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F IOCRU Z
PORTO, MFS. Uma ecologia política dos riscos: princípios para integrarmos o
local e o global na promoção da saúde e da justiça ambiental (online]. 2 nd. ed.
rev. and upd. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2012. ISBN 978-85-7541 -3 77-7. Availa-
ble from SciELO Books.
...
4 . O conceito tr,a nsdisciplinali
de vulnerabilidade 1
ni.cas que·conformam a dist ribuição dos riscos n os territ órios e a ca.p a,d ,d ade das
popula,ç ões de ,enfr-ent á -los.
De e..lg1..nna..forma é d,e se·e·: sperar que qualquer conceito possua coerên cia. int,er.na
1
JE sta separação não recorta somente corpos linguísticos e cu1turai s: ela aliena.,e
.
Antes d e prossegmrmos na d•· efini"
· çao ·d• o que d·•· enom1namos
1
N . 1~
contextos v 'Llil.!Í.er-a.-
T •
~~ ·
,e ntendermos as possi bilidade•s I assim como alguns limi te•s de sua a plicaçã.o no
entendimento dos riscos am.b ient:ais como fenômeno humano e social
ou a.inda o sujei to .a. s,e r a.t a.cado I derrotado, p rejud..icado ou ofendido. Essa. defi-
ni,ç ão aponta para ·U in primeiro s enso comum do termo, relacionado à dor ou à
1
p ,e rda diante de influ.ências ou impactos. ex.temos sobre algum s er vívo, que não
cons,e gue s. e pr-ote,ge·r ou se•recuperar d.i.ante d.,el,e s .
1
m ,e ntal: e·m Uil.1 certo s enti,d o1 todos nó-s, humanos., somos vulneráveis diante
1
da m.o:rte e da imp onde:rabilida.d.e d.a vida. ~Navegar é prec:is o / Viver não é pre-
ci sd', já dizia o poeta português femando Pessoa. Entretanto,, a ·v ulner-abilidade,
humana não se encontra pr:opri.ament,e nos p ,e rcalços da vida, no morre1cou no
a,d oeaer em. si mas na.fonn.a como tais processos ocorrem em sua .riela.ç ão com a.
1
A definição inicial também aponta para uma dimensão ética humana funda-
mental: em um certo sentido, todos nós, humanos, somos vulneráveis diante
da morte e da im ponderabilidade da vida. "Navegar é preciso/ Viver não é pre-
ciso", já dizia o poeta português Fernando Pessoa. Entretanto, a vulnerabilidade
humana não se encontra propriamente nos percalços da vida, no morrer ou no
adoecer em si, mas na forma como tais processos ocorrem em sua relação com a
dignidade humana e os valores da sociedade.
d ,e t ,e mp,e ra tura durante,a fase,de,modela.gem para depois fi.car-em mais duros:
quando resfriados Quando fdos 1 os corpos ·p lásticos possuem balxa. elas:tici,d ad,e
,e s:,e :rom.pem qu.ando deformados.
Tanto na. s ,d ,efor:maçôes: el ásticas como nas plásticas~ a c.a.p aci d.ad,e ,d e um corpo
r-etomar à forma original, manter ou se modificar sem s. er rompido ou p ,e rtle,r
sua.s fun9oes es:sena.aJ..s 'd·, epen.,d e .&
N • • ~1 em
1
,, d. e suas caract,eno, l!.ICa:s 1nt
· .,..+ " , , d., a
·· Tl!.nseca.s.
Em sua r-elação mais direta com o risco,. pod,e mos consid,e rar
i0ertos sistemas técnicos ou tecnologia.s, como máquinas, insta-
la.ç ões ,e pr-ocessos produtivos, mais vulnerável s a. oertos tipos de
.aci,d entes ou falhas. Isso pode ocorrer devido a caracte,r ísticas de
projeto ou a aspectos operacionais qne propiciam a emergência
ou propagação de dü.sfunções. Na engenharia, o enfrentamento
,d a vulnerabilidad,e s,e ,d i pelo aumento da confia bitidade,té~nica
voltada à prevenção e ao control,e de disfunções ,e ni. sist,em.a.s
técnioos . O controle de qualidade fundament a.- s,e ,e m ,d iversos
procedimentos d lrn.·a.nt,e ,a s tas,e s de pr-ojeto, f abrica.ç:ão,. operaçã.o
e manutenção dos sistemas técnicos.
- solos I água e ar. Tai.s si steinas hl6ticos e a.hl6ticos que c:onfonnam os ,e cos-
s:ist,e ina.s es:t ão relacionados à noção anteriormente a.p res,e nta.d a de si steJnas
,o omplexos ordlinários. Podemos falarJ por ,e xem pio, que ce:r tos ecos sistemas,
espécies: ou comunidades podem ser mais vulneráveis a d ,e tenninadas ·' perturba-
9õesJ1 ou riscos.,, com.o as mudanças climática.sJ o ,d ,e sm..ata1nento ou as contami-
na9ões químicas . Nesse caso_,. o conceito de vulnerabilidade p os suli uma natureza
1
hlologica paut ada pelo paradigma. biológico da.,e cologia e,cujo antônimo pode,
1
re•s iliência 1 seja pela declínaçã.o do vigoJ:' e da. biodiversi,d ade., seja.
pelai ntensidade·do impacto ambiental relacionado, p o:r exem-
plo., às m udança.s dimáti.cas ou à.poluição ambient al
:f interessante obs,e rvar que o ,e nfoque biológico pelo viés ecossistêmico nao valo-
riza .a vi,d a d.e indivíd u.os ils ola.d runente., ou mesmo de,certas com.unidades. Como
o foco de análise é,e,s pacial e·tem.porahnente a.mp lia.do., o s,e ntido d.e,re:siliêncía
ou sa úd.e,manifest a -se através de ciclos e Tela.,ç ôes globais que,fonnan1 um dado
oonjunto seja ele,uma com unidade, espécie, conjrunto de espécies~ sedimentos
1
.ap a.rente tragédia r-e,p leta d,e·vulnera bitidades pode·marcar o inicio da ·f ienovação
d ,e um ciclo saudável e·virtuoso ,d ,e pr-odução-de-stru.ição.
