais a você e às pessoas com que você
habitualmente convive. Aprenda as formas peculiares de seus
I" ii .imentos e de suas emoções, como se aprendesse a entender
i ftVãloH, ou cães, ou outros animais (porque há muitas espécies
«In animais dentro das criaturas jovens: as crianças pequeninas,
lnu exemplo, são como pássaros); e, então, você perceberá que
.....ii i Mas inexplicáveis coisas que os jovens fazem são fáceis
de tmtender, e que muitas delas, im perdoáveis à prim eira vista,
>" lureis de esquecer.
Como se poderá aprender tudo isso? Principalm ente, pela
eHptnieiu-ia. Observe-os e converse com êles. M isture-se com
■!■: fina das horas de trabalho. Esteja em sua companhia sem-
I *i * *111*- |)(>;;;;a, e, uma vez por outra, brinque com êles. Ouça-os,
nftu para tornar-se indiscreto, mas para compreender o ritmo
ifm v,n iavel e descuidado dos seus chilreios, e o de suas emo-
Çõbh e pensamentos. Mas, tão perfeitam ente como o faça,
aptenila l.unbém, e com especial cuidado, a lem brar-se de sua
piõpiia juventude. Quanto mais intensamente você possa olhar
puni tia;,, para ôsses trechos que parecem agora tão distantes,
em faia vida, tanto mais entenderá a juventude. Muitos dos
nu .ii. , 1111e menos êxito logram no seu trabalho são, em geral,
I ii ii i imifi i ‘ m u lh e r e s q u o , na época e m <)iie d e v ia m ser rnpa/.es
ti n u m .i ,, já tin lia m u m nr de p r e m a tu r a s u le n id a d e e a fe ta ç ã o ,
14
distante da infância; estudavam àrduamente e só de raro cm
raro tom avam parte em brinquedos arriscados, mas inocentes;
Coram muitas vêzes, também, filhos mimados. Freqüentem ente
ter-se-iam alegrado, não como rapazes entre rapazes, ou moças
entre moças; e, sim, quando assumiam um papel de autoridade
e mostravam onisciência, tal como viam em seu próprio pro
fessor. Tais jovens alcançavam boas notas, e esquivavam -se de
penetrar no mundo real, cheio de rudezas, em que o transcurso
da vida é penosa competição. Tom aram por fim, a profissão de
ensino como carreira; surpreenderam-se depois ao verificar
que não gostavam muito dela. Certas vêzes, porém, a jovens
brilhantes e esforçados, que muito retratam dêles mesmos,
êsses m estres são extrem am ente úteis. Projetam nesses alunos
tôdas as suas ambições, treinando-os para excelente trabalho
escolar e êxito nos mais difíceis exames. Raram ente, porém,
são úteis para o comum dos alunos, isto é, para o estudante
médio, simplesmente porque nunca foram jovens, nem do tipo
comum.
O professor deve, portanto, conhecer os jovens como êles são.
Primeiramente, deve fixar o nome e a fisionomia de cada um.
Certos m estres acham isso fácil, e outros, difícil; mas a verdade
é que devem fazê-lo. D e minha parte faço-o tão m al que não
posso ensinar como seria necessário. Ainda assim reconheço
que essa prática deve ser seguida. U m dos mais graves erros
cometidos por A . E. Housman, quando professor na U niversi
dade de Londres, foi o de revelar a inabilidade que tinha em
reconhecer seus discípulos. A s moças o detestavam, especial
mente porque êle punha certa m alícia pessoal quando corrigia
os seus disparates, e porque, quando por elas passava, no dia
seguinte, não as reconhecia. Em seu discurso de despedida,
antes de partir para Cambridge, disse-lhes que lam entava dei
xá-las, mas acrescentou: “ Se eu tivesse feito esforço para
Icinbrar-me da fisionomia de cada uma de vocês, poderia es-
quecer-me de coisas muito mais im portantes” , querendo dizer
com isso que, se êle tivesse atulhado a m emória com a distinção
entre a senhorita T al e a senhorita Qual, poderia ter esquecido
a:; diferenças entre a segunda e a quarta declinaçâo. Pode-se
i n ia i■
iua r como essa falsa humildade e pedantesca arrogância
foi recebida pelas jovens, assim tratadas com sarcasmo. Havia,
e claro, certa porção de verdade no que êle afirm ava. Queria
dizer que teria de despender mais tempo e energia se acaso
qulse.Nüe aprender o nome dos alunos; mas admitia que êsse
U
. i « i a dispensável, e não, realm ente, um a parte de seu
m iití»1, h! ính(i <■ ;;l ava errado uma vez que recebia sua paga para
ensinm Aqurles aJunos, e não a outros. Os jovens lutam deses-
t- I ■i .in. iiic- para tornar-se pessoas reais, para serem indiví
duo s .li .1 mio.; Se você deseja influir nêles, de qualquer modo,
tim e i-onie^nr por conhecê-los como pessoas. E o primeiro passo
paru i •> e fixar-lhes a fisionom ia e os nomes.
T.iivex ache o professor que seja difícil tratar a cada um dos
aluno,s como pessoas distintas. Diga-se mesmo que se isso fôsse
p" • i' el, nem sempre seria m uito prudente, pois significaria
i|iu o problema de cada rapaz ou de cada moça teria de ser
1raiado como se fôsse o único e o mais absorvente. Seria muito
dllieil :;e não exaustivo para o professor, consumindo-lhe muito
•i<■proveito de sua experiência. A arte de ensinar, como a arte
de <ur. ir, consiste em reconhecer, parcialmente, dentro de cada
indivíduo um tipo particular, ou uma combinação especial de
típos. Chamado para ver um doente, um médico não tenta agir
mi. ii Imente fora dos pontos característicos da individualidade
dôssü doente; mas o fato de que êle seja mação, que já se tenha
rasado duas vêzes, goste do jôgo de xadrez ou de caçadas, não
d e v e interessar muito. D e modo contrário ao dos romancistas
mudemos, como Joyce e Proust, que se esforçam em fix a r cada
pequenina circunstância ou cada lembrança, que influa num
ps’ii,sarnento ou altere uma decisão, o que o médico v ê não é
realm ente Leopoldo Bloom, ou M onsieur Bergotte (*), mas um
$§■§ de pneumonia instalado na véspera, em um homem de
vinte c cinco anos, com o coração resistente e boa pressão
tnguínea, mas, baixo metabolismo e antecedentes de infecção
!■ pn .ilória. Na combinação dêsses fatores é que reside o pro
blema a ser atacado. Se o paciente também possui outros atri
bulo:. individuais relevantes — se, por exem plo, é membro da
igreja “ Ciência C ristã” , razão pela qual acredita que a pneu
monia :;eja uma ilusão m ental — então, tam bém deverá levar
ííího em conta. Mas o êxito do tratam ento dependerá da pene
isnajao com que o médico possa encarar o caso dêsse indivíduo
em particular, dentro das boas regras de generalização.
.Semelhantemente, o m elhor meio de conhecer os alunos é
dividi Io,; e m grupos, segundo seus tipos. É uma capacidade que
o pi ol e : , . nr :;ó adquirirá pela experiência. No início da carreira,
(.. o Mia que todos os alunos são absolutamente diferentes entre
• i l >• pui!,, observará que João é muito semelhante a Antônio,
i i J W it magens iio rem aneei dos Buimen cltadus, n #/«» 7\
e que Pedro e Luís reagem do mesmo modo em íace de ec-i I.»,-.
dificuldades, e mesmo que escrevem composições muito p aiv
cidas. Passados quatro ou cinco anos, notará em sua classe outro
Pedro — um jovem que tem a mesma aparência do antigo aluno
(exceto quanto ao fato de ter cabelos ruivos), que ri quando
ouve as mesmas espécies de anedotas, e traça as mesmas letras
grandes e quadradas... com a única diferença de que o último
tem um sobrenome diferente e veio de uma diferente região.
No ano seguinte, um outro Luís aparecerá. E assim se dará até
que o professor, se bem souber observar, haja composto, dentro
de dez ou quinze anos, uma pequena galeria de tipos. De form a
simples ou combinada, oitenta e cinco por cento dos casos, nas
classes comuns, entrarão nessa galeria.
É uma coisa complicada classificar os alunos por seus tipos
dominantes. A escala não deve ser por demais reduzida. Seria
totalm ente im possível assim proceder, numa ampla amostra da
humanidade. Por exemplo, no exército, onde se reúnem lav ra
dores robustos e rapazes franzinos da cidade, jovens prudentes
que vieram de pequenas vilas e outros com inesperadas e x
pressões de caráter, constituição e temperamento. Mas as es
colas e as universidades não funcionam no vazio. Cada uma
delas se liga a um conjunto de tradições, e é suprida, principal
mente, por alunos de uma dada região; tam bém as escolas, a
sociedade circunvizinha e a própria juventude esforçam-se
nesse sentido de homogeneização. Dêsse modo, um professor
geralm ente pode considerar como suficiente um a pequena v a
riação nos tipos e uma freqüência mais acentuada nalguns
dêles.
* *
*
67
de iu i Taylor, destinada à classificação fisiológica dos ho
mens mu ni,n:, r hígidos, Para os professores de rapazes e moças,
nm Kst tidos Unidos, existe, no entanto, uma valiosa contribui-
‘ 1 t ronsiderada, e que é a obra de W . H. Sheldon, intitu-
Iftii-i i- i nricdaães de temperamento.
I' • livro resultou de alguns anos de trabalho em Chicago,
.... I*' <) Professor Sheldon registrou medidas completas do fí-
s ii11 d.' muitos m ilhares de estudantes, procedendo depois a
fiuidadoso estudo do caráter e dos hábitos de duas centenas
ou seja de suas expressões psicológicas dominantes.
Pondo di? parte qualquer pressuposto (tanto quanto isso fôsse
p o s s í v e l ) e utilizando-se de critérios de classificação, segundo
nm juntos de atributos que, repetidamente, apareciam associa
dos, 11iincçou êle por achar que a m aioria dos jovens era
d...... por um de três elementos de sua constituição física.
■\!rmi:;, com tendência para engordar e fisicam ente preguiço-
“ , seriam governados por seu estômago e intestinos. A êsses,
• Ii.Hikiii de viscerotônicos, porque o tono de sua vida residia
nas vísceras. Outros jovens eram musculosos, tinham espáduas
lirgHH c quadris estreitos, m anifestando energia quase inexau-
iiv rl, voz grave e gestos agressivos. A êsses, chamou de soma-
totómeos, não muito apropriadamente talvez, porque soma, em
gi (■ },;<>, significa todo o corpo. Essa palavra, aliás, é utilizada
pelo próprio Professor Sheldon muitas vêzes, nesse sentido
Intui. A terceira classe êle a constituiu com os jovens delgados,
ii »t«-11)■ <*i ites, muito sensíveis, os quais pareciam ser principal-
IHtnte governados pelo cérebro, ou afinal, pelo sistema ner-
vii o. A êsses chamou de cerebrotônicos. Posteriorm ente achou
nur êsses tipos físicos correspondiam muito pròxim am ente a
11. tipos principais de temperamento: homens delicados, que
. ,a. in homens enérgicos, que agem violentam ente; e homens
nervosos, que observam e pensam.
M uitos dos indivíduos observados por Sheldon não perten-
• i.iin, porem, ;i nenhum dêsses três tipos. Não basta, pois, para
li pit si iil.u tôda a com plexidade dos sêres humanos, um es-
qiifiiui assim simplificado. Existem m isturas mais ou menos
. m11plr ,is. Al/1,uns são gordos e gostam de comer, mas também
ilfioonstriim boa porção de energia somatotônica. (Êsses são
uiiiit misiura dos dois primeiros tipos). Outros semelham atletas
p.H ii.i miisculiiLuru desenvolvida, mas possuem certas reações
iip í vnfii»,-! l apidas, gâo p o u c o l e s i s t e n t t s s a dor, s u s c e t í v e i s a e n
xaqueca e têm pouca pilosidade no corpo. (Êsses representam
uma combinação do segundo e terceiro grupo). P ara cada uma
dessas três constituições básicas, Sheldon atribuiu uma escala
numérica, de um a sete. Um jovem classificado com grau sete
em uma das categorias, possuirá o número m áxim o de atributos
que a caracterizem . O outro extrem o da escala seria um. Por
exemplo, o caso de um rapaz extrem am ente magro e nervoso:
terá sete como cerebrotônico, mas o grau um, provàvelm ente,
como viscerotônico.
Dado que cada indivíduo participa, em certa medida, dos
atributos dominantes nos três tipos (capacidade nervosa, al
guma m usculatura e poder digestivo) Sheldon propõe que cada
pessoa seja classificada por um a expressão de três algarismos,
os quais darão a proporção dos diferentes conjuntos de caracte
res, que compõem o temperamento. Um homem perfeitam ente
equilibrado com uma constituição muito perfeita seria 4-4-4.
Um homem gordo, com o mínimo de atividade m uscular e
nervosa e o m áxim o poder das vísceras, alguém que fôsse
parecido com o Imperador Vitélio, seria 7- 1- 1. Um lutador pro-
l i ional, de tipo extrem am ente violento e vigoroso, seria 1-7- 1.
' i i lelgadíssimo e nervosíssimo homem, que cada um de nós
• •■[11u'ce, aquêle que emenda um cigarro no outro, tem uma
Iflise impertinente e o dom de im provisar ao piano, seria 1- 1- 7.
( )b atletas gigantes, que comem como elefantes e lutam como
i ii.i:. combinando assim as mais altas expressões do tipo
muM iilar com as do tipo digestivo, manifestando por outro lado
n miuinio de sensibilidade nervosa, seriam 7-7- 1. A s mais dis-
. utidiifj e (-(implicadas figuras da história, como Henrique VIII,
evidentemente teriam uma alta graduação em cada categoria,
iurjireeiuIeiHlo-nos como uma form a como esta: 6- 7- 6. M as essas
fjjjut Hfí . an muitíssimo raras.
Mlicliidii começou por m edir os seus estudantes e form ar com
• 1» um índice das formas do corpo. Tentou então estabelecer
• >-f i < I ...... . e n t r e essas disposições físicas e os grupos de atri-
i■ piiuulógieos. E chegou à conclusão de que essas correla-
yftes r * e nüq claras e iniludíveis, nos casos extremos,
fp te r iíi fàflÜmente di/.er que o jovem gordo e voraz seria
jmuiiíoso no .eu comportamento, e que apreciaria a vida
liiiiiiBstii s, inclinado ,i fumar grandes charutos ou pesados ca-
, t«ii<11•<. . o-, .onmtütôniços, ou homens musculosos, exigen-
\%a t ii *i! ‘1* «ni d c. dc:,cju(s, sao propensos a sofrer acidentes
m u i-timftt*i* crimes violentos; que o cerebrotônico estaria pre-
dií ]m i.. a ansiedade, teria sensibilidade para a música e a arte
n u geral, mau sono e sonhos constantes, suportando m al a
uitinu, Assim era Sherlock Holmes. Segundo os dados do
! ’« -i * "i Sheldon os admiradores de Sherlock achariam fácil
>11 «i q u e êle era um cerebrotônico. Sherlock podia tomar
sedativos e tocar violino, mas possivelm ente não poderia fum ar
tabaco escuro num velho cachimbo de louça esmaltada. O v e r
d a d e ir o fum ante dêsse cachimbo era Watson, o somatotônico
jogador de futebol, uma projeção de Conan Doyle, o enérgico
r ria dor de seu antípoda psicológico, Sherlock Holmes.
As combinações dessas disposições são menos fáceis de reco
nhecer que os casos extrem os; mas elas existem e podem ser
«tu relacionadas com a aparência física. P ara o m estre é gran-
<U-mente útil saber o que o discípulo não possa fazer e o que
d e l e não deva ser esperado senão por m otivos muito especiais;
rumo será ú til conhecer tam bém aquilo para o qual êle esteja
disposto e aquilo que êle creia que lhe seja particularm ente
importante. Onde o sistema de Sheldon m e parece mais fraco,
francamente, é em sua rigidez. Êle parece acreditar que cada
rapa/, tenha nascido com as suas predisposições e que nunca
as possa alterar. Nada ou pouco diz dos efeitos da m udança do
ambiente, da alimentação e dos hábitos sôbre cada um daqueles
grupos de atributos. Não obstante, muitos professores sabem,
por sua própria experiência, que um rapaz que era magro, ner
voso c hipersensitivo, e por muitos aspectos cerebrotônico en-
1pianto v iv ia em seu lar, m uitas vêzes passa á ser resistente,
enérgico, musculoso e somatotônico, depois de viv er dois anos
entre outros jovens. Todos temos visto mudanças similares que
ororrrin da juventude para a idade madura: o atleta de ilhargas
enxutas e peito quadrado e forte, muitas vêzes incha e relaxa
d perfil, tornando-se um fardo bem provido de intestinos, en-
: nl\ iilci,. numa boa camada de gordura. E o Professor Sheldon,
. I. próprio, se bem que não haja discutido o sexo feminino, em
l 'a r t i c u l a r , já terá observado mudanças similares em muitas
mulheres. Kle chama de tipo P P J, o “pícnico” , ou o “ corpo
pt ,ado", para usar de uma expressão mais simples. Quando
uma jo v e m tem dezoito anos, é esbelta, de olhos azuis e loura,
i l u a n l e de energia, cheia de graça, sempre capaz de participar
de uma nova brincadeira ou de esforçar-se para vencer no
l ' i i l i e 1'nssm muitos admiradores e, afinal concede a preferência
fHl
a um dêles. Cinco anos depois do casamento, tem três filhos,
três papadas e pesa oitenta quilos (*).
A despeito de sua rigidez, o sistema de classificação de Sh el
don oferece valioso auxílio ao professor. Certam ente alguma
espécie de classificação será sempre necessária. O professor
prudente porá mãos à obra com o m elhor empenho em observar
os traços mais comuns, os que revelam os caracteres, e pro
curará semelhanças ocultas de personalidade, mesmo entre os
alunos que inicialm ente pareçam m uito diferentes uns dos
outros; para com provar essas impressões comparará os seus
primeiros registros com os últimos, observando como os alunos
possam variar, e se possível ainda depois que hajam deixado
a escola.
01
milheiro (it> alunos comuns. M as o perigo das classificações é
que 1 i • lalham em preparar você para os excêntricos. Êles
j 11u|í*tn nu>:jmo nos levar à confusão, pelo fato de que, se não
■ ibem ' in uma das categorias adotadas, concluiremos que
realmente não existam. Pelo contrário, êles existem, e atuam
mai:: intensamente que os seus colegas.
• 'nmo os excêntricos têm, todos, feição muito peculiar, será
«lificil oferecer qualquer regra geral para cuidar dêles. Con-
tuilo, algumas sugestões aqui poderão ser apresentadas.
Km primeiro lugar, admita sempre que um ou dois de seus
alunos sejam excêntricos, mesmo que assim não se mostrem a
I «i 11icípio. Nunca admita que você se esteja dirigindo a grupos
tio tipos todos definidos. A qu ela mocinha calma, de cabelos
louros e atraente sorriso, pode transform ar-se num a crítica
Ivtw,, capaz de lançar um bote, como uma cascavel. O jovem
gorducho e míope, que parece sonolento e aborrecido, pode
estar analisando e memorizando cada um a de suas palavras, na
esperança de provar um dia que você é ateu, fascista, comunis
ta ou outra coisa qualquer. O mancebo atento, com a cara cheia
de espinhas, e que tudo anota vagarosamente, pode estar três
ou quatro anos adiante de todos os seus colegas. Observe-os
todos. Os sêres humanos são infinitam ente complexos.
1 'ortanto, desde que você tenha descoberto os excêntricos,
trate-os com extrem o cuidado. São m isturas explosivas. Alguns
dêles são tão sensíveis como certos fulm inatos que podem de-
lonar pelo efeito da queda de um a fôlha. Outros são providos
(|t um estopim para explosão retardada. Você certam ente
não deverá neutralizá-los. Mas tentará em pregar tôdas aque
la •: fôrças numa direção útil — para economizá-las e dirigi-las
no invés de perm itir que arrebentem em pedacinhos, levando
tilv e z com êles a sua mão ou o seu braço.
São, enfim, estudantes que você deve reconhecer como in-
ilividuos. Será preciso m anejá-los como certos ingredientes de
eompostos instáveis: a tentativa de analisá-los pode, por si
ni.' iii.i, provocar uma explosão. Mas valerá a pena assumir
e.v.e risco, porque a investigação, algumas vêzes, tam bém po-
• Iciã aliviar tensões perigosas.
Km todos os seus contatos com êsses excêntricos, pese os atos
i' a . palavras, com especial cuidado. Torne-os claros. Torne-os
inci|tiivoeo;:. Tanto quanto seja possível, documente-se. Os ox-
i ciilricoM inventam uma porção de coisas, o alguns deles são
I íiia n ó le o s U m a p a la v r a tjue voce d ig a a o acaso p o tle ra p e n e
IIlí
trar no âmago do espírito de um aluno excêntrico, vindo a
alterar tôda a sua vida, numa direção inesperada. Um meu
colega (e, aliás, não muito excêntrico) até agora é forçado a
reprim ir dúvidas e angústias sempre que começa a redigir um
novo livro, ou a organizar um novo curso, mesmo quando se
trate de assuntos em que se especializou e nos quais é reco
nhecida autoridade; e isso porque, quando estudante, atreveu-
se a perguntar a um professor qual era a idéia que tinha de
suas capacidades. A resposta foi essa: “ Os seus alicerces têm
areia” . O meu amigo agora sabe que sempre existe alguma
areia, ou barro, nos alicerces de cada espírito, e que aquêle seu
crítico estava mesmo convicto de suas fraquezas. Não obstante,
a antiga decepção o perturba; por algum tempo, quase o arrui
nou. E, ainda agora, indaga se não terá sido essa a intenção do
professor.
Por vêzes, podemos fazer um a grosseira divisão dos alunos
excêntricos em dois grupos: os fracos, que carecem de estímulo;
e os impetuosos, que necessitam de direção. Am bos êsses grupos
precisam de grande quantidade de alimento espiritual a ser
proporcionado pelo mestre. M as os medrosos devem recebê-lo
•*in pequeninas doses, misturadas com m el e sorvete, sorrisos
■ demonstrações de simpatia, ao passo que os outros viverão
h queixar-se de que você não lhes dá rações suficientes. A cada
instante, e sempre, se você fôr tão bom como enérgico, dará ao
aluno tudo quanto possa dar e êle possa absorver; e não se
id m lre do que reclam e por mais, dizendo que não lhe dão o
ii-iilr para nutrir e exercitar os ilimitados poderes que
• iii. organizarem-se dentro de si. E, então, você se lastimará,
se ichno não cultivou o seu espírito e não chegou a situá-lo tão
Unplftnumle como seria possível dentro de sua própria disci-
plina, c. ;;r, enfim, parou nos estreitos limites dos programas
do eir iihi t; um crime m atar à fome um talento que se desen-
<>!vr IVI,i:, muitos professores, mesmo que não seja por pre-
ífiilni, <■ (iiiu*lem esse crime, todos os anos.
* !g e M i-ntricos mais difíceis são os paranóicos, jovens silen-
t iiMih- i mu munia de perseguição, m ulheres de lábios contraídos,
fu ja mentí? é tm balhada por centenas de fôrças em forte con-
flliu n 1111f ,i jH.cin em constante ebulição. Essas pessoas podem
mu sh jit iiguhüN Quase todos os sacerdotes e muitos médicos
giifiptn |>i*i i im ,)! del as. Muitos sacerdotes já se acostumaram
iuiii i.li ia i Ir (d .i-mpre, em se li grupo de fiéis, duas OU três
HHÜÍiÉMÊê 111isiiciitiii111■ ;. a-, i|naÍM os observam com uma ardente
ss
><* "• mas lorcem suas palavras e atos com uma engenhosi-
■ l *•l* '!*- aranhas. Muitos médicos têm tido a sua clínica preju-
tlita.L) ]>■>i um neurótico que entendeu que suas queixas não
1'mi'mIh-i am a atenção merecida, pelo que saíram a proclam ar
t|U§ . ..c- doutor era um charlatão homicida. Aqui, como em
outros casos, o ensino pode tocar as bordas da psiquiatria.
I'ara Iratar dêles, há um a regra soberana. Mantenha as re-
taçor:; num tom impessoal. Jamais ultrapasse os lim ites de sua
pi ol'i,;:;úo. Se êles pedirem entrevistas particulares, a fim de
■ |ii< possam “realm ente falar-lhe de seus problem as” — cuida
do! IV!arque-lhes um encontro em seu gabinete numa hora certa
t por prazo fixado; tome apontamentos; deixe a porta aberta
......... .se você estivesse esperando alguém naqueles próximos
de - minutos. Se se exaltarem ou se tornarem inflamados, tome
a atitude de um administrador frio e sêco, que tenha um pre
c e d e n t e razoável para explicar tudo quanto faça. Contenha
<|ualquer gesto dramático.
Uma vez, um de meus colegas teve uma estudante, já gra
d ua d a , que o procurou em seu gabinete, ameaçando atirar-se
pel a janela, a não ser que êle mudasse a sua nota de simples-
mc/f/<>, “ao menos para p le n a m e n t e Perguntei-lhe o que havia
foiIo. E êle assim respondeu: “ Eu abri a janela. E ela não se
at irou” .
Mas êsse professor correu enorme risco. Êle estava jogando a
vídii dessa m ulher contra a sua tranqüilidade, para não dizer já
n sua própria carreira no magistério. M uitas vêzes tenho re
fl et i do nesse caso, e o único meio pelo qual posso explicá-lo
â o seguinte: êsse m eu colega era um calmo e teimoso filho da
Nova Inglaterra; sabia que tal gesto, desde que partisse dêle,
p ode r i a reconduzir a aluna ao bom senso. Se tivesse partido
de out r a pessoa qualquer, talvez significasse uma provocação
pei igosa, senão fatal.
A l u n o s dêsse tipo não são tão raros como se possa pensar; e
m c . m o alguns absolutamente normais, movidos por impulsos
i ontradilórios, podem comportar-se de modo muito estranho,
i|neik ando-se, tornando-se violentos e assustando-se com a pró-
pi ia sombra. No entanto, em cada seis dêsses casos, aparece
u m de aluno realm ente brilhante. Nesse caso, o rapaz, ou a
m o ç a s e r á difícil de guiar, mas os esforços que você faça
podei Io compensar. O ferecer oportunidades para adequado
dr- . i i v o l v m i e n l o do s a l u n o s é u m a das principais funções para
.i ijumíh o p r o f e s s o r d e v e e s t ar preparado; as s u g e s t õ e s eou
ai
venientes, na hipótese, resultam de todo o conjunto dêste livro,
mas certas idéias gerais podem ser aqui explicitam ente for
muladas. '
De tôdas, a mais im portante tem uma form a negativa. Não
tente fazer do aluno brilhante uma imitação de você mesmo.
Em primeiro lugar, isso seria impossível, porque os indivíduos
diferem muito entre si, e os mais brilhantes, ainda mais. E,
mesmo que isso fôsse possível, seria inepto: porque m uito da
energia criadora de cada pessoa flu i do conhecimento de sua
própria peculiaridade ou originalidade; quem quer que preten
da im itar outra personalidade, normalm ente despende o resto
<l<> sua vida, tanto no esforço de conform ar os seus impulsos
espontâneos e criadores quanto no de rebelar-se contra essa
Iriste form a de compulsão, que consiste em dizer: “Eu não
posso cuidar do que faço, apenas tenho de contrariar tudo
i|uanto não represente X .” (Em lugar de X , leia-se “meu pai” ,
"minha m ãe”, ou “meu professor” ).
I ’or outro lado, não hesite em desenvolver as capacidades dos
alunos, para o que terá tam bém de comunicar-lhes a sua pró
pria experiência. M uitos professores se esquecem de como é
valiosa. a leitura am pla e a experiência acum ulada de um
liomoni qu de uma m ulher, e que podem ser da maior utilidade
ê» um aluno que ainda está tateando, sem auxílio, entre coisas
n io experimentadas, e livros que não leu. Se você puder en-
f àihiluli.i Io nesse mundo, dando-lhe pontos de referência que o
m ii nh m, e indicações de modos de trabalhar que êle não pode
ohtPi s. ii.io de você, então estará dando a êsse jovem muito
maln tlu que êle próprio desejaria, fazendo jus à sua perene
gt athlfto.
I >< i!h- portanto, muito trabalho e muitos m otivos para refle-
£tn Se v o c ê estiver certo de que o aluno é brilhante, e de que
sua upii r boa, amontoe tanto trabalho diante dêle quanto
possa suportar. Mesmo que não o realize todo, ficará sabendo
que i . Ii.ili.illio existe e que algum dia poderá ser feito,
iittii.ís ,|*< llie haver pedido que leia Rousseau (mesmo que
' ^ Í ttfiu ■ ■• euha a saber), êle comprará de segunda mão um
pM# ■i.. <'untruto Social, e escreverá um lem brete assim:
f Í,Bi Ijt.uiaenu ivíía semana” . E lerá, primeiramente como num
Mib!yuihu p»p<-i iniontal, mas depois, arrojando-se cm saltos
jiiáiiiiBg In ii não só aquéle livro como também as Confissões,
h Nu mi MtUiimi o o Emílio.
Sn itvi-i bastante trabalho a fazer e a saúde se conservar
firmo, d único perigo para êle será que dissipe tôda a sua
i'in'1 r.i.i nisso. Êle se habilitará a investir contra tudo, saltando
ííbstÁrulo;;, subindo a elevações, correndo ao longo de todos os
■ >!> -:. disso não retirando senão um sentimento de cansaço e
di lilusao. Num dos romances de Thomas W olfe, encontra-se
um expressivo retrato do que êle deveria ter sido quando se
m atriculou na U niversidade de H arvard. Faminto por longos
..... . passou a ter um apetite intelectual verdadeiram ente ex-
11 iiorc linário: um Gargântua. Habituou-se a freqüentar a imensa
I>11>Iioteca da Universidade, à noite,
07
mente» i Hitros você deve conhecer a fim de tirar dêles o má-
IMüin, ilitiido lhes também o m áximo. Os alunos restantes, os
tlIu ian tcB comuns, você não precisará de conhecer tão profun-
iim in t e , como individualidades distintas.
Mas para concluir — jam ais deixe sentir a êstes últimos
que üíin alunos comuns. Seria inteiram ente errado. Se lhe pedi
rem conselhos pessoais é de seu dever dá-los com franqueza e
i' i ■.1 Se tiverem inclinações especiais, ouvi-los falar delas
lhes dará alegria. Não deve você, no entanto, sentir-se obrigado
ao conhecimento de cada um dêsses alunos típicos, em parti
cular, como deve fazê-lo a respeito dos excepcionais, de que
. tivemos tratando. Os jovens médios, mais fácilm ente educá-
v<■ i:; numa classe, e mais cordiais que os outros, não necessitam
de atenção tão acurada.
* *
*
M
M uitas pessoas, como é sabido, cessam de desenvolver-se entre
os trinta e os quarenta anos. Êles “ ancoram” , palavra essa que
significa estagnação; ou, quando muito, “costeiam” , aprovei
tando o impulso adquirido, mas não mais aplicando energias
novas; assim, gradualm ente arrefecem e param. Nenhum pro
fessor pode pensar em proceder dêsse modo. Sua tarefa é com
preender o grande e im portante domínio das atividades e reali
zações do mundo, a fim de torná-las acessíveis aos jovens. À
medida que os anos passam, êle deve compreendê-las mais a
fundo, e melhor.
O professor cumpre duas funções especiais, que o distinguem
dos profissionais de outras carreiras liberais, e, bem assim, dos
homens de negócios e trabalhadores manuais.
A prim eira dessas funções é estabelecer uma ponte, ou se
gura ligação, entre a escola e o mundo. P ara os jovens, é real
mente penoso compreender por que devam estar silenciosos nas
,salas de aula, ou aprender coisas como a trigonom etria —
enquanto lá fora, no mundo real, há vida e movimento, e dêle
vêm ruídos e vozes, que atravessam as janelas. Os alunos se
..ubmetem, coitados; mas é intensa a energia necessária para
1111<* assim se conservem. Se lhe perm itirmos pensar que a
encnl.i, ou a universidade, é um a engenhosa prisão, ou uma
Kítiol.i, dentro da qual devem agitar-se por vários anos, até que
os hoItomos, muito pouco aproveitarão do ensino, ou nada. E
ter Ao amargo ressentimento disso. Não poderão compreender,
<íí< inim a direta e clara, como é que a trigonom etria pode
o|it .lar :,(• à sua vida futura: em parte, porque ninguém real-
miüilt- 11 m• qual dêles virá a ser engenheiro, ou se terá a sorte
de >. ali ai <|ualquer nova e inesperada descoberta na balística;
em p ailr. porque êles mesmos, na adolescência e juventude,
| | n ehsgam a compreender o valor do pensamento matemático;
<Iam U m , cm parte, porque não podem prever nem mesmo as
> i. linha;; de sua vida de adultos. Mas podem ser levados
a ......... i *-! n l< i , <■por vários modos, que os dois mundos estão
p t fc it íl ■ ní>c<>;;;;àriamente ligados entre si, e que a luz e a
p teigia, ;:<• r n a m num dêles, fluem para o outro, inces-
sifítsiriÉiitf,
Muitas ■ • imagina-se que isso se torne mais compreensí-
VbI au» tiinnii, "fazendo das disciplinas coisas de aplicação
mmc iti.il r íla época de Hitler, muitos jovens alemães foram
{ieiiia.1 na #m niatcniát ich, mediante problemas que indagavam
■í > ‘jUH111ii|idf'< de MKphmivo necessária para demolir viadutos,
I«*i rtMln (|ue não alemães. A lguns professores de inglês em-
i"• ■ : ",i revistas de tipo popular, como o Time, para exem pli-
i U n. to do estilo vivo e conciso. É certo que todos os professores
d8 iini.i língua estrangeira deveriam utilizar jornais e filmes,
puni ir.-, idos nesse idioma. Mas êsse recurso não pode ser apli-
inlo ;i tôdas as disciplinas, nem a alguns dos mais importantes
■ m io s ; e em outras, muitas vêzes conduz à superficialidade
< l ..iixos padrões de pensamento.
< > melhor meio de interessar será o de o professor m ostrar
«mtusiasmo por seu trabalho. Os alunos aprendem mais em
n-rlas disciplinas difíceis (em nove casos sôbre dez) quando
f inlam que a vitalidade e a energia do professor atestam o
valor da disciplina, mais que o próprio conteúdo da lição. Ao
jul/iar o seu professor de história m edieval, um jovem pode
‘ "iicluir que êle é um extraordinário especialista nesse ramo
•li- (-studos, mas também um autêntico maçador; nesse caso,
<1.1 levado a concluir tam bém que a história da Idade Média
fa z de qualquer homem um terrível amolante. Se, ao contrário,
iiclinr que êsse professor se interessa pelo mundo contem porâ
neo, e realm ente o conhece m elhor graças ao seu preparo es
pecializado, que a prática da vida intelectual, ao invés de
l nrná-lo vago e distante das coisas, deu-lhe maior sensatez e
■ r. ii rança, então, o jovem concluirá, sem maior dificuldade,
que o estudo da história m edieval exerce im portante e valiosa
função.
() bom professor é sempre uma personalidade interessante.
1 nino conseqüência, tornará o trabalho de seus alunos atraen
te, exatam ente na medida em que fale de m aneira agradável
e sm11>.i redigir. A maior parte do ensino dá-se pela conversação.
I}* você l iver o seu espírito dominado por um a v iv a consciência
das coisas do mundo, nunca deixará de aproveitar novos as-
|.. . l.is dêle em sua disciplina. Exem plos originais constante-
menie se apresentarão a você. Velhas fórm ulas de explicação
• i ,ii* substituídas por outras, mais claras. Alusões e reminis-
. eíM-sis iluminarão a sua conversa, afastando do auditório o
mifi imeiilo de já saberem, a cada instante, o que você terá a
11í,■ ei iKi instante seguinte. M uito do ensino consiste em expli-
i mi Nós explicam os o desconhecido pelo conhecido, e o inde
finido pelo definido. Geralm ente os estudantes sabem tão pouco
i|ite :,e deliciam em ouvir explicar o que você sabe, e em rela-
i anuo o h jieus conhecimentos com o que êles .se esforçam por
i uiupi eendei Um meu colega, em Paris, sentiu, certa vez,
grande dificuldade, quando tratava de Dom Quixote, em con
vencer a seus inteligentes alunos que o Q uixote não era sim
plesmente um velho farsante e lunático, que m erecia ser en
carcerado. Ocorreu-lhe, então, descrever uma tem porada de
corridas de touros, que êle havia visto em Sevilha; expor a
crueldade, as m anifestações de vaidade e de desperdiçada
coragem, que nas touradas aparecem sob a capa de uma arte;
e, também, a estranha form a das roupas do século X V I para
uma diversão de nosso século, num circo romano, o que, tudo,
não parece exótico aos espanhóis; e lembrou-lhes o orgulho
e o idealismo dos mesmos espanhóis tal como aparecem retra
tados nas tragédias de um grande m estre francês, Corneille.
Depois disso, seus alunos começaram a entender que os seus
próprios critérios, para julgam ento de todos os grandes livros
do mundo, não eram ainda suficientes; e que, afinal, a loucura
d<- Dom Q uixote bem poderia ser uma estranha espécie de bom
enso. A m atéria passou então a desenvolver-se em várias
direções, tôdas tão interessantes como instrutivas.
A segunda função do professor é também a de construir uma
ponte entre o mundo da juventude e o mundo dos adultos. Êle
Irni de interpretar a vida m adura para os jovens, e de tal form a
• Iin* os faça amadurecer. P ara isso, é evidente, o professor deve
pt-i loncer de algum a form a a êsses dois mundos.
:'.fi que muitos professores acham isso extrem am ente difícil.
Algun:; mestres, na Inglaterra, “vivem para a escola” . Dêsse
modo, o sou horizonte fica limitado, de um lado, pelos colégios
preparatórios, dos quais os jovens provêm, e de outro, pelas
uulvHi ■ ,idades para onde seguirão. Os grandes acontecimentos
■ ii 11,1 v i da :;ao as partidas desportivas da escola e os exam es
finai 1111«* nel a se realizam . T al como alguns oficiais do exér-
■Ito IngJeíi, (|ue poderão falar, horas seguidas, sôbre incidentes
da vida de :;eu regimento e das canções da tropa; mas ficarão
UlUitü im baraçados quando dêles se indague algum a coisa sôbre
novos livrou, ou acontecimentos da política contemporânea. No
outro < tieiuo. ;atuam-se os professores que nada sabem das
MftptMatira ', l. mon s (> alegrias da juventude; que nunca abri-
iam o J o i iiat-dnho da escola nem assistiram a um jôgo de
f u t e b o l dr n r, alunos; que sentem que é um a ofensa à sua
dignidadn |.fidf*r um dia entre crianças e adolescentes; e que
=fsi iam ii. 11 d uiineiite mais felizes, se todos os seus alunos
H* Básein t im(íieiita ano; e já mostrassem cabelos brancos nas
lÈmptHgB
íi
1‘m .liricil que seja a construção dessa ponte entre os dois
iim u iU ie la ó possível; ela é necessária; e é sempre construída
lielriH melhores professores. A fin al de contas, ninguém está
inttflra e cxclusivam ente nos seus trinta e três anos, ou nos
■i i' quarenta e oito, ou em outra qualquer idade cronológica.
<>|i;,ffve um grupo de pessoas que se divertem , animadas e
m iniwsadas no que fazem, e verá que parecem ter rejuvenes
ci' Io muitos anos. Dentro de cada um de nós, não muito abaixo
«I» ;;uperfície, estão escondidas várias personalidades, algumas
«In:; (|uais são tão jovens como as crianças, e um a só que é tão
. >lha como o somos hoje. O bom professor será capaz de in
fundir vitalidade e variedade aos mais jovens aspectos pessoais
qut> ainda vivam dentro dêle, e saberá que pode ser jovem
mitra vez, que pode ser um menino sem que cesse de ser
homem.
