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OBRAS DE HENRI BERGSON

AS DUAS FONTES
DA MORAL E DA RELfGIAO

ndo Bergson em As Duas Fontes da ,\.foral e da Religião existem


cies d.e mOtalidadc; o compülsiva e a ideal. Existindo, tarn•
s espécies de religião: a popular e a dinfimi.:a. A ess.os th.JM~
de mon'll e religião corrcsp-01lc.k:m duas fo rmas de sociedade.
e a abert.3, e "duas espécies de alma: a escravizada. e a Jivr~-" .
omes da moralidade e da religião sã<.l ~\.S nec::ssidades ptáricas
ns e sociedades, e o impulso idealisca.
orµagcm de Be.rgson foj genédca. A compreen.sã.o dos fenô-
vestigados s-ig;nifica yer como eles süo soliciladós pelo impulso
ário. A _contribuição do 3ucor consistiu em sugerir que a mora?
não podem ser entendidas em termos de um.a úaic.à cxplicaçüô.
os de Cõrute, Spencer é Mar.x tentaram explicar toda moral e
omo decorrência das necessidades <la sociedade: Bergson acom-
cm boa parte do caminho mas insistiu em que, como a- moral
ão. no sentido usual, são an.ti-~oeiais <lçvc ser-lhes atribuída
a fonte: a visão e~~irirual de homens c;,tcepcionais.

A EVOLUÇAO CRIADORA

oluçüo Cri'adora constitui uma especul~ção metãfísica em escala


011de se projetam as concepções bcrgsoni.:inu.s sobre o passndo
o futuro discante. Propõe temas im_possiveis <le vcriíicação
uer dos métodos t:ràdicionalmente .nc.eiws e. de íuw. Bergson
urna píensiva ger&] contrà os precursores e as têcnicm; da
~dic.ionai. insistindo esp(.-cialmente na Les.e d.e- que a aborda-
ialisb! e mecanicista dominaru e:; só pode :iC.trretar uma reprc•
quivoc~da e gtosseirn da realidade. O principal culpada dessa
,ão é o próprio jntelccto. por,quamo· ro pode operar acravés
conceitos, c os coaceitús. são c1ncgorios fixas, estáricas, que
i confer a realidad~ fiuida. Há em Bergson uma acennrnda
anllinteJcctualista.

Alt

A c.vlturo o serviço do p rogreuo social

RES
LOGIA
ES SOCIAIS

me constitui uma seleção coe- Textos escolhidos de


a e representativa do pensa- Alfred Schutz
co de ALFRED SCHUTZ. Sociais e

vivià na Áustria, seu pais


stabeleceu as bases para uma
menológica e descreveu a me-
para a " construção significa-
FENOMENOLOGIA
de social". Emigrou para os
em . 1939 e aí se dedicou à
e Relações Sociais
olver uma sociologia Substan•
orte o surpreendeu em 1959,
completos.

básicas de S CT·IUTZ promà•


tese crítica da fenomenologia
a sociologia do entendimento
Ta) síntese foi elaborada na
do o conhecimento humano
irredutível nas experiências
ivíduo consciente e ativo.

osofia de HussERL, uma ten-


e revalorização da perspec-
mundo e da iniciativa hu-
ogia da ação de WEBER, cons-
angular do pensamentu de
mbém recebeu o estímulo de
s, como BERGSON, WILPAM
HELER, )O!iN D EWEV e GEOR·

se simultaneamcme nos cam-


e da Sociologia, SCHUTz não
fccntinua na 2." al;nJ

J
BJJJLIOTECA l)J:: Clf:NCIAS SOCIAIS
SOC IOLOGIA
Textos escolhidos de
Alfred Schutz

FENOMENOLOGIA
eRelações Sociais

Z/1.HAR ED.ITORES
RIO DB JAN EIRO
ginal
llut~ fi:1 Plzem1.1m!1wlogy mzd Social Relatio1•s

d.a edição pub!ic:1.da cm 1970 por


ERsrrY o r CH K"ACO t•JtESS, de Chicago, E~ts dus Uoidos

@ 1970 by T he Uni1.•t1rsfi)' o/ Chi<:ago


,
direitos rç~çrvados.
rcprvduçS(.1 tot:.;1 (.lll p:1.rdal dcHc Hvro,
itações nos veículos de co,m.micução. índice

de
Mcl in Tn!rot!ução, por Helmut R. Wagner . .... . .. . . .. . . . .
A obra de Alfred Schutz; Pontos de p,rtida;
quadro da sociologia fonomenológi~a de Schutz.

'-/..1..
1
I'undamcntos úa Fenomenologia
l. fü1Sc'S (hl fl!uome.nologhl ~. . . ~ . . . . ... . .. . . .. . . . ... . .
A fe.oomenolú&\a :.; f.oS ci~ncius .sociais: Consciênc
Experiêm:iá: c.:01Tente de. ç(.\.nsciênd~1; E~pcriênc
signifo:aÜ\'8.

2 . O M,mdo do Vido
O m1.r ndo <la atilude natural; Situitção biográí
de1erminada; O ct1.rfüer <lú conhecime;1to ptútico

H. O Cerniria Cognitivo do Mundo da Vida


J . 1nterpr~tação Social e Orientação Individua(
A conc.epçãú soe.ia! do comunic.là<le e <lo im.livídu
Perspectivas e:nemas e interná~.

Meios Sociais de Oriemaç5o e fn terpn::t.eçSío


Linguagem e conhecimento social: A linguagem
contexto da c1.1Jtura: Signos e sistemas de signos:
1rn :t Língua porlugue.sa aclquil'idos por Si'gõlilicaüo objetivo dos sistemas de filgoos: Ftinç
R l:'IJITORí:.S expressiva dos signos.
tal 207, ZC-00, Rio
Aknçáo Seletiva; Relevfüu:ia.s e T!pificaç:fo .. . . . .
set·vam a prop,ie<ladc desta vcr$-â0
Zonas de rcfovâncin; Domínios sociais de relevânc
no nr(lsi/ A tipüicação de objetos; Nomei!r e Lipfücar.
ÍNDICE Agradecimentos
ção no Mundo da Vida
. Aç.ifo e Planejamento .. •. ... .. .... . . . .• .. ... . 123
Ação, motivação e ra;;ionalidade; An{ecipsr e pro•
jetar.

Liberdade, Escolh• e Interesse . . ..... , . . . . . . . . . . . . . . H3


Ação e escôlha: Escolha e imcl'esse; Ação intcn•
cion~J; PossibHidad~ probJemfüic.as.

Mundo das Relações Sociais


Refações ImeroLivãs ... .. ...... . . . . . 159
Tntci::subjetividade oompreensão; Rcl.lcionam.e:nto do
C· Como o,ganizsdor deste volume, desejo expres
nós; Obser-v~ç.So social.
since!'os agradecimentos pelo auxílio e apoio que receb
Comunicnçfü.) entre Pessoas· . ... .... . . .. . . ... . . . . ... . 196 os vál'ios estágios de sua preparação. Em pl'imeiro l
Veículos de pensamento : Apreensão; Trê-s tipos de grato ao Professor Mortis Tanowitz por sugerir a inclusã
signos; Comunicat,ã'o oral; E.-<prcssão gestic-u!ada; volume sobre Alfre.d Schutz na série "A Herança da So
Comunicaç5o music~I. e por confiar-me a tarefa de organizá-lo. O "Comm
Refações Sociais Jn<ltret~ts ..... .. ....... .. , .
Faculty Research" do "The Colleges of ilie Seneca" e
213 facilitou meu trabalho preparatório, cm 1968, ittrav6s
Rclacionamen!Os mediatos; Ptedi:c-cssores e su,essorc-.s. bolsa de veriio. A execução deste projeto. contudo, l
Distri.buiç-âo do Conheeimcnto .. ... . .. . . .. . . ... . .. . 231 impossível sem o apoio contínuo da Sr.• llse Schutz. A
Conhecimento inco1npleto e frngmtnt6.rio; Distribui• a publicação planejada de uma seleção de textos de se
ção social do conllec.imento. pel4 U1úvcrsity of. Chicago Prcss, ela ajudou o meu tra
organização óeste volume através óe valiosos conselhos
nos da Experiência tantes informações, além de me ceder vários man.uscri Los
Transcendências e Realidade.~ Múl tiplas
de Alfréd Schutz. Ã parte isso, foi de grande eficiência 1
241 e longo processo de desemaranhar as complicações
A cxp~riê.nc.i.1 da tr~nsccndência; ,,s ruízcs do sii'l~b~ a direitos autorais internacionais, que atrasaram por um
Hsmo; Províocfas do signi!icado; Mundo de fanlasu)s:
Provfocfa do raciocíniú cienHfico, considerável a apre-sent.1ção deste lino. Por tudo isso,
profundamente agradecido.
Província da Sociologia
Sociofcgia Tnterprciativa
HELMUT R. W
261
Observação> conce.ittmç.~o. fipo:; ideais.
ln\•estigações Sociológkas ... ... . ... ..... ... . . 289
lgunldélde ç oportunidade.
Ciência Social Faz Seolidú . ... . . . . . .. ..... . ••.. . . 30S
de 1·e1·mo.~ Selecionados .. . . . . . . ... .. . . .. . . .• , •. . • .. • • 310
dos l::$CIÍtos de AJfrcd Schutz . ... . . , .• • • . , ... • •, • • • • 317
Introdução

A ABORDAGEM FEN01vlENOLÓGICA
DA SOCIOLOGIA

J.. A Obta. de A//red Schutz

l'A~A UM,\ SÍNTESE DE SOCIOLOGIA E FENOME


Os lexios de Alfred Sd mtz constiLucm a esti"utura de um
logia baseada em considerações fenomenológicas. Schutz
o primeiro pensador a tentar tal síntese, mas foi o p
fazê-lo de maneira sisiemálica e abrangente. Uti!jzou,
refo, um profundo conhecimento da Filo,ofia de Edmuod
Fi losofia essa que representou uma ruptura radical em
aos modos anteriores de filosofar. Ele confrontou essa
não com a Sociologia como um todo, mas com uma vis
lógica que, à. sua maneira, marcou também um ponto d
radical: a Socíologia da Ação e Compreeru;iio de Ma
O JJrimeiro e mais importante trabalho de Sch ut7-,
cm 1932, chamava-se Der si1111hafte Aufbau .der sozial
" a construção significativa da realidade social". Merecer
título "Husserl e Weber". A obra desses dois homens f
bases d·o pe11samcnto de Schutz. O estímulo, daí cm dia
de muiLas fontes. Sobressaem, dentre elas, na fase i
Schmz, a obra de Henri Bergson, W illiam Jame-s e Ma
e, cm. sua fase posterior, a de Jolm R. Dewey, Georg
Mcad, Charles Horton Ceoley e William I. Thomas.
·schutz colocou-se simultaneamente nos campos da
e da Sociologia. M2S não desenvolveu uma "Sociolog
fica" como um campo dentro de um sistema mais amplo
logia, como haviam fciLo, antes dele, Georg Simme
Schelcr, por exemplo. Em vez disso., superou e.ssas
no esfor~o a que dedicou toda a sua vida de criar os f
tos de um sistema completo e auto-suficiente de pens
precedi.menta sociológicos.
INTRODUÇÃO A O'BRi\ DE ALFREO SCH lJT7..

NOTA BIRLIOGR;\FICA Alfred Schut7, n asceu em c.omeçou sua carreira de escritor proptiame.nte dita. com
1899 e morreu em Nova York em 1959. Serviu no "Phenomenology and the Social Sciences'' ("A Fenomen
ustro-húngaro durante a Primeira Grande Guerra e as Ciências .Sociais"). Ao Lodo , publicou trinta e dois
Direito e Ciências Sociais cm Viena. Seus professores maiori.a deles originalmente escrita em inglês, e algtms em
rtantes foram Hans Kelsen (Direito). Ludwig vou Mises alemão ou espanhol. Outros quatro ensaios foram p
a), Fricdrich von Wieser e Othmar Spann (Sociologia). postumamente. Entre 1962 e 1966, surgiram os três vo
eus anos de estudo, veio a in teressar-se profundamente Collected Papers (Textos Reunidos), contendo a maior
lho de Max Weber e de Edmw1d Huss.,r!. Depois da seus csclitos desde 1940.1
de Der sinnhafle .411/bau der sozialen Welt, conheceu Na época <la preparação deste volume, sin<la não h
nte Edmund Husscrl, visitando-o freqüentemente. A publicado integralmente um dos ensaios de Schutz. Es
dência entre os dois homens só cessou com a morte ·1 940, com o título de "Parsons' Theo1-y of Social Acti
l. Este o convidou para seu assistente na Universidade Teoria da Açilo Social de Parsons") , e.ta uma avaliação c
go, oferta que Schutz declinou com relutância, devido The Strucfl.lre <>f Social Aclion (.4 Estrutura da Ação
obrigações. de Talcott Parsons. Depois de muitas discussões e de uma
938. com a amca9a de ocupação da Austria por Hitler , cartas com Parsons, Schut.z decidiu abster-se <le p u
igtou para Paris. Um ano depois chegou aos Estados ensaio, mas a parte de conclusão do trabalho apareceu
nde cnti:ou para a Univcrsity in Exile, de Alvin John- após a sua morte com o fltulo de " The Social World
s rebatizada Congregação da New School for Social Theory of Social Action" ("O Mundo Social e a Teoria
Exceto nos últimos anos de vida, Schutz sempre Social") .
as rith-idades de empreendimentos acadêmicos e de O Professor Thomas Luckmann, da Universidade d
na área dos negócios, que lhe exigia tempo integral. furt, preparou uma edição do trabalho final de Schutz,
em Nova York, teve a oporh.midade de entrar em nos elaborados esboços, notas e instruções escritas do
m discípulos de Husserl, tais como Dorfon Caims, Aron Schutz. In titula-se Die Strukturen der Lebenswelt. Um
lv!arvin Farber e Fefü: KauJman, e com representan- segmento desse estudo, ao qual o próprio Schutz deu
dição sociológica germSo ica, como Carl Mayer, Albett final, é chamado "The Problem of Relevancc" ("O P
Kurt Wolf(. Juntamente com Marvin Farbcr, fundou da Relevância") .
onal Phenomenologica! Society e entrou para o quadro
da revista Phiiosophy and Phenomenologi<:a/ Research
cio., em 1941. Contribuiu com vários m1igos para essa CONTEÚDO E FORMA 00 TRAIIAI.HO DE SCHUIZ
sim como para a Social Research, dirigida por Alvin mo pensador, Schutz tinha um único propósito, o de es
a Ncw School., e para outras revistas e simpósios. Seus os fundamentos de uma Sociolo_gia Fenomenológica. Em
os para ilma apresentação sistemática e definitiva <lo de conteúdo, seus escritos formam um todo inter-rela
nsiderava serem as estruturas do mundo da vida coti- Em sua pdmeirn publicação foram delineadas as preo
sistema de relevâncias uele existente fotam interrom- de toda a sua vida; ela continha os temas básicos e col
uma morte prematura. problemas da maioria dos seus tex.tos posteriore.s. Esses
são essencialmente elaborações, modificações ocasionais,
·mentos e prolongamentos de sua posição inicial. Tal con
os TEXTOS DE scH UTZ Der sinnltafte .4ufbau der interna é ainda mais notável, pos(o que os fundamentos
elt, recentemente traduzido para o inglês com o titulo balho de Schutz foram propostos na região gérmano-
enommwlogy of tlze Social World (A Fenomenologia
Socia[), foi o único estudo que Schutz publicou 1 Encontr~•s'C, no finál deste volume, uma bíbUografi.:i completa d
ainda vivia n a Europa. Nos Estados Unidos foi que de Schulz.
INTRODUÇÃO
PONTOS DF. PARTTOA

rimeira Guerra Mundial e reafinnados durante e depois 1-epctições~ reunir abordagens dispersas de um mcsm;)
cesso pessoal de adaptação, nos Estados Unidos, à vida _representar toda a extensão do pensamento do autor.
às acividades de negócios e ao traba lho acadêmico.
Não estão incluídos aqui os trabalhos cécnicos sobr
orma , os textos americanos de Schutz consistem em menologia! propriamente dita, e suas exposições críticas
dependcn lc.s um <lo outro. ,A,Jguns ~ão sistcmáLico~.. e cscl'itos essencialmente filosóficos de pensadores corno M
ao cenlro das preocupações do autor; outros contem ler, Jean-l'a,d Sartre e outros. Os- textos escolhidos de
ções empíricas de certas concepções fenomenológicas: nhafie Aufbau de,· sozia/en \'Velt são dados segundo a
lda, justapõem idéias <lc outl'os escrilorcs às conside- inglesa de George Walsh e Priedric~ Le~mert; .º~
t~xtos
próprio Schu!:<; e outros, finalmente, são explicações dos ensaios foram tirados das publicaçoes ongm"1s.
mcn tos filosóficos de sc.u trabalho . A falta de coerência
esse conjunto de textos, é frmo das condições de. tra•
Sch ut,. Seu exigeme cargo . como executivo, só lhe ll . f'o11tos de Partida
er filósofo nas horas vagas. Esse. fato por si só explica
ragmentário de seus textos. amcric-0110s. As falhas desse
nto. que ele esco lheu como única altern2tivn ao sifêncio BASES FENO).•tENOI.ÓG TCAS Em seu primci.
m agravadas pelo falo de que ele não podia cscr~ver Schutz confrontou Max Weber com Edmund !Iusserl. Tá
dirícil compreender Schutz sem saber alguma coisa so
úblico espcdfü.:o. Em várias oc~iões. enírc.n t0u audi~n-
dois homens. suas posições serão rapidamente discutid
nomenologistas consagrados, de filósofos em geral, de.
melcct11al mais diverso, de professores de vnrias disci- A meta final de(Jiit;~Í:tera. a cria~'ío de uma Filo
cientistas sociais em geral e, em patticular, de soció- ptessuposições, Seu pOiito . de pnrtida !t'redunvcl são as
11tz nunca supôs que suas conferências e. textos, indi- cias do ser humano consctentc, que V1ve e age em um
e, pudessem (er um efeito imediato para quem quer ~,uc ele percebe e interpreta e que foz sentido para
a não ser para um pequeno número de ac2dêmicos e lidar com esse m undo, ek utiliza um roodo de intenci
com idéias pare-cidas. Não pôde_. assim, evitar as v5- e:::pontâneo, em termos intelectuais: mas ainda assi.m a
ções que se encontram no conjunto de seus textos. bá fase ou aspecto ela consciência humana que surja de
si próprio ; consciência é sempre consciência <le aJg1.1
aio1i...t de suas audifricias nüo estava famíJfarizada com
entos da Fenomenologia, Schutz sentia-se forçado a As formas de consciência estão ligadas ao conteúdo
riências. Experiência é atenção ., dirjgida': pata objetos
antes de falar de qualquer tópico espe.cífico. Como um
imaoinários. matciiais ou ideais: e todos esses objetos s
us ensaios reunidos dão a impressão de que ele cswva
Cion~dos···. Esse é u1n. "próc.~ss~ imanent~ de tqd~ exp
ente engajado na propagaç.ão <la visão fenomenológica.
essa maneira é que ele podia c,spcrar ser ouvido sem o objeto é construído de modo apercephvo n a sinte,e
cerpretado. ~cntcs per-spectivas dàs quais o objeto é de fato visto
riormente relemb rado de maneira tipificada.
Esse fato pode ser comprçe~1dido rcncxi~amente;
ROTEl RO DOS 'l'EX'rOs SHEC!ONADOS oobjetivo menologia é. extrníd~ dessa re~l exao. S~uJ2rtg2c11~0 passo_
é oferecer uma ,1prcsentação sistemâtica dos pensa- todas .J!.L..!lQ~ç_s_ pt~l!..q_biflas com selaçao _a nature
Schutz na medida cm que são relevantes p ara a Socio• dê's'ses objetos e des~a realidade de gue se ocupa a co
m selecionadas seqüências coerentes do seu livro The humana. Husscrl insistia cm que se partisse dê uma ..
o/ogy o/ lhe Social World e de cerca de vin te de seus ----
ssas seqüências foram arranjadas e combinadas por 1 O texto <.:umplclo cfa nrniur purte clús .!nsaios de Sch~t~ pod~
diferen temente da fonte, para reduzir ao mínimo as trndo nos tN:::: volumes de Coll<fcted l'apcrs. Ver a fübhog:n1(1
deste volume.
IKTROJJUÇÃO J'ONTOS 0/l PARTIDA

' no umundo exterior", qu~g_qmo é ingenuamente mos; o método 'redutivo' pode estender-se da p rópria exp
m indivíduo qualquer na viela cotidiana, quer o que é de àlguém para a experiência, de um in•divíduo, de outr
menie inierprelado por filósofos ou cientistas. A " reali- Husserl chegou a falar de uma "redução intersubjetiva''
e mundo exterior não é confirmada nem negada; em uconscie.ncia comumn "àquilo que une as consciênci8.s
é "colocac.la entre parênteses" num ato de " reducão duais'' na "unidade fenomenológica da vida social H . P
ógica". Depois de elinúnadas todas as suposições o~t<r ser mal inte1·pretado, ressalva que "o intersubjetivo, feno
que sobra são os proCe$SOS da consciência hulllana b~Camente reduzido e concretamente apreendido, é. visto co
ctos intencionados". A esta altura, esses últimos já nio 'sociedade' de 'pessoas' que compartilham uma vida con
erados colllo objetos no mundo exterior, Jllas como Nossa consciêncfo d~ outros eus "nos oferece ma.is que um
de "sentido" ou "significado" no "mundo interior" cação do que cncon tnm10s na nossa própria conscJênc
uo consciente. A redução psicológica, então, faz do estabelece a diferença e-ntre 'si próprio' t.: 'outl'o', que cxp
da experiênda humana un1 mundo de uaparências" tamos, e nos apresenta as c-aracteríslicas da 'vida sodaP ".
s na mente humana, com os seus significados inten- daí uma nova tal.'efa: "revelar as intenç,õcs de que co
on-csponc.lentes. Essa preocupação central corn a expe- 1
'vida social'". ''O fenomenologista deve examinar nã
jetiva tem dois lados: a(cnta para os processos cons- 'experiência de si p róprio do eu', mas também 'a expcrifn
própria experiência, para o " noético"; e t1·ata daquilo dela deriva, de outros eus e da sociedade' ",
bje.to da experiência, o "noemático" . O que Husserl indicou aqui não 6 outra coisa senão
l não limitou a redução fenomenológica ao nível em- a que se dedicou A!fred Schulz ao procurar fundamen t
lógico. Os resultados obtidos nesse nível .são submeti- mcnológicos para a "Sociologia da Ação e Com preens
egundo .r rocesso de redução; são ''exp urgados de todo Max Weber promulgou nas últimas décadas de sua vid
mpírico e psicofísico" . Tgnoranc.lo-se o "lado íatual
enos", descobre-se o "eidos" das fonnas a priori de
Com ele, constitui-se a "i'enomenolo~ia eidética": DASES soc10LóG1CAs Webct)esboçou a su
o fenomenológica revela .ús fenômenos J'a experiência num conjunto de afirmações parndign1ã1s que somente apó
l; a redução eidética a essênci2 ·tias formas que com- morte foi publicado ern sua forma final.4 Começou por d
periência psíquica". Sociologia como " uma ciência que tenta compreender d
mente, Husserl somou a esses o último nfrel., o da interpretativo a ação social e através disso explid-la
logia Transcendental", colocando CnLTe parênteses não mente em tcnnos- de curso e e feitos". Ação é conduta
o ex(erior, ma$ também a consciência individual. Ele que pode consistir em atividades físicas palpáveis, em at
;sim ver-se "face a íacc com a e-strutura supre.ma da da mente, cm falta de ação deliberada, ou em tolerânci
n. No entanto, não precisamos preoccipar-nos aqui com cional das ações dos outros. Em todos o~ casos, porém,
va. Sua importância é remota para a Sociologia Feno- d uta h ulllana só é consiúcrada ução quando e na medida
de Schutz. Por outro lado, não .se pode exagcr'lr a a pessoa que age atribui à ução um significado e lhe
da Psicologia Fenomenológica de Hussetl para e., ta
J Puw uma e.'-:poi:içSo do próprio Hul>scrl sobre su3 Filosofio, \'fT s
"Phcnomenolúrs " na Encyclopaeclia Brifa,wic:l:, 14.:·1 cóição, voJ. 17
cologia Fenomenológica de Husserl estende-se para de Chic.il50. l9 11ó), pp . 699-702. Os trechos ci1ados u<:tma pe.rtem:
artigo.
onte.iras da consciência individual. Ocupa-se da inter-
c bem como da subjetividade. Daí ele sugerir que -l Wirtii,·ha/t uml Gescfl..,c/rajt; 3.ª ediç.ão (Tübingen: J. e. B. Moh
lhante 'colocação entre patênlc.scs' de obje.tivo e a p.:utc J, cap. 1, "Soziologische Gruudbegriffe", pp. 1·30. Dcddimos
com base no original aicmílo t:m vez de usar a Lra<lução <le J·f
o que e.ntão 'aparece' (noema em noese) podem ser f'.arsons, ou outrn qualquer, já que nfnhum~ delas está livre de :
a 'vida' de outro eu, que representamos para nós mes• ocasionals de signiíicado.
PONTOS DE PAkTIDA
1NTRODUÇ'.ÃO

que, por sua vez, pode ser comprccodida como signi- Segun do Weber, os sociólogos podem falar de duas
Essa conduta intcncio;1ada e intencional torna-se social ras da validade dos resultados obtidos com respeito aos c
é dirigida à conduta <le outros. Isso, em resumo. é a de ~ignificado subjetivo e motivação. A intetpretaç.ão mo
ão de Weber do significado subjetivo como critério de nal de uma aç.ão é "evidente em termos de significad
ncia fumfomcntal para a com.preensão da ação humana. não é c-orreta cm termos causais. Porém, tonJa-~c "adequ
concepção (JUe fc1. Schutz ve1· na teoria da ação de termos cau$~is:'' quando o sociólogo se convence da existê
uma ponte que lhe permiciria pas,ar do reino da Feno- po,,;ibilidade de que uma detemliDada scqü6~1cia de co
ia parn o da Sociologia. -mento sivnificativo, desempenhada por um numero razo
ber insislia cm que a Sociologia basicamente ocupa-se, pe.ssoas :m várias ocasiões diversas, vá sempre, .úu fr
menos de.veria ocupar-se, do significado subjetivo da con- mcntc, ocorrer da me,sma maneira. Não se pode es.t
cial. Mas ele usou o tcnuo significado subie/Íl/o com nenhuma lei causal de conduta humana; tr sociólogo trab
um sentid<>: designou com ele o significado que o p t·ó- melhor das h ipóteses, com "possibilidades típicas" de qu
r atribui à sua cond uta e wmbém o significado que il minados conjuntos de fatos observáveis levarão a deter
ia imputa à conduw de um át.or observado. No último c.ur:;o::; de ação social.
u mais duas possibilidades: ou o sociólogo tenta encon- De acordo c.om ·esse postulado, \Vcbcr definiu o re
ue seria uma média típica do significado que um número mento social como a conduta de diversas pessoas que, c
de pessoas atribui ao mesmo tipo de 2ç.ão: ou constr6i um <la<lo contexto de significado, se <lirigcrn e orienta
extremo ou ideal úe tal conduta, mostrando suas caracte- com re1ac.ão às outras; ex.istt: "comp]crn: e exclusivamente"
cm condições "pur..i:;". Essencialmente, qualquer tipo
ação baseia-se na supos.ição de uma conduta estritamente
a acão, -
s~cfal oc-0rn1 de uma maneira si2:nilicativn previs

por parte do ator ídeal típico. Weber inlercssou-$e prin- SÍNTESE CRÍTICA Schutz logo com preende
re pela "ação racional", não por achar que seja o tipo portância das t<!(lrias de Husserl e ele Weber, e nunca
qiiente de conduta humana, mas por. se.r o mais accs!--ívd em sua convicção de que os dois liaviam apresentado
de quem observa. No entanto, adm.itiu mais dois tipos: fundamentais nesse campo. No entanto, submereu a m
ta ltadicion~l, que. segue as linhas do costume, e o com- e uabnlboso exame cada uma dessas concepções e -soluçõ
nto irracional, na verdade uma categoria esquecida, que vi<lu~is, revelando assim o engenho e a importfü1cia de
chegou a analisar adequadamente. a nccessicladc de revisão e desenvolvimento de outras e
famoso conceito de Weber de Verslefien, ou compreen- ciênCla de outras alnda.3
estreitamente ligado à sua teoria da conduta subjetiva- A~sim, após longos anos de estudos intensivos das
ignificativa, designando, na realidade, nada 1nais que a publicações de Husscrl, Schulz chegou à conclusão úc
ns,ão de tal conduta subjetivamente significativa po1··011tra repctidns tentativas de Husserl de solucionar "o probl
geralmente um sociólogo. A compreensão pode ser empá- inters ubjerividade" no nível da Fenomenologia Transc
racional. Ivfas; como sociólogo, ele interessou-se· prin. rinham fracassado. Afém disso, chegou à conclusão de que
te pela compreensão racional. Tal compreensão pode "não estava a par <los problemas concri;tOS das Ciêncüi!
a ob:::ervação d.freta de. um ator e assim constituir uma falo que muito o prejudicava quando lidava com rclaçoe
ensão re~I''. Ou pode basear-se cm molivações Sftbja- e grupos sociais.6 Como sociólogo, Schutz tinha competê
a ação ohscrva:dn; nesse caso; é uma "compreensão expli-
Uni. motivo nada mal~ G que um "contexto de signifi~ 5 A tc:orfa da ::.c~<.1. de \Ve~,er. foi cxpn.:sli..i nl!m csbOÇ(l p1m.1dig
ue apare.ce como a "ta2.ão" para a c.on<luw humana; um mfaüno de iÍ-1formaçõcs: as· com:epções de Hus.Serl foram dc:;.
tudo para o próprio ator e, secundariamente, para o com esforço, em amílise.s detalhadas, altamenlt! (écnicas, scrn que
o que observa. Ao atcnLar para os moLivos, o sociólogo .sempre levassem a conclusões definida.,;.
6 Ver Hem 1959c da Bibiiogratia, p. 88.
olvido c.om a interpretação através das n1otiva~.:ões.
INTRODUÇÃO SOC!OLOGL\ FENOME NOLÓGICA DE SCHUTZ

ara localizar como também para superar essas falhas, dese-n- binacão desses componentes, mas na sua transformação
endo alguns conceitos rudimentares de Husscrl de modo a de Úma teoria fenomenológico-sociológica auto-suficien
fonná-los nos alicerces de uma teoria sociológica do mundo
l. No curso desse empreendimenlo, fez várias contribuições
rtantes, especialmente no tratamento que deu aos fenômenos III. O Quadro da Sociologia
pi(icação na esfera da vida cocidiana. Conseguiu, afinal., des-
o nó .górdio que era o problema da inlctsubjetividade de Fenomenológica de Schutz
modo tiio engenhoso quanto simples.
As seJecões incluídas no presente volume . deveriam
J::studa ndo Weber profundan,cnte, e de certo modo definiti- si . Entretanto, são apenas parles de el)saios ou capi
entc, Schutz reconheceu, cm seu primcfro estudo, o brilho longos , e as rnat6rias que aparecem sob _um mesmo lítu
corno as falhas ela fundamental, mas ainda assim excessiva- provtm de fontes diferentes. Elas nem sempre trazem
e condensada, teoria da ação social d<> famoso sociólogo ale- dução própria, e as transições de umas para as ouLra
Weber nunca chegou a aprofundar-se nos problemas !,>erais neccssatiameute explícitas. A lítulo de assistência ao le
étodo e teoria além do exigido pelo seu próprio traballio, se um esquema do pensamento básico de Schu tz, acom
ém substancial. Dessa fornui, operava con1 suposições tá- a ordem em que seus re_xtos são apresentados neste l
as quais pediam elas próprias in vestigação shste1mitica, e
seus termos fundamentais c,u diferentes sentidos. sem ana-
as diferenças de sua aplicação em nÍ\•eis diferente~ ele racio- O CAMPO l)E AÇÃO DO )?'ENSAMENTO DE SC H
sociológico. conteúdo das idéias e concepções de Schutz pode ser s
cm cinco tópicos principais: os fundamentos fenomenol
A crítica de Schutz a '\l\Tcber não resultou em refutacão de o tipo de Sociologia que ele visava estruturar (parte
um dos postulados básicos deste último. Constittúu, vez ~;n lume}; a estru(ura e o funcionamento da consciência
esclarecirncntos, exposição de sigiúficados obscuros descn-
suas ranúficações sociais (partes II e III) ; _a estrutur
merilo de certos conceitos além do ponto onde Web;, parou
cionamento do mundo social como um coniunto de c
anii Use e estabelecimento dos diferentes significados que mentais e suas du_plas raízes na experiência individual
s conceitos assun1iam quando usados em contextos diferen- drões pree.stabclccidos de relacionamentos sociais (par
Nesse sentido, Sch utz simplesmelllc desenvolveu conceitos características de diferentes domínios da experiênc
rianos na direção indicada pelo próprio Weber. Mas, acres- (parle V) ; e os fundamentos teóricos conceituais, assim
dos conhecimentos provindos da P•sicologia Feno111cnológica, metodológicos, de uma Sociologia de orientação feno
álises de Schutz de conceitos tais como ação subjetivamente (parte VI).
icativa, compreensão através de observação e motivação,
reLaç·ão subjetiva e objetiva transformaram-se em importan- · O esquema a seguir delineia esses tópicos e suas
subdivisões na forma e seqüência usadas neste volum
ontribuições pata a Sociologia interpretativa, que tem suas
no trabalho de Weber, mas que cresceu muito a partil' daí.'
Em função de seus pontos de partida mais fw1damentais, o I. Fundamentos da Fenomenologia
ho de Schutz pode ser considerado uma síntese de Husscr.l 1. Exposição e aprovação de grande parte d
ber. Mas essa síntese foi rc.aliwda atrav-és de longos pro- ções fenomenológicas de Husser!~ e~peciu
<le seleção, adaptação e modificação de componentes 1:ele- quelas de relevância par.a as C1cnc1as S
s das teorias de ambos, resultando não numa simples recom-
2. Elqiosiç-ão e clesenvolviment<> <la concepçã
ogio crírico Jc Schut7. a \Veber encotitr~•sc em Th~ Ph~t:Qmer.<11'og;-' do <la Vida, concepção essa fundamenta
Social World~ especialmente nos c:.tpítulos 1, 4 e 5. dagem fenomenológica da Sociologia.
INTRODUÇÃO SOCfOLOGT.A FENOMENOLÓGICA DE SCH U TZ

O Cenário Cognitivo do Mundo da Vida V. Reinos da Experiência


3. Discussão da expcriêncja subje.tiva na vi<la diária e 12. DesenvoMmento da concepção de William
interpretação do mundo que surge dela. de realidades e universos mú1tiplos. num
4. Análise dos meios de orientação e interpretação da- que abrange as diversas províncias de sign
dos pela sociedade de que dispõe o individuo na focalizando a justaposição da realidade prin
vida cotidiana. vida diária com as províncias de signific
sonhos e fantasias, de um lado, e as da c
.5. Investigação do.s fatores responsáveis pela escolha científica, de outro.
de aspectos vivenciados do ambiente, nos quais a
atençlio se concentra, e das esferas e sistemas de VI. A Província da Sociologia
rclevi.lncia, inclusive, principalmente, os processos
de tipi(icação e a aplicação dos tipos conceituais. 13. Exposição das rafzes do raciocínio sociológ
metodologia sociológica no mundo da vida
Açiio no Mundo da Vida na. Desenvolvimento de procedimentos me
cos básicos para sociólogos; concentrado n
6. Desenvol virnento de uma teoria subjetiva da ação çíio de conceitos em geral, em procedimentos
humana, onde ela é vista como um processo funda- ficação em particular e na combinação d
mentado em funcões de molivacão, tais corno para a construçlio de tipos ideais.
"1,"37Á>1;is" e "obJetiVos", e guiado po( anLccipações na
forma úe planejamento e projeção. l4 - Aplicação da abordagem fenomenológica a
investigação e a tópicos sociológicos especí
7. Esclarecimentos sobre os problemas de volição, es-
colhr., liberdade e determinismo dentro do conte1'to
da ação humuna. i} F UNIJA'.',!ENTOS FENOME1'0LÓGICOS A
nologia se ocupa da realidade cognitiva incorporada
O Mundo das Relações Sociais cessos de experimcias humanas subjeti vas. /\.o estabele
a sua Filosofia quadros de rcferêocia correspondentes,
8. Análise de relacionamentos interativos que resultam desenvolveu mn número considerável de conceitos. A
de processos intersubjetivo!j expressos nas ((relações deles apresenta dificuldades para o leitor que não está h
do Nós". aos modos de raciocínio muito pouco convencionais da
9. Tnvcstigação elos processos ú1tersubjetivós de comu- nologia. Portanto, Schutz cuidou de explicar cuidadosam
conceitos de Husserl relevantes para seus próprios estudos.
nicação "face u face." entre os semelhantes, consi-
de seleções de textos q ue abre o livro 8 é uma constat
derando, em especial, as formas lingüísticas dess~s
processos. significância de Husscrl para a Sociologia, seg1.1ida dos c
fenomenológicos de Schutz, sociologicarnente fundamen
1O. Exposição das características de relacionamentos so- consciência. exl?eriência, .significado, conduta., icatenção à
ciais indiretos entre contempoi-ilneos anônimos e de ''ação no mundo exterior".
ligações sociais entre contemporâneos e seus prede- Nesse contexto, H1.1sserl não fig1.1ra como o único cri
cessores, de um lado, e :mce.ssores, de outro. bases da Fenomenologia; Henri Bergson e William /ame
cem como contribuidores independentes. Ainda cm 188
11 . Tratamento <los problemas da distribuição social do
conhecimento.
S Ver cap. 1 deste livro.
INTRODUÇÃO SOCIOLOGIA FF.NOMENOLÓGICA DE SCI-IUTZ

blico\! su2s primeiras investigações sobre a natureza da cias de vida anteriores. Tanto o conteúdo como a seqüênc
ncia do tempo: a durée, ou "tempo interior", da experiên- experiências são exclusivos dele. O indivíduo se encon
etiva, em oposição ao "tempo exterior", ou "tempo cós- qualquer momento) numa "situaçfto biográfica determ
medido pelos relógios. James, 11m ano depois, contrib11iu Assim, subjetivamente, duas pessoas jamais pt1derfam viv
as explorações não menos fundamentais sobre a "corrente mesma situação da mesma forma. Acima de tudo, ca
ciência", o fluxo de pensamentos, noções e expressões chegot1 a essa situação atual tendo em mente seus próp
: com suas "orlas" ou "haiosn <le associações e emoçõe~; P?sitos e obje\ivo3 e a avalia de acord? com isso; e esse
sso real de vivência da consciência, tão distante da pre- sitos e a avahaçao correspondente estao enraizados no
e uma proposição silogística qt1anto a durée de Bergson sado, na história singular de sua vida.
e-taque ele um melrônomo.9 Em terceiro lugar, Schutz ocupou-se dos meios atr
mo experiência sempre é experiência de alguma coisa, em quais um indiyíduo se oticnta nas situações da vida, d
falar ele experiência vamos tratar do conteúdo da expe- ~iên:_i~, que ar~nazcoou'.' e do "estoque de conhecimento
º De acordo com H11sserl, todas as experiências diretas a mao . Ele nao pode interpretar suas expcr.iêucias e obse
s humanos são ex.pedêndas cm, e de, seu ~'mundo da de~in_ir a sil:'ação em que se encontra, fazer planos, nem
las o constituem, são dirigidas a ele, são testadas nele. O prox!lllos mmutos, sem consultar seu próprio estoque de
da vida é simplesmente !oda a esfera das experiências mento. Schutt mostrou que esse "estoque" é estruturado
as, direções e ações através das quais os indivíduos lidam rios modos. Em qualquer situação dada, ah,ns iie seus e
s interesseã e negócios, manipulando objetos, tratando com são muito relevantes; outros mais margina;; e outtos, ain
concebendo e realizando planos. levantes. Por outro lado, certos itens desse estoque de
hutz focalizo~ esse mund9 da_tld'L.d~ várig_s--ª.!)fil!!p.J. Pri- . menta podem ser precisos e distintos ; outms vagos e o
nalisou ã. ('ãtifocfo natural" que ajuda o homem a operar Como um todo, o estoque de conhecimento de um indiví
Uõ da vida: ufüa postura que reêonhece os fotos objetivos, está absolutamente liwe de incoerências e contradições
íçôeT pará ãs ações de aéordÓ.. com os objétós • -voltiÇ a que esses elementos incoeren tcs e contraditórios não ve
e aÇfüfühções de outros coni q11em· se füi:ii de cõopêfiir tona 11~ mesm~ situação, o ÍJ1divfduo pode permanecer tr
, · às iinposiçõí s- ilos costumes e as prõi6'ições ·aa lêí, e mente mc?n!c,ente deles. Essa mesma ineli,;,açlio pragmát
or -cli:iiiic.T-~ sa ·-põsfürã é'....êsSeuCiàlhlefité pfãgmáUcã, aci- que o md1v1duo, enquanto permanece em "atitude natura
u-do utilitária e, supostaroentl:, "r~alista". c~e um conl1ecimen10 claro. sistemático e lógico, sobre q
segundo lugar, Schutz estudou os principais [atores de- coisa, além daquele conhecimento que é necessário para
ntes da conduta de qualquer indivíd uo no mundo da vida . zação de suas operações e planos práti.cos, o qual, fr
er momento da vida prática de um homem não se esgota mente, assume um caráter de rotina.
tuação específica, contendo limitações, condições e opor-
es com rçfação a seus objelivos; tal situação é apenas um ii) o CEN., nro COCN! l'IVO DO MUNDO DA VIDA
na commte <le sua vida. Sua posição dentro dela é a de acordo com a teoria fenomenológica, cada indivíduo co
ssoa que atravessou toda ttma longa cadeia de cxpcriên- sett próprio "mundo". MJs o faze com o auxílio de ma
métodos que lhe são oferecidos por outros: o mundo da
Mtr fqs. domuíes iu11-nédiutes de la ccmscícnce. de Hênri Berg:'°º•
c.ado em 1889. Os volumes de William Ja;:nes, Tl:e Prht-cipfr.:s of
u:n mundo social que, por sua vez, é preestn1turado para
.·, Q seguiram, em 1890, contendo o cupíLulo º Thc Strearn of v1duo. Procedemos, assim, à análise de Schutz desse jog
, O prllnciro estudo vcrd~dciratnente fenomenológico de EdmuJ1d os esforços do individuo para. compreender o mundo soci
o segundo volume de seu Logische Untersucltungcn, apareceu e1n volta e a preestTUturação cognitiva própria desse mt1nd
cs três estudos conseguiram. finalme:r:ite~ igual imporlt!ncfo parn o
imento de uma abordagem fe1lomenol6gica do campo d~ Sociologia. 11 Ver · cap. 3 dcsrc livro.
ap. 2 deste. livro.
INTRODUÇÃO SOCIOLOGIA FENOME-NOT.ÓG!C,\ DE SCHUTZ

indivíduo toma o mundo social à sua volta como um cam essas cooccpçõcs. Nesse sentido, segundo Schutz,
sto. assim coroo a exisLênda e us.o ou recusa dos objetos interno estabelece, e mantém, uma auto-interpretação co
ou ,mimais encontradus no seu ambiente natural . Esse representa a concepção comum, interna, da comunidade.
então, lhe é dado. E. com ele, são dadas as interpretações bros de qualquer commúdade cultural vizinha têm a su
tiplos fenômenos, relacionamentos, etc., do mundo social, uconcepção relativamente natural dv mundo'' e só vêe
e dcsem·ohidas pelo "grupo interno" cultural. O total meira comunidade de [ora. Sua própria comun idade,
ntetpretar;ões forma a ''concepcão re lativamente natural vez. é vista de fora pot seus vizinhos. Assim, a visão
do", que, por sua vez, baseiã-;c nu~ "m.ito ccnlral". 12 de outras comun.idades torna-se parte da "concepç.iio rela
ão do mundo contém não só a interpretação mais geral natural do mundo" de qualquer grupo interno.
da comunidade entre outras comunidades humanas, e Mais u ma vez Schutz trouxe essas considerações
ção aos reinos da natureza, do cosmo e do sobrenah1ral, ao nível do si,_-,úficado subjetivo. Num estudo revelad
mbém a dos muitos costumes e normas que regulam a Sttangcr" ("O l::stranho'') ,is analisou os problemas de o
humana e mais as muitas receitas de comportamento e adap tação que afetam a pessoa que, tendo crescido
nos campos sociais e 1amb6m nos técnicos. No entanto, munidade cultural, é transferida pal'a outra. Ela chega
o para sociólogos como Sumncr e Durkheim toda essa quadro "externo'' fixo da comunidade que a recebe e
rutura social funciona como um mecanismo determinista que isso não lhe impede de fical' desorientada, as sua
ivo, Schutz realçou o significado subjetivo da participa- noçõe.s relativas à conduta diári« revelam-se em gran
essoa cm. sua comunidade. Esse significado é produ(o dos inúteis. Ela ê, assin1, forçada a, p,i mciro, observar os
do individuo para alcam;'-'r uma defüúção de seu pró- vida da comunidade que a recebe e, depois, a recons
ar, de seu papel gemi dentro da comunidade e, especial- por um, pelo menos os conjuntos de regras básicos pa
entro dos vários subgrupos a que pertence. Dessa forma, duta prática, i:.em os quais lhe :seria impossível a vida co
mostrou que mesmo as idéias culturais mais cslcrcoti- recepção pelos membros da nova comunidade, por outro
cialmente só existem nas mentes dos indivíduos que as fleleJ "de fora", as suas te.ntativa:; de adaptação. De
m. jntcrpretnm-nas em função de suas próprias situações consideram a posição do estranho como de não-envolvim
com um matiz pessoal que os antropólogos que as outro, sentem que a sua aceitaç.ão do comportamento
m frcqücntcmc.nte ignoram. carece do "espírito" peculiar à comunidade nativa . Con
uestão, portanto , é como as múltipJas imerpretações par- mente, ele fica sendo uma pessoa em quem não .se pod
sua lealdade ao grupo interno é duvidosa.
dos que compõem a " concepção relativamente natural
do", em q ualquer comunidade cultural, convergem para A obscrvaç.ão que se :;egue, com refação a isso,
ão comum do mundo. Schutz enfati,ou que essa unidade importante para a Sociologia. Se o desligamento ó car
depende, antes de tudo, da crença por parte dos mem- do "estranho'', ele se transforma naquele que, como ob
comunidade de que. compartilham suas concepções do é capaz de oferecer uma visão "objetiva " da comunida
Em segundo lugar, depende de seu uso das mesmas ex- deira: não existe significado objetivo de participação nu
e formulações padronizadas quando aplicam ou expli- a não ser o que é estabelecido por uma pessoa que vê
dade cultural a partir de [ora .
toroou a prirneira de~sas expressões de "'Wilti:m1 Craham Sumner Até aqui, os textos selecionados de Schutz indic
ra tle Robert M. Maclve.r. A segunda t; do filósofo alemão ~fax mentc que o indivíduo, em seu modo de orientação
ue falou de relative-natürliche lVellanschauung, umú expr-ess~o n1undo da vida, é incitado e guiado por instruções, ex
menos equivalente no "et::o!l' ou "v:isão do mundo" dos :mttc.1•
Hledca:nos. Em :m a: tradução da expressão, S.:hulZ usou alterna- interpretações que lhe são dadas por outros. Se ele cons
s cxpressõ:.:s "concepção <lo mundo" e "aspecto do mundo". Nesla
só se; usa D. primeira versão, tS Jlhu,,riccm foumal o/ Sociology, 49 (1944): 499-507.
INTRODUÇÃO SOCIOLO<)l,\ FENOMENOLÓGlCA DE SCT-{UTZ