Lfil-dad
V ui nerau· . L
·. , 1 na perspect1w
1
- ., di·ca,
uiome 1
O terceiro gru.po está re1ad.onado a.o paradigma biomédico, que representa uma.
zona. 1d ,e inte·r face entre o mundo biolôg1ao da. vida ,e o esp,e :cificamente·humano_.
pois ad.i,c iona questôes ,é ticas e culturais que dizem resp e.itto a uma nov.a ,d im,e n-
são na a preensão da complex.iida.de.
O fim do nazismo s,e pultou a pr-oposta. da eugenia re'V'ela.ndo como a junção da ci-
ência a uma ideologia perversa ·p ode provocar aberra,ç ôes p.ara o desenvolvimento
da humanidade, Curiosamente a. genética. volta à baHa. nesse início de,sécwo XXIJ
com novas promessas da moderna biotecnologia. No caso das plantas,transgéni-
cas 1 o objeto de atua,ç:io não é o ser humano di'retainente1 mas o ambiente -natural
1
dr-ogas,, a.s doenças car-diovascula.res e ai.s causas ext,e rna s/ virilênc:ia. Apesar ,d ,e ste
.amplo uso 1 o seu aprofundamento conceitual vem-se dando princi pa.hnente,nos
estudos sobre Aids (Delor & . Hubert,. :2 000) e saúde mental {Ol':onnor 199 4). No 1
1
De um modo geraL o termo vulner--ab ilida de adotado por estes trabalhos visa
caracterizar grupos populacionais específicos mais atingidos ou fragilizados
por aspectos: sociais - ,como a pobreza - ou genét icos, dJiant,e d ,e fatores de risco e
,d o surgimento ou agr.a..vamento de certos pmble·m as de·sa.úde. Normalmente os
grupos popwacionais considera.dos vumeraveis.podem ser classificados como tal
de acordo com a renda, sexoJ faixa etária 1 e·t nia ou região que hab üam ..
Por e•x emp]o, Delm e Hubert (2 OOO) a.pl.'lesentan1 mn inte•ressa.n t ,e a.rogo sobre,
o ,c onoei to d ,e vuJ:nerabili,d a.d,e d ,e senvolvido para discutir o problema da Aids.
A proposta teórico-m,etodológica desses autoi-,e s incluiu a construção d.e wna
A questão ,d a Aids foge•d.a temática dest e liVlio, mas é,int eresse observar como
ela. traz à tona dimensões sim oolicas e de relacionam,e ntos inte·r pessoais irred u-
t.í veis na a.nális e do p110blema,. o qne valoriza abordagens quali tativa.s .. oomo .as
p sicologicas, et nográficas ,e as historias de vida . O te,m a da vuln era bilida.de s urg,e
.aqui como estratégia concei tual e metodológica integradora, virs ando com preen-
d ,e r e .a.rti.cular, simulta.neamenteJ múlti pios element os. e processos do p!iobJlema.
Sua p ,e rspectiv:a e .a de sup,e rar a dicotomia entre, de llil1 lado, os r,ed.ucioni smos
d ,e correntes. da ciência nonnal e do paradigma bioméditco ~estrito ,e, de outr-o,,
oerta.s visões teórica.s por demaits vagas e· pouco operacionais, alin da. que se i nti-
tulem complexas ou criticas.
Com base nessa visão, para a.na.li sar mos se,Uilla pessoa ou grupo populacional
em.ais
,, ■
ou m ,e nos T~~ 11 ~ ~ ,,
v ILU.J.rerave l , t.orna-se necess.ai.no
,, .. ent ,e nd,ennos o con1un ■ t o d, e
.
p:r-ocessos po li tu:os, .. .
eaono:nnaosJ! e uitura1s
. e ps.1colOgJI.cos,
~ " . a 1-·
em d· •· os pro.p.namente
,..
Por isso podemos falar de determinantes ql!l.e marcam ,c,e rtas tendências quando
trabalhamos em Uill nível coletivo mas na reali.d a.d ,e de pessoas ,e grupos esp,e cí-
1 1
fioos 1 a resulta me final desses proc:,es sos .a caba inevi tavebnent,e s,e ndo marcada
po:r singularida,d es .
Por exemplo, uma pessoa diabética e rica, com acesso aos recursos terapêuticos
mais sofisticados, mas que é sedentária, fuma e se alimenta com excesso de
gorduras, pode ter mais complicações de saúde que outra diabética e pobre,
mas que se alimenta de forma mais saudável, realiza cotidianamente exercícios
físicos e t em, como canta Milton Nascimento na canção "Maria, Maria", 'fé na
vida'. Porém, quando ambas têm um ataque cardíaco, o pronto acesso aos recur-
sos terapêuticos de emergência pode definir a sobrevivência de um e a morte de
outro. Prever quem morrerá primeiro é um mero exercício de futurologia cujo
mistério nenhuma ciência humana poderá decifrar. Em contrapartida, o morrer
mais tarde não significa necessariament e que uma pessoa sinta-se mais feliz ou
realizada que outra pessoa que partiu primeiro por doenças similares.