( )bservará e lem brará, por exem plo, não só as coisas que lhe
interessem como adulto, mas aquelas que costum avam interes-
r .ii lhe quando era jovem . Se o conseguir, e disso souber apro-
veitar-se para ilustrar o ensino, apresentando tais impressões
• Io ponto de vista do adulto, o seu trabalho se tornará mais
lacil o suas explicações mais claras. Os jovens não são pensa
dores muito profundos e coerentes; mas são altamente sensí-
vri:; às impressões novas: mais do que os adultos, são atraídos
por grotescas campanhas de publicidade, por pessoas excêntri-
< cm f notícias curiosas dos jornais. Não refletem muito sôbre
tais coisas; mas, como ainda não estão fatigados pelos prazeres
<’ nau possuem uma vida interior muito intensa, de tudo expe
rimentam com alegria. Em conseqüência, alusões a tais mo
tivos podem esclarecer assuntos difíceis. Na época em que
tgerovo êste livro, por exem plo, pode ser interessante, para
iilHncin, que se comece a explicação da velha palavra grega
"In ano” , lembrando o M arechal Tito. Ainda que a comparação
não iieja perfeita, talvez seja ilustrativa.
• *
•
1»
*aitan ' l<- um cavalo, dela arrancam carne viva, soltando gritos
de <i i i. m.10, até que o animal, desesperado, se atire por uma
iibatu i-ini abaixo.
1* i i •1111r., que sofreu muitas torturas em sua infância, teve
• •' Ii.ilamento, primeiro de seus tutores (veja Something of
Aí!/.< /(, cap. II), e depois do m estre que im ortalizou com o
iioini- dr “K in g ” (observe-se o pseudônimo autoritário) no
livm Stalky & Co. O que “K in g ” lhe fêz certam ente que
0 I Oii:;rrvou de espírito alerta; e êle diz que gostava dêle e que
m ' aproveitou de seu ensino; mas terá concorrido para aumentar
c11111«-1a timidez e hipersensibilidade que muito o prejudicou na
vida adulta, e que de alguma form a influiu para fazer da fôrça
do ridículo a sua arm a política (veja, por exem plo, L ittle Foxes,
i Ka&y as A B C , e The Village that Voted, the Earth was
Fiat); e, também, para dar-lhe confiança na fôrça da autori
dade <> um risonho desprêzo pelas castas fora da lei. Se êle
tlve.sse tido som ente um professor como o Lama, de K im , teria
■ado mais equilibrado, e m uito mais feliz. Mas uma parte do
le u espírito foi sacrificado por um m estre-escola que (como
outros também o fazem ), nêle percebeu o brilho intelectual, e
mm èsse brilho se ressentiu, por vê-lo num rapazinho desa-
jcilado, com grandes óculos. Êsse m estre deve ter-se sentido
Ki ande, ao fazer o jovem Rudyard K iplin g sentir-se pe
quenino (*).
N.io, o humor não deve ser usado para dominar a classe. E
1 ara mente é assim usado. Com m ais freqüência, são utilizados
a ironia e o sarcasmo, porque m ais fàcilm ente im plicam em
dominação intelectual; não o humor. O objeto real do humor
no ensino é mais sério e mais elevado. D eve ligar os alunos
ao*, mest ros, bem como os alunos entre si, através de momentos
d.- pi a/.rr. Um velho e prudente professor disse uma vez: “Eu
■on idem um dia de ensino perdido se não tiverm os tido, todos,
aluno;; e professor, um motivo para rir alegrem ente” . Êle queria
ili/ei que, quando pessoas riem juntam ente, cessam de ser
jovens e velhos, sejam mestre e alunos, trabalhadores e con-
11,inieslie, carcereiro e prisioneiros, porque todos formarão
um só grupo de sêres humanos a deliciar-se com a vida.
i-i iãiilvtird K IP I.IN G , romancista o poeta inglês, nascido om B om baim , cm 1865, fale
.... l u n d u s , etti l'Mf». Kducado na Inulatorru, voltou à tm liu, onde exerceu o jornalismo
e esí-jfeVfeu mimeHMtoN livros. V iajo u depois por todos os continentes, havendo entâo puldit ado
” i i -.Midras romance* e pupiua*, «te notével vigm e colorido de estilo. Q romance S f n l h y & («»..
,ita:l:: ».. I * I o , é de 1H99 A li^tua <lii m aaíio I.am a, depois referida, apatete no iiiiiia nie
Him editado em IUOI /V I
i
Jules Romains, o eminente novelista e dram aturgo francês,
começou sua carreira elaborando uma teoria, que aplicou em
várias de suas excelentes peças e contos. Essa idéia é a de que
um conjunto de pessoas permanece como um agregado de in
divíduos até que um simples fato, ou uma intenção, ou uma
emoção, a transform e num grupo. A partir dêsse instante, o
grupo vive, sente e pensa como uma unidade, superior em ener
gia e decisão a qualquer um de seus membros. Sem dúvida uma
emoção coletiva pode ser algumas vêzes deprim ente ou degra
dante, como ocorre em situações de tumulto, ou pânico. Mas,
como afirm a Romains, mais freqüentem ente é uma experiência
verdadeiram ente enobrecedora: é de nosso dever compreendê-
las, de modo conveniente, quando sobrevenham. Estar num
comício dominado por um orador vigoroso, que nos leve a tomar
uma generosa decisão; aplaudir com uma m ultidão de amigos,
num jôgo desportivo, o nosso clube, quando êle vença depois
do grande esforço; participar da emoção de atôres e dos demais
espectadores, no teatro, quando se represente uma nova e boa
I caminhar por uma cidade e nos sentirmos integrados em
Mi;l vida — são emoções nobres que nos ajudam a em ergir de
n o : ;:;:i insignificância.
Itomains dá a essa teoria o nome de Unanimismo. Evidente
mente, ela apresenta perigos. L eva com facilidade a anular o
Indivíduo como pessoa, a negar-lhe a inteligência, a fazê-lo
"pensar com o coração” , no equívoco de que a m aioria possa
• i u sempre certa. Sabendo que seria fácil aplicar mal a sua
iftiría, e <|ue nenhum artista em inente deve prender-se a uma
Sn »• ...... a teoria, Romains não se esforçou por explorá-la a
fundo Kla I ratisparece, no entanto, nos seus m elhores traba-
Sliuh, c liimbém nos de escritores jovens que a têm adotado.
U m 1,1. n 10 i k >;: de que Romains foi por certo tempo professor,
iiiiiiiM iM ol.i secundária da França. Uma de suas mais atraentes
|.m oti.ij c n .. uo livro Homens de Boa Vontade, é o m estre
• l -o, t. u .! •• outras, embora na form a de sacerdotes, médicos
,= lUtuies, .M' de fato professores. Ainda que tenha lançado a
jtiim&iiíi ehjii ,io do Unanimismo numa movimentada rua de
U o ís . f.... n m iti do que a extraiu de sua experiência como
aluno e tomo professor. Uma das maiores satisfações do ensino
á a dos momciilo , em que sentimos que cada um a de nossas
judia i ■ ()< t f.. i n.Io ouvida, não por um agregado de indivíduos
nlioi M . i.io . t constrangidos, mas por um grupo coeso, que
suiiiissmos 11 eu t- Miiii i* o qual influímos o que, por sua vez,
7ft
influi .-m nós; isso é bem diferente da tarefa de repetir fatos,
nomes ■ ■datas que se aprendem de cor, transmitidos num
ambiente sonolento a ouvidos insensíveis e a cadernos garatu-
jiáo s; estaremos então com o pensamento ativo para propor
t|iit*;.lnes e respondê-las; estaremos sendo conduzidos pela ener-
Hlfi <l.'i juventude em busca da Verdade e tentando, em seu
füvui', conduzir uma pesquisa que à Verdade nos leve; senti
remos, realm ente, que cada um de nós, tanto quanto a classe
<|Ue nos ouve e pensa, todos somos parte da incessante ativi
dade da Razão humana.
Nossos alunos tam bém o sentem. E, se êsse sentimento real
mente existir, êle nos compensa de tôdas as fadigas: criá-lo,
■Mi ajudá-lo a tornar-se uma realidade, é das mais importantes
l.nelas do mestre. Não poderá êle existir, porém, a menos que
haja uma relação de duplo movimento, um “ dar” e “receber” ,
alguma coisa como uma relação de unanimidade entre os alunos
0 o professor. Ora, um dos meios para que se estabeleça esta
relação é o humor. Quando numa classe o professor e os alunos
riem juntos, deixam por algum tempo de estar separados pela
individualidade de cada um, pela autoridade e a idade. Tor-
nain-se uma unidade, que sente viva satisfação em participar
de uma mesma experiência. Se êsse sentir comum puder ser
prolongado ou restabelecido, e, ademais, aplicado a tarefas do
pensamento, o professor terá tido perfeito êxito em seu trabalho.
Isso também pode ser pôsto em têrmos de psicologia tradi-
...... .. Há dois poderosos instintos em todos os sêres humanos,
que devem ser aproveitados no ensino: a tendência gregária e
a tendência de recreação. Dêmos a cinqüenta homens quatro
Iii'i as para que escalem um a colina e desçam o vale do outro
lado. na cidade mais próxima. Se experim entarem fazê-lo, se-
1 nu a<lamente uns dos outros, muitos ou quase todos se sentirão
extrem am ente fatigados. Se m archarem em grupo, sentirão
im iins cansaço e chegarão m ais depressa. Se form arem dois
KtTipos, um dos quais esteja competindo com o outro, e ani
mai cm a m archa com canções vivas, poucos sentirão fadiga,
>rn ira o juntos e terão m aior prazer na caminhada. Da mesma
turma, se tomarmos uma classe de trinta jovens e os fizermos
s e n t i r que estão todos trabalhando em comum, e se lhes dermos
m otivos para que sintam prazer nisso, trabalharão nove vêzes
m e l h o r do que outros trinta que cumpram a mesma tarefa sob
i o.u ao Um dos melhores recursos para juntar a tendência
gregária à de recreação é organizar as ocupações como se l«> •
sem jogos coletivos.
Já dissemos que uma das funções do professor é construir
uma ponte entre a juventude e a m aturidade. Se êle tiver senso
de humor poderá fàcilm ente construí-la. A juventude pensa
que os mais velhos são desanimados. Os m ais velhos acham <111<-
a juventude é estúpida. Essa é a raiz da desinteligência mútua
entre as duas idades, da qual decorre a idéia de que nada se
pode fazer com os moços senão por meios coercitivos. Um pro
fessor atilado, que em pregue o seu senso de humor mostrando
aos jovens que ninguém depois dos vinte e cinco anos já m or
reu, aprendera o suficiente sôbre os seus alunos para compre
ender que a aparente incapacidade dêles só resulta de inexpe
riência, fácil de caracterizar e desfazer. Am bos os lados passa
rão a entender-se melhor, se trabalharem juntos. O sentimento
de grupo, ou o espírito de corporação, é condição essencial ao
bom ensino.
V»
i 'mi! itlri cm se quantas espécies diferentes de resistências
tem <• professor de vencer. Em primeiro lugar, os jovens não
gostam de trabalhar. Preferem jogar futebol, ir ao cinema ou
çamei pipocas. Contudo, devem aprender a trabalhar porque
h ia,, icitam en te que trabalhar logo que saiam da escola, e por
(min u raato de sua vida. Ensinar-lhes que o trabalho é desne-
t *• - .ii 10, ou desprezível, será deform ar-lhes o caráter. (É curio
so, a i Io respeito, lem brar que a palavra “escola” significa
ou “diversão” . Quando essa palavra foi inventada m uita
g co ic admitiu que um rapaz seria mais feliz se estivesse na
■ , ,1.i, porque em caso contrário estaria varrendo a loja de seu
pai, (Mi ordenhando vacas; isso, sim, era “trabalho” ao passo
que ;i escola seria um “passatempo” ).
I >a mesma forma, os jovens não gostam da autoridade. De
ncu natural, são anarquistas. Preferem um mundo de desor-
*l**iii, ou de acontecimentos im previsíveis, nos quais não haja
(Irvores nem responsabilidades. Mas um mundo dêsse gênero
*■hojo impossível. Os jovens devem aprender a respeitar o prin-
• ipm de autoridade; e, se não o aprenderem na escola, apren
dei;»» mais tarde, e de modo m uito amargo. Um dos deveres
do professor, disso decorrente, é ensinar-lhes a distinguir entre
d d .ren tes formas de autoridade, e a saber escolher entre as
boas o as más. Som ente um professor resoluto poderá dar-lhes
m primeira lição. E, se fôr tão atilado como resoluto, poderá
emanar-lhes isso muito bem.
Ademais, os jovens detestam concentrar-se e refletir. P ara
He:; i;;:ío significa esforço, e esforço penoso, a que não estão
acostumados. O bserve um rapaz que faz os seus deveres em
ü lft, certo de que ninguém o esteja observando. Lê dez linhas;
(!( poc; desenha uma careta na m argem do livro; experim enta
1* i mai': dez linhas, mas desiste para assoviar uma canção em
Voga; a seguir, arrum a os livros na mesa e aponta todos os seus
Iã pi’i. d a um sôco no livro e lê mais vinte e cinco linhas; senta-
.» cntao, o suspira, e olha vagam ente por tudo, pelo menos por
11 f ■ . minutos, antes de recomeçar. Mesmo nos seus momentos
.1.- i.-al atenção, os jovens praticam muitas espécies de movi-
m.ail,,-: inúteis e extravagantes: batem os tacões dos sapatos,
11 icm a,; unhus, mudam de posição como se estivessem sentados
iitmm cadeira em brasa; freqüentem ente, abrem o rádio, no
iiuiioi volume. Todo êsse esforço significa que sentem dificulda
de t*m concentrar-se, e que a concentração lhes é tão penosa
§o
que será preciso m itigá-la por tôdas as formas. Na realidade,
pretendem evadir-se.
A inda assim aprendem. Um moço, na época em que deixa a
universidade, já será capaz de concentrar-se menos im perfeita
mente, e assim se conservará por prazo mais ou menos longo.
Se adota uma profissão liberal, terá que aum entar essa capaci
dade até que possa exercê-la de form a a reproduzir satisfato
riam ente cada uma das etapas de complexas operações; terá de
resumir, por exemplo, o essencial de seis importantes decisões
judiciárias, anotando-as tôdas, numa tarde. Se fôr trabalhar
noutros campos, logo que deixe a escola secundária, a vida lhe
ensinará a concentrar-se — ou fará dêle um elemento negativo,
aquela espécie de homens que passam de emprêgo a emprêgo,
(' fazem um contínuo esforço para conservar-se num mundo em
que as abelhas excedem de m uito o número das borboletas.
A concentração tem de ser aprendida, e deve ser aprendida
na escola. U m bom professor pode ensiná-la a seus alunos. Não
deverá ser im aginada como uma coisa que se exerça no vazio,
mas como esforço de vontade em coisas concretas. A concen
tração é tam bém um processo intelectual. É a capacidade de
encolher. Tomemos o mesmo rapaz que lê a sua lição displicen
temente, de má vontade, cinco linhas de cada vez, e aumente-
mo8 as exigências de seu estudo ou, de alguma forma, torne-
..... Ia;; mais claras, demonstrando a im portância do estudo bem
leito 1’onhamo-lo a trabalhar numa situação de competição, e,
rnlrto, observemos de perto. “Feche o rád io!” grita êle. Aí,
limpa a mesa, nela não deixando senão uma fotografia. Senta-se
flt ine, muna só posição, até ficar com cãibras. P or vêzes, quando
ftBtfijii realm ente decidido, passará sem comer e até se esque-
reiá iU dormir. Tudo isso porque escolheu um objetivo claro,
hiV ind o rejeitado todos os demais. E é isso, afinal, o que de
itifsliioi podemos ensinar aos jovens para que possam vencer
Ü9 11ifii uidadr:; da vida.
M u ito . jovens se rebelam porque pensam que queremos do-
p í n i i IhM o pensamento. R ejeitam sugestões, apenas para
IfílTOS» i u i própria independência, como um cavalo sacode a
||d|fga e dá i oÍren, quando lhe encurtamos a rédea. Na verdade,
ym h **j u11 íh .i. , útil método de ensino (de que iremos tratar
nmis la iiíei { I, i . ado na idéia de provocar a resistência dos
. s((idaiifÉ!f! is, f||<. me a um método de ensino individual, cha
mado í ia 111 k l -*I» 11 a, de tutorial, e, especialm ente usado nas
uni\ 11 iidaih , de O xford e Cumbridge, O çstudante escreve
Hi
é pííiu;3t
uma eomposícáo sôbre um assunto difícil e com plexo — por
• ••( mj*I<> a influência política da nobreza na Itália moderna, ou
a ii l a l u la i lo da percepção das côres — e depois a lê para o
seu Int.a ()utro estudante, que conheça algum a coisa do as-
Mlhfn, assiste à leitura. O tutor pode concordar, ou não, com
quase tudo quanto esteja no ensaio; mas é de seu dever redu-
1 11. * a cacos. Sem piedade, expõe todos os defeitos de constru-
..a.. Com corta crueza, indica os trechos que tenham sido co-
piado:; de livros e enciclopédias. Como um anatomista, disseca
. ada pagina, ou cada parágrafo. Algum as vêzes leva uma hora
iin ■i ilica de uma só sentença importante. Mas o estudante deve
ir .ponder a cada crítica tanto quanto possa, defendendo cada
Uma de suas afirmações; gradualmente, ao invés de adm itir
que o sou trabalho seja uma porção de fragm entos, se real
mente» tiver meditado no assunto, reconstruirá a sua argum en
tação, num ensaio então coerente e documentado. Desde que
assim o faça, o tutor se dará por satisfeito. Se não responder
a-, críticas, ou se a elas fugir, sem maior resistência, será julgado
man estudante; e, possivelmente, o seu tutor será tam bém um
mau professor.
É natural que os jovens resistam à dominação dos mais v e
lhos 10 6 bom que assim seja. Um dos objetivos do ensino é
provocar essa resistência, a fim de dirigi-la para os caminhos
certos. Mas, quando os jovens sejam sôfregos e teimosos, ou
quando a sua resistência seja particularm ente forte, os profes-
■•i. precisam de m uita fôrça de vontade para controlá-los e
leva los a compreender como bem hajam de utilizar o seu
espu ito de independência.
Ademais, nalguns países, em bora não em todos, os rapazes e
mo. as de nosso tempo oferecem oposição à idéia de estudo sério
e aprofundado. Acham que isso representa um a agressão à sua
p r ó p r i a integridade. Pensam que seus próprios dotes naturais
inlelijiència, coragem e vitalidade — podem levá-los tão lon-
u<- c o m o imaginam que possam ir. Acreditam que, não só é inútil
a j a e i k l e r uma porção de ninharias, dessas que vêm nos livros.
■o r n o i |ii e i s s o lhes é positivamente prejudicial — exatam ente
."m o aquêle velho cozinheiro de um quartel, que afirm ava:
‘ i o d a e s s a trapalhada de vitam inas só serve para enfraquecer
o . a y a m s m o ” , Êsse ponto de vista, nós o encontramos no centro
e, un i i e .,1e d o s Estados Unidos, na A ustrália e nalguns pontos do
i n t e i i o r d n Inglaterra, e certam ente que também noutros países,
f ia legious em que a tenacidade e a rudeza tenham especial
M
aprêço. É difícil ao educador lutar contra isso, como veremos
adiante. No entanto, desde já podemos apontar essa situação
como fonte geral de resistência ao trabalho do ensino.
P ara fazer face a tôdas essas resistências, quaisquer que
sejam, necessita o professor de vontade forte. Se quiser ser um
bom professor, deverá dominá-las e guiá-las, ao invés de sim
plesmente investir contra os alunos e altercar com êles; e, para
isso, precisará de uma vontade forte e de vontade também
amadurecida. A o lado dessas correntes definidas de resistência,
há sempre também, nas grandes escolas e nas universidades,
inesperadas ondas de revolta anarquistas, verdadeiram ente in
sensatas. Você já viu, alguma vez, três ou quatro rapazes que
arrebentam tudo, num a casa, transformando o ambiente como
se um regim ento de Cossacos tivesse passado por ali? E já notou
que, quando êsses rapazes são inquiridos, parecem inteiram ente
normais, e na verdade intimidados e assustados, como se êles
próprios temessem as fôrças que os agitaram? Pois bem, dá-se
exatam ente o mesmo numa classe, ou numa escola em conjunto,
quando chegue a desandar em fú ria selvagem — lembrando a
terrível confusão que ocorre nos fios de arame duma bobina,
qne esteja sendo enrolada numa máquina para isso apropriada,
• q n e , em certo instante, arrebente. De tudo, resultam incríveis
l<i.-juízos para os alunos, seus professores, as coisas m ateriais e
a Iores morais. Os professores experimentados perm item aos
tm-en;; um grande núm ero de oportunidades através das quais
essa energia possa aliviar a sua tensão. Pois aí está um a outra
fúrttl» <le boa aplicação do humor ao ensino: canalizar um
pouco da energia transbordante da juventude, a ser modelada
ifitre alegre;; risos. Mas isso exige dotes especiais do professor,
p líS que possa resistir aos constantes perigos do humor, ou a
Bontêr-lhf* 0:; excessos, quando chegue ao seu ponto crítico.
* *
❖
81
uhi li.r.li de Cerro em brasa ou armas de fogo. A s crianças,
íjHT fifitudiiin textos religiosos como o Alcorão e o Talmude,
1.......i*it- ficam aprisionados pelos exemplos de gerações e
gei iiçiii'-. que os antecederam nas mesmas idéias; e são também
' • pi< m•i*111:; pela própria ambição ou a de suas fam ílias. Os
llUlWf) das (\scolas públicas e de certas instituições, nas quais a
lis-<|ii>mil é uma obrigação da lei, conduzem-se dentro de um
í í i <11<> mecanismo disciplinar, mesmo que o m estre os deteste
■êle.s detestem o ensino que se lhes dê. Mas, em quase tôdas as
OUtrftH espécies de ensino, os alunos devem sentir que o pro-
ffHNor (|iier auxiliá-los, quer melhorá-los, está interessado por
• ii ilesenvolvimento, entristece-se com os seus erros e alegra-
íe <<>i11 o seu êxito, mostrando-se tolerante para com as fra-
que/as. Ê difícil aprender algum a coisa que valha a pena.
! 1111ms pessoas acham a aprendizagem penosa. Tôdas a acham
i 111 •■.11ite. Pois bem: poucas coisas minoram as dificuldades, o
sufi imento e a fadiga, como a bondade de um bom professor.
A bondade deve ser natural e espontânea. Alunos de tôdas
Hfi idades, desde criancinhas descuidadas até universitários que
■entreguem a árduos estudos, facilm ente sentem quando o
professor não gosta dêles, e tão fácilm ente como um cão per-
■>be quem tenha mêdo dêle. É inútil fingir simpatia pelos
alunos, se realm ente não a sentimos.
I’or outro lado, não é de modo nenhum necessário que a
demonstremos por pancadinhas nas costas, sinais constantes de
aprovação e sorriso incessante. Um professor circunspecto, que
i ni a;; vêzes se dirige a um aluno pelo nome, e tão-sòmente cuide
de expor os princípios básicos da ciência econômica ou de tor
nai claras as funções do Supremo Tribunal, poderá ser muitas
VêliB reconhecido como mestre sinceramente interessado pelo
11 abaIIio do ensino e o progresso de sua classe. Não será bas-
lanle que êle apenas se interesse pela matéria. Muitos homens
Interessam-se por uma m atéria, mas não a desejam ensinar a
ninguém. No entanto, se estiver realm ente interessado em tor-
iiiti a disciplina mais bem conhecida e mais corretamente en-
tendida, e se não pretender que todos os seus alunos a possam
m- .....I a . ainda nos seus rudimentos, logo à primeira tentativa,
■■au pela qual auxiliará os mais vagarosos e emendará os con-
lu .li,, então será considerado como bondoso, embora sua face
peiui.ineca sempre grave e seus gestos sejam frios, ou despro-
idi*: de Htaior emoção,
ié
Ainda assim, a bondade deve existir. Pode ser como a de
um irmão mais velho, mesmo a de um pai. Pode ser a bondade
de um companheiro de estudos. Algum as vêzes, é a simpatia
que provenha de compreensão patriótica pela qual o professor
sinta que está ajudando as gerações novas de seus concidadãos
a crescer e a prosperar. (Isto fundamenta, por exem plo o
adm irável plano de assimilação das massas analfabetas no
M éxico, onde cada cidadão deve ensinar a um de seus com
patriotas). Mas, se o professor não sentir nenhuma dessas emo
ções, nem nada que a elas se assemelhe, se olhar os estudantes
tão-sòmente como um m al necessário, da mesma form a que
olha aos form ulários do imposto sôbre a renda, nesse caso, o
seu trabalho será mais difícil, tanto quanto penoso êle será
para os alunos, e menos produtivo. Cada professor, é claro,
pode não gostar de alguns alunos — descaradas adolescentes
de lábios excessivam ente pintados, jovens de feição cafajeste,
•■omediantezinhos vulgares e pretensiosos, que se tornam des
prezíveis, porque tudo quanto fazem de mau é intencional!
Mas, se um professor não gosta de todos os seus alunos, a coisa
r muito séria: ou se esforçará por mudar, ou deverá trocar
dr profissão.
III
OS M ÉTOD OS DO P R O FE SSO R
a) A PREPARAÇÃO
M
“ tão dado a in sistir sôbre m in u dên cias d a gra m á tica qu e nossos olhos
se co n se rv av am sem pre presos à terra, p a ra só d ificilm e n te v islu m b ra r
q u alq u e r b e le za e sign ificação no que estávam o s fazen do. R eco rd o-m e,
p or exem p lo, de qu e d u ra n te o p rim eiro períod o do segun do ano, nós
lêram os, com o D r. D risler, a M edéia, de E u rípedes; m as quando find ou
0 p eríod o não h av íam o s trad u zid o senão 246 linhas. E m ou tros têrm os,
nun ca chegam os a saber o qu e fôsse a M edéia, n em a sign ificação
dêsse poem a, n em a q u alid ad e de sua a rte lite r á r ia ” .
81
mflhit o. i" .• mu templo ou um diálogo filosófico, um a ânfora
,.u imiM melodia.
■
• In duvida, D risler teria ficado surpreendido e aborrecido,
fe. u tlve.NNoin acusado de desconhecer muitos dos importantes
Viihimi a extrair do estudo da língua grega. Êle teria explicado
uni- .1 fl.i:;;:e não poderia ter lido nem mesmo as 246 linhas no
jiciindo letivo, se tivesse de dizer-lhe tudo quanto devesse. Se
mi afio sugeríssemos que tratasse da peça como um todo, dando
i i«ii;; alunos um resumo, e dizendo-lhes que esperava que
li !tuiii,i;;,sem até o fim do período, lendo e discutindo as mais
inijM.i tantes falas e todos os coros (num total de 246 linhas, se
necessário) e encorajando-os a ler o resto por si mesmos — êle
|ior certo tomaria essa idéia como uma perversão escandalosa
d.,., boas normas acadêmicas. Ou, quem sabe, acreditava que os
alunos realm ente pudessem ler tôda a peça, no período; e,
quando parava justam ente antes da linha 250, sacudia a cabeça,
HHüonibrado, por não ter podido, ainda dessa vez, ter chegado
mais adiante.
< professores de literatura são especialm ente propensos a
essa falha, porque de hábito amam tanto cada parte de sua
disciplina, que mais gostam de tratar de ponto por ponto, que
de facilitar a compreensão do conjunto. Êsse amor, em prin-
i ipio, não é um defeito, mas um a virtude. Um a classe sem
pre aprecia a m atéria pela qual o professor demonstre entu-
nifmmo. Algum as das melhores lições que já ouvi, foram mesmo
conversas sem preparo imediato, quando o professor pôs de lado
íis Mias notas, ergueu-se, olhou a classe sincera e firmemente,
passando então a falar sôbre o que estava mais perto de seu
cniaçao, fazendo-nos amar o estudo, mostrando-nos o que fazia
e piM que o fazia. Desde que tenha estabelecido um clim a de
vi'i d a de ira cordialidade com a sua classe, você poderá perceber
os momentos em que os alunos estejam aproveitando cada
iilu v r a , lendo prazer em ouvir um a citação, ou em participar
d., ato de pensar; então, será de seu dever continuar a tratar
d,, assunto quanto possa, e o entusiasmo e a compreensão dos
alunos o arrastarão. Mas, no dia seguinte, ou na semana se
guinte, voec deverá voltar ao trabalho regular. Esclareça e
ieriuina aquilo sôbre que tiver passado por alto. Explique cada
t r.» . i|ue já tenha assinalado, e verifique se os alunos o estão
fií-^nindo de perto. Você é um guia, não uma pessoa em de.su-
luihida carreira, diante deles.
iS
Uma das garantias do bom ensino é a consciência dos fins
que devemos atingir. Uma de suas maiores recompensas é a
consciência de que realm ente os atingimos. Um dos resultados
gerais é o desenvolvim ento da capacidade de dar estrutura às
coisas, capacidade essa que no trabalho intelectual se revela
como poder de analisar e coordenar, e que, na arte, dá o gôsto
da harmonia e o poder de criá-la. O professor deve ter tudo
isso em vista quando prepara o seu trabalho. Pelo exem plo e a
prática, deve m ostrar aos jovens que é um a fraqueza viv er
improvisando, e que a acumulação de conhecimentos e a capa
cidade de ordená-los significam verdadeiro poder.
O m elhor meio de fazê-lo é bem dispor todo o trabalho a ser
executado, ou afinal, ter um plano; deve-se explicar êsse plano
a classe, verificando se todos os alunos o compreenderam; e,
depois, logo que o trabalho se complete, deve-se voltar os olhos
para trás, numa recapitulação. Os jovens não possuem capaci
dade para planejar a longo têrmo. Êles vivem no dia de hoje,
ou quando muito de um sábado até outro. Professores há que
■e contagiam com essa doença, ou que ainda vão além, para
i- -.r.uardar-se do incômodo de planejar e prender-se a um
plano. M uitas vêzes são levados a consagrar todo um semestre
a Icr um texto, a estudar um ramo de sua disciplina, e a deci-
<In semana a semana, levados apenas pela sucessão dos dias
"ii pela ordem dos capítulos de um livro. M uito embora isso
pareça mais fácil, é muito aborrecido para a classe e mesmo
pura o professor. Todos os m estres já surpreenderam melan-
CÓliroH diálogos como êste:
"Que é que você tem para am anhã?”
‘ »11. tnnta páginas do Século X IX , de Trem lett. E você?”
“ Ah, cinqüenta linhas de Goethe. Tão aborrecido...”
' T au aborrecido” , diz o aluno com um olhar semelhante ao
íle um eavalo que, em vez de estar correndo pelos campos ou
numa pista, é tirado de seu triste descanso, para arrastar-se
flutiM vsv, 11 ml.i, trezentas ou três m il vêzes, ao redor do mesmo
Bam inhiij enndu/indo a trave que faz girar a pesada mó de um
<i« I■amurrada.
Ü teitu que on rapazes falam dessa m aneira sem saber se o
M ^ A lho fui planejado, e também um pouco porque gostam de
i .*#r• i .11 ,, i i i i . í.oírimentos. Mas, se tiverem em m ente um
(ibjetivtí definido, 11aballiaião melhor, mais ràpidamente e mais
iidpliUBnlehmlilc ! t* .souberem que aquelas trinta páginas se
i feftMtífn a um di ifí i mune:. acontecimentos, entre os que deram
1
O F 1 RT â 19
I M r li ili K ta ç íH t ColíSfii
h ititu ii li1 <-m q u o v iv e m , e se c o m p r e e n d e r e m co m o a q u e la
p a is a g e m tio Fausto está r e la c io n a d a a e p is ó d io s q u e j á d e v e m
t e í l i d o , ou n c o is a s q u e a in d a d e v a m e s tu d a r , e n tã o , a ta c a rã o
,, 11 mImiIIio co m m u ito m a is â n im o do q u e o c a v a lo q u e f a z g ir a r
a i I.il.i d o m o in h o .
A cada dasse, antes de ser iniciado o trabalho, deveria ser
dado um resumo do domínio de que se deverá tratar. A lg uns
|iinfi-í.;:(m\s simplesmente falam das grandes linhas de sua dis-
( Ipllmi. Outros ditam üm minucioso programa, com parágrafos
c nubparágrafos. Ainda outros distribuem uma fôlha mimeogra-
ÍMíla, com os principais assuntos a serem tratados, não dispostos
• f m. mu a semana, mas em sua ordem lógica, de tal modo que
i' c:,l ildante possa ver as conexões internas, preparar perguntas
obre pontos que o interesse em particular, e, se faltar a al
gumas aulas, reencontre o fio da meada. P ara as humanidades
arte, literatura, línguas, filosofia, história, política — é um
pouco desanimador ter o trabalho assim cortado em fatias, e
empacotado em compartimentos estanques, cada um dos quais
com uma ração semanal. Nessas disciplinas, é m elhor conceder
aii professor e à classe oportunidades para que desenvolvam o
trabalho sem esquemas tão rigorosos. Será a estrutura lógica
que deve ser preparada e dada a conhecer. Nas ciências, no
direito e na medicina, certam ente será m elhor que se mantenha
p la n o mais rigoroso, no andamento do ensino através do ano.
guando o Coelho Branco, na história de “A lice no País das
M aravilhas” preparava-se para narrar alguma coisa, perguntou
no Itei como queria que o fizesse. Gravem ente, respondeu o
Hei “ Comece pelo comêço, vá adiante e chegue ao fim : então,
pare’’. É um a excelente recomendação para os contadores de
hiril 01 ias, mas um m au conselho para os professores. Suponha
q u f você deseje conhecer um trecho de seu país. O pior meio
de la/r lo será entrar num automóvel, rodando para um lado
i- p a ra o outro, retrocedendo e seguindo adiante. No entanto, é
ififio qin> fazem muitos professores de com plexas disciplinas;
f c i:;;;o que faz parecer-lhes os alunos mais estúpidos do que
mdnionUí são. Na verdade, os estudantes ficam desnorteados.
N f l o sabem para onde vão, o que esperam ver, onde estão as
dilici-i;; encostas a vencer, de que lado ficam os mais belos
........ .. e afinal, o que devem encontrar ao fim de tudo. O
■ !»■ *- ele;; sabem é que o carro pára tôdas as sextas-feiras, ou
tudo:, o:: .sábados, para um ou dois dias de descanso. Pois não
ei ia mudo melhor, para conhecer o país, que antes de partir,
lhes déssemos uma idéia geral e um mapa bastante claro da
região a ser percorrida? Tam bém não seria bom que recebes
sem uma nova orientação, uma ou duas vêzes, durante a v ia
gem? E não conviria ainda que lhes mostrássemos fotografias
dos mais belos lugares, e indicássemos no m apa os pontos que
tivessem atingido, ao fim de cada jornada?
Muitos compêndios cometem o êrro de levar a sério o con
selho do Rei. Não dizem claram ente ao leitor o que é que vão
ensinar. Não mostram, enquanto ensinam, qual é a relação de
cada parte com o conjunto. E, freqüentem ente, terminam não
com uma verdadeira conclusão e uma visão retrospectiva, mas
de modo sêco, senão rude. Bem me lembro do primeiro livro
Lie Homero que li. E ra um volum e pardo, de feio aspecto. O
erudito, que o havia composto, escrevera notas explicativas so
bre cada linha (principalm ente, sôbre o fascinante assunto que
e a gram ática de Hom ero). Contudo, esqueceu-se de dizer-me:
W8
' i il i>i •• a c e r c a dêsse problema (“ Longinus” disse que a Odisséia
(ai . Baio o crepúsculo tem grandeza, mas não tem vigor). De-
jHtii d e v e r i a apresentar um sumário da Ilíada, e prosseguiria
em - >mi ( ;;|udo, de modo similar. Atingido o fim, deter-se-ia
enhie n<|iiôles quatro últimos e m agníficos livros, que repre
sentam i mais elevada produção poética do mundo ocidental.
Enlão, 1.11 ia a revisão completa do poema e proporia questões
NÔbi c as duas obras estudadas.
Ne s s a fase deveria esboçar a história dos poemas, o mérito
variado em que foram tidos na Grécia e em Roma, onde ora
fiei viram como texto de leitura, obrigatório nas escolas gregas,
c- na;; quais Platão e outros filósofos as combateram como falsas
• ' imorais; onde ajudaram a criar a arte da crítica literária; onde
loram parodiadas, imitadas, diminuídas ou exaltadas, mas sem
pre utilizadas; falaria do esquecimento a que foram relegadas
na Idade Média, quando a própria Grécia esteve esquecida na
Kuropa Ocidental, a não ser da parte de alguns poucos m a
níacos; lem braria a sua redescoberta por homens como Petrarca
6 Hnccacio, no comêço da Renascença, e seu efeito na literatura
dessa época (Troilus e Cressida, Paraíso Perdido); assinalaria
os mal-entendidos que provocaram nos séculos X V I I e X V I I I ,
i* a sua segunda redescoberta ao fim dêsse último século quando
influiu sôbre Sh elley e Chateaubriand, Goethe e K eats; e,
enfim, trataria da continuidade de sua influência na literatura
moderna. Bem proposta a m atéria, levaria ela a tratar da poesia
épica como um gênero substancial de literatura, pelo que o
professor coordenaria o seu trabalho com o das demais disci
plinas, no ramo das humanidades, estudados pela classe em
que ensinasse. E tendo dado assim uma ampla visão da obra
de Homero, respondido a numerosas questões e hàbilm ente
deixado de responder a outras, que ficariam como portas en-
Ireabertas para estim ular o interêsse dos discípulos, poderia
encerrar o curso, dizendo algum a coisa mais entusiástica do
q u e aquela frase: “ O curso está encerrado” .
<>ensino dado por essa form a oferece um perigo: pode fàcil-
....... descambar para o superficial e o vago. Mas a êle estão
m i je ito ;; todos os professores. Se desejam tornar-se interessan-
VA
parado. E a c e r v e ja ? Ê le estav a certo de que h a v ia pedido u m pouco
de c erv e ja . M as onde estaria? Ê le sa b ia que tin h a pôsto a can eca n a
m esa com o pão e o queijo. P ro c u ro u -a por tô d a parte, m esm o no
qu arto de dorm ir, m as não a encontrou. Então, a n a v a lh a de barb a,
que fic a ra a b erta sôbre o la va tório, le m b ro u -lh e de qu e aind a não se
h a v ia barbeado. E ra v e rd a d e que não h a v ia á g u a quente, m as a águ a
fr ia tam b ém se rvia ; em bora estivesse escurecend o ràp idam en te, ainda
não h a v ia encon trado fósforos p a ra a cen d er as v ela s. M as u m a pessoa
d ev e ser cap az d e se b a rb ea r no escuro, pensou êle, p orq u e u m a ação
inuitas v êze s rep etida, to rn a-se, com o afirm ou A ristó te les, um processo
in stin tivo , e seria in teressan te o b se rv a r se êle não cu m p riria p e rfe ita
m ente essa ta re fa . R ealizo u a b rilh a n te ta re fa com uns poucos cortes
desp rezíveis. Então, v e r ific o u qu e a c a ix a de fósforos tin h a estado p or
todo êsse tem po no bôlso; acen d eu as v e la s e v o lto u p a ra as dam as
de C orinto. O criad o en tro u p a ra sa b er se êle iria ja n ta r no re stau ra n te
isii se ja n ta ria em casa; c e rtific o u -s e de qu e aind a re s ta v a algu m a
carn e fria. M as onde e sta ria a c e r v e ja que êle h a v ia pedido p a ra o
alm ôço? O criad o e sta v a certo de a h a v e r trazid o, m as evid en tem en te
tvilava engan ad o; não h a v ia sinal de c erv e ja . A ssim , te v e de tra ze r a
■iti ne fria e u m a o u tra can eca; e, com essa p o b re refeição , W alter
H '-adiam continuou a tr a ta r das senhoras de C orinto, até a m adrugada.
A can eca de c e r v e ja p e rd id a a p are ceu no dia segu in te. (A s m in ú cias
de rainha d escrição não são de feiç ã o im a gin ária, m as verd ad eiras,
ip m o verd ad eiro é todo o c o n ju n to ).