isão do mw1do à sua volta, o foz com o auxílio das ma- de seres humanos lhe atribui. Não existem marcas e s
mas que lhe são oferecidas nessa contínua cxposiÇ<ío aos si, n1as somenêe marcas e signos para alguém.
seus semelhantes. Ambos, o foto de estar exposto a c»as
Os textos escolhidos sobre este assunto não inclu
primas culturais e a su« aceitação, através de seleção e
cussão <lc Schutz sobre símbolos, o que pressupõe cons
ção, pressupõem uma linguagem comwn como meio a serem coloc$das mais tarde em outro c-0nlexto. As o
nicação entre pessoas e também como instrumento de categorias assumem, nos textos <le Schutz, as caructerist
para o indivíduo.1 4
cíficas descritas a seguir.
ratar da lintrua como meio universal de cultura, Schutz As marcas são lembretes subjetivos, pessoais, us
-se piincipahnente pelo vernáculo, a linguagem cotidiana indivíduos para simplificar o .seu retorno a uma tar_efa
pessoas dentro de seus grupos e comunidades. Não con- mente inte.r rompida, ou p:.ra lembrm,Jhe.s alguma co1sa
penas seus aspectos meramente técnicos, mas também cas devem ser diíerenciadas das indicações, que são obje
eúdos de significado mais amplos. Por um lado, seus ou eventos não-estabelecidos como signos, mas cuja p
ases e formas sintáticas, em si, constltucm já uma espé. tida por alguém como indicadora de outros objetos, fatos
é-interpretação do mundo desi~>uado nc~scs termos, carac- tos que não seriam notados ,de outra fonn ~. O evento
por essas frases e descrito com a ajuda dessas fonnas pode ser considerado si.mult,meo ao ap arecimento <la
is e sintáticas. Por outro fado , esses termos, frases e cor.no fogo e fumaça; pode preceder a indicação, com
tão imbuídos de signi(icadqs particulares, que são envol- na neve: ou sucedê-la, como a chuva sucede ao halo
H auréolas" de associação e emoção. Alguns desses sjbrni- <la Lua. · Os signos, em contraste, ou são artefatos, feito
dicionnis, superpostos, são essenciahuente privados~ par- dos por alguém para comunical' a.lguma idéia a algu
wna pessoa ou a um pequeno cfrcuJo íntimo de pessoas; pessoa, ou ações expressivas: servindo ao mesmo pro
o típicos de determinados gnipos e classes, profissões, signo, enhfo: remete a alguma intenção de expressão e
sexo; e outros, ainda, pertencem à comunidade lingüís- c;,iç5o de seu usuário e aponta para alguém que ''lê''
um (odo, embora não possam ser apreendidos por um recebe sua mensagem. Quando os artefatos servem com
o pot meio de dicionário ou de uma gramática. do signo, tais como placas de direção ou peças de com
rtir do trabalho pioneiro de Husserl, dentre as catego- escrita ou impressa, um período <le tempo indetermin
nentes ao problema da expressão e da comunicação, separar o ªdar-se" atual do signo <le sua recepção. Em
ou especificamente com os conceitos de marca, indica- quando são açõc-S expressivas e comunicativas que serve
e símbolo. B típico das formas concretas de qualquer culo: a intenção e a realização da oon1unic~1çfa> tornam
egorias o fato de que p recisam aparecer com uma forma t9ncas. Nos dois casos, contudo, o reconhecimento do si
m de ser coisas a serem vistas, sons a serem ouvidos., !>igno e o seu significado correto, isto é, Hintenc~onado
objetos perceptíveis aos sentidos humanos. Também é dem do uso do mesmo sistema objetivo de signos p
s, porém, que a forma física que tomam, cm qualquer p anes. Assim, um signo relativo a direção re.cebe sentid
cular, seja mais ou menos acidental. Ca<l.i marca, signo, do contcx.to geográfico em questão, no mínimo, ambos
ífico toma uma aparência física, mas nenhuma dessas onde o Signo se situa e o lugar para o qual aponta. D
é em si uma marca, um signo, etc. Sua aparência física modo, as palavras nas mensagens ,•crbais recebem se
nte um veículo de significado em potencial. Niio imporia do sis(cma lingüístico que forma sua matriz objetiva.
ue tenha, uma aparência física tom:M>~ marca ou signo A utilização, definição e discussão dos conceitos .d
m virtude <lo significado que um ser humano ou gn,po indicações, signos e símbolos têm sido prejudicadas por
dadcs. Em sua contribuição para o 14.º Simpósio de Ciê
4 deste livro. sofia e Religião, em 1954, Schutz expôs essa confusão
I NTRODUÇÃO SOC IOLOGIA FENOMllNOLÓGJC'A DE SCIIUTZ

m o assun to. 15 O mais importante foi ele ler separado Durante os últimos anos de sua vida, Schutz dedico
o de signo do de súubolo, termos que eram constante- e esfotço consideráveis à exploração mais apro(undada d
ados como sinônimos, o que o próprio Schutz fez ern Jilemas da releviincia", indo muito além do seu tratame
Nessa ocasião, ele mostrou a necessid~de de se fazer uma rior desses prohlcmas, 2º ,\ parle a distinção entre relevã
terminológica onde ex.iste, de fato, uma .irnporlante dife- posta e volitiva. ela pt6pria da maior importância, ele
s símbolos são, segundo ele, signos de outra categoria, três tipos <li.ferentes de relevância: molivacional, temátic
de $ignos, como mostraremos depois. Os e::sclarecüuentos prelacional. Corno não foi pos~íYel incluir neste li
z, aliás, rcvcla,u que a aplicação do (ermo simbólico explicação suficientemente condensada sobre esses ass11n
ração simbólica", r6tulo da Psicologia Social de George pelo próprio Schutz, faremos aqui uma breve caracterizaç
Mead, é uma escofüa infeliz. Não por usar o termo três tipos de relcvil.ncia,
" onde Schutz ter.ia usado ''signo'\ mas por ignorai- a A relevância rnolivacional é governada pelos inter
entre duas categorins substancialrncnte diferentes de pessoa, os interesses p.rcdomin:mtc:s num determinado m
de exptcssão e comunicação de slgnific:ido. Mas isso numa determinada situacão. Assim, ele separa, dentre o
ão teria grandes conseqüêncfos não fosse- o fato de que tos presentes na situaçãÓ, os que servem para dcfini~I~ à
Mead tratou não só da comunicação ordinária, mas propósitos que essa pessoa km em mente. Essa relevân
dos problcm<1s da expre.ssão artística, avançando. por- vacional é imposta quando a pessoa tem de alentar pa
esfera dos signos para a do :simboHsmo genuíno. 17
elementos da situação de modo a compreendê-los; ou surg
extos escolhidos de Schutz, que se encontram na última ta11carncn1e ôe sua vida volitiva: a pessoa se sente livr
seção sobre o "cenário cognitivo do mundo da vida", çlesimpedida, para definir a situa9ão ele acordo com os
passar pelas carac(crísticas gerais dos veículos de ex- nos e intenções, A i:clcviineia motivacional ·de qualquer
comunicação, retornam a aJguns aspectos pertinentes a Lipos :só funciona satisfaloriamcn Le em siti,mções cujos tra
tual, uso esse qué é sempre scletivo, 18 Aquilo que, em mentos principais são suficienlerncnte familiares,
situação dada, é formulado, comunicado e c,:,mpreen-
penas uma fração do que poderia ter sido percebido. Se não é es.se o caso, a situação não pode ser def
o que está presente numa situação é importante para maneira pragm.útica, ou seja, através da rccombinílção el
s nela envolvidas. Na verdade, alguns dos fatores de tos razoavel mente conhecidos. Assim: a tendência mot
ção impõem-se aos atores., constituindo assim Hrelevân • para a ação pode ser suspens<J, pelo menos. L cmpnrar.iam
stas". Outros são isolados pelo indivíduo, que os con- situação torna-se problemática, O indivíduo cem de s~ pr
portantes para c.le, no momento.: cs~es assÚmem. uma entiío, cm reconhecer o problema, De ator em pOLcncial
a voHtlva>:_19 transformar-se em pessoa capaz de resolver problemas. l
é preciso definir o pr(lblt:ma. Ele agora tem importân
ribuições i: discussões dc:si:;a coiúerência foram publico.das no para o indivíduo; tornou-se o tcnrn de seus esforços co
t-. Vt:r item i95Sh tfa -BibUogra(iu. Por isso, Schuiz designou a rel.evilncia relativa ao pro
7, pp. 118 e seguinte:;. "relevância temática''. Evidente.mente, que elementos e1n
o de Mead pode ser encontrnda cm George Herbert ~k~d. MiJ;d, tuação são capa,,:;$ de c{1nstitt1ir problema para um det
uciety (Chiéugo: The University of Chic~go Prtss, 19J4), p.p. individuo depende de seus in.letc.sscs preestabelecidos.
sim. O autor desfa introdução e~p:.::ra ter conseguido dernomiiTrlr
num estudo crítico das semelhan~-us e djfere.n.::~1s básicas das nhecido ou o problemático, numa dada sit-uaçik), só se to
Mead e Schut,:. ~ vruHc na medida em que impede a formação de uma
5 deste livro.
anl!scrito ~iudn. inL'dico. Die Strukturet: cier Lcbenswefl, &hulz Num cm:aio e<lit.:<do postumameme ( l 966a) . Sd1uc2 npre.se.11to
.1-0
au.ferlcgte Rrdcwa,•;zu e "jrciwillige Refe11anz". A trnduç.So fite• sadarncnfo a ver~o íinal de ~ua concepção de rclcv~nd,t. Um
n·cca do segundo adjetivo se.ria "~•oh1ntária", mas. consideramos mai1> aptofund~do do problema está comido nos longos manus
m termo m•~is pró:<lmo de l-}.cnddo intent:ionado da expressão. ainda espernvau.1 public-as(1o na época cm que c-~t~ fotroduç»o foi
JNTROl)UÇÃO SOCJOl, OGIA FEi\lOMENOLÓG!CA l)F. SCJ-iUTZ

o <lc acordo com os inte!'e-sses e p.fanos aluais da pessoa. para se chegar à meta visada: preciso saber que instr
m, em vez de prosseguir com seus planos, ela é obrigiwa estão ao meu dispor, embora não tenha de saber como
wNe em atividades cfe cogr,icão e.-i=tigaç_ão, _Solu- duzidos. E preciso saber que perito consultar, embora não
problema adquire prioridade em relª cão__ap prajeto o saber que ele possui Uma terceira zona de relevânc
regiões que, "no momento:,, não têm ligação com prcoc
;,ceiro tip,2...de~Jevâncl!,, _Qll_<LS.chut:z_chama..de-!!.in!er- imediatas. Schutz as chamou de "relativamente irrelevante
!.'..'., _Qçpp_e_como . nma..exlentifo_do segrn\do~ Q..r_e(;Q)llle- podem, contudo, tornar-se imediatamente relevantes mai
o problema cm si,_~\la.fonnulação_como uroblema real, Finalmente, Schuiz falou de uma zona de irrelevância a
ã"interprêiãção"Tnais apro~~•,1tjaçla, No entanto, ~~ o conhecimento de que cstamqs convencidos de que não t
a_r.ã 'ü n1.a_1,1,gya_jJ1!~r.P~taçR<u olocam)o-se o probl_ema virá a ter relevância para o problema em causa. Ele s
to mais amplo_ do__ç_onh?cim_çpJo ••do__ator J rustrado, o q ue essas zonas niio são regfões fechadas, mas configuraç
supõe que vá possibilitar a compreensão do problema. tante diversificadas , com formas estranhas.
dÕprobleiiíiipõc!esefsâfisfã1Õtiamente_e;;,p.!fua<lô' aíra- No domínio da análise sociológica propriamenl!Llllia
nneCimento rouneu:o à disposição do indivíduo, a int_cr• atentou .llilI!LOS_sls!emas..sociaiS-de- releMãncia~ i.~to- é..-Xel
se dá rapidamente, e a ação pode ser consumada. Se, qlíe fãzem patte_ç!-ª heral}çuocial !,Is: QUalquer_comunid
o, a pessoa cm qucstao nao consegue attnar com uma f!!.TI!_f..!-...E__,.q~~- como_.tai~, sãq_p~s_aAas à geracão mai_s n
rotina, vai ter de fazer esforços deliberados para che- acordo com a sua hierarqub cultural de valores, qual9.ue
in tcrprctaçi.io satisfatória desse problema, ante..~ mesmo sôêiãn~- cültural estàb'elece seus prõpi'ios «·a oniínios -det
movimentar-se, :ltravés de outros esforços deliberados, cfo". E ssesdoríifnios-·coristftúeiiCwi'fã-âcrc nnihãâa orclem
o de sua solução ~eal. Tudo o que ela considerar po- guica. S.ãô, em gêral,.hctCtog·ênei1s-1 ·os Ci-i~érios quê num
te importante com relação a esse.s csfoJ:Ços constitui o consti tuem mérito não são necessariamente idênticos cm o
a urclcvância intcrpretacional 1
'.
mínio . S.e.,_Jlot cxcm2lo, os emp_reendimcnlos_J,q;J.!kP.s__e_
cupações religiosas formam dois donúnios d? rele'@!)cia d
seleções que fizemos dos primeiros textos de Schut7. páiecc-nos q\Íe conhece r engenharia seja ir.releyan!e_p.ata..
ídas essas distinções, de forma rudimentar. Aí, ele falou nõ -senttdõTcligiosõ;-ê víêêjier~tf- II so é verdade não
cias imposw e intrúiseca, sendo a última "resultado de qua'l-aõifüiiiõ,õt!a 1Jcnica ou o da religiãQ, é considerado
eresses selecionados", p roduzido pela livre decisão de importanté. No primeiro caso, princípios t6cnicos domin
m problema, e assim por diante. O tc,:mo é, então, apro- "concepção relativamente 11atural do mundo" da comunid
relevãnc-ia volitiva. Dcscobdmos ainda alusões às rele- segundo , princípios religiosos. O indiyíduo,_.cam...to.d~ ~
otivacional, temática e inte!'pretacionaL !Vfos nossas sele- blen1as pessoais e relevâncias reais, age. é claro, num
m o tópico da relevância principalmente junto com social qm~J ·ã melíh e.!!SC,!i.2,'!!!'los d9mítliõsúe re~Vãnci
e outras difercnciacõcs. Falando do domínio da "vida vai orientar-sç_por_eles.
Schutz argrnncrH; que qualquer interesse específico Esse tratamento do complexo problema das relevâ
o estabelecimento de um problema revela a subdivisão partir das quais os homens traçam seus procedimen tos no
imen to de um dado índi víduo em várias zonas ou rc.- da vida cotidiana, nos leva a considerar outros meios d
elevância decrescente. Há uma 7.0na de relevância ime- esse mundo dominável, em termO's cognitivos. Suas mirí
nci.rn, incluindo elementos do conhecimento que têm de fenômenos, cada uni.a delas uma ocorrência ,ínica, são
ente compreendidos de forma a pcmútir q ue a pessoa buídas por um número limitado de classes: os fenômeno
situa,;,'to em cm;o. E essa a região do know-hõw, das lhaute.s são considerados os mesmos, chamados pelo mesm
habilidades em geral. Uma segunda zoná, imediata- e suas características importantes são consi<lerada.s semelha
da à primcita, é, por exemplo, a que fornece os iilsLru- mundo é um mundo tipificado, disse Schutz, e ele tratou
ady-made (feitos sob medida) ·ou outro tipo de auxílio sivamente dessas tipificaçõe-s. Os textos selecionados a
INTRODUÇÃO
SOC!OLOGT,\ FENO~I ENOLÓGICA DE SCHUTZ

ss·unto o abordam através da discussão dos objetos, àni- de tt-ês lermos fundamentais: conduta, termo urndo para d
c., tipificados. A .isso segue-se uma bre,·e elucidação do
experiências ativas em geral, significativas, ~e fa~o ou em
esempenhado pela linguagem na tipificação. Ela mostra
cial· acão termo que designa a conduta "1deafüada co
imples foto de nomear constitui tipificação. Vem, então,
cedéncia"; e trabalho, -termo referente à ação planejada d
ueno comentário de que ninguém poderia registrar ne-
experiência sem recorrer a L ipificaçõc~. a provocar mudança no estado de coisas exterior, com o
dos movimentos corporais.
tipificações individuais têm implicações sociais. Schutz
que vários dos termos preferidos pelos sociólogos, tais Se investiga1·mos os impul~Ç_s subj~ 2or trás d
stema, papel, instituição, etc., referem-se a tipificações human~âmôsoocõntrára têori-ª da motivaçã~, d~ Schut
usadas pe]o:-; .indivíduos. Po!'ém, ao conttál'io disso, a campo. devemos-lhe urna contribuiçEo da maior u11porta
arte das .tipificações são preestibelecidas socialmente. rvela~fio do duplo caráter da mo(iv~ção. l'or u~ _J
xto, no final do livro, Schut:,; refc1i u-se à estreita ligação h~m:i{s age'!!..!=!!Lfu11r;ão de motivaçõ~dirigid.as-:;-oh)_e, 1v
ificaçao e relevância: os homens seriam incapazes de re- - -
•apontam para o fucuro - · Sehutz ,..as d<W.Qtn1J1ou
" ""_. _,, ,mo11yo
'lS <:o
o que é relevante e o que pertence a que domínios de de. -Por outro lado os ,.h.Q.!ll.<mUelJL.:J:a7.0.CS:.:...par,1 •
- · . c ·am-·e ~corn -elas. ..- EsS<:!S
- ., razot:s-, - · · cc:1a-o e11r~:1le7 adac:- e
ia se não fosse o seu con hecimento do "sistema social- e preo up · :) .- . . 1 ,, de,e
provado <le tipificações e relevâncias". A intenção desse l··
t e"ncias nassud'l§. rn1_iw,sonahd.;i.c;!. \l...411e um lQ!ll ~ •
de textos 6 demonstrar o modo como Schutz· se inter- = - - d
durame sua vid<LlE,~!_~LZ a~ ~nom1nou m~ 1~9 ~- .· " f · " nor ill!
ntre a esfera da ex1ieriência humana imediata e as esfe- tiu em que os significados subj~\YQ~ ~.? mot1y-;1.c~ s_je, em 0

vadas de interpretações cultu.ais prcesiabelccidas, seja na ramentc -dífêrenciÜdos de seus significa~os 0~1c11vos. No
e um dado sistema lingüístico, seja na fo1ma de hierar- da experiência 'üc tlê'séiwolver uma açao, âe acordo co!
relevâncias prescritas. p lc<no preconcebido, o ator vivencia du:etamenl~
a fil'l re~-:-ETêssão, portanto, e.li>Jl.ncialmente...subjcü-"Os.
º: ~eus
utz beneficiou-se imensamente da famosa concepção de
l. Thomas de "definição da situaçiio". Seguindo Thomas, ~tári~e~ anto age., ele não está conscicnt~ de- seus "
ara descrever tanto as tentativas idiossincrásicas do indi- por que" . Só os pode entender em rctrospecüva, num al
se ori.cntar numa siluação aLípica <1uanto sua nce.itação flexão. que pode ocorrer, mas não necessanamente, de
nição" culturalmente preestabelecida <le situações tipic.as . termil;ado O ato. Por outro lado, mesmo um observador p
o lado, a teoria da relevância de Schutz reforça a teoria capaz d e recons•t't ·. os " 1110 ••1·,,os por que" de um ator, c
1 u11.
as, provoca seu desdobramento num sentido que promete no ato consumado . Conseqüentemente, diz Schutz, esse
va$ ·possibili<lade.s de sua aplicação na área sócio-psico- moüvo é esseJJcialrnente objetivo.
A partir daqui, os textos escolhidos ~]J~sentam o es
Schu!:< da conduta "consciente", em opos1çao ao compor
"inconsciente". Urna acjí.Q,...e.114uanto..condulLC011s.cw.i.e
iii) A~'.ÃO NO MUNDO DA VIDA Até aqui nos con-
s no trabalho de Schutz sobre. os aspectos cognitivos <lo til!!J!_de qualquer o;;t;;:.UPJl:,<J.iLc~a,..p~eiro, -~evido
tência de uma linha de açao,. o proieto da açao: se
a vida. Podemos agora focalizar seu estudo de aspectos
dinâmicos desse •:mundo da vida cotidianan.21 Assim, o í!PCracío~aCJ;sse proJe!o, s;igundo Sc~ut7., e t~mbem _
Dewey é um "ensaio dramatico dn açao fULura ; a aça
textos escolhidos a segui.r trata dos problemas da ação jada é' imagluada ou fantasiada c<>mo se já tiv~se sid
desde os problemas de motivaçfio em gernl até os rda- nada. Os projetos se baseiam, é claro, no conhecime.n_to
anos específicos. Iniciamos com as definições de Schutz Lon::s envolvidos, e esse conhecimento pode se.r tlc vátlOS
. 6 <le;5tc livro. podem ser bem precisos e detalhados, Oll podem existir n
de um esboço relalivarnenlc \,ago. Ern qualquer dos ca
I NTRODUÇÃO
.SOCIOLOGIA FEN OMENOLÓGICA DE SCHUTZ

tes do resul tado real da ação: a execução de uma ação pánhada pela intenção de realizar o p_rojeto. Além_di_ss?, a
acrescenta alguma coisa ao projeto ou o modifica. sia motivada" ocorre no contexto rna,s amplo de obienvos
_ação_ que se baseia em pJauejam~ntO_<i,OllSciente tem sido resses a longo prazo da pessoa. Qualquer projeto específ
!crifeute chamada de -racional. Os textos que se seguem é mais que um pequeno segmento na hierarquia de pla
m por que Schutz considera1·a equívoca a exp ressão ação indivíduo: planos parn o momento, para o dra, p-arn penod
l. Em vista das ambigüidades existentes, 9le coosi~-o.JL.o longos e pata toda a vida; mas, também, pfonos para
o de _Weber ~e açfüw:acionaLum-ideaHU&t1<>gível-pat-a-a para a subsistência, e assim por diante.
a condiana~ E claro que não negou que os homens façam A apresentação da teoria de Schutz sobre ação, m
! acio;rnis em termos do cõiil~_ntg__}filevan e <IJUa e proieto não seria completa se não. incluísse su~ _Posiç
wao. No entanto, preferiu chama...._u~ão cotidiana. carac- respeito à questã_o _5!.a v~l!_ta~ p~pr~ e __do d~ ter~ n~~.?...
por es_sas 01).ç_ges, de razQá.Y.\ll,...(lo...i.ux:~ue_.ra_cjp_n;tl...p:er·
ãufa humana._~_como tocfos_~~,.P_Oentes da S> oc•?!~~•a
!}llla m~rgem P.ªrA as (alliauneiit4.ws...do_conheeiJ.ue.QM> tanva ele considerou o homem um ser, ero pnnc,pro, Iív
_ E provavel ciue nenhum indivíduo jamais tenha conl1e- ãeciaÍrso7?1·ê"o ~ o._d_e $úãs ;Jçõcs..9t!.,_dcê@jij_p,tltt_~e
de _todos os fatore-s relevantes reais e porenciais que com- issôvâie principalmente no caso de ações que são cons!
s situ,ições nas qua!s ele. ut.rabalh.a" para teaJizar s•~us voluntárias., isto é, que pertencem à esfera das rclcvânc
tivas, e não das impostas. O signifiCádo dcs.sas ações surg
nejamento é antecipação de eventos futuros. As tipifica. roente em função da " liberdade de se comportar de um
en1 parte de todas as an!ecipaç&s. Com base em Husscrl. não de outro'', É claro que a aç:ão em si é irrever·sível. U
explicou que elas dependem de dois tipos de "idea liza- completa, é "fechada e <lctetminada",
a de que ·•.assjm foi, assim serán: o que aconteceu no Ainda assim, mesmo 110 domínio das rele_y_âncias im
deve e va, ocoh·er no futuro ; e a de que "posso fazer as ações do homem não são. inte iramente predeterm[nad_
novo" : posso repetir minhas ações. Alravés dessas idea- mo ria sifüacao mais cocrc1uva,__.!!ill..,])on:!.~Q.Qc,le dec1
os hon1ens expressam sua confiança na csti·ulura básica agir cõiiformé llie é org.e11ac!g.-....§eJ _sJiy~r_<Jis.BQ~IQ..A..A
do da l'ida: ele permanec-e inalter:-.do, pode-se confiar ç9nse§üênCíâS çiadcso_b..e.díêncJal 3
se pensat na conduta futura. Isso acontece mesnw quando De acordo com a opinião corrente. a liberdade de
experiência tem seu "horizonte de indetertninaciio" tor- implica a existência de peloJ 1.~nos duas pos,;ibilid~des,_
mpossível a certeza absoluta. Indo. além de· Hu's.erl, decide aceitar llllliL..011 .mitra. Com base nas pnmc1tas 1
a'.ou d.::ssa faixa de incerteza a partir de dois aspectos. cões d.:: Dcr•son, aprofundadas por Husserl, ~chutz <lcr
e1ro lugar, as anLccipações baseiam.se n~cessariamente. em
que isso nã; ó ne.cessariamente assim. Ao contrário~ as
vas típicas, em contextos típicos. A conduta resl , 110 en-
o m,himo se aproxima dessa tipicidade ; seus
resultados
sãÕ feiras através de processos. de etapa em etapa . A cad
existem alternativas meJ1orcs a serem considcra<las. e es
ios, comparados com as antecipações. Em seaundo lugar
a execução <lo pi•ojeto, o próptio s~stem,1 d~ re1cvfinch;
ou rejeitadas. Certas decisões desse _tTo
às _vezes !ev~m
passa por modificações. Conseqücntem.enre, em relrospec- iis primeiras etapas, pedindo sua revrsao. ~)a, ppde-s~ co~c
a liberdade de escolha acaba sendo a liberdade, ante, 1
v_ê .º .resu[tad~ final de um ângulo diferente do q ue ima-
dcsC"n-i;cc, <lc cons[ruil· qualquer projeto. au·avé.s d~ um
llllc,ar o proieto. A previsão difere do retrospecto,
três dos quatro últimos textos escolhidos desta sccão 22 Ver cap. 7 deste livro. _
specifica o carátc1· do projeto.. Não é sirnplesmcn te iÚ1a: 2s Isso é uma continu~crio <lirer~ da conccpçiio <la açao humana d
ou fantasia de um estado de coisas futuro. ll. em ,,.::z tJUé inch.11· a alteruatJva
· ·d ç. 11<.lO
·• agi.r
· e, e<poc1'•Jmcnte
- ., , da suu .cara
.
n tasia motiva~a". Como tal, é guiada por considerações do relacionamcmo coercitivo de <l_ominação: •~ . . ·.. não pode s1gnif
as: tal fantasia é de natureza prática, viável, e é acom- a não ser ..:i c!u:mc.J de ter obedccu.l!'l umn ordetn-· (~fax \Vcb~r. W
w ,d Gesellsclmít, p. 29).
I NTROOUÇ)ÍO SOCJOT,OC!, \ FE 'Ot,,lENOLÓGJw\ VE SCH UTZ

e coerente, num processo composto de cadeias inteiras de a· atenção nelas e são tratadas como um problema para o
parc1a1s. H;i casos em que esse p roce~so e cataêrertzado ,preciso teniar achar uma solução. A diferença entre eséolh
s considerável hesitaçfio entre altel'nativas menores. Entre. objetos e escolha entre projetos é simplesmente a seguin
m retrospectiva.., esse mesmo processo ocorreria pata O objetos são dados externos e, nesse sentido, pertencem à
mo um ato único de escolha entre duas grandes aheina - das relevâncias impostas; os projetos, porém , fazem parte
(1. usando a expressão ôe Husserl. o processo poli tético tencial de ação do próprio ator e são, portanto, comrolád
stitui a consir ução de um projeto, uma vez completo, relevâncias volitivas.
um ato sintético de escolha.
O último texto escolhido da presente seção focaliza o
tro grupo de textos escolhidos mostra a prt'.ocupação de que um indivíduo pode atribuir a cada item de um co
com a experiência "da dúvida, do questionamento. da de possibilidade$ diversas. Esse pe.so. é claro, depende d
e da decisão, em resumo. da deliberação". Se111 c1{e•ar interesses dados, ianto os do momento quanto os intere
r :da CC?rrcçilo ou propriedade de alguns elementos do ;cu longo prazo. Decide não só. dentre um número de objetivo
mento prático, jamais uma pessoa envolver-se-fa com deli~ diatos alternativos, qual será o preferido, como também qt
e escolha. Embora não pos.sa aceitar os conceitos de possíveis cursos de ação alternativos que levam ao mesmo
Dewcy de hábito e estímulos como ingredientes básicos tivo será adotado.
uia humana, a discussão da escolha de Schutz parle de
ormuladas por Dewey. Schutz subsiitui esses conceitos Os textos reunidos sob o titulo "Ação no Mundo da
possibilidades problemáiicas e possibilidades crn aberto tratam de moiiYação, "racionalidade", planejamento e pr
inção calcada cm Husserl. O primeiro tipo de possibili'. libe rdade de escolha e deliberação. O leiior, sem dúvida,
um,1 categoria de c.xperiência: os fenômenos, que vêm à berií que nessa seção todas essas concepções se aplican1
do individuo, podem ser vivenciados de maneira ambi~ua. humana em geral, seia e)a individual ou social. SchulZ co
assim, para o indivíduo, .siluações duvjdosas; sittia~ões a teoria de Weber segundo a qual ambos os tipos dé aç
ferem-se a ações de pessoas específic~s. A difcrença cJ\l
ren(em~n!y, contêm tendências mutuamente exclusivas,
a dela·s 1gualmen(c pJausívcl. Conseqüentemente., a pc.ssoa situa·~c somente no obje(o da ação e111 questão. A ação ind
é dhi gidu para objc.tos não-sociais, sejam eles coisa.s da na
enia tal situação ambígua oscila entre possibilidades e
ssibilidades. Sua indecisão pcr11Janece até que ela ache artefatos ou id6as. A ação social ocorre q11ando, de acord
adicional a favor de uma ou outra altcrnaliva, ou_até a intenção do ator: a ação é dirigida para outras peS&
intel'esses e motivações a empurren1 em uma direçáo qu:.d:; ele vê como !>Cr e.~ humanos conscientes. A ação em
manc.éc, cnHio unidirecional.
de cm outra . As pos.ibilidadcs em aberto, ao contrário. 1

ambíguas, mas simplesmente indeterminadas. Por exem-


o supor que o verso de um objeto é da mesma co1· que Í\') o MUNDO D;\S nELAÇÕE.S SOCI/IIS As c
da frente; mas, enquanto cu não puder lcstur isso, minha rações de Schuiz sobre os aspecto:; cognitivo e ati
não passa de uma "antecipação vazia". ralta-lhe corro- vida cotidiana em termos de experiências individuais já m
substantiva. ram que as odentações e a conduta de indivíduos no "m
outros textos escolhidos trotam dos processos subjcti• da ,·ida" são, ern grande parte, influenciadas por formas l
lvidos na "escolha enil'e ohjct◊s" e na "escol11a entre tie-as e sistemas de orientação culturais preexisrentes, ·sem
Tais escolhas ocortcm dentro dos proces.sos mais am- na existência dos outros seres ]lUmanos. Sc'·butz p;ntlu, . é
definição de situaçõ~s. l'odemos dizer que, através da da pers12ectiva individual preliminar para a am!li'-f' din·
o scletfra", algum.as das múltiplas possibilidades em 1:çJ.ruá_QD..runentos- soci-ais.24 A interação social envolw•;..
ntidas numa situação são convertidas cm possibil idades
ticas, ou seja, elas são isoladas para que w concentre
INTRODU ÇÃO SOCIOLOCI,\ FENOMENOLÓGICA OE SCHUTZ

pelo !!'QllQ.S.-duaLpessoas..qtie~e--ecientam-t-1ma-e1n-1-elnçi~
-, lham,_P.odcndo com.1mi._gir-se uma c.0 1n_a_outra. Embor;:
~Eviver no mundo_<la_vroa- cati.Giana·,- em- geral~·..sign ciado de-11omo.s de visbLSub.jetivos-diferen!es,-esse-a
ver cin envol yimenlt)-Hl..(erat._i.ve-Gem.-m-uita.S-pcsso.as_._e (1.Qlerativo} está carregado de.-objetos-e-even(es--tjue-sif
xas redes de relncionamemos sociais, bidos_p_o r ambas Em co11seqº ê!!cia,_.Q..J:,çl.'1,,cj o11a.n1_'l,nto de
sse campo, o pritlcipal4'Wblema-da-fiem:.mcRologia-é..o..rla çã9~_co_!11.unicaç_ão c.DJ.te....tl~yermite compreensão e .J;Q
jç.tiridade. O próprio Husserl havia concluído que a so- mentQ.. m!Ít.Ltos :_.i;L que acon tece na SLtuação comum é viv
esse problema era fundamental para toda a sua Filosofia. símulta_~ean1.ente e e_l!.l .~~~um.- E elá~ ~ a~§_j,.i~ãoé c
anto, suas repetidas tentativas e seu profundo empenho tem dois enfoques subJetl,PS:-Cada um_!! clãs pe.~ '!~ nel.i
cioná-lo, ao nível úl limo de s ua Fenomenologia Transcen- vida a vivencia OeaéOrdo com a sua - PJÓP.ti.a cxpcri~
i:ião tiveram sucesso. Depois de mui La análise, Schutz situação, -da ifual a- Oütfa é uma parle. T'vfas cada uma nã
à conclusão ele que Husscd procurava a solução do 1,ro- venCfü â - SiprOprio na situação, niàs vfvéllCia ,.,.tâifib-éíno
no lugar errado. E suge1;iu que t< int\,rsubj~i:lidade_f~e ciar da situação -pela- outra__P.es~Qa. _ç:-ssâ""..T ij_e~el'iêfiêfa- dõ"
com◊ uma "catçg:Qria onrolágka....ú.mdal),enta1 da cxi.:.fência Scbutz co1idénsou -ã "ê!esi.ríçã..9_ dos fcnfünw.os_r.eJJ1..:iPnado.
" , um pré-requisito pata tµda eliJ).Ç.ri.~.n.çjJLlJ!WlllJlume- "t.:·~ êJi êÕcla-do~ óS.:' na ªtese geral do alter ego_J "o a
mundo da vida, 2 ; al_go a ser aceito COlllo inquestionável. é aquela corrente de consciência cujaS-3t-i>'ida<le&-posso
nio com a...llp.;:tÇ,~P..~º da aparência física ,ll.e_outros.Jndi- no :seu pre◊ente, atr(\vés das minhas próprtas atividades
neas'!. Schutz ~enfatizou que. essa . tese geral constitui um
i~ ~ vidadc no mundo da vida, assim começa o de..i:eferência fun<J.a1.11c.o taLpara a l's ic0lagia e-·a Sociologi
nto de SchuLi , riiio constitui um P,roblema. Para .Q.jqdi• m_enológicas-. , ¼•l.e.-Í1
a existência d!,. oulr~u e~ as_ é . alg9_ i.lado. El!:l. percebe Em termos da cognição. o fator mais cbfw~uo da in
rpos e seus 1novimentos corporais. inclusive os sons de jedvidade .é,_sem dúvida. a compreensão..JJ.1útua . Encontra
e produzem; tudo isso lhe é direlamcntl<..l!p.te.~nta<lo. Si- textos seguintes a análise de Schutz; desse conceito. De iní
a e espontaneamente, ele atribui à configuração sensorial uata da ambigfüdade do Lermo compreensão co.nfo.rm~ c
o- n'f[- stf:l_pi;~s;filç_a ~ n1!'_ vida psicofógica. Para ele, es sa lnên1e-11sa'do.'L)'istlnguiu três casos cm que se J?Odê·'aize
r dentr? ou_ "11or trás" fõsniõv,ms;ntos oh servadoL é açâo de alguém é ucompreendida'' quando este alguém n
do; os movimentos ob_._ci:y~_d.os_são_c:;po,LJ,taneamcl]_~ asso- intenção de se comunicar com outros e cinct) casos em
çm, e vistos como,. a ex1,ress._ão del!!.- Na expctiênCfa de usam signos JingiifsLicos com intenção comunicativa. No e
lo individuo, a pQrccpção e a suppsi_ção se confundem. A o "único sentido correto do termo'' refere-se à c.uptáção
cia sensorial de uma pe,ssoa por outra é iogo ·imbuída ocon-e na mente do .o utro. Somente nesse caso, di, Schu
ciência, sentime11to, etc., tudo parecido com a p rópria demos falar de ucompreensão subjetiva genuína". Tal com
1cia e sentimento da pessoa que percebe. Nos termos são pode ser alcançada quando uma pessoa se coloca i
da Fenomenologia, a apr.esentação dada <lã aparência riamente no lugar da outra. Conseqüentemente, o Tu tor
!-.ouh:a_pcssoa..e....neeessafi1u!rente7:omp a,-ada-à- aprcscn- " outro eu". No decorrer do processo de envolvimento
ensorial não dada (ver Glossário) de sua natureza liu- alguém com algum outro, num ambiente de eomun,caçao c
---- - - -- a· ex'pcriéiiêla do outro eu é "vivida e imediata". Quanto
1utz_teve o cuid11do de explicar que as experiências ime- pã ti~e,la é .s.u11e,ada- por esse .tipo..d.e_experiência- pois...
e outros s urgem num "ambiente de comunic.aciio comu.lll". 4,. vivenciado como um ser em si,._ e ·não como Ulll.J:efl
biente siluacional que duas (_?U- mais) pesso"as comparti- _½Jeniidã~C: CJYílv ivencia -A. empatia.é reduzída,ae-mínimo-
a_:~_Ereensão de outra pessoa se dá em retr~isecfü•a. S
cnsnio de Schut;r,. '"'fhe Prúhtem of Transcendental l ntcrsubjec- Scnutz0 é e~sc o único meio de .uma pcssoa_ Jjda,;....com-
Husserl", Collccted l'apen:~ ll( : ~2. duta de outra sem -i ntenção- de- se relaciona~ co!ll-ela_
1NTRODUÇ.:{O SOClOLOVIA FF.J'\O,r.,f f.}.[ot.ÓC tCA OE S CH UT Z

nicação. N_essas condições, a compreensão do outro só ''..enchtria a_sit:gaç.ão_c_omum da-petspectiva--da_outra_.e_l.'iC


trer imputando-se um significado subjetivo ao curso de Além disso, cia_supõe_que.. as_r.e.levãnçias_r_e1acionadaS
er.iwlo. objetivos comúns o~s o.n1nl~menta1,:s relegam...as_diferen
scguindo, S.chtttzindai<;uobre o_que é de fato compreen- ,riduafs ex.istc,rtlcs nas di.w!:i perspectivas ao domínio da i
ndo se fala de comp,:ccnMiO-SubjetiYa. S.eg<mdo ele, tal _êi'ã i-e1miva.
nsão n ão...pede-in!~-osr:>ecçãe- sim pátiea - l ½ ~ue-s,;: S_~gJmçlg_ S.c.h.Y.tz, o envolvi1119n(o simult~nç.Q_) 1tmL
s complexidR<l~:L.da..p.ersonalidade_tQ(al do outr.o ind i• t!c comunicação comum _co11sti1ui~ p_el0..-ID,CDQ.6._t;:.lllPJ.Wl
Mas, em qualquer circunstância, tem âes'er_cOJDpf&us3o um '~r~ a r oc:nJQ_do_N.ós2.:._l'arn espcdfícar esse tipo d
va~o...outro.:-eompcccnsig, .J\!!Q.Í~Ü.ª--.U com~ 1- v=--imento J;J11Jbé.m_us_o_u, alternadamente, a...e:.q:i._r,essão sTfüã
vacio.nal. Sua extensão pode-se limitar aos reqúl~iiÕs reais u.ace:.'.. Isso por influência dos escritos de Charles
minados in teresses específicos de outros cm situações es- Cooley, muito embora Schut7. não concordasse com a
No mfnimo, isLo é, no caso de se litlar puramente com que Cooley foz à cxpi'~ssão relaciom1111enfo do Nós, a q
pessoa procura encontrar apenas os motivos típicos de último reserva para os contatos urace a face" fntilnos.27
picos, deslocando-se assim da esfera da compreensão ·sub- junto de textos escolhidos que se segue, Schutz fala <
nuína para a das concepções p redefinidas. No máximo. volvimento de "orientações para o T u" e da origem d
os rd-acionamcntos pessoais majs íniitnos, a compreen- cionílmCn tos do N6sn. Na sua íonl!ª' "pur:f · ~ricn~~
etiva mútua vai 41tingir as profuncfozas das vidas inte- o Tu" surge da captação da existência da outra pessoa
s pessoas c,n1 questão. A compr~)Jjo subfeiiva., então, r3ÇÕes irfãcé-..a fal;-Cn; ela se ma1úfesta atraves deum
ase ~ LtioifiçaçãQ...d as motivações ao nw is alt<> ·grau imencionãTiilente paraõ oüti-o êo1119 -ser hun~ i:-o- v ivõ
dããé entre..os, seres~ umruios. ci'éDtc. se · a ··Oricntaç~~P"'ª"!.~--º _:ru'' de um'.!_ pessoa e c
o Schutz mostrou a seguir, o_que~dinamizil..a ~om prccn- dida por õutraJ se am!>a~. intenc_ion,ah}!en.!_e s~ ,voltam u
uiuLa~eciprocidade de- motivos''. Um. llJo_r s.o.cia.l, ao, a ouCra:resUlta daí 11..m...'.'..r.elac~onamento_<lo .. Nós':;· que
r_ a uutra-.pessoa ,- espcra provocar uma-certa-ação da- .ciãcfo- cÔmo....1al....Éie'" sc...expressa 11a_gll1sciência mútua
ssoa. Assim, '!.J:.CJ ÇliO _d1,sejada e espei-ada..do outro é o pe!50~~!!:·~vé~ de.~ada. ~ sso~J_ç._ çorr~t;i_tui uma particiJJ~
~ íiu:i...de" do ..primeiro ator?• Se o outro compreende mc,,te _filmp.átiCa...nas vidas .uma . da..ou.tca,_IJl§J)lO gue su
nção e responde~ o Hmotivo a fim de" de quem iniciou ,;!_eJ erminado..peifodo--de-tempos·Outros textos escolhidos
ão torna-se o "motivo por que" de quem reage. Embora, do mesmo assunto tratam dos complexos processos de
nte, o segundo ator résponda porque lhe foi colocada saç;io nos relacionamentos do' Nós e d.is múltiplas form
unta, ele pode por sua ve1. questionar o primeiro,. tendo venciar diretamente os outros em situações íace a face,
cado um interesse seu . Assim, tendo estabelecido um sição à consciência reflexiva da experiência do Nós
a fim de'' para .si, ele dá íl prin1eira pessoa um "mo. retrospectiva.
que'' . · O envolvimenJ;,~cc a face com outros é_'LJ)J/ncip
tz complementou a tese da re-ciprocidade dos motivos de encontros sociais. ?i.,fa~ ocasionalmente, umª-~ ssoa
a reciprocidade de~ er~125ctivas. Podemos dizer que esta c',,comrar em si!_\!.!1秧_s_çoti4ianas...das_quais- Pfü'l--partid
nciona segundo o mesmo Qadrão geral da primeira. Co- J!len.il;; cn_c..9.n,tr?,;.SJLruL.l111.P"l d,' obsei:.;:ador. O trat=
oi mencionado, o ambiente de comunicação comum é Schutz da observação na vida cotióiana ap arece aqui co
uma situação e duas persp ectivas subjetivas. Cada uma
as envolvidas, contudo, lida com essa caractcristica da 27 Neste pontc.1 wcamos no que podcri~ sei· ums limilllç.ão dn
fcn6méno16~ica• conforme descnvúh'ida atl: aqui: sua fo1ic,incJin
raciocin.ando..quc.,.-se-.ela-esti,.,esse..nu lug!!!' da outra~ - nalisfa. ·Par?· S:chult:, p.or exemplo. a diSLi:llção que coloca os refoci
primárias e ~ecu.nd~rios em dois pólos c,mcmos i <lisp.e.ns.tivd .
brti muito a conc.ep--ção de. rvfttm! <le " proyoc~r a i:eação do outro". conceituais.
INTROOU~":ÃO SOCIOLOGIA f F.NOMENOtÓGlC;\ OE SCHUTZ