Para com ple1nenta:rmos a dis. cus são sobre a vulnerabilidade n.a perspectiva
. ~...;i.:
b !l.om,
~ ca 1 e,•· necessa.no
' • a b or:d armos urna .]lmp o:rtante questa.o: a. d•. a d'
,N
, llgn1. d a d, e
humana.
Assim como nas perspectivas ant,e rior~s dos sistemas fisicalis:tas e hioló,gilcos 1
quando falamos de,vnlnerabilidade., o que se ,e ncontra em jio go é uni.a defutl •. ão
a.priori stica de,quais funções ou propriedades podem s.er afetadas ou. pertli,d as
diante·de·ce·r t as. .a.lt,eraçõe,s que,o tempo e·o ambiente vão provocando. Do
ponto d.e vi s:t a biom,é dico, isso pode se e•xpT-es sar pela perda de vitalidade, pelo
sw:gime:nto de doenças ou.pela morte de um individuo ou grupo de ind'ivíd uos.
'foda.s es s.as três possi bitidades inevi tavie lm,e nte,fazem parte do ciclo de,vida de,
qualquer p ,e s soa, mas ,é o conte,x to ,d ,e s s,e s ep:i sódios, se,u.s significados e alternati-
vas de,reorientar o curso ,d os a.clontecimentos que fom.ecem o sentido humano à.
vulnerabilidade no campo da. saúde. Portanto~ a. vulnerabilidla.de pensa.da. no con-
. d. a. sau'd, e ..h un1.ana traz 1n.ex:ora
t ,e xto . ve,.u
.l~
uent,e questnes ,e~ t1cas, mora].s e cu1tur.a.i
N • • · · s.
nicos . Exem pios s emelliantes p aderiam ser da.dos com r-ela.,ç ão à vuJlnera.bilida,d e
,d os indígenas afe,t ados pela const:tução de grandes hl dvel,é tricas na Amazônia.,
,d as populações urbanas afetadas. por enchentes nas metrópoles la tino-ame·r i-
ca.nasJ! ou ainda de•traba.Ihadores ,e moradores vizinhos a ind ú.strias perigos as.,
• •
pnnCI.p. 11~.
e nt e e,m pa1se,s:
ai.u:m., , e•m e•r-genit es ou.p e.n.l!.encos
~ .ç , . .
Mundos fe illOm.ên · C0\5 Tipa s de s i s:-temas envolvi-• Área:5 d!o conh_e ci- Conc eitos-C:hav-e:s: para en-
dos menta tender vulnera'bilidardle
Mundo da vida Sistema:5 -c:omplexo,s 'Bia lo,gia e ec.ologia VITALIDADE E CONT.IN U:i-
o,r,d! i n :i:ri os d-o s s. er-es. vi 'Iro s DADE
(oiigani:s:m-r u, comurnided.es --------- -
e ecossi s temas Vulneirabi:llidade como,
Biomedici'na perda de vigor, inc:a.p e.-
cidSJdle adL111p teitiw. ou
d esconti nu.id.e,d!e
~!""l!"'!!""l!""!!""l!""l!""l!"'!!""l!""!!""l!""l!""l!"'!!""l!""!!""l!""l!""l!"'!!""l!""!!""l!""l!""l!"'!!"'!!""I!"! ~!""l!"'!!""l!""!!""l!""l!""l!"'!!""l!""l!""l!""l!""l!"'!!""l!""!!""l!""l!""l!"'!!""l!""!!""l!""l!""l!"'!!""l!""!!""l!""l!""l!"'!!""l!""!!""l!""I !"'!!""l!""!!""l!""l!""l!"'!!""l!""l!""l!""l!""l!"'!!""l!""!!""l!""l!""l!"'!!""l!""!!""l!""l!""I!"'!!"'! "'!!""l!""l!""ll"'!!"'!!""!!""l!""l!""ll"'!!"'!!""!!""l!""l!""lll"!!"'!!""!!""l!""l!""ll"'!!"'!!""!!""l!""l!"'!l"'!!"'!!""!!""l!""l!"'!l"'!!"'!!"! B!
---------------------------- ------------------------------------ -------------------------- ----------------------------------- -
Paradigma ecológico: ên-
f e.a•e na vulnerabilidadle dle
c:o,mu.nidlades, espécies. ou
ecos s: i !i.1: em a.s.
- -·-----------·- -
Parad"gma biomi!dico:
ênfa,s e ne.vu]nera.bllidade
c:o,mo contextualizadm:a
das d oenças: ou mort es d!e
i ndli víduos:
Mundo d o hwna:no Si:stema:s c,o·mpl'exo-<S ["!:!fle xi-• Ciências: saciais: e É 'FICA: VIR.'TiilDE E DIG I-
vo:s: .s i.stem as s ociai s, s:oc:io- 'b u manas., fi o,s,ofia DADE
Proces:sos de vulneralbili.za-
ç,ão
VuJneirabiJlidade como,
empeci lhos à Teaüze,ção de
ciclo:s de v · da virtuosos
1
· ·vul
·O,,con,c,e1•1··-.iO· d•e . . .·n erabil.I~a~
"d d na mve.s
..1.
t-igacao
· .... do·_ . s rIScos
'"'
ambientais
Nas últimas décadas~ teorias s obrie vu.Jnerabilidade vêm sendo prod uzídas
para analisar como desa.st:ries naturais ou tecnológicos similares do p ont.o
d .,e vista do pe1"1L_go-por exe·m plo,. en.ergia.s e substâncias envolvídas.- podem
. .d"f
pro d u.z1r ,, . d, e exposu;ao
1 erenc1a1s . . ,a . tos ,e m di
e .ou ef.