D7
ü@ hj*i imm .ir.uii de ano para ano. Quando se publicam novos
livin ■de i <u111-aponto, êle os analisa e critica, algumas vêzes
as outras, êle o faz com um a delicadeza olímpica,
n que v aluda mais penoso para os autores criticados. E, nos
ulfiiiin . Irinta anos, estêve ocupado em am arga controvérsia
i om um :;cu rival, de Milão, a respeito de sutilezas dos cânones
<|p l *al. ;l riua nas fugas prim itivas. Seus amigos pediram muitas
<i c.. n ê.sse rival que publicasse um livro sôbre a fuga, para
i|U<*. desse modo, êle se visse forçado a publicar o seu. Mas
ftmbos morrerão sem nada concluir. Não, não é o tempo que lhes
Iülla, nem conhecimentos adequados (êles bem compreendem
qUe o conhecimento nunca pode ser com pleto); mas fôrça de
Vontade que os leve a se dedicarem ao acabamento dos livros,
• 111*■estão em seu íntimo; e, enfim, coragem bastante para en-
lientar a crítica inevitável.
A preparação de um curso exige fôrça de vontade, e, igual
mente a manutenção dêsse plano. Reclam am também uma
grande dose de simpatia para com os alunos. Enquanto orga-
ni/a um plano de ensino o professor deve perguntar-se a si
mesmo: “Isto será útil para os meus alunos? Isto estará claro
para êles, sem exemplos? Esperará a classe que eu apresente
ifMn a êsses conhecimentos?” D e acôrdo com as respostas, assim
<> professor deve modelar o seu curso. É o que perm ite chegar
«té aos alunos e conversar com êles... Adem ais, isso exige al-
Huma sensibilidade artística, e aquêles professores que melhor
planejam o ensino são comumente conhecidos por sua forte sen-
m Ia 1idade estética. G ilbert M urray não poderia em itir uma sen
tença sem cuidar de dar-lhe uma form a bela. Quando ensinava,
não havia barbarismos, nem inconseqüências, nem esquecimen
tos Suas frases compunham parágrafos completos, que form a
vam trechos tão vastos como artigos de uma enciclopédia; eram
Ümple.s como uma conversação e tão bem estruturados como
um mui:; trabalhos escritos; tudo nêles se dispunha para que
pudes.se encorajar mesmo aos mais inexperientes e instruir aos
ma; intendidos dos ouvintes.
í: a estrutura geral de um curso o que mais importa. O pro-
fissoi que chega à sua sala sem dizer ao que vai, e começa a
11a l a i dr um assunto sem apresentá-lo à classe como um todo,
quti fie decomponha em elementos, cada um dos quais reclam a
11fitíuiiento diferente, procederia como o diretor de um jornal
■iur imprimi:;se tôdas as notícias segundo a ordem em que fôs-
i iii elie^aiido metade de uma coluna com preços de cereais,
u*
uma caricatura, um editorial, dez reportagens de crimes, o fe
chamento das cotações do mercado, conselhos sôbre beleza fe
minina, e, depois, duas colunas de telegram as de Paris. Mesmo
assim haveria algumas diferenças de estilo pelos quais os
leitores se guiariam. Mas todos nós temos ouvido professores
que mais parecem guarda-trens ao anunciar os nomes das es
tações: paradas sem importância ou grandes centros são anun
ciados no mesmo tom, de modo que o itinerário tem apresen-
tação sonora, mas pouco elucidativa. Em preender o ensino de
um assunto complexo, sem organizar-lhe o tratamento, a fim
de que se lhe destaque a estrutura; ou discutir um assunto de
irte, sem que se dê ao ensino uma feição de ordem e harmonia,
que são da essência da arte, será esquecer, ou desprezar as
oportunidades de ensinar algum a coisa maior e mais alta do
que uma série de fatos. Será desencorajar os alunos e nêles
deturpar o gôsto que acaso já possuam em relação à matéria.
* * *
*
100
0 professor deverá escolher por si mesmo. Que resolva o que
possa e deva ser assimilado, e que descubra tempo e energia
para isso. A lguns empregam um mês inteiro de cada período
de férias para ler e tirar notas das publicações de todo o ano.
Outros vão à biblioteca mais próxima, cada sábado, e lêem as
revistas especializadas que tenham chegado naquela semana.
Um meu colega entendeu-se com o bibliotecário para que lhe
mandasse o último número de cada revista, assim que tivesse
do ser enviado para o encadernador. Êsses planos dão às horas
do lazer do professor um sentido realm ente criador. Onde quer
<|ue se faça a leitura, ela deve ser feita com bastante tempo
disponível, e em conforto, com todos os recursos para tomar
notas.
1 *orque os livros e os periódicos não devem ser lidos somente
' om os olhos, devem ser assimilados em tudo quanto tenham
ilr nutriente. Um dos maiores pensadores da Renascença, disse:
* *
*
i()i
novos trabalhos publicados. M as o centro dr :;eu p o u s a m * rito
deve ser as fontes originais. Se ensinar história, não soi A ha:,
tante que saiba o que dizem os compêndios de Robinson o
Simpson, a respeito do Tratado de Versalhes, por exemplo.
D everá conhecer o texto integral do Tratado e, bem assim, o
do Convênio da L iga das Nações. Se ensinar literatura inglesa,
não bastará reler o que está em Bradley, ou em W ilson Knight,
para maior compreensão das tragédias de Shakespeare. Que leia
o texto original de cada uma delas, cada mês, e que reflita sôbre
o texto. Descobrirá dêsse modo, por si mesmo, tudo quanto
Bradley lhe poderia dizer, e o que descobrir, por si, será de
muito m aior proveito para si, como também para o seu ensino,
mais proveitoso do que qualquer leitura de segunda mão.
Verdadeira para os mestres em geral, a recomendação é ainda
mais exata para os professores universitários. Um de meus
amigos concluiu, recentemente, um notável livro sôbre difícil
assunto, que o havia preocupado durante anos. Vários verões
elo os consumiu na consulta de volumosa bibliografia, publi
cada em revistas especializadas; e muitos invernos gastou ana
lisando, corrigindo, completando e refutando a m atéria de im-
j>■ >i Iantes livros sôbre o assunto. Mas, quando começou a es-
' í r v r i , sentiu-se perplexo, como que tomado por cãibra mental
uma doença dos que lêem m uito m aterial secundário e pen-
-<m qu<‘ a êle nada devam acrescentar. Por três meses, mais ou
mtiims, permaneceu tolhido, tomado de um sentimento de
th 'üiitiparo. Releu as suas notas. Foi inútil. Releu os livros do
• u pivdecessores. Foi inútil, também. Então, em desespêro do
BiUNtí, voltou as costas para o seu fichário e começou a ler,
Bümo ho o fizesse pela prim eira vez, os documentos originais
que formavam o coração mesmo de seu estudo. Tanto quanto
üif liiivi.iiii parecido pobres, agora lhe davam um novo discor
11ini* i1111 dantes apenas vislum brado; um novo e claro sentido
um i j-i t d.- cada linha, e os fatos tomavam mais nítida confi
fUIMyln, i nino dantes não acontecera. Em uma só noite, esboçou
ti |,Ihmh ypnd dos doze capítulos de seu livro; em uma semana,
ÉttHMvtoi " primeiro, e tôda a parte restante no mês seguinte.
íjfltM to que Èiimlü nosso prazo teve uma nova crise do hesitaçfio,
j.niém, logo so desvaneceu, quando largou de todo uh
pylijii atopá do hous prodocessoros o compol.idoi'os, paru apto
f u i n l í i i sr. ni. i documcnlos originais. Koi, entíío, o só üntfto, q n o
v i u i l a r g i n e t i l o quid ora o objetivo real <!<• todo o 16U osfoiço
iii.
i
/
A . i.iu Iu,;.io d êsse caso parece contradizer a idéia, dantes
tthj.ii i i, ii.- que todo professor deve estar em contato com a
um a Iitf*iíituia referente à sua disciplina. Mas, na verdade, as
íjuafi •«-. 11.i:. devem ser conjuntamente aplicadas. Imaginemos
ijiif' viHt- emane espanhol. Um importante livro sôbre Cervantes
m|nu e i f ()i•;i, um dos principais objetivos na aprendizagem do
• i • u11u>1 é a leitura do Cervantes: portanto, você adquire o
livftJ, c amina-o detidamente, e dêle retira notas sôbre idéias
f liiln;; (|ne aí apareçam de form a clara. Mas, depois disso, de
verá bi indar-se a si próprio com o prazer da releitura de Dom
Quixote. Como você deve ter mudado um pouco suas idéias,
Hfjora achará algum a coisa de novo na obra. Seu pensamento
In ac á enriquecido, e seu ensino revitalizado. E, se você assim
continuar a fazer, obterá um novo ritmo de progresso; de fato,
ao Icr um novo artigo sôbre um grupo de autores, nêles pensará
i‘uni interêsse, e voltará a exam inar os seus escritos e a refazer
rh conclusões que tenha formulado sôbre êles. Dêsse modo,
m i m a constante perm uta entre o que de novo se escreva sôbre
nbi a.s-primas fam iliares e o seu próprio texto, todo o seu pen-
,a monto se fortalecerá, tornando-se mais vivo, e o seu ensino
in não lhe parecerá um esforço, mas uma satisfação, se não uma
verdadeira delícia para você e os seus alunos.
K claro que muitos professores assim procedem. É uma das
im ões de seu êxito. E se isso não é feito por todos os profes-
lôros ó porque muitos dêles presumem (freqüentem ente sem
maior reflexão sôbre o assunto) que o desenvolvim ento de seu
espirito já se deteve, tanto quanto o desenvolvimento do corpo.
Normalmente, os professores realizam a maior parte de sua
pirparução nos últimos anos da adolescência e logo após, entre
OH IV e os 25 anos. Como nesse prazo sentiam-se desenvolver
fisicamente, mas depois pararam de crescer, tendem a pensar
que o seu cérebro obedeça à mesma regra, crescendo até os
anos, mais ou menos, e depois marcando passo, até a morte.
K-.-.r modo de ver, de regra inconsciente, está baseado na ima-
Kcm de que o cérebro está encerrado numa caixa fechada e que
nenhum m aterial a mais nela possa ser inserido. Mas a imagem
f e r r a d a , e a conclusão, falsa e perigosa. O processo da apren-
■ ii aft-m no adulto, tanto quanto o conhecemos, não exige
aumento no tamanho de cérebro, mas sim, que os caminhos e
■oiicKóe:; d e n tro d ê le se fa ç a m m a is liv r e s e m a is c o m p le ta s. O
I c i t i l ó i i o ja c o n q u is ta d o p assa a s e r e x p lo r a d o e re p re s e n ta d o
inini m apa; ou, p ara u s a r d e o u tra co m p a ra ç ã o , a in trica d a
ItH
máquina torna-se cada vez mais capacitada para novas aquisi
ções, e de tantas formas quantas sejam as que o seu operador
possa ensaiar. A inteligência que se exercita nos livros não está
sendo fatigada nem deturpada. Está sendo aplicada a seus fins
normais. Abafá-la com uma massa de jornais, ou a lama de
revistas mundanas, ou ainda, de fúteis conversações, com o
intuito de evitar que se canse, será o mesmo que conservar os
olhos fechados, o dia todo, para que descansem.
b) A C O M U N IC A Ç Ã O
* *
•i5
110
adquirem, a fim de dar a impressão de que pensam, ao invés
de repetir alguma coisa que hajam aprendido de cor, ou quo
i ixtraiam de suas notas. Isso pareceria — Ham — uma espécie
de franqueza — e — Ham — você sabe — Ham — sincera.
Assim pensam. Na realidade, isso parece tolo ou abobalhado.
Certa vez, ouvi o presidente de uma grande companhia, que
evidentemente desejava dar a impressão de transparente ho
nestidade, misturando os Hams e frases feitas em iguais pro
porções. E isso produziu nos ouvintes o mesmo efeito de uma
xícara de leite môrno com dois comprimidos de um entorpe-
>ente. É bastante desagradável ouvir alguém que não deixe
nenhuma pedra em seu lugar, e que explore cada atalho, mas
êise orador hesitava tanto que nós nunca estávamos certos do
que pretendesse, a não ser que im provisava uma brilhante
n iação de frases feitas, ou simplesmente que havia esquecido
m palavras. Term inou o seu relatório, a respeito da produção
du;; anos de guerra, dizendo o seguinte:
i e iim.il que cada orador faça pausas para deixar que suas
■nluvm-; se gravem, e para que cesse o eco de sua própria voz.
Mije, quando você fizer pausas, deve empregá-las depois de ter
»■i......... um trecho de pensamento suficientem ente completo,
|g] o <i entendido e examinado por si só. É um disparate parar
I éôÍP de i ada três ou quatro palavras. Faça pausas como se
, um escrito. Se você realm ente é um bom orador, com
fjlttií domínio da estrutura lógica de sua disciplina, um relator
■Mrimtmtadn poderá anotar todo o conjunto de seu discurso,
«itll I" ' in sentenças, parágrafos e seções, dando-lhes subtí-
* porque, mesmo sem novo auxílio, êle entendeu tudo
ijUMln viH e queria dizer, para assim poder escrever.
Wmíí ImihIh . m disto: ninguém, salvo um experimentado
|'"dei.t Htiul ar tudo quanto você diga. Portanto, será
i.H.ll! faíai muito d. •vagar para que os alunos escrevam tôda:;
ris «Mias |i-ii>e. i . Dt> modo geral, êsse hábito respondi! por
iiiiiín. .lu iimii eiiHlno expositivo, mais do que qualquer olltra
ligfíu jín tii
iii
i 'i alins tem uma longa história, que remonta à Idade
Média, A ôsse tempo, os livros eram raros, e as edições ano-
ladit i do;; grandes livros ainda mais raras. (Tão pobre era a
i ivillzaçao ocidental, deperecida depois da primorosa cultura
da íiiórm c de Roma, com os seus autores, as suas m últiplas
* <Im i>< , r numerosas bibliotecas). Nas mais recentes universi-
ii.tilim e d ie v a is, os textos eram tão custosos, e a esperança em
ol.i. i um Jivro auxiliar que os explicasse tão escassa, que um
laiite aferrolhava o exem plar que tivesse; e, quando ouvis-
8i o professor explicar, anotava palavra por palavra. Dêsse
modo, ao fim do curso possuía um caderno m anuscrito que
assemelhava as edições comentadas de hoje. Êle estudava com
infinito cuidado, meditando sôbre cada palavra. Se, por sua vez,
viesse a tornar-se professor, introduzia muito dessas exp la
nações, registradas palavra por palavra em suas próprias aulas,
rs quais por sua vez passavam a ser copiadas palavra por
palavra, pelos novos alunos.
ivjse método de ensino talvez nos tenha vindo de práticas
anteriores à Idade Média, quando o analfabetismo era a regra.
Na verdade, pertenceu à tradição judaica, a qual influiu na
cultura ocidental através do Cristianismo. A parte mais impor
ia nte da enciclopédia do ensino judaico é chamada Mishnah,
palavra que significa “ensino pela repetição” . O aluno da es
cola judaica aprendia de cor as palavras do seu professor até
que pudesse repeti-las. Isso não estava longe do processo de
anotar as palavras do professor para aprendê-las, depois, tam-
bém de cor.
O fato de que um sistema de ensino nos tenha vindo dos
ii< breus e tenha vigorado na Idade M édia não é razão para
desprezá-lo. Mas é uma boa razão para que o analisemos e
vejamos cuidadosamente que funções ainda hoje possa preen
c h e r . Quanto tempo poderá um aluno anotar numa aula com a
duração média de cinqüenta minutos? Todo o tempo? Nenhum?
auto tempo poderá fazê-lo?
Mm grande parte isso depende do professor e do assunto,
i 'i ofossôres eminentes são tão capazes, que se tiverem bem
inriuirado o seu material, tôdas as suas palavras serão dignas
dr anotação: o isso simplesmente porque elas não se encontram
em neuhum livro, e porque são tão altamente carregadas de
- ibrdona que o estudante por si só não chegará a reproduzi-las
depois de uma centena do horas de pesquisa. Imaginemos que
i. I >i Kinstem fosse levado a explicar as relações entre a gra
vidade e a eletricidade; valeria a pena ter-se uma máquina de
gravar e uma câmara cinem atográfica para tornar permanente
cada palavra; ou, isso não existindo, que cada um dos alunos
se transformasse numa dessas máquinas. Certos assuntos são
igualm ente importantes; e se êles devem ser ensinados, hão de
0 ser tão intensamente que os fatos e argumentos serão difíceis
de acompanhar, e impossíveis de serem evocados a menos que
os estudantes tomem notas copiosas. Por exemplo, um expositor
de m etafísica tratará das três provas lógicas da existência de
Deus. São somente três. Mas são tôdas de difícil análise e de
inegável importância. Um estudante, que ouça êsse assunto pela
primeira vez, e não tenha feito nenhuma leitura preliminar,
pode ser aconselhado a anotar os três argumentos, palavra por
palavra, e a registrar a explicação de cada um dêles tanto
quanto possa sôbre tais problemas pensar, nas horas de lazer.
I )esviamos, porém, o tratam ento da m atéria — do professor
para o estudante. Devíam os antes perguntar: Qual é o dever do
professor? Quanto deverá êle ditar, e quanto simplesmente
falai V
A resposta se faz clara pelo bom senso. Nenhum professor
médio pode esperar que seus alunos anotem tôdas as palavras
■ l< cada lição que lhes dê. Por outro lado, pode esperar que
tudo» os alunos anotem os fatos e argumentos mais importantes,
#, que cada qual, segundo seus interêsses, assinalem outros
puniu?; Portanto, o professor deverá enunciar, clara e inequi-
... aiiieiito, como se ditasse, tudo quanto julgue de maior im
pei lin d a para ser transcrito. No tempo restante, deverá mera-
S M l t falar, comentar, debater, argüir, explicar.
I " lambem significa que deverá utilizar a sua voz de forma
muito vai Ia;Ia Deve ser lento e enfático quando faça afirma-
s ijtif. luhMic' devam ser copiadas. No resto do tempo, falará
— 1b s im p le s <■ rapidamente, quase como o faria numa con-
fifia g a t) ccmiiim Seus alunos logo aprenderão a distinguir
ÍI’H ti m aterial de registro obrigatório e as explanações subsi-
|iéi ias, iIa . iiuíii:: apanharão aquilo que quiserem. Dessa forma,
rfiu f f ai a ii.nl>>;. pela,*! mudanças do andamento da voz na
ftulpj § fli arflo habilitados a m elhor penetrar na estrutura
B f l t f l u t d >1" ai Kiuneutos que sublinhem cada série de aula,
i§ifn Ijysüdu >> <|u«- tenham aprendido em horas distintas.
Ma# i.. >i danifica preparação muito cuidadosa da parte do
1f i "■> \\ < Ia p o r q u e u m a boa liçã o o x p o s i t iv a , ou um a
KMüfuiiui In, é irai ra ra, e hh m as p r e l e ç õ e s tã o c o m u n s . R e cen
tem ente fui ouvir uma conferência de em inente especialista,
i u ji ■livros e ensaios muitas vêzes li e admirei. F alava no audi
tório dt> liin.-i grande universidade, diante de uma centena de
fiBVidadot: e oitocentos ou novecentos jovens — que ali tinham
ucnnidu pela reputação do conferencista, e talvez tam bém por
IngliuiiKríu) de seus próprios professores. Mas foi terrível. Eu
ionhecla alguma coisa do assunto e estava ansioso por ouvir
o qne o orador tinha a dizer; mas desisti, depois de vinte mi
nutos. Montara-me entre os estudantes, podendo por isso obser-
vá lo:: sem dificuldade. Êles ouviam polidamente, mas por
jfV P f. Não aprendiam nada. Os que estavam junto a mim
pt incipiaram a tomar algumas notas quando o orador começou.
Anotaram o título de form a correta e o assunto principal dos
primeiros parágrafos; também alguns poucos nomes; mas de
pois as anotações diminuíram. Não podiam anotar tudo. E como
" orador falava sempre no mesmo tom, m al admitindo qualquer
ênfase pela voz, pausas ou gestos significativos, tudo quanto
os alunos ouviam era uma torrente de palavras, sem nada para
ku iá los na escolha do que devessem anotar. Êles se resignavam
ao esforço de lem brar as linhas gerais da preleção, para o que,
alia:;, muito poucos estariam preparados.
Terminada a conferência, dirigi-m e à sala onde estava o meu
amigo, o orador. Logo descobri porque êle havia fatigado e
frustrado o auditório. É que não havia falado para êle. Sim ples
mente tomara um capítulo de um livro, que estava escrevendo,
e veio lê-lo. É claro que o resultado havia de ser mau. Os livros
eruditos são difíceis de ler, e m uitas vêzes, pesados. Não obstan-
te, quando alguém lê para si mesmo, tem a possibilidade de
<>ll ar atrás quantas vêzes quiser, para repensar um a idéia ou
reexam inar uma série de fatos relacionados com o escrito. Mas
essa:; vantagens se perdem quando outros leiam para nós em
voz all.a. Na leitura própria, a percepção da estrutura do pen-
ameiito é auxiliada pela disposição gráfica do livro, segundo
suas partes, capítulos e parágrafos. Para compensar tôdas essas
P*-rdas, nada se ganha numa preleção lida, exceto o trivial
ailei esse de ver um homem em vez de um livro. É essa prática
que leva muitos críticos do ensino a dizer que os que prele-
• a11nain são enfadonhos e pretensiosos, sugerindo que suas li
ç õ e s . uma vez mimeografadas, sejam distribuídas aos estudan
te.. para que as leiam com vagar.
I) hino professor, portanto, não lerá as suas lições à classe.
!<;, ao explicá Ias, fará uma clara distinção entre as partes que
iil
deseje que todos os ouvintes anotem para serem relembradas,
e as demais, proferidas de modo mais rápido, como comentário,
exem plificação ou informação subsidiária. M ostrará essa dis
tinção pelo tom de voz, a atitude e os gestos. Quando prepare
.suas preleções, e tudo possa exam inar, antes de proferi-las,
deverá ter em m ente essa distinção, de forma muito clara.
* *
*
11&
Éêi ilifn'iii mesmo para um ou dois de seus íntimos, ou para
i i miSITKJ Todo o seu livro M ein Kam pf é um discurso que fêz
h i l. anotado e resumido em boa ordem na solidão confor-
I<tvt I (1h i >i i;..m de Landsberg. Incapaz de conversar com indi-
vlfliutH, cie sempre estava se dirigindo, em voz alta ou em
lÜIneio, a um auditório, experimentando dominá-lo, aguçando
• n . pensamentos e melhorando a conexão entre êles, pela
!« i >«I náo. Jamais houve m elhor exemplo de poder oratório
uum homem não preparado, com muitas desvantagens de apa
rência c maneiras, com escassa ilustração e desagradável
(lioAi > K :se poder êle o obteve mediante a reflexão e a prática
constantes.
JVI,i;; 11 il.ler era muitas vêzes incoerente e dispersivo, quando
f:.l i\ i •:;se superexcitado ou irado. Outros oradores, que reflitam
pouco sôbre os assuntos de que vão tratar, divagam e hesitam
ainda mais do que êle o fazia. F alar em público é tão difícil
como cantar ou representar, exigindo m últiplos e cuidadosos
ensaios, se não até mais cuidadosos ensaios, porque um dos
■ >11|i t ivos de quem fala em público é o de parecer inteiram ente
i-spontâneo. Os grandes oradores da Grécia e de Roma costu
m a v a m preparar um importante discurso tão cuidadosamente
■oino, cm nossos dias, uma estrêla da ópera ou do cinema
prepara um novo papel. Depois de escrever o discurso uma
11ii 7i a de vêzes, êles o proferiam perante um grupo de amigos,
críticos e professores, repetindo-o sempre, até que soubessem
.K i Ia sílaba e cada gesto, e o conjunto parecesse não um pro
duto altamente elaborado de arte, mas um autêntico improviso,
impregnado de forte emoção. Quando se levantou para proferir
0 primeiro ataque contra Catilina, Cícero sabia tudo o que
tinha a dizer e a fazer — mesmo os gestos de súbito horror e
a . pausas — como um ator experimentado que, antes da sua
deixa, tem clara na mente a entrada e a saída de cena e tôdas
.. falas intermediárias. Essa é a razão por que ainda hoje es-
1 iii Ia mo:; os discursos de homens como Cícero: nêles, uma sim-
I*!«*:. página contém os resultados de pensamento muito con-
cent rado, viva experiência e complexo conhecimento psicoló-
Htro ludo revestido de uma linguagem que muitos dos moder
no, oradores só chegam a dominar ao fim da carreira. É essa
titmhem a diferença que existe entre um desenho de Dürer e
uma ievis!a cheia de anúncios; entre um simples movimento de
uma sinfonia de Hectliovon e tôda uma tarde de música de dan
lio
ça, ou um concêrto com peças como Humoresque e Narcissus,
e outro em que se execute No Jardim de um Mosteiro.
Será impossível, portanto, m inistrar uma aula de tipo “ con
ferência” sem a devida preparação. Antes que o professor
comece a falar, deve exatam ente saber os pontos que deseja
expor ao auditório; e mais, em que ordem e com que im por
tância relativa deverá fazê-lo. D eve ter na cabeça um esquema
claro da lição — não como uma simples série de páginas a
serem lidas, mas como estrutura bem articulada, que seu pen
samento domine. E deverá fazê-lo como o geologista vê as
camadas de argila, areia e água, as rochas duras e as falhas de
terreno, comprimidas sob a paisagem; ou como o arquiteto,
através do revestim ento de um edifício, vê o seu esqueleto de
aço ou de cimento armado.
Se estiver convencido disso, o m estre deverá escrever as suas
notas para a aula. D eve tê-la planejado, quer encare a lição
separadamente, quer como uma parte viv a do curso, que esteja
in i i listrando, para que a aula nêle bem se enquadre. A êsse
respeito muitos professores cometem um dêstes dois graves
'im s : ou lançam umas poucas notas numa simples fôlha de
papel, e improvisam; ou trabalham a m atéria sob a forma de
livro e, então, a lêem como parte dêsse livro, em voz alta.
Nu primeiro caso, os alunos ficam confusos. No segundo,
ítbni rocem-se.
Nas mãos de um conferencista exímio, ambos os métodos
pot/cm ser utilizados. Há um episódio, que se atribui a J. T.
Sheppard, o excêntrico, encantador e erudito Reitor do K in g ’s
i tellege, que ilustra êsse fato. Estava êle explicando o plano ar-
tíitico (ia Ilíada. É bastante difícil resum ir e descrever a estru
tura dêsse grande livro, especialmente porque ela se dissimula
hai sul iIc/,as do espírito helênico. Mas Sheppard traçava, den-
h o daqueles vinte e quatro livros, batalha após batalha, debate
■>l>" deímlo, sob impetuosas correntes de emoção e de ação, um
in.. seguro, que constitui uma das razões pelas quais
IhuIh-í gerações têm sentido a Ilíada como uma obra de arte,
seiti ou" mo saberem por quê. Depois da terceira aula, uma
mo. mi, > ingênua chegou-se até êle, e disse: “ Oh, Dr. Sheppard,
e u u i h o q u e s t i a conferência foi m aravilhosa, e compreendi
muita c o i s a , se hern que não pudesse compreendê-la tôda.
rouict !,1111,i■ , notas quanto pude; mas não poderia o senhor ter
a «• i =11!• . il. e m p r e s t a r m e os seus apontamentos? Eu prometo
i l e v n h f l u s a s s i m q u e os l e n h a c o p i a d o ” . “ Certamente, minha
117
. i f t iiicfima", disse o Dr. Sheppard, que tinha falado entusiás-
ili ii e fluentemente por uma hora. “ Certam ente, aqui estão
• lt I deu lhe um envelope vazio, nas costas do qual estavam
• ■>ii.i . •• .!,!:. palavras:
ZEUS
AGAM EM NON
ZEUS
ÜA
transm itir suas idéias a um grupo numeroso de alunos de
classes comuns, numa sala de conferências. Chegava trazendo
um pesado caderno, dêsses de fôlhas soltas, recheado de páginas
cuidadosamente dactilografadas e manuscritas, e que, certa
mente, representavam uma série de artigos que êle havia pre
parado para diversas revistas. Nós teríamos de ouvi-las, antes
que seguissem para o editor. Tomando o seu lugar atrás da
■si ante barroca, o instrutor lançava um rápido olhar ao redor
*Ia sala, sôbre os cinqüenta estudantes que vestiam as batinas
tradicionais do século X III; estrem ecia com evidente fastio,
abria o texto, e começava a ler, numa voz baixa e monótona,
que parecia o gotejar de uma bica distante. À medida que pros-
ci;m.i, e achava interêsse êle próprio em seus argumentos sôbre
H possibilidade da percepção das côres, aquecia-se e tornava-se
audivol. Seus óculos cintilavam . Dizia coisas como “K an t foi
fvldentem ente muito arrojado” e “podemos asseverar isto ou
fMJUllo contra W ittgenstein” . Seus miolos aquecidos começavam
a gotejar: pingos oleosos derretiam-se do crânio e lentamente
(() arriam para o queixo. A inda assim, nunca olhava para nós,
p i! a o- que o ouviam; e, embora muitos de nós nunca tivessem
ouvido falar de W ittgenstein, e só conhecessem K an t como um
BUtor pesado e maçante, olhávamos para o m estre ansiosos e
f.Mciu ido: Êle parecia varar, colérico, o espaço entre os seus
Óculo?, c as notas escritas, onde evidentem ente vislum brava,
ifiustada,'; e apreensivas, as faces daqueles bobos e heréticos
IjUt se chamaram B radley e Berkeley, Hegel e Schlegel. A lei
tura, ünbora se tornasse audível, não nos parecia mais coerente.
0 í i escrito parecia o livro mágico que M erlin descreveu
paru a nii.i terna amiga:
na
U m , Ninguém poderia entender o professor senão êle pró-
Jji Jo i ' i i .i no;:, o problema da aparência e o da realidade eram
§tl§euroN Nós estávamos dispostos a admitir que as côres não
existem (exceto quando elas existem em nós) e que o pêso
unia iffilm ente significa; mas necessitávamos de ter tudo aquilo
• i ■ ■"Imito, lentamente, pacientemente, ao nível do nosso
pi - paro. O jovem professor, admitindo que j á tivéssemos aberto
( aminho através de cada problem a da percepção, pretendia
l e v a i nos a acompanhá-lo em seus duelos com outros campeões
da metafísica, embora poucos de nós conhecêssemos seus nomes,
OU que idéias haviam defendido. Enquanto isso, dia após dia,
i'ii‘ eguia lendo, primeiramente nas páginas do seu ensaio ori-
HÍunl, depois num trecho de controvérsia com aquele monstro
que foi Cook W ilson; e, ainda depois, uma refutação longa,
e.M i it.x por êle próprio, o professor. Era longa e difícil, porque
exam inava palavra a palavra, conceito a conceito e term inava
• oin esta triunfal tirada: “Assim , eu submeto a conclusão que
• ia provada contra Cook Wilson, de que a percepção de uma
• nr ó, por si mesma, sensível!” Mesmo as filas do fundo não
’ l> ixavam de aplaudir. Mas a verdade era que nenhum de nós
percebia sôbre o que êle estivera discorrendo.
tsKI
m aterial suficiente para uma hora de leitura, em velocidade
normal; e, então, m archará para a classe e o lerá. O professor
sabe que o seu dever é transm itir o conteúdo à classe. Portanto,
apresentará as informações básicas com m uita clareza, para
depois explicá-las e exem plificá-las esclarecendo os pontos que
percebe que são difíceis; relem brará ràpidamente as idéias de
fácil percepção, a menos que deseje exam inar e criticar essas
idéias; depois, citará uma importante passagem ou um novo
txem plo, certificando-se, tanto quanto possa, de que a classe
não somente aceitou as informações, mas as absorveu, e está
disposta a bem digeri-las.
() primeiro expositor, de que temos notícia de que assim fazia,
íautomaticamente, foi um dos fundadores da moderna educação.
!'ui Aristóteles. Só excepcionalm ente os trabalhos que nos che-
H.n am, com o seu nome, foram escritos por êle, na feição de
livros. Eram resumos ou notas de aulas, preparados por seus
alunos, ou extraídos de seus cadernos por secretários e suces-
(OrcH. A cada trecho, notamos que Aristóteles procurava algu
ma:; palavras que resumissem todo um difícil argumento; com-
pimlia uma simples frase para lem brar-se de um exemplo;
imolava uma palavra, ou duas, para indicar à classe alguma
i oh,a (|iK! pudesse ser usada como demonstração; ou omitia uma
difícil palavra (por exemplo, catarsis) a qual era tão impor
tante cm sua filosofia, que não necessitava de notas para dis
cuti la; <■ludo isso o fazia de forma diferente, a cada classe, em
iíiclíi ano. Ao exam inar-se um trecho qualquer de Aristóteles
niu devemos ler os parágrafos como exposição seguida, em
fujnm dr livro. Devemos lê-los como notas de aula, experi-
*.uiiU.ii.lo ouvir através dêles os ecos da voz do mestre, as
pPi guntíi:; do:; alunos, e, por fim , a v iv a e estimuladora energia
'ia 'IfôcllHtSlQ.
Mí»i o principal perigo em ensinar por essa form a não é o
| Éslioçai a,*; próprias notas. Será o de, ao estabelecer-se uma
lt '! i nlnçào com a classe, tornar-se o mestre tão interessado em
falai ||,, ,|u>- prejudique o andamento do que esteja dizendo.
f3(.i.|Ur, „ meno;: que a aula deixe na cabeça dos alunos um
fiu lla d o uma nova interpretação dos fatos, uma técnica de
híi ííuípuímçíhi, uma cadeia de argumentos — tudo será apenas
Mhitjao oi i mIila. oti representação. Os alunos devem estar
jhtta( ísséhIn, .'.i iii duvida. Mas também devem instruir-se. O
RtMÍtàsaoi \ 11 ..o ,i. p o rta n to , os p o n to s m a is s a lie n te s , r e p e lk la -
ti uit em t=un p ró p ria m e n te , a n te s q u e co m e c e a fa la r ; e,
in líB 08 Movimentos da exposição, em pregará todos os recursos
• 11í« posmun tornar claros êsses pontos para a classe. Êle próprio
i . .1,1.«. • i .i muito bem os passos de sua argumentação; quais os
jnmtuíi mm:; fortes e mais fracos; quais as afirmações duvidosas
nu controversas; quais os fatos mais necessários a relembrar.
Mftl, > im que a aula começa, o auditório ouve somente uma
nu ir iilr de palavras; o professor deve organizá-las num sistema
de iiin.i;; e proposições, que correspondam ao que esteja em
n,i própria cabeça, e pretenda esclarecer para os outros. O
m elhor meio para isso é rem anejar o m aterial até que suas co
ne;; tu,'; lógicas se façam tão claras e firm es que virtualm ente
• h impossível destruí-las. Num erar as partes de cada argu
mento, os fundamentos de cada operação descrita, e m arcar a
numeração por gestos representam um dos mais antigos e se
guros recursos da oratória; embora seja fácil cair no exagêro,
Isso é de grande valor quando cuidadosamente empregado. Com
uma classe que você conheça bem, ou um auditório que lhe
firja realm ente simpático, m uitas vêzes será possível variar o
caráter da exposição entre os diferentes parágrafos, para voltar
nos que já tenham sido ditos, e agora num tom mais simples,
de mera conversação. Isso lem bra um guia que se detenha,
durante uma ascensão, a fim de fazer descansar o seu grupo e
mostrar-lhe as passagens difíceis, já vencidas; ou aquêles atôres
que, nas comédias de Shakespeare, segredam coisas à platéia
para fazê-la mais sentir certas partes do enrêdo. Como o
principal perigo do ensino pela preleção é tornar os alunos
completamente passivos, e, em conseqüência, insensíveis você
poderá muitas vêzes assegurar-se de sua atenção e de sua
cooperação, perguntando: “Ficou tudo bem claro? Terão vocês
compreendido êstes dois primeiros pontos, ou não? Será neces
sário que eu volte a repeti-los?” (Sem pre que você assim per
gunte, os alunos exclamam : “N ã o !” )
* *
*
III
não será conveniente repisar importantes períodos numa v<>
solene, ou adotar qualquer modo de falar que seja artificial,
mesmo por breves instantes; mas a sua voz deve mudar no
correr da exposição, ao menos tanto quanto m uda na conver
sação comum, na qual você passa das form as enérgicas e rá
p ifa s com que expõe uma opinião a seus amigos, para a p re
cisão cuidadosa de alguma coisa que confie ao seu médico, ou
«o seu advogado. Ninguém acharia interessante conversar com
um homem que nunca levantasse ou baixasse a voz, nem mu
ila.sse a velocidade de suas palavras, nem mostrasse qualquer
. 11 íação de sentimento nos olhos e no semblante. Ninguém
acharia interessante ouvir uma aula assim monótona. A e x
pressividade da fala é natural. A repressão e a insensibilidade
•• que são artificiais.
Ainda assim, a aula de exposição, ou a conferência, não é um
«niilóquio. De certo modo é um discurso, e não deve ser tôda
f m tinn de conversa. O ilustre historiador A . J. Toynbee escreve
i e|B entusiasmo, variedade e coerência adm iráveis; mas, quando
jiieleciona, parece comunicar as m ais arrojadas teorias e os
ítuiis poéticos exemplos, ao seu grande e atento auditório, de
forma loquaz, tal como se estivesse trocando gentilezas com
Um hóspede, na sala de mogno e prata do Conselho Superior
d« Universidade de Oxford. A quêles que tiveram o prazer de
lu v ír suas conferências, na U niversidade de Colúmbia, no in-
Veiim do .1947, perceberam que tinha muito a dizer-lhes, e
rtiuitn aprenderam de suas lições. M as alguns dêles claramente
pntiiÉun que o Professor Toynbee estava improvisando sôbre
temas que abordava — ou, talvez, traduzindo as densas
J i i t i l i c vastas perspectivas, de seu Study of History, em f r í
y§lèií» c fugitivas frases de amena conversação. Êle o fazia
l i liM í p í i h i i e n l . e p o r polidez. Provàvelm ente entendia que um
f l i a i l f u l a l a a um auditório, ao passo que uma conversação se
I n t u i u / e n t r e pessoas de igual nível de conhecimentos. Relutava
Bi ii .! ,1111111 a atitude de uma autoridade que estivesse expli
uh suas próprias doutrinas originais; parecia mais um
b#iu'!«iiI«- que se juntasse aos ouvintes para descobrir e de.sen
V o lv e i \ ( n l a d e í i impessoais. T alvez pensasse tam bém que am
pies i oiii eiti f. não podem ser tragados de uma vez, mas devem
sti \ H|tai d lamente meditados e assimilados; seria melhor, poi
issii È,ii £3íi(i ( i lu d o r, apresenta los c o m m u it a tá tic a ao a u d it ó r io ,
amiii i ini que e l e ns ingerisse, trago a I rapo. Taive nisso
iv t
f l l l V i l i i certo; mas também era certo que aquêle auditório,
iuiln ■ I* pessoas não especializadas, necessitava de orientação,
rntrttt?indo que se lhe mostrassem as idéias profundas que não
poderiã logo alcançar; no próprio fraseado do Professor Toyn-
I - • deveria haver como que um estímulo que respondesse à
tdilude de total atenção e compreensão por parte dos ouvintes.
I r.: o não havia.
Á voz e os gestos tornam, portanto, o plano da preleção mais
i luro. Nas classes dos colégios e universidades o uso do quadro
"• f.' o ó sempre muito útil. Nomes difíceis, ou fórmulas, devem
• i eméritos para que possam ser copiados e fixados. Isso é
6b\ io. Mas também será útil adm itir que o quadro seja como
h "tabula rasa” da inteligência dos novatos, a fim de que nela
> inscrevam os pontos mais importantes da aula. Uma breve
■eritença ou uma equação podem ser escritas em poucos se
gundos. Perm anecerão no quadro, enquanto sejam explicadas e
enquadradas no conjunto do que se exponha, permitindo aos
a luuos que raciocinem na direção do que deva vir depois. Então,
deixe um intervalo e escreva o ponto seguinte. Dêsse modo, ao
fim da aula o quadro negro conterá um sumário, com o m ovi
mento exato de suas idéias, que se fazem claras pelo espaça
mento das frases e diagramas; no decorrer da lição também se
terá oferecido assim alguma coisa que a classe deve observar,
como um repouso para a sua visão, por todos os momentos
fixado no rosto do mestre, de todos bem conhecido.