como um aspecto de sua análise do mundo da vida, o de• ser recebidos or outra essoa como portadores do s
ire maior importância na discussão posterior do método intenciona o pelo produtor do_ ggno. A ..intercomunic
ação na Sociologia. l~gar guando, desse mesmo modo, s.e-PJ.'.oliuz...i:e$.B,Q§.\íl,
ssoa que aceita o papel üe observador permahece fora vendo-se uma troca.
c'!l)_ em_,curso q ue..constituLü lãêionameQ.Lo d0N6s Enquanto Ioda comunicação depende do uso de \'
ão. J\tfais especificamenlc., 1,~ ~ntação com relação uso <le· determinados veículos pode ser t1ma questão rela
observado• é. unilate.r.a!. Ela diferente ·da experiência
é irrele.vante. Isso é mais óbvio quando o conteúdo das
intenções e motivações recípros.as, característica deles. municadas tende a ser racional e fatual. Pensamentos d
ode, p 0\~1 u1ttU:t2te!aLSCJ.llWJJ.o.ti~osJ não ser iodir.cta· podem ser [ácil e corretamente transmitidos em vária
ode, p.or cxc~plo, na fantasia,__cr.ansp.QQ~r-sc pará' ~s (européias modernas); a mensagem pode ser falada, e
pessoas que mteragem-2,.~□$.or_nos._mol!Y.Qs__gue ter,a
se nos seus lugares. M11.s pode tamhém simplesmente impressa em qualquer língua; e qualquer dos alfabetos
pode ser usado . Na intcrcomunic2ç:üo, como já foi menc
tipificações preestabelecidas_ e_,ve.r as pessoas o!fs!;l·-
usuário do signo o interpreta a priori, isto é, já esp
10 ator<ll; típicos em situaeõcs_JÍp,j~. ~ode, ainda, anig,
Ps_obs=.<lo.s,...tentando.assim- infer.iLque..motj,~os-iriam interpretação da pessoa a quem se dirigiu. Ê claro que
am~te,_justilieádos. Se é um observador autêntico, per- su_Ef-e a t1tilização de um códi~o interpretativo conh
e fora, niío toma partidos e não aposta no resultado todas as pessoas e11volvidas; ele inclt1i conjuntos de a
so interativo em curso.28 Assim, ele deve ser conside- padronizações e tipificações comuns, tanto as qt1e pert
ivo, por deíinição, pois, para Schutz, o ponto de vista corpo formal da língua como as peculiares a subcomwli
simplesmente o ponto de vista, a perspectiva, do obser- güísLicas específicas.
-envolvido. Schutz deu atenção especial às _características in
cussão da inreração íicaria incompleta sem uma dis 4 va:$ <la intercomunicacão ãircta, aquelas que ocorrem
in(ercomunicaç.ão.2~ O conjunto de textos escolhidos -sciicavlviclã'' nas rela~ões .ace a ·, c Os textos escolh
gue trata das considerações de Schutz das maneiras essé assun .o crmma,.,; com exemplos das discussões d
s os homens se fa zem cornprc.e nder uns aos outros, sobre expressão através de gestos, expressão visual e
xílio do intercâmbio verbal. 3" ÜJ __pcnsamen tosJ ão ex- cão musical. A análise desta última é a parte mais in
ü.ué.s._.dc g,,mbinacões_<le_pm.ms. A2 palavras, par<1 ~ original da análise da intercomunicação de Schutz. El
unicadas, rcquere111 um veiculo para a sua1ransiiilssão um músico rcalizad-o.. tirou dessa análise específica o
css?u ;t QUtta: s.~ que podem ser ouvidos, gc~tos q"ue geral de um "relacionamento mútuo de afinamento en
v,stos, .!fil!l.Sag-ç_., s escritas que podem ser lidas. Esses que comunica e aquele que recebe" válido para todas
o signos; são imbuídos de significado pela pessoa que formas de intercomunicação.
Para..sci:lli.r:...seJ.Lob.jet.i.\<0--d~omunicaçilo,-contudo, têm
Como Cooley. Schutz via 1111s_i:.claç,Q.e,s_foc<LlL.Úlc.
tip,o_ de . todas a< re)ações_suciais. Ainda assim, não e
dc controsh"J. totulmcme com a de o\1tro tipo de ~parente obser-
pectador de uma disputa adécica. Esse é. cm gernl, partidário. realidade da vida moderna, onde muitos laços entre p
seu" ti1ne ou pelo .. seu" homem, e 1füú é ~bsolutamenle um meramente de caráter indireto.31 Hclacíonamentos corr
na1.~. um patlicipan.tc vicárfo da ação cm curso no e~t.i-ídio. tes a esses laços são derivados e indiretos. Em tais
mercomtmicação pode ~01u- redundante. No encanto, insislimos mcntos, a outra pessoa é sentida apenas como à orige
_de ~orma 8 indicar com éfg:rcu, aquilo que Schutz queria dizer de algum ato realizado possivclmemc muito longe e
ct!~o. como tuna tus de mão dupla, um ioterc5.mbio autêntico
ntes unidirecionais, como no casO dos meios de i::omunicacüÓ tempo, como, por exemplo, a escrita de um livro que es
·
9 deste livro. JI Ver cap. lO deste livro.
INTRODUÇÃO SOCJOLOGTA FENQ7';,fBNOLÓGlCA UE SCHUTZ

termos prálicos, os re]acionatnentos desse tlpo srio de


dade infinita. vezes; pdo dos "sucessores''. Os relacionamentos indir
estão necess,\riamente ligados i1 contemporaneidade. O
os telncionillllentos diretos são ~ d e "sin1a~io co- livro que. estou lendo agora pode estar morto h,í muito
omam-se relacionamentos JndirctQLq.uJJJ).ck,__..J~nnina o o oh.ieto de que 1t1e ocupo no presente momento pode
.,
to í:.~cc a ·foc:e. A transição dâ ex1,eriência <l.ireta dos
a a indireta poue ser gradual: um antigo que parle vai
feito. por um desconhecido num século passado. Ambo
cem ao mundo de meus predecessores. Ao contt(lrio.
do aos poucos <la memória~ ao invé-s de <lesaparéc.cr antecipar um mundo de s ucessores. Assim, uma pessoa
nte. um testamento pode n,lio só supor que seus hcrde.iros i
guindo a discussão de Schut,, os relacionamentos so- vão viver mais do que ela como também decidir que
tos podem ser caracterizados segundo padrões contí- suas possés será dnda aos filllos, ou mesmo nctos,ainda
onin1ato crescente. Eles abrangem de.sde s rcgiüo das cidos de seus herdeiros.
e já encontrei, e que r,osso encontrar de novo, até a de O mundo dos p,·cdccessotes. é claro. é inteiramen
ue meramente testemunham a existência remota de minado. Consiste. cm ratos irrcvogGve!s que influenciara
antes inteiràmente desconhecidos. presente.. O mundo dos sucessores= ao contrário, é "não
s9_as com q\!Jtm...kmos,-ti,'.emos..011..Jer.emotinterGâm• e absolutamente liv1'e", Sua antecipação é especulação. e
facerSchutz chamou " nps.s,os_semelhantes". 0..Lo.Qssos dic;.üo: e fuwro não se desenvolve de acordo com a l ei
s fazem parte de nossa experiência direta: presente, imutável.
potencial. Pessoas que coexistem conosco no tempo, Com a discussão dos relacionamentos sociàis indfr
o !êm qualquer relacionamento <llreto conosco, são cha• trnmos na esfera da· i\1acrossociologia, isto é, do "sistem
ntemporâneas". Se nos relacionamos com elas, o faze- <lc distribuiciio de trnb" lho e funções, d" coe.ão e ma
s de um "relacionamento do Nós inditct<>". Tomamos do lodo em: e através de, um sem-número de ações e i
to de certos Contempodne.os de várias maneiras : de um sem:número de indí víduos. Schutz tratou desse c
bramos de alguém que conhecemos no passado; quando de análises so:;iais essencialmente do fingulo cognitivo
di;screve. outra pesso.:t; e, de um modo extremo, quan- qiientemente, muito se inter·essou pelos problemas da di
os a cxi:.,;têucia <lé outro·s :simple.smcnte através úe cão social do conhecimento, que é parte da estrntura
Lurais. Quando nos dít1gimos a contemporânC.os, remo- ;.cnciacõe.s da sociedade., A parte final da seção sobre r
mo anônimos, demonstramos o que Schutz chamou de
para o Eles". nJento; sociajs é composia de um grupo de texios relaci
cs~c ussunto.32
ui.tos carns, tais como a utilização de produtos co-
'''.Eles" permanece inteiramente nos bastidores. Se é Se rejeitamos a noç.ão de <.J ttc um sistema social é.
os ·a pensar no "Eles", o faze.mos apenas en1 termos éanJsnlo gigante auto-suficiéiii'e, ,l0quã1~õs-in:divíduorlu
conio parles mec.ilniêas, levanta-se a questão: como asa
rais: engenheiros que trab3lham na indústria automo-
ahall1adores da indústria automobilística, etc. Assim, e- a~oes su6íêtivas_4~ indivj(luoL e seus rcJ:;qp.n@lento.s
Sehutz, "quando estou 'orientado para o Eles', tenho limifâdõs--ê parcfois uns com os ouLros resultam e1n r:ro
o parceiros". O relacionamento com o "Eles'', por- Cõfüsêu gra·u Slirpl'eelldeiitêmente alto de or~crn e coe
ste numa apreensão mútua: aindi que. bastante geral pontõ de-vislada Fenoip~11o!mii<l, ~ posia deve ser p
mpk~u11en1c anônima, de "parceiros" cuja relaç-ão é iias ilue'nçôc'ie orientações _desses il'!_di,:í,cluç~, _g_uiados
cõimêcimento dãquelas esferas cj_ª_yida sociaj_i:tlevanles
designou a esfera total (potencial e real) dos rclacfo. süii7irópria cxistêncTa.._ Como ninguém é capaz de sab
om o uElesn de "mundo dos contemporâncosH, E~se a corsa toma-se uma questão de aoorll.11..,.eJ:.Ombinaçãa..d
omplementado pelo "mundo dos predecessores" e ,_ ils :-.: Ver étip. l l dc-stc Jivro.
INTRODUÇÃO SOCIOLOGIA FENOMENOLÓGICA PE SCI-IUTZ

parc,rus, fragmen!ários e, freqüentemente, vago~ dos A Sociologia, e da mesma forma qualquer abordag
. Isso, em resumo, é o uue SCJlütz_çlíãmou,_dc_distri• tífica ou racional dos fenômenos da expcdência humana
cial do conhecimento. não é mais do que um dos modos de transcender as "rca
mo dentro de unidades soei.ai., menôres, o conhecimento do mundo da vida. Existem muitos outros. Por esse
s de vida do grupo difere de membro para membro. Schutz ocupou-se dos aspectos gerais da transcendência
s compartilh.a m_tu1s_com_os..outros...Lpartc do "m•mdo riência do cotidiano. 33 Por um lado, considerou alguns d
e comum" do g111.jl.Q. Esse mundo é uma zona de rele• e instrumentos através dos quais se alcança e explicá
obrepostas, que deixa de fera parte do mundo total ao cendência. Por outro, de suas análises de certos rei.nos d
e cada indivíduo. Mas o que está ao "alcance comum" cendência, tirou as características básicas de rodos os d
!'m mínimo de acordo da parte dos in<!ivíduos em q~es- não-pragmáticos de experiência e estabeleceu sua Ji,gaç
itanto, ~~~-C.Q!}l}.Q.ci1\1cnco ".comum" não.há...de.se1:-idên- com o mundo da vida cotidiana.
~~-.S .D.!~~_g~ialhes: p~de ir do ci:tnl~cimento cham~do Com transcendGneia Schutz n5o quis dizer preocupaç
mugi.,_ qy~ç_ liitJjJ:~_ ao_conhecimeuto_ pragmáiico. do tafísicas, mas cxpc1iêncjas que atingem, e que se situam
da rua", até o _conhccimy nto técnico do cSperto. Em lugar além do C-O□texto de significado total do mundo da
untos, o "cidadão bem informado" ocupa uma posição experiência <la tram;cendência é parte da vida cotidiana. O
ria entre esses dois tipos. O que Schut,; disse sobre as aceita como verdade inqucstion:lvcl o fato de que o nrnnd
relevância aplica-se aqui, de llm no,•o modo: cada antes de ter ele nascido e de q,1e continuará a existir d
m função de toda a sua sil\laç!ío de vida, aproxima-se sua morte. Ele acredita aa existência de um universo físic
o cm uma ou outra área; mas é, e permanece, o "homem que intemporal, e que se expande na direç.'ío de um limi
m muitas outras ; mas ele pode também procurar escla- no, possivelmente in.finit(). Acima de tud(), porém, ele
adicionais sobre algumas. mundo ,ocial como um todo, inclusive as regiões sem
eções "Ação no Mundo da Vida"' e " O Mundo das de seu alcance e experiêncin; e ele aceita sua historicid
Sociais" contêm as principa is seleções d,)s escritos de prolongamento, tamo na direção do passado quanto na
io as mais imptirtantes ,:onsiderações de Schutz em ,e. turo. Ele freqüentemente colabora com rais ti-anscendGnci
ociologia. No conjunto, oferecem simultaneamente unia truindo ou aceitando sistemas ordenados de interpretação d
i e um qu~~dro inte.rpretativo 1,ara o estabelecitnento e plexos de significados - unaLurcza:i. "sociedade'\ e as
o do objeto de uma Sociologia baseada cm consideracões diante. Esses "sistemas" de interpretação são eles própri
6gica:s. As duas scçõc~ finais tratam: 1) do relaciÓna- plexos de significados de ordem transcendemal, assumind
própria Sociologia com o seu objeto, o mundo da vida: terísticas de um tipo particular de "realidades". A refe
insti-umcntos e procedimentos tc6ricos e me·todolóaicos 0 essas realidades pede o uso de uma categolia superior d
ociologia assim dete,minada. da apresentação. Schutz reservou o termo símbolo par.a
nação desses signos.
v) RE INOS DA EXPF.Rt'ENCU O for(c da aborda- Njsso, ele seguiu as sugestões do filósofo exis.tcndal
uncnoJúgica é seu ponto de partida; a experiência do mão Karl Jaspers.34 Qual o significado ligado ao conceito
a vida cNidiana" . fa,endo deste mundo o objeltl há- bolo de Jaspers e Schutz.? Um signo ordinário, segundo
ciologia, Schuf:7: não negou a existência de outros reinos definição anterior, 35 é um termo de referência bipolar,
ência humana; simplcsmente afirmou a irremediável as- tindo no termo quê nomeia a coisa ou evemo, etc., e n
<leste sobre eles. A sn:füse sociológica em si (rans-
xperiência do eqtidinno. J! um cmpteendiment() metas- 3; Ver- c<!p. 12 deste livro.
n, raízes nas expe-riências de., mundo da vidzi, mas que S4 Jaspers, Phflosophie ( Bérlim : Jt1lius Springer. 1932) , vol. 3, c.,:
de de um modo especial. :;-: Ver o item (ii) anccrior.
INTRODUÇÃO SOC TOl.OGlA Fli:'{OI\1-C:KOLÓG!CA Vl.: SCHUT7..

11.,omeia: o nome evoca a idéia da coisa; a coisa ou evento reinos da experiência social. ConcordoLL com James cm qu
nome.. O. nome_, cm si, é um objeto ou evento no mundo 0 indivíduo que vivencia, cada uma dessas ~pr!)víncias d
uma combinação de som. uma pt1favra escrita, ou lá o ficado" aparece como inquestionavehncntc real e, no e
, que se refira a _outro objeto ou evento do mundo exte- ITfCõiii{}ãtível com as oulras. James havia argmnentado q
assuntos. transcendentais, no entanto. a tfcoisan $ignifi- total, e « longo prazo, os vários subuniversos da realidad
o se situa na esfera da realidade vivenciada no mundo subjugados à "realidade piincipal das sen$açõc.s". Schutz
O par nome-coisa agora se refere a um terceiro mem- centou que as "realidades múhipl..t!$" das experiências nã
o é. à idéia significada pelo símbolo. Ou. como 'disse mátic;1s são inferiore::; t!:s ·'rl'alidades principais <la vida cot
um símbolo é o signo de um signo. e, de. certo modo, pc1:manccem dependentes dela. Assim, o
reinos do simbolismo são de uma variedade infinita; indo dos sonhos é muito dcsconlfnuo e extremamente divcrs
olismo religioso até o simbolism<> mctali ng,üístico dos sis- ao acordar, o homem retorna ao mundo muhc mais c.
snitamente lógicos, construídos racionalmente, tal como coerente e durável da vida coLidiana. Em geral., os fa(os
atemática. Entre eles, encontramos os reinos da inter- e as tealidaclcs do mundo da vida tendem a afirmar-se s
de ·sonhos, da poesia e muitos outros. Schutz ilustrou, penetrar, Os reinos dos devaneios, da arte, e assim por
de dispositivos rnet.alirmüísticos correspondente,;, a inter- No cntan(o, no dr::c.on·el' da experiência, prc<lonúna o s, eu
entre o ser humano e o cosmo, no princípio chinês de peculiar: os sonhos, devaneios, etc., su~pendem as leis:
Y io, entre sagrado e profano na Mitologia grega, entre dades e conting~ncias da vi<la cotidiana, e enquanto son
as e a sociedade no simbolismo político, entre expressão etc., nunca desafiamos essa suspensão. A província do ra
e conteúdo em poesia e entre os fenômenos da nature,a científico, tamb6m, tem o seu próprio estilo. Ao contrá
temas ideais isolados'J na ciênci;:J .16 E característica, d·csscs rcin()s d,i fantasia e da imaginação que t1utua soltamente,
ros possfvcis reinos do simbolismo, a referência a exp~- cia pura " pelo menos visa o conhecimento pelo conhec
e idéias que não são o~tensivamente evidentes e não 01,crn c-001 a marca de raci<>nalidade que lhe é característ
por isso, ser apreendidas, explicadas ou expostas «través consiste em ação intelectual objetiva e, no entanto, não-
inação nome-coisa do signo aprescntadot; exigem um c6-
tic..t, ~egue planos sistematicamente e:stabclccidos e se s
elp1·essílo mais cómplexo.
rcgr~s 1ígid~s <le lúbrica e ptocc<limcnlo.
textos escolhidos iniciaís trazem t11n u cxposiç~o mais ex-
conccitü de sfmbofo de Jasper~ e Schutz e ilustram Num estudo ainda inédito, lJie Strukfurc11 der Leb
o enLrc áre:as univc.rsais <lc simbolização. entalza<lu:$ nas Schutz estendeu a discussão da subordinação dos oult·o
s existenciais humanas, e as variedades culturais de ·sua do significado à realidade principal que é a vida cotidia
o. A esse se segue outro conjunto de textos que trata bora a imersão num reino subordi.nado de i:c3lidadcs
sos reinos da experiência. William James foi o primeiro nadas seia total, e o retorno um salto, acompanhad<>
rofundar nas "várias ordens de realidade" dentro das "choque" de íntensidade variável, qualquer expressão dcs
hotncm vive os ·· muitos. mundos" ou "subuniverso$'1 das riência tcrn <lc rccorr~r a meios sin1bólicos. E esses m
cias hum3nasY Schutz aceitou essas sugestões frutuosas, objetos e eventos que pertencem à esfera da vida cotidi
u a expressão de )ame, por uma mais apropriada, "pro- atividades criativas de artistas, por •exemplo, no que diz
initas de significado~', e levou a análise adiante até os à técnica_. ocot'l'e1n nes:sa esfera. Aquele que pinta us
tintas. pincéis~ etc.; nquele que escreve románccs, ou arti
o, Sc.hut1. baseou-St'. n<~ trabalhos- de :b.fa,l'cel Cranet, Bruno Snen, de usar papel e implcroentos para a escrita. Ocorre, po
din, T. S. Eliot -e Coelhe., além de Philipp G. Frank e lfennun
1955&, pp. 180-1,3, 190-93. espécie de simultaneidade de dois reinos do significado
Thc Principlts o/ PS)icftoloz..v {Nova York: Hoh) 1890) , \•01. 2, a ser atingido no reino artfatico. ou filosófico, ou científ
The Pcrccption of Rc~lity"', pp. 283-324. de ser tecnicamente execmado com os meios disponíveis
INTRODUÇÃO SOCIOLOCT,\ FENOMEl'iOLÓC!CA DE SCHOTZ

vida. E nquanto dur2r a atividade criativa, ou rncio1rnl- observadot?; e 2) o que significa esse mundo social para
ual, o "acento de realidade" é nela colocado e a realidad.: ooservado dentr(; dele e o que significou parJ. ele a s
do da vida mal é notada. No entanto, ela se faz , entir: dentro desse mundo?
o o escritor trabalha, vai gradualmen(c sentindo o corpo
, fome. Finalmente: o estado físico intromete-se na sm1 Schutz deixou clam que aceitava a idéia de um c
ncia, cl.c pára e de-scausa. ou come. Ou é interrompido de princípios metodológicos gerais: válidos para as Cit:nc
n t~: a tinta da caneta acab~: a fita da máquina de es- rurai.s as.sim como para as Sociais . ~fas argumcn Lou que
1

nrola; ele acaba de usar a última folha de papel; alguém tivJstas lógicos não cst.tvmn ahsolulamcn1e justificados
a sala, fazendo barulho. Essas realidades do mundo da diziam que só úS pr,,cedimemos específicos das- Ciências N
r.nrnm -suas relevâncias impost~s e o expelem do reino constituen1 métodos cieniíficos. EIL' via a investigação soc
buscas não-pragmáticas. Assjm, ele Lcm de voltar ao como uma "exploração dos princírios gerais segundo o
da vida. as pessoas, na vlW; cotic.füma, organJzam suas experiência
sse modo, outras províncias da n:alidade penuanecom ao cialmcnLc as relativas ao mundo :socjal". Elaborando lsso,
da realidade principal da vida cotidiana, que é capaz dt maneiras de se uti.li zar o m-étodo da compreensão dentro
r nelas, e não \JOdem ser comple1amente separadas do dro de uma abordagem so~iológica subjeliva. A compreen
da vid,1. A análise que Schut,: faz do trabalho nas Ciên- significados e motivações elos atores sociais observados
iais, co_mo mo,s traremos mais adiante, demonstra que isso rt matéiia~prin,a dos soci6fogos. Estes últimos têm de c
a tembem a elas. Entretanto. como são campos ligados a seus conceitos objetivos COiJ1 base nas Lipificações usadas p
es em curso: elas não têm apenas esse carfite1· dupfo nci- ' atores nos seus negócios cotidianos.
rito. Estão ligadas ao mundo da vida também de outras
. r As considerações de Schutz sobre certos aspcctús m
gicos começam com a descrição da "Htitude <lcsinte:,rc..s
observador científico ", fondamental no estilo científico d
vi} ~ PROVÍNCIA DA S?ClOLOm,, Ü últi1110 gt·up(> cigação. A isso se segue um estudo da fom 1açiio das con
s escolludos abrange a visão de Schut,: de Soéiologia sociológicas de acordo com regras de rel.cvâucia sociológic
'.ª . províncfo do significado dominada pelo estilo fil~ó- cipalmen te os postulados de consistêncía lógic;1 , interpretaç
tihco de pens.ar e governac.fu pela busca de conhecimento jcth•a, adequação e racionalidnde: Vem, então, a disc.u:s
suntos soci:Jls.3s razões e funções da adapração à Sociologia de modelos
uindo Max ·webcr, Schutz foi um e.,pocnte da Socio]o.,ia J:acionnl.
ativa :39 No primefro texto esco]hi<lo dessa sec;fio. Sch~rz Os modelos de uç.ão devem sei· complementados p
a " pergunt3 : por que o ponto de visrn subjetivo deve idaujs de conduta humans . Das duas cbsses desses tipo
erido nas Ciências Sociais? Lidando com as escúlas dc- consiste <'tn : 1) contextos de significndo da açfio objetivos
n to positivista e bebaviods(·a, que rejcit<1m essa abordri- 2) producos r-~sultantes da aç.'ío; 3) cursos de ação -própr
mostrou com niti<lez que, não cn1 toda~. mas em inúrne- ditos; e 4) objetos reais ou ideais deles resultant;,s. :E
1nob)cmáticas da Sociologia, duas questões têru de ser
"tipos de linhas de ação" e iuclueJJ.1 tipos de- res,1ltados
úas: 1) <l q•.1e ; ignifica esse mundo social 1,ara mim.
dutos de cursos de ação tem1inados. Líma segunda cla,se
p. 1> de.s!e iivro. de conduta humana abrange tipos ideais de atores, o
s::.i!o Sociologia ln!erpn.•iati'i:u foi inirodur.ida Pl)r rí.ow;trd Bcckcr ideais de pessoas. Ambos os tipos são estreitamente ligado
teti_za.r o conjunto das várias formas de orie.ntação social qoc para alguns objetivos, os tipos de linhas de ação podem s
ms. mlc.rprctação subjetiva dos íe.nôrncncs ~ciai~. {Alguns. cscti• truídos e usados independentememe dos de atores soci
s1vc. os lradutores de T he Plzenomenology o/ t!ie Scu..'iul Wvrld, tipos ideais <le pessoas, por outro )ado, cstiio ligados ao
ptcforem a form~ Sodologia "intcrpreH\'rt ...)
de linha de ação correspondentes.
INTRODUÇÃO SOCIOLOGIA FF.NOMENOLÓG!CA l>ll SCIIUTZ

utz descreveu os tipos ideais de pessoas como bone;:os O úllimo grupo de textos escolhidos 42 provém de du
pelos sociólogos; ·só atr:ibui a eles as caracterfa.ticas ouc te$, Uma é o ensaio "Equality and the Meaning Struct
investigar. Os bonecos são ativados através de expcriGn~ thc Social World" (" Igualdade e a Estrutura de Significa
alquer foi-ma pura de motivação pode ser estudada desse Mundo Social" ) . Escrito cm 1957, ele reflete a preocupa
Além disso, Schutz sugeriu a criação de tipos ideais habi- Schutz com o problema da tliscriminaçiio social nos Estado
os quais a motivação pessoal é substituída por. padrões dos. Trata, essencialmente, dos sirnificados
~ lfaados
~ aos
ortamento culturnJmen!c cstándardizado. Pinalmen te, deu e atividades pníticas qt1e vismu resolver o principal pro
aos tipos ideais de coletivos, de línguas e de objetos social do pais e das possibilidades e limitações das ten
em geral. Assim, paralelamente a seu estudo dos rela- de solução. A ou!ta é um ensaio anierior. "The tf.ome
ntos sociais entre contempot&neos, ele traçou as linhas (" Aquele que Retorna ao Lar"), que elucida de mane.ira
pol.ogia, do nível mic.rossociotógico so mac;•-ússociológjco. nante os problemas que enfrenta o soldado que volta da
pre<1cupaç-ões principais de Schutz eram teóricas e meto- Sem dúvida, Schutz inspirou-se, aqui, em suas próprias
s. No cnlànto, ele trouxe. para a crítica literária. a int.er- riências na Áustria depois da Primeira Guerra Mundial;
tla ·músic.n, a teoria poiícica, :.i Sociologia <lo ·conheci- soldados que depois da Segunda Guerra Mu11C1ial voltaram
'invcsL-igaçfü.1 sociológica e os problcmns sociais, os aspcc . os Estados Unidos encontravam-se muna situacão basicame
ua teol'ia.4° É tli(íçil cl«ssificar e.sscs ensaios. O Professor melhante. O ensaio demonstra a possibilidade' de se aplica
rodersen (bslo), organizador do segundo volume dos Psicologia Social fc.nomenológica a tipos de experiências hu
Papers de Schulz, os reuniu sob o título de "Tcotia fundamcnlais 1 em circunstâncins variúveis.4;
" . Tlrodersen frisou que c.ssa eNpressão pode ~er mal
ada, assi m como poderia igualmente ter sido a expres- vii) ,\ SOCIOLOGIA FAZ SliN'flUO Ao co11. trá
dos empíricos ... Quis que ela de-signasse "o uso de uma algumas das rinci ais fi uras da 1eoria sociológica m
ra a imctp1·ctaçiio mais adequada <la realidade social" tais como Pitirim Sorokin ou TalcOL! arsons, e rutz não
«plicação do pensamento filÕsófico à interpretacão tia volvett uinsistcma teórico substantivo coerente. Adoibu
j'. 41 Es~a descriçfto é- adequada, ma$ deve-se cHier que m~o ele Weber de que, em princípio,. os processos óa vida
s em paul2 val"i~1u muito qmmto à sua proximidade de e <la hisLôria são inesgotáveis. fvlas c.:\t.llVa principalmente-
çõcs empíric~s (o termo "empítJca.s " sendo tomado no sado nos "problemas" intelectuais - no sentido filosófic
mais amplo). Porém todos eles ilustr,im procedimentos priamente dito - que surgem ,.k, , e na, aLi1/idade socioló
Emptcgaro. quadros de 1·-eíerência construído$ a partir CS,Pecialmente, que surgem por trás tias suposições não-<
os da teoria soei~{ fenomenológica de Schulz, testando , nad"s com as quais opera a grande maioría dos sociólogo
,m1enlc, ~1.Jas suposições teóricas. Além disso produzem
que, por sua vez, levam ao refinamento crÍlico e dc!ido•
1
Assim, as contribuiçõc.s tlc Schutz tratam. em grnm:1c
da teoria. dos fundamentos da disciplina e atingem o âmago do d
mcta:ísociológico.44 No entanto, ele não se considernva um
scguiults iti.:ns na BibÚogr~ú ia: 1955"• 1951b e 1956a, 19;2, 1946,
45a, 1957a. 42 Ve.r t:ilp. 14 <leste livro.
o ,Orga:1iz.ador''. Colfcctcd Papars, II: ix. A scgund.'I parte dcsw.; @o trabalho recente d~ alguns psicólogos sociais omericanos, com
ntem Lodos os ensaios 1t1encionados. na ilO!a 40, mnis dois. itcus. exemplo, ffa.rold Garfinkcl , tem cerl~ rclnçúo com 3 téQria d.e Sc.lmtz
s 1,e-.;a curta~ :-:So!11c ~gulvocatio~)S ~n thc Notion of Rc~púnsi-
caminho para po~ibifüfo.d~s empíricas maiorc-.s parll lodo. a aborda
o ouu'O um -em~,o c-nu,ma!o "T1res1as, or Our Knowlcdg.: t>f .iJ,t O termo ,\-11..•tassociologia tem várias conotsi;ôes. Significa. dentro
c~t;" (1959) . Essa comdb\lição parece cst~r dcslrn:ad..l. Contén.1 texto deslt! expnsiçâú, uma preocupação ~d:;lemática c-om questõe.s an
bits·leas sobri! :.s c..1racterfslicas <la pre.vi·são na vida cotic.f üHHt e, il_ Sociologia, em termos lôgicos, çomú, por exemplo, a dos interesse
<lcveria esb~r induida na exposição da estroturu cogniüva do f:vos e orietH-ações. valorativ~s pr-:;c-xistemcs que moli\•ãm unrn
ndo da vida. · n} a "'d1ar que .u So:.:ioto_g:ia € um empre-e11dimemo que v~lc a pen
INTRODUÇAO SOCIOLOGIA FENOMENOLÓGICA DE SCH UTZ

m f-.letus~ociologltl. Sua preocupação com o fundamental !adas de acordo com processos q ue ocorrem nos domín
tlirctamente lts áreas da metodologia sociológica. Pinal- experiências imediatas denlTO desse mundo da vida.
nvolveu-se com investigações substantivas, de cal'áter prin- As contribuições. tnais substanciais de Schulz são d
!e teórico, mas iambém empfrico. O trabalho ele toda reza teórica e consistem. cs-Scncialmente em quadros con
da consiste, pois. e-m contrihuiçõcs b,isiGas a e.ssas rrê.s e dispositivos tipológicos dc$cnvolvidos através da análise d
a província das Ci'ências Sociais: a Mctãssociologia, a ces~os fundamentais que ocorrem no mundo da vida. In
ogia e a Sociologia em .si. entre outras coisas: seu estudo da motivação e da projeç
principal preocupação metassocioJ6gica fo.i estabelecer, resultante refinamento do modelo weberiano de ação e in
e in_LerpreL~r o obj_cto da SocioJog·ia. T~·int,1 e 7iuco ano:-. social; sua pesq.iisa dos procc;sos de tipificação den(ro de
cle, Durk helDl hana colocado a queWio cruc1al: o 4uc cenários de relacionamentos sociais e das formas Hng
to social? •lnspirndo em Hus~erl e cm _Weber, Schutf re- correspondentes b sua expressão e. e.stabilização; a ligaçã
u essa pergunta: qual a reahdade social com que lidam estereótipos de atores sociais e a teoria dos papéis; seus
logos?. Como Durkheim, procurou uma resposta nas es- m.:,ntos para uma Sociologia do Con hecimento, que par
consciência humana: na mente <lo homem. Ao contrário senso comum da vida cotidiana e dos proc-essos coghitivo
l1eim, não u·atou os fatos dessa realidade como "coisas.. vé; dos quais ele é estabelecido e aplicado e prossegue
er coercitivo. Em vez disso, viu essa realidade como cons• campos inexplorados e.orno o da distribuição social do e
elos homens para si. pr6ptios. a panil- de suas experiên- mcnto. Muitos dt)s trabalhos de Schutz 1~m importância
rsllbjetivas. É claro que tipificações lingüfsticas e normas mos de aplicação empírka tlin~ta. Ele aplicou vários co
. definições_. etc .. participam da imagem que o indivíduo socia is fenoménol6gicos a um grande n úmero de tópicos
mundo social_. servem como uma espécie de alicerce, muito fico:$. Assim mostrou que esses conceitos encaravam de um
te- para a S\Hl fo1n1ação, e lhe dão coerência e unifor- maneira vários tipos de fenômenos e ~xperiênci..t$ socja
possibilitando a compreensão mútua e, com isso, a inte- ou menos conhecidos. Ao mesmo tempo, testou aspectos
gnificativa. Entretanto, os ele1ne.ntos coletivos nas oi-icn- teoria confromando-os com fatos. E tais confrontos contrib
umanas nem eliminam a voliç.ão e a csponllmei<la<lc ln<li- i,final . para o aperfeiçoamento desses mesmos conceitos.
e111 impedem intel'pretnc;ôes idio~sincrásic.as de tipifica- No r assado_. essas conti:ibuições foram, cm grande
lcfiniçõcs culturais. É ess.e conceito de realidade social ignoradas o.i consideradas como lunáticas ou, na melh
ifica, <lo modo mais radical e consistente, a qual.idade li.ipóteses. irrelevantes para a disc_iplina da Sociologia. Mas
ris da Sociologia como disciplina in(electual; através dele, não era sectário. Acima de tudo, v ia os resultados de su
i:\ definição das bases de todos os fenômenos sociais. prias pesquisas com a reserva inerente à atitude científica
ssa definição do objeto da Sociologia, seguem-se os con- li(;a. Para ele, (ais resultados eram "válidos a(é segunda o
etodológícos de Schutz . Enquanto a Sociologia constitui Ele disse repetidas vezes a seus alunos que, embora cstil'ess
ecífica província do significado, distinta do mundo <la de ter fei to as perguntas cer(as, não tinha cerieza de ter
diana_. principalmente por seu estilo cognitivo especial, as respostas cOrt'étas. Ele se considerava um sociólogo den
ades que constituem as suas operações, que vão da obser- uma grande Lradiç-ão sociológica, tanto européia como ame
conce-ituação e à tipificaçf!.o, são, elas próprias, modc• com $1:!U lugar entre os sociólogos seus contemporâneo:$.
Assim, nunca negou a sua dívida para com Max W
se engajar: e b) ti selecionar áreas, tópicos e problemas espcc~• pura com os primeiros expoentes da Geisleswissensd zaf(en
seu lrabulhú :mciológ;i.co. E:;su$ preo(.."Upações subjeti\'ilS estiverain Da mesma fo1ma, rendeu homenagem a Georg Sinunel,
de Mmc ,vcbcr quando de desenvolveu seu oonce.itú de Sociologia i
valor'', SchuLz foc~lizou uma úrt -U Telm.:fo11:,.da ~ essa, eruborà 1 dos fundamen tos ncokantianos deste úl timo, e a Emile Du
om respeito a decisões incisÍY(IS cm termos de Mct..;~~odotosia: e seus discípulos, ernbora não concordasse com sua inclinaç
üo do objeLo <lu Sociologia. sitivista. Dos func.ionalistas britânicos, Bronislaw Malinow
INTRODUÇÃO

muilo. Nenltulll desses cientistas sociais era fenomcno-


alguns eram até indiferentes à abordagem subjetiva.
bém eram grandes as ligações intelectuais de Schu!z com
es aruel'icanos contemporâneos e do pas5ado. Como mos-
l. Fundan1ento da .Fenmnenologí
<.·
ceitou váréas contribulções de homens os mais diferen-
o William James, Jo.hn R. Dewey, George !-1. Mca<l,
G . Sumner, Charles H. Cooley e William I. Thomas.
eiro empreendimento teórico, ap6:;. soa chegada .aos Es-
idos, foi uma pesquisa cios fundamentos do estudo de
arsons The S1ructure o/ Social Aclio11. Depois, en trou
ato com homens como Robert M. MacTvcr, Howard
Edward Shils. Se ele não chegou a se apro(undar no
de sociófogos tais como Robert E. Park, T'lorian Zna-
PiLirim Sorokin, não foi pot sectarismo, mas tlevido (s
gações pi-ofissionais forn do campo acndêmico.
s seleções elos escritos <lc Schut7, são oferecidas com o
spírito c.on1 que foram escritas, n~o com.o alicerces .de
ma indivi<.hwlist<), nrns como contribulçõe~ pa1'a uma tra-
iológica bem estabeleclda, embora não universal. P. a
que., manifestada de várl.Js formas, toma como p(mto de
~ atores sociais que constituem a sociedade, cm vez de
e ii1stituições sociais, que sãú os produtos de suas ati-
Scn, negar preocupações com a ~tfacrossociologia, Schufz
o tipo de abordagem de Weber ao domínio sócio-psico-
principa.lmenle neste domín io que o seu trabalho pôde
importante para os expoentes das abordagens subjetivas
ente revilaliza<las na Sociologia e. Psicologia Social ame..
entre ;1s quais a teoria in lcrativo-simbólica . Espera-se
livro desenvolva e aprofunde a <li!-icussão crilic.a e a
ão <los temas básicos propostos por Schutz. Seu tra-
ua-se, clia111c de nós, não como um corpo fechado de
mas como o grande esforço de umu mente excepcio,rnl.
.safio.
1

BASES DA FENOMENOLOGL'\

Fenomenologia em Foco

Até agoni os cienti:-stas sociais não acharam u


dagem apropriada para o movimento fenomenológico inic
os textos básicos de Edmund Husscrl nas três primeiras
<le nosso século . Em certos círculos, o fcnomcnologista é
roo uma c.spécic de mag_o de bola de cristal, um meta
ontoiogista no sentido pejorativo dessas palavras enfi 1

nnia pessoa qlle desdenha to<los os fotos empíricos e os


denrificos mais ou menos estabelecidos criados para co
in terpretá-los. Outros, mais bem informados, acham que
menologia pode ter uma certa importância para as Ciê
ciais.! mas vêem os fenomenologista:s como um grupo
cuja linguagem é iné.ompt~cnsívcl para um c.str::m ho e c
não vale a pena incomodar-se. Um terctiro grupo form
idéia vi1g.1 e piincipalm,~nlc e1·rõnea do que a Fenom
significa , com base cm alguns dos slogans usados por m1
simplesmente, preteoclem ser fcnomcnologistas, sem us
todo de Hus~cd (como, por exemplo, T heodor Litt) , o
par fonomcnologistas (como Max Scheler) em textos nii
·noJógicos, qul! traiam de assuntos da!S Ciências Sociais .
A tentutiva de redu1-ir o trabalho de um grande
algumas proposições básicas ao alcance de um público
Jfarizado com o seu 1,ensam~nto é. cm regra, um e
mento frustrado. E, com relação à Fenomenologia de H us
tem diversas dificuldades especiais. A parte publicad
Filosofia. apresentada de maneira condensada, e atravé
linguagem alt3mentc técnica . tem um carácer bastanre

Trafü"crilo d.r.,s .scp,uinte.s iteíl.S ds Rihtiografia: t945Q, 77-79, 9.


443-46; t9ó7, 45·47, ; 1-53, 53-57: l94;c, 537-38, 53941.
FUNL1AMEN1·os UA FEXOM F.NOLOGlA ll•\ SF.S DA FF.~ Oi'v1F.NOT..OfilA

considerava essencfal recomeçar rc.pctidas vezes sl1a li~c e desc.rição, mas numa espécie de intuição sem con
não s6 sobre os fundamentos básicos da pr6pria f iln- rcve!acão metafísica. Mesmo muitos estudiosos sérios de
também sobre o~ de• todo o _pensamento científico. Seu têm si~lo inóu7jdo, a clsssifícar a Fcn(>tnenologia como m
a mostrar as pressuposições implícitas nas qutiis :;e po1·qt1e ela deliberadamente recusa-~c "- aceitar de modo
lquer ciência do n1undo das coi.sa-:; r:aturais e socfais, pcn:cp~·ões sensoriais, f ~uos biolúgicos, sociais e amhic.nt
Filosofia atuai. Seu idei1l era ser um "aprendiz~· de dndos. como ponLos de par t[ds inq uc~tionávc:i~ para fov
no scnli<lo mais Jitcral <lo termo. Só arravés úc -;n.1<Hises filosófica . Além disw, o uso que 1:-Iusserl fez de certo
firme consistêrtcfa e de uma rnucfança radical nos im próp rios, Lais como t:Ves<?Jrssclwu, impéi.liu mui La gente
itos de pensamento é que podemos cspernr 1-,evela r a tir na Fenomenologia wn método fi losófico de pensame
uma "filosofia primeira", que leve em conta os requi-
uma ªciêncfo e;,,:.ata" digna do nome exige. Poi~ da é um método. e dk) "cientifico'' quanto
outro.
dade que muitas ciências ~fio comu mcntc chamadas de
xat~s. sendo que essa exprcss'fio se t'efere: cm geral, à
de de p1'cscntar o conteúdo da ciência de forma ma(e-
o é esse o significado que Husserl deu à éxpres~ão . . . A Fenomenologia e as Ciêncías Sociais
convencido de que o nome <lado f}s chamadas Ciência~
e usam a linguagem matemática com tanta eficiência Alguns comentários finais. podem <lar uma
a uma compn:ensão dss noss.Js expel'iência.~ do m und~ nível da importância da Fenomenologia para as Cjênd as
ndo cuja cxhtência elas prc.ssupõem de mod() acrítico Deve ficar claro que a rclaç.fío da Fenorneno1ogia com as
pretendem medir com pad,·ões e ponteiros reguiados Sociais não pode ser demonstrada através de análise,
e:::cnlas de sc.us instrumentos. Todas as ciências crnp\.. todos fenomc.nol6gicosJ de problemas concretos da Socio
erem ao _mundo como dado: mas elas próp rias 1 e. os Economiil: tais como integração social ou teo1ia do comér
men los, sao elementos desse mundo. Só a dth ida filo- nacional. Estou c~rto, no entanto_. de que os estudos fut
respeito Lls pressuposições impíicitãs cm todo o no::;so métodos das Ciências Sociais e de. suas noções Í\!n<lamc
habitua] - ciencífico ou não - pode garantir a "exa- lt: var, nec.essariamente: a tem,1s p ~rte.ncentes ao <lomíni.o
a mesma (entativa filosófica e também elas de todas quisa fenomenológica.1
que tratam, direta ou indirctamemc. das nossas exne- Para citar apenas um exemplo~ todas as Ci~ncia
mundo . . . · vêem a jntcrsubjc tividade de pensamento e açâo como pre
esboço do objeti vo geral de Husserl pode explicar as Que existem as pessoas, que elas ágcm em f u.nção u
1cukladcs que encontra um foic.iante que tenta asso- outrasJ que é possível a comunicação através de $Ín1bolos
omenologia um dos rótulos comuns nos livl'os de es- que os grupos e instituições sociais, $istcmas legais, c.c
omo idc.alisruo, tct-tlismo, empiri:smo. Nenhuma dessas e outrOE .s ão elt:mentos intcgranles de nos,50 mundo da v
s de cscofas pode se, apropriadamente aplicada a urna esse mun do da vida tem sua pnípiia história e relação
e as coloca todas em questfio. A Fenomenologia. busca com o tem,:,o e o espnço - siio tod3s noções díreta ou
al de todo o pensamento filosófico e deve, quando monte fumlameot~is para o trabalho de todos os cientista
pletamenre desenvolvida, acabar onde todas as Filo- Es!es últimos têm desenvolvido certos dispositiYo, meto
ciona is começam. Seu lugar é além - ou mclh<Jr, - quadros de referências-t sistem as de tipos, métodos
todas as distinções entre realismo e idealismo. cos - de modo a lidar c.om os fenômenos que esses term
:otas ~l~roúutórias talvez possam ajudar a desfazer uma
o crronea muito difundida da natureza da f'cnomono- i \i-t't A. Schutz, "Ph,momeuology and the Social Sdcnccs". cm
p/llcal Essays fn Mcmor)' oi fal:mmd l fos~qrl, Marvln Farber, o
rença de que ela· é anticientífica, baseada níio em ·imã- bridge, M~s$., 1940)_. pp. 164-86.
FUNUAMENTOS DA FENO:\U::NOLúúlJ\ JlASBS DA Fl:N O~iENOLOGIA

os fenômenos em !-;i :;;ão ton1ados como prcssuposlos. O diz ele, "como o màis fundamental de todos os Postulado
o ~iniplesmente é considerado um ser socia1: a Hngua e cologia, e vou dispensar, como por dem,iis metafísicas pa
ema.s de comunicações existem, a viela conscleníi:: dú paço deste livro, todas as curiosas questões a resp eito de
e.ssível a mim - enfim, posso entender o outro e seus teza" . ªO fato de termos algum tipo de cQgitação é w
pode me en tender e a u,eus foi tos. 1-: o 1uesmo é ver- cessum num munc.lo cujos outros fotos.: na sua maioria, em
os chamados objetos sociais e cultur~is cri;1dos pelos momento t.ivermn sua exi.slêncfa ameaç:.Hla pela dúvida filo
anos. São pressupostos. e têm seu sign ificado e modo Em primeito lugar, essa posturn básica é o ponlo
ecíficos. de onde partem taoío a pesquisa psicológica de James com
o que é que foz com que o cntendinwnto mútuo seja samcnto fenomenológico de H usscrl. O primeÜ'o fato ind
Como é possívcl que o ser humano reafüe aros signifi- de que se pttrte é a existencia de uma consciência pe
m propósito, ou por hnbiio, que ele se oriente tendo d-ado imediato cm Psicologia é o cu, muito mais do que
ins a alcançar, motivado por certas expcriõnci"s'! Os m.c nto. e o fato da cxh,;tência da consc.iência universal
de significado, motivações, fins. atos, não se refeL-em traduz cm ·' sentimenlos e pensamentos existem''J mas
o tij,o de estn1tura de consciência, a u nrn cert~ orde- 1,enso'' e ª cu sinto". Dentro ele cada consdênda ·pc.ssoaJ,
todas as experiências num tempo inieriot, a ãlguma_ n.1.cnto é sensivelmen te contínuo e mutável C: como tul.
sedimentação? E a interpretação do significado <lo râve] a un, rio ou corremc . ªCorrente ele pensamento", "
significado de seu~ at()S e resultados do, seus ato; nãD de expedênciw~ ou cogitaçõesn. "conente. de vida pesso
uma auto-interpretação do observador ou parceil'o? Co- ciente~'. são e1>ses os termos usados pelos dois fil6sofos
na minha posição de homem entre outros homens. ou ra1.:terj1.ar a essência d'1 vida pessoal interior. Para ambos
isla social, encontrar um meio <lc abürdai: tudo isso, dadc <la consciência consiste na c.orrclação total <lc todas
ol'rer a um estoque de experiências já interpn.:!adns. " p3rtes". li o nosso pensamcnlo conceituai abstrato, diz
s e se-dimentadas em minha pri5pria vida consciente? que isola e .fixa, arbit.r::triamente, como partes deLcnninad
urança potlcm ter os métodos ele interpretação do inter- corrente de consciência . .. ;
ento social se não se baseian1 m.n11a descrição cul<la- Para Hussel'l,. a vida pessoal da consciência, como ra
posições subjacentes e suas impHcaç.õ cs? bitável: leva à apreensão e à pC!>quisa teórica do "reino
questões nffo podem ser r◊spondidas pelos método,; d~s ciência put·a no seu próprio Ser auto-suficiente". Exam
ociais . Exigem análise filos6fka . E a fe nomenologia - i$SO mais de perto. Desde o início,. o prohlcilla de I-Iu
s o que Husscrl chamou de Pilõsofia Fenomenológica, bifurcava: o prithciro era es(abclcc~r uma dis<.:iplina psi
m a Psicologia Fenomenológica - não só abiiu ca- a priori, capaz de. prov~r a única base. s~gura a partir
a tal nnálise como tamb~m a iniciou . se pudesse construir uma l'sitologia empíric.a de peso; o
era esiabelcc.er uma Fi!osofi<l universal. par(indo de u1n
pium absoluto do conhecimento, oo sentido liter.al do ter
Comci&ncia tamos muito interessados na primeira parte do problema.
I-Iusserl começa com a explicação das carac.t~r(sticas
D!sculindo os métodos <lc investigação à djsposição P'º•iência psicclógica. N" medida em que vamos vivendo,
ogos, ' James mos era que nenhuma pessoa hesila em em .nossas experiências e, c.oncentr a<lo~ i:omo ficamos nos
ue sente o próprio pensar e que distingue o cst«Llo dessas expe.riêncfas, perdemos de vista os " :1tos da exp
mo uma atividade intcdor diferente dos objetos com subjeLiva" em si. A fim de revelar esses atos da cxpel'iênê
ode lidar em Cennos de cogniç.ão. NVejo essa c:n..:nça:i, tais, temos <le modificar a atitude ingênua com a qual n

vol. 1. p. 185. ,; Jbid.. µ. 226.