N / . . a.s regJ.oes,
, stint .- . d, o
a f etarr
mais ,d etermina.dos grupos sociais 1 territorios e•ec.o.ssiste,m as . A.s. dis.cuss.ões
sobre vulnerabilidade·que,mais nos interessam. são aquelas que,buscam.integrar
dife,ren.te:s e irr-edutívei s dimensões da realidade a.nalls.ada •- sociais .. econômicas ..
culturais., ambienta.is e de saúde - 1 a.o mesmo teJTipo que ,e xplicitam aspectos
~.
cLicos . . re la c1ona
essenc1a1s . d•· os a 1mp
. úi.J::Lanit ·es pr-o'b ,1-~
,...,....+
r emas s ocJ.ooam
•. ' t ais
b-.1eni . d. , ecor-
E interessante obs,e rv.ar que ta.is ,d ,e s,e nvolvímentos oco roem just am,e nte no
D e ,e spea·=dJ.1 1mpo
• rt'"' ., par-a a 1nv-es
- a.nc1a. • t"1gaçao d •
· •- os nsco:s
N • • e am-
ocupac1ona1:s
bi.,e ntais são os trabalhos no campo ,d os d ,e sastres, tanto de rn.ig,e m. natural
oo:m o tecnológica 1 que•analisam a vulnerabilidade a partir de aspectos sociais,
politico.s e,econômicos 1 como nos autores Winchest,e r (1992.t .H orlick-Jones
( 19 9,3 }, Blaiki,e et al. ( 1 ·9 9 6 ) 1 Cutter et al.( 2 00 3 ),. Ffi.ssel (.2 00 7) e Na.tenz-on (2. 00 3),
est.,e último volta.do ao contexto arg,e ntino . Tal persp ect:iva surge a p a.rtir dos .a nos
70 aomo r-espo.sta às criticas feitas aos determinismos natural ,e a.1tnbi,e ntal pre-
dominantes até então neste cam_p o ..·u ma importante origem concei.tual ·r einont a
aos ,e studos soibre populações exduídlas em pais es do Terceiro Mundo, que de
oerto modo vivem um.a situação de 1d.e sastre cotidiano' em seus modos de sobre-
vi.vên.cia em face das pn~cárias condições d.e•vida ,e traballio.
d.o detennini smo ambi,e ntal as consequências mais graves dos desast:res
,e xpres s. a.riam um estágio subd,e senvolvido das sociedades, não industrializadas.
Contudo conforme nos colocam Blaikie ,e t al. (] 9 9 6).. t ai.s aonoep9ões não se
1
sust!enta vam diante ,d .a.s cri tiiea..s ,c rescentes da economia política e da ecologia
política a partir dos anos 70 .. ,o orroboradas po:r ,e statísticas que r-e·v elavam como
dife·r entes populações e Iiegiôes subm,e tidas .a :riscos naturais ou. antrop ocêntri-
aos semelhantes e•m te•r mos de sua.magnitude•, possue•m consequências tot a.1-
m ,e nte distintas .. Dessa fo:rma... o t ,e ma.da vuJne,r abilidadle fbi d ,e senvolvid.o neste·
campo para designar tanto os processos geradores quanto as caractedsticas das
populações e :regiõe,s que tê•m maiores. dificuldades de abs orv,e r os imp.actos d ,e s-
tes event os de risco.
Em outras palavTa.s a vulne.r.a.bilidade• no campo dos de·s:ast res. pod,e ser ent,e n-
1 1 1
dida. ,o omo uma. propriedade de·um s:iste·m a socioam.b iental- ou seja,. o grau no
qual um si st,e ina. ou unid.a,d e ,d ,e exposição é sus cetiivel a a]guin dano, decorrent,e
d ,e uma exposiçã.o a. alguma perturbaçã.o ou estre,s se•no sistema.- 1 ben1 com,o a
falta de habilidade·para enfrentar:, r~cuperar ou mesmo se adaptar de fonna es-
truturat perdendo ca:racterí stica.s e adquirindo outras, ou seja, transfonnand.o-
se em. mn novo sistema.
Para Ft\ssel (:2 00 7).. autor que :].nco.rpo.ra a dimensao da com p].exidade, a vulne-
rabilidade rep-:res,e nta uma espécie de cluste·r conce,i tu.ai para a invest~ga.ç ão ,d ,e
pr-0b].emas. envolvendo sistemas hnmanos. e ambientails.. El,e .alerta para o uso ,d ,e
d.i s:tintas concei tuaçõe•s e·teuninologias de vulnerabilidade•: por e-xem pio, cien-
tistas naturais: e engenheiros tendem a aplicar o termo de·fonna mais de·s cri tiva,
funcional e quantitativa, ao passo que os. cienti st a.s social s t ,e ndem a usá.lo e,m .
um mod,e lo explicativo rnais qualitativo e contextualizado. Segundo esse autor,
.as variadas: abordagens e formas ,d e integração se difelienciax.i am basicamente
,e im função de como o modelo analitico construido articula asp,e ctos como fatores
socioeoonômicos e biofis icos, ,e scalas esp.a..ci ais (internas: e•e,x t,e rna.s a.o •fsis:tem.a.')
e te_m porais,. assim como, acres,o entamos, as formas de rela.ção1 diálogo e·incor-
poração das vozes dos suj eittos soda.is envolviidos., e·m e·s pecial as populações afe-
ta,d as e vu]n.e:ráveis muitas 'VeZ!es invis.ihilizadas.