A televisão ainda está em estado rudimentar, de amadorismo.
Mas não é difícil prever que chegará o dia em que se torne o
melhor instrumento para a disseminação de notícias, a propa-
uid.i política e alguns tipos de ensino. Muitos assuntos, pelos
qii.it:. os adultos se interessem, serão ensinados em programas
noturnos para grandes grupos, que se ponham diante de um
II mi e l ho de TV. Já sabemos pelos filmes, como é desesperador
que n a d a mais se mostre que a imagem de um especialista,
l e n d o rapidamente as suas tiras dactilografadas, e lançando de
tempo a tempo, um olhar para a câmara. A s técnicas para o
eu:.mo pela T V exigirão anos para que se aperfeiçoem, mas
parece d a m que um dos tipos básicos será um melhoramento
de todos os métodos atuais da preleção: uma combinação do
mti c pela pessoa, que será dado pela voz, pela fisionomia
e e |n.•'.•..(() pessoal do professor, com exem plos e demonstra-
.... tomados por outra câmara, e frases-chaves, apresentadas
de tal modo que prendam n ateuçao dos espectadores e em sua
)84
memória se fixem . A través dêsse recurso técnico, as possibili-
dades do ensino, no futuro, poderão abranger todo o planeta,
atipgindo as muitas e diferentes camadas de nossa, infelizmente,
tão dividida humanidade.
Jifí
Intenso, é mais breve e menos fatigante; mas, para os profes-
sores de línguas, literatura, filosofia, história e estudos relativos
to homem em geral, é realm ente muito penoso. Em conseqüên-
• i.i, os que ensinem essas disciplinas pelo sistema tutorial,
rar.imente têm tempo e energia para realizar outras tarefas
próprias da carreira. Algum as vêzes, só escassamente podem
acompanhar a bibliografia corrente na sua própria especiali
dade. Quando estejam sinceramente ocupados com o desenvol
vimento de uma dúzia ou duas de alunos, todos diferentes, todos
‘iii ('volução e todos interessantes, como poderão êles desviar-
> disso para ler o último número da revista Metafísica, ou do
Ihürlim Hispânico-português? E os novos livros sôbre o desen
volvimento do nacionalismo no fim da Idade M édia? Êles
pensam fazê-lo, mas têm de adiar a leitura, ao menos até à
■pocn dos exames finais, provavelm ente até as próxim as férias;
i ; 11 <'i|iientemente, não conseguem lê-los nem mesmo nesse
|'tTÍodo.
Mas, para os alunos, o ensino nesse sistema é a m elhor es
pécie dc educação que podem receber. O tutor procura conhe-
| i IfiH muito bem — melhor do que seus pais os conhecem,
freqüentemente m elhor do que êles próprios se conhecem. Em
tio e?;| reita relação, o professor não pode ser um tirano ou um
Indiferente. Freqüentem ente se torna tanto um modêlo como
um amigo. Êle dá a conhecer aos alunos as suas fraquezas e
líUTigc as por meios delicados, mas decididos. Conhece as fôr-
gg§ dos alunos e as desenvolve. Os estudantes podem sempre
| if i .1,1 u o seu auxílio nas dificuldades; e êle mesmo, muitas
t f i dc- cada um percebe as necessidades, antes que se ma-
RÍf*BtPin <» único perigo estará na personalidade do tutor. Se
pi =» ffn muito forte pode sobrepor-se ã do discípulo, para con-
Víi te la uurun cópia de papel carbônio. (Sócrates teve, ao me-
p M , Miim cópia de carbônio, que o seguia por tôda parte, imi-
ifM a .. geu trajar a os seus maneirismos). Mas é dever do tutor
|i( >i que i .so aconteça, contendo sua própria originalidade e
evitando que todo o seu intenso poder, assim se exerça. Nor-
mhiir.hie. «ifi bons tutores são flexíveis, adaptando-se aos dife-
jfeiiUü iipofi de seus alunos; de fato, não podem ser imperativos,
iint s homens monolíticos, de personalidade invariável ou de-
|#itiiiiiiida <i desprendimento que torna os tutores bons mes-
m uiii* Iaf |ut 111em enl(> nos leva a esquecê-los, como evita
tjue sbhs iduuofi i oinpiiu*ndam o m uito quo lhes ficam a dever.
i ;iii inaiien mais liem educados dos tempos modernos foi
M lahtl de Montaigne. Êle refletiu muito sôbre educação e es-
i tnveu nobre ela. Em seus ensaios sôbre o assunto conclui por
rilíai q u e todos aquêles que possuam recursos para educar-se,
s!., tiicim;. ale à idade do colégio, deveriam ser educados por um
!•• i i<.1 particular, ou um tutor. Não será para que seja
mimado (pois algumas vêzes êsse tutor o punirá mais resoluta
m e n t e que seus próprios pais), mas, para que se dedique, cem
por cento, pois o tutor deve fazer, de uma criança fraca e de
uma cabeça vazia, um homem às direitas. M ontaigne teve uma
elpécie <le tutor — um alemão que, pondo em prática as idéias
■!>■Beii pai, tomou-o, ainda tenra criança, para ensinar-lhe o
latim, como prim eira língua; cinco ou seis anos depois o m e
nino estava à frente das crianças de sua idade, tanto quanto
<l< monstrava apurado gôsto literário, que cultivou por tôda a
v id a . Contudo, M ontaigne nunca menciona o nome de seu tutor;
nau parecia sentir que tivesse um a dívida de especial gratidão
para com êle, algum a coisa a mais do que devesse ao seu mestre
de esgrima. O mesmo se observa em Rabelais. O m au tutor,
Holofernes (nome que sugere a idéia de “ tirano” ), e o bom
tutor, Ponócrates ( “poder através do trabalho” ), desempenham
importante papel na educação do Príncipe Gargântua; mas,
terminada a tarefa, o jovem príncipe não se mostra reconhecido,
tanto que trata a Ponócrates exatam ente como a qualquer outro
membro de sua côrte. M uito poucos discípulos escreverão,
como iè/ Logan Pearsall Smith, em sua autobiografia, que em-
pregar um espírito de prim eira ordem, no trabalho tutorial, é
um desarrazoado desperdício de bom m aterial” ; porque, tendo
valor, os jovens progredirão e virão a deixar no mundo as
marcas de sua personalidade. Mas isso representa alguma coisa
.) favor do método. Porque, como afirmei, êle se baseia no
principio de que a educação é a arte de extrair do discípulo
u q u e já esteja dentro dêle. A u x ilia o aluno a tornar-se o que,
potencialmente, já seja. Portanto, concluído o trabalho, o aluno
w iite que nada lhe terá sido dado, que êle apenas se desen-
v ol v e u. Nós, que o ensinamos, sabemos se terá sido bem
.1,1111, ma:;, se formos prudentes, nunca lhe diremos a verdade.
* *
*
nto
I *?í» feH
It u por finda a missão, dizendo: “ Pode ir. Você será o
muidi cantor da Europa” . É certo que essa infeliz criatura se
tornou um dos mais adm iráveis cantores de todos os tempos,
i •lia cantar mais pura e suavemente, e executar difíceis es-
, .1 , de modo mais flex ível e gracioso do que qualquer prima-
tliiuíi de nosso tempo. Mas o seu mestre arriscou-se ao em pregar
i""c> o tao estranho; podia mesmo nada ter obtido. A m aioria
dos alunos, se não todos, desejam ter provas do seu progresso,
80b a forma de novas formas de trabalho, novos desafios a
capacidades, uma mudança, enfim, de qualquer espécie. A
monotonia disciplinada é bom treino, mas fàcilm ente se trans-
f o r m a em repetição mecânica; e, pela repetição mecânica, nada
mais que artifícios podem ser ensinados e aprendidos, a não
flcf cm raras e laboriosas exceções.
O sistema tutorial não está muito difundido. Floresce em
O xford e Cam bridge. Tem sido ensaiado na Universidade de
I larvard (Estados Unidos), mas, por ser dispendioso em tempo
e esforço, aí não encontrou perfeito êxito. Em numerosas uni-
< i::idades existe, porém, uma forma um pouco diversificada
do sistema; em pequenas classes chamadas seminários, um
■;!udante lê um relatório cuidadosamente preparado sôbre um
d term in a d o assunto, à sua escolha, e o defende das críticas que
oh colegas apresentam; além disso, ao influxo das críticas do
professor encarregado de dirigir o seminário, bem como aten-
■ lendo a suas sugestões construtivas, reescreve mais extensa
mente o trabalho, como se se tratasse de uma parte de um
tratado. O professor que orienta um estudante, já graduado, na
feitura de uma tese que lhe tome mais de dois anos de trabalho,
qur examina o esbôço de cada capítulo e discute cada problema
à medida que surge, está realm ente exercendo o papel de tutor,
no mais alto nível. Tanto quanto eu saiba, porém, a relação in
tensa e exaustiva, mas compensadora, contida naquela frase •— •
"um imples banco, o m estre numa ponta e o aluno na outra”
- i,ó existe na Universidade de Oxford e na de Cambridge.
Eu esüve numa e noutra das pontas do banco, como aluno e
como tutor, e, em ambas, colhi das melhores experiências de
minha vida. Trabalhei dêste modo quando estudante: fui pôsto
. iii confronto com outro jovem que fazia os mesmos estudos.
if,r®m<>s chamados tôdas as quintas e sextas-feiras, às cinco
1101,1;;. ao escritório do Professor Ilarnish. P ara uma quinta-
fHia. eu devia escrever vim ensaio sôbre uma parte do assunto
lü
que estávamos estudando. O tema, mais avançado que as aulas
que freqüentávamos, deu muito mais trabalho do que eu podia
■«perar. Entretanto, eu o term inei na m adrugada da quinta-
fcua, e o li para o Professor Harnish, à tarde. Dick, o meu
eoluga, ouvia. O professor, em sua poltrona, fum ava com os
olhos fechados, revelando uma curiosa e confusa expressão de
Interesse, aflição, apreensão e esperança, no semblante. Depois
que terminei, êle olhou para o fogo da lareira, por um ou
dai;: minutos, sem dizer nada (e aquêles momentos eram
i inprc desagradáveis, mas nêles eu aprendia m uita coisa).
I >epois, começou a propor questões sôbre o meu trabalho,
I>:»!•iij: i por página, parágrafo por parágrafo, palavra por pala-
VFR Que autoridade tinha eu para fazer aquela afirmação, que
Ipfueria na primeira página, sôbre os Aliados? Sim, era certo
que e l a aparecia em todos os livros sôbre a m atéria; mas quem
p iir a a afirmação original? Não devia ela m erecer mais cuida-
tlnf.il análise? Que outras interpretações perm itiria? Sabia eu
tjUeín já as teria proposto? Não se lhes deveria dar maior
atenção à vista de recentes pesquisas? E, na página cinco, qual
* • ' ti texto original donde eu havia tirado uma citação? Era
• a tradução comum que se lhe dava? Que podia justificar a
V ifilo que eu apresentava? Consideremos tudo isso, agora,
j ! íjt k filtrava neste ponto e nós três engajávam os o debate).
^ !• i • •ü .1 página era um picadinho requentado da teoria de
Tuskiãi ( não ora? Qual era o ponto fraco dessa teoria? E, assim
ilgi cliimlr, no exam e minucioso de todo o ensaio.
I : ptiifi disso, o professor considerava o meu escrito no seu
H hjutiii), apontando as omissões, pedindo-me que as justificas-
I =íu BlBltrasse de que modo poderiam ser sanadas. Term inava
f un, . (Hiueas e elegantes referências a certos trabalhos de
há pouco concluídos, argumentos levados naquela
H p íin g à "fioi-ii-dade dos Am igos da B íblia” , ou citava um
p t i livro de Caversham , sôbre o assunto. “Não quererá
6 •iiiiina In um pouco? Isso feito, você poderá, para a
Üima mmana i■ :;cn‘Ver sôbre tal e tal coisa” . Tudo termina-
i( . i ... «in. ■ eu e Dick para um bar, onde tomávamos um
tiMhi HífMei iili. i /dlee (h* X<M-07..
i dai ü n,r, qtiiiiUu; feiras. Nas sextas, era a vez de Dick
sgii i ii ih. eiiquunto eu o ouvia em silêncio. Depois,
, t, .h . . ■. iii do Prole,1-sHor Harni.sb, nos mesmos rnol
|gs jn tlgsi jjtíig. Nu ,semana seguinte, <> menino ;ie passava. Ao
lil
fim tio pci iodo letivo, cada um de nós havia escrito oito ensaios
• iiuvidn a lc>itura de outros oito, todos no mesmo domínio de
. i i hl*> i lo qual liamos os livros e freqüentávam os as aulas.
< Htn é um prazo curto, mas, por efeito daquele tra
balho intensivo, passávamos a conhecer muito e muito da
fshjifM íaiidade, e de modo aprofundado.
Num estágio preliminar, quando ainda estudávamos línguas
e h ífi atura, nossa classe fazia um pouco de tradução duas vêzes
por iicmana: prosa alemã para o inglês; prosa inglêsa para o
fíijianhol; poesia russa para a poesia inglêsa; poesia lírica in~
Hli- .1 para versos latinos — o que quer que estivéssemos es
tudando, e, comumente, tão difícil quanto nossos estudos per-
11111 issem fazer. Algum as vêzes só, outras vêzes com o meu com
panheiro, eu entregava a composição ao professor que orien
tava o estudo da língua referente ao exercício; êle a exam inava,
palavra por palavra, criticando a escolha da m étrica e do
vocabulário, fazendo sugestões sôbre as frases menos felizes,
conferindo o ritmo e, por vêzes, escandalizando-se e lançando
n 111 enérgico sinal de admiração ( !) à m argem de um disparate
que tivéssemos cometido. Finalmente, explicava a expressivi
dade e a graça que se devia dar ao conjunto. Freqüentem ente,
m ostrava uma versão do mesmo trecho feita por êle, a qual
cnlao copiávamos, integralm ente ou em parte, como quisésse-
nios; e não podíamos deixar de admirar a beleza e a fôrça
i lc:;:;as versões. Uma ou mais vêzes por semana, nessa fase, seis
ou oito de nós nos reuníamos no seu escritório para ler breves
*'ii*,lios sôbre assuntos especiais; o m estre imediatamente os
criticava, menos intensamente, porém, do que o Professor
I larnish o faria no estágio seguinte, mas, de modo a fazer variar
a:; i iigostões para que o nosso interêsse aumentasse. Depois que
ííc 11 i lha lido um ensaio sôbre Lutero e a luta dos camponeses,
oti ouvido cinco outros sôbre Erasmo e a Reforma, sôbre a
í i i" ii a vida de U lrich von Hutten, ou sôbre Pedro Canisius e
o;; Jc:;uítas na Alem anha, os Anabatistas de Munster, e os en-
II •<I< que se faziam entre o Imperador e o Papa — depois de
tudo i;;;;o, chega-se realm ente a saber alguma coisa sôbre o
movimento da Reforma, na Alemanha.
Hflcmbrando êstes exem plos de minha própria experiência
i ,<■ bem que se apresentem um pouco alterados) consigno
loiiiha dívida de gratidão ao professor que me ensinou grego,
i li em pregava o sistema tutorial porque eu era o seu único
aluno; e, o que era mais importante, dava-me m etade da hora
do seu próprio almôço para a correção dos exercícios. Ambos
cuidávamos do grego como uma parte extra de nosso trabalho:
••ii, porque apreciava a idéia de aprender a escrever naqueles
curiosos e atraentes caracteres; e êle, porque (eu não o sabia)
■ i n um frio e calmo escocês, que raram ente demonstrava en-
lu.siasmo por qualquer outra coisa que não fôsse o seu jardim.
Talvez desejasse ter um aluno que pudesse avançar até a uni
versidade, o que lhe daria prestígio; talvez gostasse tanto do en-
ii io que se dispusesse a dar o seu tempo disponível a alunos
*'.forçados; e, certamente, porque gostava da literatura grega,
pois que nela me iniciou da m elhor forma. Quaisquer que fôs-
seni os motivos, orientava-me sempre com bondade, mas era
Implacável. Eu me sentava ao lado dêle em sua mesa (às vêzes,
filpichando uma orelha para os gritos de meus colegas que
blincavam lá fora no recreio), e traduzia a minha porção diária
de Jlomero, linha por linha, palavra por palavra. Êle não per
doava uada, nem mesmo o menor ye. Insistia em que eu fizesse
í trmluçao literal, correta, o m elhor exercício para um inician-
! i 'onio Battle, de Charles Lamb, êle amava “ um fogo vivo,
ouiti lareira limpa e o rigor do jôgo” , e se eu terminasse antes
tempo, não podia arrum ar as minhas coisas e sair. Não.
KíHftu, «'ii ora estimulado a penetrar no desconhecido, devendo
Ifid u iii /i página seguinte que não havia preparado nem mes-
n|§ nindn visto. O Professor Buchanan ajudava aqui e ali nas
*1 i * n tai.*: difíceis. No restante do tempo, ali permanecia,
Í üluf f .delicioso, recendendo a fum aça de cachimbo, roupa
•eilisi * £iilubo de jardim , mas, para um rapazinho que mal o
* ‘rtiMidi i ele representava a longa e nobre tradição do estudo
MÍij e do ensino saudável. Ofereço-lhe agora êste tributo,
«**«;•! Hid.. a pena:; (|ue o faça tão tarde.
* *
*
119
| i õ ” t 1,1 ) - Estudo dessa espécie, na classe, deve ser muito mais
que 11111»I«.; trabalho de memória, se bem que baseado nela.
<'nino quer que seja chamado, êsse método tem como base o
■ (tti 1<i i h<um compêndio, ou de uma série de documentos, em
11iif= iii 11 bem definido domínio de conhecimentos seja tratado.
A . l,r- c prepara-se para ler Macbeth, ou para estudar Charters,
dr Slubb, ou para aprender a anatomia do tórax. O professor
divide o assunto em seções, cada uma das quais é estudada
§m casa, como preparo de uma aula. N a classe, o professor
trin dois deveres. Um é explicar o que os alunos tenham ex
perimentado aprender por si; e isso êle o faz preenchendo
íi:; lacunas de compreensão, salientando as coisas que os alunos
nao tenham percebido, e, muitas vêzes, ajudando pelo treino,
n repetição e a explicação geral, que aprofundam a confiança
da classe. O outro dever é verificar se os alunos realm ente
fizeram a preparação, menos importante que o primeiro, mas,
em muitas escolas, infelizmente, dominante. A verdadeira ta
refa para a qual os professores são preparados, e são pagos,
i- ajudar os jovens a aprender. A muitos pode parecer também
necessário que os obriguem a aprender.
Não sei, exatam ente, quando esta segunda necessidade veio
a obscurecer a primeira. Penso que isso se deu com o desen
volvimento da educação comum, nos países ocidentais. É ver
dade que sempre tem havido resistência ao trabalho escolar e
relutância em aprender coisas difíceis e tediosas. Dificilm ente
alguém aprende a tabuada da m ultiplicação para divertir-se.
Co mo já notava Shakespeare, nós reconhecemos as crianças em
■aininho da escola por suas faces brilhantes de alvorada, mas
também porque se arrastam como caracóis, sem vontade de
murchar para a aula. Parece-m e que essa resistência não se
lem mostrado em classes inteiras de jovens, ano após ano,
Heiiao depois que o ensino deixou de ser um privilégio dispen-
Nfldo a poucos para tornar-se obrigação imposta a todos. Nos
pai:;r:: em que a educação é obrigatória para os jovens até
dezesseis anos, é muito difícil, para êles, compreender que isso
<- n mais valiosa dádiva do estado, depois da segurança nacional,
i* i I i adicional, aim, e cm desuso. Inicialm ente r e c i t a t i o n designou simples repetição
n.MNHiúuilu du u m toxto, como (‘111 português, na expressão ‘‘recitação de u m a poesia” . Assim
figuta imi Iivi1* publicado «m 1847, por D a vid Pago, Theory and Pratice of Teaching. M ais
i n i *11 11)111 a difusão da» idóins d<* H erbart nos Estados Unidos (1860-1900) o têrm o passou
í, si-i apliiadu tam bém a cíoio* do associação o aplicação de um tom a, sob a direção
d.i m pièvianiontn «istudado pelos aluno*, o quo so podo ver no livro dos irmãos
M i Mutn-, l'h§ Mmthoà •»/ Itm itation, publicado em 1H‘)7. Nun idéias aí expoitas, enoonlra-so
t.ütm .jub ti yeiiiie do p la iif jaiueiitn do ensino piu “ unidadpM d») trabalho” , ou de “ globulização”
tãu i vega ív /
1(4
tia saúde pública e da manutenção da ordem. Se o ensino é
acompanhado ou sancionado por penalidades, passam a odiá-lo.
‘ le se torna fácil e deleitoso, não o tomam a sério — como nas
escolas em que os alunos sejam “ automàticamente prom ovidos”
cada ano. Isso significa que mesmo que não tenham aprendido
o primeiro ano de geografia, por preguiça ou incapacidade,
devam ser empurrados para o segundo ano de geografia, li
vrando-se das mãos do primeiro professor, com o que se evitará
u perigo de dar-lhes um sentimento de inferioridade, em face
de colegas mais inteligentes e mais aplicados. P ara êsse pro-
blcma, não vejo nenhuma solução exceto esta, muito radical: a
de iloclarar que tais parvos não estão preparados para o ensino
nos livros e que se devem estabelecer escolas profissionais,
«scolas ao ar livre como as da organização C C C (*), e as escolas
domésticas, em que tais jovens possam ocupar as suas fortes
máõ:; até que se desenvolvam um pouco mais. (Montaigne,
liuniem bastante moderado, e devotado ao ideal da educação do
p o v o , por bondade natural, não via outra solução. A firm ava que
• ii111 rapaz se recusasse a aprender, ou provasse que era abso
lutamente incapaz de fazê-lo, “ o responsável por êle deveria
• ii.uij*,ulá-lo longe das vistas de testemunhas, ou, então pô-lo
• õfflo aprendiz numa pastelaria de alguma grande cidade” ).
Miujuanto assim não se faça, como é que o professor deve
■óndiizir a sua classe a aprender?
Muito dependerá de sua própria inteligência e caráter. Há
llfu n fi homens que nos irritam mesmo se os vemos apenas por
ineiii hora. Há algumas m ulheres que nos dão a impressão de
(õh i. ou estúpidas, mesmo que as tenhamos ouvido apenas numa
i!iHtver.,a pelo telefone. Tais pessoas não podem ensinar a não
soi que empreguem severos processos de coerção. Isso aliás foi
Í#iinidailo, quando tratamos da personalidade do professor.
Uiir po.leremoH agora ajuntar quanto aos métodos?
........ . lo d o mais simples de descobrir se a classe estudou uma
U fio c i le estim ulá-la no estudo das futuras lições e fazer-lhe
|»t'HMi"i.i l'erem itas escritas com respostas escritas são “ tes
te#” “ provas" ou “ exam es” . Terríveis palavras. Minha alma se
" ao ouvi Ia;;. Estou farto de corrigir provas, e tenho
priBÍdido a lautas centenas delas... Ainda assim, seria incapaz
t -i iiiít-iaU d# “ í ivjfian Conservatlon Corps” , organização educativa criada nos Estados
.......... ! !»11 !•«*« dai t*. o jovens dostMiiprcgadoN, quando da grande depressão
js - - “ sir tt tin i: il: 5 31 i> nis 3 «i í iiliiiM i t )i u 111/ ii v u u r u i 11p u m u n t o * m i zon a» r u r a is , d iH p tn iN u n d o
I |N=t-«s «cii.3 agüi|iade§ éi1»n syãu física, proíii«í<mal, cívica o m oral. Cudu campo era co
I — * m i l " ÍM a l d** |i kph iin Anita í« ano, o dirigido, liou titdmlhoii do «'imino, por um
■ím- Í. í -i A ..ie-aíiiíOLã.i f.li caliiila tm 1942. N . do T.
\m
de hn f iliai nlguma coisa que as pudesse substituir, e não en-
t unhei ainda quem o fizesse. Recordando a história da educa-
Va", ll" t" ponto interessante: em outros tempos, quando as
|h : '*;» ■c i a m bem educadas, tôdas as provas de exame, de
nmlui importância, eram orais. Os gregos e os romanos tive-
riín excelentes escolas e quando os alunos aí tinham de ser
mi ma d o s , recitavam poesias ou faziam discursos. Há a des-
eriçfto de um pequeno exam e em Shakespeare (A s Alegres
<Umadrcs de Windsor, IV, 1), e êle é oral. Nas grandes uni-
'» i ii iat l(‘s medievais, a graduação dos licenciados e doutores
exigia uma tese por êles defendida, em debates com os seus
■s it ico;; e concorrentes; essa prática, aliás, ainda sobrevive na
b if t e oral dos nossos exames de doutorado. Mas, de exames
ff.critos, em que tôdas as cabeças se inclinam sôbre um mesmo
questionário, e os sobrecenhos se enrugam em face dos mesmos
problemas, não ouvimos falar senão a partir do século X IX .
Talvez isso tenha ocorrido com o enorme aumento da popula-
ffto (tanto dentro das escolas como fora delas), e com o desen
volvimento das técnicas modernas da indústria. Uma sala cheia
de candidatos num exam e de estado, demarcado com exatidão
por um relógio elétrico e dirigido por atentos inspetores,
■ i-molha-se a uma linha de montagem de produtos Ford, nem
rnais nem menos.
Isso advém do fato de tentarem os especialistas em técnica
educacional criar um sistema de exames que possa funcionar
COmo uma máquina. Seu fito é produzir uma série de testes
perfeitamente objetivos, de aprendizagem e de inteligência,
Comparáveis às provas de sangue, linfa e tecidos em labora
tório, e que são feitos nos grandes hospitais, para m ilhares de
pacientes que nunca chegam a ver os examinadores, mas apenas
0 empregados de quem recebem os resultados. A s provas ou
ti«tes são feitos por um especialista, mas corrigidos por um
tíiupn do técnicos, como numa linha de montagem. O especia-
JíMa lao-.sòmente prepara as questões, pondo logo abaixo dela
uma ie:.|)o;;fa certa e três outras erradas. A resposta certa está
la, ui, papel impresso. Os examinandos terão apenas que reco-
iiiircr la:;. Consideram a pergunta e as quatro respostas. Es-
• levem no lugar indicado um número, 1, 2, 3, ou 4 , o qual deve
1 oi 11- .ponder a resposta certa. Depois, um grupo de moças
iif-ínada.';. como ,se fôssem verificadoras de lâmpadas numa
i iin ii i, percorrem as provas, comparando os números marca-
i|nf. com ns (la lista padrao, que indica a resposta correta, em
13b
1‘Hda caso. O total das respostas erradas é subtraído do total
dus respostas certas. Uma percentagem é deduzida para os
acertos por adivinhação. O resultado final da operação dá a
nota do candidato.
1)o ponto de vista do professor, isso é deliciosamente fácil.
1’arn verificar o trabalho de memorização, é muito útil. Por
que alguém se deve incomodar em perguntar aos alunos, um
por um, as datas das revoluções européias ou as valências dos
■-li mentos químicos, quando ao mesmo resultado se pode che
gar de modo muito mais rápido e menos pessoal?
IVlas, em nível que transcende à memorização, testes dêsse
tipo decepcionam. Imaginemos um exam e sôbre o Novo Testa-
rnunto. A primeira questão diria:
Pedro era:
(1) um soldado
(2) um rico fariseu
(3) um pobre pescador
(4) um agricultor abastado
I
do ensino as tentativas de adivinhação, ou o acaso, ou a trapaça,
pes txam es” . Isso seria maravilhoso se pudesse ser verdadeiro!
Uma vez um professor deu a seus alunos listas de datas e
fm mulas para aprender: se êles memorizassem que Justiniano
reinou entre 527 e 565, ou que tôdas as palavras inglêsas que
ím minam em m ent são masculinas, exceto jum ent, estariam
pi f-parados para responder. Dêsse modo um estudante inteli-
jt n t e logo descobre os pontos e questões a figurar nos testes.
iilQ teria mudado? Não. Depois de m eia dúzia de testes de
“novo tipo” serem aplicados e corrigidos, cada professor des-
ffib rh á os cinqüenta fatos “ exam ináveis” dentro de cada dis-
i iplina, e os alunos mais inteligentes também — com absoluta
i et i. a de ver que, ao menos vinte e cinco delas irão aparecer
nus provas. E assim farão de novo, para outras provas; ou,
§htfU>, o exam e será m al organizado. Nesse tipo de testes, per-
itiu târ se-ia, ao menos uma vez em cada três anos, se São
Pi dro era lavrador ou pescador: não haveria escolha, a menos
<iun i t imitasse o Imperador Tibério, que perguntava “que
( Kflfio cantavam as sereias” , ou “ que nome tinha A quiles quan
do #e escondia entre as m ulheres” .
Í m disciplinas mais complexas, ou naquelas que se ensinam
sem m.iior profundidade, é virtualm ente im possível preparar
}, . dêsse tipo. Há dezenas de respostas possíveis para
■ügitfie.M como estas: Em que residia a fraqueza da política
fjBtiünenlal de Napoleão? Qual a im portância das óperas de
piJJini? et,c.; fixar uma série de respostas que possam simpli-
fI* «ar ÉBiNefí problemas toca as raias da imbecilidade. Então, qual
18 á ü . .11 io? Como dar notas às provas sem introm eter nelas
à i p i s a s deficiências pessoais ou a nossa cegueira?
| P processo mais seguro é fazê-las ler por uma comissão. Se
» especialistas lêem uma prova separadamente — cada um
jjendn «11te o outro também a lerá e que pode ser mais atento
flienii s .ii hil i ario - e dão ambos suas notas em separado, e
lep- i .c. discutem, antes de decidirem por uma nota final, o
g#ultwdn deverá ser muito seguro. Devem ter um terceiro
nl* r • • n-.ierva, a ser chamado sempre que as duas notas
íilí» 1 liem muito, Nos mais sérios exam es em que tenho tomado
k |w»i'|to. ü comlHHâo julgadora tem sido de cinco membros. Nc-
íibiiHiii pi o\ a fõl lida por menos que dois dêles. Cada prova
ílie idii.ii ou prova de alunos duvidosos, era lida por três ou
{|i)èiin e! iimluadoi es, várias vé/,(>s. Ao lermiiuu* a tareia, sen
110
ti mums .((n' os resultados eram tão dignos de confiança quanto
u Míôrço liumano pudesse realizar.
ivl.i quando um professor tenha de julgar os exam es de sua
piúpuít classe, poderá estar certo de que suas notas tenham
i n itci impessoal?
Nii verdade, isso será muito difícil. O aluno A tem boa m e
mória, mas tem má caligrafia e as suas provas são desagra-
<In\«■ i:; de ler. O aluno B é inteligente e interessante, mas
comete erros imperdoáveis de ortografia: fora com êle. A pena
du aluno C secou, e êle escreveu quatro questões com lápis m al
apontado, que nos dá dor de cabeça para ler. O aluno D é o
jovrm magrinho que dormita nas aulas, raramente levanta os
seus olhos e, ainda assim, parece que continua a dormir; como
e que a sua prova pode ser lida com o necessário carinho? Mas
o nosso dever é esquecer todos os defeitos dos alunos e as nossas
nntipatias, para exam inar as provas com a consciência livre de
paixões, e perm itir assim que só a razão se manifeste.
K difícil fazê-lo a uma prim eira leitura. Portanto, tôdas as
provas devem ser lidas aos menos duas vêzes, com um dia de
intervalo entre as duas leituras. É difícil esquecer as pessoas.
Portanto, os nomes dos alunos deveriam ser dobrados ou ocul
tados, se possível, e as provas ordenadas de forma arbitrária
não aquela em que as melhores sejam vistas em primeiro
lugar, e depois, as outras.
K difícil evitar o efeito da leitura de umas provas sôbre as
olltras, ou a fôrça da personalidade do autor de cada prova
■obre quem corrija os exames. Portanto, o melhor meio para
dar notas a um grupo de provas é dissecá-las, — se bem que
isso seja enfadonho e exaustivo — e ler cada questão separada
mente, dar a cada uma a sua nota, e depòis a nota total. Ao
invés de ler tôdas as provas distintas, dando-lhes uma nota e
logo as de grau inferior, você lerá a prim eira questão nas me-
Ihores provas, dando uma nota provisória; depois lerá a mesma
questão do grupo de provas menos boas, dará também uma nota
piovisória, e assim até o fim. L er tôdas as diferentes respostas
dadas a uma mesma questão é muito penoso, eu sei disso. Mas
obriga nos a ser objetivos. Se um aluno, embora o julguemos
Inteo, fase mais pontos e explica melhor que outro, de quem
t r i l ha mos melhor impressão, aquele primeiro deve ter nota
mais alta S r você ler tôdas as respostas a uma dada questão
hrguiilanirnlr, comparando as, as notas trrao maior prreisão,
140
Imaginemos que o exam e contenha cinco questões. Ante:; <ie
mmeçar, você form ulará e escreverá os pontos capitais e se
i uialados que julgue poderiam figurar na resposta de cada
questão. Nenhum aluno provávelm ente poderá tocá-los, todos.
A liM-Uis poderão provávelm ente fazer quase tudo — e a nota
mms alta deverá ser dada a êstes; e eis aí mais uma razão para
1*1 ns provas duas vêzes. A lguns pontos você achará que foram
fim Lidos por todos os alunos. Se isso acontecer, o seu ensino foi
ilflin en te nesses pontos; leve isso em conta no seu trabalho do
giut próximo.
I íepois, dê a cada questão uma nota numérica m áxim a, quan-
É6 bem respondida, de modo que o total m áxim o seja um
numero fácil de calcular, como 100, 500, ou 1000. Você pode
íãIii i ir as suas notas depois de uma leitura, quando veja como
is várias questões foram respondidas, mas comumente elas
| i l manecem. Então, prepare uma lista com cinco colunas e mais
Uma para o total; deixe um espaço para observações sôbre os
pUnOH Aí preencha cada uma das cinco colunas, separada-
BBnte, a medida que você leia as questões; totalize os números
idiante do nome de cada aluno, e você terá uma série de resul-
t a - p e r f e i t a m e n t e objetivos, que por vêzes o surpreenderá,
pi» sim clareza e nitidez. Faça o mesmo um dia ou dois depois,
■WAi nova fôlha de papel. Compare os resultados. Releia qual-
ijiiei ilas provas que você tenha julgado muito desigualmente
g fu m p n ie as com outras, até que encontre uma decisão firme.
IntRo, misture, polvilhe com pimenta e sirva...
I fiJiiido agora a sério, êste método é bastante rápido e
■klto jireciso. Êle perm itirá que você justifique qualquer nota,
iitlln paia um aluno que não tenha ficado satisfeito quanto para
jfíiei m. nu). E pode ser utilizado para transform ar o exame
Éuin iir ti umento de aprendizagem. Uma autópsia das provas
I (nuitmi \ ezes muito vantajosa, se você explicar como devia
iei5 a i e .posta completa sôbre a questão relativa à política
jftlthm ulal de Napoleão, e puder citar algumas boas observa
3 ( 'i| d iv e r s a s provas. É mesmo adm issível que você dê a
Jibici aos alunos alguns dos disparates mais atrozes que
reveiam , desde que não dê nenhum indício dos autores. Os
gyiftM e.- deleitarão com isso, porque se sentirão superiores e
#ti! Is 11 ,|U(* tiverem perpetrado êsses disparates aprenderão,
iíim ii ! pi» ii dos risos que receber cada uma de tais atroei
sUiites , fi, iiino gratoH por não se haverem declarado os nomes
ii: alèm ilaqiHda dlBltação cômica, a classe no seu conjunto
mi
.!■
< . ■que você trabalhou da melhor form a para fazer justiça,
i >i aluno:; terão sido levados a pensar sôbre o assunto, não me-
i tinunlc como uma arm adilha de exame, mas como um tem a
paru sensato confronto de idéias.
❖ ❖
❖
141
Todas essas conclusões são erradas. Nada é mais importante
! ii .1 abrir um novo campo de estudos à classe do que verificar
| trabalho feito em casa. Nada tam bém mais criador, porque
miu.i classe logo percebe se você está apenas interessado em
Ipanhá-la em falta, ou em provar que ela está errada, e em
ilfilm exibi-la, constrangendo-a; e, se assim fôr, a classe logo
Snventa meios de evadir-se e de irritar o mestre. Mas, se ela
i§ ’ <ii ivence de que você cuida mais dos assuntos que das de-
íif íí ncias pessoais dos alunos, e que você não é um mero en-
fjnmiic que espera que êles façam todo o trabalho de modo que
»*». (• disso tire todo o proveito, então, êles começarão a com
es render a aprendizagem e o ensino como um esforço de coope
rarão, e alguns dêles farão mais que antes, e m uito poucos,
m unoN .
A i perguntas a propor a uma classe, a propósito de suas re-
|!i iii> tarefas, devem ser, portanto, positivas e criadoras, v i
sam In a fortalecer a compreensão dessas tarefas, aguçando a
(iii ii i. ii I.ide para as suas aplicações, expondo o problem a que a
■tisse po::;a ajudar a resolver. Suponhamos que os alunos te-
niiaiii .ido solicitados a preparar o estudo da geografia física
é i t , yrsos do Oriente Médio, constante das págs. 299 a 309 do
píiippiidto adotado. O mais fácil, mas também o pior modo de
Éfgeiu lita a hora da aula, será abrir o compêndio, dividindo
« ttela fi de/, páginas, mentalmente, em dez partes de cinco
H n u tog cada uma, para argüição simples; e percorrer a classe
irfUntHndo a cada aluno coisas que o levem a ser como que o
| de algumas sentenças de cada página. Onde fica Baku?
Bis im nru:; recursos naturais? Quais são os portos principais
1 Mui W rmêlho? Indique os produtos de Bahrein. Um aluno
Bjifftriu fífiá capaz, por êsse sistema, de repetir a lista dos
!V Ipfü , portos do M ar Verm elho, vinte anos depois de haver
pailii u i :,c()la; e outro, menos aplicado, de guardar a lista
§ u ii. si . próximo exame. Mas ambos não terão uma com-
M fAu r«ttl daquele tão importante e curioso território, ou o
K iis dAi.il dcaujo de ir adiante e aprender alguma coisa mais
=i i us| ipit 11 i l|le.
n iiisihdi m do p ara ensinar uma lição, como essa, será
Ifiiililh i|u. ,i i |.i.•.;,(* fêy, o que podia para ingerir todos os fatos
§jj}h>-iug du manual; e, então, levá Ia a experim entar alguma
BÍ c o m p l e t a (|ii<* de vida a êsses fatos o os integre,
jfi |lgi!fièn pura ii i jovens lembrar fragmentos d e informação q u e
§|§~ <■ ■■ ■■poãiijít ielueiunai com a nua própria vida, ou inserir
141
i< iiii.i de um maior esquema. Mas não é um esforço, antes
qituHí' tim prazer, relem brar uma brilhante imagem, rica em
minúcias, desde que esclarecidas. Isso pode ser feito pela esco-
lliti de um simples assunto para estudo, desde que considere
miiilns dos fatos tais como foram preparados, mas que os colo
que a uma nova e mais intensa luz. O assunto dependerá da
idado dos alunos.
<’om jovens alunos de doze anos ou pouco mais, você deverá
traçar um mapa (cometendo um êrro proposital ou deixando
u i i i ponto omisso) e depois lhes pedindo que o ajudem a en
144
■ !• • i-ncontraria e teria de resolver? Que m ovimentos de opo:.i
• “ i poderia provocar e como seriam vencidos ou circunscritos7
i -h fundamentar tão idealística discussão, você poderia dr
ílirar uma outra hora ao estudo do valor estratégico do Oriente
Mf-dio no caso de uma guerra entre dois ou três poderes mun
■taifl. Quais seriam os principais pontos de significação bélica
a • apturar e a destruir? Quais seriam as funções da Repúb! ica
J.-.i .iel, do Egito e do Irã? Duas horas de discussão séria,
"■ -t direção, com constantes referências a mapas, traçados
tanto pelo professor quanto pela classe, rapidamente levaria ;>
preparar e a dar unidade ao m aterial de estudo; êsse m aterial
li lia iluminado, na cabeça dos alunos, por muitos fatos meio
Mqui-ndos; e o assunto se integraria, para ter significação na
Vldn presente e futura dos alunos.