FUNDAMENTOS VA FJ.::NOMENOJ.OGTA BASES DA F6NO:-IBNOLOG!A

objetos e temos de nos voltar para nossa, próprins expe- O que sobra do mundo depois des.sa "colocação e
num nto especifico de ., reflexão" . .. rênteses"? Nada mais nada menos que a totalidade con
corrente de nossa experiência, comendo todas as nossas
ns!5o seguinte. seg1.1ndo Husserl. é revelar a visão a que cões, reflexões) enfim, as nossas co!ri
.. o tacõcs.
· ,. E como e:..
i v
alravé, <la refJ.,xflo i1 "intencionalidade" da conscWn- t:ações continuam a ser intencionais, seu$ "obictos inten
aráter básico <le nossas cogitações é o fato de serem
correspondentes também persistem entre parênÍescs. Mas
cia de" alguma coisa. O fCnõmeoo que .apmece na re- vem ser, de modo algum, identificados com os objetos ins
o objeto intencional da intenção, sobre o qual eu penso, São apenas Haparências", fenômenos e, como tais, ma
u_ pcrcc.bo. do q11al eu tenho medo, <:>te. Toda experiên- dades" ou "sentidos" ("significados"). O método da red
un, c.aracter1zada não só pelo fato de que é uma cons- nomenológica, portanto: dá acesso à cor.rente de consciê
mas _tan1bém simultaneamc-nlc <lcterminad(l pelo· objeto si, como um reino próprio, de natureza absolutamente
.ão cio qual é uma consciênciu .4 l'oden1-se descrever os Podemos vivenciá-la e descrever sua estrutura interna. E
n11a$ da intencionalidade. Tal descrição pode ser reali-
tarefa da Psicologia Fenomenológica . ..
dois níveis diferentes: primeiro. dentro da "atitude na•
aliás, lttdo o que foi dito até «gora !'efel'e-se a este A redução transcendental é importante para a Psicolo
segundo, dentro da csíera da redução fenomenológic:,. critiva Fenomenológica porg_ue revela a corrente de con
m conceito básico da teoria de H us:erl, e exige 1~aio1· e suas características no seu estado puro e, acima de tudo
o. certas impol'tantes essttuturas da consciência somente se
1
visíveis através dessa redução. Como a cada determinaç
nossa ~:ida c_otidüma 01.1, como tHz 1-lusserl, ' do ponto rica da redução fenomenológica corresponde, necessariame
natura]··, acc.1tamos sem questionar a existência do mun- caructcrística paralela na esfera natural, e vice-versa,
or, o mundo de fatos que nos cerca. Na verdade, pode sempre voltar à "atitude natural" e nela utilizar o disce
d11vicfemos de qualquer da/11111 desse mundo c,telior que ganhamos dent.o da esfera da redução.
até que desconfiemos de ta ntas c xpedêllcias desse mun'.
as quisermos; mas a crença ingênua na existência de Tomemos como exemplo a teoria de Hussed de no
undo ex!erlor, essa "tese geral do ponto de vista na• que. vivencia") e noema ("o que é vivenciado"), que
ai subsisLir, imperturbável. rvlas, através de um esforco xima de alguns princípios de fames. Como todas as co
e nossa mente, podemos alterar essa atitude, não tran"s-
devido

ao seu car2ter intencional, -são ª consciência de"
nossu crença ingênua no mundo e.xtcrior cn1 descrcn~ coisa, sempre haverá duas maneiras de descrevê-las: a p
ituln<lo nossa convicção de sua existência pelo seu cÕn~ a noemática, se ocupa do cogitatum., isto é, do objeto in
as susp-e.nde.ndo a crença. Simple.smente, resolvemos im- de um determinado pensamento nosso, conforme aparece
c nossa mente faça qualq\ler julgamen!o com n:ladfo à exemplo, como uma certeza, possível ou presumivelm
objeto existente, ou como um objeto presente, passado
espacial e temporal ou. cm linguagem técnica. · colo-
turo; a segunda, a noécica, se oi.:upa dos atos de cogit
existência do mundo "fora de aç.ão", "coloc.nmos noss;,1
próprio vivenciar (noese) e de suas modificações, co
da entre parênteses" . Usando esse epoclui em particular. exemplo, a percepção, a retenção, a lembrança, etc., e s
·colocarnos cutr~ parênteses" todos os julgamentos do
rentes níveis de clareza e explicitaç.fio. Cada noese espec
m~m de nossa vida cotidiana sobre o mundo exterior, seu correlato noemárico específico. Hú modificações de p
bem. todas as proposições das Ciências Naturnis que, to que afetam igualmente todo o conteúdo noético-noem
tc, h<lam com as realidades dc$se mundo do ponto de mo, por exemplo, as modificações de atenção; outras, q
ural.
fonnnm mais ou o lado noemático ou o noético. Mas
crl, Idcas: G~:neral ln.'roduc1ion to Putc J1!:cno1mmolug::, rrad.
mais detalhada (que só pode ser realizada dentro do c
oyce 0ib::.on, § .36. red11ç5o) mostra g_ue há sempre um núcleo ou miolo n
fUNDAMENTOS DA FENOMENOLOGIA BASES DA fLNOMl:!\"OI:0GL4

objeto intencional que subsiste a iodas as altctaçõ1ls e "Objetos temporais"' trnnscendentes, mas aparecem . em
ser definido como "o significado do pensamento no seu experiência em geral, . .
ealização plena". Mas como ê que ns e, periências individuais dentr
rente de consciência constituem unidades intencionais?
mos como ponto de partida o conceito de Bergson d
Experiência: Corrente de Consciência entiio fica claro que a diferença en(rc o fluxo de e~peti
"duroç5o pura" e ,as imagens dc.scornfnu-as, delimitadas, n
_Comecemos por considerar a distinção que Bergson do tempo e do espaço, equivale a uma diferença entre d
viver dentro da corrente de consciência e viver dentro de consciência. Na vida cotidiana, enquanto age e pen.
do tempo e do espaço. Bergson comrasta a "corrente vive ao nfvel da consciência do mundo do tempo e d
e du~aç5o'' - a durée - um vir-a-ser continuo de quali- A ''atencão à vida" (artention à la vie) o impede de m
eroge1:e~s - com o tempo homogêneo, que se espacia- na intuiÇão da duração pura. Entretanto, se a "t~nsâo
quantil!cou e se tornou descontínuo. Na " duracão de rela><a-se, por qualquer motivo, o Ego de.scobre .q ue aq
ra" não exislc •·•paralelismo". não existe correfaçÍo mú- antes parecia ser isolado " nitidamente definido dissolve
rtes e não existe divisibilidade. mas tiio-someníe um cm transições contínuas, que as imagens fixas são sttplan
ínuo, uma corrente de estados conscientes. No entanto, um vir-a-ser sem contornos de.limitados, fronteiras ou d
o "estados conscientes" pode levar a um mal-entendido, ções. E, assim, Bergson conclui que todas as distinções,
os fenómenos do mundo espacial, com suas entidades tentutivas de ºisolar" as experiências individuais da um
corno imagens, percepções e objetos físicos. O que nós durac.iio são artificiais, isto é, alheias à durée pura, e
venciamos n« "duraçlioH não é uma coisa delimitada e. as te;1tativas de analisar processos são simplesmente caso
ida, mas uma transição constante de um "agora-assim" lização dos ,nodos espácio-temporais d~ representação
o "agora-assim", A co1,-ente de consciência, pela sua que é radicalmente diferente disso.
tureza, ainda não foi alcançada pela rede da reflexão, De.fato, quando estou imerso na minha corrente.~e
o, sendo uma função do intelecto, perte1ice essencial- eia ' nr, minha durée, não c11co11t1·0 nenhuma expenenc
mundo temporal e espacial da vida cotidiana. A estru- .,. '
.

mente diferenciada. Num dado momento, uma experienc1a


ssa experiência vai varjar conforme nos entregamos ao de", e logo Hse apaga". Enquanto isso, alguma coisa nova
duração" ou paramos para refletir sobre ela, tentando que era alguma coisa velha e cede entãó lugar a alguma o
a com conceitos espácio-temporais. Podemos, por exem- ainda mais nova. Não posso distinguir entre o Agora e
ciar o movimento como urna mudança múltipla cons- e·ntre o A"ora mais recente e o Agora que acaba e
outras palavras, como um fenômeno de nossa vida inte- ex<:eto por~ue sei que o que acaba de passar é diferent
mos, por outro fodo, conceber esse mesmo movimento o que se passa agora. Pois eu vivencio a minha dura
evento que ,;e pode dividir e distribuir no espaço homo- uma corrente irreversível, unidirecional. e vejo que d
último caso, entretanto, não captamos, na realidade, a momento atd s a agora mesmo eu envelheci. ?\·tas n
sse movimento que está sempre por vir e acabando de estar ate.mo a is.so enquanto ainda estou imerso na cor
vez disso, captamos mo,..imento que não é mais movi- medida em que toda a minha consciência permanece
vimento que esgoLou seu curso, em suinaJ não o mo- riamente unidirecional e irreversível, estou inconsciente
m si, mas meramente o espaço percorrido. Da mesma fot·· meu próprio envelhecimento quanto de qualquer difere
os distinguir nos atos humanos esses mesmos dois aspec- presente e passado. A própria consciêhcia da corrente d
mos vê-los como processos conscientes duradou-ros, pressupõe urna volta contra a corrente, um tipo espe<:i
ou como atos congelados, medldos em cerinos de es- tude com relação a essa corrente, uma "reflexão", com
ompletos. Esses dois aspectos não são exclusivos dos chamá-Ia . Pois ,emente o foto de que uma fase ant
FUNDAMENTOS DA FENOMl>NOLOGL\ llASF,S DA FF.NO'.';l'ENOLOGIA

e Agora ·e Assim faz o Agora ser Assim. e aquela fase são apreen<.Hdas, distintas, acentuadas, mal'cadas, uma c
ue constilui o Agora me é dada neste Agora em forma ção à outra; as experiências que foram constituídas como
ança (Erinnerung) . A consciência da experiência na um fluxo de duração tomam-se agora objetos da atenç
de duração pura é transformada a cada momento em experiências consiituídas. O que antes havia sido consti
do que acaba de ter sido assim ; é o lembrar que 1110 uma fase revela-se agora como uma experiência
a experiência da corrente de durnção irreversível e mo- importa se o "Alo de atenção" é de reflexão ou de re
im, a consciência, transformando-a cm lembrnnça. (ua apreensão simples). Pois o Ato de afen.cão - e i
maior importância para o estudo do significado - p
uma experiência que foi, que passou - cn, suma, uma
Experiência Significativa cia que já está no pass:1<lo, independente.mente de se a
em g(lestiio é reflexiva ou rcprodutivíl.
Se nós apenas vivermos imersos no fluxo da duração, Portanto, temos de opor as experiências que são ind
ramos experiências indiferenciadas que se dissolvem das em seu movimento, umas penetranôo nas outras, de
outras num fluxo contínuo. Cada Agora difere essenci.al- às que são delimitadas, já passadas, já idas, de outro.
Agora anterior pelo fato de que o anterior está con Lido mas, i,s apreendemos não por vivermos através delas,
. Agora na forma de umodificação por rctcnç:fio''. Entre- meio de um ato de atenção. Isso é (undamental para
a sei a respeito disso enquanto vivo apenas o fluxo de que estamos explorando: pelo fato de que o concei(o
p~i~ só_ através de um ato de atenção reflexiva é que riência sign ificativa sempre pressupõe que a experiên
d1f1caçao por reienção e, cm conseqüência, a fase ante- significado é predicado é uma experiência dclimiiada, f
ro do fluxo de duração, existe apenas um viver mo- bastante claro que somente uma eiq,eriência pa&sada, ist
momento que, às vezes, contém em si também as "modi• experiência que é vista em retrospectiva, como já acabad
or retenção" da fase anterior. Então, como diz Hussetl, nada, pode ser chamada de siguificativa.
meus atos, cuja intencionalidade viva me leva de um S6 do ponto de vista retrospectivo é que existem exp
seguinte. l\fas esse Agora deveria ser formulado como delimitadas. Somente o gue já foi vivenciado é significati
te, um ponto, como uma quebra da COl'l'ente de du- aquilo que eslá sendo vivcne.iado. Pois o significado é m
a divisão dela em duas. Pois, para efetuar ia! divisão uma operação da intencionalidade, a qual, no cnLanto, s6
da duração, eu teria de sair de dentro do dito fluxo. visível reflexivamente. Do ponto de vista da experiência
de vista do estar imerso n.a duração: o "Agora" é uma se passando, a predica~ão de significado é, necessaiiam
do que um ponto, e, conscqüeniemenle, as diferentes vial, já que significado, aqui, s6 pode ser entendido c
misturam umas às outras num continuum. A própria olhar atento dirigido não à experiência que está .passand
a de viver o fluxo de duração segue em frente, tem experiência já passada.
mento umdirecional, irreversfvcl, indo de mulliplicidade No entanto, será que a distinção que acaba de se fa
licidade, um processo constante de fuga. Cada fase da expeli~ncia delimitada e experiência não-delimitada de
a dissolve-se em outra enquanto está sendo vivida, sem justif.ica? Não será pelo menos possível que o olhar ate
fronteira definida; mas cada fase é distinta da outra iluminar cada item ela experiência passada, possn ''co
ssim", ou qualidade, na medida em que está na mira da

tanto, quando, através de meu ato de reflexão, volto


~ção para a minha experWncia de viver, já nfio estou
c1':.nado dentro da corrente de duração pura, simples-
nao estou vivendo dentro desse fluxo. As experiências
l. relevo" e "distinguir" esses iLens dos outros? Acreditam
resposta deve ser negativa. Existem, aliás. experiências
experiências enquanto estão presentest mas sobre as qua
pode refletir nada, ou somenie através de uma apreens
mamente vaga e cuja reprotlução, a não ser por meio
puramente: vazia de que .. vivenciotHie alguma coisa:1 - c
1:UNDAME:--ITOS DA fE.N Or.,ffiNOLOGJA BASES DA FENOMF.NOLOOIA

ou de uma maneira clara - é impossível. Chamare- de~gosto, .::te.) . Os J.imitess da lembrança coincidem ex
grupo de experiênciaS- "essencialmente atuais", porque com os limites da "racionnlidade", desde que se use essa
por natureza~ limitadas a uma detcrn1inada posição tem- ambfaua - como o foz, às vezc.s , Max Weber - no seu
(ro da corrente de consciência. São conhecidas por sua mais ~mplo, isto é, no sentido de ''possibilidade de alribu
u proximidade con, o âmago mais profundo do Ego, que ficado" .•A. possibilidade de recuperação pel.n memória é,
muito bem definiu como " privacidade pesssoal absoluta" o· prin1eiro requisito de toda con,trução racional. Aquil
ntim.e Persotz) <lo indivíduo. Sabemos que a privacidade irrecuper{ivel - em princípio, sempre algo inefável -
bsoluta de uma pesst)a está lá, e que ela permanece ser vívido, nunca "pensado": é: em princípio, impossíve
ente fechada , sem permitir que outros indivíduos com- verbalizado.
sua experiência. Mas também no autoconhccimento
a esfera de intimidade absoluta cujo es/ar 16 (Daseift) é
itável quanto fechado à nossa inspeção. As experiências Conduta Irnbuída de Significado,:,
a cs.sa esfera são simplesmente inacessíveis à memória,
um fato característico de seu modo de ser: a memória
o "isso.,, dessas cxpcriê.ncias. Talvez se possa reforçar· Devemos agora responder à pergunta: "Como
ação dessa tese (que aqui só pode ser afirmada, e não tinauir o meu comportamento do resto das minhas experi
nte provada) por meio de uma obser vação ímediata: a os° própdos costume-s dão a !'esposta. A dor. por .e:"empl
normalmente chanrnda de comportamento , nem dmam q
o adequada da experiência tom a-se cada vez menos-
"rnc comportando" se alguma outra pessoa levantasse
à medida em que esta se aproxima do âmago, da inti-
braço e depois o deixasse cair. Mas ias atitudes que eu
a pessoa. A conseq üência dessa função decre-sccntc é
em qualquer desses dois casos, são chamadas de compor
dução cada vez mais vaga do conteúdo da experi6ncia. Posso Jutur contrn a dol', suprinü-la ou entregar-me a el
amente, diminui a possibilidade de recapitulação, isto sujeitar-me ou resistir quando alguém segura meu braço.
cidade de reconstrução completa do curso dll cxpcriêu• dois tipos de expel'ifodas vividas, fundamentalmente i
do ainda existe algwna possibilidade de reprodução, o• cionadas. As cxpcriênc.ias do primei(O tipo são meramente
que se pode chegar é a um simples ato de apreensão. d~,s por'' ou us.ofridas". São caractl!rizadas por uma pas
" da experiência, no entanto, só pode ser reproduzido
básica. As óo segundo constituem atitudes tomadas com
a recapitulação. A lembrança de uma experiência do- a cxpcriê.ncius do primeil'O tipo. Nas palavras de Husscrl
terior é relativamente nítida, uma se.qüência de aconte- portamento é "uma experiência da consciência, aíribui<
xternos,. wn movimento talvez, pode ser lembrada numa
significado". Ao c.studat o "impo1tante e difícil problema
odução, isto é, escolhendo-se arbitrnriamen(c determi-
nfoão das características do pensamento", Husscrl most
tos da duração. A reprodução de experi~ncius da per,-. ne~1 todas as expc,iêocias são por natureza atribuidoras d
erior é incomparavelmente mais diflcil; aquelas perccp• ficado. "As experiências primordialmente passivas, as asso
as próximas do âmago absolutamente privado da pessoa as experiências cm que tem lugar a consciência de tempo
peráveis no que diz respeito a seu "Como'\ e no m,1- a constituição da temporalidade im~nen_tc e. outras expc
-se apreender o seu "Isso''. Pertencem a e.ssa regiffo, desse tipo são todas incapa7.t:S disso·' (isto e, de confen
ro lugar., não só todas as experiências da realidade fi.
o, ou, ern outras palavras, do Ego Vit~l (tensões e rela- :i Nota <lu orga,;izador: Nem; rcxto escolhido. os ~aduto!cs .deram
musculares relacionados aos movimentos do corpo, dor íllemão Vi.•rfralten o seu cquivtüeme litcrnl ingh:s, behav1or ('_
ensações sexuais. e assim por diante), mas tan1bém os. mcmo''} . Na sua iâst: arnericana, Schutz <)lentou coda v_ez mà1.s
psíquicos classi{icados em conjunto sob o título vago conoLações .:unbíguas. ligad,ts l!.0 termo comportamento de\:l<lo n se
bch,a\'iorismo. D.: mctlo a evitar implicaçúes com a tcona mccar
res'\ ou Hscntimentos" e "afetações'' (alegria, tristeza,. e.stímulo e reação. clc passou a preferir o temio c:onduta.
fUNOAl'IF.!<'1'0S !>A l'ENOMêNOLOGIA JJASES DA FE!<OMENOLOGIA

A experiência atribuidora de significado tem de ser, ao a ela de um ponto de vista posterior. Isso envolve necessa
, wn "Ato do Ego (Ato de atitude) ou uma modifi- retenção ou lembrança. Essa última pode consistir num
um Ato desse tipo (experiências passivas $ecundárias Alo de apreensão, ou pode envolver reconstrução, por f
z, um julgamento pas:sivo que, de repente., rue ocorre')" .5
1
qualquer dos casos, a .intencionalidade original da Ativ
pontànea é pre$ervada na modificação intencional.
ossível, se assim se desejar, definir os Atos relativos a
atitudes" com.o A1os relativos à ativi<ladc criadora pri- Aplicado il teoria do comportamento, isso sig1úfic
esde ,1ue, como foz Husscrl, illcluam-se aQui os senti- próp1io c.omportamchlo de alg-1ém, enquanto ocorre de fat
a <.:-0nstituiç.ão de valores através Uc senti.méntos,. sejam e.Xperi~ncia pré-fenomenal. Só depois que ela <le fato <>con
ores vistos como fins ou como meios. Hu.sserl usa a ex- se ela ocorre em fases sucessivas, só depoi~ que as p
"experiências conscientes atribuidora~ de ::;hmificado" fases tiverem acontecido) é que ela se e,5tabclcce como
ende Rewusstsei1tserlebnisse) para abranger toô~; as expe- delimitado, isolado do conjunto d,is outras experiênci
que se dão intencionalmente, na fonna de atividade es- alguém. A cxpcritncia do fenômeno, então, nunca é ele
ou numa de suas formas secundárias mo<lifica<las . Jvfas "se comportando", n1as <le alguém que "se comportou
o as ·modificações'/ As duas principais são a retenção e a assim" ,1 cxpeth~ncia original pel'manece na n,em6ría a
ão . .. embora em outro sentido, que em quan<lo ocorreu. A
nimos "comportamento" con10 unw experiêncfo da com• meu comportamento passado é o meu comportamento;
que atribui significado: através de atividade espontânea. num ato me11, através elo qual torno uma ou outra atitude
o comportamento (nó sewido mais resfrito de co11duta) se só o vejo '"de perfil", como algo do pnssíldo. E é prec
mna .subclasse dentro do compo,tamcnto assim concebi• es$e caráter tlc atitude que t1 distingue do resto da min
os discuti-los mais detalhadamente adiante. Aquilo que riência. A m.inha atitude passada contintrn sendo minha:
a a objetividade da conscii3.ncia, que é constituída na Ati- eu quem uma vez passou por ela; isso é simplesmente ou
rimária e é, portanto, um caso de contportr:mento. de de afinnar que o passar ou "ir embora" <la duração é u
outras experiências da consciênciai e a torna "atribui- contínua, existe uma unidade fundamen tal na corrente
significado", segundo llusserl, só se torna inteligível com ciGncia que constitui o tempo. lvle.smo as experiências ba
dição, a saber, que se apliquem as distinções explicadns te pnssivas, em retrospectiva) 5:ão vi.stas como as minhas
ntre o Ato que constitui e a objetividade constituída, cias. O meu compo1i amentt1 se di~tiuguc <leias pelo fato
à esfera da Ativldade espomãnea. Agindo dessa fo1ma, ter i, núnlw iml?tc.ssão pdmacial ele Atividade espontâ
r-se-á entre o Ato espontâneo em si e o ohjeto constitlúdo () cQmpotlamcnto, então, consiste numa sér)e <lc
dc. No scn1ido da ocorrência ou passagem <lo comoor!a- cias que são distintas de todas as outras devido a uma
Ato espontâneo não é nada mais elo que o modo de inien- nalidade primordial de Atividade espontânea, a q ual pe
de no qual se dá a objetividade constitutiva. Noutras a mesma cm todas as modificações intencionai.s: Agora f
o comportamento, conforme ocone, 6 "percebido" de o que quisemos dizer quando colocamos o comportamen
o único como atividade primordial. mcra::s experiências, vistas de um c.cno. .:-nfoque, isto é~
pe-rccpç.ilo funciona como uma impressão primncial que, nadas à utlvi<la<le que. originalmell.te a~ produziu. O {''sign
sofre un1 "ob-:scurecimento" comu1n ao processo de re- das experiências, elltão, não é mais do que- aquele código
omo acontece com todas as impre.ssõe.s . A utiviúa<lc .S prelação que ,is vê como comportam.ento. AssimJ tam
eriênda qu~ é constituída em fases, na transicão de um e.aso do comporlamc.nlO; somente o que já e::stá feito: te
r.a o seguinte. O ruio da reflexão só pode sér dirigido (cm significado. A eiqJeriência pré-fenomenal da ativida
tanlo, não tem significado. Só a expe1·iê11cia percebida -r
mente na forma de atividade espon tânea tem significado
FUN'DAC\·IEN TOS UA FENOMENOLOG{A BASES DA FEKOMENOLOGIA

estado de alerta toial do eu que " traba lha" define qu


Atenção à Vida: Alerta Total mento do mundo relevante, em temias pragmáticos, e c.
v&ncias dete,minam a forma e o conteúdo de nossa cor
Um <los pontos centl'ais da Filosofia de Bcrgso11 é a pensamento: a forma, porque elas regulam a tensão
memória e, assim, a cxccnsão <l..is nossas experiências
a de que nossa vida consciente revela um número inde-
planos diferentes, indo do plano da ação, num extre- l que lembramos e das nossas cxpc,iências futuras que
mos: o conteúdo, porque todas essas experiências passam
fano do ~onho, no outro. Cada um desses planos é carac-
1,crminacfas modificações de atençfio no decorrer do pro
por uma determinada "tensão de consciência'\ sendo
concebido e sua execução.
ano da ação é o que mostra o n.wi::; alto grau de tensão
onho o mais bai,o. De acordo com Bergson. esses diJe-
aus de tensão de nossa consciência são fun<;.õe~ de no:;sos
ntel'esses na vi<la, representando a ação o nosso illtcrcsse Ação no ivlundo Exterior
de enfrentar a t·ealidade e seus i-e-quisicos 1 e o sonho
f::lta total de interesse. AUentioJl à ta 1..'ie, a atenção à As inves(igações de Bergson e (ambém as ele
ortan to, o princípio regulndor b,ísico de nos,a vida cons- acentuaram a import&ncia dos nossos movüuentos corp
efine os aspectos do mundo que :são rcJevantc.s para nós: constituiç.ão do mundo exterior e de sua perspectiva d
o fluxo contínuo de nO$$a corren te <.k: pc.ns::i.mcnLo; <lc- Vivenciamos nossos movimentos corporais simultaneam
a extensão e a função de no!:isa memtlxia: nos faz, na dois planú, diferentes: na medida em que. são movin1
guage111 ou vh•er. nossas experiências presentes, <lirigi<las
1 mundo cxLcii or os vemos como eventos que ocorrem n
bjetos. ou voltar-nos em atitude ret1exiva para as nossas e no tempo espacial. mensuráveis em !ermos do percurso
ias passadas e quc.stionar seu signific:-a<lo. Na medida em que são v ivenciados também a partir de
a e-xpressão ªalerta total'' queremos denotar um plano como mudanc;as que. ocorrem: como man ifostações de n
iência cuja "tensão é muito afta, o qunl s~ origina na
1
'
pontaneidadc pcrtencente.s à nossa corrente de consciên
e total aLcnção à vida e às suas exigências. Só o eu que
pmticipam do nosso tempo interior ou .durée. O que o
nha", e cspcdaln1eme o que "'lraba]ha'\ é que e-stá inrei- mundo exterior pe.nencc à mesma dimensão de tempo
oc.on:cn1 os eventos da nature.za inanimada. Poc.lc ser r
interessado na vida e, ussini., inteiramemc alerta. Vive
por d ispositivo, apropria.dos e medido por nossos cronôm
e seus atos, e sua at<::.nçfío está exclusivamente voltadn
tempo espacial, homogêneo, é u forma universal cio cem
alizaç.ão de. seu projeto, para a cxccuçãc., de seu plano.
tivo ou cósmico. Por outro lado, é no tempo interior, ou n
çãb é ativa, não passiva. A atenção passiva é o oposto
que nossas experiências atuais são Hgadas ao passad<> por
a total", Se a atenção é "passiva", vivencio, por cx.em- lembranças e retenções e ao futuro por meio de prol
l1lulto de pc4ucnas percepções indiferenciad;,s que são, antecipações. Em e através de nossos movimentos corpor
já afinnamos, experiências essencialmence a tuais e não zamos a transição de nossa durée para o tempo espacial
ções significativas espontâneas. A espomancidade signi- mico, e nossllS ações relativas n "trabalho " particip;un el
ode set· defini<la, segundo Leibnitz, como o esforço para Vivenciamos a acãO tclativa a ulrabalho" como uma
sempre a outras e scrn pr-, outras percepções. N"o m(- eventos que. ocor;cm simul taneamente nos tempos {nter
.leva à delimitação de certas pcrcepções, transíorrnancfo-as terior, reunindo ambas as dimensões num único fluxo,
epção; no máxino, !t rc,uli1.m;ffo de "trabalho'·, que al"~La chamado de, "presenie vívido". O "presente vívido" se
exterior, modificando,o. portanto, numa inte.rseçiio da durée com o tempo cósm
one.e ito de "alerta total" revela um ponto ele pari"ida para Enquan to vive no "presente vívido'' os seus atos de
rpreLação prag111ática legWma de nossa vi<la cogn itiva. O ~m cu!'so, dirigidos para os objetos e objetivos a sere
fV NDAM ENTOS D.A FF.'l'<tOMêNOLOVIA BAS6 S DA FENOMENOLOGIA

eu que "trabalha" vivencia a si próprio como a origem somente ant-es que esse Lrabalho seja realizado no mu
c.m curso e, em conseqüência, como um eu total, não~ rior ou, no máximo, enquanto ele ainda escá sendo rcal
Vivencia seus movimento·s corporais a partir de dentro·: "presente vívido" e, portanto, ainda aberto a modifica
experiências essencialmente aluais conelatas a esses mo- termos do passado, não há possibilidade de escolha. Ten
que são inacessíveis à lembranca e à reflexão: seu muo• zado meu trabalbo, ou partes dele, escolhi de uma vez p
1 •
mundo de antecipações cni aberto. O cu qu~ trabalha . o que foi feito e tenho agora de suportar as conseqüên
e o eu que trabalha, vivencia tudo isso modo prescnfi posso c.scolher o que eu quero ter feito.
iando a si próprio como Q m1tor do trah,1lho cm curso.
mo uma unidade.
se o eu, numa atitude de relkxãú, voltar-se para os
rabalho rcaliz.a<los e os ver modo prnelerito, esse não f'
u total, não-dividido, mas, em vez disso, uni eu parciaL
lizou esse ato dclc.tminado, c1to esse que .s.e refere a todo
ma de ato, correlatos, ao qual ck pertence. fase e.u par-
ramente aquele que toma um papel ou - usando, ê.om
eserva ncctssárü:l , um termo um tanto amhfgno que VV.
G. H. iVlead in troduziram n a literatura - um Mim .. .
os nossos propósitos, n simples considcra~·ão de que a
ia interior de nossos movimentos corporais, as expedên-
ncialmen(c ,uuais e as antecipações cm aberto escapam
o na atitude de reflexão demonstra com clareza sufi-
e o eu passado não pode nunca ser mais do que um
arcial do total q ue se realiza na experiência em cur,o
abalho.
e-se cofot:.ar ujndn um ponto r.elacionado à distinção
balho (cm aberro) e desempenho (feclrndo) . No ca,o
cro de:;cn1penho, cal como a tentativa de .solucionar men-
um problema matemático, posso, se. minhas antecipações
ompletar~m no rc::;ulLa<lo e eu ficar insatisfeito com ele ;
odo o processo de operações mentais e recomeç.ar. i'fa<la
udado no mundo exterior, nenhum vestígio do processo
permanecerá. Simples ações mcntafa sãoJ ne5se sentido. rê•
O trnbalho,. no en tanto, é irrevogável. Meu trabalho
mundo cxtc1ior. Na melhor das hipóteses, posso restau-
ação inicial através <lc movimenws contt~ríos. mas não
tae a não ter feito aquilo que foi feito por mim. ,\ í está
dos ponL0S de. vista moral e legal - sou responsá,:el
ícitos. mas não por meus pensamentos. Aí está também 4 •

ela qwil tenho liberdade de escolha entre muitas possibi-


o que diz rcspcii-, ao trabalho mentalmente projerndo
2 O MUNDO DA VTT.>A

contra um fundo ou horizonte mais ou menos desarti


O MUNDO DA VIDA "atitude natural" não conhece esses problemas. Para ela
é, desde o início, não o mundo privado do indivíduo
mundo intersubjetivo, comum a todos nós, no qual niio
interesse teórico. mas um inte-resse eminentemente o
mundo da vida cotidiana é a cena e também o objeto·
açõc.s e iníera~ões. Temos de dominá-lo e modificá-lo
a rcal.izar os propósitos que buscamos dentro dele, en
semelhantes. Assim, trabalhamos e operamos não só d
O ivfun.do da Atitude Natural mas também sobre o, mundo. Nossos movimentos cor
os cinéticos , os de locomoção, os de operaçíio - afetam,
Começamos com uma análise do mundo da vida coti• dizer, o mundo, modificando ou mudando seus objet
e o homem totalmente alerta e adulto que age sobre relacionamentos mútuos. Por outro lado, essc.s o.bjctos
bre e entre seus semelhantes vi vencia como realidade resistência a nossos atos e temos de vencê-los o.u de n
dc natura l". marmos com ela. Nesse sentido, pode-se dizct com ce
mundo da viúa c.otidfona'' significará o mundo in(ctsub• um motivo pragmático govctna a nossa atitude natura
e existia muilo antes <lo nosso nascimento, vivenciado e lação ao mundo da vida cotidiana. Mundo, nesse senti
do por outros, nossos predecessores. como um mundo que temos de- modificar, attavés de nossas açõe-s. ou q
fka nossas ações.
o. Ele agora se <M fi nossa expel'iência e interpretação.
rpre_tação desse mundo se baseia num estoque de expe•
nteriores dele, as nossas próprias experi~ncias e aquelas
são transmiLida~ por nossos pais e professores, .-1s quais, Situação Bi.ográfica Detenninadl/.
<le '•conhecimento à mão" funcionam comc1 um código
1

ncia. Todo momento da vida de um homem é a


sse estoque ·de ~xpcriências "à mão" pertence o nos~o biogrMica dete1·minad3 cm que de se encontn:, isto é. o
ento· de. que o mum.lo em que vivemos é uni mundo u~ físico e sócio-cuHural conforme ddinido por ele, dentr
em delimitados., com qualidades definidas, objetos enll'~ ele
t ·. .
LCm a sua posição,
.
não apenas posição en1 termos
DO$ movimencamos, que nos r.esiste-m. e e.m ttlação ao~ ,1s1co e tempo exter101·, ou de seu status e papel dent
de.mos ngir. Para a :•atitude natural", o mundo não é, tema soda l, mas também sua posição moral e i,kológ
ca foi, um aglomerado de pontos coloridos, batulho:; q_u1: es~a ~;:finiç.~o da situação é determinada em fcln;o
es, regiões de frio e de calor. ~\ análise filosófica ou psi• ficos s1gn.li!Ca dJzer que efa te111 a sua histtSria· é a
- d
taçao · e todas as experiências anter1ores desse ho1nen
,
da constituição de nossas experiências pode, mais tarde.,
pectiva, descrever de que modo elementos desse mun• zadas de acordo com as possc.s "habituais,: <le seu e
: os nossos scntiµos, de q ue modo os percebemos passi• conhecimento à mão, que como tais são posses unicam
mta e confusamente, de que modo, através da apercepção ~Inda~ a ck e él ele somen te. E:-5sa situaç-ão biográfic:1 de
sa mente i-sola certo~ traços do campo de petcepção, 1nclu1 certas possibilidades de a rividades teóricas ou p,
do-os como coisas bem delineadas nitidamente cm rc.~,kc, !ura~., que chamareinos de "prcpósit◊ à mão". É esse
a mao que define que elementos, dentre todos os outros
num.n dada situação, são relevantes para esse propôsilo.
dos seguintes irens da BibHografi.1: 1945.c, 533-34: 195:ic, 6; tema de relevâncias", por sua vez, determina que elem
9: 19?4, 500..; 01. vi:m ser transformados no substralo de uma tipiíicaçã
PUNDA1vlllN'!'OS DA l'EK0.\1ENOLOUIA O f\·fUNJJO UA VlJJA

ais desses traços devem ser selecionados como caracte• que rejeitam os outros princí11ios do pragmatismo, cspccil
ic.as e quais outros c.omo exclusivos e indivi<luais . .. sua teoda da verdade. Na realidade, mesmo dentro do
restritos do conhecimento do ~enso comum da vida rot
rcforf:nciá a "intcrcsses u, /(problemas" e urelevâncias
l:stóque de Conhecimento explicação suficiente. Todos esses lermos são apenas no
se dão a a.ssuntos all'amcnlc con1p1icados e que exigem
O homem, na vida diária.. . tem a qtJalquer mo- tudo mais aprofundado.
estoque de conhecimento à mão que lhe serve como Em segundo lugar, dc1'c-se salientar que o estoqu
de interpretações de suas expe,iências passadas e pre- nhccimento existe num fluxo contínuo e muda d
ambém determina sua antecipação das coisas que virão, quer Agora para o seguinte, não só cm termos de
ue de conhecimento tem sua história particular. Foi como também de estrutura. Est.í claro que qualquer ex
de e por atividades an teriores de experiência de nossa posterior o enriquece e alarga. Através da referência ao
a, cujo resultado tornou..se ag◊rn um« posse nossa, Iiabi- de conhecimento à mão, num <lctctn1i11ado Agora, u ex
atual em curso apurece como '~familiar", se est.á rdacio
erl, ·ao descrever o processo constitutivo que isso en-
meio de uma "sínkse de reconhecimenlon a algumá ex
, esquematicamente, de "sedimentação do significado'', anterior, nos modos de uigualdadc'\ "semelhança", ªsi
utro lado, esse estoque de conhecimento à mão não é de", "analogia", etc. A experiência em curso pode, por
ogêneo, ma::; apre$entn uma estrutura especial. Já alu<li ser idenLíficada com uma expel'iência anterior "igual, q
de Willi.am James entre " conhecimento sobre" e "c-0• peteº, ou com urna expcdênci::~ anterior "igual, mas mod
o por familiaridade" . Há um núcleo rdativamente pe• ou, ainda, como uma experiência de um tipo semelhan
conhecimento q ue é claro, distinto e consistente. Esse a]guma já vivenciada~ e assim por diante. Ou, emão,
ercado de zonas de gradação vadada de vagueza , obs- riência em curso aparece como "estranha 11 , 110 ca~o de
amhi"güidade. A essas se seguem zonas de preconceitos: menos remeter a um tipo à mão de experiência ~nte
cegas, punis suposições, mera adivinhação) zonas de ambos os casos: é o est◊que de conhecimento à n1ão q
quais basta ªacreditar". E~ fin.aJmente, existem regiões como código de in!erprctação da ex1ieriência atual cm cu
mos comp]etamcntc . . . referência a atos já vh,c11cia<los pressupõe memória, e
iro, vamos considerar o que determina a estruturação suas funçõc-s, tai.s como lembrança, rctl!nção, 1·econbecim
de conhecimento num determinado Agora . Pode-se co-
ndo que é o sistema de nosso interesse prático ou tc6,
momento específico que determina não só o que é pro- O Carúter elo Coiihecimen/-o Prático
e o que pode pcnnanecer inquestionável, mas também
e ser conhecido, e com que grau de clareza e precisão .. . o conhccimcmo do homcin que age e pen
conhecido, para a resolução do problema cm causa. do mundo de sua vída cotidiana não 6 homogêneo; é
lav.i-as, é o problema em particular do qual nos ocup;i- rente; 2) apenas parcialmente cfaro; e 3) não está livre
subdivide nosso estoqu;: de conhecimento à mão cm tradiç.ücs.
rentes de releyãncia para a sua solução e estabelece, 1. t incoerente pútquc os interesses do indivíduo,
mites das yárias zonas do uos~o conhecÍ11lento mencio- tem1inam a rclcvílncia dos objetos q_ue ele seleciona por
ma, ou Seja, zonas de niti.<lez e de vagueza, de clareza que deve conhecer 1ne1hor ~ não são eles próprios integrn
ade, de precisão e ambigüidade. Aqui está a chave para sistema coerente. Eles são apenas em parte organizados
ação pragmátic.i da natureza do nosso conhecimen to, nos de qualquer típo. como, p(>r cxe.n;plo, planos de ,oda
de xeiativa tem de se, re.çonhecida mesmo por aqueks de trabalho e lazer, planos relativos a qualquer pap
FUNDAMENTOS DA FENOMENOLOGI A

. Mas a hierarquia desses planos muda com a situação e


rescimento <la pcrsonalitlade ; os interesses mudam conti•
e e provocam tuna transformação ininterrupta na forma
teúdo das linhas de relevância. Não só muda a seleção
IT. O Cenário Cognitivo do 1V1undo d
os a serem conhecidos, mas também o grau de conheci-
ue sobre eles se almeja.
Na vida diária é só parcialrnenle - e, ousamos <lizex,
nalmente - que o homem se interessa pela clatc.za de
ecimento, isto é, por uma v isão mais proíunda <las re•
ntre os elementos desse mundo e os princípios gerais
egulam. Ele se satisfa1. com o fato de haver um born
e telefone a seu dispor e, normalmente, não pergunta
es do funcionamento do aparelho ou que leis de Física
am seu funcionamento. Ele compra uma mercadoria na
saber como é produzida e paga com dinheiro, embora
enas uma vaga idéia <lo que o dinl1eiro real mente seja.
é ponto pacífico que seu semelhante vai compreender o
amento., se expresso em linguagem simples, e vai respon-
cordo, sc.m imaginar como pode se cx·plicar e-sse desem-
lagroso. Além de tudo, ele não procura a verdade e não·
a certeza. Tudo o que g_uer é informação sobre possibi•
visão das cha1tces e riscos que a situação à mão acar-
relacão ao resultado de suas acõcs. Que o metrô fun-
anhã; como nomialmente, é pará ck uma possibilidade
mesma ordem que a de que o Sol vai se levantar. Se,
de algum interesse especial, ele precisar de mais conhe-
sobre um determinado assun to, existe uma prestativa
o moderna que coloca à sua disposiç•ão uma cadeia de
e informações e bibliotecas. de referência.
Finalmente, seu conhecimento não é consistente. Ao
mpo, ele pode considerar igualmente válidas afirma<;(ies
ealidade, são incompatíveis uma com a outra. Como pai,
empregado e membro de uma igreja, um homem pode
is diferentes e incongruentes opiniões sobre temas mo•
icos ou econômicos. Essa inconsistência não se origina
mente de uma falha 16gica. Simplesmente, o pensamen-
ssoas se ·espalha por assuntos situados cm níveis dife-
de relevância diferente, e elas não têm consciência elas
ões que teriam de fazer para passar de um nível a outro.
3

INTERPRETAÇÃO SOCL<\L
E ORIENTAÇÃO Il"'WIVIDUAL

I. A Concepção Socictl da Comunidad


e do Indivíduo

O ~iUNDO SOCIAL COMO PRESSUPOSTO Vam


tir de um exame das articulações e fonnas de organizaç
mundo social que constituem a realidade social das pesso
neJc vivem. A pessOa nasce num mundo que existia antes
nascimento e que, logo de partida, não é um mundo s
mente físico, mas lamMm um mundo sócio-cultural. Esse
é um mundo pré-constituído e pré-organizado, cuja estrutur
cinl é resultado de um processo histódco e diferente, po
em cada cultura ou sociedade.
Certos traços, contudo, são comuns a todos os mund
ciais porque cnraíwm-se na condição humana. Bm toda
encontramos grupos de sexo e grupos de idade, e alguma
de trabalho por eles condicionada; e organizações de par
mais ou menos rígicfas, que ordenam o mundo social em
de proximidade variável, desde a intimidade familiar até à
nheza. Em toda parte encontramos também hierarquias d
rioridade e subordinação, de líder e seguidor, dos que es
poder e dos que são subjugados. Em toda parte, também,
tramos um estilo de vida aceito, isto é, um modo de se ch
termos com as co.isas e as, pessoas, com o natural
o sobrenatural. Além disso, há cm toda parte objetos cu
tais como instrumentos necessários para dominar o mund
rior, b1inque.dos para as crianças, artigos para adorno, inst
tos musicais de um ou outro tipo, objetos que servem
símbolos sagrados. Existem certas cerimônias que marc
grandes acontecimentos no ciclo de vida do indivíduo (nasci