O Programa das Nações Unídas para o Meio Ambiente produziu uma publicação
sobre índices de vulnerabilidade diante das mudanças climáticas (lPCC/Unep,
2001). Nele, a United Nat ions Environment Programme (Unep) assume um con-
ceito abrangent e, dinâmico, multidimensional e contextual de vulnerabilidade.
Reconhece implicitamente que qualquer medida ou índice de vulnerabilidade
será relativo, já que os parâmetros sempre são det erminados por normas soci-
ais. Para a Unep, os conceitos de vulnerabilidade, adaptabilidade e suscetibi-
lidade devem ser distinguidos: a 'adaptabilidade' refere-se ao grau dos ajust es
possíveis, a curto ou longo prazo, que impedem ou reduzem efeitos negativos
através de práticas, processos e estruturas de um sistema; a 'sensibilidade' est á
relacionada ao grau de transformações que um sistema responderá em face das
mudanças climáticas; por exemplo, as transformações na composição, estrutura
e funcionamento de certos ecossistemas diante de certas mudanças nos regimes
de temperatura ou precipitação de chuvas; e, finalmente, a 'vulnerabilidade'
expressa a extensão dos danos ou perigos que um sistema passa a sofrer com
as mudanças. Do ponto de vist a humano e social, a vulnerabilidade result a não
apenas da sensibilidade de certos sistemas, mas do modo como as pessoas, po-
pulações e sociedades irão se adaptar a elas. Por exemplo, certas ilhas do Pacífico
poderão ter suas áreas reduzidas ou poderão desaparecer diante da elevação do
nível das águas dos oceanos, mas a vulnerabilidade social discute o que aconte-
cerá com as populações atingidas e como reduzir os imp act os negativos .
Ap6s a.Rio 9 2. foi criada a Convenção Marco sobre Ivludanças Cli.mátti.cas ,e m vilgor 1
U1n contexto vulneravel pode ser caract.eri.z a,d o p ,ela..presença de d.ois grupos
princi p.ai s: de vuJnerabiliida,d ,e s - populacional ,e insti tuciona.1 - que serão objieto
d ,e a.p rofundamento mais à frente.
· a. ,. e como um
llr.l
, outetto vuine.í:á:ve:l
.i lid s, muJtipJic . - o dt S't
_pos roei:ll ce:u..i.t6úo:s.:
li
. .
,.
.
,
.,
,. .,
li i
Para avançarn1os na.com preensão dos rii.s. cos em cont,e xtos vulner-ávets, é
necessário constnrlr um modelo concei tu.ai que possibilite,classificar e analisar
as vulnerabilidades. j[na.is importantes em .r-e·l ação aos riscos ocupacionais e,
ambi,e ntais priorizados . A partir de,alguns a utore:s. que discutem este conceito
no campo dais desastres (Blaikie et al.,, 1 '9 9.6; Ho.r lick-JonesJ 199 3; Tuntowicz & 1
inv,e s.tigativa de problemas na rea.Uda,d ,e brasileira (Porto &. Freitas, 200 3; Porto
& Fernandes.,, 2 006).,, sugerimos dois tipos de prooes sos ,d ,e vwne·r abilizaçã.o
nos m .ar-cos jurídico-normativos I nas politicas e açoes ins:t it u.cion.ais, bem como
,d e r-estrições dos recursos econômicos técnicos ,e hun1anos disponíveis.
1-
Cabe co]ocar que tal da.s sifi.ca.ç ão é arbitraria e deconente ,d ,e nossas e,x p edência.s
na. a.nâli se d ,e si tua,ç ões e eventos de risco da reali,d a,d ,e brasileira. nos ÜLtimos l 5
anos.
Di scutir-emos a seguir detalliadamente estes dois tiip os de vulnei:-a.hilidadle relaci-
ona.dos .a.os riscos ocup.a.ci.onais ,e .a mbientais, definindo ainda slllbgru.pos dentro
da classificação proposta.
A vulnerabilidade populacional
A 'invisibilidade' social de t ais grupos os toma ainda mais vulneráveis, o que de-
manda estratégias novas de investigação e atuação das instituições, entidades e
pessoas que enfrentam os riscos. Por isso, enfrentar a discriminação social não se
refere apenas à mudança formal de estrutu ras econômicas mais justas e redistri-
butivas, mas à transformação das bases culturais que permitem e legitimam sua
existência em todos os seus níveis, inclusive na forma como a opinião pública,
a mídía e as instituíções abordam os problemas. Trata-se de uma batalha tanto
política quanto cultural contra processos que reforçam a exploração humana
no trabalho (conflitos de classe e relações sociais de produção), a discriminação
contra as m ulheres e práticas machist as (relações de gênero), a violência contra
determinadas etnias e o desrespeito a certos costumes culturais tradicionais de
povos e regiões (relações culturais de dominação).
Relações de trabalho
Este é o caso, por exemplo, das exposições a vários agentes químicos com efeitos
crônicos, como os cancerígenos. Vários fatores podem reduzir o nível de per-
cepção e priorização por parte da população expost a a est es riscos, tais como: o
tempo de latência entre a exposição e o efeito clinico; a relat iva 'invisibilidade' da
exposição, em baixa concentração, a certos agentes, principalmente aqueles que
não produzem efeitos agudos graves ou despertam maiores reações sensitivas,
como de olfato e paladar; a existência de casos dispersos na população expost a,
que acaba por desenvolver problemas de saúde; a incapacidade de as instituições
de saúde, ambientais e da previdência social reconhecerem casos clínicos em sua
relação com os riscos ambient ais, particularmente quando os efeitos crônicos
podem ser causados por múltiplos fatores.