'• ano quando a explicação não seja desenvolvida sôbre um
Hüpft impresso, o quadro-negro sempre deverá ser usado. A
Irln cipal dificuldade para discorrer sôbre um problema na
é guiar e conter a sua idéia principal — para que nos
B ij nmno;; seguros de que chegue a alguma espécie de conclusão;
||u) a., menos, que os seus pontos característicos se tornaram
p a i i claros, evitando que o espírito dos alunos brotem como os
llpargo;;, numa dúzia de diferentes direções ao mesmo tempo.
j*«" <t .i bem resolvido usando-se o conselho do M arechal
B ' li : l,i , reuniões do Estado-Maior, depois que os vários ramos
| itrv iço s e representantes das diferentes fôrças dos países
■Éáai, e os ombros agaloados em ouro já tivessem discutido
l oün o:; outros, por tempo considerável, sem terem encon-
iíiitn qualquer conclusão ou mesmo se aproximado de uma
• 1 Purh costumava tomar uma fôlha de papel e escrever
Rita m i h>tras maiúsculas, muito grandes:
DE QUE SE T R A T A ?
1)
Objeção ou modificação
2)
Objeção ou modificação
3) ................................................................................
Objeção ou modificação
Conclusões:
a) ..................................................................
b) ......................................................................
!■: dilicil dirigir uma classe por essa forma, sem suscitar entre
mu meinbros o espírito de competição. Mesmo que o professor
não o iiiNtigue, os alunos o sentirão. Os menos estudiosos ficam
ühiitidns quando falhem em questões fáceis que os demais
141
resolvam. Os alunos aplicados, mas vagarosos, apressam-se
quando encorajados; os brilhantes, mas superficiais, sentem-se
eomo que desafiados a produzir mais e melhor.
Até que ponto a tendência da competição deve ser utilizada
no ensino? D everá aum entar segundo os prêmios e castigos,
elogios e repreensões distribuídos cada semana? D eve ser
Minorada? Ou deve o professor tentar discriminá-la, ou mesmo
aboli-la, tanto quanto isso seja possível?
í íeu uso é muito variado segundo os diferentes países. Nal-
K1111;:, a competição no trabalho escolar é um a forte tradição,
...... enraizada. Em outros, como nos Estados Unidos, procura-
se enfraquecê-la ou mesmo eliminá-la. Seus valores variam de
uma região para outra, e mesmo com as épocas. Contudo, al-
Kom.is observações de caráter geral podem aqui ser feitas.
Km primeiro lugar, a competição é uma tendência natural
■■n 111 * crianças e adolescentes. Ouça-os quando gritam e dis-
cutem, uns com os outros em seus folguedos. Observe os nume-
io .mi:; jogos e passatempos com que se divertem, tudo misturado
iU* cooperação e competição, espírito de grupo e rivalidade.
Imllíla sôbre as mais sérias competições próprias dos adultos,
hftn õinente em negócios e política, mas na ostentação pessoal
i f mniih, mobílias, automóveis e outras posses), no desejo ardente
■ lr- )m11>1icidade, e nos inum eráveis assistentes dos campos de
desportes, em que consumimos tantas horas e tanto dinheiro,
( l e i á interessante observar que os comunistas, que freqüen
temente criticam as democracias livres, porque apoiadas em
“ iu<le espírito de competição” , admitem, êles próprios, a per
sistência e o valor da natural tendência competitiva. De fato,
fum-edcin prêmios especiais a trabalhadores, cuja produção
situe muito acima do padrão médio, prêmios Stakhanoo,
us Hm;,:,i,i e Iíennecke, na Alem anha; e, também, habitualm ente
iffo lh e in urna fábrica, ou oficina, para que entre em competi-
feto direta com outra, numa “ competição socialista”, a fim de
qu<= «mlrns sejam levadas a produzir m ais). Evidentem ente, um
jiistiiiln tílo forte não pode ser erradicado. Na educação, por
fçmer-Huinte, deve ser usado para fins construtivos.
I " não só me parece natural como certam ente útil. Ser
jovem e crescer é como tirar alguma coisa do nada. Quando
mnyii, vnçe não poderia absolutamente dizer o que você era.
f iã«• o •! ! o que c111eria ser. Tinha apenas uma vaga noção do
.juir, .1. . j.i\ ,i m t ou do que pretendia fazer. Foi assim que você
H7
I# tornou alguém diferenciando-se dos outros. Por fim, as di
tei* ii« a-, passaram a ser qualitativas; mas, a princípio, eram
ii|H‘un , de grau. Você poderia correr mais depressa do que A
ou pular mais alto que B; venceria C no m ergulho, m as C
nadaria mais depressa. X poderia desenhar caricaturas melhor
i|U» todos os colegas, Y contar as m elhores histórias de fan
tasmas, (' Z escreveria os versinhos mais engraçados a respeito
dos profassôres. Assim era, e assim é. Fora da escola, a com
petição desenvolve tanto as boas qualidades quanto as más:
coragem, decisão, gôsto pelo trabalho; ou o amor-próprio, a
vhidade, a inveja. No trabalho escolar, deve-se utilizar, por-
t HiiIo, a competição desde que bem dirigida. D eve ser emprega-
da com moderação e cuidadoso senso de adequação, para que
desenvolva as boas qualidades e encoraje a aprendizagem es-
< l,itecida — e deve ser reprim ida antes que se torne preju
d ic ia l. Seria realm ente alarm ante que alunos de catorze anos
se consumissem numa desesperada paixão para conquistar um
prêmio regional de matemática, ou para vencer uma partida de
futebol contra uma escola vizinha. Ou seremos nós, os anglo-
Nnxões, tão fleum áticos assim? Lem bro-me que um estudante
francês, ao visitar a U niversidade de O xford, perguntou-me
<|tial era, em média, o número de suicídios após os exames; e
• u realmente ainda agora não sei quem de nós ficou mais sur-
pi condido: se eu com a pergunta, ou êle com a resposta.
( )s Jesuítas, que desenvolveram no século X V I e X V II uma
das mais bem sucedidas técnicas de ensino do mundo ocidental,
111di/.aram-se amplamente do espírito de competição e por meios
muito diversos. U tilizaram -na não como um processo de fazer
os jovens aprender, mas como um meio de ajudá-los a estudar,
• si nnulando-lhes as energias adormecidas. Tanto quanto aco-
roçoavam os melhores alunos a lutar uns com os outros, em-
progavam a técnica hoje comum aos oradores de comícios
p o p u la re s , que atiram uns grupos contra outros. Mas os Jesuítas
os formavam com certo equilíbrio: a metade da classe contra a
outra metade, partidos de meia dúzia de alunos contra outra
meia dúzia, e, finalm ente, todo o conjunto de uma classe contra
o u tr a , sempre de adiantamento sensivelm ente igual. Incitavam
o ; melhores alunos a que desafiassem seus iguais para pugnas
intelectuais que hoje nos assombram. Se um aluno da melhor
qualidade voluntariam ente se oferecesse para repetir uma pá
gina de versos, após uma só leitura, logo outro se ofereceria
pai a repetir duas páginas, (O.s mestres Jesuítas davam a maior
14M
atenção ao cultivo da memória; mesmo seus castigos muitas
vêzes tinham a intenção de fortalecer a capacidade de memo
i i/.ar, propondo, como propunham, que um aluno atrasado, ou
vadio, aprendesse uma centena de versos de cor, ou coisa se
melhante). Um grupo de jovens, notàvelm ente talentosos, po
deria desafiar a um outro — sempre sob a sorridente, fle x ív el
e encorajadora, mas prudente orientação dos padres-mestres
- para um debate sôbre importantes problemas, que m uitas
vêzes exigiam semanas e semanas de preparo, quanto à lógica
dos argumentos, o estilo e a própria m aneira de dizer. Talvez
e:, sos religiosos se tivessem excedido um pouco, mas nunca ouvi
Calar de m aior desgaste nervoso entre seus alunos. Certam ente,
>ni| >regaram o espírito de competição mais do que hoje o po-
detnos fazer. Não obstante, essa técnica foi a que produziu, em
p a r l e pelo menos, Corneille e Molière, Descartes e Voltaire,
i 'iirdaloue e Tasso. Nenhum m au sistema educacional terá
alguma vez produzido gênios como êsses.
Nessas condições, é dever do professor utilizar o espírito de
■"m petição, de form a tão variada como possível, para revelar
bk energias de seus alunos. Não se deve usar do princípio sim
plista da recompensa e castigo — o torrão de açúcar ou a
pancada — senão com jumentos. Situações de competição, que
malmente interessem, são exigidas para suscitar as energias
tu idlas de inteligências m uito complexas. A lgum as vêzes, ha-
Vf ia mesmo dificuldade em descobri-las. Mas, quando postas à
i" tornam-se de inestim ável valor. É m elancólico observar um
a h ....., potencialmente brilhante, abater-se no decorrer de seu
Imba llio, enfadado, desanimado, desperdiçando o tempo em
fi iiilen as, simplesmente porque não encontra parceiros de igual
pívtd em sua classe; e é encorajador vê-lo como se reanima,
«1um ii In um rival seja transferido de outra classe ou escola;
Siiiãu. aquôle primeiro rapaz encontra uma alegria impetuosa
fsiii apii-nder, ao mesmo tempo que sente um objetivo real em
seu 11 abalho. Nessa situação, como em tôdas as demais que
p i‘ "Iíi uri forte sentimento de emulação, o professor deve estar
alento n fim de que a competição não se torne obsessiva, e o
■ jit legitimo de sobressair não se transform e em amargura
■= ...ii,, Muito antes disso, ela deverá cessar, transformando-se
* i" i cíipn açán amistosa.
* *
*
UI
OhigamuH ho ponto em que devo mencionar outro incentivo
muito útil, de que poucos professores sabem utilizar-se. E
ihhíi.i . iuleli mente, nunca o poderão fazer. Pôsto em seu lugar,
a «f iiii111.i>.i l >' insubstituível. Não será talvez indispensável, se
m h1" .il/;uns de seus defensores assim o creiam. Muitas
■ <•• i p o d e r nem é mesmo sentido ou percebido. Resulta
do» 111•••.|ii Mudos e curiosos podem advir de sua aplicação. Seus
pfeitos podem aborrecer e, ademais, uns podem reclamá-los
num momento, para totalm ente destruí-los depois, qualquer
que M‘ | i ;i eloqüência e o brilho de raciocínio que, ao seu redor,
despertem. Ainda assim, aumenta na quantidade, se não na
ptõpria intensidade, em muitos lugares do mundo.
< teóricos da educação que elaboram métodos científicos
i lu nmente falam dêsse poder, porque êle é silencioso. Não pode
■i coordenado mediante planos produzidos nas repartições
adm inistrativas do ensino, nem governado por um ministro.
Põde ser estudado por analistas, embora o próprio processo da
análise o prejudique; e, certam ente, jam ais será claramente
eKplic.ido. Iremos bem compreendê-lo daqui a pouco quando
d e l e fnlarmos. Muitos dos que mais fortem ente o sentem, nunca
o mencionam, e pode ser que não o percebam, ou mesmo que
c i'.!em a sua vida em denegá-lo. Quem proclam a seu valor,
m.n . fortemente, m uitas vêzes é de seus mais medíocres repre
sentantes. Aquêles que o exibem comumente o apequenam,
tornando-o aborrecido e detestável, embora tam bém o façam
icíipeiUr. Um professor que a êle se incorpore, às mais das
vêzes dêle não fará uso ostensivo, podendo contentar-se em
pei ni i l ir que seja sentido por seus discípulos, para só uma vez
ou oufrn dar relêvo a certos aspectos. Mesmo nesse caso, rara-
m e n t e terá consciência da m elhor form a de dirigi-lo.
Í bhi' poder, ou essa fôrça é a tradição da escola ou da uni
versidade. Uma instituição antiga, por onde muitos grandes
homens tenham passado, na juventude, e onde seus nomes
fiejam relembrados e suas relíquias conservadas — a sombra
d i , árvores onde costum avam ler, os nomes gravados aqui
>iti idi; ou uma universidade de vários séculos, com a sua bi-
hlioie.M repleta de livros que tenham sido manuseados por
famosos estudantes e enriquecida por doações dêles, ao fim de
h i i-urreira; ou com salas que passaram a ter os nomes da
quele: que outrora foram pobres, ou infelizes, ou de uma am-
ia. i,i ardente, promissores e brilhantes jovens que aí consu-
111ii am ano» no afã de criar suas vidas, antes de partir para
1W
transform ar o mundo; ou com as paredes em que vivem os
reflexos das faces de seus filhos mais velhos, os quais contem
plam as novas gerações com olhos que atraem e desafiam, mas
também tranqüilizam os novatos... Sim, uma escola, ou uma
universidade dessa espécie, tem uma vida espiritual que lhe é
própria, que é muito mais que os edifícios, os professores e os
alunos de uma determinada época, e que atua como uma fôrça
poderosa sôbre o caráter e o espírito de quem quer que delas
,se aproxime. Aquêles que tenham freqüentado uma escola
comum, desprovida de maiores tradições, como terá acontecido
com a m aioria de nós; ou aquêles que, ao deixar o colégio,
entraram para uma faculdade relativam ente nova, sem, por
ia nto, lembranças revigoradoras e criadoras, um a espécie de
Ialu-ica de diplomados (e somos muitos de nós); êsses, dificil
mente entendem a imensa fôrça da corrente que atua num
espírito jovem , quando sinta que comunga de um a tradição no
<■ n:uno e na vida, e que é, agora, a extrem idade daqueles du
zentos, quatrocentos ou seiscentos anos... Poderá uma fôrça
U ls e gênero paralisar m uitas pessoas, se fôr apenas uma tra
dição restritiva, como a de sentir-se alguém pertencente a uma
família de arquiduques. Mas, se é uma tradição de ensino, toma
a feição de uma corrente criadora que nos arrasta para a ri-
iii< i e a m aturidade, corrente que, ao invés de entorpecer,
c iiinula as energias de nosso espírito.
Na essência, essa corrente começou a flu ir no fim da Idade
Media e, desde então, tem-se tornado sempre mais forte. Foi
fntfto que as grandes universidades se criaram — Oxford,
1 'niul.i idge, Paris, Salam anca, Bolonha, Cracóvia, P raga e ainda
- e foi, então, que os primeiros grandes colégios pre-
i n «tórins se fundaram , como os de Eton e W inchester. É certo
•|iie ,i l<mte estêve em Roma e na Grécia. Mas tudo havia sido
sepultado sob as ruínas de uma época de trevas que perdurou
até o século XI. Com a Renascença, a corrente passou a revi-
gtiitti se Mais universidades surgiram e as antigas ampliaram
tm <o objetivos. Escolas e mais escolas nasceram na Europa
tu Idcnlíd Nos séculos X V II e X V III, a corrente ainda mais se
idfli JQU, «■no século X IX tomou a form a de uma inundação,
düdn •111« a educação universal deixou de ser um sonho para
t"i nai e uma realidade. Cada cidade montou a sua escola, e
«dii p111v111cia o seu c o l é gi o; as u n i v e r s i d a d e s se m u l t i p l i c a r a m ,
11üiiitiiíiii.intlo a a n t i g a c o l a b o r a ç ã o e m c o mp e t i ç ã o . H á mu i t a s
* • • -l i ......a e u n i v e r s i d a d e s , c u j a hist ória é m u i t o ma i s nov a
iai
íjue h de IIm vard ( 1636), ou H alle ( 1693), Charter House
i m u i, ou ;i Kscola Latina de Boston ( 1635), para não falai
]a das p a n d o s fundações medievais; elas têm produzido tam
bém ri a11111■número de homens eminentes, e desenvolvido tão
gpi tmorados hábitos de estudo que o seu conceito é hoje quase
Iftn grande como a daquelas, embora não ainda tão avassalador.
i l i I*'i int.;a, a Escola Normal Superior ( 1795) tem formado cen-
I»-íi.i•; de escritores, filósofos, cientistas e estadistas. Novas
universidades, como as de Johns Hopkins, Londres e Berlim ,
(■ui dado fôrça e direção a muitos espíritos. À s fundações,
enrolas, colégios e universidades civis, devemos acrescentar
tusl ituições especiais como os institutos m ilitares, os de Saint
<‘,vr, West Point e Sandhurst; os centros de pesquisa, como o
Instituto de Altos Estudos e as escolas de Roma e Atenas; es
colas religiosas, como as dos Jesuítas, as dos Quaker e as dos
Isliimitas; e muitas mais, muitas. Sem dúvida, algumas das mais
ant igas têm enfraquecido a sua reputação, e como velhas viúvas
principalmente vivem à custa das contas de banco e dos es
partilhos. M uitas das mais novas e mais ambiciosas são pouco
mai s que fachadas, desprovidas de alicerces. Se tentarmos fazer
uma lista dos cem mil homens que mais tenham feito para
levantar e fazer caminhar a civilização, no último século, acha-
remos, penso eu (se bem que alguns dêles, por exem plo Lin-
culn, Tolstoi e Picasso, só tivessem tido im perfeita e fragm en-
l a n a educação, e outros foram educados por preceptores ou
parentes, dos quais tratarem os mais tarde), acharemos, repito,
que a maioria, e para citar alguns, Pasteur e Roosevelt,
N *et/.fiche e Byron, provieram todos de um grupo de escolas
e universidades relativam ente pequeno, mas que os ajudaram
n tornar-se o que foram.
❖ *
*
III
O encorajamento é o primeiro modo. Muitos jovens proim
sores são nervosos, pouco confiantes em si mesmos. Dc modo
mais profundo do que seus impetuosos amigos extrovertido;:,
compreendem a vastidão dos problemas do mundo e a pequeno/,
de seus próprios talentos. Se permanecem em seu próprio lar,
ou estudam numa pequenina escola, tendem a caminhar para o
desespêro, sem nada produzir intelectualm ente — ou, quando
muito, limitam-se a lavrar num pequeno campo, em que sen-
lem que podem fazer alguma coisa de modo seguro. Mas, se
vão para uma escola ou universidade, que já tenham sido berço
de homens famosos, percebem que também êles, se desenvolve
rem o espírito e usarem de tôdas as suas energias, poderão
realizar uma carreira da mesma alta categoria. A s condições
nno mudaram. Comumente, elas se desenvolveram — é, assim,
mais amplo o local de estudos, a nova biblioteca com luz aper-
leieoada, e as salas de aula, mais imponentes. Os grandes ho-
meii;; do passado não foram mais ricos, não vieram de lares
melhores, não tiveram mais amigos. Êles mesmos se conside
raram apenas uns excêntricos na mocidade, como os mais
excêntricos e os mais presumidos calouros de hoje. Ainda assim,
formaram rijos caracteres, traçaram vastos planos e os reali-
/Hiíim, descobrindo novas drogas, tornando-se ministros de es
tudo, escrevendo os mais belos livros de sua época, vencendo
■ ■ ' lein i.is, ganhando guerras e restabelecendo a paz. O que
a m h umem faz outro homem pode fazer — é um bom pro-
Vf i bio Ainda assim, os jovens muitas vêzes nêle não acreditam
■
I' q u e penetrem num ambiente em que grandes coisas tenham
sido leii.i:. o aí hajam deixado a sua marca.
A liadiçao também oferece uma graduação de possibilidades.
! t l uma boa porção de talento desperdiçado neste mundo, e,
ímilto de,„,e desperdício provém de simples ignorância. Não
«itiieni ., pessoas como devam aplicar as suas capacidades. Os
JUVPHh Win quase sempre muito indecisos. Não conhecem o
imitido Nno se conhecem a si mesmos. Confundem o que gos
Isl iam de (ser com o que podem ser. Aceitarão ou rejeitarão
nina i mi u-im, simplesmente porque seus pais ou os seus irmãos
o egtolhèiMm Dificilmente, possuem uma idéia do que seja
=.:..s(iuÍ! lima vida, processo que exige cuidadosa visfio do
fUllilo A filia de um modelo adequado, escolherão um qual
fjiifci, (IgfgiluoHo ou inadequado um astro de cinema, um
vnitt: lij#lõrica, a personagem de um livro.
/
Md." 'i rstudante, que entra para uma escola ou uma univer-
■•■
i•»•I* 'Ir 1<>11i>.i tradição, quase insensivelm ente aprende quais
§1,1 §g guiaH o os condutores do mundo. Ouve nomes respeitados
# contemplam retratos de homens famosos. A pouco e pouco,
i >l ilidci (* uma hierarquia dos diferentes modos de adquirir
mim puMcao eminente, que pode ser original, não a da tradição.
( Iii . a compreender que os domínios do esforço humano têm
■ido li\ i cmente traçados, não, porém, completamente explo-
r»düH, Aprende quais os domínios fáceis e quais os difíceis,
quais os que produzem rápida recompensa e quais os que ex i
gem uma atitude de aventura e desprendimento, como, por
■ m -uipio, o de afundar-se nas terras da Á frica, como explora-
dor Percebe quais dos caminhos podem ser combinados e quais
o,*: que m utuamente se excluem . Considerando a carreira de
mil ii*os estudantes, algumas vêzes por ouvir-lhes a história ou
por vr Ias ao vivo, o jovem mais cuidadosamente decide se quer
parecer-se com êles, ou se deverá pôr de parte os seus ideais.
As técnicas de obter êxito político ou capacidade na execução
artística, de ganhar dinheiro ou de servir à humanidade, ou de
obter relações sociais sem renúncia de sua integridade, ou de-
■ In ar-se a pesquisas prolongadas sem desenvolver um espírito
solitário e excêntrico — tôdas essas e muitas outras formas de
vida o jovem aprende, e pode verificar por meio de exemplos.
A convivência num instituto de grande tradição educacional
também instila nos jovens o sentimento de ordem. Êste aspecto
c difícil de explicar, e fàcilm ente confundido. Não é que os
eatudautes que tenham freqüentado uma notável escola ou
universidade se tornem Blim ps (*), para suster os sistemas
■; i lentes, defendendo os seus defeitos tão obstinadamente
Como os seus méritos. M uitas vêzes êles o fazem; mas assim o
ia em também muitas pessoas, e em tôda parte. O homem
m í‘dio, na China ou na Arábia, na Suécia ou no Chile, é
conservador. Êle muda menos do que conserva. O que quero
ili.-ei e que os estudantes naqueles institutos adquirem uma
. la i a uocao de que a vida humana depende de organização. O
• lado. a lamilia, as artes, a religião, os negócios, as finanças,
.. educação, o direito, a medicina, a agricultura e as demais
« p ..;.-, dc produção, a ciência, a arquitetura, a navegação, a
Kttcna, a paz o a diplomacia — todos êsses aspectos de nossa
l* » |»i íieisnnageni <'riada |«»r D avid Luw, na forma um velho obeso, fanático o
i ati ri -. ii i ài it , (> t m s i i i i i ittu tie s b i v í u r n m n « i e s j g n a ç ã o b a l« ie a iililb m iu a p e la s fô rç@ S H nn udas
■J.s E st a iít ia I I lii.iu a , n a u l t i l l m g U # l l 0 /V Úü T ,
114
vida e de nosso trabalho são altamente organizados. Devem ser
planejados. D evem avançar nos povos que compreendem o
valor do planejam ento a longo têrmo. Sem qualquer sistema de
organização, tôdas as atividades caem no individualism o arbi
trário, desperdiçando os esforços. Pois bem, uma escola de longa
tradição é por si mesma um triunfo de organização, e tem com
freqüência produzido um grande número de trabalhadores
ilustres com o senso da ordem, no qual repousam os negócios
humanos. Não importa que seus diplomados sejam conservado
res ou revolucionários, reformadores ou excêntricos; de qual
quer modo, êles sabem que a sua própria vida, quer queiram
quer não, é uma parte da organização humana. Podem querer
alterar essa organização, despedaçá-la para remodelá-la, de-
'■nvolvê-la lentam ente ou dela simplesmente tirar proveito;
muito raramente, porém, comportam-se como se não tivessem
i' l e i a do que seja a ordem social. Raram ente desejam destruí-la,
rn-m que nada ponham em seu lugar. Tomemos Sh elley como
e .einplo. Êle foi excêntrico e perseguido em Eton (sempre um
sinal de talento) e teve de retirar-se de Oxford. Ainda assim,
* ontiuuou a estudar e a ter amor pelo estudo, como essas ins
tituições lhe ensinaram. Foi um completo revolucionário, pre-
Hini o ateísmo, a liberdade sexual e algum a coisa muito próxi
ma do anarquismo. M as o ideal que ilum inava o seu espírito
ira a criação de um novo céu e de uma nova terra.
) Íhh («colas comuns, no entanto, êsse sentimento de ordem é
muito mais difícil de obter-se. Cada geração parece viv er tão-só
pftra fii. O tempo, que é uma das categorias essenciais da vida
humana, parece não existir. A própria organização da escola, e
f i! l e m a educacional e político a que ela pertença, parece não
significarem grande coisa para os alunos.
1 !unsideram tudo isso não como um meio para ajudá-los a
i c i melhor, mas como desagradável recurso para forçá-los
ivei <le modo diferente do que desejariam. Na m elhor das
■ipóteíiei;, vão à escola porque nela vêem um canal para “ arran
jai um em prêgo” . Na pior, consideram a escola como uma
tu madilliu.
i iuH camadas menos favorecidas, mais baixas ainda que a das
fgmlMh comuns, o sentimento de que a escola é uma prisão e
a si ii ifilnde um instrumento de tortura, está largam ente difun
di.h. f: .. c o ponto que se opõe ao das escolas e universidades
ji# Innya li adição, de que estamos falando. Êsse foi o nível em
,ju<r. ,,i r ducadoiiw russos acharam os menores abandonados nas
. i . <lf nuiiUis cidades, o nível de que os criminosos contumazes
gin multa;; vezes tirados, o grupo mais recalcitrante e ignorante
•l" | n ,111 qualquer país, e que, no entanto, é o mais sofredor
# o mm;; necessitado de auxílio.
i >, v erdadeiros anarquistas dêste mundo são as pessoas que
mmea freqüentaram a escola por prazo suficiente para com-
Iaeeinler a necessidade da ordem, ou que tenham sido tão m al
fducados que pensam que a ordem — qualquer que ela seja
e um instrumento para desgraçar suas vidas. Assim são os
Immens que não têm residência fix a nem trabalho; e as mu-
Ihere» que têm filhos sem cuidar de educá-los, que se casam
em ser capazes de governar um lar, mesmo dos mais modes
tos. Assim são as pessoas que se amontoam em grandes cidades,
"ii vegetam em decadentes vilas, usualm ente a meio caminho
entre o hospital e a casa de penhores, m iseràvelm ente infelizes,
> cm laces, após os trinta anos, desfeitas pela doença e marcadas
pelos conflitos íntimos. Conservam-se vivas graças à incrível
Imça vital que faz tolerar tantos abusos, ainda que não para
viver bem, ou viv er dignamente. M atéria-prim a desperdiçada;
almas mortas. Nas épocas difíceis, nas sociedades em colapso,
na,; favelas e em zonas atrasadas (como os insetos nas casas em
rui nas) o número dessas pessoas aumenta. Um dos principais
objetivos da educação é reduzir-lhes o número, e ajudar os
filhos delas a alcançar um n ível de vida razoável. Qualquer
escola pode fazer algum a coisa no sentido de com bater essa
anarquia espiritual. Tanto m elhor seja a escola, mais poderosa
;;era sua influência. Uma velha escola ou universidade, com
respeitável tradição, muitas vêzes produz reform adores e revo
lucionários; mas não serão anarquistas. Ensaiam contribuir
para melhor ordem no mundo.
Outro meio de explicar êsse sentimento de ordem, que as
velha;; e eminentes escolas ou universidades inculcam, será
dizer que elas ensinam a responsabilidade.
A vida não pode realm ente m elhorar se todos considerarem
a pena:; os seus próprios problemas. Se não fizerm os mais do
que não prejudicar o caminho dos outros, ou apenas não lhes
tirarmos o pão da bôea, a sociedade humana por certo que
pi •j.juirá, mas em m archa lenta e penosa. M ais que isso,
necc:;:atamos de homens e m ulheres que realm ente achem que
n Mia própria carreira 6 ajudar a seus semelhantes, dando forma
i ihieçao a organizações através das quais todos se auxiliem a
v ivei melhor obtendo fundos para os hospitais e a Cruz
Iftn
Verm elha, servindo voluntàriam ente como trabalhado! •=■ .
ciais na melhoria das favelas, trabalhando para os p.u t u 1«•
políticos que m elhor cuidem de aperfeiçoar as instituiçi»■ ;; K
é difícil achar tais pessoas, e será difícil mesmo form ar homens
e m ulheres dêsse tipo. A s três fôrças que parecem produzir
muitas delas são a religião, a tradição de um a comunidade, e
a tradição de uma escola ou universidade. A mais firm e cor
rente de homens e mulheres, que fazem do bem -estar social o
seu programa de vida, parece provir das escolas e universidades
cuja tradição inspire êsse ideal.
O rapaz que viva em casa de sua família, que freqüente uma
escola relativam ente nova, a qual se tenha estabelecido como
uma fábrica ao invés de crescer como um jardim ; o rapaz que,
numa escola dêsse tipo, gaste apenas algumas horas por dia
regressando a uma diferente comunidade pelos hábitos de tra
balho, recreação e amizades, naturalm ente que tenderá a cres
cer como individualista, desconfiado e agressivo. Qualquer
grupo maior que a fam ília, ou um desprendido grupo de amigos,
tenderá a provocar nêle a desconfiança ou pequeno desejo de
; ; ( t v í - 1 o s . (É para corrigir essa tendência que as sociedades de
Kscoteiros são necessárias, especialm ente nas cidades, e que as
' *s<:olas experim entam inculcar sentimentos de grupo, por meio
iIr atividades desportivas e outras; nas cidades pequenas, em
que a escola seja um órgão de tôda a comunidade, a mesma
1! ii ação de necessidade não se apresenta). A freqüência a uma
iscola do tipo acima referido não é mais útil à formação de
M-ntimentos de responsabilidade do que o hábito de viajar num
i nr;ano ônibus todos os dias. Os mais novos colégios e univer
sidades padecem do mesmo prejuízo — a menos que tenham
atraído um grupo de professores capazes e entusiastas, e te
nham estimulado os seus primeiros estudantes, cujo exemplo
n,-i novatos tenham orgulho em im itar; êsse exem plo cria espi
i iin de solidariedade e capacita as instituições; de outra forma,
funcionarão apenas tão mecânicam ente como um hotel, novo,
limpo e bem afreguesado. A s instituições técnicas podem algu
ma;, vêzes funcionar assim, mas a educação exige muito mai.s
qu<* i íso. A educação reclam a a personalidade integral, quer «>::
alunos saibam disso e o desejem, quer não. Portanto, uma rs
• uh», ou universidade, que dêem ao espírito e ao caráter maioi
j.i.içrto di* nutrimento e exercício, são instituições mais valiosas
■iut‘ aquelas que meramente comuniquem técnicas, ou dcem
injtMjnrs de informação, d<* hora cm hora. Como uma parte ile
157
f « in • ii.»f«i desenvolvido é a vontade e a capacidade de servir
hm in< hi fiurial, as escolas que possam inculcá-las, fácil e in-
■ úíist ienlemente, através de suas tradições, serão mais úteis à
.......... d" que aquelas que negligenciem ensinar a responsabi-
!'■! '•!' social, ou somente apresentem cursos, sob form a bri-
Ituuilc, liem rotulados e empacotados.
❖ ❖
l>('|iois de dizer tudo isso, devo admitir que alguns dos pró
digo;; mais acabados, e dos m aiores patifes que tenho encon-
t r. ido, vieram de escolas e universidades cujas tradições são
o l h a s como velhos carvalhos. Posso revê-los agora, ostentando
uma inimitável gravata bem armada, mantendo uma atitude
de graça senhoril, falando com uma voz ressoante, eco de m ui
tas gerações polidamente formadas; sorriem com altivez, mas
8âo tão cordiais como nobres arruinados ao narrarem falsas
glorias de sua estirpe no passado. Não representam excêntricos,
m a : ; uma subespécie, que se produz com regularidade pelo
mesmo poder ancestral. Exprim em a tradição quase tão v e r
dadeiramente como o criado-grave. Algum as vêzes, são mesmo
miiiLo agradáveis de observar, dado que não tenhamos de en
dossar-lhes cheques sem fundos. Mas como puderam em ergir
da:; mesmas tradições que criaram os outros, os reformadores,
os organizadores do bem-estar social, os benfeitores? Conside-
i a remos êsse problema um pouco mais adiante.
IM
claros modelos a imitar. Mesmo uma derrota o incitará, no
invés de desencorajá-lo. Êles também terão tido as suas <li
ficuldades e derrotas. O que você não deve é falhar. Traba
lhe. Não será necessário que tome a um determinado indi
víduo como modêlo. Você pode ser você mesmo, diferente de
todos. Mas deverá prim eiram ente igualá-los, e depois, excedê-
los. Trabalhe. O que êles fizeram você poderá fazer, e ainda
mais que isso.
Neste ponto, a tradição apela para o mesmo instinto que o
mestre, quando faça reunir quatro ou cinco rapazes inteligentes
c lhes peça o mesmo trabalho, sabendo que êles melhor o farão,
trabalhando em competição, do que separadamente. O progres-
üo é uma rivalidade bem sucedida com o passado. Na medida
em que a reverência para com a tradição não seja mais do que
imitação submissa, torna-se pêso morto. Mas, tanto quanto
estimule atividades criadoras, poderosas, constantes e variadas,
representará saudável estímulo e sábia orientação.
* *
*
liB
Smtm i mil vêzes, e devem fazê-las corretamente. Êle terá
fnimuhi:. de imposto sôbre a renda a preencher, seu registro de
quilômetro:; a anotar corretamente, sua conta de banco a veri-
fiear; ela terá quantidades a lem brar nos trabalhos de cozinha
#=- iisiN ilí-;|h-;;as da casa, e quem sabe o que mais? Se não apren-
direm agora, terão de aprender mais tarde e, então de maneira
mftll desagradável. Alguns adultos, que tenham sido privados
dessa espécie de disciplina na infância, despendem sua vida em
nu...... indo de sonho, e são constantemente torturados por sua
f a l t a de compreensão da realidade. Como diz Housman:
160
«afiar os mestres. A lguns dêles, recebendo exíguo s.dai it>. tu.t.
fazem para ensinar às crianças o que precisarão mais tarde na
vida; não obstante, são visitados por pais truculentos, que os
ameaçam de levá-los à cadeia, se não pararem de im plicar com
o Toniquinho. Em outras fam ílias, quando o m estre endereça
no pai uma queixa escrita, o aluno a ser corrigido leva uma
terrível surra, como não receberia em escola nenhuma. Ambos
Os extremos são maus. Êsse tipo de castigo, como outros, de
pende de um claro e íntimo entendimento entre os pais e os
mostres.
Uma falha na aprendizagem nunca deve ser punida com
pancadas. Aprender é bastante difícil. Acrescer-lhe o mêdo será
torná-lo ainda mais difícil. O mêdo não encoraja; impulsiona
cegamente. Bloqueia a atividade de pensar. Produz o efeito
*-posto do que seja a verdadeira educação, porque faz de jovens
gfcixlrontados alunos estúpidos e imitadores, ao invés de fazê-
los vivos e originais. Será inútil objetar: “ Os rapazes não te-
• iH 111 os castigos físicos; riem-se e se esquecem” . Não. Porque
0 castigo poderá ser exagerado, ao ser ministrado por um
rc> encolerizado, e isso gera, em muitos, um secreto sen
timento de terror, que os paralisa.
J• há outro efeito, ainda mais nocivo: o castigo físico gera o
fktio Quando, certa vez numa conversa se falou em Homero,
um oficial do Tom Jones gritou: “Odeio êsse Homero de todo
- * mi n coração, pois ainda tenho nas costas as cicatrizes que
U i produziu” . E êsse é um caso, entre milhares, de alunos que
( í i p g i t i n a queimar os livros, pois, para êles, outra coisa não
■ifiu i i. . i i . i m senão lágrim as e pancadas. Facilm ente se poderá
■ilhir m aterial para uma antologia de sofrimentos nas memó-
1 autobiográficas de homens dignos, e que assim padeceram,
l i s aqui o pequeno D avi Copperfield, esforçando-se para apren-
f j i i A i i l u t e l i c a sob os olhos de Murdstone, cuja imagem tinha
pfAdo ile certo modo associada à ponta de uma bengala, “uma
I í t i g a l u f i e x i v e l e suave, que êle deixava de lado, quando
IhegavH, depois de brandi-la e fazê-la assoviar no ar” .
f
íSiB & ii íin h á i>ii i ii' i d e e s p ir it o Ku s e n t i a q u e «a p a l a v r a '; d e jfltnhft
ifcfl» mi riiyiinn i|m iiM-inória, uliit u m a piir u m a , ou liulia poi IIhIih,
iiiíií & jiáMiiia tôdB d e utnfl v t ‘-‘ Ivs forç ã va tne poi •.<cm a la . nifla ela s
III
Si 5 i » IfMiflgf
j.fMÊ! iam, m e posso e x p rim ir, c alçar p atin s, e d e sliza v a m p a ra
fíjüji#, eum Utnn su a vid ad e in co n tro láv el...
É l i amlttva com igo ao redo r do m eu qu arto, v a g a ro sa e g rav em en te,
§ *§tou ( f i t o de qu e se d e lic ia v a com a q u e la osten tação fo rm a l de
íllifsciitoi <I<■ju s tiç a — e, qu an d o con clu íam os a v o lta , sú b itam en te en -
liii.iivü h m in h a cab eça no braço. “ S r. M u rd ston e! S e n h o r !” g r ita v a
eu, “ Nau, nao m e bata, eu lh e su p lico! E u m e e sfo rce i por ap rend er,
fIn ih cir! Mas não posso a p re n d er em sua p re sen ça e n a p resen ça da
fíi B M urdstone. N a v erd ad e, n ão posso!”
"N a verdad e, n ão pode, D a v i? ” respon dia. “ V a m o s v e r ific a r .” E êle
utiert.iivn a m inha cabeça, com o n u m tôrno...
IM
um sério encorajamento, é que os jovens reorganizam o se u
espírito. Se você fôr paciente e demonstrar que realm ente
deseja ajudá-los, mesmo os jovens mais difíceis e teimosos
poderão comover-se, e mudar.
c) A F I X A Ç Ã O D A S IM P R E S S Õ E S
IHü
concentravam-se na filosofia; algumas vêzes, quando as lemos,
temos a impressão de que os estudantes ensaiavam perturbar o
mestre, para evidenciar problemas que lhe houvessem escapa
do, convencê-lo de que havia sido incoerente, ou mesmo heré
tico. Mas isso era excelente tanto para os estudantes como para
os professores. Dessas reuniões, algumas atas se conservam e
podem ser analisadas. Quando as lemos, temos o prazer de
ouvir, sôbre o seu aparato formal, o perpétuo duelo entre a
juventude e a petulância de um lado, e a m adureza e a e x
periência de outro, duelo que tem aguçado tantos espíritos, e
que é parte essencial do processo da educação.
Depois de resum ir todo o domínio tratado, de modo que todos
os estudantes se sintam à vontade nêle, e de solicitar-lhes as
dúvidas e de resolvê-las tão claram ente como possível, o bom
professor galgará ainda um degrau para que encerre o trabalho.
Êle não terá ensinado aos alunos tudo quanto saiba, e não terá
ensinado tudo quanto êles possam aprender, em sua disciplina.
Se o reconhece, ou não, os alunos o percebem. Se tentar es
conder êsse fato, os alunos o notarão e o acoimarão de fraude.
O bom professor deve, portanto, expor e explicar êsse fato
e aproveitar-se dêle para despertar o interêsse da classe,
animando-a a que v á mais longe. Isso êle o fará indicando
importantes problemas, que estejam para ser solvidos.