Tnmscrito dos seguintes itens da .BibJiogrnfia: 1957a~ 36-38; 1944


I957a~ 57-50, 52-54; 1944, 502-4, 505-7; 1957a, 61.
O CE1',\ 1ll0 COG1'JTIV0 DO MlJ:>illO l)A VíDA l~TeRPRETAç.l,o SOCIAL E ORIE :,,.!TAÇÃO 11\"DlVlDUAL

casamento , melrtc) . ou no ritmo da natureza (plantio sis(cntc e apenas pai·cialmente claro, como é - toma, p
a, solslícios, etc.) •. . . membros do grupO interno. um aspecto de coetência, cln
m, o mundo social no qual o homen1 nasce e tem de consistência suficientes para que todos tenham uma chan
u caminho é por efo viccnciado como uma rede fi na de zoável de compreender e ser comJ?reendidos. Qualquer
mentos sociais, de. sistemas de signos e de símbolos com nascida ou criada dentro do grupo aceita o esquema ready
tura de signi ficados particular, de formas institucionali• estandllrdi1,ado do padrão cultural que lhe é trnnsmitido
organizaçã'o soci'al, de sistemas ele status e pt'estígio, etc. antecessores . profe.ssores e amoridadcs. como um guia não
cado de todos esses elementos do n1undo soda!. crn toda tionado e inquestionável para todas as situações que norma
versidade e estratificação, assim corno o padríÍo de sua ocorrem den tro do mundo social. O conhecimento associa
extura, é tido como presrnposto pelas pessoas que nele padrão cultural traz sua evidência em si próprio - ou, e
soma lotai dos aspectos relativamente natur2is, que o disso, é .tido como pressuposto, na falta de evidência d
ocial lerh para as pessoas que nele vivem; constitui, trfrio. E um conhecimento de receitas certás para interpr
r uma expressão di:: \ViHiam Grahnm Sumner, os costu- mundo social e para lidar com pessoas e coisas de fo
"grupo interno" , que são social mente aceitos como as obter, em cada si(uação, os melhores resultados possíveis
oas e corretas de ·se con írontar coisas e pessoas. São núninio esforço, evitando conseqüências indesejáveis. A
mo prc.SS\lpostos porque se provaram eficientes até então funciona, de um lado, como preceito pars as açõe.s e.
socialmente aprovados. sã.o vistos como fatos que dis- serve como um códjgo de expressão; quem quiser oht
explicação ou jllStificativa. cena !'esuh ado tem de proceder conforme indicado pela
s costumes constituem á herançn social que é (ransi'ni- dada para tal propósito. De outro lado, a receita serve com
rfonças que nascem e crescem dentro do grupo . .. código de interpretaçlio: supõe-se que quem procede de a
é assim porque o .sistema de costllmes estabelece uni com. as indicações de uma determinada receita pretende o
m termos <lo qual o grupo interno "define a sua situação" . resultado correspondente. Assim, é função <l,J padrão c
e isso: o.riginado de situações anteriores, definidas pelo eliminar pesquisas problemá ticas, oferecendo instruções
c.ódig·o de intcrpretu~·ão que até então mostrou-se efi - made p arn o uso . substitllindo a verdade, difícil de alc
orna-se elemento <la s ituatão atual. AsJ,.untlr o mundo por truísmos confortáveis, e substituindo o questionável por
essuposto, inquestiornível. implica a hipótese profunda• lo que se "auto-explica".
nraizada no senso comum de que até segunda ordem o Esse '<pensar corno sempre", como se pode chamá-lo, c
ai continuar sendo, essencialmente, da mes1n a maneira ponde à idéia de Max Schclcr da "concepção relativamen
:1t'5 aqui; aquilo que se provou válido .até agora conti- tural do mundo" (rel/Jtiv natürliche Wellansc/1.all!mg); 1 ela
sê-lo, e qualquer coisa que nós, ou outi;os como nós, as suposições "óbvias" rckvante5 para um determ inado
realizar com êxito anteriormente poderá ser realizada sopial, o qual Robert S. Lynd descreve de modo brilhante -
de modo seme!hanie, e trará resultados essencialmente qomo suas contradições e ambivalê:ncias inerentes - co
tes. "espírito de Middletown". O pensar como sempre pode ser
tido enquanlo cerlas ~uposiçõcs básicas permanecerem vcr
AUTO·I KTf;'.RPRETAC,o DA COMUNJUADE CUl,TURAl, • rns ou, mais precisamente: 1) enquanto a vida, e especial
a de conhecimento assim adq_ui.rido - incoerente. incon- a vi<la social, continuar a ser a mesma que foi até então,

organizador: Tendo discl<tido us cm:~Ct{;;fÍsdcas ~ )imitt!ções do 1 !vlax SchcJcr, "Probleme e!ner Sozio!ogic d•;;:s \Vi~sens", Die Wisscns
att>. práticci do hom~m sobn! nss.wHos coti<lianú::: (ver uo Curáter wul die Gesell:schait (Leipzig, 1926), pp. St!. e: scgujnl~; cf, Howard
imemo Prálico" m:, t:~p. 2, acima). Schutz voltot1-s:c pára os. Ítmda- e Hcllmmh OUú Dah.lkc, "Ivlax Schclcr's Süciology of Knov,'lcdge",
ciois d<.-..~ c conlh.""CÍJn~nto in<lividual. conforroc St' enconttam no sophy '111d Phcno.•,rer,ofo.gic:ai Research, 2 (1942): 310-22, cspccia
gnitivo do "grupD interno", o comunidade c.ultu ral. p • .315.
lNIERPRETAÇ,\O SOCIAL E ORIF.NTAÇ,\O INDfVlDUAL
O CEN.,RIO COGNITIVO DO MUNDO DA VIDA

Nossa descrição vale tanto para: a) grupos "exist


zer que os mesmos problemas, requerendo as mesmas so-
com os quais compartilho uma herança social; e b) os ch
ressurgirão e que, portanto, nossa!i e•J..-periênci.as anteriores grupos voluntários, que eu formo ou aos quais me asso
uficientes para dominar situações futuras; 2) enquanto pu• entanto, existe a diferença de que, no primeiro caso, o
confiar no conhecimento Que nos é transmitido por pais, .individuai se encontra dentr(l de um sistema de tipificações,
ores, go~ernos, tradições, hábitos, etc., mesmo se não en- posições e $/atus pté-cúnsfüufdo, c não estabelecido !'.º!' el
os sua origem e significado real; 3) enquanto, no de~or- a ele como herança social No caso de grupos voluntar1os,
mal das coisas., for suficiente conhecer um pouco o tipo esse sistema não é vivenciado pelo membro individua
lo geral dos acontecimentos q ue podemos encontrar em ready-made; ele tem de ser construído pelos membros e p
mundo da vida, de forma que possamos dominá-los ou con- sempre envol ve um processo din~f\lÍCO de evolução. No
s; e 4) enquanto nem o sistema de receitas como c6digos somente rilguns dos elementos da situação são comm1s; os
rpretação e expressão nem as suposições básicas que os têm de ser produzidos frtravés de uma definição comum
am, mencionadas acima, forem de nossa e-sfera pessoal, tuação comum.
o mesmo modo aceitos e aplicados pelos nossos seme-
Isso implica nm prnblema da maior impor_tilnci~, Co
fine o membro individual de um grupo a sua s,tuaçao pa
cQm relação ao quadro comum de tipificações e relevân
O SIGNIFICADO SUD J ETJVO DO PERTENCER A UM GRUPO termos do qual o grupo dc(ine a sua situação? Mas, a
ificado subjetivo do· grupo, o significado que um g,upo buscarmos a resposta, faz-se nec-essiil'ia uma advertência
ra os seus membros, é freqüentemente descriio como um Nossa descrição é puramente formal e não se refere
nto entre os membros de que eles pertencem ao conjunto, natureza dos laços que unem o grnpo nem à extensão,
que compattilham interesses cvmuns. Está certo, mss, infe- ou intimidade do contato social. Aplica-se, portanto, tant
e, esses concei(os foram apenas parcialmente analisados ou, -casamento quamo a uma associação comel'cial, à assoc
recisamente, apenas no que diz respeito a comunidade e um clube de xadrez ou à cidadania de uma nação, à part
ção (Maclver), Gemeinscltafi e Gesel/schaft (Tocnnies), n uma conferência ou na cultura ocidental. Cada um des
primários e secundários (Coolcy), e assim por diante . .. pos, entretanto, refere-se a um grupo maior, do qual é
. o significado subjclivo que o gtupo tem para os seus mento. Um casamento ou uma empresa comercial , é claro
dentro do quadro geral que é o contexto cultural do grup
os consiste em seu conhecimento de urna situação comum
e de acordo com o esti!o de vida (inclusive seus costumes
ela, de uru sistema comum de tipificações e relevâncias. leis, etc.) predominante nessa cultura, estilo de vida ess
uação tem a sua história, da qual participam -as biografias dado aos atores in.dividuais como um código de orien
mbros individuais; e o sistema de tipificações e relevfü1- Ílltetpretação para as suas açõc.s. Contudo, cabe aos mem
ue determina a situação forma un~a "concepção re!ati~~- c<tsrunento, ou sócios da empresa comercial, definir e co
natural do mundo" comum. Aqui, os membros, miliv1· mente redefinir sua sinmção Íllclividual (privada) dentr
nte, estão à von1acle, isto é, encontram seu caminho sem contexto.
dade, no meio comum, guiados por um conjunto de recei-
hábitos, costumes., normas, erc., mais ou menos institucio- Essa é. obviamente, a razão principal por que, pa
Vicbcr, a existência do casamento, ou do Estado, não s
os, que os ajudam a viver em harmonia com seres e serue-
pertencentes à mesma situação. O sistema de tipificações mais que a mera chance (possibilidade) de as pessoas ag
virem a agi, c.!e uma forma específica - ou, nn terminolo
ância,; compartilhado com os outros membros do grupo
usa em seu texto, c.!e acordo com o quadro geral de tipific
os papéis sociafs., as posições e o status de cada um. Essa
relevâncias aceitas sem questionamento pelo meio sócio-
ão de um sistema comum de relevâncias leva os membros
cm questão. Tal quadro geral é vivenciado pelos membr
po a uma autotipificaçiío homogênea.
O CENÁRIO COGNITIVO DO MUKDO lJA VJL>A INTERrRET,\~:Ão SOCIAL E O)UENTAç., o lNDTVJ.DU,\

omo de- ínstitucion2lizações a serem interiotizadas., e o diversos grupos sociais. Como vimos: é apenas com re
tem de definir a sua situação pessoal ún ica usando o pru:ticipação cm grupos voluntários, e não em grupos "
ns{itucionatizado para a realização de seus interesses pes- ciais", que o indivfduo está livre p~ra escolher _de qu
ticulares. quer ser membro e de que papel soc1?l quer ser 11~cu?1?
os aql.Ü un1 aspeclo da definição pti vitda dei sittrnç.ão de entanto, pelo menos um aspecto da liberdade do mchv,
do indivíduo. Um corol,-\rio dele é a alill!de particular fato de poder escolher por si mesmo com que parte de su
divíduo escolhe adotar com relação ao papel social que nalidadc quer participar dos grupos; o fato de poder def
c~çmpen.har denfro do grupo. Uma coisa é o sign ificado situacão dentro elo papel do qual está incumbido; e d
do papel social e a expectativa com relação ao p,ipeJ cslab~lecer sua própria ordem privada de relevâncias,
definida pelo padrão institucionalizado (digamos, cargo cada participação nos vários gru_pos tem o seu lugar.
ência dos Estados Unidos); outra coisa, o modo parti-
jetivo como o indivíduo incumbido desse papel define
ação demro dele (a interprcrnçiki de Roosevelt, Truman,
cr ~e sua missão) . II . Perspectivas Externas e Internas
lemen to mais importante na definição da situação pri-
VISÃO DO GRUPO EXTERNO - V!S.~0 DO GRUPO
contudo, o fato de que o indivíduo S~!J!P.!~ é membro
r0Eos grupos sociais. Con10 mostrou (Sirun.1cL.-cada indi- NO Os membros do g1upo externo não vêm o estilo
situa na inte.rseção de diversos círculos sociais, e o seu do grupo interno como verdades evidentes. Nenhum arUg
erá mair,r quanto mais diferenciada for a personalidade e nenhuma tradição histórica os compromete a ace1~a
duo. Tsso acontece porque o que faz uma personalidade certo e bom o modo de ser de qualquer g1upn que nao
precisamc:,11te a.quilo que não pode ser repartido •com o:-. .seu . Não só o seu "mito central", mas também os seus
sos de racionalizacão e inslitucionalhação s~o difctcrHcs.
deuses reve1am o~tros c.ú<ligos do certo e do bom, outra
col'do com Sin1mel. o grupo !; formado 1,or um proce:;~o sno :,;acras e tabu, são outras as proposições assumidas p
o qual muitos indivíduos unem partes de ~nas persona-
reito Natural" .' O esttanho mede os padrões que domi
impulsos específicos, interesses, forças - enquanto o
grupo em questão de acordo com o sistema de relevânc
personalidade. realmente é permanece fora dessa área
predomina no "aspecto natural do mundo" segundo o se
Os grupos são cal'acterist1Camente diferctitc;;; de acordo
de origem. Enquanto não se puder achal' um« fól'mula d
ersonalidades totais dos membros e as partes de suas formação que permita o transplante do sistema de relev
dades com as quais panicipam no gmpo. . . Na ck:fi, tipificações que dominam no grupo em questão para aq
indivíduo de su,1 situação particular, os vários pap!;js
.:.->rupo de orfoem , o modo de ser do primeiro pcm,anec:e
0
.;,
ue ~e originam cfosse pertencer mtíltiplo a grupos di. preensívcl; mas é, fre{Jüentcmcn!c, considerado de valor
o vivenciados como um conjunto de tipifíca,ões que inferior.
sua vez, ordenadas segundo uma hierarquia privada d,
de rekvâncin, cujo fluxo, é claro, é contínuo. t possível Esse princípio se aplica, embora em menor grau, tum
mente esses b:aços da p~rsonalidade do individuo, que caso de rcl«cionamento entre dois grupos que têm muita
ele, da mais alta ordem de relevância, sejam inelcvan tes en1 comum! isto é> onde os dois sistemas coincide111 nu
de vista de qualquer ,istema de relevâncias tido como dida considerável. Por exemplo, enügrnntes judeus do lra
to pelo gmpo do qual ele é membro. Isso pode levar a g"rande d ificuldade cm compreendct que suas práticas de
na pet·sonalidade, ge.t ados l)rincipalmente devido ao es-
precnchet as várias, freqüentemente jnc.ompatívcis, cxpeo- 2 T. V . Smith. em TI!~ Ameri<:wz Ph.ifosophy oj T:.'quali!y (Chic~g
p. 6, indicou q\lc Lockc uscu o •· Esto<lo da Natu.rezo e a lgualdn
papéis c\>rrespondentes à participação do indivíduo nos destr{>rmr Hnmos e f lobbcs para coJoc.;:n no n'ono o "Deus morta
O CllNAtHO CúGNT'l'JVO DO MUNDO DA VIDA
INT F.RPRF,T AÇÂO SOCIAL E ORlEN'f,\Ç:ÃO l!<DIVIDU..1

asamento entre crianças não sejam permitidas pelas leis


, o lat nacional dos .iudeus. Outro exemplo encontta-se do altamente detestáveis. E1n te1mos mais gera~s, :o
natural do mundo" segundo o grupo A soma-se nao so u
ussões na assembléia frnncesa, em lí89, depois que La-
idéia estereotipada do " aspecto natural do mundo" se
ubmeteu seu _primeiro esboço_ da Dec!aração dos Direitos
s, modelado segundo o pa<lruo amenc;mo. Diversos ora- grupo B, mas também um estereótipo do modo como ?
erirnm-se às diferenças básicas entre a sociedade ameri- supostamente vê o. grupo A . Em gr~nde escala ;--, ,,
relacionamento entre gn1pos - esse e o mesmo fenom
franc;;sa: a situação de um país novo, de colônia que
seu relacionamento com .u matriz, não pode ser comp:J ~
com respeito às relações entre indivíduos, Cooley cha
m a de um país que usufruiu vida constitucional própria "efeito de espelho".
quatorze séculos. O princípio de igualdade teria uma Tal situação pode lev:lr a várias atitudes por pane d
um significado in teiramente diferentes no contexto histó- interno com relação ao grupo externo: o gmpo inter
ada um dos dois países; a distribuição igual da riqueza mantet sua adesão ao seu estilo de vida e tenta, mud
o de vida igu~litário na América permitem a aplicação tude do grupo externo por meio de um processo de e
ogia . igualitária, a gu.:.tl teria as mais desastrosas consc- de •dis,seminação t!e informação ou de persuasão e de pro
se aplicadas à sociedc,de francesa, alrmnente diferen- aprop,áada. Ou o grupo interno pod_e tentar ajusta_r o s
de pens:lr ao do grupo externo, aceitando o padrao de
etanlo, é importante entender que a auto-interpretação cias deste último pelo menos parcialmente. Ou, ainda,
po interno e a interpretação pelo grupo interno da "con- estabelecer uma _política de cortina de ferro, Oll de pacif
atural do mw1do" dos grupos externos siio freq[iente- Iinalmenle, o último meio de se desfazer o círculo v
terligadas, e isso de uma maneira dupla. guerra, em qualquer nível. Pode hàvcr uma c~nseqüênci
d:lria se, por exemplo, os membros do grupo interno qu
De um lado, o grupo interno freqüentemente sente-se dem uma política de entendimento mútuo são acusad
preendido pelo grupo externo; essa incapacidade de com- poria-vozes do ctnocentrismo radical de desleais, traido
seu estilo de vida, assim sente o grupo interno, deve Õ que, mais uma vez, levaria a uma ai ten.tção na auto
aizada em preconccilos hosth,;, ou em má fé.. jií que as
t.ação do grupo social.
tid:;s pelo grupo interno são como "coisas óbvias",
s" e, portc,nto, compreensíveis para qualquer ser huma-
sentimento pode levar a uma alteJação parcial no sis- o ESTRANHO NA COMUNTDADE o estr
relevâncias que domina dentro do grnpo interno, ou seja, t oma-se em essência o homem que tem de colocar em
urou sol!darie~ade . em resistência. à . crítica exter~a . praticamente tudo aquilo que parece inquestioná vel para
externo e, entao: visto com repugm-mcw; noJo.. svcrsao, bros do grupo do .qual se aproximou.
ódio ou me.do. Para ele, o padrão cultural do novo grupo não ie111
De outro lado, estabelece-se um círculo vicioso;' por- ridade de um sistema comprovado de receilas, e isso
upo externo, através da reação alterada do grnpo in terno, nenhum outro motivo, porque ele não participa da tradiç
sua interpretação dos traços do grupo interno como sen- rica " vívida" a través da qual o grupo se formou. Na r
do ponto de vista <lo estranho, também, a cultura dess
gclin, "Der Sinn <ler Erkliirung <ler Menseb..:n - und Bütgerrech!e tem sua história peculiar, e essa história é a té mesmo ac
Zeitschriít für Cffentliches Rechf, 8 (1928): 82-120.
ele. Mas ela nunca se tornou parte integrante de sua b
problema do círculo vl•.:io.~o dos precúut.:ei!os, ver R. M. !vfo,clvcr,
Perjcct Union (No\·a York, 194.S), especfalmenle ns pp, 68-tH, como a história de seu grupo de origem. Somente os e
o memorando dv Secretório-Gera] d>)~ Nações Unidti$, Thc Main vida dos pl'óplios pais e avós é que s-e tornam, para todo
Causes of Discrimiuruion, Documento E/ C11 4/Sub 2/40/R::-v. elementos do seu próprio estilo de vida. T úmulos e rem
nho de J949, seções 56 e seguinLes.
cias não podem ser nem transfeddos nem conquistados.
o· CEN.'\.R!O COGNITIVO DO MUNDO DA VlD,\ 12'ITF.R:PRF.TAÇÃO SOCIAL ~ OnJEKT AÇ.<O INDIVIDUAL

anto, aproxima-se do outm grupo comc, um recém-che- do plano das meras crenças com respeito a objetos dos qu
sentido litetal <lo teimo. Na melhor das hipóteses, ele houve aproximação. Na pessagem de um plano ao outro, q
r disposto e capacitado a participar do presente e do conceito oliginaclo no plano do qual se partiu torna-se nec
grupo do qual se aproxima, com relação à expe,iência mente inadequado se aplicado ao novo plano sem re.idap
e irncdi:!t3; no entantoj em todas as circunstâncias. ele Em terceiro lugar, a figura ready-made do grupo estra
excluído tlc tais experiências no que tliz respeito ao que subsiste dentro do grupo de origem, p.i:ova a sua imp
Do ponto de vista do grupo, ele é um homem sem cla<le para o estranho que se aproxima do novo grupo pe
ple-s motivo de que nfio foi form3da com o objetivo de pr
o estranho, o pa<lriio cultural de seu grupo de orig~m resposta ou reação dos membros do grupo estrangeiro. O
a ser o resultado de um desenvolvimento histórico não- cimento que ela orcrcce ~crve simplesmen_te cofno um esqu
do e um elemento de sua biografia pessoal, que por mão para interpretar o grupo c.sLtangciro e · não como u
1

o motivo tem sido e ainda é o código não-questionado de interação entre os dois grnpos. Sua validade é basea
cia .refotivo i1 sua "concepção n:ltm:al do mundo" . Ê primeiro J.ugar, no consenso desses membros do grupo
rtanto, que o estranho comece a interpretar seu novo gem que não prc(cntlcm estabelecer um relacionamento
social cm termos <lo seu pensamento usual. Segundo o dü-eto com membros do grupo estrangeiro. (Aqueles que
referências trazido de seu grapo de origem, entretanto, dem fa1,ê-k, e-stiio em situa9ão análoga à <lo estranho que $
ma idéia ready-11wda <lo padrão supostaniente válido xima.} Conseoüen tcmentc, o código de intcpretação se rcf
grupo do CJ_ual se aproxima, uma idéia que, necessaria- membros do grupo estrangeiro meramente como a objeto
go se prova inadequada. , . intcrprc.tação, más n:1o vai. além <leia; não vê os membros
po estrangei'ro como pessoas a quem se endereçam atos
iro, a idéia de padrão cultural do novo gn1po existe resultado de um processo de interpretação, nem como
tranho em função do código de in!erprc!ayão de ;,eu de reações atltccipadas com relação a esses atos. AssimJ es
origem e [oi gerada numa atitude de obse1-vador desin- de conhecimento é, pode-se dizer, insulado; não pode ser
Contudo, o estranho que chega a Uln novo grupo está cado nem descartado pelas reações do grupo estrangeiro. E
e se transfoilllar, de um observador dcsint<:ressado, nun1 Limo, portan to; con::;i<let:a e~se conhecimento - através d
mbro <lo núvO grupo. O padrão cultural do no.vo grupo, espécie úc "efei to de espelho'' 5 - tanto como não-reativo
é mais um tema no seu pensamento, mus um segmento como incapaz de reagir, e reclama de seus preconceitos,
que tem de ser dominado por meio de ações. Conse- çõcs e mal-emendidos. O estranho que se aproxima, ent
te.. sua posição em relação ao esquema de relevâncias toma couscifncia do fato tle que um importante element
muda decisivamente, e isso significa, como vimos, que "pensar como .sempreH ou, mais precisamente, as suas jdéia
de conhecimento é necessário para a sua interpretação . o grupo estrangeiro e seu padrão cultural e estilo de vi
da platéia pata o palco, por assim dizet, o antigo obser- pasrnm pelo teste da experiência "vívidai: e dn interação
na-se um membro do elenco, entra como parceiro nas A descoberta de que as coisas em seu novo ambie
ociais com os outros atores e participa, a partir daí, da recem ser bastan te diferentes do que ele esperava que foss
w·so. Jug,a r de origem, é, freqüentemente, o primeiro choque do
egundo lugar, o novo padrão cultural adquire um cará- nho com relação à sua confiança na validade do seu "
ntal. Sua distância transforma-se em proxil1lidade; as como sempre". Não só o quadro do padrão cultural que o e
vazia::; são }>reenchidas com e.xperiências "vívidasn; os trouxe con,igo do grupo do qual se aproximou fica inva
anônimos transformam-se cm situações sociais defini-
~Ao usar esse tc.mw ~ludimos à conhecida tcorfa de Cooley do
ologias ready-made desintegram-se. Em outras palavras,
Odo ou cspclhadc.1 {ChsrJes H. Coolcy. Hu.•ntm Naturc and the Soda
ambiental" da experiência de objetos sociais é diferente ed . rev. ( NO\'.O. York: 1922), p. 184) .
O CEN,\RTO COGN JT1VO DO MUN.í>O .UA VJUA INT ERPRETAÇÃO SOCIAL E ORIENTAÇÃO INDJVIDl;,\

ém todo o tal esq\lema de intetpretaçiio não-questionado discrepâncias fundameniais qm,ndo vê as coisas e lida
dentro do grupo de origem . Não pode ser usado comv situações.
e oi-icntação dentro do novo ;1mbiente social . Para os Só depois de r~unir um certo conhecim~nto da fu
do gr.llpo do qual o estranho se aproxima, os próprios interpretação do novo padrão cultural é que o estranho
ulturais preenchem as funções de tal cód igo. l\fas o estra- me.çar a adotá-lo como c6t!ig(J para a suo própria expr
se aproxima não pode usá-lo simplesmente como ele é. diferença entre esses dois eswgios de conhecimento é
belecer uma fórmula geral de trai1-sformação para os dois a qua!quer estudante ele língua cslrangeira e recebeu
ulturais que lhe permita, por assim dizer, con verter todas atenção de psicólogos que estudam a teoria <la aprendi;:
n<1das de um código de odcntação naquelas válidas a diferença entre a compreensão passiva de uma língua
o outro - e isso pelas i-azõcs que se seguem. domínio ativo, como meio de 1-ealizar os ntos e pensam.
primeiro lugar, q ualquer código de orientação pressupõe pessoa.
s· os que o usam vejam o mundo que o, cerca como
merado à volta de sua pessoa, que se situa .no cen tro_
ue ·deseja utilizar um mapa eficientemente, antes de A VISÃO Dt:: Dt::NTRO E A ORIENT,\ÇÃO DO E.
isa conhecer a sua localização, em dois sentidos: a sua l'odemos dizer que o membro do grupo interno "bate
o na terra e a sua representação no mapa. Aplicado no nas situações sociais que lhe ocorrem normalmente e i
cial, isso significa que somente membros do grupo inter- mente capta à receita ready•made apropriada para a ~ua
um stat.us definido dentro de sua hieraryuia e também Nessas situações, a sua ação traz todas as marcas <lo há
es disso.,. podem usar o seu padrão cultural como um automatismo e da semiconsciência. Tsso é possível porque
otientaçã'o natural e de confianca. O estranho. no cn• cultural provê, com suas receitas, soluções típicas para
m de encarar o foto de que lhe falta qualquir status mas típicos de atores iípicos. Em outras palavras, a c/u
mbro do gl'Upo social no qual ele acaba de ingressar obter o resultado deseiado estandardizado, através da apli
é, por isso, incapaz de achar um ponto de partida para uma receita estandardizada, é objetiva, ht0 é, está
ar-se dentro dele. Ele se yê como um caso limite. fora qualquer um que se comporte como o tipo anôn,mo que
rio cúberto pelo código de orientação corrente no gru- requer. Em conseqüência, o ator que $Cgue uma rec
Jhe. é mais pc,miti<lo c(msidera1·-se o cenh·o de seu a111- precisa verificar se essa chance objetiva coincide com a
cial, e esse fato, mals uma vez, causa um <leslocamc:ntc), subjetiva, isto é, .a cltance possível para ele, indiv(<ll!O, c
de contorno de suas relevâncias. circunstâncias e faculdades pessoais, que subsiste indep
sc.gun<lo lugar, o padrão cultural e .suas receitas somente- mente da questão de se outras pessoas em s ituações scm
m uma unidade e coincidência dos códigos de interpre- podcriam ou não agir da mesma forma com as mesmas
e expres,ão para os membros do grupo interno. Pai-,. dades. Além disso, pode-se afirmar que as chances obje
á de fora, entretanto, essa unidude aparente se despe- eficiência da rece.ita são maiores na medida em que se
estranho que se npt0~ima tem de "traduzir" seus ter- nores os desvios do comportamento tipificado anônimo
rermos do padrão cultural do grupo de origem, de,cle vale. especialmente, no caso de receitas projetadas par.
am <lcn1ro desse último tc1mos equirnlentes de int~;- ração social. :Esse tipo de receita, para fw1cionar, pressu
Se existem, os termos traduzidos podem ser compreen- qualquer pan:.ei.ro esp~re que o outro aja ou reaja ripi
embrados; podem ser reconhecidos quando se repetem; desde que o própdo ator aj.i tipicamente. Aquele que
l1o, mns não "cm mãos". Ainóa assim, é óbvio que o viajar de trem deve coroportat•se do modo rípico que o t
não pode supor que a sua ínlerprctação do novo padrão pregado da estação" espera que seja a conduta do tipo
oincida com a interpretn9ão corrente c.ntrc os ,nembros geiro", e Pice-versa. Nenhum dos dois lados examina as
inte1110. Ao contrário, ele tem de levar em conw as lidades subjetivas existentes. A ptoprie<lade do código, r
O CENÁlUO COGN ITIVO DO MUNDO D/\ VlDA T-'1TERPRETAÇÃO SOCIAL E ORIENTAÇÃO 1NDI VIDUAL

tado para uso · de todos, nllo precisa ser tes[ada para não pode integrar os tipos pessoais por ele construído
íduo em particular que o emprega. qu_adro coerente do grupo do qual se aproximou e não po
os que cresceram dentro do padrão cultural, não só as fiar em sua expectativa da reação deles. E menos ainda
suas possibilidades de eficiência, mas também as ati- próprio estranho ado(ar essas atitudes típicas e anônimas
picas e anônimas que elas requercmJ siio upontos pací- membro do grupo interno tem direito de esperar de wn
questionados, que lhes dão tanto segurança quanto con- em sin1ação típica. Daí a fal(a do sentimento de distn
u tras palavras, essas atin1des, por sua própria tipicidade estranho, sua oscifação entre o distante e o íntimo. s
próprio anonimato, não se situam dentro do estrato de tação e incerteza, sua desconfiança cm qualquer assunto
do ator, o qual requer conhecimento explícito de, mas rece tllo simples e pouco complicado para aqueles que
na região da mera familiaridade, na qual basta confiar. na eficiênCl.! das n;ceitas. as quais apenas têm de ser s
refação enrre possibilidade objetiva, tipicidade. anoni- mas não compreendidas.
evância parec" ser bastante importante. Noutras palavras, o padrão cullutal do novo gmpo
o e.stranho, em vez de abrigo, um campo de aventura,
anto, para o estranho que se aproxima, o padrão do de ponto pacífico, um tópico questio.návcl, que tem de se
o não garante uma possibilidade objetíva de sucesso, íi'gado, cm vc, de um instrumento que auxilie a desem
ez disso, uma possibilidade puramente subjetiva, que situações problemáticas, uma situação problcm~tica cm si,
r testada passo a passo, isto é, tem de confirmar que de dominar.
s sugeridas pelo novo código também ptodu;;ú:ão o
jado por ele, em sua nova posição de c.stranho e recém- Esses fatos explicam dois .traços básicos da atitude
ue não tem ao seu alcance todo o sbtema do padrão tranho colll refação ao novo grupo, aos quais quase todo
mas que está bastante lnt1igado com .sua inconsistência. ciólogos que escreveram sobre esse assunto de.taro atençã
e falta de clareza. Eru primeiro lugar, ele tem de; dal: 1) a objetividade do estranho; e 2) a sua duvidosa le
m te1mo de \V. T. Thomas, definir a situação. Ele não 1) A objztividadc do estranho não pode ser suficien
parar num pon to próximo à familiaridade com o novo explicada pela sua atitude crítica. Na n:alidade, ele
nfiando em seu vago con hecin1ento sobre o estilo geral obrigado a adorar os "ídolos da tribo" e tem um sen
ura geral desse padrão; precisa de um conhecimento nítido da ineoeroncia e inconsistência do padrão eultllra
e seus elementos, questionando não só o seu "isso" co- novo para ele . NJas essa ati tudc se origina nmito menos
m o seu "por quê" . Dai as formas das linhas de con- propensão a julgat o novo grupo, segundo os padrões traz
uas relevâncias nece~sária e radicalmente diferirem da- antigo, do q ue de sua necessidade de adquitii: um conhe
um membro do grupo interno 110 que diz respeito a tot.il dos e-lementos do novo padrão cultural. /1. necessid
receitas, meios, fins , parceiros sociais, etc. Tendo em com que ele examine com cuidado e precisão aquilo que
ter-relação acima mencionada entre relevância, de um grupo i.n(erno parece prescindir de explicação. A razão m
icidade, de outro, segue-se que ele usa outra medida funda de sua objetividade, porém, está na sua própria e
nimato e típicidade dos atos sociais. diferente da dos cla,_ amarga, dos limites .do "pensar como semp1-e", a q
o grupo íntctno. Pois, pa1·a o estranl;o, os atores obser- cnsm.o u que um homem pode perder o seu stat11s, as sua
ro do grupo do qual se aproximou não têm - como de orientação e até mesmo a sua história, e que o estilo
utl'os atores - um certo anonimato pressuposto, ou normal é sempre muito menos garamido do que parec
ão meros cumpridores de funções típicas, mas indiví- tanto, o estranho djsc-eme, freqüentemente com llilla cla
uti·o lado, ele tende a tomar meros traços individuais espfrito amarga e dolorida, o começo de uma criEe que pod
Assim, ele constrói um mundo social de pseudo-anoni• çar todo o fundamento da "concepção relativamente nat
do-intimidade e pseudotipicidade. Em conseqüência, mundo", enquanto esses sintomas passam despercebidos
lNTF.RPRBTAÇÃO SOCft\L li ORl.ENTAÇ:\O INDIVIDUA
O CEN..\nto COGNITl\'O DO Mt;Nl>O DA VIDA

Também é possível, no entanto, que pessoas que s


do grupo interno, que confiam na coutinuacão do ~eu derem <lircrentes e.n ti·e si sejam colocadas na mesma c
vida costumeiro. - - soeial pela tipificação do cstrimho e, então., tratadas co
Com freqüência, a duvidosa lealdade do estranht) é, unidade homogênea. A situação cn, que os indivíduos s
nte, mais do que um preconceito da parte do novo gtu- cados dessa forma pelo estranho é del'iniçiío dele, niio de
é verdade cspcdahnente em casos em que o ;;strnnho essa 1:ilz.ão, n sistema de. relc.vfincias que acarreta tal tip
mostra disposto ou capaz de substituir imeiramcnt;:, o é ti.do como pre.ssu1,osto apena.,; pcJo estranho, não é ne
ultural do grupo de origem pelo novo. Então, ele per- mente aceito pelos indivíduos tipificados, que podem n
que l'ark e Stonequist chamaram de "homem margi- ·preparados para rcafüar uma autotipifi.cação equivalente .
lúbrido cultural à margem de dois padrões difereutes
m grupo, sem saber a qual deles p ertence. Mas muitas
cusação de deslealdade se origina da surpresa dos mem-
1-upo interno com relação ao fato de que o estranho não
almente seu padrão cLtllural como o estilo de vida na-
propriado e como a melhor solução possível para qual-
lema. O estranho é chamado de ingrato, já que se re.
r que o padrão cultural que lhe é oferecid(l lhe garante
prot;:ç5o. tvlas essas Jlessoas não compreendem que o
no estado de lransição, não vê absolutamente css~ pa-
o abrigo protetor, mas como um labirinto, 110 qual per-
letamente o sentido d~s coisas .

O SIGKTF{CADO OBTETTVO DF, PFiRTENCJ!R :\ UM GRUPO


ado objetivo de pertencer a um grupo é aquele signifi-
o grupo tem do ponto de vi.sta de e-stranhos, que falam
bros de~se grupo en1 tel'mos de "Eles,,, Na interpre-
eliva, a noção <lc grupo é- uma construç-ão conceitual
está de fora. Opcn,ndo com o seu sistema de tipi fica-
evâncfo:s, a pes~oa que está de fora classifica índivíduos
ram determinados traços e características particulares
egoria social que só é homogênea do seu ponto de yisia,
o ponto de vista de quem está de fora.
sslvd, evidentemente, que a categoria socfal construída
nho corresponda à realidade social ou, mais precisamcn~.
rincipios que governam essa tipificação sejam conslt!c-
bém pelos indivíduos por ela tipificados como elemcmos
o cl<!les, conforme definida por eles e relevante do ponto
dcfos. ~lesmo assim, a intcrpret<Jção do grupo pelo es-
nca coincidirá plenamente com a amo-interpretação <lo
rno . ..
4 MfüOS SOCIAIS DE ORIF.NTAÇÃO E IN'l'ERPRE'fAÇÃO

lVIEIOS SOCL4.IS DE ORIEN1'ACÃO A Linguagem no Contexto da Cultura


ElNTERPRETAÇÃO ~
A linguagem eo,110 código de interpretação
pressão não con siste apenas n.o s símbolos lingiifsticos cat
no dicionário e nas 1·egras simáticas enmnel'adas numa g
ideal. Os primeiros são traduzíveis em outras língt1as; as
p·odem ser comptcc.ndidas através de sua associação com
Linguagem e Conhecimento Social equivalentes, ou exceções, da língua materna não-ques
Entretanto, existem vári<•~ outros fatores.
$0i\·1ENTE Ui>,t;\ PARTE MUl'rO PEQUENA do 111eu conhe- 1 . Toda palavra e toda sentença é, usando . . . u
do mundo ~e origina de minha experiência pc.ssoal. A de W.illiam James, cercada de "orlas" q ue as ligam, de u
arte é derivada do social, dada }JOr meus amigos, mefü com elementos passados e futuros do un iverso de discurs
us profossore-s e os professores dos meus professores. N<lo .!': pertencem e, de outro, com um halo de valo1·es emoc
do a definir. o ambiente (isto é, os tr-aços típicos <lo '·as- implicações irracionais: eles próprios inefáveis. As orla
substância de que é feita a poe;.ia; podem ser transpos
atural do mundo" que predúminam no grupo interm)
a música, mas são intraduzíveis.
total das coisas não-questionadas, mas sempL-e question~- 2 . Existem, cm toda língua, Lermos com diversas
1s como })ressuposto até segunda ordem) . mas também cõCS. Tan:ibén, elas c-Stão i-cgisJradas no dicionário. Jvf
m de ser formadas cons(1uções ((picas segundo o sis1ema dessas conotações estandardizadas, cada elemento da fala
âncias aceito pelo ponto de vi!Sta unificado e anônimo di.) o seu próprio significado secundário, originado no conL
temo, lsrn inclui estilos de vida, meios de. e11trar etn ambiente social dentro do qual é usado, e recebe :1inda c
a com o ambiente., i·eccitas eficierttc:s para a utiliznção de especiais conforme a ocasião cm que é empregado.
picos que provocam fins Cípicos em situações típicas. O · 3 . Toda }(agua tem varh1çôt:s, termos técnicos,
dialetos, cujo us.o 6 restrito a grupos sociais cspccí.fk:o
ificador par excellence, atravé.s do qual o conhecimento significação também pode ser apreendida por um estranh
transmitido, é o vocabulário e a :jintaxe da linguagem t:o- à parte isso. todo gi'upo socialJ por menor que seja (ou
O vernáculo cotidiano é: basicmnemc, uma linguagen1 de todo indivíduo}, iem o seu próprio código prh•ado, eo
eventos nomeados, e qualquer nonw inclui ripiíicaçüo e sível apen as pum aqueles que participaram de experiênc
ação refe1·c.ntes ao sistema de relevâncias predominante sadas comm1s onde o código se criou, ou da tradição
interno lingüístíco, o qual considctou a coisa nomeada associada.
ernentc significativa e, portanto, merecedora de um termo 4. Como mostrou Vossk,·, toda a h i~tóda do ·grupo
tic<> está espelhada no seu modo de dizer as coisas.2 T
O vernéculo pré-cientifico é a próp1;a mina de ouro de outros elementos da vida do grupo entram aí - acima
tkas e tipos rcady-made.. todos de origem social. e tra-
nsigo um hodzonte infinito de e.onteúdo incxplorndo. J Ccms:.:qücmerncnte, o .:i.p.r..:ndizado de tuaa língua estrangeira
estudante, íreqücntemcnte pela pi7meira vez, às regras gramatica~
l íngua rmitema: que e!e até cnt~o 5:e~uiu como a «coisa mnis n
mundo", ou se.; u, comv receita.
<los se.guinh::s ikns da Bibliografia: 1953c_. 9-10; 19H , so..t-.;; 2 Karl V,)~slcr, C<!ist und Kultw in dur Sprache {Hcidelbergr 1
-57; 1955b, 1.; 1.;9; 1967_. 11$-20, 120·23, 124 25.
4 117 -e s~gumtes.
O CENÁRiO COGN lTlVO DO MUNDO D,,\ VJD1\ MEIOS SOCIAIS DE ORIENTAÇÃO E INTERPRETA,;',ÃO

turn. Q estrangeiro erudilo, por exem1,!c, que se .aproxima e em especial, antecipo que o que está agora dentro
país de lingua inglesa, é muito prejudicado se não leu a C:,mpo de manipulação voltará a entrar nele mais 'tarde ·e
Shakespe.are em língua inglesa, mesmo se tem familieri- 8 minha inte1ferência ()\1 interkrirá cm mim. Conseqüen
m trll<luç.õc$ <les~es livro~ en1 sua língua materna. tenho de estar certo de que vou. então, achar lll)l caminh
dos os traces acima mencionados sú :são acessíveis aus disso e entrar en1 banuonia com is.so: do n,esmo mod
s do .gnipÓ interno. Todos pertencem ao código de ex- • pos~o fazer agora, enquanto isso e.stá sob meu contro
Não se pode ensiná-los nem eles podem ser apl'cndido, pressupõe que: mais tarde: em outra ocasião, serei c.apaz
mo modo que, por cxeo,p)o, o vocubulálio. A fim de do- nhecer os elementos que "gora acho relevantes no mundo
uentemente uma língua, como meio de expressão, " pessoa alcance real, especialmente dentro da zona de manipu
ter escl'ito cartas de amor nessa língua; tem de saber como também que mais tarde eles provar-se-ão relevantes (o
como xingnl' e como dizer «s coisas em todos os malizcs ponho lançando mão de utna fór1m1la _ideal ger~l , que
dos 30 cndctcç.adó e à situação. Somente para os mem- chama de "po,so fazer isso de novo") .' Sou, assim, mo
grupo inte rno o código de expressão é genuíno e C$tá 2 isolar e marcar certos objetos. Espero que, mais tarde, es
mente eles o dominam fluentemente, dentro de seu "pens.a r cas sejam úleis como "avisos subjetivo:$'' ou HdisposHivos
empre". nicos" (termo de Wikl) . • Não imporia se tal dispositivo
uico consiste em quebrar um galho de árvore ou esco
marco qualquer para marcar a bilha pstra um olho-d'á
Marcas 1nnrc~dor na página onde parei <le ler ou subHnar cert
gens deste livro, ou fazer notas a lápis nas margens, tnm
marcas ou lembretes subjeti vos. O que conta é, simp
Vivencio o mundo ao meu alcance atual como um que todas essas marcas, elas próprias objetos do mundo
o ou fase da minha situação biográfica única, o que en-
não serão, daquj por diante, intuídas como meros ª .e us
m transcender do Aqui e Agora a que isso pertence·. À digo de apercepção pura. Elas entraram, para mim, in
sihniçiio biográfica única pertcncem entre outtas coisas,
1
n~na referência de apresentação. O galho quebrado da
recordações do mundo ao meu alcance no passado, mas
mais do que isso. Tornou-se uoia marca da localização
is ao meu alcance de~de que me movimentei ele l.á parn d 'tlgua ou, se assim se preferir, um sinal para eu virar à
as minhas anteci.pações do mundo pot vir ao meu alcance.
Em sua íunçíio de apresentação, que se origina no c
ue cu me movimente Daqui para o utro Lá. de modo a interpretação a ele atribuído por mim, o galho quebra
para o meu alcance. Eu sei. eu suponho que, ignorando emparelha-se com seu sigu i{ic.ado reíerencial "caminho
os iécnicos e outras limitações, tais como a irrcparabi•
olho-d'água".
undamental do passado, posso trazer meu mundo de rc-
es de volta ao meu alcance real, se eu retornar para o A marca Que ÍWlciona como lembrete subjetivo ê
e onde vim (n-umd.o ao rneu alcance recuperável) ; es1,el'o, formas mais pu~as de relacionamento ele apresentação; e
gada de qualquer contexto inter.subjetivo. Deve-se acent
, encontrá-lo substancia]menle o mesmo (embora: tal vez.
ado}, como o vivenciei enquanto estava ao meu alcance ráter arbilrário inerente à escolha de certos objetos pa
cas". A marca "nada tem a ver '' com aquilo de que
também sei, ou suponho, que o que está agora ao meu
lembrar, ambos estão no mesmo contexto de interpret
real vai ficar fora de meu alcance quando eu me movi- plesmente porque tal contexto foi c.stabelecido por mim.
mas vai: em princípio, ser .recuperável se eu, mais tarde,
a isso. .3 Edmund Husscrl. Formule und transcenúenfale Lo1;~il, (Halle, 1
interesse dess~ último caso é, para mim, eminentemente 74, p, 167.
Espero que. o que está agora ao meu alcance real venha a ~ John Wild, "Introduction to rhe: Ph~nomênúlOgy of Signs'i..
ra de meu alcance, mas volte a meu alcance mais tarde and Pl1cnome.nufogica! J<csearch, 8 (1947): 224.
O CENÁRlO COGNITIVO DO MUNDO DA VinA
MJZIOS SOCIAIS DE ORlENTAÇÃO E lNTERr.RF:TAç., o

o princípio da i1Televância relativa do vc(culo, posso par de apresent:rção, que a maioria dos autores coloca .so
? ~•(fio quebrado por uma p ilha de pedras; de acordó ceito de signo. Prc.fcrimos reservar o tc1mo usigno" par
nnc,p,o da transfc~ência figurativa, posso dedicar essa pro_pósitos e chamar a Tclação tlc apresentação em causa
pedras a uma náiadc, etc.
cação.
Husscrl 6 caracterizou essa relação de indicação
Indicações chen'') da seguinte forma; um objeto, fa(o ou evento (A
mente perceptível para mim, pode ser vivertei ado como
11atlo a outro fato ou evento (li) pa~$ado, presente ou
Mencionamos an!c,ionnente o estoque de conhcd -
não petceptfvel para mim cm termos ~cais, de La! fo,m
mão como um elemento da minha situação blo~ráíic2.
qué de conhecirnento não é nada homoe.êneo. William minha convicç.ão da existência do primeiro (..1) é vivenc
á distinguiu entre "conhecimen to sobre" ~ "conhedmen- mim como u1n motivo obscuro da minha convicção, supo
miliaridade". Existem, além disso, zonas de crenca sem crença na existência passada, p resente ou futura do segun
.to e ig1;orâ'.1ci3. A estruturnção do meu estoque 'de co- Essa motivação constitui para mim um par dos elemen
,o . à mao e determinada pelo falo de que não estou cadores (A) e dos indicados ( IJ). O membro indicador
e mteressado em todos os estralos do mundo ao mc11 não é só uma "te:;ceraunh<1H <lo ln<lic::tlo, nfü,) ~ó ele
A função seletiva do interesse organfaa o mundo para outro, mas sugere a supo~iç5o de que o outro membro
estratos de maior ou n1enor relevância. Do mundo (l:O existiu. ou vai existi!'. tv1als uma vez, o membro indicado
n:ce real ou pot,encial são esco1hídos, corno de primeira percebido c-omo um "eu", ou seja) simpksrnente attavé~
rn. os fatos. obJctos e eventos que são , de J'ato, ou virão digo de apercepção, mas como um "despertador" ou "cha
s ~u n;eíos. possíveis: obstlicu1cs ou condjçõ~s possívchi. do indicado, .io nível. de apresentação. É, no entanto, im
ahzaçuo de meus projetos, ou que são, ou que set'ão. que a natureza particular da conexão da motivação pe
ou agra<l<lveis ou , de alguma oufru forma. tclevante:: ..'obscura". Se ,1 natureza da conexão ent..l'e os dois ele11
. vista com cfareza, não estamos lidando com a relaçfio re
s fatos, objetos e eventos me são conhccidos como da indic:ição, mas com a de inferência, de prova. Í\. quaJ
cfonados: de uma maneira mzjs ou mctiús tínica, n,2i,: 0 contida na última afirmação elimina, portamo, a possibil
ecimento do tipo pal'ticulru· de foter-relação pode ser chamar a pegada de um tigre, reconhecida como tal, de i
ou ,uesmo totalmente. vago. Se eu sei que o evento /l ou "signo" de sua presença no local. Mas o halo em volta
nte aporece simultaneamente com o evento A, ou o indica a· vinda de chuva; a fumaça, fogo; uma certa form
antecede, tomo isso como uma manife~taç-ão de um reia- superfície, óleo no subsolo; um certo tipo de pigmcm
o típico e plausível existente entre A e B, embora nfo rosto, doença de Addison; a posição da agullu~ no mostr
a sobre a natureza desse rclac.ionamcnto. Até seg11 nda meu cano, tanque de gasolina vazio, CLC.
m12Je~mentc espero, ou vejo como pr~suposto, que qual- A relação de indicação, conforme descr.i la, abra nge
r~ncrn futura de um evento do tipo A vai ser associada. ria dos fenômenos geralmente categol'izados e.orno "sign
modo típico, com a recorrênei" de um evento do tipo rais''. O conhecimento de indicações é de grande import
oncomitantemente ou depois. Posso, então, apreender A ponto de vista prático, porque ajuda o indivíduo a tra
um objet"'.. falo ou . evento por si só, mas como repre- o mundo ao seu alcance real, relacionando os elementos
e outra ~O!Sa, o~ SCJà, relativo à apariç_ão passada, -pn.> a lcance com os elementos fora dele .
utura de B. 1vfa1s uma vez, temos aqm uma form,3 de
6 Husse.rl, Logisd1e Untcrsuchwzgen, J, vol. 2/ 1. .sc~()es 1•4: espe
ru:iplcs oi Psydro!ugy (Nova York. Hi90), 1:221. p , 27.
O CEN,ÍRIO CO~NITIVO DO MUNDO DA VI DA M EIOS SOCIAIS JJ'E ORIEN'l',\ÇÃO F. I N TERPRETAÇÃO

t•:os. Há, no entanto, certa ambigüidade no dizer comu


ou , é sempre um signo de a 1gumn c?Js~r: ·»o· 'd
Signos e Sistemas de Signos * signo s1gnbo e, de
, ...signo:, de algo que quer dizer o~ s1gnt tca. o e. ama,. o
ficado do signo" ou " função do signo'.'· Mas o siino . e
Vejamos, em primeiro lug.;Jr, como se constitui um
0 "signo de" algo que expressa, ou seJa, as cxper1en31as
mente do intérprete. Digamos que e~iste entre o ~Íi!DO l! vas da pessoa que o utiliza. No mund_o da natureza. nao 11
ue ele significa uma relação de representação. Quando (Zeichen), apenas indicações (Anze1chen). ~~ signo, p
pal'a um signq, que sempre é um objeto exterior. num rópria natureza, é algo que uma pc-ssoa util,za para e
mplo, não o vemos eomo obieto, mas como represe11tante .iima experiência subjetiva . Daí, portanto, o _signo sempre
ma outra coisa. Quando ª entendemos'' um signo 1 nossa a uro ato de escolha da parle de um ser rac10nal - umn
está focalizada não no pt6prio signo. mas naquilo que desse determinado signo - e é, também, uma indicação
senta. Husserl afirma, repelidas vc1.cs, qve o fato de o evento na mente do usrn'irio. Vamors cham.aj" 1sso de "fun
aquilo que ele representa não lerem nenhuma relação pressiva" do signo.
o outro" se deve à essência da relação "signitiv;!'"'. A
Portanto, um signo sempre é um artefato ou o ob
rrsigt1ilivau t. portanto, obviamente, uma relação parti-
·c onstituído.7 A fronteira entre os dois 6 inteiramente fluid
Ltc os c6digos de interpretação que são aplicados a esses
objeto-ato que fw1ciona como objeto-signo (por exe':1plo
xtcrlotes, aqui chamados de "signos". Quando cnte11de-
dedo apontando em certa direção) é o resultado ~rnal
signo não o interpreramos atrnvés do código adequado
mo objeto exterior, mas através de códigos ade(JUados
ação. Mas eu pode,ia, ?ª
mesma forma_~_ter constn11do u
de sinalização, que sena, é claro, clam,1cado como um
ue ele si.Rilifica. E.strunos dizendo que um código de Em princfpfo, não faz diferença se a ação culmina no ob
ação é adequado a um objeto vivenciado se o código foi ou num artefato.
do a partir de experiências po\itéticas desse mesmo objeto
Deve-se dizer que, ao interpretar um signo, não é ne
ma coisa existente em si. Por exemplo, as seguintes três
referir-se ao fato de que alguém criou o signo, ou
etas, A, podem ser interpretadas: 1) adequadamente, co-
alguém o utilizou. O que interpreta precisa apenas "c
agrama de \!ma determinada Gestalt visual em branco e
u 2) 11ãa-adeqaadamenfe, como um signo pata o som de
o significado" do signo. Noutras palavras, só é ne
que se estabeleça, na sua mente, uma conexão entre o
espondente. O código de interpretação adequado para o
de interpretação adequado ao obje10 que é signo e o có
voz não é, evidentemente~ constituído por expedências
mas por cxperiências auditivas. interpretação adequado ao objeto que ele significa. Assim
uma placa na estradn, ele dinl a :$i próprio "in tcrsc.ção à
etanto, é provável que surja confusão do fato de que a da'\ e não "olhe a placa <lc madeira" ou "quem colocou
ação de signos, cm Lermos do que eles significam, baseia- p laca ali?"
xperiência anterior e é, portanto, em si, fu nção i:le um
Podemos, pois, definir os signos assim: são artefatos.
tos-ato que não são inteq,retados de acordo com os cod
ue dissemos vale pata !oda in terpretação de signos, esteja inlerpreLaçl'io a eles adequados enquanto objetos do mun
duo interpretando os se-us próprios signos ou signos de rior, e slm de acordo com códigos não-adequados a ele
pertencem, na realidade, a outros objetos. Além disso .
organi=tidur: Neste texto. tirt',do de sua p~meira publica~ão,
dizer que a conexão entre o signo e o código 11ãc,-adcqu
ou os termos sighO e $Ímbolo altcrnad.unente. !:(e est~va scgu;ndo
t:ntc.. Em f>Ua obra poslerior, no enhmto. cm pm:te mílu,;nc1ado
s desenvolvidas por '\\1illiam Jrune-S, fez uma 1útida <iistim;üo enrrc i [As palavri'IS aqui traduúdas pa.ra "objeto-elo') e "objc:10-si~no"
leitor deve. ter e.m mente que, neste tc.xto, <..m<le o_corrcr o, te_rmo pectivamentt.: Hand{unp.sgcgqrsründ/ir:hlceit e ZC'i<:iieng~gcustiindli<:l11
le tem a c.om>ts~íi'o de signo. A concepção posterior de ~,maolo se reforem a ato e signo considerados como objetos reproduzlvds,
esrá em "Transcenclênciâs. e Reulid.;des Mú!Liplas", no rnp. 12. de como eve11tos l.Ínioos.]
O CEN..\R!O COONJ'T'IVO DO MUNDO DA VIUA
MRTOS SOCIAIS DE ORIENTAÇÃO E 1:--ITERPRETAÇ<ÃO