Todos esses aspectos contribuem.para a 'invi si bilida.d ,~ dos riscos cujo enfren- I
A ,d ep,e nd,ê nda ,e conômica que ce,r tos grnpos soei.a is possuem quanto à ,e mpr-esa
ou ao setor produtivo que gera o risco também afeta a percepção. Isso pode
ocorrer com trabalhador,e s que tem,e m per-der seu.s postos de·trabalho diante do
rfantasma' do desempriego; com moradores em locais próximos. a empresas polu-
• f' am1'li ares. t.ra..b-liil11 h
ent e•.s: nas quais ' : a.m,. ou cuJa.
• ,e n•s t ,e,., nc1• a. ,e., ,d, ,e Vl•t-
w1 li.• mport,., •
-1 an □ a
para a região e as administrações locais; ou .ainda. com produtores .r urais que não
en:xergan-1 a lte:rnat1vas. económicas v1av-e-1s sem agrotox1cos. e temem _poss1ve1s
CI #.. 11 11 -' ■ i.1 11 ;f 11
i:mp.actos nega tivas di.a.nt,e da pos si bili,d ad,e ,d ,e o pr-oblema ser·1eva.ntad.o pela
mídia ou ór-gãos fis cali.zadmes. A manipulação política d.e frag.i.li,da..d es como
,e stas por parte dos _g rupos econômicos bene·fici.ados com os STAs: perigosos e
instituições .a li ada.s pod,e .a mpliar esta tendência de reduzir o grau 1d ,e percepção
e prioriza..ç ão dos riscos, contribuindo para polarizar d.i sput as inte,r nas entre os
grupos afetados. Grupos econômicos tendem a minimizar os riscos e m u.itas
vezes aliam -se·a insti tuiçõe-s reguladoras ,e fiscaliza,d oras, com a frequ.ent,e al,e ga-
ção de,s ta.s de qu.e·d.e,v em ~evi lar o p â.nico d ,e sneces sário'.
1
n1túlti pia exposição .a si tuaçôes crí tiras e o baixo grau de :liberdade de escolha
obrigam tais populações a um ver-d.ad,e ir-o malabari.s:mo e·m .seu vivre r ootidl.iano.
Diante de tantas situações 1emer-genciais]~ é difícil para obse:rvadolies ,e xternos
1
compreenderem certos comportamentos 'arriscados' que parecem ignorar a exis-
tência de determinados riscos, mas que podem possuir uma coerência int erna se
compreendidos à luz do contexto em que as pessoas expost as vivem.
Não basta apenas que um risco seja percebido e priorizado: grupos sociais
expostos aos riscos deveriam participar das decisões que os afetam, o que traz
à tona a dimensão política dos riscos, em especial em contextos vulneráveis e
situações de injustiça ambiental. Para isso, é necessário desenvolver capacidade
de organização interna e mobilização por parte dos at ingidos e organizações
solidárias que sensibilizem forças sociais e instituições para agirem na defesa de
interesses legítimos. A falta de equilíbrio entre, de um lado, as forças econômicas
e políticas interessadas no desenvolvimento das atividades geradoras dos riscos,
e, de outro, a defesa dos interesses dos grupos afetados, é um elemento central
dos contextos vulneráveis e da produção de injustiças ambientais. Por isso, apre-
venção técnica e a promoção da saúde possuem uma natureza sociopolít ica rela-
cionada às conquistas da democracia e da cidadania nas sociedades modernas.
No caso d.o s riscos an1.b ienta1s em espaços públicos - como acidentes ambient ai.s.
e de trânsito,. exposi,ç ão em área.s conta.minadas por poluição atmosf,hica ou
por depósitos d ,e resíduos perigosos-,. a capacidade de organização e,mobili-
z.a.,ç ão dos grupos depende das caracteris:tica.s soc:11a.isJ ,ec::o nômica.s ,e ie:ulturais
dos t ,e rri tórios afetados. Um ex::em plo .itm_p m1::an.te de grupo s. od.al vulnerável
são os residentes de habitações p opula'fies localizadas em pe•r iferias. urbanas
sem infraestrutura básica, p:13Óximas a indústrias pe·rigos.as ou 11udovias ,c om.
elevada circulação de veículos e .a ltas taxas de a..c id,e_ntes de trânsito. Em áreas
urbanas periféricas., medidas r-elaciona,d a.s à melhoria. da infr-aestrntura e equi!.-
p.a:m ,e ntos urbanos pod.e·m provocar wn impacto substancial nas estatísticas de,
·m orbimortalida.,d ,e. Por exemp]o, humanizando as vilas de c:ilicula.,ç ão atravé-s da
redução da velocidade de v:e ículos, construção d,e passarelas. ou faixas d ,e pedes-
tres .. Par.a ,e stes grupos, a existência e,a qualidade·d.as oigani:za,c;ôes d ,e moradores
pod,e m desemp,e nhar um importante pa.p,el na. ,d ,efe,sa_d,e,seus interes. s. es. ONGs
a.mbi,e ntalistas e·repres ent:ant,e s poli ticos locais taml>ém poden1.contribuir para
o trab au:.l!O
1!11,. d . - mob"li
· •- e orgamzaçao, 'zaçao e partu::1paçao em prucessos d, e□. sonos.
_'f 1 ,N •• • IN . ~
Diversas caract erísticas importantes dificultam o processo de organização.