Freqüentem ente, essa indicação valerá como poderoso estí
mulo junto aos bons alunos, e, algumas vêzes, junto a certo
número de estudantes inteligentes, mas dispersivos, que não
encontraram interêsse no trabalho comum da classe, porque
necessitavam de um maior escopo para suas energias adorme
cidas e o seu talento. Uma das coisas que mais deprimem a
aprendizagem escolar é o sentimento de que tudo já se conhece,
ou está descoberto, que o conhecimento é madeira completa
mente morta, que cada geração terá de serrar e moer. Os mais
jovens nem sempre admiram os mais velhos para que traba
lhem sèriamente nos livros, mas apenas para preparar réplicas
no pai ou à mãe, ao professor ou à professora. Geralm ente seria
bom que o sentissem, pois pelo trabalho árduo poderiam ir
adiante; e um meio de inculcar êsse sentimento é mostrar-lhes
problemas que os m elhores espíritos ainda não puderam re
solver. E talvez nunca os resolvam. Os alunos poderão talvez
experim entar — ou poderão tornar-se pilotos de aviação, ou
dnctilógrafos, ao invés disso. Mas sempre se beneficiarão por
terem .sabido <|iie o conhecimento humano se expande, e que
lf)7
tssg expansão é um estímulo para a nossa força de vontade,
a nov a inteligência e a nossa capacidade de cooperação.
❖ ❖
*
IfiU
IV
tf I
l i l u11ãj de eus raciocínios com brilhante retórica. Como Shaw,
línhiWi os Sufistas poucas idéias construtivas, e obtinham mais
ipiiVtaoH no ataque às idéias tradicionais, por mostrarem que
illíN se baseiam mais na convenção do que na lógica. Como êle,
detono-.11avam que qualquer coisa poderia ser aprovada por um
OFidtir capaz — e algumas vêzes, como faz um bôbo da côrte,
Iii oli'i iam uma vibrante oração sôbre um aspecto de uma
determinada questão, pela manhã, e outro discurso, igualm ente
vila ante, sôbre o aspecto oposto, pela tarde. E, como êle, nunca
admitiram que ninguém dissesse uma palavra em contradita.
Do método de ensino dos Sofistas, houve resultados bons e
mau;. Kepresentavam uma fôrça revolucionária, porquanto
destruíram muitos valores da tradição; e, m uitas vêzes, cegando
seus discípulos pelo esplendor passageiro de explosão, deixa
mo-nos sem ajuda para que pudessem reconstruir sua vida
individual e social. Não obstante, ensinaram aos gregos o que
nenhuma outra nação do M editerrâneo havia aprendido: que o
|h iis.itnento, por si só, é uma das mais poderosas fôrças da
vida humana. O sentimento de respeito que êles criaram para
o pensador, permaneceu; e, desde então, tem-se desenvolvido.
i
tarde-os jovens se exercitavam e os homem. .u- í.l i.i*-. nanVUi
savam apanhando um pouco de sol. Êle aí .•;<• .»■l.s|»1 • .. i b< m
que algumas vêzes a si mesmo se comparou com um n- l mim
de atletismo, que não corria nem lutava, mas ensinava «os
outros como melhor correr e m elhor lutar. Sócrates di.nt que
ensinava o povo a pensar. Enfim, os Sofistas diziam que tudo
sabiam e tudo explicavam . Sócrates sabia que não s;abia n/ul.-t
e se esforçava por investigar.
Os Sofistas foram os primeiros mestres de conferência;;
crates foi o primeiro tutor. Sua criação era mais radical (|n<■a
daqueles. Os discursos dos Sofistas poderiam ser ouvidos cm
qualquer lugar — nos novos tribunais democráticos, onde liábei:;
oradores procuravam influenciar o corpo de jurados, utili'/.an
do-se de muitos artifícios oratórios recentem ente criados; e no:;
teatros, onde trágicos reis, rainhas, deuses e heróis acusavam ,;<•
e desafiavam -se uns aos outros em compridas falas que se
tornaram imortais; e nas assembléias do povo em que qualquer
cidadão poderia falar sôbre os destinos de Atenas. Viajante;;
eruditos, como os Sofistas, eram de certo modo comuns em
outros campos — músicos, pintores, escultores, poetas eminen
tes como Simônides; eram sempre bem acolhidos nas cidade;;
gregas e nas opulentas côrtes dos “tiranos” . Não seria muil.o
difícil, portanto, para os Sofistas, desenvolver a sua própria
habilidade, brilhante e, algumas vêzes, de tão rápida demon;;
tração como um recital de harpa. A s inovações de Sócrates
eram sôbre a conversação comum como método de ensino, e se
fizeram em uma única sociedade, a de sua própria cidade de
Atenas, não em excursões ou viagens. Não era êle nem mesmo
um conversador brilhante, no estilo de Oscar W ilde, ou Ma
dame du Deffand. Não parece que tenha feito notáveis epir.ra
mas ou proferido eloqüentes parágrafos improvisados, como
Coleridge. Sua conversação não era “ cheia de flores e ost rêlas".
Kle fazia que os outros falassem. Contentava-se em propoi
questões.
Quem quer que já tenha assistido a debates, num tribunal,
■abe que isso é mais difícil do que fazer um discurso p r e p a r a d o
Sócrates dirigia perguntas a pessoas de tôdas as classes e c o n
dições: dos meninos de escola aos mais velhos capitalistas, d o : ;
homens conformados aos extrem istas, amigos e inimigos, c i i
ticos e admiradores, ilustres e obscuros, prostitutas t* p o l í t i c o s ,
artistas e soldados, atenienses comuns e visitantes famosos. fti n
realm ente difícil paia e l e adaptar s e a tão diferentes c í i r a c t e i e s
17.1
i g lauta-, situações; no entanto, sabemos que o fazia. (Nesse
jjOfltti um d t seus mais fidedignos descendentes foi Santo Inácio
d» Jjojfilü, fundador dos Jesuítas, que era diferente para cada
tilli i . i.f. pessoa com quem falasse, pois sempre adaptava suas
pintifHH, indulgentes ou severas, joviais ou graves, ao caráter
iIm i ■'** com quem estivesse). Sócrates tinha uma feia apa-
i f-ti. i,! Era de boas maneiras, mas não possuía requintes aris-
toei*átii*cw, Ainda assim conseguiu falar aos mais capazes e aos
rnaifs i< nnosos espíritos de sua época para convencê-los de que
n l§ snbíam mais do que êle. Seus métodos eram, em primeiro
lU jp i, a modesta declaração de sua própria ignorância — decla
ração essa que im perceptivelm ente lisonjeava o interlocutor e
o tornava disposto a responder tudo quanto lhe perguntasse
« p ô le homem inteligente e, na aparência, ingênuo. Em segun-
du lui>,;tr, vinha a sua adaptabilidade, pois m ostrava a cada
homem o aspecto de sua personalidade que m ais conviesse. E,
em terceiro, seu permanente bom humor, que sempre lhe per-
mi!i,i chegar aos pontos críticos, e, quando o outro perdesse a
calma, dominá-lo. Algum as das mais deliciosas e dramáticas
fliftfiB da literatura são aquêles diálogos em que o vemos com
fiftáticos brilhantes sob uma chuva de palavras, que a muitos
outro:; poderiam ter silenciado; mas, então, emergindo delas,
numa graciosa atitude de timidez, para sacudir a retórica e
bilfiear a verdade até o fim, Sócrates apresentava suas delicadas
e persistentes perguntas; e o opositor, não de modo forçado,
man pela reflexão, admitia que estivera em êrro e irremedià-
velm cnte se calava.
❖ ❖
I7é
gos, Platão não aparece com o seu próprio nome, o qual apenas
é referido duas vêzes. Os diálogos tentam sem dúvida repro
duzir o método de Sócrates pela conversação, e dão-nos os ecos
de sua própria voz. Mostram-nos o filósofo ainda jovem , ata
cando os mais conhecidos Sofistas em seu próprio terreno;
num alegre banquete, na prim avera da vida, rodeado pelos
melhores espíritos de seu tempo, discreteando com poetas e
cientistas e estadistas, ajudando-os a encontrar o melhor dêles
mesmos e a dominar a influência tanto da eloqüência como da
imaginação; no ginásio, em despretensiosa conversa com jovens
atletas e seus pais; nas ruas, interrogando transeuntes ou
entrevistando um viajante célebre, obtendo demonstrações
geométricas de um menino escravo desprovido de m aior pre
paro; ou já na idade dos sessenta, falando, em sua própria defesa,
e assim ensinando Atenas pela firm eza com que m antinha suas
convicções; e, enfim, nas últim as horas que precederam sua
execução, lutando pela idéia da imortalidade da alma. Em tôdas
essas variadas situações, Sócrates unia a in flexível firm eza de
seus objetivos à preocupação da verdade e à mais sutil capa
cidade de adaptar-se às diferentes pessoas.
M as o que havia de mais original em seu ensino é que não
percebemos exatam ente o que êle ensinava. Sabemos como êle
ensinava. Notamos que o fazia muito bem. Mas não conhecemos
precisamente que lições seus alunos e interlocutores extraíam
de seu modo de perguntar. Seus alunos diziam que êle ensinava
diferentes coisas. O jovem Xenofonte conheceu-o antes de
partir para o Oriente, onde se fêz soldado mercenário, e a êle
se refere em suas memórias. Mostra-nos Sócrates como um
homem curioso, astuto, encantador, mas incômodo, que pergun
tava sôbre tudo e a tudo criticava, de modo indiscriminado.
Outro de seus discípulos, Arístipo, afirm a que êle destruía
tôdas as tradições m orais e todos os valores espirituais com sua
crítica, e que encorajava os homens a viv er uma vida sem
restrições, atendendo somente aos prazeres e aos instintos. O
próprio Platão inicialm ente registrou as conversações em que
Sócrates nada mais provava do que a idéia de que ninguém
sabia nada: ou, então, a idéia de que a virtude devia ser o
conhecimento das coisas e dos homens. Depois, êle nos apre
senta diálogos em que Sócrates, após destruir as teorias tradi
cionais, ensaia construir outras mais acabadas, e de sua criação
ai n da expostas no modêlo de perguntas e respostas, mas
l e v a n d o o interlocutor a apenas responder “ Sim ” , e “JNão” .
,'\l|'iini,i .i« . ..i.i teorias foram atribuídas a Platão por escritores
flf outrHN épocas. São elas de Platão, ou foram ensinadas por
.’ i n í i ' i t f ’1 ?
i . i hiuii iilo, a m elhor resposta será dizer que essas idéias são
ir t»nil»<i;;” _ Sócrates não as teria indicado de form a explícita
jtiii i |tna, i u r i hipótese, outros de seus discípulos as teriam re-
fei ido 1VI.i;: Platão não as criou por si mesmo. Foram produzidas
pela ação do ensino de Sócrates no espírito de Platão. Devemos
IBmbrnr que ninguém ensinava tão bem como Sócrates, e que,
Ufíitiii Io do debate, como método, não poderia lançar perguntas
10 ftCHKo. Certam ente, deveria possuir certa porção de idéias,
em que acreditasse, e das quais fluíssem as perguntas; e que,
nu ..mo (|ue não as explicasse de modo positivo, seus mais bri
lha 111es discípulos as poderiam reconstruir. Seu ensino repre-
mmil.i, portanto, um dos grandes exem plos do poder da infe
rência. O que um mestre diz, de form a completamente exp lí
cita, pode não ser escutado. O que diz de form a a estim ular os
iilitno;; a pensarem por si mesmos, nêles deixa, com freqüência,
itmn impressão mais forte.
171)
duziu. Além dêsses, teve muitos m ilhares de aluno:;, ah ave-, de
seus livros, obras-primas da arte de ser professor.
Nêles, Platão nos mostra como Sócrates propunha um pro
blema a um de seus amigos ou discípulos. A s questõe:; •“ram
apresentadas de form a am ável e como que ao acaso. Dada:;
as respostas, Sócrates as considerava em conjunto e ia mais a
fundo, examinando as incoerências que revelavam . M e d i a n t e
paciente interrogatório, as afirmações menos racionais e r a m
postas de lado; as idéias superficiais, aprofundadas, ou rejeita
das; e as objeções confrontadas: lentamente, muito lentamente,
sob o influxo apenas da Razão, somos levados a percorrei o
labirinto dos caminhos da aprendizagem, até um resultado po
sitivo, que absolutamente não teríamos entrevisto no início, e
a que não teríamos chegado senão por meio de desapaixonada
discussão. Êsse é, ao menos, o efeito que P latão desejou pr<>
duzir. Cada fase da argumentação vem exposta. Não há npélo
ao princípio da autoridade. No decorrer do debate, não ha
oportunidade para palavras vazias, ou idéias místicas. E, como
se pensa ao ler que o escritor ou os oradores estão conversando,
não se fica intimidado, ou dissuadido de assim fazer também.
Você será um estranho, que se encontra com um pequeno gru
po, no qual está Sócrates, e que ouve a conversação sem dela
diretamente participar. Mas a qualquer instante, a qualquer
frase, você poderá voltar atrás, e julgar, se assim quiser, que
Sócrates é um charlatão, e seus discípulos, fanáticos hipnotiza
dos, por concordarem com êle. A lguns são. Muitos são. T o d o s
o serão, ao passar de Sócrates a Platão, para ler o l i vro dest e,
Leis — sinistro documento que pode ser colocado a par da
obra 1 9 8 4 , de George O rwell, com a diferença de q u e Platão
eiqnim ia admiração pelo estado corrompido que O r w e l l d.-
nuncia (*).
Naturalmente, o que Platão ensinava, no que respeita a poli
tira, era antidemocrático e concebido para uma época pectiliai .
mas, afinal, tão m elancólico quanto mau. Mas o modo de seu
ensino é que aqui nos interessa; e êle o fa/.ia m ediante aquelas
brilhantes e sedutoras conversações, em que o leitor, desde <|H«
não se possa identificar com Sócrates, automática mente • <
identifica com o interlocutor, e a si mesmo passa a dizer "Sun",
e "Certam ente”, como resposta a questões que nunca checai ia a
formular por si mesmo. Km política, isso é altamente peri^umi
I* ) H m i d k í i e « jiis i m a g i n a U n iu o iiiiitl< 1 o , im i t t i i «1e } U f ) 4 , il u m i n a * !* * |mi i i i i i a d ltf| i§iif**
âl iifü l é t R l i S j O S Q U il 1,3 t a ln if c S e i a p m h i a . h = li H ii ia u a s s ã . . st li =. n il iila il* *3 ÜH5 fÍf|5
tM ftd ê í N d a T.
Ml
( m m etafísica e lógica, e mesmo na moral, é um método de
1’iHiiiHi fsniulável e produtivo. Sem dúvida, um dos mais pode-
f íimin entre todos quantos já se inventaram. Quando começamos
« h i um diálogo de Sócrates, redigido por Platão, afrouxam os
ü tensão do espírito ao encanto daqueles homens e da gentileza
diifi »*k|»ivssões com que inicialm ente se brindavam ; mas, antes
que o percebamos, estaremos pensando e pensando segundo a
di11 -i .io aí sugerida — não imposta, mas sugerida — por um
I>1 nlrsíior que morreu há dois m il e trezentos anos.
T a l voz não haja melhor exem plo para que se distinga entre
o coviaúdo de ensino e o método do ensino. Poucos de nós
admiraríamos as doutrinas que Platão ensinava, ou as aceita
m o s . Mas todos admiramos os métodos pelos quais êle as ensi
n a v a . De seu mestre, Sócrates, aprendeu que não há nenhum
i i i c i o de educar uma pessoa, para convertê-la e mudá-la, ou
cunvcncê-la completa e seguramente, senão pelo raciocínio
c a l m o e frio. Proponha questões. Exam ine as respostas. L eve
a d i a n t e a discussão, até que a razão se dê por satisfeita com o
resultado. Quando você pensa por si mesmo, inteiram ente só,
d e v e conversar com a Razão, quase como se a Razão fôsse uma
outra pessoa, com direito a respeito pelo menos igual àquele
q u e você a si mesmo concede. Quando você discutir com outra
p e s s o a , os argumentos não devem significar uma luta entre os
d o i s , mas uma pesquisa sob o domínio da Razão, em que ambos
juntem esforços para alcançar e definir a verdade que junta
m e n t e desejam alcançar. A leitura de um diálogo em que Platão
e : , p o e o trabalho de seu m estre não nos levará, necessàriamente,
a convencer-nos das conclusões que aí figuram como subpro
duto; mas sempre despertará admiração pelo homem que podia
m o s t r a r que argumentos raciocinados são as mais fortes e mais
estáveis energias que m ovem os homens.
tf#
I••*i. n . i .iminava, a cada um de per si. Como exatam ente o
IéIÍB, nfto o sabemos. A s notas revelam que êle falava seguida-
iiu ii11 analisando uma idéia após outra, explicando onde fa
l h a v a m i porquê; finalm ente, procurava um caminho para a
ioluçfio Não sabemos, no entanto, se êle pedia à classe que
11 i - sugestões e o ajudasse a discutir cada ponto, ou se
Minplr:mente falava, analisando a m atéria por si próprio. Ainda
i . nn, sabemos que, como todos os expositores de maior expe-
rlcneia, possuía certo número de modos típicos para ilustrar as
a u l a s , os quais em suas notas, aparecem bem caracterizados;
ai lema is, costum ava apresentar à classe pessoas e coisas para
esclarecimento dos assuntos. A lguns pensam que êle dava uma
parte de seu ensino caminhando pelos pátios do colégio; de
talo, o nome peripatética, dado à sua filosofia, significava
"passear vagarosam ente” . Isso denota que cuidava em dar ao
ensino certo ar de naturalidade. Outros pensam que Aristóteles
assim fazia, porque m elhor se pensa e melhor se fala, deam-
btdando. Os movimentos corporais realm ente parece que con
servam o espírito mais vivo. Contudo, será mera afetação pas
s e a r quando se ensina, se tudo que estiver na lição fôr fragm en-
tado e sêco, ou se o mestre nada intente mudar, desenvolver ou
improvisar. Aristóteles nunca foi acusado de afetação, e sabe
m o s , por seus livros, que estava sempre refazendo as suas
próprias doutrinas. É de notar que tanto na Idade M édia como
no período barroco, foi êle considerado como um pândita, cujas
afirmações devessem compor um inalterável sistema de verda
des; ao contrário, o que desejava era demonstrar que o conhe
cimento é um constante processo de descoberta.
❖ *
*
)§()
habitantes dos planaltos da Macedônia, com tendências de feroz
barbarismo. Uma ilim itada coragem, energia agressiva, espírito
flex ív el e dado à pesquisa e decisão férrea, são todos excelente.*;
predicados num discípulo, e A lexan dre os possuía; no entanto,
havia herdado uma tradição de crueldade selvagem , o gôsto dos
prazeres violentos e prim itiva grosseria. Como os anglo-saxões e
os germanos da idade das trevas, os macedônios bebiam loue;i
mente, noites seguidas. Certa vez, num festim de bêbados,
A lexandre feriu com uma lança o seu m elhor amigo, prendeu
do-o com ela, à parede da câmara dos oficiais, simplesmente
para divertir-se. Vem os a mesma desregrada violência nas
lendas da Islândia e nos contos dos Vikings; tais coisas acompa
nhavam um forte espírito de luta, mas, para Aristóteles, pare
ciam estar atrasadas de sua época cinco ou seis séculos. Assim,
devia êle sentir-se como Sir Francis Bacon ao tentar educar
Érico, o Machado Sangrento, ou Newton, ao ensinar Pedro, o
Grande. E nada poderia ter feito, se êle próprio tivesse sido
um autêntico ateniense. Mas era macedônio; seu pai, serviu
como médico do Imperador Filipe; êle conhecia os homens do
norte, e percebia os limites do possível, com m uita clareza.
Pouco conhecemos sôbre os métodos que empregou para
«•usinar a Alexandre, mas podemos inferi-los pelos resultado:;
obtidos. O que não podia mudar, êle deixou de parte. M a i ; ; c o m
.■•eu pai e sua mãe, de que mesmo com outros, A lexan dre apreu
<I* u as maneiras e a forma geral de comportar-se. Isso em bom
• m;iu. Aquela hereditariedade fê-lo destruir jinteiramento a
■1 ' l . n l e de Tebas, vendendo quase todos os seus habitante:; c o m o
e/iOravos, depois que a cidade tentou recobrar a liberdade, p o r
uma i «v o l t a . Também fêz do príncipe um adm irável c a v a l e i r o ,
um Inigualável general e monarca dotado de descortino An;;
lo te ie ;; havia decidido deixar seu tem peram ento o h e r a n ç a
fam iliar como eram, criando, no entanto, contrapesos que di
mimassem os maus efeitos e fizessem m elhorar os bon:;
1‘rimeiramente, e o mais importante, ensinou-o a respeilai e
amar a cultura grega. Começou com Homero. Era uma escolha
• >I porque os heróis originais de Homero eram muito paie
ido.-; com os macedônios, e Homero os punha em tona tfto
iiiibijmonte que se tornaram excelentes padrões a .serem segui
'ios pelo príncipe. Seria natural que Alexandre especialmente
admirasse a Aqiuleii, que se acredita fosse :;eu antepassado p:l«-
ihttou o velho montículo, próximo de '1'ebtiH, admitido como
tuunilo de Aquile:), ai IV. celebrar cerimônias eiu sua tnnino
INI
t i i. |.,n ,i onde fôsse, levava com êle uma cópia de Homero,
• • - i i ■por seu tutor; e um a vez declarou que invejava Aquiles
ptn haver 1aI poeta se ocupado em descrever as suas aventuras.
«!ei lamente, êle se im aginava um novo Aquiles, pelo que quis
II •i*■11i j■
.l.u as mais ricas cidades da Ásia. (M uito tempo depois,
Um jovem príncipe do norte da Europa, Carlos X II, da Suécia,
foi l e v a d o a planos de conquista similares, depois de haver lido
a vida de Alexandre, escrita por Quintus Curtius: para onde
i" e, também levava com êle a obra, imaginando-se um novo
Alexandre).
Ne Homero, Aristóteles passou a outros poetas gregos a fim
de despertar no príncipe a admiração pela poesia e outros as-
p e r l o s da cultura grega. Mesmo quando A lexan dre fêz de Tebas
nina precursora de Lidice, êle aí deixou de pé, como monu
m e n t o , a casa de Píndaro, o príncipe dos poetas. Depois, com
maior experiência política, compreendeu que suas enormes con-
qmslas sôbre as terras e os povos amorfos do Oriente Médio
pouco significavam , e seriam efêmeros, a menos que as ligasse
...... . permanente laço unificador, que atuasse por cima das leis
e da administração. Encontrou êsse laço na civilização grega.
( >ude quer que fôsse, fundava cidades sob o modêlo grego, e
fazia expandir o conhecimento das artes gregas, da ciência,
literatura, costumes e comércio — não como uma extensão da
nação grega, mas como o melhor meio de propagar a civilização
n.i mundo. A cidade de Alexandria, sua favorita, não era abso-
lutamente uma cidade egípcia, mas uma grande metrópole
cosmopolita baseada na cultura grega, como, até certo ponto,
ainda é.
Quase quatro séculos depois, os Evangelhos Cristãos eram
prtgados em grego e escritos em grego; tam bém a mais forte e
mais longa sobrevivência do Império romano deu-se no Oriente
Tio imo, então dominado pelos gregos, por causa da missão
eulturnl que Aristóteles ajudou Alexandre, o Grande, a realizar.
Pessoalmente, Aristóteles póuco influiu em Alexandre. O
( o v e m vivia caçando ou lutando, na maior parte do tempo, e
nada mais parecia, então, do que um soldado. Mesmo que ti
v e s s e acreditado que o sistema democrático de govêrno fôsse
.. m e l h o r , Aristóteles não poderia ensinar A lexandre a praticar
a *.-ii ( m i e s da democracia — êle teria ridiculam ente falhado
e perderia o seu posto. Ao invés, ensinou-lhe apenas alguma
t o! a da mais importante virtude num monarca a generosi
d a d e . a qual chamava d e g r a n d e z a d’a!ma. Foi i s s o que o f ê z
III
arrepender-se, amargamente, de haver assassinado o seu amip.õ
Cleto. Mais tarde, quando informado de que o seu m e d i c o
particular havia sido subornado para envenená-lo, chamou o á
sua presença, pedindo-lhe o remédio e, enquanto o bebia, pas
sou-lhe a acusação para ler. O Imperador Filipe, seu pai, logo
teria mandado torturar o médico, se acaso dêle suspeitasse. Koi
a generosidade que levou A lexan dre a tratar o harém do rei da
Pérsia com absoluta cortesia, se bem que isso representasse
penoso esforço, o de dominar-se na hora da vitória. Algum a
coisa da magnanimidade ensinada por Aristóteles sobreviveu
nos delicados retratos de Alexandre, como se vê em moedas e
obras de escultura; e isso concorreu para que dêle se fizesse
um padrão de heroísmo, na idade da Cavalaria.
isi
...... • da Palestina. Nêles, o que logo impressiona é que não
i.tii ii. . i.iiu a uma organização calculada. De fato, não seguiam
»ii! jilaiiii i igidamente traçado. Nenhum dêles oferecia assunto
( iflUnuo. No conjunto, não apresentavam um a simples série de
! déi u h , em estrutura preestabelecida. O Serm ão da Montanha
começa dr chôfre, com uma singela afirm ação m ística que se
st]inia também numa razão m ística. Êsse modelo se repete por
eeto ou oito vêzes e, então, é pôsto de lado. A parte restante
do diücurso compõe-se de sentenças igualm ente místicas, algu-
miiH das quais formam breves períodos. E a oração se inter
rompe, tão inesperadam ente como começou.
Se a lermos cuidadosamente verem os que é im possível tomá-
la como um discurso no verdadeiro sentido dessa palavra, ou
c o m o alocução planejada e proferida de modo contínuo, para
que logre efeito geral. Nas traduções usuais, o Sermão da
ivimiianha aparece dividido em trechinhos separados, ou “ ver-
síeulos” . Ao examiná-los ficam os convencidos de que êle assim
realm ente deve ter sido proferido. Jesus sentou-se. Cercaram-
no os discípulos porque sabiam que o M estre ia dizer algo de
memorável. A o redor, a m ultidão permanecia atenta. Jesus não
rio levantou para nela fitar os olhos, na atitude de quem fôsse
I>i <.ferir uma oração cuidadosamente preparada. Houve silêncio,
c o m o que uma pausa interm inável. Então Jesus falou “e en
sinou” como um professor que se tivesse sentado entre as suas
crianças. Disse êle: “ Bem -aventurados são os humildes na terra:
porque dêles é o reino dos céus” . Depois disso dificilm ente se
p o d e r á crer que logo haja prosseguido. É mais provável que
l e o l i a havido outro silêncio, enquanto a vibração de suas pala
vra:; cessava. Isso iria ser lembrado, por anos e anos, até que
viesse a ser escrito. Então, Jesus ensinou de novo, dizendo:
“ l i e m .aventurados os que choram: porque êles serão consola-
d o a " Kiitão, outro silêncio, e assim vagarosa e m editativam ente,
le .o., pronunciou as sentenças que havia elaborado durante
nuiilo;; anos de preparação como Mestre.
Êsse método de ensino é estranho para nós. Algum as vêzes
m sido chamado gnômico, porque gnomé, em grego, significa
gfirmaçao de sabedoria” . Aqui e ali, encontramo-lo na tradi
ção euro péia, mas é muito mais comum no Oriente. Podemos
iiolii Io em muitos pontos da Bíblia. Por exemplo, quando os
ao ir ' i . de Jó chegam para consolá-lo em sua aflição, ah ficam,
pi inteiramente uma semana, em silêncio. Então, e só então,
falam , illei iiai lam ente, examinando as suas responsabilidades
ISO
naquela situação. Se bem que Jó e seus três amigos falem, cada
qual por prazo considerável, o que êles dizem não form a uma
composição inteiriça. A o invés de discutir, cada um dêles re
pete o seu ponto de vista m uitas vêzes, encaminhando-o com
uma série de im agens poéticas e frases emotivas. Queremos
crer que o fizessem, não em ansiosas torrentes de palavras,
mas ao contrário proferindo cada uma daquelas sentenças, v a
garosa e gravem ente, de modo a separá-las por longas pausas.
0 mesmo se poderá dizer de m uitas das falas dos profetas he-
breus. Os protestos de Ezequiel, as lamentações de Jeremias,
as sublimes invocações de Isaías ganham m uito maior fôrça
quando sejam lidas como êles as teriam realm ente proferido —
m uito devagar, como os m ovimentos da mão que escreveu
aquelas palavras nas paredes do palácio do R ei Baltasar (* ):
MANE
MANE
T E C E L
F A R E S
llf
discursos in.ii;; longos, de estrutura mais complexa, isso não
(«ii i i i it-i acontecido.
A i r ..... strução da m aneira pela qual Jesus falava, a de
ii ..........tos significativos, é defendida em trabalhos de espe-
( JiÜBtflH no assunto, como o Professor Torrey, da U niversidade
ilr Vale, r o Professor Burney, da Universidade de Oxford,
lu a .iriii ambos na importância do idioma em que Jesus falava,
ii aramaico; a propósito, o segundo dêsses professores retra-
ilu/tu, para o aramaico, m uitas das famosas frases de Jesus;
. verificou que, freqüentem ente, tomavam elas uma form a
rítmica, semelhante a dos provérbios rimados, usual nos ensi
namentos dos profetas e professores hebreus. Algum as dessas
sentenças, como sugeriu, não somente estão m etrificadas, mas
têm l ima. Se tal conclusão é exata, então Jesus compunha suas
lições numa form a em que mais fàcilm ente pudessem ser lem
bradas; para imprim ir-lhes mais profundo sentido e para que
fÓH.scm memorizadas pelos ouvintes, teriam sido ditas vagarosa
t cudenciadamente, entre longas pausas. Portanto, Jesus não
fazia um discurso ou pregava um sermão como hoje entende-
mON estas palavras. Proferindo suas frases, quase como se fôsse
........anto, frases de densa sabedoria e m em orável forma, sen-
tida;; por êle, longos anos, era que Jesus ensinava a seu povo
r no mundo.
< ) segundo método de ensino de Jesus associava-se ao pri-
meiro. Era o de dizer um trecho simples, mas importante por
sua sabedoria, e logo cair em silêncio. Tal observação impres-
* limava aos alunos pelo significado, porque Jesus teria evi-
ilrnt,-monte pensado sôbre ela durante muito tempo, ou porque
nela a sua personalidade deveria exprim ir-se de modo muito
completo. Sentiriam os ouvintes que jamais alguém teria dito
iquilo; o procuravam por isso fix a r e guardar o preceito,
i ’■■
■ l* i íi . ; indicar três ou quatro situações típicas em que essas
nbsrrvaçoos foram feitas. Algum as vêzes, respondiam a difíceis
p> im ula,;. Seus discípulos as teriam proposto para resolver
certo;; problemas que, em vão, já tivessem experimentado
■ animar de acòrdo com os conhecimentos hauridos no ensino
í*i 11*•i nu dr Jesus; ou estranhos, que estivessem em amarga
pn pir itladc a;; teriam apresentado a fim de resolver suas di-
i ii uldailrs I'! Jesus respondia. Sabemos de muitos sábios do
i ii u nir que ensinaram quase inteiram ente por êsse método,
bniii’ que nos ehamumus Confúeio, preferia responder a per-
guiitas si ta/.n afirmações de ordem geral,.ou de caráter abso-
||g
luto. Algum as vêzes, os críticos de Jesus ensaiaram perturbá-lo
usando do método de competição fam iliar aos eruditos judaicos
— propondo-lhe com plexas e intrincadas questões, na esperança
de provarem que Jesus não entendia das leis hebraicas, ou
mesmo, na de fazê-lo calar. Muitas de suas respostas a questões
dêsse tipo são recordadas. Por exemplo, especialistas em leis
trouxeram até Jesus uma m ulher que havia sido colhida em
flagrante adultério. “ Ora bem ” , disseram, “Moisés determina
na lei que esta m ulher deve ser dilapidada, até morrer. Então
que dizes a isto?” A princípio Jesus não respondeu. Insistiram.
E Jesus deu esta resposta: “ Aquêle, dentre vós, que se sentir
sem pecado, que atire a prim eira pedra” . M uitas vêzes, Jesus
comentaria também uma situação humana, mostrando aos ou
vintes a correta interpretação que se lhe deveria dar. Com
freqüência, êsses comentários soavam muito instrutivam ente,
porque Jesus sabia corrigir com firm eza e imparcialidade. Por
exemplo, uma vez, seus discípulos repreenderam alguns pais,
porque traziam as criancinhas até Jesus a fim de pedir-lhe que
as tocasse. Jesus censurou os discípulos, dizendo-lhes que seria
impossível que recebessem o reino de Deus a menos que se
tornassem, êles próprios, como criancinhas; e tomando as crian
ças nos braços, abençoou-as.
Muitas vêzes Jesus dava uma lição contando uma história. A
história era sempre interessante em si mesma, e ilustrava um
preceito religioso ou moral. Contudo, nem sempre lhe explicava
i exata aplicação; algumas vêzes dava-a somente a seus dis
<i pulas, e, em outras, deixava que êles próprios a descobrissem
i a aplicação era geralm ente complexa, com diferente:; níveis
■ !•- sentido, ou sutil e inesperada. H avia som ente dois meio:; de
transm itir preceitos dessa ordem — prolongada discussão com
ilelc,„i <■objeção, am plificação e qualificação, o que lhes redii
iria a fôrça; ou, como Jesus as ensinava, numa aparência
í1111*■I , mas luminosa. (Nisso Jesus usava uma técnica similar
a de Platão, que apresentava histórias e imagens poética;; para
i inalar certos pontos que não pudessem ser completamente
pi ovados, ou que só se tornassem acessíveis pela emoção).
Tal fato nos leva a considerar o terceiro método de eti;.un>
• l>- Jesus. Como todos os grandes mestres, Jesus sabia que uma
Imagem vale mais que mil palavras, e que as pessoas tniilu
isipidaiiiente aprendem ao fazer alguma coisa ou vendo fa/ei
Mlguma coisa. Por isso, pontuava todo o seu ensino com certo
numero de atos que sigm li cassem alguma coisa Kram simboloN,
181
ou iIludir, 1W exemplo, Jesus pouco falou sôbre o casamento, e
I•<üi<<• |ôbre o vinho. Mas o primeiro m ilagre, referido no
i íiuff !lin <U> João, foi a transm utação da água em vinho para
ttlfbrãçfto de uma boda. Jesus não podia ter dito nada mais
t 1is111 que aprovasse tanto o casamento, e o uso adequado da
bebida; «• a última lição que deixou aos discípulos, antes de ser
pn ,u. ím o ritual de dividir uma refeição, a que deu profundo
* imml.il sentido. Houve muitos dêsses gestos em sua vida.
líi lcmbremos como expulsou os vendilhões do templo, com um
n/mr,-ij',ue; e como escreveu com os dedos, na areia, quando a
iidúllci a lhe foi trazida e acusada. Muitos dêsses gestos são tão
c l a r o s para nós como se os tivéssem os visto; e o ritual da últim a
*<i.i. bom o sabemos, é celebrado a tôdas as horas, em tôda parte
11<* mundo.
Seu quarto método de ensino consistia em animar a propa
gação das idéias. Depois que seus alunos aprendessem o que
pudessem, mandava-os a diversos pontos da Palestina para que
ililundissem os ensinamentos recebidos. Nem todos os profes
sores fazem isso, mesmo quando tenham uma mensagem re li
g io s a . Ao contrário, tendem a ensinar a cada classe, por si, e a
l r a l a r cada classe como uma pequena comunidade fechada.
,S ócrates dispunha-se a ensinar quem quer que se animasse a
responder suas perguntas; teve discípulos que usaram de seus
■ nr Iodos e suas doutrinas; mas nunca o vimos m andar agentes
p a r a difundir suas idéias. Platão teve um colégio; os alunos aí
<h< liavam para educar-se e o deixavam depois, algumas vêzes,
<i fim de estabelecer as suas próprias escolas. A ristóteles tam-
111*111 teve um colégio; como Platão, distinguia o ensino “ esoté-
rico" que seus alunos mais adiantados recebiam, do ensino
"esotérico” , aberto ao público. M as nenhum dêles encorajava
BFOfessóres a disseminar suas idéias. Conhecemos a Sócrates,
F lltfio r Aristóteles, principalm ente pelos diálogos e notas de
•iiii.r, que perduraram além dêles e seus próprios discípulos.
1'niN lirm: o enorme resultado do ensino de Jesus deve-se, em
l_*i iti hl«■parte, à preparação que fêz de m estres capazes de di-
.......li Io c (Ir preparar outros mestres. O pastor, que prepara o
Hrrnmo para a próxima semana; a freira, que lê uma página
pinli i:..i para uma classe de costura, nas Ilhas Filipinas; o Dr.
tS<>hwi‘itzor, em seu hospital, na floresta africana, escreven
do ( + i ou a mãe, que ensina uma oração a seu filho — todos
( +i fu il.ie a v lila «Io i èUtlitn m é d ic o ti f ila n tr o p o , p o d e m «eu IÍ i Ihn , c m p o r tu g u ê s , "T I ímI ó -
A f.i. a n a s . M ild iB I i i I h i u Ih c M o c ld e d e " , e " K n l i r m A ^ it a «■ « H u lv u " . IC»I M u lh o ia ii u m iI o n .
N tio /
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estão ligados, entre si, por uma tradição direta e ininterrupta,
que passa por setenta gerações e remonta a Jesus, ao ensinar
os seus primeiros discípulos, os discípulos que um dia escolheu,
* *
IMl
q u t teve outros alunos, mas os revolucionários estavam entre
(. iíuufi lirilhantes. Não temos dados seguros para dizer como
,‘ im fftttR os julgava. Mas Platão nos diz que êles pareciam bons
f g p i l i l e que, provavelm ente, foram desencaminhados por
iiuliüá influências; e, é claro, depois que tivessem abraçado o
itiiHi raminho, pouco haveria a fazer. Contudo, Sócrates com
He:, conviveu, estreitam ente e por longo tempo. P or que se
11*1 iam tornado assim tão maus? Sócrates seria o m elhor mestre
■Ia Grócia, como Platão e outros acreditaram, ou teria sido,
....... o hg lê em sua acusação, homem capaz de realm ente cor-
romper a juventude?
A história da educação está pontilhada dêsses terríveis casos,
nimo a carta de um canal, de difícil travessia, assinala os ro
chedos. Se avançarmos para o Império Romano, aí encontrare-
iiu i:; outros casos. Nero é um dêles. Nasceu de uma princesa,
i|ne se esforçou para que seu segundo marido, o Imperador
<'laiidio, o adotasse. Na qualidade de herdeiro do trono, recebeu
eu:;mo esmerado. Foi levado a Sêneca, brilhante e talentoso
orador e escritor, conhecedor dos costumes da côrte. Tinha êle
u m a filosofia relacionada com o Estoicismo, em que defendia
um código moral austero, com base no dever — não, porém,
fora da realidade, ou excessivam ente rígido. Auxiliado por um
hitendido em administração e nas armas, ocupou-se do jovem
príncipe, anos seguidos, com todo o carinho e delicadeza que
nessa obra devia pôr. Deu-lhe uma base geral de filosofia moral
r consideráveis conhecimentos de literatura e arte. Isso não
.■ •■■
I i-i difícil, como difícil não foi dar-lhe o ensino de princípios
«‘ticos. Logo que o velho imperador morreu, Sêneca escreveu
um irônico e escarnecedor panfleto sôbre a penosa entrada de
('láudio no céu e sua expulsão de lá, e que parecia ter sido
composto para as festas da coroação; e escreveu nove violentas
11ajM ilias (de acôrdo com a sua teoria) especialmente para o
I<-alrn particular do jovem imperador, e no qual, Nero era um
dos atores principais. Os resultados de todos êsses cuidados
um .haram-se muito bons, no comêço. Os cinco primeiros anos
«In reinado de Nero foram admirados por todos. Justiça, boa
ajilitsMsío dos dinheiros públicos, grandes obras deveram-se ao
i iihi iasmo de Nero e à orientação de seus conselheiros. Depois,
i o n ic c o u a queda. Dos vinte e dois anos em diante, tornou-se
i >i«u a c a d a a n o . Dispensou seu mestre. Divorciou-se e, depois,
• «-■iitou sua mulher. Fêz executar, ou assassinar, sua mãe.
I 'i o .seguiu numa louca série de extravagâncias «• absurdos.
luy
A fastou de si tôdas as boas influências, esqueceu seus deveres,
arruinou o império, provou a revolta contra êle, e, ao fim de
tudo, m al teve coragem para suicidar-se. E Sêneca, seu m estre?