;ponde depende_ d~ experiênci~ p':ssa<la ~o . intérpre_te. sário que eu encontre, dentro do meu estoque de expe
<lissemos, a possi.bi hdadc de aphcaya_o do ~digo daqu~lo tal· sistema de signos, junto com as regtas seg~111do ns qua
no significa é, em si mesma, um cod1~0 de to~erpretaç~o, consâtuido. Não preciso entender o signific.ado <los signo
a expedêocia . Vam.os c.hamar cs:c últimó c~d1~0 ~e "sis- viduais nem e;;tar totalmente familiarizado com o siste
signos". Um sistema de signos e uma corutguraçao fo,. signos. Posso, por exemplo, reconhecer como chineses ce
códigos de interpretação; o usuário do signo,_ o~ o que racteres, sem compreender o seu significado.
ta, situa o sjgno dentro do seu contexto de s1gruf1cado. Como signo instituído, todo signo tem significado e
tanto, em princípio, inteligível. Em geral, é absurdo falar
signo sem significado. Só se pode falar apropriadamente d
O Significado Objetivo sen, significado quando ele é confrontado· com um ou m
dos Sistemas de Signos temas ele signos insti(uí<los. Dizer que um signo é estranh
sistema, porém, quer dizer apenas que ele pertence a out
H<í algo de ambíguo nessa idúía de um contexto de exemplo, 1150 se pode nw1ca determinar a falta de significa
í:atÚ, nf~gu~m pode dizer que a conex5? em caus~ existe de
si, um símbolo audioYisual; pode-s~ apenas falar ele su
ntemente cio e-stabelecimento, . \1so ou intcrprcblça~ ':~I de signific.ado com rclaçlio a uma delctminad« "'linguage
s. l'ois· a conexão é ela pt6pr,a um exemplo de s,gmf!- sentido mais amplo dessa palavra. Uma combinação úe le
ortanto, uma questão ele prescrição ou de interpretação. fícil de pronunciar pode ter significado c.m algum código
ido restrito, pois, as conexões de significado se mantêm se!' ruonta<la por uma pessoa <lc acordo com as regras do có
signos propriamente ditos, mas entre seus significados. então, ser interpretada p-or outra <1uc conheça essas mesmas
implesmcnLc oulro modo <lc <liz~r entre .!S ,expcrién.cfas Não é só isso, o símbolo audiovisual :'Bamalip') parece,
sciente, que estabelece, usa ou rntcrprcta s1.gnos. Entre- meira vista, bastante sem sentido no que diz respeito i'ls
no esses ''significndos" só são compreendidos em e atra- européias. Nfas à pC$$Oa q11e sabe que ªliamalipn é o term
gnos: mantém-se entre esses últimos a conexão que eh.a• lástico que de.igna uma entidade da lógica formal, ou
.. sistema de signos". pri111eiro modo <la quarta figura do silogismo, será ca1)az
locá-lo com precis~o dentro da estrutura de sua lfugua nat
stema ele signos está presente para aquele que o com-
Segue-se daí que o sign ificado cio signo, dentro de
omo um comexto de significado de tnna ordem supe-
gnos anterio1111cntc vivenciados. Para ele, a Jíngua alemã lc.nninado sistema ele signos, tem de ter sido anterionue
exto de significado de cada uma <las palavras que a venciado. O que significa essa fra~e .. te!' sido vivenci:.i
é em si uma questão. Se nos pel'gwHarmos em que circu
o sistema de signos de. um mapa_é o con texto d: signi-
cada símbolo daquele mapa, o sistema ele notaçao mu- cias vivenciamos a cone.xão entre o termo "Bamalip" e
con(exto de ~ignificaúo úe cada nota escrira, e assim meiro modo da quarta figura, descobriremos que o apren
e. de um 1>rofessor ou de um livro. Ter vivenciado a conex
entanto: significa que, naquela ocasfüo, devemos ter estab
r que um signo pertence a um certo sistema de signos em nossas mentes o termo "Bamalip" como signo do pr
me..sma coi.sa que saber o qua aquele signo sigoifica e nwdo da quarta figura. Portanto, o entendimento de um
,.-periência subjetiva ele seu usuário é ele veículo de ex- (para ser mai·, preciso, a possibilidade de sua interpret~ção
vksmo que cu :não saiba estenografia, uinda assim a de um dado sistema) remete a ur.na decisão anterior, da
quando a ve_io. Mesmo que eu possa não saber jt1gar p21·1e, úe aceitar e usar esse signo como expressão de um
de cartas, ainda assim posso identificar as cartas como conteúdo de nossa coirsciência.
iogar, etc. A colocação de um signo dentro úo seu sis- • úida sistema ele signos é, portanto, um código ele
signos é aquilo que faço quando o coloco dentro cio experii:nciH. Isso, em dois sentidos diferentes. Primeiro,
otal eh minha experiência. Para fozcr isso, s6 é neces- código 1.,>):pi'essivo; noutras palavras: pelo menos uma vez e
O CE:NÁRTO COGNITIVO DO MUNDO DA VTDA Ml!!OS SOCIAIS OE ORIENTAÇÃO E I NTERPRETAÇÃO

or aquilo que ele designa: ou na ".atividade espontânea" algum .lugar na experiência passada da pessoa que o uti
aginação. Em segundo· lugar, é um código i;zterpretativo, inteiramente versado numa língua ou, na verdade, em
já inLerprere1 o signo, no passado, como signo daquilo sistema de signos envolve ramjjjaridade com os códigos
designa. Essa distinção é importante, já que, como mos- pretação dados, com base. nas experiências pessoais anter
os.so recon.bcccr um sisten1a de signos como código intet- mesmo que essa familiaridade. seja um tanto confusa com
111as apenas saber que outtos o usam assim. No mundo às implicações dos códigos. Envolve, também, a capac
olitário, o código de expre.são de um signo e seu código transformar e,.ses objetos instituídos em experiências a
retação correspondente necessariamente coincidem. $e, própria pessoa, isto 6, a capacidade da pessoa de usar ex
mplo, invento uma escrita privada, os ca.ractcrcs clcss(:. mente o sistema de signos que é capaz de interpretar.
ão estabefoci<los por mim quando invento a escrita ou Estamos agora nos aproximando de uma resposta
uso para tomar notas. E, para mim, nesses momentos, questão relativa ao significado da frase "ligar um signific
o expressivo. Mas o mesmo código funciona como c6- urn signo". . . Um significado é ligado a um signo ua
nterpretação quando, mais tm·de.- leio o que escrevi ou em que a significância do último, dentro de um dado si
para fazer outras notas. signos, é compreendida tanto pela pessoa que usa o sign
dominar b, tciramente um ~istema <lc signos tal como pela que o interpreta. Aqui, tellJOS de ser bem claros com
ua, é preciso ter um conhecimento nítido do significado ao que queremos dizer qmindo falamos do pertencer é,ta
s individuais dentro <lo sistema. Isso só é possívcl se o de um signo a um dado sistema de signos. CTm signo
de signos e. os signos individ uais que o compõem ~ão "significado objetivo" dentro de seu sistema de signos qu
os tanto como códigos expressivns quanto como c6digos pode ser inteligivelmente coordenado com aquilo que
ativos das experiências anteriores de quem o conhece. Em dentro daquele sistema, independentemente de quem o
funções, como código de interpietação e como código de interpreta. Isso ludo para dizer que aquele que "domin
o, todo signo re-mete às experiências que precedem a sua tema de signos vai interpretar o signo, cm sua função
ção. Como código de expressão e como código de inter- ficado, como referente. àquilo que designa, independente
um signo só é intclig1\1cl cm termos ci.aquefa~ experiên- quem o está usando e com que relação. A referência
das que consLiluem aquilo que ele designa. Seu signifi- sável do signo co111 relação à experiência anterior poss
siste em sua trndu7.ibilidadc, isto é, capacidade de nos que -interpreta repetir as sínteses que constitufram esse c
a nlguma coisa conhecida, ele um modo diferente. Isso interpretação ou de expressão. Dentro do sistema de sig
aquele código de experiência dentro do qual a coisa tanto, o signo tem o status ideal do "posso fazer Lsso d
a é compreendicfo ou outro sistema de signos. O filólogo Entretanto, lsso não quer dizer que os signos dcnLT
xplica bem esse ponto, no q11e di7. respeito i1s líng\tas: tema de signos anterim-rncnte conhecido não possam ser c
didos sem um Ato de atenção àquela$ experiências
podemos ap,recndcr o sentido de uma língua desconhecida inrui- partir das quais se constitui o conhecimento do signo.
Para podc1mos co;npreender wu te.,;:to numa língua (:-oja trn· trário, cúmo um código de ínterprelação genuíno de ex
crdc1.1, prédSãmos da sua tradução fie! para uma lingm1 eonhl!Cida,
.:::isomos nos relac.ionar estreitamente com um~ vu mni,; Hnguns. anteriormente vividas. ele. é invariável com relação àS
jam familiares. Noutras paüi.vras, temos de j.í conht!.c~-la. .s: cia!> vi vidas do cu no qual foi constituído.
a propriedade de ''já ser conhecida" se. r~sume nó seguinte :
o que seja possfrcl descobrir o significado do signo em
Função Expressiva dos Signos
m Vossier, (jcfst und f<c:lwr iu der Sprr.clie, p. i 15. lTradtt7.\<l,> •
lês poi: OScár Oeser oorno Tlz" Spiri! oj Laugwrgt! in CivUization Estivemos considcrat1do o significado ob
J932), p. toil. A l'efcl'ência é de A . i'vlcilkt, Apt•rçu d'Ht!é hi:;toire signo. O significado objetivo é captado, pela pe.ssoa
ue g.rec:q1.1e (Paris, 1913) , p, 48..]
O CEN~\tHO COCNITl VO DO 1vfU~DO DA VIDA MEIOS SO'C!AIS DE ORIENTAÇÃO E INTERPI<ETAÇÃO

gno:_ ...cor:110 uma parte de- sua aulo-interprctação de sua ti.r comprecndc.r o significado da palavra "civilização" n
pcr1enc1a. A esse significado objetivo do sirno deve- de um francês. Vossler aplica essa te.se a toda a história d
a funçã~ c~pre~siva do signo. Este ú.ltima... é a sua da seguinte forma: "Estudamos o de~envolvimento de u
mo uma 111d1caçao do que de fato OCOITC\I na mente fo.vra; e descobiimos que a vida mental de todos os que a
~.ador, da pe.ssoa que usou o sjgno; cm outras palavras., ·prccipitou~sc e cristalizou•se nela".lº Entretanto. para pod
1 o contexto de significado do próprio comunicador. tu<lar!I a palavra, nossas experiências anteriores têm de
ero entender o significado de uma palavra numa Jínnua a estrUEtll'a mental de todos os que a usaram. A qualidad
, uso um dicionárjo, que· é, simplesmente, um índfcc' cular das experiências do \ISuário do signo, na ocasião
o encontrar os signos arrumados de acordo com O seu
1
ele ligou o signo ao sig1wtum, 6 algo q ue o iotfaprete de
objetivo, em dois sistemas de signos, ou línguas. difo- e,n cont.i, al~m e acima do significado objetivo, . se e
cntan_t~, a ~l~n&,11.1<1 não é o total de todas as pálav{·as do atingir uma compreensão real.
O d,c1cnar10 só se ocupa dos significados objetivos Dissemos que o significado adicionado não é só su
as, isto é, dos significados que não dependem dos usuá- mas também ocasional. Noutras palavras, o significado
~favras ou das circunstâncias cn1 que eles a;:; usam . nado sempre tem ém ~i algo do contexto no qual é us
o~/~fel'im_os a sig!lific:ad() ~ubjelivo, niio estamos .1xm• coml)reen<lcr alguém que está falando, interpreto não só
L=xpressoes oC.ã5lona1s essencialmen te ◊'Ubjetivasn de palavras individuais, ·mas também a seqüência articula
Tais e1>.pressões "essencialmente subjetivas" como de suas palavras, sintaticamente ligadas - em suma, "aq
, "direita::. "aqui", uaW', "isso" e '"cu", podet;l, é cfi! . . ele está dizendo". Nessa seqüência, toda palavra retém
on tradns no dicionário: e são, en1 princípio, txaduzíveis; prio significado individual, no meio das p alavras que a
,. elas também tilm um significado objetivo, na medidá e ao longo de todo o contexto do que está sendo dito
sign3tn uma cen a relação com a pe:s~oa Que as ntHiza . assim, na realidade, não posso dizer que compreendo a
que eu tenha localizado essa pe.ssoa no éspaço, então enquanto não tiver c.aptado o significado de toda a af
que essas cxpre~sões subjelivas o-t:asionais Lêm sion\• Em ,-esumo, aquilo de que preciso, no momento da interp
etivo . Entretanto, todas as expre.ssõcs, sendo ou 7ião é o contexro total da minha experi~ncia. Conforme a af
nte subjetivas no sentido de Huss.erl. têm para ambos
,. , ' ,
prossegue, passo a passo se constrói uma síntese, a partir
mtcrprete! alem e :!cima de seu sign ificado objetivQ, se pode ver os atos individuais de interpretação de signi
i1do que é tanto subjetivo quanto ocasional. Vamos estabelecimento de significado. O discurso é, portanto
ptimcho o componente subjetivo. . Todas as pessoas próprio, uma espécie <le contexto de significado. Tanto
ou inte.rptetam um signo associam-lhe um certo sh:mi• orador quanto p ara o intérprete, a estrutura do discu!'so
iem sua origem na qualidade única das expetiên;ias gradualmente. í.'°',. língua alemã expressa precisamente o q
las aprenderam « \1sar o signo. Esse significado adlÇfo. mos colocando ·na distinção ·g_u e faz cnttc W õrter ("palav
tipo de aurn que envolve o núcleo de si.,nificado obje- conexas") e Worte ("discur-s o"). Podemos, ele fot(l, di
amente o que Goethe quer dizer com"' "demoníaco" qua11do palanas desconexas recebem significado ocasi,m
r deduzido de ur.n estudo de seus (tabalhos como um constituem uJn todo significante e se lornrun discurso.
nte um e.studo auidadoso da história da cuJturu fran-
auxílio de instrumentos lingüísticos, pode nos penni•

~emos. utC ;111;smo di7.cr que t! ç(1mpreensüo do signiíicac.Jv


m J~~ul J.r1'cal1~u~1~l.' o que significa, apenDS, que o componenlt:
c.:s1011al ,<lo HglUÍJc<:<lo do signo devcti~ ser e.,plic~dn com a •
por mc-10 de concc1tos raciooais. A línc-.ua "prcc1',;.,,,, .i !lqu+ 10 Vosslér, Gei~t cmd Kultur in der Sprache, p. 117 [ ltadução i
· · · ·· dos ~ubjetivo.s ocasiorrni.$ são~ adequt?dãmeo.fc
O$ SJgn1hcu .... '"' •·c~pJi.
... "'"
rdo c.on1 suas cttcuns(futl:.ia~. Oeser, p. l06].
5 ATE NÇ.~O Sfil.ETIVA; RELEVÂNC IAS E T!P!FTCAÇÂO

cada uma delas, de um i,>rau diferente de pteci$iiO de


ATENÇÃO SELETIVA: ,nento.
Para os nos.os propósitos, podemos distinguir rap
RELEVANCIAS E quatro regiões de ,·clcvância decrescente. l?rimeiro, exist
TII'IFlCAÇÃO par'te do mundo "ao nosso alcance", que pode se~ imedi
observada por nós, e também~ pelo menos par_c121ment
nada por nós - isto é; modificada e reorganizada at~
nossas ações. É o setor do mundo em que os nossos pro
dem ser ma[erializados e desenvolvidos. A estrutura de
Zonas de Relevância de relevância primária requer wu nível ótimo de comp
isto é, clareza e nitidez. A fim de do.minar a situação,
A zona das coisas Lidas como p ressupostos pode s-~r po~suir o know-lww - a técnica e o talento - : ta
como o setor do mundo que, em concxã·o com <> pro- coinpreensão precisa de por que, quando e onde usa-los
ático ou teórico do qual nos ocupamos num dado mo- gundo lugar, existem outros campo_s, fecha~os_ ao 1_1os_so
ão parece necessitar de maiores invc.s tigac;ões, embora mas imediatamente ligados ii 7.0na de relevancia prunarm
mos uma visão nem uma compl'eensão distinta e clara por exemplo, fon,ecc.m instrumentos ready-made a serem
tr.uturn . O q ue é tido como pressuposto é, a té segunda para obter o objetiYo programado ou ~stabelece1)1 as c
redita-se, algo simplesmente "dado", e "dado como me das quais depende o nosso plano p ropnamenfe dito ou
- isto é, como eu ou os oUttOS em quem eu confio cução. Com essas zonas de ~elevância menor basta estar
aram e in tc~·pretaram. E dentro dcss~ zona de coisas
rizado, conhecer as possibilidades, chances e riscos que
as que temos de enoontrar nosso caminho. Todo o nosso
interfel'ir em nosso interesse principal. Em terceiro lug
uesiionamemo do desconhecido só pode surgir dentro
tem zonas que, 110 nzome11to, não têm tal ligação com
mundo de coisas suposramcmc já conhecidas, e pres-
resses ã mão. Vamos chamá~las de Hrelativamente irrel
existência. Ou, usando os termos ele Dcwcy, é da ~i-
assim indicando que enquanto não ocorrer nenhuma
determinada que patte lo<la invcstigac;ão possívet com
clcnlro delas, capaz de influenciar os setores relevantes, c
de lransform.í-la numa sit11ação determinada. E claro
ees e riscos novos e inC,'J'~rados, podemos continuar
e é tido como pressuposto hoje pode tornar-se questio-
como pressupostos. E, final.01cnJ.c, existem zonas que s
anhã. :se somos induzidos, por n O$Sa própria e,scolha ou
chamar de ''absolutamente irrelevantes" por'lue nelas
modo, a mudar nosso intere.sse e fazer do estado de
mudança possível iria - ou assim acreditamos - in
ito um campo de maior investigação.
o nosso objeüvo em questão. Para todos os pr~pósilos
os rderirmos a uma mudança ele nosso próprio inte- uma mera crc11ç.a cega oo isso e no como da:s coisas den
mos no âmago do nos:;o problema . .. zona de irrelevância absoluta é suficiente.
nosso interesse i1 mão que motiva todo o nosso pensar, Mas essa descrição é por demais grosseira e requ
agir e que, portanto, estabelece os problemas a serem sos comemários. Primeiro, falamos tlc um interesse à m
dos pelo nosso pensamento e os objetivos a se1'e1n atin- determina o nos..so sistema <lc relevâncias. No entanto, n
no:ssas ações. Noutras palavras, é o nosso interesse que tal coisa, llll1 interesse à mão isolado. Um interesse único
ampo não-problemático do pressuposto cm várias zona~ apenas um elemento dentro de um sistema hierárquico,
ncia diversa com relação a esse interesse, necessitando~ mo dentro de uma p luralidade de sistemas, de· interesses
~'\da cotidüina chamamos de nossos planos - planos de
dos seguifües ilens de Bibliov:ai'ia : i 946, 467•70: 19;7~. 48-50~ e de pensamento, planos para o momento e para toda a
89, 392-93: 1959a, í9-80; 1957a> 39-40, 43-45. verdade, esse sistema de interesses não é constante ne
O C&'l".l\l{lO COGNITIVO DO MUNDO DA VIDA AT!óN ~·Xo SELETIVA: l{ELEV1\NCIAS E T! PlF!CAÇXO

ão é conswntc porque, ao se mudar de qualquer Agorn rcsu.ltado de no-ssos interesses escolhidos, estabelecidos po
Agora posterior. os in teresses únicos adquirem um pe;$O decisão espont~nea de res.olvcr um problema por meio de
uma predominância diferente dentro dr, si.stema. Não pensamento, atingir um objetivo por meio de nossa acão.
êneo porque, mesmo dentro da simultaneidade de qual- urn estado de cobas projetado. De fato, somos livres par~
ra, podemos ter os mais disparatados intetesses. Os. vá• em que estamos interessados, mas esse in(crcssc, uma ve
is sociais. que assumimos simultanean1ente oforeccn1 umt: belecido, determina o sistema de relevâncias intLínsecas c
agão disso. Os interesses que tenho na mesma siiuaçiio, lação ao interesse escolhido. Temó.S d.e nos sujeitar às rele
, cidadão, adepto da minha igreja ou da minha pi-o- assim estabelecidas, aceitar a situação clcterm.in.a da por sua
dem não só ser diferentes como até incompatíveis um tura interna, concordar com suas exigêncfos. Ainda assi
tro. 'Tenho, então, de decidir qual deSses interesses db- permanecem, pelo menos numa certa medida. soh noso
devo escolher de forma a definir a situação a partir ela trole . Já que o interesse do qual as releviiuci~s int1ínse
eçar o questionamento mais prnf undo. Essa escolha i11di- pc~dern, e do qual se originam, foi estabelecido pela nos
oblema ou estabelecerá o objetivo com respeito ao qu.i l pria escolha, podemos a qualquer momento mudar o foco
cm. LlltC vivemos e nosso conhecimento dele são distri - .intere.sse e assjm modificar suas relevâncias intrínsecas, o
m zonas diversas de relevância. um nível ólimo de clareza através de questionamento co,
segundo lugar, os termos "zonas" ou ,: regiões·'' <lc rde- Todo esse processo ainda contém todos os traços de un,
iferentes pode111 sugerir a existêncin de áreas estanqm~-~ penho cspontâne.o. O caráter intrínseco de todas cssns rele
ncias difere·ntcs cm nosso cotidiano e, conseqi.ientemente, - isto é, intrínseco a algum interesse escolhido - é pres
s diversas 1n·ovíncias de conhecimento dele, cad« uma Entretan to, não somos somente centros de espontan
da outra po,: fronteir~s nitidamente definidas. O con trá- afetando o mundo e criando transformações dentro del
acontece. Esses vá.tios domínios de !'elevãncia e precisão também meros recipiendáríos passivos de eventos que estã
igados, con1 múltjplas interpcnc.trações, os tenitól'ios vi- de nosso controle-, que ocor!'em sem a nossa intel'ferênc
o frwadidos pelas "orlas'' uns dos outros, assim cdam!o l'elevfincias que nos são impostas são as .situações e event
precisas de sutis transições. Se tivéssem.o:s de trnçar um n~o estão 1igados a intcn:sses por nús escoJh i<los, que rião
screvendo figurativamente essa distribuição, ele não se gmam em atos da nossa vontade e que tem.os de acdtar
com um mapa político, que mostra o;:; vários países com mente como são, sem nenhum poder para modificá-los po
nteiras bem dei.imitadas.. mas, em vez disso, co111 um
de nossas atividtides espontâneas, a não sc.i- transformando
ográfico, representando a fotr.na <lc uma cadeia de mon- r':!-evâncius assim impos(à$ em relevâncias intrínsecas . En
modo costumeiro. através de linhas de conto1110 ligando
nao alcança1n10s isso, não consideramos as relevâncias im
e aHitude igual. Picos e vales. contrafortes e encosta,
co!no estando ligadas a nossos objetivos espontaneament
se pelo mâpa, cm configurações iníinitamcnle diversifi- lhidos. l'orque elas nos são impostas, permanecem obscuras
sistema de telcvâncias é mui lo mais purecido com w 11 tante incompreensíveis.
e isoípses do que com um sistema de coordenadàs que
m num centro O e podem set· medidas por meio de uma
distante.
erceiro lugar, temos de definir dois tipos de sistemas de Domínios Sociais de Relevâncici
s, os quais propomos chama,· de sistema intrínseco de
s e sistema imposto de i·elevâncias . Mnis uma vez. eles A própria ordem de domínios de re.Jcv/incias qu
mente tipos, construções, que na vida colidiana estão v~lece n~rn detenninado grupo social é um elemento da c
mpre misturados uns com os outros. e são raramente çao relat,vsmente n.1tural do m undo !Ida pelo grupo interno
os em estudo puro. No entanto, é importante estudá-los pressuposto e como um estilo de vida inquestionável. Em
mente em sua interação. As relevâncias in trínsecas são grupo, a ordem desses domínios tem sua história particu
O CENÁRIO COGNITIVO DO MUNDO D1\ VIDA ATENÇÃO SELE'l'IVA: RELEVÂNCIAS E TIPll'ICAÇÃO

mento do conhecimento gerado e aprovado socialmente e, fotor , fundament-11 na dinâmica dás úoções de igualdade
emente, institucionalizado. São diversos os princípios que gualdade "ceitas por um determinado grupo. Esses concei
mente estabelecem essa ordem. Nas Leis de Platão (631C, dat!l ou a) se por uma ou outra razão a eslnitura da rel
28E, 870), por exemplo, todos os detalhes da legislação que. delimita um áeterminado domínio <le tipificação não
m são derivados da ordem dos bens: os divinos (sabedoria, -tida· como pressuposto, fora de questão, mas lorna,se "'la
io, coragem, justiça) e os hwnanos (saúde, beleza, força, questionávd, fato que poderia levar à permeabilidade de
}; ou as coisas pelas quais lodo homem se interessa ocupam terminado domíni.o de relevâncias com relacão a outr
ar específico: os interesses em dinheiro, o mais baL~o; vê1n rente, ou b} se a ordem dos domínios de relevâncias deixa
os interesses do corpo e no lugat mais alto estão os inte- aprovada e pressuposLa cm termos sodá.is.
la alma ( Leis, i4.3H) . E Platão chega à conclusão de que 3 . Já que os próprios domínios de rele,•ãncias e sua
que prefira a saúde ao equilíbrio, ou a riqueza a ambos, qufrr sã,) ekrnentos da situaç5o social, eles podem ser d
star errada. de vários modos, de acordo com seu significado objetivo
as isso é apenas um exem_plo dos muitos princípios de jetivo.
com os quais os domínios de relevâncias podem ser orde-
A afirmação de Aristóteles de que o mérito lc.m valores
tes em estados diferentes contém um importante elemento
de.rna Sociologia do Conhecimento. Não podemos esquecer A Tipificaçtio de Obietos
clusões de Max Scheler <le que, cm qualquer cultura, atri•
o lugar de honra a um desses três iipcs de conhecimento O mundo fatual de nossa experiência. . . é v
uidos por ele - conheclment'J com a finalidade de do- do, desde o inicio, como ![pico. Os objetos são vivenciado
(Beherrsclumgswissen) , conhecimento com a finalidade de árvore..<;:, animais: etc., •e, mais especifieamente, como ca
er (Bildungswissen) e conhecimento com a finalidade de pinh'1s, bordos ou cascavéis, pardais, cães. Esta mesa qu
o (l:feilswissen) - e-, em conseqüência, a um dos três momento percebo é ca!"actcrizada como algo reconhecív
e homens de saber - o cientista técnico. o sábio e o santo. já, conhecido e, apesar disso, novo. Aquilo que é vivenciad
tação social dessa ordem (hierárquica) . determina toda a novo já é con hccido, no sentido de que lembra coisas 1
ra da cultura em que$tiiO. Finalmente, a afirmação de Aris- ou iguais anteriormente percebidas. Mas o que já foi capta
lembra os conceitos da Antropologia (Linton) · e da Socio- vez, em sua tipicidade, traz consigo um ho1izonte de e
Parsons-Shils} modernas, onde a atribuição e a realização cias possíveis, com as referências correspondentes à famili
tenuinantes básicos das expectativas de papéis e status lsto é., uma série de ca1·acterísticas típicas ainda não re
do si,iema soei ai. vivenciadas, mas que se imagina que possam ser vivencia
ycmos um cachorro, ou seja, se reconhecemos um objet
dependentemente do princípio particulat de acordo com o
ordem do~ vários domínios de relevâncias foi estabelecida sendo um animal e, mais precisamente, um cachorro; a
mos um certo comportamento da parte desse cachorro, u
eterminado gtupo, podem-se fazer ce1ias afirmações gerais
à sua cst1't!tui:a formal:
t·Ípic~ (não individua~) de ~omer, d: correi·, de brincar, d
e assun por d!ame. Na realidade, nac; vemos seus dentes,
Os vários domínios de relevâncias não são mensuráveis rendo vivenciado antes o que tipicamente parecem:·ser o
lo outro; são e$sencialmente heterogfoeos. t impossível de um cachorro, podemos esperar que os dentes do cac
os crit~rios de cxce.lência válidos n um domínio de rele-
s a outro.
nõ,s? .fte~te ~e~onstrc_m º; mesmos traços típicos, embo
mod1f1c.açoes md1ndua1s. Noutras palavras, o que foi :viv
. Tanto a esfnttura da relevância que constltui os domí- na percepção real de uin objeto é aperceplivamente tra
articulares de relevâncias quanto a própria o,·<lcm desses
m num fluxo contínuo dentro de cada grupo. Esse é um
fara qu~!que:· outro obj~~o ~emelhante,. meramente pe
como o ,eu tipo. A expeneneta real con fmnará ou não
O CENÁRIO COGNI TIVO DO M UNDO DA VIDA AT ENÇÃO SELETIV,\! RELEVÂNCIAS· E ·'tl.P IFICAÇÃO

ção da conformidade típica desses outros objetos. Se con- · aquelas que são irrelevantes para mim; são .relevantes, p
o conteúdo do tipo antecipado alargar-se-á;· ao meõmo que levam à construção de tun novo subtipo. Pergunto:
o tipo dividir-se-á em subtipos. Por outro lado, o objeto péêic de cachorro é esse? E minha curiosidade é satisfeita
rc~I provará possuir caractc1ísticas individuais que, ape- aprendo que se trata de um pe,digueiro irlandês. Ao
o,_te~ uma!o~a de tipicidade. Agora, e isso parece ser tempo,. ao reconhecer o animal como um .cachorro, norm
c,al 1mportanc1a, podemos tomar o. objeto tipican1ente .não é relevante para mim a continuação da generalizaç
do como um exemplo de um tipo geral, e nos deixar levar cachon-o é um mamífero, um animal~ uma coisa viva, um
eito geral do tipo, mas não precisamos, de modo algum, do mtmdo cxter[or, e assim por diante. É sempre o sis
no cachorro concreto, tematicamente-, como um exemplar .relevâncias que escolhe do vocabulário ·do meu verná
c'ito geral de r<cachorron. uEm geral", esse cachorro aqui também de sua estrutura. sintática) o ·termo relevante, e
chorro como qualquer outro cachorro e mostrará as mes- mo é a generalização típica pré-vivenciada. que me inter
scLeristicas que o tipo r:cachotTOu, de acordo com a nossa a meu interlocutor) na situação presente.
cia anterior: entretanto, esse tipo conhecido carrcaa con-
horizonte de características típicas ainda desconhecidas,
encem não só a este ou àquele cachorro, mas a cachorros Experi&ncia e Tipificação . ."
l. Toda idéia empírica do geral tem o caráter de um
aberto. a retificações ou corroborações de experiências Como Husserl . . . convincentemente demonstro
as formas de reconhecimento e . identi Eica~ã.o, mesmo de
reais do mundo exterior, são baseada~ num ·coohecimen
rtílizado do tipo desses objetos ou do estilo típico em qu
N omear e Tipificar manifestam. Na verdade, Cáda experiência é. única, e até
rência da mesma experiência não -é a- mesma,. porque é
cia. É uma identidade recorrente .e, como· tal, é vivenci
A linguagem conforme usada na vida diária. . . é fun- con.texto diferente e com coloridos diferentes. Se identi
lmente uma linguagem que nomeia coisas e eventos. Mas
cerejeira cm particular do meu jardím com . a mesma ár
nome inclui uma tipificação e é, se,rundo Hussed uma
ação em1iirica não-essencial. l'odem;s intei-pretar ~ lin- vi ontem, embora sob outra luz e com outro colo1ido,
possível porque conheço o estilo típico desse objeto ún
humana pré-científica como uma mina de ouro de tipo..
recer entre as coisas que o cercam. E o ti_i)p Hesta cere
erísticas pré-constituídos, cada um deles com seu hori~ particular" se refere aos tipos pré-vivenciados "cerej
e conteúdos lfpicos inexplorados. Ao nomear um · objeto geral", "árvores", uplantas". ªobjetos do nmndo exte1io
do,. o e~tamos relacionando, através de sua tipicidade, a um desses tipos tem seu modo típico c,le _ser vivenciado,
Y'~':nciadas, de estrutura tfpica semelhante, e aceitamos ptio conl1ecimento desse )110do tfpico é um. elemento
s1b!lidades em aberto na medida em que nos referimos estoque de conhecimento à mão. O mesmo ..vale para as
encias futuras do mesmo tipo, que podem, portanto, rece- dos objetos w1s com os outros, para eventos e ocotrên
esmo nome. Achar que uma coisa ou evento é suficiente- suas relações mútuas, e assim por diante.
elevante para merecer um nome separado é, mais uma
ultado do sistema de relevâncias ptedominantc. Aqui está
mal, e esse ani mal é um cachorro, mas um cach0rro de
écie . particular, que eu desconheço. Se cu esiiver sufi-
Tipificação na Vida Social
nte mteressado nesse objeto, não me satisfaço com ,:e-
ao nome de "cachorro". As características que ele tem O que o sociólogo cha~a de "sistema",
um com todos os outros cachorros são precisamente ''status", "expectativa de p~pel", usituação" e "institu
O CENÁRIO COGNl'Í'TVO DO MUNDO l:)A VIDA
ATENÇ,\O SELE'l'IVA: RF.J,F,YÂNCIAS Il TIPIFICAÇÃO

vivenciado pelo ator individual na cena social em termos


ente diferentes. Para ele, todos os fatores designados por Sistemas de Relevâncias· e Tipificações
onceitos são elementos de uma rede de tipificações -
ões de indiyíduos humanos, de seus padrões de linhas de
seus motivos e objetivos, ou dos produtos sócio-culturais Um sistema de relevâncias e tipificações
riginaram de suas ações. Esses tipos foram fo,mados prin- existe em qualquer momento histórico é ele próprio um
nte por outros, seus predecessores ou contemporâneos, co- da herança social transmitida aos membros do grupo in
rumentos apropriados, com a finalidade de possibilitar processo-educacional. Tem várias funções importances:
rmonia com coisas e homens, e são aceitos como tais l . Determina que fotos ou eventos têm de ser tra
upo no quru o indivíduo nasceu. Mas existem também mó es·sêncialmente - isto é, tipicamente - ·iguai-s (hom
icações: o homem tipifica, até um certo ponto, a sua éom -'o propósito de solucionar, de maneirá típica, p
situação dentro do mundo social e as várias relações que típicos que surgem ou podem surgir em situações tipificad
com os seus semelhantes e objetos culturais. sendo iguais (homogêneas) .
2, T!'ansforma acões individuais únicas de serl!m
onhecimento dessas tii,ificaç(ies e de seu uso apropriado
emento insepar.ável da herança sócio-cullu,:al transmitida únicos em funções típi~as de papéis sociais típicos, que
a nascida no grupo pelos pais e professores e pelos pais nam de motivações típicus e têm como objeli vo realizar
pais e professores.; é, portanto, gerado ·socialmente. A éos, Os l)utros membros do grupo interno esperam d
ssas várias .tipificações constitui um quadro de referência, incumbida de um detenninado papel social que aja d
os do qual não só o mundo sócio-cullural, ma; tum- típico definido por esse papel. Por outro lado, ao cum
ísico, tem de ser interpretado; um quadro de rekrcnclas papel, a pessoa dele incumbida se tipifica, isto é, resolve
sar de suas inconsislêncías e obswridade inerente, é su fi- modo úpico definido pelo papel social que assumiu. Res
nte clai:o e integrado para ser usado na soluç.ffo ela maio- do modo que ôe e.spera que aja um hoinem de negócios
problemas prático~ à mão. dado, um juiz, um pai, um amigo, uin chefe. de turma,
portista, um companheiro, um conhecido, um bom ra
e-se enfoti,ar que a interpretação do mundo em termos americano. um contribuinte, etc. Qualquer papel, então,
como _entendida aqui, não é o resultado de um processo um autotipificaçaã da parte da pessoa ·dele· incumbida.
nalizaç~o. muito menos de conceituação científica. O
físico e s6éfo-cultural, é vivenciado desde o início cm 3. Funciona tanto como um código de in terpretaçã
como um código de orientação para cada membro cio gw
de tipos: existem montanhu:s, árvores, pássaros: peixess
nó e constitui, ~ssim, um univ;;rso de discurso entre el
ntre clés perdigueiros irlandeses; existem objetos culturais, q!fer péssoa (inclusive cu) que aja do modo típico soc
o casaS, m.~as, cadcirus, livros, instrumentos, e entre eles
aprovado é· supostamente motivada p~las illoLiv'ações típ
e exisiem papéis sociais e relacionamentos típicos, . tais tinentes e tem o objetivo de realizar um· estado de cois
a, filhos, parentes, estrangeiros, soldados, caçadores, pa- pertinente. Tem uma chance razoável de., através de ta
Assim, as iipificaçõcs ao nível do senso comum - em conseguir uma harmonia com todos os que:: aceitam o m
às tipi(icações feitas pelo cientista e, especialmente, o tema de relevâncias e vêem como pl:Cssuposi,;,s as tipifica
social - emctgem, na experitncia co{idfona do mundo, dele se originam. Por um lado - j,àta' cómpreenc,ler
essupostos, sem qualquer formulação de julgamentos 011 tenho que aplicar o sistema <le tfpíficações aceito pe
ões claras, com su_ieitos e predicados lógicos. .Elas per- ao qual nós dois pertencemos. Pot exemplo, se ele usa
usando um termo fenomenol.ógico, ao pensamenlo pté- inglesa, tenho de inteJpl'etar as suas afirmações nos te
'O. O vocabulário e a sintaxe da língua cotidiana repre- código do dicionário inglês e da gramática inglesa. Por ou
o epí!ome:- das tipilieações socialmente aprovadas pelo - de modo a me fazer entender pelo outro - tenho de
gtiístico. ·. - ·
do mesmo sistema de tipificações como uni código de o
O CENÁRlO COGNITIVO DO MU1''DO DA VIDA

minha ação programada. É claro, há apenas umn mera


ou, mais precisamente, uma mera probabilidade, de que
de tipificações por mill\ usado como código de orién- III. A.ção no lVIundo da Vida
coincidir com. aquele usado pelo meu semelhante como
e interpretaçãó; de outro modo, desentendimentos entre
e boa vontade seriam impossíveis. Mas, pelo menos como
meira abordagem, pressupomos que ambos queremos dizer
zemos e dizemos o que queremos dizer.
As chances. de sucessão da interação humana, isto é, o
imento de uma congruência entre o código tipificado
lo ator como .código de orientação e por seus semelhantes
digo de interpretação, dependem de se o código de tipi-
estandardizado e se o ·sistema de relevâncias pertinente é
naltzado. Os váriós .mefos de controle social (costumes,
is, regras, rituais) servem a esse propósito.
O sistema de t cl.evâncias e tipificações social mente apro-
campo comum dentro do qual as tipificações e estru-
relevâncias . privadas dos membros individuais do grupo
am. Isso é. assim porque a situas;ão particular do indi-
onforme definida por ele, é sempre uma situação dentro
, seus interesses privados são interesses com referência
do grupo (seja através de particularização ou antagon.is•
s problemas partieul.a res e.stão .necessariamence 110 mesmo
dos problemas do grupo. Mais uma vez, e~se sistema
de domínios de relevância poderia ser inconsistente em
o; poderia, também, ser incompatível com o q_ue é apro-
a sociedade. Por exemplo, posso tomar atitúdes intci.ra-
ferentes com relação aos problemas de rearmamento dos
Unidos segundo os meus pap·éis sociais de pai de um
e contribuinte, .de membro da minha igreja, de cidadão
de pacifista e de economista traquejado. Ainda assim.
es sistemas de relevâncias parcialmente conflitados e que
enetram, tanto os ·pressupostos pelo grupo quanto os
ivados, con.stituem domínios particulares de relevâncias;
objetos, fatos e eventos· são homogêneos na medida em
relevantes para o mesmo problema.