Dentre elas, 1) a falta de cultura participativa na região; 2) o rápido crescimento
das periferias urbanas e inst abilidade das relações de propriedade em áreas
ocupadas por populações socialmente discriminadas; 3) a rest rit a sep aração que
muitos movimentos ambientalistas realizam ent re preservação ambiental e pro-
blemas sociais; 4) a presença de organizações com prát icas violentas que inibem
a organização com unitária, sejam elas criminosas, como o narcot ráfico, ou inst i-
tucionais, como a atuação de certas polícias, ou ainda práticas de coopt ação por
parte de polít icos e instituições. Tais característ icas restringem o cresciment o do
sentimento individual e coletivo de pertenciment o ao lugar e o sentido do espaço
público como bem comum da coletividade. Tais sentimentos são fundamentais
para que uma população seja p rot agonista no futuro do território que habita,
considerando o espaço público onde m ora e circula como integrant e de sua vida,
sua história e seu destino.
A vulnerabilidade institucional
MULi tas vezes,. os estudos epidemio:lógicos que esta.bel,e oem r-elaçõe-s de·causa. e
efe,i to de·m andam bastante·te·m po e·não consegu.e·m de•f inir casos clinicas ind1vi-
1d uai s I mas somente a :riela,ç ão ent re exposição e efeito d ,e grupos ou. colet ividades ..
através depr-obahilida.des. ou taxas de riscos. Ou seja.. os resultados pode·m até
revelar que determinada população afetada portal ri soo t ,e rn wna.chance maior
d ,e .adoeC!er ou ·m orrer definida por UD1 percentual X. Ma.s. muitas vez;es: não s,e
pod,e a.finnar se uma pessoa particular que adoeceu ou morreu teve como causa..
. - a.mb· "']lenit a ·1 em ques t ·ao.
.a expos.1çao - .N. esse•caso .. d· • 1z:s:e,.
I . a cliI mca.
. e" s:ob·• era.na .. mas.
quando a.doença possui na tll!I"eza m ulticaus.a l.. ou os d.a.d os da história.clínica e
d ,e ,e xposição não são pr-ecisos - o que·ocorre em muitas situações-,. o posiciona-
m ,e nto dos e·s pecialistajs médicos pode·ser suibjetivu ,e conflita.nt,e. Esta questão
,é uma da.s fontes de conflito não só entre especialistas .. :m as ,e ntre estes e grnpos
ci,e ntíficos com a popuJaçã,o atingida, que c]ama por diagnósticos claros e .in-
qu estionáveis . Os conflitos ,e desconfianças por p.a rt.e ,d as populações tomam-s,e
mais intensos quando há uma grande assimetria de poder, aumentan.do o temor
que os resultados sejam.influenciados por aqueles que•de,t ê•m maiores recursos,
em esp,e ci.a l a.s etnpresas geradoras de·riscos. É por isso que os movimentos por
justi,ç a ambiental, assim como a própna medicina social latino-americana, vêm.
produzindo alterna tivas como o 1nonitoramento .P articipativo (BreHh1 2 00 3) 1
a. ,e pidemiologia popu.lar{Bro~ 199:2 ) e a pesquisa baseada na comunidad,e
(1Leun1 Yeng & Mi.nlde:r.. 2004 ).
as s:oci a.dos à.s: oonsequên,ci a. s d.os riscos .a.mbi,e ntais para o conjrunto da sode-
dadeJ favorecendo as e,m presas p o.luidor-as. Por isso, é neces s,ário que os: grupos
atingidos:, as instituições res ponsaveis pe]a defesa da s aúd,e e·do meio ambiente
e a. sociedad,e s,e mobilizem para gerar condições ge•r ais de pmduçã..o equâ:nimes
qu e i:nternaliz,e m o valor da vida hUD1ana e d,as ecossistemas para o conjunto. das
r-elaçõe•s d,e pro d uçã.o de um lugar. Uni.a est-r.atég.i.a. p.a.ra enfrentar esse p r-o•b lema,
cada vez mais importante·em tempos de globalização, é se basear em critérios
d ,e .a gências internacionais e países da América do norte•e da Europa ocidenta·~
por exemplo, assim como nas chamadas Best Avalilable Technologies (BAT), ou
seja, as melhores t ecnologias disponíveis do ponto de vist a da saúde, segurança e
meio ambiente.
A divisão int ernacional do trabalho e dos riscos é um aspecto central para age-
ração de vulnerabilidades e situações de injutiça ambiental. Um problema atual
e bastante complexo para diferentes países na América Lat ina, África e Ásia
está relacionado com a chamada globalização: o ideário neoliberal do Consenso
de Washington, a perda de poder dos Estados Nacionais, a quebra de barreiras
protecionistas e a velocidade dos fluxos financeiros int ernacionais em algumas
regiões podem produzir verdadeiros colapsos nas economias nacionais com
sérias consequências sociais. Outro tema clássico que vem sendo bastante tra-
balhado nas últimas décadas é o chamado 'duplo padrão', articulado à discussão
sobre a divisão internacional do trabalho, que é si multaneamente uma divisão
dos riscos. O duplo padrão significa que um mesmo risco pode possuir padrões
prevent ivos totalmente dist int os em países diferentes, inclusive nas mesmas
empresas multinacionais, sendo o asbest o um caso exemplar de duplo padrão
já bastante estudado internacionalmente por autores como Barry Castleman
(2002), e no Brasil por Hermano Castro e Fernanda Gianasi (Castro, Giannasi &
Novello, 2003).