V ários anos antes, Nero condenara Sêneca à morte, como outras
pessoas que tanto haviam feito por êle.
P or que teria praticado tantos erros e crimes? Sim plesm ente
porque os poderes do imperador eram demasiados? Não, por
que outros os usaram de form a útil. Ou êsses poderes lhe che
garam às mãos de improviso? Não, porque para os encargos do
govêrno, fôra cuidadosamente preparado por especialistas, anos
sucessivos. Ou teria sido m al preparado — teria Sêneca, talvez,
encorajado Nero a dissipar a vida, quando mais fácil seria
governá-la? Não, não se pode dizer que isso tenha acontecido.
A o contrário, tudo evidencia que Nero foi bem educado, e sob
padrões morais elevados.
Há, na história, casos similares, em menor escala: centenas,
m ilhares, dezenas de m ilhares de homens e m ulheres que tiv e
ram talento, saúde, abastança, que foram preparados por m es
tres compreensivos, que tiveram ao seu redor pessoas com pre
ensivas, e que tudo isso desprezaram. A s m ediocridades não
interessam tanto — moças dispendiosamente educadas que se
Iornaram, depois, pessoas grosseiras ou verdadeiros demônios;
ia pazes, com professores da melhor qualidade e roupas bem
lalhadas, que realizaram uma grande jornada no mundo da
rultura, para dêle voltarem sem uma só idéia na cabeça, do
rabelo:; lustrosos, mas apoucada. O filho de Chesterfield ó um
bom exem plo dessa espécie de falência, a que se deve dar
menor importância (*). Casos como êsses representam apenas
ptíMOire:; remendos, magros e secos jardins, áreas cie ilepre:;
§in Nan, o problem a im portante reside nos outros caso;;, na
ijnele t*m que pessoas bem dotadas, e com o m elhor ensino,
tormuain ;:<> fatal e diabolicamente más: como Nero, ou como
Ilill.tH.
If e . i• um difícil problema tanto para os mestres como para
M pai I\|a solução de uma questão tão árdua, dois esquema;,
>i empregados. Um consistirá em colhêr as re.-.posla
■ i■*■ jA ienham sido propostas, m editar .sôbre elas, comparã la-,
tadiiP i e buscar uma conclusão. A segunda será perguul.nr ,e
d tuMfnu pioblema apareci" em outras circunstâncias, verificai
ms ipai/ifi ile,‘,'.ea ca,sos, <>, então extrair conclusões.
iMi
ii Me mmBf
NR....... .. . respostas convenientes se oferecem. P or que
ÍuiIbs 11.nu Jesus? Por que Nero fêz m atar seu próprio m estre?
i *m qitr Ali ibíades destruiu tantas coisas que Sócrates adm i
rava a dignidade, a pureza, o patriotismo? O próprio Judas
nõu iftbif», Depois de cometer a traição, percebeu que estava
errado. Sabia que não agira bem; sabia que nada podia fazer
f iiju iií. trinta dinheiros que recebera. Mas não poderia dizer
i mu que havia feito aquilo.
N o caso de Nero, afirm ava êle, Sêneca se havia metido numa
■'iii :|>iração para matá-lo; mas tal idéia poderia encontrar
.>11mia cm seu coração? Quando forçou Sêneca a exilar-se e
ii c a ir om desgraça, procurou salvaguardar-se contra o assassí-
iii«i - contra uma conspiração que teria feito o ancião, o qual,
c o quisesse, poderia ter m atado o príncipe, a qualquer m o
mento, durante anos e anos?
Alcibíades não deixou nenhum documento escrito, exceto
aquele em que narra as suas proezas. M as Platão, seu compa
nheiro nos estudos, apresenta-nos uma explicação razoável
n u m a passagem, ao que parece, escrita com relação a êle. Platão
•li/. que alunos de tôdas as espécies podem desencaminhar-se,
Inclusive os medíocres. O bserva tam bém que a filosofia é uma
e s p é c ie de. ensino excepcionalm ente difícil. Seria preciso possuir
verdadeiro talento para bem receber o ensino de Sócrates.
Quando um aluno nessas condições se desencaminhasse, torna-
VB .«■homem realm ente mau, pois aplicaria os seus dotes ex-
• eprionais a fins destrutivos. Lembremo-nos de que Platão não
estava pensando apenas nos poderes da inteligência mas tam-
Item om outros atributos que compõem as personalidades e x
cepcionais — energia física e espiritual, forte e rápido poder de
decinao, adaptabilidade e encanto pessoal, destreza física e
bflezu. Quando um jovem ou um a moça tão excepcionalm ente
dotado:; dão para ser maus, tornam-se m aus de verdade.
Platão faz outra observação, em parte verdadeira. A firm a
q u e e terrivelm ente difícil ensinar alunos excepcionais de modo
e fic ie n te , quando más influências atraiam fortem ente a sua
aienc.io T alvez seja verdade. Se Sêneca tivesse feito Nero es-
tu d a r e m condições de aprender por si certos conhecimentos,
i ei la m e n te que teria feito m elhor coisa dêle. Mas o m estre não
p o d ia v ic ia r o jovem príncipe por todo o tempo. E se pudesse,
mm :.ei ia conveniente fazê-lo. Como se poderia ensinar auto-
dniníjüo ji Nero, se no palácio havia numerosas escravas jovens
q u e tu d o f a z ia m p a ra cham ar sôbre si a atenção do príncipe,
rodeando-o a cada instante? Como se poderiam reprim ir as suas
extravagâncias quando as salas estavam cheias de cortesãos
ansiosos em vender tudo quanto possuíssem, procurando o que
m elhor pudesse satisfazer as fantasias de seu senhor? Poderia
alguém ensinar clemência, ainda Sêneca, quando as mais vis
intrigas atingiam a cada homem decente, sugerindo o con
fisco de seus bens e aplicação de torturas, ato de crueldade
que a êsse tempo causava satisfação a muitos?
Verdadeira que seja, em parte, será essa a única explicação?
A í estará tôda a verdade? Podemos adm itir que assim tudo se
possa explicar?
Não, pensamos que não. Sentimos que os homens que se
voltaram contra seus mestres não foram apenas perturbados
por outras influências. Não só abandonaram o caminho certo.
Fizeram m eia volta para m archar em direção oposta à de seus
guias. Não deixaram apenas seus guias, esquecendo-lhes as li
ções e a personalidade. Deliberadam ente, atacaram seus mes-
11cs, procurando aniquilá-los e tudo dominar. Assim , o problema
que temos de exam inar é êste: por que tantas vêzes isso acon
tece, mesmo com m estres de valor e de bondade excepcionais?
❖ *
1PT
jM. i. Poderia ser fácil, se assim pensasse, tanto quanto agra-
l é v i l paín í*le juntar-se a seu pai. Não havia nenhuma im-
pogiglo, Podoria fazer o que quisesse. Poderia sentar-se em
i i i a para jogar; ou caçar tôda uma semana durante a estação
iprapHlida; ou m atar o tempo, inocentemente, de qualquer
uuttH forma. Mas resolve tornar-se um desqualificado. É sò-
niente um amador, mas está no caminho dos bandidos profis-
.... .ii: Seu m elhor amigo é um velho rufião, que bebe quase
tudo quanto lhe dão, e viv e dos resultados de suas trapaças. O
filho compreendia mais F alstaff (*), do que seu pai, o Rei
Henrique IV. Fêz de F a lstaff uma espécie de pai substituto,
rindo se com êle como não podia rir com seu pai, enganando-o
c conspurcando o seu nome, como se quisesse diminuí-lo. À
medida que a peça prossegue, torna-se cada vez mais difícil
intender o que está errado no Príncipe Hal. P or que desprezar
tôdas aquelas portunidades? Por que desejava ferir seu pai?
A firma-se que o fazia para poder receber m aiores louvores
quando mais tarde se reformasse, mas não é essa a razão real
r, afinal, a sua reform a não se vem a dar. A razão real aparece
quando seu pai está em verdadeiro perigo, e, êle próprio, Hal,
■ ameaçado por um rival de sua própria idade. Então, corre em
auxílio da causa do rei, e m ata o rival, Hotspur. Imediatamente
depois, quando seu pai está gravem ente doente, H al va i vê-lo
6 fi encontra inconsciente; e, como se de fato estivesse morto, o
jovem toma da coroa e m ete-a na cabeça. É o que não podia
1.1 <•; antes. É o que sempre desejou. Na impossibilidade disso,
tinha procurado o extrem o oposto. A fim de ser algum a coisa,
1.1 ia do ser algum a coisa totalm ente diversa do que fôr a o pai,
porque não podia tomar o lugar do rei enquanto o pai estivesse
vivo. No momento em que Henrique IV morre, Hal torna-se
r e i, É um rei modelar, forte, cavalheiresco, prudente, enérgico.
k icjcita Falstaff, seu pai substituto, como rejeita seu falso
ipoio, admitido por algum tempo: e fá-lo com tanta dureza e
c r u e l d a d e que o velho F alstaff m orre de desgosto. Então, mor-
lo:, ambos os pais, Hal vem a ser êle próprio.
A i i ii la assim, somos inclinados a pensar que nunca poderia
f«l«* m i reformado. Se seu pai tivesse vivido outros dez ou quinze
miioí,, :,r nenhum caso de guerra tivesse surgido, poderia Hal
i .-i abandonado a vida dissoluta, e rompido com os seus dis-
fiiilntoí. companheiros? Não teria estado em perigo de tornar-se
«s i fiiiiti Falstaff, famoso • s p ltie inglên, companheiro de orgia* do R u i da Inglaterra,
i i . i *iiijiit v fílialieãp&ai@ d ile ii mmtmlo da libertinagem e do cinismo (1378-1459),
J
itfi
um homem perdido para sempre? Poderia ter ouvelbei í<I.», « >1•
vez mais metido em seu estúpido protesto, até que in lr ■
desenvolvesse o gôsto por aquela vida. Ou, ainda pior, pndri m
ter decidido tornar o seu protesto mais agudo, fazer alcmu.i
coisa que mais gravem ente ferisse o pai, como destrona Io nu
destruí-lo. H enrique IV e Henrique V são adm iráveis peças
M uitas vêzes, porém, o conflito que descrevem terminam trá
gicamente. Foi depois dêsses dramas, que Shakespeare escreveu
0 Hamleto e o R ei Lear (*).
❖ ❖
❖
i§§
mundo chora, lembrando a sua agonia. Mas também pode-
ihu, * ! i. ! uma lágrima em intenção de Judas, louco pelo
. • .....i •• f1 «li•:;(>,speraaa amargura, que o levaram a enforcar-se,
ííbí11 m11f11.i11*• il(- todos, numa árvore do campo que êle próprio
I!ü í i >ii uigiientado.
,'if’ .. conflito não resulta da intenção de ninguém, que é que
.1 cftUHa? Será m eram ente uma desgraça para o pai e para o
filho, como quando êste nasça cego? Será um golpe de acaso,
como n morte num acidente de tráfego? Ou será regular, mas
giict-rnado por leis ainda desconhecidas, como a incidência do
i retinismo mongolóide? Ou tanto o pai como o filho, o professor
como o aluno, são parcialm ente responsáveis?
Nflo sabemos. Os psicólogos têm form ulado hipóteses, mas
nenhuma delas é ainda aceita como lei. Os professores podem
iimplciunente conjeturar, e essas conjeturas são pouco conexas
e inseguras. Na verdade, há alguns eminentes professores que
têm tido discípulos leais e filhos desleais. Os pais nunca sabem,
li,, alguns pais que têm tido quatro ou cinco filhos, todos bons;
<> uru outro que, educado no mesmo regime, torna-se covarde,
mentiroso, traidor, ou bêbado. Nada há que possa ferir mais.
Êbho.s pais fizeram tudo quando podiam com todos os filhos.
N lo chegaram a compreender porque falharam no caso de um
só dele::. Ninguém sabe. O que podemos fazer, no momento
presente, é apenas ensaiar entender o que se deve passar na
cabeça dos discípulos rebeldes e do m au filho.
Num e noutro caso, o jovem está ensaiando tornar-se êle
mesmo, mas não sabe o que deva ser. Como todos os jovens,
tem apenas uma vaga idéia de suas própria capacidades e fra-
i(H> -.1 Seu desenvolvim ento espiritual é mesmo mais miste-
l ioíio para êle que o desenvolvim ento físico, e ainda mais alea-
tnl lo <> jovem sente como se estivesse dirigindo um carro em
gnm de velocidade, sem saber o que são os freios, onde está
n i iida i la direção e se os sinais da estrada lhe dizem a verdade,
■ai . i|iic deve ir sempre para a frente; não, para onde. Sabe
que ilevo crescer, mas de que modo?
Mc i. ui um pai extraordinariam ente bom, um pai adm irável,
■ ai imi iiroft‘:;:;or que procure não ter defeitos, será levado a
m. 11-.htai qui- deva seguir os seus exemplos. D eve copiá-lo em
bidn l ).-< <• esforçar se por tornar-se como êle. Ainda que sinta
que, ;.<• assim fiz cr, terá perdido alguma coisa, ou que não será
■i. m< ino, convence se também de que não pode tornar-se
iyiial a i-|.-. por(|ii(* ó rlc oioit.o melhor, O rapaz de dezoito anos
não pode ter a calma sabedoria e o autodomínio do homem de
quarenta e cinco. O inflamado príncipe nunca poderia ter sido
equilibrado como um estóico de muito mais idade. Portanto,
mais do que uma cópia apagada e inferior, decide ser um ori
ginal, embora de má qualidade. M eu pai é rei? Está bem. Ao
invés de ser um reizinho de imitação, serei um rei de biltres, o
príncipe de um mundo m arginal. A lguns teólogos cristãos afir
mam que o primeiro pecado cometido foi a ação da criatura ao
rebelar-se contra o Criador, quando o príncipe dos anjos tor
nou-se a si mesmo o rei dos demônios, exclamando: M elhor
será reinar nos infernos que servir no céu.
Comumente, porém, a revolta é menos sistemática. O jovem
extravia-se cometendo coisas vergonhosas com o máxim o de
publicidade, de modo que possam fazê-lo tão real como seu pai
e tão im portante como êle. Enquanto isso se dá, uma vida se
dissipa. Algum as vêzes, mata-se a si mesmo, ou empreende um
suicídio simbólico. Ainda assim, estará tanto punindo-se a si
mesmo por ser indigno, como enterrando a im agem de seu pai.
Nesse conflito, como em todos os conflitos entre pai e filho,
ou entre m estre e discípulo, a m aior porção das responsabili
dades recai sôbre o pai, ou sôbre o mestre. Cada um dêles sabe
mais, e pode planejar melhor. Mas tudo é m uito penoso para
ainbas as partes.
Um modo de atenuar o conflito é adm itir que o filho, ou o
cÜHfípulo, sejam diferentes de seu pai ou de seu mestre. Pode-
£Gno.s encorajar o jovem nessa diferenciação. Deverem os su-
Mt-in novos passos ao longo dos quais o rapaz possa mover-se
livremente, sem trair os passos de seu pai. Mesmo aí haverá
i lí lf Q , O jovem poderá ser sacrificado entre o desejo de ser a
nu u .-iu do pai e a necessidade de ser algum a coisa de dife-
*« 111. K dever do pai esforçar-se para que as duas partes da
ppi anual idade de seu filho cresçam juntas e harmoniosamente.
Outro método, que é de aplicação mais difícil, consiste em
iliiiiiiiulr a distância entre o pai e o filho, levando o jovem a
* nu iníf i que o que dêle se pretende é perfeitam ente realizável.
|<«|r do;; seus próprios erros. Descreva-lhe suas lutas e conflitos
puhNitilo;;, não como se tivessem sido batalhas que somente um
supri homem teria podido vencer, mas como escaramuças an-
. h. . muito semelhantes às do filho. Se você o supera por
c*Ij•1111;. aspectos, m ostre-lhe que, em outros, êle lhe ó superior,
t-= nlogii- Iíir íin virtudes. Quando haja absoluto êxito nalguma
ailuiirão, que voce nunca teve de enfrentar, admita a impor
iiiit íü . i. . Leito e m ostre-lhe como isso o teria fortalecido. É
tlt ,iil.i\ el para um jovem a idéia de que seu pai ou seu
t*H . ti. uno possua nenhuma fraqueza humana. M ostrar-lhe as
qn.‘ voi '6 l e v e , ujuda-lo-á a dom inar as suas próprias.
i ' roíifllto não representa apenas sofrimento e prejuízo. Por
■ #rto» • '-prelos é desenvolvim ento. Porque o conflito estim ula
umbfiH as partes a receber o que haja de m elhor em cada uma
delas Ao perguntar, pondo em dúvida cada afirm ação do pro-
l< o i, o discípulo aprende mais que o passarinho implume, que
i *i ijjo Ic qualquer coisa que lhe ofereçam. O filho que compreen-
dr n dificuldade em rivalizar com o pai, se deseja ter êxito,
riilao (l(>senvolverá as energias que dantes não percebia esta-
rt ni ao seu dispor. Portanto, o pai prudente e o bom professor
c,-,l imularão seus filhos e discípulos a igualá-los, ajudando-os
i >i ii Ir convenha, e ajudando-os para que se diferenciem dêles,
mu
levando-o a ser o que Sainte-Beuve chamou “o mais sábio di
tados os franceses” .
Êsses são apenas alguns dos excelentes livros sôbre educação,
que se escreveram na Renascença, quando a Europa ocidental
estava se reeducando a si mesma. Êles aqui nos interessam
porque mostram que a educação não era tomada como atividade
das crianças e de seus mestres, mas, processo que continua ativo
através da vida. A m elhor espécie de ensino é aquêle em que
ao jovem se ensinem coisas que continuarão a usar, a aprol im
dar e a estimar, por tôda a vida.
A s disciplinas ensinadas na Renascença não interessam a êste
estudo. Os métodos de ensino, sim. Seu valor é comprovado
não somente pelos homens e m ulheres que produziram, mas
pelo entusiasmo com que dêles falam muitos dos alunos dessa
época.
O primeiro ponto a salientar é que o ensino começava cedo.
A;; crianças eram mandadas à escola quase ao mesmo tempo
>m que deixavam o colo materno; mal term inada a infância,
seguiam para a universidade, quatro ou cinco anos antes do
que agora se faz. Poder-se-á pensar que isso significasse que
ainda estivessem estudando disciplinas do curso secundário,
• nibora estudantes universitários. M as não era exatam ente
i .mi. Kstudavam mais, mais cedo e mais intensamente do que
i|'ui a o fazemos. Quando a criança ia para a escola não lhe eram
diuto;; cubos coloridos para brincar, ou para coordenar os mo-
yimenti>s. Já se lhe dava um exem plar do alfabeto e ensinava
‘ Ihf a ler e escrever. A criança com eçava a aprender línguas
■*11aiiu.-iras e a estudar a Bíblia logo que pudesse lei ,">hake
pt a, que teve a educação comum das crianças da classe
Hif<ilia, na:; pequenas cidades, começou a aprender lalim no.*,
gtsíe nno;, M ilton (que se tornou professor depois de forrado
H abandonar a política) foi educado por seu pai, que lhe en=
§iimii n latim aos sete anos, e o grego aos nove. A rainha
iLliaulmte, Ariosto, Erasmo, Lutero, Lope de Vega, Gnlileu
Moiuii ,jiiase tôdas as ilustres figuras dessa grande époea
i nüifíijii iini a aprender muito cedo, e chegaram a ler espírito
ffluHn iln ilrndo logo no início da adolescência. (Uma das «• • • e
yõíis í Santo Inácio de Loiola, fundador da Companhia de ,le o
ijMé i i ! 11)11 bravo soldado, mas ignorante, até o momento da
i e.i ii n, uma de suas principais provas foi a humilhação de
f i j i i r 111 ii um i ('ftcoln na idade de vinte «• cinco ou trmla iuion,
§ de aí HjiteHilei ns disciplinas comuns, entre crianças)
DtpulH, iis disciplinas eram mais lim itadas em número, de
mudo q u e h;; energias dos alunos não se dissipavam. A o mesmo
tempo, o ensino não estava rigidam ente dividido ou especiali-
iâdOj como hoje acontece. Em nossas escolas, os jovens estudam
0 francês, digamos, dos dez aos onze anos, e história dos onze
R§| doze. Nas escolas da Renascença, o m estre que ensinasse
fiHiii es poderia não tratar dessa língua como uma “ disciplina”
|iut si só. F alaria dos modos de vida e dos costumes franceses
1 íí.Iu e, faria “sociologia” , história, geografia, literatura e qual
quer coisa mais que julgasse im portante). A o invés de ensinar
11 iinees”, ensinaria a França. Isso forçava o m estre a um gran
de l i .ibalho, exigindo tam bém que fôsse um homem de vasta
cultura. Significa igualm ente que devia interessar-se em tudo
quanto se referisse à sua “ disciplina” , preparando-se para ex-
i ‘Ii<.i r qualquer dos seus aspectos. E, aliás, os professores podem
fiz ê lo. Reiteradamente, os homens da Renascença louvaram
sei is m estres dizendo que eram “espíritos universais” , “elo
qüentes como Cícero, sábios como Sócrates” , “fontes e tesouro
do conhecimento” . Por essas exagerações afetuosas queriam di
zer que, quando jovens, adm iraram a competência geral e a
isao de seus mestres mais que o conhecimento profundo, mas
limitado, dentro de uma especialidade. Teriam dito que um
professor que apenas conhecesse biologia, ou francês, absoluta
mente não estaria preparado para ensinar.
Isto conduz de modo natural ao terceiro ponto, o de que os
melhores mestres muito pouco usavam da coerção. H avia, sem
d ii vida um grande número de escolas de qualidade inferior que
usavam de açoites, e brutalidades similares. M ontaigne quei
xou se amargam ente disso. Mas nunca afirm ou que os tivesse
■p< cimentado; e, como outros autores que tratam da educação
o i !;• -nascença, proclam ava que tais processos eram indesculpá
veis v deviam ser abolidos. A s boas escolas, os m estres real
mente capazes, nunca dêles se utilizaram . Que em pregavam ,
intfio? Quo faziam para que os jovens estudassem aquêles difí-
( eis assuntos? A ntes de tudo, já o dissemos, amavam tanto as
diM íplinas e delas falavam com tanto interêsse que os alunos
t sentiam como que fascinados. Hoje consideramos a análise
de um Ireelio complexo e obscuro da poesia lírica grega como
um lema meio abstruso, duro e penoso. Ainda assim professores
houve, eomo .Jean Dorat (*), que a isso ensinaram de tal modo
Nau l •*•»«i (qu e, » in latim , se assinava A uratus) foi célebre poeta e professor fran-
tiin .It.a i i k i i i I i i na da "P lé ia d e " no século X V I . Nasceu cm Limoges em 1508 o morreu
. ::i i afis em» l.NHH ICntre seu* diurípulos, fiuurum Ronaard c* B aif. Carlos I X dou-lhe o títu lo
«I* " P .,# !# N do T,
que seus alunos os chamaram de “mágicos” , pois êles “ colhiam
cada palavra como a jóias” , e seus ouvintes lhes pediam sempre
que continuassem, enfeitiçados como estavam por sua capaci
dade e vitalidade. Implantado por bons professores, um inte
rêsse dessa espécie perm anece por tôda a vida do aluno.
Talvez se conclua que êsses m estres não podiam ser precisos.
Que divagavam algumas vêzes. Que eram audaciosos e im agi
nosos, muito freqüentem ente. Inexatos, m uito inexatos outras
vêzes, e de modo a causar pasmo. D e fato, não davam tanta
importância ao conhecimento literal e correto, ou fundam en
tado pela evidência, como o fazemos desde o século passado. O
<\spírito do Método Científico ainda não havia emergido dos
tubos de ensaio. H avia poucas enciclopédias, dicionários, livros
dii referência e instrum entos auxiliares, como êsses. No entu-
:.iasmo de descobrir as obras que se haviam perdido há um
milhar de anos, e de traduzi-los e explicá-los em seus próprios
hMornas pela prim eira vez na história, os professores muitas
vêzes abandonavam a precisão, como um grupo de mineradores
hc esquecem de preservar a beleza da paisagem quando comc-
çam a explorar um veio precioso. Shakespeare está cheio de
ilusões aos mitos gregos que êle leu ou ouviu na escola. A lg u
ma-. vêzes o faz desacertadamente, e, em outras, os altera com
.is jilnente liberdade; não obstante, emprega-os de modo a moi;
ii.ii <|iu> os amava. Traduções im portantes foram feitas muito
lamente, por jovens inexperientes, dotados de fluente
estilo <> viva imaginação. Chapman orgulhava-se de haver tr;i
du/iilo ,i metade da Ilíada em menos de quatro meses. Profe;;
|>1oeminentes cometeram tais disparates que nos c:;|>;iii
Iam, <oino nossa própria ignorância a respeito da p:m-olo|u,i
devei a espantar os homens do ano 2.350. Poetas como Spen;;ei
Jietnvaiu de conhecer livros que nunca tinham lido, doü
*4m .$ a 1>1oveitavam citações de segunda mão. No conjunto,
porém, conheciam mais literatura do que nós, porque eram
gtiucBil.f. i in escolas que estavam nisso empenhadas, levando
aluno,-* h interessar-se pelo estudo. Disso duas coisas ressal
iam o h abiilho escolar deve ser preciso, seja interessante ou
nlo, tn i'. o ensino deve ser interessante mesmo que o trabalho
iilti hI< ítore maior precisão.
r< > i lim , o .h m elhores m estres da Renascença, ao invên de
bait ií iii *i<ifs iduuos, os e s tim u la v a m , por certas aplieaçôeH do
p tliii I p l n de jòyo 011 brinquedo. A e e n tn a v a m o fato de e o i u í t i
ln li ü a p ir iid i/iig e m um prazer. À escola que m anteve eom
Mi
iíif t íle ■ no, Vittorino da F eltre deu o nome de La Casa
CMéh-íisíi Também sabemos que êsses m estres encorajavam os
■ iluiMi. a <«»i11petirem uns com os outros, recompensando o ven-
■p.íini ( uiii prêmios e elogios. Inventavam difíceis tarefas, inci
tando na jovens mais capazes a realizá-las. Escreviam peças
pHt ii qui' o:; alunos as representassem. (Eram, m uitas vêzes, é
fir to , de escasso valor literário. A prim eira extensa comédia
i|u<‘ :;i* escreveu em inglês foi Ralph Roister Doisler, adaptação
•li* uma comédia greco-romana feita pelo Professor Udall, do
Kton College, e representada por seus alunos. Uma grande
quantidade dos dramas inglêses da Renascença eram peças es
colares). Normalmente, incluíam -se no trabalho do ensino de
difíceis disciplinas. O pai de Montaigne, por exemplo, iniciou-o
na língua grega escrevendo letras e palavras fáceis em cartões,
e compondo um jôgo que se realizava com êsse m aterial; e
outros ensinaram matem ática, segundo processos similares.
Todos êsses métodos, quando aplicados por personalidades de
valor e atraentes, tornam a aprendizagem verdadeiram ente
agradável. Os m ais famosos m estres da Renascença são referi-
do:; por seus alunos com sincero entusiasmo, admiração e esti
m a , como benfeitores da humanidade e amigos cordiais. Foi o
;,eu trabalho que modelou e fêz progredir aquela nobre época
d a história do homem ocidental, época que, m algrado seu baixo
nível geral, produziu muito maior número de grandes homens
<■mais refinados trabalhos de arte que a nossa.
ii m
|.p< uh u ,l, iapazes, o grupo que tivesse à sua frente. Em pri-
m eliu In mi (i m estre deveria entender a juventude. O m estre
<: i >' :t uruslumado a ensinar e a utilizar-se de seu espírito: os
aluno.., ii.m. Lembrando-se disso, o m estre adaptaria o ensino
m i ..l i 1<la<l<Numa imagem expressiva, o Padre Jouvancy
f(i/i que o espírito de um escolar é como uma garrafa de
gin jj.tln <:;l reito: pode receber m uito ensino em pequenas gotas;
nu a;; juandes porções escorrem por fora, perdendo-se. P or
tanto, p a r a ensinar, será preciso três coisas: paciência, paciência
* paciência.
• '011:;cqüentemente, será preciso adaptar o ensino às diferen
tes classes, e cuidar dos alunos segundo suas diferenças. P ara
fíizê Io, o m estre deve conhecer psicologia. Os rapazes pare-
<-cin se muito uns com os outros. O mestre deve notar, sob essa
>! u ivncia similar, os atributos reais de cada um. Num a outra
expressiva comparação (note como os Jesuítas bem usavam
du.s imagens), o P adre Possevino dizia que os jovens são como
• a I. açúcar, farinha e gêsso — substâncias tôdas muito parecidas
mas (le composição e uso m uito diferentes. Depois de descobrir
.!■ ; diferentes capacidades de seus alunos, o professor deverá —
tanto quanto isso seja possível — adaptar a essas diferenças o
seu ensino.
<>:: Jesuítas foram para países distantes e nêles mostraram
mi l ível paciência em adaptar-se aos povos que haviam deci
dido ensinar. P or exemplo, enviara um pequeno grupo de dez
o u doze padres à China, para aí ensinar milhões de pessoas.
Para atender a êsse encargo, que se diria impossível, começa-
i.mi por estudar a China. Era um império governado, de cima,
p o r poucos homens. Bem. Se êsses poucos homens se conver
tessem, o resto do país os deveria seguir, m uito naturalm ente.
Mas como poderiam ser convertidos êsses poucos homens, o
imperador, os cortesãos e os mandarins? Não seria, como pre-
i. nd. n lazer com o rei inca do Peru, o padre dominicano que
acompanhava Pizarro: entregando a êsse rei uma Bíblia não
traduzida. Não. Seria preciso sentir uma aproximação com os
chineses por intermédio de algum a coisa que êles já admiras-
fiCin Que é que êles adm iravam ? Em que estavam mais inte-
i c:.\:n|(>,s? Na cultura chinesa — filosofia, arte, literatura; e na
c i e u c i a , especialm ente a astronomia e a geografia. Bem. Os
le uni r. pastaram vários anos aprendendo filosofia, arte, e lite-
iittuia chinesa, preparando-se assim para abordarem os chine-
cin <11:. próprios domínios de conhecimento. Quando os
ui
altos dignitários da eôrte im perial adm itiram contato com os
Jesuítas, o que só se deu lentamente e com relutância do sua
parte, os religiosos lhes falaram em sua própria língua; e logo
os impressionaram exibindo mapas e instrumentos astronômicos
especialm ente preparados para a China. A o invés de serem
expulsos como estrangeiros bárbaros, foram acolhidos como
homens cultos e inteligentes. Um dêsses Jesuítas, que se tornou
pintor, no estilo chinês, é agora considerado como um dos
artistas clássicos do país.
A seguir, os Jesuítas se aproxim aram m uito delicadamente
dos mandarins, mostrando desejo de aprender com êles. P a s
saram a discutir astronomia com os cientistas da China; dese
nharam, com dísticos em chinês, mapas do mundo, em que o
Império Chinês aparecia ao centro; apresentavam importantes
instrumentos astronômicos a altos funcionários do govêrno que
os visitassem ; e term inaram por assistir a trabalhos do Conse
lho Im perial dos Ritos, aí corrigindo o calendário a fim de que
pudessem ser mais exatam ente calculados do que o faziam os
especialistas da China, os eclipses e outros fenômenos celestes.
Seus propósitos eram ir adiante, combinando a paciência je
uiíüca com a oriental, a fim de discutirem problemas ainda
mais sérios de ciência e filosofia, com os governantes daquele
•ío e fatigado império. É fácil compreender que os Jesuíta,;
11*e. i. mi alcançado o ponto pelo qual — embora muito lenta
R M n te — a conversão podia começar. Os astros; as lei;; que
governam os astros; a natureza de Deus, como criador e legi.s
luli.t do Universo; as relações de Deus com os habitante;; <lé;;t.e
planeta tudo isso se apresentaria, a seu tempo, de modo
ii.iiuiiil. .em imposição, mas igualm ente sem hesitação. I1! tudo
í»"|ei isi ler perfeito êxito. A s dificuldades opostas a êsse maimí
fj».. empi eendimento nasceram de lutas da Igreja com a própria
i lidem e d,i mudança de dinastia na China — não de deficiência
dfis proí educacionais dos Jesuítas, ou de sua incapacidade
dt- adaptação.
riaiiejui' e a d a p ta r era m , de fato, dois dos p ilares da educa
yãn ji iiIIir.!. C) terceiro, igualm ente im portante, era o alio
!ií> e i do-, livro,s em que fariam os alunos estudar, e, eonit
(jiitiifí m e n t e da:i t a r e f a s q u e d ê l e s r e c l a m a v a m . A:; e s c o l a s d o u
fí-siiítas Itiiíiin em grande* parte estabelecidas para opot se a
1
Ü . l- ■m ■ ’ i o t e . M a n t e , mmi h fundadorc;; desenvolveram o e c e
Ifíiiti p . i n i i p i n iU> q u e elas d e v e ria m produzir não hó e a t ó l l c o n
i- h i s , u i uh h o m e n s cultofi e bi'i 11ui 1 1 1e ü , 1’ a f H i.müo, d e v e r i a m
(i i
ensliiiu .!•. disciplinas mais exatas e produtivas, e no mais alto
i•i.. t i i .1 iluu .iram, portanto, um programa com os mais delica
dos |nuilii;, da literatura clássica, na convicção de que “ chega-
iií(h n aiu.ii as mais altas coisas quando as conhecemos” . O pre-
r.i nlr l i v r o nada tem a ver com as disciplinas, ou m atérias do
ensino, in.i,;, aqui, entre o m aterial e a forma, a distinção faz-se
i m p o s s í v e l , porque, como os próprios Jesuítas afirm avam , utili-
•ivain s e eles dos autores clássicos como de “anzóis para pescar
M filmas” ,
<> exito do ensino dos Jesuítas foi comprovado pela qualidade
do,*! qne com êles com pletavam os estudos. A ntes de tudo, há
utn grande número de pregadores, escritores, filósofos e cien-
tlitas, membros da própria Ordem, homens eruditos e cheios
de sabedoria. Contudo, se essa educação não tivesse produzido
fíimao jesuítas, não seria tão importante. O seu valor, e o valor
d* seus próprios princípios deviam comprovar-se na produção
do um grande número de homens notavelm ente diferenciados
um dos outros, mas todos de rara capacidade: Corneille, drama-
I u i;•<); Descartes, filósofo e matemático; Bossuet e Bourdaloue,
oradores; M olière, comediógrafo; d’Urfé, romancista romântico;
Montèsquieu, filósofo político; Voltaire, filósofo e crítico. (Êste
último, se bem que considerado pelos Jesuítas como m au dis-
n pulo, nem por isso deixou de representar a enorme capacidade
dêles em saber desenvolver-lhe o talento). A Companhia de
J e s u s tem, por certo, muitos adversários; mas, nenhum dêles
Jamais disse que ela não sabia como ensinar.
❖ ❖
*
y t7
iOI i!mi •• que o fizessem. M aurois afirm a que, depois de seu
pai, foi h Alain que mais deveu no mundo.
IjlH
obra de Hughes, a divertida caricatura que figura no livro de
Lytton Strachey, Em inent Victorians; a descrição real de sua
vida, no Dictionary of National Biography; a biografia e as
cartas publicadas por A. F. Stanley; e, por fim, a descrição, que
fêz seu filho, tão poética, em Rugby Chapei. Por todos êsses
diversos caminhos, chegamos sempre à mesma conclusão: A r
nold amava a seus semelhantes, mesmo que fôssem rapazes.
Certa vez, quando ainda auxiliar de ensino, em Lalekam , re
preendeu um estudante que pouco produzia. O rapaz olhou o,
dizendo: “P or que o senhor fala tão zangado comigo, Professor?
Dou-lhe a minha palavra que faço tudo quanto posso de me
lhor” . Arnold profundam ente se comoveu com êsse episódio o
jam ais o esqueceu. Desde então, em bora sempre austero, mos
trava-se compreensivo e bondoso.
Mesmo um m edíocre professor pode chegar a ser um bom
mestre se tiver êsse calor humano. (Mas, naturalmente, será
preciso que êle possua algum a coisa na cabeça). A lguns homens
talentosos, mas assistemáticos, ensinaram bem a despeito da
desordem de seu trabalho, simplesmente porque estimavam os
alunos. Nem sempre é fácil descobrir, no relato de seu ensino,
d modo pelo qual o dirigiam. Tudo nêles parece descuidado,
confuso e contraditório. O músico Leschetizky, ensinou Pade
rewski, Schnabel, B railow sky e outros notáveis pianistas; nao
obstante, dizia: “ Não tenho nenhum método e não desejo tê /<>".
/\ descrição, ponto por ponto, de um a de suas lições não deixa
nenhuma clara impressão do que fazia, senão que em sou eu
sino havia encanto, m etáforas, fum aça de cigarro e entusiasmo
: m dúvida, estava convencido de que a arte é em grande pai te
espontânea, e de que o artista deve conservar sempre alguim»
c o is a de sua fôrça natural.
Km filosofia, o mais notável professor dêsse tipo foi, certa
mente, W illiam James — ou, deveríamos dizer, talvez W ilbam
James? “Em sua classe m ostrava-se precisam ente como era,
onde quer que estivesse, tão desorganizado como estiiiniladoi,
porque dotado de irresistível sedução pessoal” . Achava (jue eia
impossível fazer uma exposição longa, contida, ordenada, em
que se vislum brasse qualquer traço de autoridade; ou desdo
bi.-u lase por fase, argumento por argumento, prova por prova,
uma teoria filosófica. Sentia que uma exposição dessa e.peeie
< íevei ia entorpecer, ou lanar a flexibilidade do pensamento, p
A e v o lu ç ã o é a m u d a n ç a d e u m a c o is a c u ja f o r m a n in g u é m c o n h e c e
r r iijii d e s c r iç ã o n in g u é m p o d e d a r , p o r q u e e la é a b s o lu ta m e n te d iv e r s a
• li- q u a l q u e r c o i s a c o n h e c i d a , p a r a o u t r a c o i s a c a p a z d e t e r f o r m a e ,
( x i r íh k o m e s m o , s u s c e t í v e l d e s e r d e s c r i t a p o r j á t e r f o r m a p a r e c i d a
.m u q u a lq u e r o u t r a c o is a ; e, t u d o , p o r c o n t ín u a c o n ju n ç ã o d a s c o is a s
p a re c id a s um as com as o u tra s, e, d e c e rto m o d o , a tra n s fo rm a ç ã o de
u ií iíu i c o i s a s em o u tra s .
11 u n iv e r s o n u n c a s e r á c o m p le ta m e n te b o m e n q u a n to h o u v e r u m
Ú n ic o Mcr i n f e l i z ; e n q u a n t o , p o r e x e m p l o , u m a p o b re b a ra ta p ossa
io f r e r a s a n g ú s tia s d e u m a fe to n ã o re c o m p e n sa d o .
184
O que os ouvintes mais adm iravam em D ew ey era a hones
tidade intelectual. M uitas vêzes, os alunos desconfiam dos pro
fessores que nunca se enganam. Êles gostam, de quando em
quando, de ver um instrutor atrapalhado no problem a que
examina, ou um conferencista que tateia nas palavras. Ralph
W aldo Emerson sabia muito bem disso. Mesmo quando levasse
todo o seu discurso escrito, não dava a impressão de que o lia,
mas que im provisava alguma coisa, a fim de levar os ouvintes
a se esquecerem de que estava proferindo um discurso repetido.
Nos pensamentos complexos, fazia pausas como se pedisse o
auxílio do auditório para bem apreendê-los e exprimi-los. M es
mo antes de enunciar seus mais brilhantes epigram as (se bem
que os tivesse imaginado muito antes, e os tivesse polido por
vários dias) fingia hesitar, mostrando visível esforço. Só depois
de mostrar que assim havia alcançado a idéia, pouco antes
incerta, im provisava brilhantes palavras para captá-la e solidi
ficá-la, como se, com dificuldade, mas com êxito, estivesse
retirando do ar um diamante perfeitam ente lapidado.