1'
6

AÇÃO E PLANEJAi\fENTO

I. Ação. Motivaç1ío, Racionalidade


CONDUTA, AÇÃO, TRARALHO As experiên
significado subjetivo que emanam de nossa vida cspontlin
chamadas de condula. (Evitamos o termo "comportamen
que inclui~ no uso correnre., tambén1 as manifestações s
de espontaneidade não-,;ignificalivas, tais como reflexos.)
"conduta", conforme usãdo aqui, se refere a todos os
experiências espontâneas com significado subjetivo, seja
viela intelior ou as que afetam o mundo exterior. Se é qu
sfvé~ usar te1mos objetivos numa descrição de expe,;ênci
tivas - e; depois do esclarecimento acima. já não há p
uma interprcláção errônea - podemos dizer que a cond
ser "aberta" ou ••encoberta:.- . A primeira será chamada
fazer,e a última de mero pensar. Entretanto, o termo condu
o usamos, não implica nenhuma referência à intenção. T
tipos 4e atividades chamadas auromMicas de nossa vida
e exterior - habituais, ttadicionais, afetivas - situam
c}as.sc, segundo Leibnitz a ''dassc do comportamento em
A conduta que é prevista, isto é, que é baseada n
jeto preconcebido, será chamada d~ ação, independentem
ser aberta ou encoberta. Com relacão à última, é precis
gi;ir se há ou não n,o projeto uma' intenção de realizá-l
vólvê-lo, aca1Tctar o estado de coisas planejadc,. Tal
transforma a sin,plcs previsão num objetivo e o projeto
pósifo. Se falta uma intenção de realização, a ação encob
jetada permanece wna fantasia, um devaneio; se ela exis
mos falar de ação proposital ou de desempenho. Um
de ação · encoberta que constitui desempenho é o pro

l)·;i.nsçrito doi; lii:guintes_it.ens <la Bibliografia: 1945c:, 536·37; 195


1967; 6., -65; 1943, 13840, J-40-43: J9 ;9a, 80·82; 83,84, 84-85; l95
1959a, 86-87, 88.
rWÃO NO MUNDO DA VIDA AÇ.~O E PLANEJAMENTO

ojetado, como a tentativa de solucionar mentalmente Em oposição à classe de "motivos a fim de", temos
ma científico. tinguir outra, que sugerimos chamar de "motivos por q
aso das chamadas ações abertas, isto é, ações que afe- assassino foi motivado a cometer seus atos porque cresc
ndo exterior através de movimentos do corpo, não cabe ambiente de tal e tal tipo, porque, como mostra a psic
istância entre as que são e as que não são acompanha- teve na sua infância tais e tais experiências, etc. Assim, d
enção de realização. Qualquer ação aberta é um desem, de vista do ator, os "motivos por que" remetem a expe
gundo o significado que demos ao termo. A fim de passadas. Essas experiências determinaram que ele agis
os desempenhos do mero pensar (encobertos) daqueles agiu. O que é motivado numa a~o no modo "por qu
rem movimento corporal (abertos) , chamaremos esses :projeto da ação em si. O ator teve diversas outras possib
e tmbalho. de satisfazer sua necessidade de dinheiro alétn da de m
abalilo, então, é a -ação no mundo exterior, baseada homem; por exemplo, trabalhar por ele numa ocupação
to e c-aracterizada pela intenção de rc.alizar o estado de radora. Sua idéia de conseguir esse objetivo matando um
etado, por meio de movimentos do corpo. Dentre todas foi determinada (" causada") por sua situação pessoal o
dcscdtas de e-spontaneidade, a do traballio é a mais precisamente, por sua história de vida, confonne sedimen
para a construção da realidade do mundo da vid" suas circunstâncias pessoais.
O eu "totalmente alerta" no seu trabalho, e pelo seu A distinção entre Hn1otivos a fim de" e "molivos p
ntegra o seu presente, passado e futuro numa dimen- é f:ceqüentemente ignorada na linguagem com\lm, que p
fica do tempo; ele se realiza como uma totalidade em expressão da maioria dos " motivos « fim de" através de s
de trabalho; se comunica com outros através de atos "porque", embora o contrário não aconteça. t uso corre
o; organiza as dife.rentes perspectivas espaciais do que o assassino matou sua vítima porque queria seu
vida diária através de atos de trabalho. A análise lógica tem de penetrar essa capa da linguagem
tigar como se foz possível essa curiosa tradução de Tei
MOT.JVAÇÃO Diz-se freqüentemente que as ações, -fim <lc" cm sentenças "porquen.
significado de nossa definição, -são comportamento mo- Parece havet para isso uma razão dupla, que se m
pesar disso, o termo ''motivo" é equívoco, e abrange em ainda outros aspectos das implicações envolvidas no
ntos diferentes de conceitos, que temos de distinguir. de motivos. Motivo pode ter um significado subjetivo e u
izer que o motivo do assassino era obter o dinheiro da ficado objetivo. Subjetivamente, refere-se ã experiência
qui, "motivo" quer dizer o estado de coisas, o fim, em que vive o processo de atividade cm curso. Para ele, mo
qual a ação foi levada a cabo. Chamaremos esse tipo dizer o que ele realmente tem cm vista como atribuidor
de "motivo a fim de". Do ponto de vista do ator, essa ficado à sua ação em curso, e is.so é sempre o "motivo a
motivos refere-se a seu futuro. Na terminologia que a intenção de realizar um estado de coisas projetado, at
podemos dizer que o ato projetado, isto é, o estado objetivo preconcebido. Na medida em que o ator vive
pré-i maginado, que será acarretado pela ação futma, ação em curso, ele não tem em vista os seus '·'n1otivos p
"motivo a fim de'' desta última. No entanto, o que é Somente quando a ação é realizada. quando, na termino
por esse tipo de "motivo a fim de"? Obviamente, não propusemos, ela se toma um ato, é que ele pode volta
o em si. Na minha fantasia, posso projetar cometer a sua aç!iq passada, como um observador de si próprio
nio sem ter nenhuma intenção de realizar tal projeto. tiga_r cm que circunstâncias foi determinado que fizess
motivado pelo modo ele "a fim de", portanto, é a "pa- foz. O mesmo acontece quando ·o ator capta em retrosp
rdem" voluntária, a decisão: "Vamos!", que transforma fases húciais de sua ação ainda em e.urso. Essa retrospec
interiot em desempenho ou ação q\le afeia o mundo até ser meramente antecipada modo futcui exacti. Tend
pado, no projéto da minha fantasia, o que vou ter feito
AÇÃO NO MUNDO DA VJDA AÇÃO E PLA1'Ej AM ENTO

es~nvolyendo o meu projeto, posso me pergun!lJr por que (reprodução) . A expet·iência total da ação é muito comple
mmado que eu tomasse essa e não outra decisão qualquer. sistindo em experiências da Mi vidade conforme ela ocorre
s esses casps, o "motivo por que" genuíno s~ refere a tipos de atenção com relação àquela atividade, retenção
ias <lo tempo perfeito, no passado ou no futuro. Devido projetado, e assim por diante. B a essa "consulta ao ma
rutura temporal, ele apen as se revela ao olhar retr ospec- nos referimos quando cbaman1os tnna ação de conscien
"efeito de espelho" da projeção no tempo explicá por pot'tamcnto sem mapa ou figura é inconscicnlc. P:ira evi
um Iadoi uma forma lingüística H porque" })Ode ser. e é, fusão, vamos mencionar a existência de muitos outros
mente usada parn expressar " relações a fi.m de·" genuí- ~atraves. dos quais as expel'iências humanas são considerada
or que, de outro lado, é imposs(,:el expressar ''relacões cicntes" versus as "inc(mscientes,i. Bxi.ste, pOl' ex.emplo, u
genuínas através de uma sentença "a fim de" . Us2ndo ria ·que afirma a existência de experiências totalmente a
lingüíst!Ca "a fim deH, estou olhando pm·a o processo consciência e que não têm nenhum efeito sobre ela. Nós
cm curso, .que ainda está se fazendo, C que.. portanto: mos· e.sse conceito, pois achamos que se contradiz, já que c
a perspccflva de tempo do futuro. Usando a forma lin- opiníão ex_p criência implica consciência. Há, é claro, um
_porque'~ p:::ra expressar uma ª relação a fi.m de" genuína, muito diferente cm que se pode chanrnr as experiência
1~ndo para o projeto anterior e para i:, ato antecipado as quais ainda não se rcílctiu de "inconscientes" . I ndep
ido no modo futuri exacti. O "motivo por que" ge- mente dos problemas ai envolvidos, a dicotomia que co
entm~to .. e11vol:1c, ..como vimos~ a. perspecLiva de tempo é bastante diferente. Nossas ações são conscientes se anteri
do e se refere a genese do propno projetar. as mapeamos no "tempo futuro perfeito".
aqui: aryalisamos o aspecto subjetivo das duas cate.S!oria~ Nossa próxima questão se refere ao modo como
s, isto é, o aspecto do ponto de vista do ator. l'ico~, d;: mos a ação consciente. Qua l é a ,wi<lência I através da
o 4,ue o "motivo _a fim de" se refere à atitude do ator que se apresenta? Ou;. seja, como "cncontramos:i a m;Eo en
o.cesso de sua aç~o em curso. Ele é, portanto, urna ca(eao. experiência? A resposta é que a evidência, ou modo
1a{mentc subjetiva, que ~ó é revelada ao obse.rvador~s·e sentação, difere, dependendo de se 1) o ato está ainda n
nta qual o significado que ◊ ntor aLribui à sua ação. O de . "puro projeto", 2) a ação, como tal, já começou,
por que" genuíno, entretanto: como descobrimos é umn está a caminho da realização ou 3) o alo já foi executad
objeth•a, acessível ao observador, que tem de' re~u~- sendo visto em retrospectiva, como fait accompli.
rtj~ do ato realizado ou, mais precisamente, a partjr do Vejamos a primeira situação. Que tipo de conhecim
co1.sas provocado no mundo exterior pela ação do ator, demos tet do nosso projeto? Na verdade, ele pode ter q
do ator em sua ação. Somente na medida em que o ator gtau de clare.z a, desde a vagueza total até ti máximo de
para o seu passado, e assim se torna um obsenradot· de Entretu11to1 não se pode esquecer que o nosso conhecimen
rios atos, é que ele pode cap!lJr os "motivos por que" é .o do projeto elo ato, e não o do ato em si. Na turalment
dele.s. ' meiro é o que o nome .implica, um mero esboço, com
la~unas e variáveis. Essas lacunas são p.reenchidas: e êtS v
recebem valores co11fom1e a ação progride, passo a passo.
AÇÃO CONSCi l:NTE Devemos agora perguntar o qu'e quer momento, podemos comparar nosso esboço com o q
izer quando se chama uma' ação <le "consciente", em mos fazendo <lc fato. Mas conhecemos cada um desse-s d
ao comportamenu:, "inconsciente". Nossa tes.e é a :,f;:. <le maneira diferente. Rcco,;damos o nosso esboço ou
ma ação é conscien te no· sentido em que, antes de 3 seµ1pre que vivenciamos diretamente o que estamos f:izcn
os, tcn10s em nossa mente uma figura do que yaü10s
e_ é o "ato projetado". Então, cotúorme prosseguimos 1 · •1 Evidência" (Evideuz) é usuth.! nqui no sentido que Hm,ser
_ao·; continuamente retemos a figura diante de noSso termo. .:i experiência tspecific.1 desse "esto+ consciente de.", Cf. F<>
nor (retenção) , ou de Yez em quando -a relembrámos 1rar1!-.z<::ncl<mtalc Logik, pp. 437 e st:goimes, especialmen(e p. 144.
AÇÃO NO MUNDO D:\ VIDA AÇ.<O E PLANEJAM ENTO

d, a memória-evidência é mais fraca e faz menos pressão ciêricia, durante o momento da projeção, retorna agora à
do que a experiência presente direta. Quanto mais perto dão, e é substituído mais tarde por experiências vívidas, qu
ma estiver a memória-evidência, mais forte ela é. Os meramente esperadas ou "protendid:is". Imaginemos 11roa
us de evidência em que se nos apresentam as experiên- que projeta uma .ação racional, a qual tinha sido p.laneíad
relação às suas posições no tempo, foram meticulosa- tempo antes, e cujos objetivos, tanto finais como interme
udados por Husserl. Aqui, só precisaremos nos preo- tinham sido, portanto, nitidamente antecipados. Não p
m essa diversidade no sentido de notar que ela existe duvidar de que a atitude dessa pessoa com relaçiio a se
muito complexa. Citando um exemplo comum: podemos vai necessariamente diferir de sua atitude com relação
um plano de a~'ío muito claro e ficar bastante confusos acabado. Isso será verdade mesmo se a ação marchou de
a em que o executamos e, no final, não sermos capazes com o plano. "As coisas parecem diferentes na manhã se
ar o que fizemos.
úmero de variações possíveis é ilimitado. Eniretanto,
o11scien.tes de uma ação somente quando a contempla- o QUE É CONPU'TA "RACIONAL"? 1 . '-'Raci
o já- terminada, já feita, em suma, como um ato. Isso freqüentemcmc usado como sinônimo de " razoável''. Ce1
bém no caso do projeto, pois projet::.mos a ação inten- em n ossa vida diária, agimos de modo razoável q11ando s
ijS receitas q11e encont1·amos no estoque de nossa experiê
omo um ato no tempo do futuro perfeito.
te~tadas cm situações análogas. Mas agir racionalmen te fre
ndo antes consideramos a tese de que o comportamento mente envolve evitar aplicações mecânicas de precedente
e é o comportamento ao qual está ligado um significado, donando o uso de analogias e procurando um novo meio
que "o signiíi.cado 'ligado' ao comporta mento consisti- minar a situaç,'ío.
amente na consciência do comportamento'*. Agora ve-
2 . Ãs vezes, a ação racional é comparada. à ação del
uantos modos diferentes isso pode ser interpretado. Mas
mas o teITno "deliberada", em si, implica muitos elemen
nto principal permanece inalterado: que o significado
ção é o seu ato co.-rcspondeme. Isso se segue perfeita- bíguos.
nossa definição de ação como sendo comportamento a) A acão de rotina da vida diária é deliberada na
em relação a um plano ou projeto anteriormente ela- em ·q ue sempre remele ao ato original dé deli
que precedeu a constrnção da fórmula tomada p
como padrão pata o seu comportamento atual
m disso, nossa análise em termos de tempo esclareceu a b) Convenientemente definido, o termo "deliberaçã
rad iciil entre a ação, antes de sua execução, de um lado, equivaler ao conhecimento da p ossibilidade de ap
ompleto, de outro. Daf conclui-se que a questão do que a um<t situação presente, de u ma receita que se
ficado intencional de um ato já realizado requer uma eficiente no passado.
enquanto a questão do significado da ação concrctá e) Podemos dar ao termo "deliberação" Ulll signific
ente intencionada requer outra. corresponda à pura antecipação do fim - e es
é essa importante diferen9a? É que, enquanto a ação cipação é sempre o motivo para o ator dar
ocorrer, ela é fantasiada como aquilo que já ocorreu. uma 2ção.
é imaginada no tempo do futuro perfeito como algo que d) Por outro lado, o te1Tno "deliberação" , conform
lizado. O que ocorre, então, é um Ato reflexivo de aten- por exemplo, pelo Professor Dewey em l-/uma11
se presta a uma ação imaginada como se estivesse aca- and Conduct, significa ··· um ensaio dramático na i
ita. Em termos de tempo, é claro, esse Ato de atenção ç,'io de várias linhas de ação concorrentes po
a ação em si. Assim, conforme a ação Lcm lugar e ca- Nesse sentido, que é da maior importância para
ra o se11 fim, a experiência do ator se alarga - ele ela racionalidade, não podemos classificar de ra
e". O que estava dentro do círculo iluminado da cons- tipo de ações diárias que examinamos até a
AÇÃO E J'LANEJ AMENTO
AÇÃO NO !'..JUNDO DA VIDA

mo ações delibera·dás. Ao contrário, é característico dess·as um instrumento para realizar fins que eslão além do trab
ações de rotina que o problema da escolha entre duas rotina e que o determinam.
possibilidades diferentes não entre na consciência do 4. "Racional" é freqüentemente identificado com
ator . . . sível" . . . Nós . . . analisamos o modo de ser específico
visão, no conhecimento diário, simplesmente como uma
A ação racional é freqüentemente definida como "plane- üva de probabilidade.
"projetada.,, sem uma indicação precisa do significado 5. De acordo com a interpretação de certos auto
rmos. Não podemos simplesmente dizer que os atos ile cional" re[ere-se a "lógico". A definjção do Professor
ão-racionais da vida diária não sejam conscienteme!1te é um exemplo disso, e a teoria de Pareto, da ~ção rião-1
s. Ao contrário, eles se situam dentro do quadro. de
qual ele se refere, é outra. E~quánto º. que esta em. que
anos e projetos. São até mesmo instrumentos para rea- conceito científico · do ato racional, o sistema da l6g1ca p
Todo planejar pressupõe um fim a ser realizado, através
perfeitamente ªJ?licado. Por outro lado! ~o ní~e~ da exr
os, e cada um desses estágios pode ser chamado, de um colidiana, a l6g1ca, na sua forma trad,c1onal, 11<10 podo
tro ponto de vista, de meio ou de fim intermediário. Mas os serviços dos quais precisamos e <~ quais esperamos.
de iodo trabalho de rotina é a estandardização e mecani- trndic•io~al é uma lógica de coocc.itos baseados _ en:. c,:rta
s relações meio-fim como tais, através de re.lacionar meios zações. Ao acentuar o postulado da clareza e d1st111çao
izados a classes estandardizadas de fins. O efeito dessa ceitos, por exemplo, a lógica tradicional ignora todas as
i2ação é que os meios intermediários desaparecem que envolvem o núcleo da corrente de pensamento. Po
a conscientemente procurada de meios por que se tem lado, o pensamento, na vida diária, te1n seu interesse ptm
r para realizar o fim planejado. Mas surge aqui o ·pro- reJacão das "orlas" que ligam o núcleo à situação atual
significado subjetivo . .. Não podemos falar do ato-uni- sad~r. Este é, obviamcmc, um ponto muito importante.
mo se essa unid~de fosse constituída ou demarcada pelo pi ica eor que Husserl classifica a maior parte de nossas
or. Precisamos perguntar com sedcdude: quando começa ções de pensamento co.tidiauo c~m~ "proposições ocas
termina um ato? Veremos que apenas o ator· está e·m isto é, como válidas e compreens1ve1s apenas c.om rclaç
de- responder a esta pergunta.
tuação d"quclc que fala e a seu lugar dentro de sua con
emos o seguinte exemplo: Suponhamos que a vida pro- pensamento. Explica, tmnbém, por qu~ nos:?s pensc~men
de um homem de negócios tem de ser organizada e pla- di2nos estão menos intenmados na anhtese verdadeiro-f
a medida em que ele pretende continllllr cm seti 'cargo que na cscon-cgadia transiçiio "prováve~-~provávet .. N
os próximos dez anos, após os quais ele planeja apo- mos as proposições cotidianas oom o obJetlvo de at10gu
Continuar em seu cargo eovolve ir ao escritório todas formal dentro de um certo domínio, que pudesse ser reco
ãs. Pata isso, ele tem de sair de casa a uma certa hora, por outra pessoa, coroo fai. o lógico, mas pata adquiri
a passagem, tomar o trem, etc. Ele fez isso ontem e cimento válido apenas pnra nós próprios e para desenv
novo amanhã, se nada de extraordinário àcontecer. Supo- nossos objetivos práiie<.is. Nessa mechda, e apenas nessa
que um dia ele se atrasa, e pensa "vou perder meu trem, o princípio do pragmatismo é incontestavelmente bem_ fu
ar tarde no esclitório. O Sr. X já vai estar Já me espe- tado. t uma dcset içiío do estilo do pensamento cot1d1an
Vai ficar de mau humor e talvez não assine o contrato wna teoria da cognição.
tanto do meu futuro depende". Suponhamos ainda que
rvador acompanha esse homem correndo para o trem, 6. Um ato racional pressu_põe, de acordo com a
mpre" (como ele pensa). O comportamento dele é pla- tação de outros autores, uma escolha entre clois ou ma
, se for esse o caso, qual é o _plano? Somente o ator para se chegar ao mesmo fim, 0 11 i:iesmo enl~c dois f
a resposta, porque só ele conhece a extensão de ·seus rente.s, e uma seleção do mais aptopnado. Es.sa rntcrprefa
~inali::mda na próxima seção.
projetos. B provável que todo trabalho de. rotina seja
AÇÃO :-10 MUNDO l)A VtDA AÇÃO ê P LAl'iE JAJ1,!F,NTO

YLANE) AMENTO E ESCOLHA "RACIONAI, " Como solucões sistematizadas em seu conhecimento estandardiza
Professor John Dewey, em nossa vida cotidiana estrunos talvéz consultar um perito) mas. mais uma vez, nada c
d? parte ptcocupados com o nosso próximo passo. As além de receitas e soluções sistematizadas. Sua escolha
o patam par.a pensar quando a seqüência do fazei' é bctada, e; tendo ensaiado todas as possiblidades de ação
ida e a disjunç,,o, em forma de problema, as fot-ca a po futuro períeito, ele vai coloca r em ação aa.uela sol
ensaiar maneiras alternativas - que passem por cima, parece ter maior chance de sucesso.
volta ou atravessem o problema - sugeridas por sua
Mas quais são as con dições em que ele pode class
a passada. A imagem de um ensaio dramático d.a nção
ato de escolha deliberado como um ato racional? Pa
sada pelo Professor Dewey, é ótima. De fato, não po•
temos de distinguir enl-re a racionalidade do conhecim
escobrir qual das altemativas levará ao fi m desejado é um pré-requisito da escolha racional, e a racionalida
inar esse alo como se já tivesse sido termina<lo. Assim, colha em si. Só existe racionalidade no conhecimento
nte, temos de nos colocar num estado de coisas futuro os elementos déntte os quais o atot tem· de escolher s
deramos como já realizado, embora sua realizacão· foss~ mente concebidos por ele. A escolha em si só é raciona
sa ação que contemplamos. Sõ considerando o ;to como
o ator seleciona, dentre todos os meios ao seu alcance
J?Odemos julgar se os meios contemplados para realiz~-Jo
ap ropriado para realizar o fim intencionado.
o apropriados, ou se o fim a ser realizado se acomoda
lano geral de vida. Gosto de chamat essa técnica de Vimos que clareza e distinção, no sentido estrito
o de "pensar no tempo futuro perfeito". Mas há uma formal. não pertencem ao _estilo típico do pensamento
erença entre a ação realmen te realizada e a acão desem- Mas seria errôneo concluir daí que não existe escolba
penas na imaginação. O ato de fato terminado é itrev,)- uentro da esfera da vida cotidiana. De fa10, seria
s conseqüêucias têm de ser suportadas, tenha ele tido interpretar os tennos clareza e distinção num sentido m
u não. A imaginação é sempre re,•ogávcl e pode ser re- e restrito, (lU seja, como clareza e distinção adequadas
tidas vezes. Potlanto, no simples ensaio de diversos sidades dos interesses )'ráticos do ator. Não nos cabe
posso atribuir a cada um deles uma probab ilidade d[fe- se os atos racionais correspondentes às características ac
ucesso, mas não vou nunca ficar desapontado com seu cionadas ocorrem ou não com freqüência na vida di
Como todas as antecipações, a ação fututa ensaiada tam~ há dúvida de q_ue "atos racionais" jw1tamente com
lacunas, as quais somente o desempenho do ato "ªi teses definidos por Max Weber corno atos "tradicio
Portanto, o ator só retrospectivamente verá se seu pro- " habituais", representam tipos bastante ideais, que m
u no teste Ou se p rovou ser um fracasso ... rnente serão encontrados na ação cotidiana de forma pur
dúvida, existem situações cm <).ue cada um de nós tem enfati.z~r apenas que o ideal da racionali_dade não é, e
e pensar nos problemas. Em geral, o ator vai f azcr isso ser, wn traço peculiar do pensamento cond., ano, e nem p
etílicos de sua vida, quando seu principal interesse é tanto, ser um pri,,cípio metodol6gi~o i:ara ~ interpre
ma situação. Mas, mesmo então, ele vai aceitar as suas atos humanos na vida diária. Isso ficara ma,s claro ao
omo guias para encontrar uma soluçáo mais adequada, mos as implicações que existem_na afi!maçã~ - ou me
nto a deliberação racional. e está certo ao proceder tulado - de que a escolha rac10.nal so estaria presente
s essas emoções também têm suas rai:r.es no seu intc• tivesse conhecimento su!iciente do fim a ser reafu.ado, as
co. dos diferentes meios capazes de atingi-lo. Esse postulado
ai também apelar para o seu estoque de receitas, para a) Conheciniento da localização do fim a ser reali
e habilidades que pertencem à esfera ele sua vocac~o tro do quadro de planos do ator (que também deve s
experiências práticas. Vai, certamente, dcscúbri.r muitas cldo por ele}.
AÇ;<O NO M UNDO DA VIDA Aç,\O E PL~N EJ AMENTO

Conhecimento de suas inter-relações com outros fins


mpatibilidade ou incompatibilidade com eles. II. Antecípar e Projetar
Conhecimento das conseqüências desejáveis e imksej,i•
podem sur1,>i.r como produtos paralelos da realizaçâo do ANTECIPAÇ,\O E 'r!PIFICAÇ.ZO É. . . import
ipal. saber que as nossas expc-t:i~ncias presentes não se referem
Conhecimento das diferentes cadeias de significados às nossas experiências passadas! através d~ retenções e lem
ca ou mesmo ontologicamente, são adequadas para a Qualque1· experiência refere-.se também ao futuro. Traz
desse fim, independentemente de se o ator corÚtola protensões de ocorrências que se espera q ue aconteçam im
diversos de seus elementos. mente - elas são chamadas por Hussel'I de contrnpart
retenções - e antecipações de eventos mais distantes no
Conhecimento da interferência de tuis meios com ouLTCS
com os quais espern-se que a experib1cia presente ~e relaci
utras cadeias de signfücados, inclusive todos os ;cus pensamento do senso comum, essas antedpaÇ<.)cs e. expe
cundários e conseqüências incidc.nlái.s. seguem, basicamente, as estn1turas típicas que até agor
Conhecimento, por parte do ator, da possibiliclade d" ram para as nossas experiências passadas e que estão
sses meios. e e:scolha dos meios que estão ao seu alcance radas ao nosso estoque de conhecimento à mão.
pode colocar cm açiio. Husserl tratou desse problema investigando as idea
ontos acima mencionado:; de modo algurn e;;gotam a e íOrmalizações subjacentes, que possibilitam as antecipa
a análise que seria necessátia para dominar o conceito vida diária. Ele prnvou convincentemente que as idealiz
racional na a<;ão. As complicações aumentam muito formalizações não .são, de modo algum, re~tritas ;,10 dom
ação em questão é social, isto é. quando é dirigida a pensamento científico, mas penetram também 2s nossas e
soas. Nesse caso. os seguintes ele-mentes somam-se aos cias do senso comum, do l.ebenswdt. Ele as cliarna de ide
tes da deliberação do ator: do "e à~sim por diante" (und so weiler) e - seu correlat
tivo - idc.alizac;ão do "posso fazer isso de novo" (ic
iro: A interpretação ou má intcrpretJção do seu ato immer weider). A primeira fórmula ideal implica a su
emelhante. 11álida até que surja widência em contrário, de que o que
do: A ntação das outra$ pessoas e sua motivscão. ser conhecimento válido até agora também no futuro
iro: Todos os e lementos esboçado:; (a a /) do conbc- no teste. A última fórmula ideal huplica a suposição, vá
ue o ator, certa ou erradamente, atl'Íbui a seus par- que surja evidência em contrário, de que, em condiçõe;
lhantes, posso ptovocar ah·avé.s de minhas ações um es
coisas semelhante ao que consegui produzir através de um
o: Todas as categorias de familiaridade e estranheza, antc1ior semelhante. Noutras palavras, essas fórmulas ide
e anonimato, personalidade e tipo, que descobrimos plicam a suposição de que a estrutura básica do mund
de nosso inventário da orgar1ização do mundo social. o conheço e, conseqüentemente, o tipo e estilo da minh
breve análise demonstra que n ão podemos falar de um riência dele e do meu agir dentro de1e permanecerão inal
al isolado, se quctcmos dizer com isso um ato resul• isto é, inalterados até segunda ordem.
scolha deliberada, mas somente podemos falar de um Entretanto, e ma.is uma vez H usscrl mostrou isso
atos racionais.2 maior clareza, nossas protcnsões e antecipações das coi
vir são, es.sencialn,cnte, rcfcrêncfos va7.ias de horizontes; em
lente estad;,l que o Professúr Pursons dedico.u a es!:e problem:.t to e podem ser preenchidas pelas ocorrências futuras ou
de "Sy-stcms of Actiún aud Unit". no fim de :,;tu Strucwrc oJ como diz ele em tem1os visuais, "explodir". Noutras p
n.
qualquel' e:q>eriência Lraz seu própdo horizonte de indeten
AÇ.'.\O NO MUNDO DA VIDA ,\Ç.~O E l'LA,'IEJAMENTO

uma indeterminação a té certo ponto determinável) no que podemos fazer e fazemos, na vida cotidiana, antecipaçoos
ao futuro. Como é essa yisão compatível com a fórmula das coisas por vir. A arnílise mais cuidadosa mostra qu
sica do "e assim por diante" e com a do "posso fazer casos estamos interessados apenas na tipicidade dos ev
novo*''? turos. Pode-se dizer que um evento que ocorre foi esp
nturo-m<: a propor duas respostas, por nenhuma da, o que acontece realmente corresponde, n a sua tipicidade
usserl é responsável. Prin1eiro, nossas antecipações e ex• cidades à mao em nosso estoque de conhecimento na o
s não se referem às ocorrên cias futuras cm sua quali- nossa antecipação de sua ocorrência. No entanto, o pont
únicas•, num cenário único, dentro de um contexto único, tante a ser salientado é o fato de que somente cm retr
cotrências de tal e tal tipo, tipicamente situadas numa - evenlu - é que uma oco1TGncia ac.a ba tendo sido
ão típica. A estruturação de nosso estoque de ~onlteci- ou lrn~::;perada. No (·empo presente. a afirmação "cu esp
mão, cm termos de tipos, está no fundamento das fór- um sentido inteiramente diferente. Todas as antecipações
eais acima mencionadas. Ainda assim, devido à própria mento do senso comum da vida diáti.a são feitas modo p
e~ nossas antecipações são necessariamente mais ou menos em termos ele chance. E provável, presumível., concebí
esse vazio será preenchido, uma vez realizado o evento, ginável que " alguma coi.a desse ou daquele tipo" ocom
Le por aqueles traços do evento que razcm dele uma todas as antecipações referem-se, na forma de chance.
a individual única. dade dos eventos futuros e possuem horizontes cm ab
segundo fogal', temos de considerar que . . . não só a podem ou não ser preenchidos quando o evento antecipa
mas também a estruturaçEo de nosso estoque de conhe, re , em sua qualidade de único - desde que ele Ocorra
à mão, modifica-se continuamente. O .surgimento de uma torna ele p1·6prio um elemento do nosso estoque de conh
cia postetior resulta necessariamente numa rnudanca então à mão. E, mai$ uma vez: essa discrepância entr
ue pequena, de nossos intere$Se$ principais e. em canse'. expecrntivas e seu preenchimento ou não-preenchimen
de nosso sistema de relevâncias. Ê esse sistema de refo• fatos anteci1,ados é.1 cm si, um elemento de nosso estoqu
entretanto, que determina a estruturação do estoque de nhecimento à mão, e tem ela própria um estilo de cogn
ticular. ·
mento à mão e o divide em zonas de vários gram de
distinção. Qualquer mudança no sistema de relevâncias
essas camadas e redistribui nosso conhecimento. Alguns ANTECliPAÇÃO DAS COISAS l'OR VIR A análi
s, que ~mteriormente pertenciam a zonas marginais, en- da dependência de nossas antecipações de set1so comum
área central de clareza e definição ótimas; outros são toque de conhecimen to à mão, j{i apontou o interesse
os daí para as zonas de vagueza crescente. Além disso, é que determina ~ estxuturação tle nosso conhecimento. E
a de relevuncias que determina o sistema de tipos, pelos me, em qualquer momento da minha existência, dentro
nosso estoque de conhecimento à miio é ornanizado. Com bensweif.J numa sirnação biográfica determinada. A es~a
ça de meus interesses principais, pottanto, também os pertencem, nffo só . a minha posjç3o no espaço, tempo
idos no momento da antecipação terão mudado quando dade, mas também a minha experiênc.iá de que alguns e
antecipado ocorrer e se tornar um elemento real de meu do meu Lebens,velt me são impostos, enquanto outros e
vívido. meu controle, ou podem ser postos sob meu controle
ndo os tem1os no seu sentido mais restrito, podemos portamo, modificáveis. Assim , a estrutura ontológica do
er, parndoxalmente, que no pensamento do senso comum me é imposta e constitui o quadro de todas as minhas a
coLidiana, ocorra o que ocorrer, a ocorrência não pode- espontâneas possíveis. Dentro desse quadro tenho de ach
do esperada precisamente como ocorre e, seja lá o que: caminho e tenho de cn trar cm acordo com seus elemen
e tÍYer sido esperado, nunca ocorre como era esperado. exemplo, as relações causais do mundo objetivo são viv
coutrad~,. o fato de que, pars muitos propósitos úteis, subjeLivamcntó, como mcfos possíveis para fins possíve
AÇÃO E PLA~li/AMl:.'NTO

s ou apoio parn as .atividades esponwneas do meu pensar lizado. t fácil perceber que o último, o ato que vitá a s
I
las sffo vivenciadas como contextos de interesses, como zado, 6 o ponto de· partida de todo projeto. Tenho de v
arquia de problemas a serem resolvidos, como sistemas o c.stado de coisas a ser acarretado pela minha açflo futu
os e suas possibilidades de de sem pen no. de poder ·fazer um esquema das etapas individuais do m
sa a razão pela qual estou vi!almente interessado em futuro, do qual resultará esse estado de coisas. Em term
as coisas por vir no setor do mundo que me é imposto f6ricos, tenho de ter alguma idéia da e-stTUlura a ser
apa a meu contto!e. Sou um mero obser,ador dos acon- antes de esquematizar um pfono. Assim, de modo a pro_ie ta
s em curso nesse mundo, mas minhn própria existêh~ ação futura, confonne ela vai se. desenvolver, tenho de m
de desses acontecimentos. Da( que minhas antecipações , na minha fantasia, num tempo futuro, quando essa ação
ão. aos eventos do mundo que estão fora de meu con- sido realizada, quando o ato resultm1te já lerá sido mater
S01nente então é que posso rcconstiluir as etapas ind
detc1m inadas pelas minhas esperanças e pelos roeus
as se emolduram no pensamento do ,enso comum, não pelas quais terei de ler passado para realizar esse ato fu
do potencial como também no optativo. que é assim antedpado no projeto é, na terminologia 9
pomos, não a ação futura, mas o ato foturo, e ele é an
no tempo íuturo perfeito, modo faturi exacti.
PROJ ETAR* Um problema especial com relação às Agora, como já indicamos, baseio meu ptojeto do
ões de eventos futuros se origina. entretanto1 na esfera vir, no tempo futuro perfeito, cm minhas experiências
umana. Para o propósito deste trabalho, o Lc1mo "ução" praticados anterioi-mente, tipicamente semelhantes ao p
a conduta h.umana como um processo em curso, que é Essas expcriêncfos anteriores são elementos do meu est
pelo ator com antecedência, is!O é, com base num pro- c,.1nhecimento à mão na ocasião do projeto. Mas esse
oncebido. O termo "ato" designará o resultado desse mento deve ser diferente daquele que terei quando o
em curso, isto é, a acão realizada ou o estado de coisas está agora em simples projeto tiver sido materializado
o por ela. Todo proÍetar consiste numa an.tccipaçiio da terei envelhecido e. se nenhuma outrn coisa mudai-, pel
utura por meio da fantasia . . . Porém, projetar é mais as experiências por que terei passado durante o déscnvo
penas fantasiar. O projeto é a fantasia motivada pela do projeto reriío alargado e reestruturado o meu estoqu
posterior, antecipada, de dc., envolver o projeto. A possi- nhecimento. Noutras palavras, projetar, como qualqu
prática de desenvolver a ação projetada, dentro do qua.- antecipação de eventos futuros, tra1. cxmsigo horizontes·em
sto da realidade do Lebenswell, é uma c.aractelistica que somente serão ptecnch.idos atrav6s da materialização
do projeto. No entanto, ela depende de nosso estom1e to antecipado; crn conseqüência, para o aro1·, o significad
imento à mão na ocasião do pi-ejeto. A possibilidade-de projetado tem, neces.sariamcnte, de diferir elo significado
a ação projetada si1,'JÚÍica que, de acordo com o meu realizado. Assim, o projetar (e, além disso, desenvolve
ento atual, a ação projetada, pe.lo menos com relaç-ão jeto) fundamenta-se no estoque de conhecimento à m
o, teria sido viável se tivesse ocorrido no pussado. sua estrutura particular1 na ocasião do projetar.
a em óutro aspecto o projeto se relaciona com o es- f,-~ yi-..::.
......._ - ·-
conhecimento à mão . Isso fica claro quando examina-
FANTASIAR ll PROJETAR f; . . - a referência
que é antecipado na fantasia ou projeto é o ptocesso jeto a wn estoque de con hecimento à mão que diícrcncia
em curso no futuro, conforme vai se desentolar, fase
tar do mero fantasiar. Se fantasio que sou um super-ho
ou o resultado dessa ação futura, tendo o ato sido rca-
que •possuo poderes mágicos, e sonho coro o que· vou faz
não -estou projetando. A realidade não impede nenhum
organizador: Alguns dos aspec.tv.\i do projehlr- foram tratJdos de
diferente num lex-lo amer-ior. Ve.r a seção "Ação Ct.msciente .., íanrasia pura. Cabe-me afirmar o que está ao meu a
a purte deste capítulo. determinar o que está dentro do meu poder. Posso imag
AÇÃO NO MUNDO DA VIDA AÇÃO E P LAN E JAM ENTO

razer, que todas, ou algumas, ou nenhuma das con- é relevante nesse dado momento. Deve-se adicionar que n
quais depende a obtenção do meu objetivo fantasiado, interesse principal nem o projeto que se origina dele sã
e meios fantasiados, numa situação fantasiada, irão se r isoladas. Ambos são elemen tos de sistemas de projetos, in
as. Ne-ssa fantasia pura, o meu simples de.s ejo define as objetivos a serem alcançados, problemas a serem resolvid
ossibilidade.s. B um pensamento do modo optativo. n ados segundo t1ma hierarquia de preforên.cias, e interd
tar desempenhos ou ações em aberto, no entanto , é tes cm muitos aspe-ctos. Na linguagem comum, chamo e
iar motivado, moüvado precisamente pela intenção pos- temas de meus planos, planos para o momento ou p ar
ecipada, de desenvolver o projeto. A viabilidade prá- de trabalho e lazer, planos de vida. Esses planos, eles
ojeto é condição de todo p rojetar que possa ser tradu- cm fluxo contínuo, dcte1:minam os interesses atualmente
propósito. O projeto desse iipo 6, então_. um fantasiar e, portanto, a estruturação do estoqt1e de conheci mento
um quadro dado, ou, melhor, imposto, imposto justa- Esse relacionamento duplo entre o projeto e o es
a realidade, dentro da qual a ação projetada vai ter de conhecimento - de wn lado, a rc.fcrfü1da às minh~s exp
volvida. Não é, como a mera fanlasia, um pensamento de atos antcdormente praticados, que posso praticar de
opcath•o, mas um pensamento do modo poten cial. Esse de úutro lado, a referência do projeto aos meus sistemas
essa possibilidade de executor o projeto requer, por rcsscs hierarquic.amentç organizados - tem mais uma fu
que somente os meios e fins que acredito estarem a m,Jor importância. Falei muito rapidamen te do momen
ce, real ou potencial, sejam levados em conta na ima• minado , o Agora, cm que o esioq11e de conhecimento est
o meu projeto; 'lue eu não me permita variar ficticia- Mas, na ycrdade, esse Agora não 6 um instante. t o que
minha fantasia, os elementos da situação que estão James e George H. Mead chamaram de presente espccio
meu controle; que todas as chances e riscos sejam pe- tendo elementos do passado e do futuro. O projeto uni
acordo com o meu conhecimento a tual de possíveis presente espccioso e delimita suas fronteiras. No que diz
s desse tipo no mt1ndo real; em suma, requer que, de ao passado, os limites do presente cspccioso são dece
m o meu conhecimento atual, a ação projetada, pelo pela mais remota experiência passada, sedimemada e pr
anto a seu tipo~ pudesse ter sido viável. seus meios e naquela seciio do conhecimento à m.ão que ainda é
menos quaflto a seus tipos, pudessem ter estado ao para o projeto atual. No qt1e diz respeito ao futuro, os li
o, caso a ação tivesse ocorrido no passado. A restrição presente cspecioso são determinados pelo alcance dos
importanLç. N5o é necessário que a, "mesman ação pro- atualmente concebidos, isto é, pelos atos mais remotos n
m sua qt1alicladc de única, individual, com seus meios já antecipados modo fulllri exacti.
ins únicos, tenha de ser pré-vivenciada e, portanto, co- Desde que tenhamo. ê~ito, dentro desse campo un
Se esse fosse o caso, nada de novo jamais poderia ser delimitado do presente espccioso, em manter nossos p roje
Mas es tá implícito na noçiio de tal projeto que a ação patíveis e consistentes cm relação uns aos outros, e cm
seus fins e seus meios permanecem compativeis e con- ao estoqt1e de conbccimento à mão, existe uma chance
m relação a esses elementos típicos da situação q11e, de que nossa ação futura amolde-se, pelo menos em tipo .
com a nossa experiência à mão na ocasião do projeto, projeto antecipado modo futuri e,,;acti. Tal cha1wc será
até agora a viabilidade prática, se não o sucesso, de tanto, subjetiva, isto é, e.xjstirá apenas pai'« mim, ator, n
camente semelhantes no passado. de possibilidade razoável, e não existe ne~huma ga~an_ti
essa cl,ance subjetiva - chance par~ 1mm - comc1d
probabilidade objetiva, calculável em te rmos matemáticos
PRO j EÇÃO E I NTERESSE Uma ve;,; constituído, o
odifica decesivamcnte essa estrutura: o objetivo a set
o ato a ser realizado, o p1·oblema a ser resolvido PREVISÃO E R!ffROSPf.CTIVA Com t·cspeito
o interesse p rincipál e determinam o que é e o q11e não tos futuros, os q11ais supomos que podem ser iníluenci
AÇÃO NO :\!U.KDO D.~ VTOA 7
ões. nos consideramos os seus criadores. Na verdade, o
oncebemos na projeção de nossa ação é um estado rle
ecipado, que imaginamos como se tivesse sido materia- LIBERDADE, ESCOLHA
passado. Entretanio, ao projctat nossas ações no fu- E INTERESSE
somos meros historiadores no sen lido contrário. Somos
res se olhamos de qualquer Agora para trás, para nossas
as passadas, e as interpretamos de acordo com o nosso
e conhecimento agora à miio. Mas não existe nada em
vazio em nossas experiências passadas. O que foi ali
ente antecipado íoi 011 não foi preenchido. No projeto, O llomem como Ator Livre
lado, sabemos que o que antecipamos carrega hori-
aberto. Uma vez malcrializado, o estado de r;oisss rea- AQUELE QUE VIVE no mundo social é um se
avés de nossas ações vai, necessariamente, ter outros seus atos provêm de atividade espontânea. Urna vez a açfi
basiame diferentes dos projetados. Nesse sentido, a pre- pirada, uma vez feita, temünada, tornou-se um ato, e não
se distingue da t'i;trospectiva por causa da dirr.c11siio de livre, mas de caráter determinado e fechado. No entan
que colocamos o e\'ento. Em ambas. vemos o evento livre no tempo em que a ação ocorreu; e, se a questão
do ocorrido em rctrosp<:ctiva, como tendo de fato ocor- ao significado intencionado refore-se, como no caso de M.ax
assado; na previsão, corno tendo se tornado quase exis- ao ponto no tempo anterior ao completmnento do ato, a
passado antecipado. O que constitui diícrença decisiva deve ser: o atoi- sempre age livremenlc . ..
eal de que a retrospectiva gcouína não deixa nada em
JJdeterminado. O _pas.ado é i1TC\'Ogável e irreme<liávcL
o, uma retrospecliva antecipada, depende do nosso es-
conhecimento à mão antes do evento e, po1ianto, deixa Escolha e Ação
o que só vai ser irrevogavelmente preenchido através
cia real do evento antecipado. Se deixamos de lado o conceito de vontade,
~u12ç.ões e antin.01nias metafísic:ds q_uc o cercaram
da história, ficamos com a simples experiência de Ativíd
pontânca, baseada num projeto antedonnente formulad
experiência logo pede uma descrição sóhria . . . Mio send
ciul para os nossos propósitos, vamos dispensar a análise d
rncnal experiência da vont.!<le, ªa palavra de- ordcmH e
como a cbama James, através da qual o projeto é transf
eo, ação . . .
Voltemo-nos, então, para a segunda e.lasse de tópico
dos na seção "Ação Voluntária": os problemas <le escolh
são e liberdade. Se se estabelece que a ação voluntária
tério que define o comportamento significativo, então o
ficado" desse comportamento consiste apenas cm escolh