e1a.genc1as
li
É bem :11.nai s fácil pesquisar e cla:ssifica.r regiôes: 1 se,t ores econômicos e empresas:
vulneráveis com sérias restr.ições nos i nvestimentos de sa ú.de,e,seguran ça. do que
discutir e hnple,m entar medidas qu.e,redlJlzam t ais processos de vttlne,r ahiliza-
,ç ão~Frequentemente tais medi idas .. para serem efetivas, precisam se desenvolver
através d ,e prncessos decisórios em maior nível de poder.. envolvendo dinâmicas
·m a.cr-ossociais e m.acroeconômica.s que só podem ser confronta,d as atravê,s de,
novos rearranjos de,poder e novas politica.s públicas.,
J::xi st,e m várias insti tlllições responsáveis que regulam e controlam.os riscos em
uma soci,eda.d,e. Elas fazem a mediação entre política.se mar-cos jmidicos globais
e os nívei.s locais, através da implement:açã.o de politica.s públicas .. da legíslaçã.o
,e ,d o .ap ar-ellio de,formação que capa.cita. empresas, técnicos~ traballiadores e
populiíu;·ô es .a melhor enfrentarem p .r oble,m .as ambientais, e ocupacionais. Tais
instituiç-ôes podem ser- govemamentaJis, mais voltadas as fnnçõe,s típicas does-
tado., tal qua.l .a fiscalização, como tam bé,m podem s e:r constituí.d as por diferent,e s
corporações profissionais~ instituições privadas e do terceiro s,e tor (as ONGs)~
que ,e xecutam papéis legitimados pela legislação vigente, devido ao conheci-
mento técnico que,possue,m e,à defesa dos inter,e s s,e s de oertos grupos s ociails.
Mesmo com a existência de uma base legal, e ainda que exista uma estrutura
institucional razoável, o desempenho das instituições públicas responsáveis
pela implementação das leis e normas vigent es pode ser afet ado por dinâmicas
sociopolíticas e culturais . Tais dinâmicas inevit avelment e ocorrem em qualquer
sociedade, mas são acentuadas em democracias inst áveis ou regimes aut oritá-
rios que podem obstruir:
u ·m a.,e stratégia importante d.e controle s ocia1 e de superação das ações isoladas
por sieto:res e•orgãos ,d e governo tem sido a criação dle :fén.unsJ! cons,e llios ,e co-
m.i s sões que possibilitem a.glutina:r d.i versos .a tores em torno de,probl,e ma.s a.m-
bi,e ntais e·ocupacionais. Existem m .f ilti p1os exemplos d.e s s,e s esp a,ços,. com.o os
cons,e lhos ,d e saúde do trabalhador no âmbito do Si stema Unfü:o d.e Saúde (SUS);
os convênios entre v.ári as insti tui,ç ões para ações conjuntas (como,. no caso ,d o Ri.o
d.e Janeiro., entr-e o lYI:inistêrio Público do "I'raba'Iho e vá.rias institu.ições ); comitês
inte·r -setoriais para 'iLmpl,e ment ar .a ções ,e specíficas sobre certos pmble·m as, como
o oonrl t ,ê ,d o benZ1eno cri.a,d o na.,d ,é cada de i 9 9 O; os conse,l hos esta.d u.ais d-e•meio
.a mbiente·; as a u.diências públicas sobre licenci.a.mento e·os comitês de·bacias
hl UJL'Ogra1~as
..:il- ., .e,_
.
cada um deste•s espaços possllli. potenciaUda.d es ,e limi t ,e s que dep•e nd,e:rão de vá-
rios fatores, como a real abertura para a p artici paçã.o dos. envolvi dos, a inse·rçã.o
de técnicos ,e ngajados,. o poder deliberativo ou de influência desses fóruns s. obr-e
.
.a.s poli tlcas, d·•- ec1soes
· - e açoes
- d . . .1m portantes. Por exemp lo, as
. · - mais
· • -as 1nst1truçoes
.audiências públicas do setor ambienrtal têm sido frequent1emente·criticadas pelo
caráter pouco qualificado e comparticipação restrita dos envoMdos., ,e m ,e sp,e ci.a.l
as popula,ç ões afetadas mais vulner.á veis .
a 'd
.· a:,d a.erm
- ' lit. ant e .
Uma Ecologia Política dos Riscos.
Princípios Para Integrarmos o Local e o Global na
Promoção da Saúde e da Justiça Ambiental
Editora Fiocruz.
2007
Riscos, Ciclos de Perigo e Suas Fases
Fase 1 (histórica): Definição e geração
Desenvolvimento econômico e
tecnológico. Novos sistemas STAs e
novos perigos. REGULAÇÃO E
LEGITIMAÇÃO DOS RISCOS.
·~ Fase 2 (operacional): exposição
regulatórias e dos modelos
Reorientação das práticas
em operação. GERENCIAMENTO E
... CONTROLE DE RISCOS
~
J l Fase 3 (das
conseqüências): efeitos
Reorientação de medidas Eventos de riscos. Acidentes,
e práticas de gestão doenças e contaminações
L-+ ambientais. MEDIDAS
,,
1 1
REPARADORAS (MITIGAÇÃO)
Feedback: aprendizado coletivo j ..
00
1 2 00
1 2
STA1 STA1,2 ...n Ecossistemas 1,2
3 4
00 00
3 4
D c=J
NÍVEL LOCAL
....___---------=========- NÍVEL GLOBAL
Agravamento do Ciclo dos Perigos em Contextos
Vulneráveis
GERAÇÃO
EXPOSIÇÃO
Ampliação de exposições
Prevenção de riscos inadequada
Propagação de falhas e disfunções
EFEITOS
Produção sistêmica de acidentes,
doenças e contaminações sem
mitigação
l
BLOQUEIO DOS MECANISMOS DE APRENDIZADO COLETIVO
(ORGANIZAÇÕES E SOCIEDADE)