No entanto, os mais eficientes expositores são aquêles que
dão a seus alunos a impressão de pensamento claro, contínuo,
não diluído. A lógica, a pura lógica, tem um enorme poder
:;ôbre o pensamento dos jovens. O biologista T. H. H uxley afir
mava que as mais belas aulas que ouviu foram dadas por
Wharton Jones (cuja carreira, aliás, foi prejudicada por suas
relações com os ladrões de cadáveres B urke e H are); Jones
Talava sem apontamentos numa voz sêca, sem nunca olhar para
a classe, m as dava explicações perfeitam ente luminosas sôbre
o:; mais difíceis problemas de fisiologia. Essa espécie de prele
çao pode ser capitulada como de “ luz sem calor” .
❖ *
❖
❖ *
( 1I MfH>m4u«ido, rum ■ .l«viils («M iiH m i, il« um grtlgu rfe H ulm rt H ir«, rtú l h e New
Ya.fkef-
iims aliaii . de Baco, Vônus e C irce” , a qual transform a os ho-
!i n n : mi h i i i nm; i Í H. Imagino que fôsse capaz de dar essa des
c r i ç ã o r u i 11 u n i i i fisionomia grave, piscando duro, enquanto o
! MI I f M l I P lí.iidolfiano ali estaria, sem com preender nada, mas
:hi pnra que se sentisse ofendido. Osler participou
mas inesquecíveis, sôbre as quais sempre lançava um
• ' I.u unento inesperado; por exemplo, quando um aluno em-
liii yuii o nome de Moléstia de Graves para designar o bócio
c .<•!lálmieo, fêz que êsse aluno visitasse G raves e redigisse
ttu m monografia sôbre a sua obra.
❖ *
*
l lí
da ipitm íh de Princeton para o governo do Estado de Nova
íei wtM , 11*■ ]ioi:j para a presidência dos Estados Unidos, tornou-
se lu- :ii*■do mundo. Sim, êle não teve êxito. Talvez tenha
lidt) iludido por astutos diplomatas; ou, talvez, fôssem excessi-
V i i a aspirações que o animavam. Não obstante, ensinou à
.........111id.idu como esforçar-se na realização do maior ideal do
ii do, ;i manutenção da paz universal. T alvez essa lição tenha
sido demasiado grande para que o mundo a aprendesse numa
u .•< !,u-.ío. T alvez êle se tenha equivocado em esperar resul
tados tão prontos. No entanto, procedia acertadam ente em
pregar êsse ideal; e, quando afinal, nós o aprendermos, êsse
mestre, dos maiores do mundo, terá a sua recompensa.
❖ $
* *
* ❖
❖
O segundo grupo dos pais que ensinam seus filhos são abso
lutamente diferentes dêsses competentes técnicos. Não os co
nhecemos tão bem como Bach, ou o pai de M ozart. Não a p a
rocem em retratos com seus rebentos. São esquecidos n a s
biografias. De regra, alegrar-se-iam com isso, porque e r a m
iiomens felizes que encontravam na vida comum a sua própria
recompensa. Eram pais que ensinaram bem a seus filhos porque
eles próprios tinham a m ente transbordante de idéias. S e m a
preocupação de preparar os filhos para uma profissão d e l e r
minada, desejavam apenas que os filhos participassem d a sa
l>edoria e da beleza que a humanidade já tivesse alcançado
Kles próprios apreciavam a cultura, não querendo denef/á I'1
aos filhos, como um alpinista apaixonado não lhes proibi' que
ysu
i i ih m *i monte:;. Algum as vêzes, vemo-los a dizer ao filho:
! . . . lt . l.i felicidade até cêrca dos trinta anos, porque ninguém
inti fiilnii .1.1,1. Quero m ostrá-la a você” . Freqüentem ente tive-
i .... grande dificuldade em comunicar um a série de lições,
p n i■ |■ (. .. . lilhos as rejeitavam ; mas, por fim, o que aprenderam,
|h.i r..iiii.i direta ou indireta, a êles ficaram devendo. Há uma
admirável biografia que nos ilustra tudo isso. É o livro Pai e
/■///).., de Edmund Gosse. Êsse autor era filho único, de um
. iifíiiI 11uc conservava a velha severidade da época vitoriana, e
pci Inicia a uma seita religiosa de m uita piedade, embora pouco
difundida. P ai e mãe eram pessoas encantadoras, que muito
fsc t ;Iimavam, e ao filho dedicavam especial ternura. A mãe era
ffífittora, embora não m uito notável. O pai, biologista; seu
trab alho consistia em estudar, descrever e ensinar ao público
m Ia una da Inglaterra, m uito especialmente, os peixes e os
niolii::cos do litoral. Os dois faziam do pequeno Gosse uma parte
absoluta de suas vidas. Fôra mesmo levado a entrar na pequena
lyicja, numa idade em que isso teria sido im possível a outras
m angas, porquanto muito já havia aprendido de suas doutri
na:; l)e fato, o menino viv ia quase no n ível dos adultos. Há
uma deliciosa narrativa do que lhe aconteceu quando, pela
primeira vez, foi a uma festa de crianças; os outros meninos e
meninas recitavam pequenas poesias e cantavam canções in-
f, u il is. Quando alguém pediu a Gosse que recitasse, êle deu um
passo à frente, e muito contente, começou a repetir um trecho
de >:;tilo austero, decorado de um dos livros devotos que sua
I,iimlia admirava. Era a elegia “A sepultura” , de Blair:
£
:i si i i i pai e poi ele próprio, em manhas atraentes, e {lepolsi
iseiilindíi r m l c n Idas. em tons brilhantes, lais como ele oh
vu
via depois de tôda uma tarde laboriosa; e, ainda, poderia
i ompanu a onorme produção de livros, que fazia exibir através
■ Im Mi mtTcira de crítico, com os catálogos ilustrados da fauna
«111r- t h pai com perfeição científica a cada ano preenchia, de
n u H I n 111 a i;; completo do que as mais ambiciosas e compactas
n i n a s i l c crítica literária.
44
M
ção e atrevim ento. Seus pais nunca lhes disseram como con
trolar suas capacidades e como planejar suas vidas. A s mães
nada disseram às filhas dos prazeres reais e das legítim as satis
fações de sua vida. Quando olhamos para as faces gastas, ou
bestializadas, de um rapaz ou de uma jovem, arruinados aos
dezessete anos, e instintivam ente sentimos que parecem piores
do que selvagens — não erramos nesse julgam ento. Um homem
das tribos mais atrasadas do Sudão, um índio jivaro, ou um
habitante dos planaltos da Ilha de Bornéu — prepara os filhos
para mais sadios propósitos e melhor vida do que muitos pais
o fazem, agora, nas grandes e importantes cidades do mundo
civilizado.
V
O EN SIN O N A V ID A C O T ID IA N A
yítt
1 i|iu‘ continuarão a cometê-los, mesmo depois disso, como
lifc pi • (|ii(' amassam os seus carros, num a esquina, embora
nhln ram a:; regras do trânsito; mas êsses indivíduos sofrem de
UitiH d o e n ç a psicológica mais profunda, que o médico comum
......podo curar. Normalmente, o homem comum aceita as lições
i a . aprende.
< 1 clínico geral não pode receitar para um espírito doente.
Para há especialistas que são os psiquiatras. E, na essência
tln ' ii trabalho, os psiquiatras são professores. É certo que
iiem :;empre assim se consideram. Adm item que o seu m ister
■ja idêntico ao do químico, que analisa uma substância desco
nhecida, vagarosa e pacientemente, até que possa medir todos
os componentes, descobrir a causa de sua interação, e explicar
o:: seus poderes, instabilidades, obscuridades e resistências.
Ai Imitem que um a vez que seus pacientes enxerguem os com
ponentes ocultos de seu espírito, tornam-se capazes de vencer
■ IVaquezas de que venham sofrendo. M as a experiência nos
mostra que isso não dá certo. Geralm ente, o paciente do psi
quiatra não recebe com sinceridade essa análise de suas fra
quezas ocultas, e logo se esforça por construir todo um novo
M.ilema de esconderijos, a fim de preservá-las. Tal análise,
lieuses casos, representará apenas a m etade do que deva o
médico fazer. A outra m etade será ensino. Depois de descobrir
' deficiências, há de iniciar um processo educativo, que corrija
0 complete a educação que os pais de seu paciente lhe deram,
dc lorma errônea. Por efeito da crueldade materna, uma m oci
n h a chega a convencer-se de que nenhum homem poderá amá-
l a e de que nunca poderá casar-se e ter um lar como o de sua
m a r . Essa convicção, que nunca traduz em palavras, torna o
eeu comportamento estranho, inadequado ou absurdo. Se ela
ai i um psiquiatra, o primeiro dever dêsse médico é descobrir
p o r q u e assim a moça se comporta. Com paciência descobrirá a
1 ai. de tal convicção, que a moça ocultará por “ esquecimentos”
ou repressão. O médico deve iniciar a substituição daquela
convicção errada por outra mais sadia, explicando à moça que
ela e rumo as outras, que suas oportunidades são iguais às de
Mias amii;a:;, que o mundo está cheio de casais normais e saudá-
■■i e, a:;:;im, com bondade e paciência, por muitas horas. Se
.. j' hj111.111.i efetua uma cura completa, isso se deverá à des-
1"l>rj(a da;; falhas de educação, e ao ensino que venha a cor>
l ítu la- Procederá como o ortopedista, que tenha um paciente
com distorção muscular: diagnosticará a causa da distorção, e
depois prescreverá uma série de exercícios que a possam cor
rigir, orientando a prática dêsses exercícios. O ensino é tão
im portante como a análise.
Os padres e m inistros religiosos têm responsabilidades sim i
lares. Seus fiéis os vêem como amigos e diretores espirituais e
lhes ouvem o ensino, sob a form a de sermões; mas, quando
alguma coisa de realm ente mais sério aconteça, pedem-lhe os
fiéis auxílio direto e pessoal. Êsse auxílio é dado, na maior
parte, sob form a de ensino. É orientação, como chamamos, e é
consolação. Uma grande parte consistirá em conversação sôbre
problemas que sempre existiram , mas que uma súbita crise
tornou prementes. Um filho único adoece, um marido abandona
a espôsa, um a m ulher vem a saber que só terá mais um ano
de vida. Os sofredores perguntam “ Por quê?” Perguntam “ Que
devo fazer?” Perguntam “ Como poderei suportar isto?” A lg u
mas vêzes fazem violentas ameaças, que êles próprios sabem
que são absurdas; o que desejam é que alguém os corrija por
persuasão. Um ministro de Deus muito pode fazer simples
m ente por ação de presença. Fazer companhia é exprim ir sim
patia. (Logo que Jó perdeu todos os seus filhos e filhas, seus
amigos chegaram para confortá-lo. O que disseram está no
Ijivro de Jó; mas a m elhor consolação lhe foi dada, antes que
I';ilassem, quando se sentaram a seu lado, no chão, aí permii
necendo por sete dias e sete noites, em silêncio). Mas, depois
< 11 ' ;i simpatia silenciosa se m anifeste, será necessária a con
olaçáo por palavras. E , para que elas tenham maior a l c a n c e ,
■levem possuir algum conteúdo. Que conteúdo podem ter, :;enau
eiiiiMelho, explicação e ensino? A Igreja Católica tem sido
ii' Imu avel nos períodos em que tem tomado a missão de ensinar
■“ iiKi t ;<mícial; e seus padres ainda revelam o mais nobre
• i h . |u de sua missão, quando nos ensinam a suportar o que
tlev» Ner sofrido.
* !|i
#
!
ii rprittf d ob jeto intenso — C ad a p acote d e v e te r um desenho
ajijijiiílii o, i íiiI.i c artaz um a im agem ;
| 8 ) T ofm e-o fá cil de reter — O nom e de um pro d u to d e v e ser claro,
DffJlB i #f i'Ot’» k * , fá c il de ser p ro n un ciado e de ser lem brad o; os lem as
devem pi iii iu .-ir a d e rir ao esp írito in certo e fu g a z do p ú blico;
) T orn c-o im portan te — N isto resid e u m a das d ificu ld ad e s de ser
|jt * i < I C o m o se pod erá sin ceram en te p e rsu a d ir a m ilh ões de
peisimí! (|U(í u m a m a rca de p a sta de dentes, em v e z de ou tra, pode
i mili iliuir p ara m e lh o ra r a v id a ? N o entanto, isso é obtido p or asso-
fiiÇÜ o (A p a sta T a l p a tro cin a u m a n o v e la de rádio , ou u m côm ico
favui ilo, to rn an d o -se p o r isso, m ais le m b rad a q u e ou tras; u m a m a rca
A t Babão ap resen ta sem pre, em seus cartazes, a fig u r a de um a jo v e m
d»- In*Io sorriso, em tra je s de n ú p cias; e tam b ém , p o r persuasão, em
p f t lc o s de sentido am bíguo, m aravilhosam ente con trolado pelas leis
■lf- l'ÍN(-;ilização da m edicin a ou p elas ú ltim as d esco bertas da ciên cia da
n utrição... (O p rodu to C larol contém o n ovo in g re d ie n te m ágico, C la -
i uni, que 1.589 m édicos dizem q u e to rn am m ais claros os seus dentes...)
Ainda que sem base na verdade dos fatos, ou ainda que ape-
ÍlH,s vi.se o lucro, tudo isso representa ensino.
A publicidade com ercial é um ramo de extensa atividade que
rada dia mais cresce. Em política, é ela chamada propaganda,
i A palavra, como se pode ver, significa “ espalhar” , “ difundir” ,
foi tomada do nome de uma das organizações centrais da
IjMcja Católica, “De Propaganda F ide”, para a Expansão da
Fé). É um equívoco acreditar que seja uma atividade só recen-
l emente inventada. Quase todos os países, e quase todos os
•“.ladistas em todos os tempos a têm exercido para levar o povo
a dclonder a sua política; as únicas exceções foram as das oli-
K.ii-(|iiias que tiveram por base a polícia-secreta, como Veneza e
Iv,parla. O que parece novo é a escola em que agora se exerce,
im.u;..:. à invenção da im prensa e os meios instantâneos de
comunicação a grandes distâncias, e graças à difusão do ensino
e i)n necessidades que o sufrágio universal veio a criar. Acredito
q u e rases progressos da técnica, que ampliou a escala, não
111>nli ficaram essencialmente o espírito. Parece que a agitação da
i.-i de Reforma, de 1831- 32, na Inglaterra, e a propaganda abo-
1icicnii:;ta dos meados do século passado, nos Estados Unidos, a
e:,:.a:; nações mais em polgaram que im portantes causas dos
u l t i mo . * ; tempos, objeto de intensa propaganda. Em nossa época,
rei to,-; motos de propaganda, depois de aceitos e repetidos como
v e r d a d e ; : , foram abandonados, como, por exemplo, a idéia de
qur a:; r i i e i r iu mundiais tenham sido fomentadas por firm as
p r o d u t o r a ; i de a i m a m c n l o . Como quer que seja, em sou mais
alto nível, a propaganda política é uma form a dc aeno m»vei
namental, honesta, necessária e útil. Acreditam os na ideia d-
que o bom govêrno se funda no consentimento dos gov< anad>
Mas os governados não podem plenam ente consentir nuin piau-
qualquer de govêrno a menos que saibam o que r e p r e s o u ti
Portanto, o dever de cada bom govêrno será dizei' lhe:: o q u e
esteja fazendo por êles, e em seu nome. Os governado:; p o d e m
recusar o consentimento, porque não compreendam o p la n o
Nesse caso, o govêrno deverá explicar de modo mais c o m p l e t o
e mais simples. Os governados podem recusar o consentimento
porque não aprovem o projeto. Nesse caso, o govêrno deverá
procurar persuadi-los, de form a mais convincente. Mas aí é qu<-
surje a distinção entre explicar a verdade e enfeitá-la, para
que seja, afinal desfigurada. Um govêrno facilm ente se mau
tém desde que afirm e uma m entira para chegar a uma verdade
maior, ou esconda um fato somente por m otivos táticos; ou
mesmo, m odifique a direção geral da vida da nação, para ser
vir ao povo, não para simplesmente perpetuar-se no poder.
Existe alguma confiança então? Todos os governos têm d
corromper-se a si mesmos e corromper os povos que governam
Tôda a propaganda política se destina a ensinar m entiras e a
encorajar a m entir?
A resposta é Sim , a menos que — Sim, certamente, se um só
grupo m antiver o poder, não permitindo oposição nem c r í t i c a
■ >im, a menos que cada tendência do govêrno para conservar :;e
seja controlada pela crítica de seus opositores. Sim, a m e n o s
*| U e os governos compreendam a sua responsabilidade p a r a e o m
o povo. Os mais sábios dos gregos costumavam d i z e r *(i ie
político é obrigado a ser um m estre. Se assim não f ô r , p e n : a
v a m , estará m eram ente dominando o povo, salvo q u a n d o o
eduque para m aior progresso. M ediante cada lei que d e f e n d a ,
o político encoraja o povo a proceder numa certa direção, a ;:ei
econômico ou extravagante, valente ou covarde, cumpridor d o s
devores ou irresponsável. Pela tendência geral de suas i d e i a - . ,
o político conduz o povo a m odelar a vida mais numa d i r e e a o
que noutra. É de seu dever, portanto, escolher essas Idéia;; d<-
modo a que o povo desenvolva as boas qualidade;; e não a >
nocivas. Se um governante deixa a nação mais ignorante, man
preguiçosa e viciada do que a encontrou, terá sido u m m a u
e s t a d i s t a , afirm a Platão. Como isso é verdade, o perigo r e a l da
propaganda política esta e m cjue e l a é poderoso i n s t r u m e n t o
de que mesmo homens estúpidos e irresponsáveis podem Htlll
gai . . e ti melhor contraste que a isso se poderá opor é a
• it <i*i!i >11i« ;i inteligente dos cidadãos.
* *
❖
❖ *
*
X *
*
P9
Mimeimiiuln nobre o que haja tentado ensinar. Um bom aluno
! gt ahiPhte é ;;l len C ÍO S O .
i I ü gu n do é a paciência. Qualquer coisa que m ereça ser
ülliiiittt lu leva tempo — tempo para ensinar, tempo para apren
di) Grandes eruditos e ilustres políticos freqüentem ente se
p ifin a m no supor que seus ouvintes tenham já pensado sôbre
iiM i>i dblcinas de que vai tratar, e que êles estejam apenas a
algtin;; passos dêles, numa questão qualquer; por assim pen-
rn.u m, tratam dêsses assuntos como se já estivessem resolvidos
pelo.-, mivintes, os quais, no entanto, apenas os vislum bram ; ou,
làpiil.unente passam de uma obscura questão à outra, sem
tnpfimo tentar expor as relações que entre elas existam. O
Verdadeiro ensino não consiste em transm itir pacotes de in
formações. Culmina numa conversão, numa m udança real do
pensamento do aluno. Uma mudança im portante exige longo
tempo para que se produza, e deve, portanto, ser cuidadosa
mente planejada, e abordada de baixo, com muitas repetições,
amenizadas pelas variações das formas de ensinar. É particular
m ente importante impedir a emoção, ou melhor, controlá-la,
cuidadosamente. Pais e mães, maridos e mulheres, e autorida-
'!■ muitas vêzes se esquecem disso. Quando explicam , gritam.
A l i ionomia altera-se pela irritação, ou pela pressa. Fazem
;<<>:: violentos. É que sentem que estão explicando de modo
forçado. Mas o que acontece é que essa emoção prejudica a
...... preensão por parte dos alunos. Uma espôsa que grita com
ii marido, um sargento que ruge à frente do pelotão, um pai
exasperado com o filho, geram o mêdo, senão mesmo o ódio;
u.ti i conseguem, no entanto, explicar o que desejam que se faça,
nem persuadir aos demais do que pretendem. Erram os ao
acreditar que demonstrando mais emoção aumentamos o efeito
do iii :;mo, quando, na verdade, só estamos regredindo à anima
lidade ancestral, esquecendo de que só a razão é que nos faz
homens.
i) terceiro principio é o senso de responsabilidade. É coisa
muito ■ a-ria interferir na vida de alguém. Já é difícil guiar a
uo.v.a própria vida. Não obstante, as pessoas são fàcilm ente
influenciadas para o bem ou para o mal, especialm ente quando
|oven;., ou quando nos m estres reconheçam autoridade. Os
prejuízo;; do mau ensino por conselhos insensatos ou perni-
rjomifí, mi por mero desejo de lucro ou de publicidade, em
■ lei lai acne:, a iiiii público confiante, são de extensão incalculá
vel A cilda dia os jornais noticiam que um homem foi preso
Mli
por vender um remédio que afirm ava cunu n < , ,, |i;§
se compunha de pílulas de miolo de pão «um um puniiu
sacarina. Dão-lhe dez anos de prisão; mas podei a i <> >i <mtt
parado com as torturas que tenha inflingido a :;«*uh " j .»•<
Do mesmo modo, é difícil perceber como é que um |mlilíin
qualquer, uma vez se tenha oferecido para emanar <> publlin,
que estava certo em relação a um problem a vital, <■qur |n>>- mh
que o político estava errado, possa aventurar-se a abrir a hr» n
outra vez. É que êles raram ente são punidos, e são muita a
elogiados como pensadores ágeis e construtivos. D eve :;n .......
coisa terrível escrever uma série de peças ou de romance,-i,
sôbre a perna, sem qualquer noção de responsabilidack1, a l'im
de obter fácil notoriedade ou ganhar dinheiro seja como í<>i .
e, depois, como morto em vida, compreender que tais traliallm;;
exprim iam idéias loucas ou perversas, que envergonham o
próprio autor. A mais segura salvaguarda que você terá contra
isso é perguntar se suas idéias podem ser m al empregada:; ou
mal entendidas, e pensar, não em você mesmo, m as em seu:;
amigos e irmãos, a quem você procure ensinar.
N O TA S
C A P IT U LO I: IN T R O D U Ç Ã O
C A P IT U L O II: O PROFESSOR
HU
s f/m inmaador original. M ai'cos, I, 22.
mu ridos. M ateus, X X II, 23-30.
I'i n|i ::::or T orrey e Professor B urney . C C T O R R E Y , T he F our
( 1ii-;/ii‘Is , (H arp e r & B roth ers, N o v a Y o rk , 19 4 7 ); C. F. B U R N -
KY, T he P o eíry of O ur L o rd (O x fo rd U n iv e rs ity P ress, 192 5).
a d ifíceis perguntas. M arcos, X , 17-22.
lííii 1‘rn jiin la s sôbre as leis judaicas. L u cas, X I, 53-54.
IBM A adúltera. João, V III, 3 -1 1 .
JBU Jesus e as criancinhas. M arcos, X , 13-16 .
110 _ Vinho e bodas. João, II, 1 - 1 1 .
ultim a Ceia. M ateus, X X V I , 26-29; M arcos, X I V , 22-25; L u cas,
X X II, 19-20. João, em X III, 3-20, a crescen ta u m ou tro ato
sim bólico da C eia.
1 (MI F oram -se os discípulos. M ateus, X ; M arcos, III, 14-19, e V I,
7 -13 ; L u cas, IX , 1-6 ; e, esp ecia lm en te L u cas, X , 1-20.
l!)l - O beijo de Judas. M ateus, X X V I , 48-50; M arcos, X IV , 43-45;
Lucas, X X II, 47-48.
gÕl M elhor será reinar nos infernos... M IL T O N , Paraíso P erd id o,
1.263.
802 A ristó teles sôbre Platão. M oral a N icôm aco, 1.6; cf. P la tã o ,
Rep., 10.
2011 M estres da R enascença. V . W . K . W O O D W A R D , S tu d ies in
Kdueation during the A g e o f th e R enaissance (C a m b rid g e U n i
v e r sity P ress, 1924).
803 C aliban . S H A K E S P E A R E , T h e T em pest. (H á trad u ção p o r
tuguesa, n a série “ O b ras C o m p letas” , Ed. M elhoram en tos,
vol. I ).
i*0-1 Gargântua. R A B E L A IS , G angântua, 14, 21-22; 15, 23-24;
52 e 57.
805 O latim de Shakespeare. T. W . B A L D W IN , W illiam S h d k e -
speare’ s S m a ll L a tin e and L esse G reek e (U n iv e r sity o f I lli-
nois P ress, U rb an a, 1944 ), v o l. I, cap. 25, págs. 557-58 e pág. 565.
8011 O pai de M ontaigne. M O N T A IG N E , Éssais, 1.26, trech o em que
cham a os passatem pos ed u ca tiv o s de “ jo g o s de m e sa ” ; e R A -
B K I.A IS, G argantua, 23, em qu e aparecem estas lin has: “ C a r -
l a n ã o p a ra jo g ar, m as p a ra en sin ar m il lin dos e xe rcício s e
nuv.i:; invenções, tôdas fu n d a d a s na a ritm é tica ” .
v iu l ‘ndrc Ju va ncy. J. D E J O U V A N C Y , C h ristian is L itte ra ru m
inaj'.i:;ti'i:; de ratione d iscen di et docendi (P aris, 169 1) citad o
por l<’ ( ‘IlA R M O T , La Pédagogie des Jésu ites, (É dition s Spes,
Pariu, 1943).
‘ in Padre Pon:;rvlno. A . P O S S E V IN O , D e cultura ingeniorum ,
l.ili i iliidn por C harm ot, com o na n ota anterior,
lo o yindrt' (tmninicano. Krei V ic e n te de V a i verd e, com o se pode
vci i ni I'llK S C Q T T , ('o n q u csl of P eru , 1465.
VI I f/lli /pjllliil ihl -iro i /iílICK F o i ( í l u f i o p p c C i i g t i i d l o n c , S. J . ,
i j ut >iv n u ih i ií ii:i a 1 700, c c u j o n o m e o i t i c oh rrí poci i di fi tun
Mfifi
chin eses é L a n g S h ih -n in g . W . C O H N , C h in cse F atntifip, i P m
don, L o n dres, 1948) a p resen ta rep ro d u çõ es tlt* unia de suas
p in tu ras, e a lgu m as in form ações sôbre a sua vid a 1 'iiih m iih e
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B ro w & Co., B oston, 1939) pág. 172; e L. A . T O L L E M A t 11 !\
B en ja m in Jo w ett, (E. A rn o ld , L o n dres, 18 95), p ág. i:’.7 <•
episódio re fe re n te ao San to G ra l não p a re ce e star rer.i::l i a d o
em liv ro , m as é co rren te no B a llio l C ollege.
:: 10 — F u s te l de C oulanges. P . G U IR A U D , F u s te l de Coulaii
(H ach ette, P a ris, 1896).
16 — Robinson. Q u an to a seus sem inários: C. B E C K E R , “ J.-umvi
H a rv e y R o bin so n ” , em N ation, 144 (9 de ja n e iro de 1937) par.
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H istory, ( K in g ’s C ro w n P ress N e w Y o rk , 1946, p ág. 15; <• H
E. B A R N E S , “ Jam es H a rv e y R obin son , in A m erica n Ma:;teri,
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IV K ip lin g sôbre “ K in g ” . S om eth in g of M y s e lf (M acn iillan , l.un
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C. Ci’ofts, do B rasen o se C ollege, de O x fo rd , o qu al ven ceu yoi
duas v êze s o D iam on d S cu lls (G . C. B eresfo rd , SchooUluuti
w ith K ip lin g , V ic to r G ollan cz, L o n d re s 1936, cap. X IV ; c The
K ip lin g Journal, I, 1937; m as a fig u r a de “ K in g ” lam bem con
tin h a a lg u m a coisa de H. A . E van s, de B allio l, sôbre qumn ,ip
pode co n su lta r T he B a llio l C o lleg e R egister (ed. fêlliotl, <)>,
fo rd U n iv e rs ity P ress, 1934), p ágs. 1865-66.
17 A lain . A . M A U R O IS , M ém oires, E. M. F., N ew Y o rk. Mi l:’
pág. 74.
‘ llí A rn o ld em L a leha m . A rn o ld of Rugby, ed. J. J. Findlsiy (Cuni
b rid g e U n iv e rs ity P ress, 1807), pág. 75.
='l!) L i-schetizky. No liv ro de II. P E T E R S O N , (Inuil Tem-hem
(R u tg e rs IJn íversity P iess, N ew U ru n sw lck, 10411) m icm itm
um a boa nota nobre ele, bom conto tuna dcNcrlyão dn iiiuu dr,
8 UUI llçõca, anolad a por Ht'U tliwcipulo Mthcl NbWCoUiIi,
2111) 1)11
Itiinm ('. H. G R A T T A N , T h e T hree Jam eses, (L on gm an s,
Oioítn, <Si Co., L o n d res e N o v a Y o rk , 1932) págs. 155-56.
Ih m.u I. ” , p or H en rym m a Jam es, no tra b a lh o In C om m em ora-
íiiui oj W illiam Jam es, (C a m b rid g e U n iv e rs ity P ress, 1942),
i .nr I T am b. D. S. M IL L E R , in T h e L e tte r s of W illiam Jam es
( i-d. I lc n ry Jam es, A tla n tic M o n th ly P ress, B oston, 1920), v o l.
li pág. 11; R. B. P E R R Y , T h e T hough t and C haracter of
W illiam Jam es, (H a rv a rd U n iv e rs ity P ress, M ass., 1948), e s
p ecialm en te n as p ágin as 123 e 326-27. No a rtig o qu e p u b licou
sobre W illia m Jam es, n a P sy ch o lo g ica l R ev iew (n.° 8 , do ano
d' 1 9 1 1 ), J. R. A N G E L L a firm a que Jam es su p e re stim av a os
,'íciis estudan tes, acrescen tan d o, porém , qu e os p u n h a sem pre
‘ ‘em b rio ” .
Hoissier. D isco urs de récep tio n de R en é D oum ic: S éa n ce de
V A cadem ie Française du 7 a vril 1910 (P e rrin , P a ris, 19 10 ),
pág. 27.
Jesus e a m u lh er enferm a. L u cas, V III, 43-48. C f. M ateu s, IX ,
20-22; e M arcos, V , 25-34.
Jesus em N azaré. M arcos, V I, 1-6 ; cf. L u cas, IV , 16-30.
Fu.stel sôbre a eloqüên cia. P . G u irau d , tra b a lh o cit. n a n ota
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R utherford. A . S. E V E , R u th erford , (C a m b rid g e U n iv e rs ity
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W harton Jones. H. P E T E R S O N , H u x ley , P h o p h et of S cien ce,
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H uxley. Q u an to a seu n ervo sism o : v. o a rtig o de W . H. F lo w e r,
na N orth A m erica n R ev iew , n .° 161, ano de 1895, sob o títu lo
“ R em in iscences of P ro fesso r H u x le y ” . S ô b re suas re c a p itu la
ções e desenhos, o a rtig o de S t. G eo rge M iv a rt, “ Som e R e m i-
n iscences od T. H. H u x le y ” , n a re v ista N in eteen th C en tu ry , n .°
■12, ano de 1897, págs. 985-98. S ôbre a síntese de fen ôm en os
ap aren tem en te díspares: F. H A R R IS O N , A utob iogra phica l M e-
m oirs, citad as p or H. P erson , no liv ro in d icad o na n o ta an terior.
Agassiz. S ô b re suas a u la s: J. D. T E L L E R , L o u is A gassiz, S c ie n -
h:A and T each er, (in O hio G raduate S ch o o l S tu d ies, n .° 2,
( )hio S ta te U n iv e rs ity P ress, C olu m b us, 19 4 7 ), p ágs. 38-39 e
80-84; I). G . W IL D E R , L o u is A gassiz, T eacher, in H arvard
< Innhuile:;' M agazine, n .° 15 (1906), p ágs. 603-07. S ô b re sua
. ,11i.ii üI.kIc dc trein a r exp e rim en ta d o re s no lab oratório: a e s-
Iiiiln di- TKI.IiKIt, já citad o, a obra de P E T E R S O N , tam b. já
ii li iidii, iin pin te da a u to b io g ra fia de N, S. S h aler.
Ihii n if.ilin i/c canto Uo hpc, XVIII. PorpOTU. V. a nota re fe -
i Plito à liftg 1211
228 — O aprendiz russo. Trata-se de W. Rabkin, de N»vh Vmtv, iu]a
história é contada num artigo de R. Rice, im t i ,.- New
Yorker, de 16 de outubro de 1948, sob o título “ IVuii.v An ,..i-
Philanthropist ” .
229 — Flexner e Carlos D ’Urban Morris. Reminiscênria j • : .ml d<
Flexner, resumida no seu livro I Remember (Situou and
Schuster, Nova York, 1940), pág. 55.
229 — Osler. Sôbre novas técnicas: J. M. T. Finney, “ A IVr:.onal
Appreciation of Sir W illian O sler” , in Journal of American
Medicai Association, n.° 77, de dezembro de 1921, pág.s. 2033
39, e tab. o artigo de A. M cPhedran, “ Sir W. Osler’s Influonn-
on M edicai Education in the U. S.” , no Canadian Journal of
Medicine and Surgery, n.° 47, de março de 1920, págs. I!íl !>3.
Sôbre “ Bardolphian facies” , v.: L. F. B arker, “ Osler at .John»
Hopkins” , ibid, 141-46. Sôbre a moléstia de G raves: W. R.
Steiner, “ Reminiscences of Sir W illiam Osler as a T ea ch ei",
Transactions, American Clinicai and Climatological Associa
tion, 1935.
230 — Kittredge. R. W. Brown, “ K itty of H arvard” , no Atlantic
Monthly, n.° 182, outubro de 1948, págs. 65-69; G. H. Chase,
Tales out the School (H arvard U niversity Press, Cambridgo,
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IHographisches Jahrbuch n.° 2 (1898), págs. 70-71; <■n Wnlii
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ers, Entusiásticas referências aparecem i*m l( H HAi i n .
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Un iny d la ry ” , in Woudrow Wilson, Son ir 1'i int i-lmi Mniimips
( i i W, S, M y iri, Prinoiten U n lvsrsity P fm í, iB4fl) p A (i
lif Nu tiumtiio volume, lí K lioul informa ijtte Wilstm ciisiiIuii,
IfiU
ím U n iversid ad e de P rin ceto n , o sistem a “ tu to r ia l” , ou “ p re -
c (41 I111 ia l” .
lim h Irh habe fleissig sein m üssen: w er es g leich fa lls ist,
11 in l rben so w eit kom m en ” — S p itta , 1 660.
Hrouminfí. O poem a é D evelop m en t. R ep resen to u tam b ém um a
nliMTvaçüo in d ire ta con tra o hábito, co rren te à época, de se
frag m en tar a B íb lia , p a ra c rític a erudita.
H//nm. C h ild e H arold’s P ilgrim a ge, 4, 77.
r itl. J. E. S A N D Y S , A H istory of C lassical S ch ola rsh ip (C a m -
lu itlge U n iv e rs ity P ress, 1908) v o l. 2, pág. 433.
C A P IT U L O V: O ENSINO N A VID A C O T ID IA N A
87 i
........... i mçuo, 80 e seg. E v an gelh os, 182, 185
i uiifitciü, ittli E xam es, 135 e seg.
i Dj.i.i ffíi-lil. I )uví, 161 E zeq u iel, 186
i u i ... ül, . 71, 149, 212
ÔrMianimno, 112, 184 F a ls ta ff, 198 e seg.
i i ii ia . 11) I F au sto, 90
< i il ii ii, ’’A 1, 258 F e ltre , V itto rin o da, 208, 221
i i ii/iidn,:, li9 F ilo so fia em g e ra l, 42, 113
F ilo so fia p e rip a té tica , 180
1 lüiili-, li:t, 256 F ilósofos, 170 e seg.
I >«■ ! iand, M m e du, 173 F ix a ç ã o de im pressões, 163
! 107 e seg., 122 F lan a ga n , P e., 52
D em ocracia, 182, 254 F le x n e r, A ., 229
1 ir.a ju sta m en to , 49 Foch, M arechal, 145
! irtes, 149, 212 F on tes origin ais, 102
lii-wc.y, John, 222 e seg. F ô rç a de v o n ta d e, 79 e seg.
1 >li I cns, 48 F ra n ç a e fran ceses:
1 )loní:iio, 176 — em gera l, 32
1 liiíciplina, V . C astigos; — lín gu a e lite ra tu ra , 32, 44
1 »t ■u.isão, debates em aula, 43 — escolas, 79
MO, 166, 179 F reu d , 199
Uiiin Q u ixote, 71, 104 F u s te l de C ou lan g es, 216, 222
Doi.it, J., 206
i )(>>, I. . Conan, 60, 109 G an dh i, 24, 183
I n i ler, H., 86 e seg., 208 G au ss, 214
G irau d o u x , 32
i ; .<<>l.i N o rm al S u p erio r, 152, 216 G oethe, 89, 94
iM onom ia, 38 G osse, Ed., 240, 242
lildipo, com p lexo de, 199 G ré cia :
iMmun, I., 224 — em geral, 87, 15 1, 170, 202
I tio, 145 — cu ltu ra e letra s, 94, 112, 116
i:inHtein, 46, 112 — lín gu a, 132
KhK|iicncia, 225 G roan , S ta., 44
iMiK-rMOn, R. W ., 225
Km iilaeao, 158 H edlam , W ., 96
Ifimiino da. lite ra tu ra , 92, 94 H ebreus:
i ii iiki /'nômico, 186 — • lín gu a, 183
i n ,mu jud aico, 1 1 2 — pro fetas, 170
Kn.-.ino, im portân cia, 23 e seg. — escolas e ensino, 112, 170
l i mmiio, 205 H elm h oltz, 214
K.punhu, 104 H en riqu e IV , 198 e seg.
i ; ihiiiIióíb, ca rá te r dos, 71 H en riqu e V , 199 e seg.
i pu- .i com o m estres, 248 H ered itaried ad e, 181, 243 e seg.
l : 1 1 fain íllu de, 236 H istória, 43 e seg.
i indo." UnidoH, 49, 79, 87, 133, H itler, 69, 115, 255
147, 21(1, 252 Ilolm es, S h erlo ck , 60
1 1 <1I1 1 <11<1, 11)2 Homero, 91 e K C g . , 133, 161, 181
1 11111111<>, ttinuluvÃo, 11)3, l Mi Ilopkiu.s, M ark, 45 <• wcjf.
Ktim, C olégio tlp, 4lt, 151 i« tn<a, llo rá c lo , 217, 243
I' ucliiltm. 303 Ilolnpu! r 1911
I 111 ipiiluíi, 117 1 luuHinaii, A 85, ItlO, 214 h aeg
H ughes,, Th., 218 M em ória, 77 r> «pb l t í ■ - - ;—
H ugo, V ic to r, 44 M enores alianduiisuliií, B|
H um an idades, 90 M erlin , II!»
H um or no ensino, 72 e seg. M étodo lu to rial, 0,1. IÜ, i ,M
H u x le y , Th., 225 M éxico, 85
M ilton, 92, 205
M oisés, 189
Idad e M édia, 112 , 127, 180, 203,
M olière, 35, 149, 212
212 e seg.
M om m sen, T h., 215
ín g la te rra , 36, 79, 82, 252
M ondrian, P ., 257
Isaías, 187
M on taign e, 128, 135, 204 e <-u
Israel, Rep. de, 145
M on tesquieu, 212
Itália, 79, 203
M on tm oren cy, fa m ília de, 2 :|(l
M orris, Ch., 22
Jam es, W illiam , 219 M ães como m estras, 24, 2-17
.(•Tusalém , 183 e seg. M ozart, 237
,l< suítas, 132, 148, 164, 194, 202. M u rra y, G ., 96, 109
208, 215 M úsica, 26, 237
■ii-sus C risto, 106, 170, 183 e seg.,
189, 199, 221, 223
N azaré, 183, 185
Jrt, I 8 G, 251
N egros, 49
( ê f o , p rin cíp io do, 204, 207, 242
N ero, 192, 199
lulm:;On, S., 25
N ietzsche, 231
junt»;;, W., 225
N otas de aula, 99
jn u v n ticy , P e., 210
J bw ó I l , B., 215 e seg.
[tij-cr, Jam es, 25, 56, 209 O p pen heim er, J. R., 169
ta.i i l <) 1 e seg., 199 O ratória, 115 e seg., 123
O rdem , sen tim en to de, 154
Htmi' . III, 94 O rgan ização do ensino, 42, 111). I h I
208 e seg.
ííe i ui i,ord, 215
O rw ell, J., 177
MifillitM, 73, 217, 243
i M l ln .h , , 230 O sler, S ir W ., 218 e seg.
P a d e re w s k i, 219
fjt tr(ij11Hltie, 35