Transcrito dos s-c:gWnte.s itens da Bibliogr»fi.::: 1967, 227, 66-68


181-82; 196i, 68-69; 195 1a, 169-i0, 170-73, 173•H, 174•75.
AÇÃO NO MUNDO DA VIDA LIBERDADE, ESCOLHA E INTERESSE'

de se comportar de um modo, em vez de outro. Isso lação como se ela fosse um vaivém no espaço. Os argu
r não só que a ação é "livre", m.as também que os do determinismo são todos baseados na fórmula "uma v
o ato são conhecidos no momento da decisão; cm suma, lizado, o ato está realizado" (l'acte une fois accompli, esl
e uma escolha livre entre pelo menos dois objetivos. E pli) . Os argumentos do indeterminismo, por outro lado,
o indiscutível de Bergson, em seu Time 1md Free Will, 1 seados nu fórmula "o ato não foi realizado antes de se
cm 1888, o esclarecimento do problema básico do de- zado"' (l'acte av@t d'être accompli, 11c l'était ptfs enc.ore
o. Resumiremos, e-m ,seguida, os seus argumentos. que diz Bergson.
ue significa a escolha entre dois atos possíveis, X e Y? O que concluímos disso ludo com relação ao nosso
detcnninistas quanto os indctcrministas tendem a con- ';_rgumento?_ Vam~~ juntar as tese's de Bergson e os pont
e Y como pontos no espaço: o Ego que decide situa-se fizemos acuna. Vnnos que o pl-ojeto antecipa não a ac
ilhada O e pode decidir Ji vrcmcntc se vai na direção de si, mas o ato, e isso no tempo futuro perfeito. Estudamos ;
Y . Mas esse modo de pensar é em si enganoso. O pro•
ligação cstmtural peculiar entre os projeto, a ação em cm
o deveria ser concebido cm termos de objetivos espa- ato,. que é vis(o na reflexão, e que realizou ciu niio rea
caminhos determinados, de coexistência dos atos X e pro1cto. O proieto em si é uma fantasia; é apenas a som
de um deles ser desempenhado. f.s~as metas simples- uma ação, uma reprodução antecipada ou, na terminolo
o ei,istetn antes da escolha, nero os caminlios existem até B\lsserl, uma "representação neutralizante".
não ser que, ~ejam petcorridos. No entanto., se o ato
dizer X - foi dcscmpenliado, entíío a afomação de Por outro lado, a fantasia é uma experiência vfvid
volta ao ponto O, Y poderia ter sido igualmente c,w- sobre a qual se pode refletir, com todas as suas modifi
pode ter' sentido. Da mesma forma, não tem sentido Conio, então. ocorre a "escolha"? Aparentemente. dessa m
ão de que, já que a causa determinant~ de X já existia :t~ p rimeir? lugar, \1m ato X é projetado no tempo futu
O, somente X poderia ter sido escolhido. Tanto o deter- tc1to; depo,s disso, o ator se toma autoconsciente, alerta,
quanto o indetem1ioismo remetem "o ato .iá realizado" fantasiar o Ato íntencionado e de seu conteúdo: então o
accomplie) ao ponto O, procurando atribuir todas as é projetado; aí, o processo de sua projeção se· toma 'obj
nctel'ísticas ao "ato send0 realizado" (faction s'accom- atenção reflexiva do ator. Essas coisas são rétidas, reprod
. Por trás de ambas essas doutrinas, oculta-se a supo• comparadas re(lexivamente com inúmeros outros Atos in
anosa de que se pode aplicar à d\lrnção modos espa- nais, que se sucedem e se sobrepõem um ao outro, for
pensamento, de que se pode explicar a duração atrav(:~ u~na rede ei:ormement~ complic.ada de relacionamentos. At
o, e a sucessão através de simultaneídade. Mas o modo sao todas açoes neutralizantes, descomprometidas, sem efeito
o a escolha ocorre é o seguinte: na imaginação, o Ego sombras. Mas não são esses os "estados psíquicos" de B
uma série de estados psíquie-0s em cada um dos quais pois esses últimos est:iio imersos na duração e não são de
de, se enriquece e modifica (grossit, s'enrichit el clumge), reza reflexiva. De foto, e aí está o ponto crucial dos argu
o "ato livre se desliga dele como uma fmta muito ma- de Bergson, se os seus estados psíquicos fossem de caráter
s duas '{possibilidades'\ "direções" ou Htendências" que xivo, se ocupariam do ato já realizado em vez de do alo
uando fazemos uma retrospectiva, nos sucessivos estados realizado.
es,. não existem , na realidade não estão lá antes do alo
mpenhado; o que existe é somente um Ego que, junto
uas motivações, compreende um transíonnar-se contínuo.
determinismo quanto o indeterminismo tratam essa osci-
Escolha e Interesse

cialmente cav.. 3, "The Organizadon of Conscious . Stetes; Fr-ee Temos agora de examinar a origem do "peso
eriruo-nos à tradução inglesa de I'. L. Pogson (N<>va York, 1912) ,] possibilidades e contrapossibilidades, do "bom" e do "ma
L!DERDADE, ESéOLHA E I NTERESSE
AÇ1O NO MUNDO DA VIDA

puramente formal, nenhuma suposição, qualquc1· que scjá


onde o peso positivo 6 inerente ,, "volonlé anlécédcnte" cessária, nem no que diz re$peito ao conteúdo es_pecífic.o
ativo à "volonté nioyenne~·. Continuemos com nosso tema maior em questão nem no que diz respeito à existên
da escolha eutr e dois projetos diferentes. Pode-se dizer chamados "valores absolutos", nem .,tampouco é neces::s.J.l
peso~\ o nbem" 0 \1 "ma]n, atribuído a cada um deles é q uer suposição com relação 1, estrutura de nosso conhec
ao projeto específico? Essa afümação parece não ter já existente, isto é, com relação ao seu grnu de nitidez,
Os padrões j'.[e peso, de bem e mal, de positivo e nega- tação, vagueza, etc. !'elo contrário, o fenômeno da escolh
im, de avaliaç3o, não são criados pdo projetar e111 s i. se dar, não importa qulio vago seja o conhecimento. Do
ário, o projeto é avaliado de acordo com um quadro de ele vista do ator na vida diária, é impossível a nitide-L to
as já existente. Qualquer estudante de f.:tica está famüia- elementos envolvidos no processo da escolha, ou seja, 6
om a antiga controvérsia sobre valores e avaliação aqui sível un1a ayão ''perfeitamente'' racional. Isso é assin1
a. Nlas não precisamos entrar nessa discussão. I>ara =1ós, primeiro, o sistema de planos no qual se íundamenta a
nte f,isar que o problema de pesos positivos e negativos tuiçiío de alternativas pertence aos "motivos por que"
de a situação real de uroa escolha e decisiio concretas, e acão e só é descoberto através da observaçlio retrospec
como se pode explicar esse fato sem se ter de recorrer t;ndo oculto para o ator que vive nos seus atos, ocupado
o metafísica da existência e natureza dos valores abso- com os "motivos a fim de" que tem em mente. Em
lugar, porque seu conhedmcnlo, se nossa análise é corre
Não existe, para o ator: tal coisa como um inLcresse isu-· baseado na sua si Luação biográfica determinada, a qual se
interc$scs têm, desde o começo, a caracterfotica de esta- do mundo tido como pressuposto, os elementos relevant
r-relacionados com outr<}S interesses, dentro de um sistema. seu propósito à mão. E a situação biográfica determin
daí que ações, motivações, fin.s e meios e, por!anto, ocasião do projeto se modiííca no decorrer da oscilação
e propósi Los, são também apen3s eleme~ tos_entre outros alternativas, se por nenhuma outra raúio, pela própria e
s que formam um sistema. Qualquer fnu e meramente cia dessa oscilação.
o para outi-o fim; qualquer pro.ieto é pmjcLado dentro de
ma maior. Por essa mesma razão, qualquer escolha entre
se refere a um sistema anteriormente "->Colhido de pro- r. Ação fntenciomd
erligados de ordem superior. Em nossa vida diária, os
projetamos siio meios, dentro de um determinado plano Nossa análise, com o auxílio de Husserl, vai be
ebido - p.u-a o momento, ou ano, de .trabalho, ou lazer da tese de Bergson. Em nossa opinião, o processo da
os esses planos determinados estão sujeilos a nosso plano entre suc-es~ivos projetos almejados!, mais a ação em si, a
o pfano mais universal. que determina os subordinados, completamento, compreendem um Ato intencional smtétic<
se os últimos são conflitantes entre si. Assim, qualquer de ordem superior, um Ato constituído de outros Atos i
rdere-s.e a decisõe-s já vivenciadas de uma ordem supe- diferenciados. I-Iusserl o chamou de Ato poli/ético.
bre as quais se funda a alternativa à mão - assim como Husserl distingue os Atos intencionais que são sínte
r dúvida se refere a uma certeza empÍlica já vivenciada. rúHuis dos Atos intencionais que são sínteses descontínu
se torna questionável através do processo da d úvida. É exemplo, um Ato de consciência que constituiu a ''coi
vivência anterior dessa organização maior de projetos que uma coisa no espaço é uma síntese contínua. As sínteses
base <las possibilidades problemáticas que exigem escolha, tínuas, por outro lado, são junções de outros Atos dist
que determina o peso de qualquer possibilidade: o seu unidade que se forma é uma unidade articulada, e é u
positivo ou negativo é positivo ou negativo apenas com dade de otdem superior. Esse Ato maior (que ele chama
a esse sistema maior. Para o propósito desta descrição,

10 - F. R.S.
AÇ.:{O NO MUNDO DA VJDA
LIBc:RDADE, ESCOLHA E !NTERES~E

) é lanto politético como sintético. 12 politético porque


ele situam-se diversas " te,es'', É sintético porque elas
tas. Como todo At() constitutivo do Ato total tem seu Duvidar e Questionar
ssim também o Ato total tem seu objero total. Mas há
diferente na constituição desse objcw total. Isso poderia A seleção, subjetivamente determinada, ele e
cado assim: o objeto de cada Ato constit11tivo tcn, um relevantes para o propósito em questão, dcn tTC a totalida
xc <lc atenç1lo, ou mio (Stn1hl) de consciência, cm sua tivamente dada do mundo vislo comó pressuposto, faz sur
O Ato sintético, daí resultante, tem, necessariamente. nova experiGncia decisiva: a experiência da dúvida, <la
ltiplos em sua dirc.ção, já que existe a partir de uma da escolha e ,;la decisão, enfim, da deliberação. A dúvi
intética. Mas não lhe satisfaz ser uma consciência pl!.ral. surgir de várias fontes; só discutiremos aqui um caso
forma-se numa consciêm:ia lÍnica.. sua complexa coleção tante relativo ao nosso problema. Dissemos que não exi
s torna-se objeto <le um único raio. resse isolado, que os interesses sempre estão interligados
temas. Mas a inlcr-relação não leva necessariamente à in
os agora aplicar isso ao Ato (A!cl) da escolha. Inicial- completa. Há sempre a possibilidade de intere~ses justapo
ram projetadas as altctnativas X e Y. Cada um desses mesmo conflitantes e, conseqüentemente, de dúvida, se
projeção' dirigiu um único raio de atenção a seu objeto mentos que selecionamos do mundo que nos cerca, tid
ativa em q uestão). Entretanto, uma vez que a oscilaçflo p,cssuposto, fora <le questão, são realmente relevan tcs
rnativas é rcs.olvida, uma vez que a escolha 6 fcita, essa nosso propósito cm causa. Será mesmo o que é p, em
arece ao olhar reflexivo um Ato de projeção, ou de tenho de levar em consideração, e não o que é q? De
unificado. Os Ato~ de fantasia ou projeções individuais, quadro geral <lo mundo visto como pressuposto inques
isso, saem fora de vista. O objeto total do novo Ato ambos são possibilidades em aberto, até prova em contrár
porém, ainda tem a qualidade de projeto, mero quase- ª?ora, minha situação biográfica determinada me impele
terminologia de Hus.sctl , uncutro", ao -inv6s de "posi• c1<mar o p ou o q de S como relevante para o meu P
rata niio do que é,. mas do que o ato,· decidiu que vai cm c.a1.1sa. O que até aqui não foi questionado tem de s
utro lado, umà vez que o feito (Flandlung) está completo, colocado em questão, e.xiste uma situação de dúvida, criou
oda pode ser vista "posicionalmcnte", como algo 1'~2.l- alternativa ,;erdacleira. Tal situação de dúvida, gerada p
istente. Em todo caso, o feito é agora captado como seleção do ator, em sua situação biográfica determinada,
ntencional monotético e remele ao momento da escolha , mentos do mundo visto como pressuposto, é a única c
só havia, originalmente, Atos politéiicos. Isso é um;, possibilita a deliberação e a escolha. O fato de toda escol
mo mostrou Bergson, mas tanto os determin istas quanto projetos estar relacionada à sin,ação de dúvida foi expl
rministas são levados por ela. O erro está em supor iniplici!amenle aceito pela maioria dos filósofos que trutara
ado consciente (état psychique), que só existe depois problema. Citamos a seguir um trecho de Dewcy, que f
o está feito, situa-se lá atrás, cm algum "ponto da du- a que-stão em sua plástica linguagem de mestre da segu
teriot ao da escolha real. ma: na deliberaç,io, diz ele, "cada hábito e impulso co
essa tl'ansformação da multiplicidade em unidade é de têm sua vez de se projeüir na tela da im«ginação. ·cada u
mportância, do noss() ponto de vista. Pois significa que o filme de sua história fotura, da caneira que teria se l
uma vez completada, é uma unidade, desde o projeto dado ir adiante. Embora sua liberdade de exposição seja
té à execução, j1;71orando a multiplicidade e complexi- lada pela pressão de tend~ncias propulsoras con trárias,
fases que a compõem. E dessa maneira que a ação se bição cm si dá ao Mbito uma chance <lc se manifestar em
ao Ego, na medida cm que este último pcrmancc:: na mento . . . No pensanicot.o. assim como na ação livre, os
natural" ou "ingênua". vivencia<los no decorrer de um curso de ação atraem , r
satisfazem.! abon--ecem, impuJ.sjonan1 e retardam. Assim p
AÇÃO NO MUNDO DA VIDA
LlllERl.>AbE, ESCOLHA E INTERESSE

o. Dizer que, afinal, ela cessa, é dizer que a escolha, e os -psicólogos o têm analisado sob o prbma da atenção.
, acontece. O que é, então, a escoU,a? Simplesmente, é, antes de tudo, a tendência <lo ego de didgir-se para
na imaginação em cima de um objeto que fornece estí• intencionado, mas essa tendência é, simplesmente, o ponto
quado para a recuperação da ação livre. A escolha não ·tida de uma série de cogitações a:tivas no sentido mais
gência de uma preferência a pattit da indiferença. 'É o a fase inic.ial da atividade que traz consigo um horizon
o de uma preferência uni ficada a partir de preferências cional de fases posteriores de atividade, que preencherão
tes." 2 o que foi antecipado de modo vazio, num processo sintét
análise é, cm css6ncia, inteiramente aceitável, mesmo únuo, até a atividade atingi!' seu fim ou set in!érrornpid
eles que não concordam com a visão básica de De\>,ey, mente, na fomm: ''e assim por diante". Tomando como
preta a conduta humana em te1111os de hábito e estí- a nossa crença atual na existência de um objeto exterio
rge, porém, por trás do problema discutido por Dewey, bido, descobrimos que o interesse do ego nesse objeto o
blema. O g_ue faz (na ten:uinologia dele) hábitos e im- muitas outras atividades, como, por exemplo, comparar a
nflitarem? O que causa a pressão de tendências propul• que tern da aparência do objeto percebido com outras ima
trárias inibindo tlllla a outra? Quais. entre nossas muitas mesmo objeto ou procurar acesso à sua parte traseira, se
as, esti;o concortendo e podem ser unificadas através rece de frente, e assim por diante. Cada uma das fases
o? Em outras palavras, só posso e:scolher entre projetos essas tendências e atividades traz collSigo seu horizonte
ferecem à escolha. Estou em dilema ante UD1à alterna- fico de expectativas de protensão, de antecipações., isto é
qual a origem de tal aliernativa'! Parece-nos que, em- pode ocorrer nas fase-s posteriores da atividade que as va
outro nível, Husserl deu uma grande contribuição no cher. Se essas expectativas não são preenchidas, existem
à resposta a cssa.s perguntas. alter.nativas: 1) pode acontecer que o processo seja· bl
por uma ou outta raúio; ou porque o objeto desaparece d
de percepção, ou porque é coberto por outro objeto, ou
Possibilidades Problemáticas o h,!ercssc original é substituído por outro mais forte
e-ases, o processo pára con1 a constituição de uma única
e em Aberto do objeto); 2) também pode acontecer que nosso inte
objeto de pcrc.epç.ão perdure, mas que nossas antecipaÇÕ
Devemos à itwestigação de Husserl sobre a origem sejam preencltldas, e sim :frustradas, nas fases subseqüe
adas mudanças de julgamentos predicativos _(tais como processo. Aqui, ainda, podem ocorrer duas coisas: a) o
ossibilidade, probabilidade). na esfera pré-predicativa, a tamento iota] de nossas expectativas, 1ior exemplo, a parte
e distinção entre o que ele chama de possibilidades pro- do objeto, que esperávamos que fosse uma esfera de co
s e possibil.idades em aberto. A distinção é fundamental gênea, vcnnelha, não se revela vermelha_, mas verde-, e
mpreensão do problema da escolha.
revela esférica, mas defotmada. Esse "não assim . .. mas
acordo com Husscrl, qualquer objeto de nossas experiên- modo", essa imposição de um novo significado elo obje
ginalmente dado à nossa recepção passiva; ele nos afeta, o significado preexistente do mesmo objeto, pela qual
se sobre o ego. Assim estimula o ego a voltar-se para significado substitui o velbo, leva, em nosso exemplo, ao
estar atenção nele, e esse voltar-se parn o objeto é a lamento completo da intenção antecipada. A ptimeira im
llÍJJJa de atividade que emana do ego. Os filósofos têm ("esta é uma esfera de cor vei:melha homogênea") se
menre de-scrito esse fenômeno como receptivid2de do ego, ·negada; b) é possfrel, porém, que no de-correr do pro
primeira impressão, em vez de ser completamente an
.vcy. Human Nawrc <md Concluct (Nov:'I York: Rw1dom Hou~-c, torne-se apenas duvidosa. Essa coisa na vitrina da loja é
b1~t y ed.), pp. 190 e seguilHe.
humano, digamos um empregado ocupado na decoração da
AÇÃO N O .MUNl.>0 DA VlOA LIIIERDADE, ESCOI,HA E I NTERESSE

anequim vestido? Há wn conflito entre us duas supo- málicas, que se originam na dúvida, a classe de possiqilida
durante um deterrnlnado período de tempo ambas as aberto, que se origina no livre curso de conjeturas vaz
es podem coexistir. Enquanto duvidamos, nenhuma da~ antecipo a cor da p arte não-vista de um objeto do qual
osições é canecfoda; as duas permanecem; as duas sffo nhc90 a frente, a qual lem um certo padrão ou mancha, q
, ou mesmo postulad2s, pela situação percebida; mas cor e:-;-:pecüica que eu an.tecipar. é meramente contingenlc,
cont,-a postulado, cada um coniesta o outro. Sorncntc. fa!O de que a pane não-vista do objeto mostrará "uma" éo
esolução dessa dúvida vai aniquilar um ou o outto. contingente. Toda conjetura tem como caracterfstica a ind
uacão de dúvida, ambas as suposições altenrntivas têm nação. e e-ssa indetetn:ú11ayão geral constitui wn ,iuadro d
acÍerística o fato de serem "quesiionáveis", e aquilo ção livre; o q ue fica dentro de quadro é um elemento ·entre
csliouávcl scmptc é contestado en1 seu ser] isto é: con- elementos talvez mais próximos da deéerm.inação, sobre o
or algi1ma coisa. O ego oscila entre duas tendências em a única coisa qu~ sei é que cabem no quadl'o; à parte is
itar. Ambas as suposições são sugeridas apenas como inteiramente indctcnninados. Esse é exatamente o conc
ades. O ego está em con[lito consigo mesmo: inclina-se possibilidades em abetto.
r ora nisso, ora naquilo. Essa inclinação não significa
A diferença entre possibilidades problemáticas e p
tendência afetiva das possibilidades sugeridas, mus essas
dades em aberto é em primeiro lugar a sua origem. As
ades., diz Husser1, são suge1idas a mimi como . ser, ~u ções q ue as possibilidades problemáli<;as pressupõem sã
ssa, ora aquela, possibilidade no processo· de toina'r uma vadas pela situação e contestam uma à outra, poi,; cad
tribuo ora a uma, ora a outr a, a validade-, no ato de tkfas fala algl!ma coisa, cada uma delas tem wn certo pe
m partido", embora sempre incapacitado de levá-lo adian• nhuma das possibilidades em aberto tem qualquer peso
eguir do ego é motivado pelo peso das próprias possibi-
são igualmente possíveis. Não há alternativa pré-constitu
eguindo ativamente uma delas, pelo. menos duranie um conirário, dentro de um quadro geral, todas as especificaçõ
odo, Lomo> por assim dizer, uma decisão r:no1mmtânea,
siYcis estão i1;-ualmen[c cm aberto. Nada fala por uma q
me por essa possibilidade. Mas, então, não posso se-
contra a outra. 'Uma intenção geral indeterminada, que t
nte devido 1, exigência da contrapossibilidadc, que tam- possui a modalidade da certeza - embora uma certeza e
receber um julgamento justo e me inclinar a acreditar
ou presumida - "até segunda ordem" - traz consigo uma
ança-se a de-cisão aLravés d~ um processo de esclareci- lidade implícita de certeza peculiar a suas especificações
s tendências contrárias, a partir do qual ou a fragili- eiras. Por outro lado, o campo das possibilidades proble
contrapossibilidades torna-se mais e maês visível ou é u nificado: n a unidade <la contestação e de ser apreendi
ivos s urgen1 para reforçar o peso das possibilidades. oscilação disjuntiva, .4, n e C tornam-se conhecidas por
ossibilidades e contrapossibilidadcs, qu~ contestam umas em oposição e, portanto, unidas. Na verdade, é bem possí
e se originum de uma situação de dúvida, são chamadas "penas uma dessas possibilidades contrárias saliente-se n
serl de possibilidades problemáticas ou questionáveis; ciência, enquanto as outras JJermanecem desapercebidas, no
veis porque a inrenção de decidit a favor de uma ,;!elas como representações vazias e tematic<)ment? não-realizada
enção questionável. Somente no caso de possibilidades esse foto não invalida a existência de uma alternativa verd
o, isto é, de possibilidades "pelas quais alguma coisa Até aqui, [alou Husserl. Sua teoria da escolha entre
demos pensar cm probabilidade. e mais provável qtte livas é tanto mais impoxtaote para o nosso problema quan
um homem_ significa: mais circunstâncias folnm pela ~rarnios que qualquer projeto le1·a a uma aliernativa pro
ade de isso SCl' um homem do que pela possfüilidade de uca verdadeira. Todo projeto de fazer alguma coisa traz
um manequim. A probabilidade é, portài\tO, um peso a contuipossibili<lad.e problemáti.ca de não fazê-la . ..
nce às suposições sugeridas na existência de objcLos inten- O mundo tido como pressuposto é o q uadro geral de J
eve-se distinguir dessa classe de possibilidades prob!e- lidades cm ab;,rto, nenhurna delas com peso específico, ne
AÇÁO NO MUNDO DA VIDA LlllF.RDADE, F.SCOLHA B INTERESSE

enquanto inquestionável - contesta a outra. Acredita- : O homem que age no mun do social, en tre e sobre
teza empírica ou presumida de Iodas elas, até segunda semelhantes, descobre que o mundo social já constituído l
o é, até prova em contrário. E a seleção de coisas lidas a todo momento diversas altem ativas entre as quais tem
ssupostos, feira pelo indh•íduo em sua situação biográ- colher. De acordo com a Sociologia moderna, o ator tem
minada, que transfom1a o conjunto selecionado dessas finir a situação". Ao faze-lo, transforma seu ambiente s
ades em aberto em possibilidades problemáticas, as quais, "possibilidades cm aberto" num campo tuillicado de "
iante, oferecem-se à escolha: cada unJa delas iem seu dades problemáticas", dentro do qual a escolha e a de
uer juJg/Jl))ento justo,° mostra as tendências conflitantes especialmente as chamadas escolha e decisão " racionais"
fala Dewey. Como se pode descrever mais precisa- nam-se possíveis. A suposição do sociólogo de que o
e procedin1ento da escolha? mundo social -parte da definição da situação é, portanto
lente ao postulado metodológico de que o sociólogo tem
crever as acões sociais observadas como se elas ocorresse
Escolher entre Objetos de um ca~po unificado de alternativas verdadeiras, i-s
_possibilidade$ problemáticas, e não de possibilidades em
Do mesmo modo, o chamado "princípio margioal", tã
Para simplificar o problema, vamos considerar pri- tante na Economia medema, p ode s~r interpretado com
caso em que eu não tenha que e$colher eotre do.i$ ou lado científico segun do o qual deve-se lidar com as a
dos de coisas futuros, que seriam estabelecidos através sujeitos econômicos obse1·vados como se eles tivessem que
s próprias açÕC$ futuras, mas entre dois objetos, A e B, entre possib ilidades problemáticas antel'iormente d11das.
ual e igualmente a meu alcance. Oscilo entre A e B como
s possibilidades igualmente acessíveis. A, como também
certa atração sobre mim. Estou inclinado a ficar com
çiio que é então superada pela de ficar com B, e essa Escolher entre Proietos
o substituída pela primeira que finálmentc prevalece:
a ficar com A e a deixar B. Até aqui esn1damos o processo da escolha e
e caso, at6 aqui tudo ocorre como descrito. Uma a lter- objetos atualmente ao meu alcance, ambos igualmen te a
rdadeira, constituída por nossas experiências anteriores, Ã primeira vista, pode p arec.e r que a escolha entre dois
à escolha: os objetos A e B estão igualmente ao nosso entre dois cursos de ação Juturos, ocorre exatamente d
sto é, pode-se obter um ou out1·0 com o mesmo c,;forço. maneira. De fato . a maior.ia dos estudiosos do problem
, Dewcy, a minha situação biográfica total, isto é, as colha deixou de faze1· qualquer distinção. Talvez a vel
xperiências anteriore-s, conforme íntégrndas no meu atual ção entre . . . a arte de produzir e a arte de adquirir
e intere.sses predominante, criam as possibilidades prin- dos sofistas por Platão e Aristóteles, t efira-se a esse p
te problemáticas de preferências conflitantes. É essa a As d iferenças principais entre as duas situações parece
que a maioria das Ciências Sociais modernas supõe ser seguintes: no caso da escolha entre dois ou mais objét
o normal subjacente à ação humana. Supõe-se que a todo eles atualmente ao meu alcance e igualmente acessíveis,
o homem esteja situado entre alte rnativas problemáticas bilidades problemáticas já vêm, por assim dizer, pronta
menos definidas, ou que um conjunto de preferências o circunscritas. Assim sendo. sua constituição ·situa-se além
a delernúnar o curso de sua conduta futura. Mais que controle, «:nho que ficar com uma delas ou deixar as d
undo um postulado metodológico das Ciências Sociais estão. Projetar, entretanto, depende de mim e, nesse ~en
, a conduta do homem tem de ser explicada como se dentro do meu controle. Mas antes de eu ter ensaiado n
na forma de escolha entre possibilidades problemáticas. imaginaç_ã o o Cllr$0 {uturo elas minhas ações, o resultado
ar cm detalhes aqui queremos dar duas ilustrações: ação projetada não chegou ao meu alcance e, no sentido
m na ocasião do meu projeto alternativas problemáticas
uais escolher. Qualquer coisa que mais tarde venha a
à escolha na forma de uma altemativa problemática
produzida por mun, e no curso de sua produção posso
IV. O Nlundo das Relações Socia
à minha von tado dentro dos limites da viabilidade
ém disso - e esse ponto parc.ce ser decisivo - no
aso, as alternativas que se ofei:ccem à minha escolha
simultaneamente no tempo exterior: eis aqui os dois
e B,. posso virar as costas a um deles e de1:ois voltar a
ele, parado e inalterado. No segundo caso, os diversos
minhas próprias ações foturas não coexistem simulia-
o tempo exterior: a mente, através de seus atos de fan•
sucessivamen lc no tempo inLcrior os vário!> pl'ojetos, lar-
em íavor do outro e vol~ando a, ou, 111ais pr~cisamentc:
o primeiro. l\-fo.s pela e na transição de um a outro
essivo da consciência eu envelheci. Ala1,.,"\1ei a minha
; quando volto ao ptimell'~: não sou maiS o ''mesmo"
uando originalmente· o esbocei e, conseqüentemente, o
qual retorno não é mais o mesmo que larguei; ou talvez,
mente, seja o me.smo, porém modificado. No primeiro
e se oferece à escolha são possibilidades problemáticas
no tempo exterior; no segundo, as possibilidades de
produzidas suce~siva e. exclusivamente no tempo inte-
o da durée.
8

RELACÕES
.,. INTERATIVAS

I. Intersubjetividade e Compreensão
t NTERSUll J ET1VIDAD.E Se retivermos a "at
tural", como homens entre outros homens, a existência d
não é mais questionável para nós que a existência de w
exterior. Simplesmente nascemos num mundo de outro
quaJJto mantivermos a atitude natural não temos dúvida
existem semelhantes inteligentes. Somente qu8Jldo solip
behavioristas rndic;iis exigem prova desse fato é que a
eia de,;scs scmclh8Jltes se torna um "dado impreciso" e
flcação impossível (Russell). l\Ias, em sua atitude natu
mo esses pensadores não duvidam desse "dado imprec
outro modo, não poderiam encontrar-se com outro, em
sos onde se prova reciprocamente que a inteligência
é um fato questionável. Na medida em que os seres
não são invenções, homenzinhos po\Cmicos, mas nascid
criados pot mães, a esfera do Nós será ingenuamen
suposta.

os SEME LHANTES COMO J'RESS Ul'OS1'0S O


da minha vida diária não é de íorma alguma meu mu
vado, mas é, desde o início, um munr.lo intersubjetivo
lhado com meus semelhantes, víve.nciado e interpretado
tros; em swna, é um mundo comum a to<los nós. A situ
gráfica (mica em que me encontro dentro do mundo
quer momento da n1inha existencia é apenas, numa c.sca
pequena, feita por mim próprio. Sempre me encontro d

Transcrito elos se~u..inles itens da l3ibliúgrafia: 1942, 337•38; 1


161; 19530, 404-5; 1942. :,42-44; 1967, 107-13, 113·16, 116·18; 196
1953c. 8-9; 196i, 163-64, 1&1-65, 166-67, 167-71, Jíl-72, 172-7
!953c, 20.
o M UKOO n,1s R!JLAÇÕF.S SOCIAIS REI.AÇÕES JN'ffiRATIVAS

o histoxicnmente dado que, (anto como mundo da na- nós próprios se não pudé.ssemos cncontrnr com os -out
anto como mundo sócio-cultural, existiu antes do meu ambiente comum como conltaparti<la da conexão in(cnci
o e vai continuar a existir depois da minJ1a morte. nossas ,,;das conscientes. Esse ambien te comum 6 cstab
ica que esse mundo não é só meu, mas é também o pela compreensão que, por sua vez, se fundomenta no
de meus semelhantes; a lém disso . esses s<:'mdhantes que os sujeitos motivam-se reciprocamente em suas ati
ntos da minha própria situação, como sou da dck s, ~spir.ituais. As::>im.. o.riginam-se os relacionamentos de co
obre os outros e .sendo afetado por eles. conhec.o esse são mútua (Wechselverstiindnis) e o consentimen!o (E
1-ento mútuo, e esse relacionamento impli~a que ~les . os lií11dnis) e, conseqüememente, um ambi.enle comum de
venc1am o mundo comun1, esscncialmcn te de um modo cação. Ele é caracterizado pelo fato de que é relativo às
e ao meu. Eles também encontram-se num..-i .sit\iacfü.1 que s·e eilcon!ram umas iis outras den tro desse ambient
única dentro ele um mundo que é, como O meu esiru• ambien te em si como sua contrapartida (als iitr GegenÍib
termos do akauce real e potencial cm torno do seu pessoas que participam do ambiente de comunicacão sã
gora real, o qual se situa no centro das mesmas dimcn- umas às outras não como objetos.t mas como "c~n(ra su 4

eçõc.s de tempo e espaço que fotmam esse mundú histo- como consócios numa comunidade social de pessoas. A
dado da natureza, socieade, cultura, etc.... o homem clade se consti.tui através de atos comunicativos em qu
ptcssuposto a existência material de scmcllrnntes sua se volta pata os outros, apreendendo-o, como pessoas
:i~nte, a possibUid~de de_ intercomunicação e a ;1uall- voltam para cJe., e todas conhecem e-sse fato. Entretanto.
orica da orgarnzaçao social e da cultura, <la mesma preensão da outra . pessoa ocorre apenas por meio de · a
vê como pressuposto o mundo da natureza no qi1a! tação, sendo que todos têm corno dadas "em presença
ria" apenas as suas próprias e;xperiências. Isso kva ao
que dentro do ambiente comum qualquci: sujeito tem s
bicnte subjetivo particular, seu mundo privado, origin
ArRESENTAÇÃO DO OUTI\O O conhecimento da dado a ele, e a ele somente. Ele percebe o mesmo obj
ou~o indivíduo só é possível através de eventos que o seu parccho. Jllas com coloridos que dependelll de seu
?u sao p rodu1,1dos pelo seu corpo. Na terminologia de minado Aqui e seu fenomenal Agora. Qualquer sujeito p
so é um citso relevante de teferência de apresentação. de dive:rsas dimensões <le tempo: há p1i 1ueiro o seu tem
o com ele, o outro é, de.s dc o comcco , dado a 1i:um rior .Particular, o fluxo de tempo imanente. o lugar da
os um obj_eto mater ial com sua posição no temp o e riências que se constituem.; em segundo lugar, a dimen
, e um suie1to com sua vida psicológicr<. Seu corpo, tempo das experiências constituíd<1s, o (ainda subjetivo)
s os º?je(os materiais, é dado à minha pe1·cepção ori - espaço. Por causa dos relacionamentos de simultaneid
omo diz Husserl, em prc.sença originária. Sua vida psh ª antes" e H depois", exislc.ntcs entre ambas as dimensões
porém , não me é dada em presença originária, mas so-·• dade primariameme constiluída da coisa que aparece é,
uco-prcsenç-a".: não é presentada, mas apresentada. Alta-- lação à sua duração, simultânea à continuidade da perce
a percepção visual conlÍnµa do corpo do outro e de seus da sua d uração no~tica. Há, em terceiro lugar, o temp
os, constitui-se um sistema de apresentaçõr::-$, de i.ndka- subje(ivo objetivo, que forma a priori uma única

O AM131E"~TE DF. COM U N!CACÁO COi\fUM


-
ordenadas de sua t ida psicológica e de suas cxpcriêncfos. 1

Estar r~ hl-
de tempo, unindo to<los os tempos subjetivos: o temp
tivo e o esp·aço objetivo ".aparecem" como fenômenos "v
nas ord-:ns subjetivas de tempo-espaço. Essa é a verdadeir
um a.mbic:nte comwn e estar- unido com o Outro numa da possibilidade de troca de lugares aqui mencionada a
~ de pessoas - são duas ptoposições inseparáveis. mente. O ambiente comum de C\lmuuicação pressupõe
rnmos ser pessoas para os oulros e nen1 mesmo para mesma coisa que me é dada agora {mais precisamente: num
O MUNDO DAS RELAÇÕES SOCJAIS RELAÇÕES I NTERATIVAS

etivo), co111 um determinado colorido, pode ser dada a cujas atividades posso captar: no seu presente, através da
mesmo modo, depois, no fluxo do tempo intersubjetivo, próprias atividades simultâneas.
rsa. Proponho que se chame essa experiência da corrente
ciência do outro em simul tancidade vh'ida de lese geral
T ESE GllRAL 1)(1 A I.TF;R F.ÇO Voltemos agora à tência do alter ego. Ela implica que essa corre01e de pe
ngênua da vida diária na qual vivemos nossos atos, diri- que não é minha revela a mesma estrutura básica da m
ra os seus objetos. Entre os objetos que vi venci amos no pda cousciêncfa. Isso significa que o outro é como eu:
vívido estão o comportum.e nto das outras pessoas e scu:s de agi r e de pensarj que sua corrente de pensamentos
ntos. Ao ouvir um éonicL-cncista, por exemplo, parecemos mesma ligação de ponta a ponta que a minha; que, de m
r ímediatamente do desenvolvimento de sua corrente de • logo ao da minha próp1i a vida consciente, a dc.le mostra
nto. Mas - e esse fato é obviamente decisivo - ao estrutura de tempo, junto com as experiências específic
nossa atitude é bastante diícrcntc da que adotamos quando tenções, rcílcxões, protensões e ao.tecipações a ela ligada
amos _p ara a nossa própria corrente de pensamento, atra- fenômcno:s <le me.mória e atenção, núclc.o e hodzonte de p
reflexão. Captamos o pensamento do outró na sua pre- to, e toda, as suas modificações. Significa ainda que o ou
vida e não modo prctetel'ito, isto é, o captamos como como eu, viver nos seus atos e pensmnentos, <litigidos pat
e não como um "Agora Mesmo". A falá do Q1:ttro e a objetos, ou voltar-se para o seu próprio agir. e pensar;
cuta são vivenciadas cm simullaneidade vívida. Agora ele vivenciar o seu próprio eu somente modo praetel'ito, mas
uma nova frase, liga palavra a palavra_: não sabemos ver a minha corrente de consciência no presente vivid
sentença vai terminar, e antes de seu fim estamos ince1t os qüentemen te, que p(>Ssui a experiência genuína de e
ao que sig1úfica . A próxima sentença une-se à primeira, comigo, como eu sei que faço com ele.
o segue. par~grafo; agora ele expressou um pensamento e Em potencial, cada um de nós pode voltar à sua v
ra outro, e o todo é uma con(er~ncia, entre outras confe- ciente pa~sa<la e ir Liío longe quanto vai a lembranç;,,
e assim por diante. Depende das circunstâncias até que nosso conhecimento do OLL!ro pemrnnece limitado ao seg
esejamos seguir o desenvolvimento desse pensamento. Mas sua vida e stws manifestações observados por nós. N
ue façamos isso estan1os 1iatticipando do p resente ime- tido, cada ltlll de nós sabe mais sobre si próprio do q
pensamento do outro. o oulro. Ivlas, num sentido espcdrico, o contrário é ver
[alo de et1 poder captar a corrente de pensamento do mc,Iida cm que cada um de nós pode vivenciar os pen
uer dizer, a subjetividade do alter ego, em seu presente e atos do outro nt> presente vívido, enquanto yuc amb
enqunnto não posso captar o meu próprio cu a não demos captar os nossos próprios no passado, por meio de
meio de reflexão, no passado, nos leva a uma definição do sei mais do outro e ele sabe mais de miro do que cad
o: o alter ego é a cot·rente de pensamento subjetiva que nós sabe sobre a sua própria corrente de consciência.
r vivenciadn em seu presente vívido. A fim de pô-la à ·sente, comum a ambos, é o Cilmpo puro do -'Nós'' . .. N
o precisamos parat ficticiamente a corrente de pensamento cipamos. . . sem um alo de reflexão, dá simultaneidade
ncn1 precisamos tta11sformat os seus HAgora" e1n HAgora Nós, enquanto o Eu só aparece após o retorno reílexiv
. Ela é simwlânea à nossa própria corrente de consciên- não podemos captar nosso próprio agir em seu presente
partilhamos o mesmo presente vívido - em suina, envc- demos <ipenas captar aquele passado de nossos atos que
s jun tos. O alter ego, portanto, ~ a corrente de consciência mas vivenciamos os atos <lo outro no seu desempenho
T udo o que descrevemos como a "tese geJ:al do
necessá1-hl a referência a ttrn exemplo <le irller-teladonamcnto süci.:it diz respeito iis n(lS~as cxpe-riências no plano mundano.
r meio da fala. Quem já jogou um jogo de tênis, tocou 111ú..~i:.:(1 da "Psicologia Fenomenológica" , como Husserl a chama
a ou fez i:imor~ caplou o aut;o em seu "prcs,c:ntc ,·fri<lo" imediato.
siç.ão à "Fenomenologia Transcendental". Mas os resu
O MUNDO DAS RE LAÇÕES SOCIA[S RELAÇÕES I NTERA1'[V,IS

ise do plano mundano, ~e verd3deiros, não podem ;,~r O homem no estado natural, então, com_preende o
dos por nenhuma suposição Msic« (metafísica ou onto- através da inte11>retação de suas próprias experiências de
ue se possa fazer para explicar nossa crença na existên- elas experiências de coisas inanimadas, de animais ou
outros. Relaci.one-se ou não a origem do N<Ss i, e,férn humanos: seus semelhantes. E, assim~ nosso conceito in
ental, não se pode conteslar nossa cxp~riência imediata compreensão do outro eu é simplesmente: a "nossa ex
a do alter CfW den tro do plano mundano. Em todo caso. das experiências que vivemos dos seres humanos, no.s
tese geral dó alter ego conforme delineada acima é um lhantes, como tais". O fato de que o Tu que me confron
e refet~ncia suficiente narn a fundação de uma Psicologia pessoa, um semelhante, e não uma sombrn numa tela d
as Sociais empíricas. Pois todo o nosso c(mhecimenio - noutras palavras, que ela tem duração e consciência -
o social, mesmo de seus fenômenos m~is anônimos e re- coisa que descubro ao explicar as minhas próprias cxp
dos mais diversos tipos de comunidudes sociais, base ia-se dele.
ilidade de v ivenciar um alter ego cm presença vívida . Além disso, a pessoa no estado n atural percebe m
no .objeto externo que lhe é conhecido como o corpo d
Jnterprcta c.sas mudanças cxatamcme como intcrpt·eta m
COMl>REENOEl: OUTRA. PESSOA A nocão comun, do c.m objclos inanimados, a saber, através da interpretação
mpreender outra pessoa é ambígu,,. Al,gun;as vezes sign i- próprias experiências já vhrcnciadas dos eventos e proc
tos intencionais dirigidos pata o oufro eu: noutras pa- questf:o . i\Iesmo essa segunda fase não vai a lém da atrib
inhas experiências vividas de você. Outr;is vezes o que significado dentro da esfe-ra da consciência solitária.
questão são as suas experiências suhjctlvas. As3im , o Só se toma possível t-ranscender essa esfera quando
e todas essas experiências em comcxtos de si ~ ificado ccs~os percebidos vê.m a ser vistos como experiência~ viv
ele Weber do significado intencionado) é. às vc7,es, tencentes a ou!ra consciência gue, de acordo com a l
de 'f compreensão do outro eu'': da m.esma forma que do 01.1tro eu, ex ibe a mesma estnrtw·a que a minl1a. Os m
ação do comportamento do outro cm con textos de moti, tos corporais do outro que são percebidos serão, ent~o.
número de ambigüida:dcs associadas à noção de "entender não mermnente como a minha ·v ivência desses movimento
soa" torna-se ainda maior <1uando introdtt2imo.s t-1 questão <la minha corren te 'de consciência. Ao invés disso, fica
eensão dos signos que ela est:í usando . De um lado, M dido que, simullaneamen(e à mi1,lw cxpc,i~ncia de você,
compreendido no signo em si, há ainda o qlll: a outra sua expetiência que pertence a você e faz parte da sua
ct dizer com o uso desse signo e, finalmente, o signifi- de coÍ1sciênda. Entretanto, a natureza específica da s
oto de que ela está usan do o signo aqui, agora e nesse riência é bastante desconhecida para mim, isto é , não
do contexto. os contc,nos de sign ificado que vocG es tá usando para c
m de distinguir esses níveis diferentes de significado do essas experiências que você viveu, desde que, de fato., vo
mos primeiro dar-lhe uma definição genérica. Vamos di- até mesmo conscicmc dos movimentos do seu corpo.
ompreensão (Versfehen), como ia!, é relativa a signi- Posso, porém, conhecer o contexto de significado
ois toda compreensão é dirigida parn aquilo que ten, classifico minhas experiências de você . . . Isso não é o s
o (auf eitt Sirmhaftes) e somente alguma coisa con1- ficado intencionado no sentido real do teimo. O que
é significante (sinn 110/l) . . . todos os A tos intencio- compreendido é scmptc apenas um "valor aptoximado"
constituem interpretações das pr6ptfas experiancias sub- ceito limitado do "significado iniencionado do outro".
alguém seriam chamados Atos de compreensão ( ver~te- No entanto, falar sobre o contexto de significado at
e) . Devemos lambem designar por "comprcensiío" todos qual o Tu ordena a experiência gue vive é, ro.ais u
n1enores da compreensão ele significados no~ quais s<~ muito vago. A p rópria questão de se um movimen to do
auto-explicação. proposital ou meramente uma reação é uma qucs tiio que
O MUNDO DAS ~ELAÇÕES SOCIAIS RE LAÇÕES INTF,RATIVAS

ondida cm termos <lo próprio contexto de significado da colhei' nossos exemplos de várias áreas do comport311)cnt
ssoa. E, então, se considerar.mos as outras questões que no, analisando primeiro uma ação sem qualquer intençã
er colocadas a respeito dos códigos de · experiência da municação e depois uma cujo significado é declarado a t
ssoà. por exemplo a respeito dos seus contextos de moti- signos.
odemos ter uma boa idéia da complexidade da teoria da Como exemplo da "compreensão de um ato huma
nsão do outro eu. ~ muito importante penetrar na estru• qualquer in tenção de comunicação, observemos a atividad
sa compreensão o suficiente para ver que só podemos madeireiro.
ar experiências pertencentes a outr.is pessoas em termos Compreender que a madeira está sendo cortada po
ri6ncias que nós ptóptios vivemos delas. ficar:
discussão acima lünitamos nossa análise cxclus.ivamente J . Que estamos -percebendo apenas o "evento e xt
m que outras pessoas estão de corpo prêsen!e no domínio machado partindo a árvore e, depois, a ma<lcirn dividind
ade social diretamente vivenciada. ,\o fazer isso, nós nos pedaços. Se isso é tudo o que vemos, mal estamos lidan
amos como se a compreensão do outro eu se base.asse na o que está ocorrendo na mente de outra pe.soa. De fa
ação dos movimentos do seu corpo. Um pouco de reflexão precisamos mencionar a outra pessoa. pois cortar madeira
porém, que ~sse tipo de inte1pretaçflo só serve para uma made!ra, seja isso Ít!ito por uma pessoa: por uma máq
os regiões <lo mundo social ; pois, mesmo do ponto de mesmo por qualq uer ÍO(Ça natural. E claro que hâ ;itrib
ural., um homem vivenda seus semelhanlcs mesmo quando significado ao evento observado pelo observador, no sen
imos n ão estão presentes fisicamente. Ele tem conheci- que ele compreende o evento como "corte de madeira".
ão somente de seus consócios 2 diretamente vivenciados, palavras, ele insere no evento seu próprio contexto de e
bém de seus contem11orâneos móis diswntes. Dispõe ainda cia. Por-6n1 essa "con1preensão'i é ro~xt1mente a explica
mações espiricas sobre seus p redecessores histórióos. próprias experi6ncias que vivenciou . . . O observador p
cercado por objetos que lhe d izem claramente que foram cven(o e ordena suas percepções em sínteses polit~ticas,
os por outra::; pé'.ssoas; não a1,enas objetos materiais, mas das q uais ele então volta. a fazê-lo de modo monotétic,_,, e
tipos de ·sistemas doê signos, lingüísticos e outros, em essas sínteses nt1 contexto total de sua e>..-periência, dando
rtefatos, no sentido mai::; amp,lo . .EJe os .in terpreta antes ao mesmo tempo, un1 no111e. ~,tas o observador, no nos
ordenando-os dentro dos seus próprios contextos de cxpe• ainda não percebe o madein~iro, mas somente que a
Contudo, pode a qualquer momento fazer mais perguntas está sendo L'Ort(uia, e ele "compreende" a sc.qüência de
experiências e os contextos de significados .vivenciados percebida como Hcorte de madeira". E es~encial notar q
criadores~ isto é. sobre p0r que formn criados. mo está interpretação cio evento é determinada pelo conte
emos :,.gora analisar cui.dadosamente todos esses comple- de conhecimento do observador no momento <la obsen·a
cessos. Faremos isso, porém, apenas na medida reque- guém que. não souber comn se fahti~-t pap.::I não estará
lo nosso tema, mais precisamente "a compreensão da dições de classificar os processos componemes porque l
essoa den tTO do mundo social". Com esse propósito, de- o código <le jnterpretação necessárjo. N~m e.s.tará em co
omeçar com o nível mais baixo e esclarecer os Atos de de formular: "fato é um Jugar onde. se fa bric,1 papel"
Jicaçfio presentes e ~cessíveis para a interpertação <lo com- vale, como cslahclcccmos, para todas as ordcnaçõi.:,S de e
nto de outras pessoas. Em nome da s implicidade, vamos cias dentro do contexto do conhecin1ento.
ue a outra pe.ssoa esteja fisicamente presente. Vamos es- Mas eompr.eender que a madeira estií ~endo cortad
taro.bém significar :
usoú o termo in;:rli?s "consocime" (consócio) , entre omro.;, sl~n\ 4

2 . Que se percebem 11111<lanças no corpo ,ta outra


quêles que vl\'em.:i.mr-o:; dir<:h1mente. V amos usú-lú neste- sénü<lo
ra tr~duzk refet·ênciis. a _pessons de nosso Umweli (<lomfoio da que as mudanças são interpretadas como indicações de
social dire.t.:ime.nte vivem.:ieda) .] está viva e consciente. Ao mesmo tçmpo. não se faz n
O MUNDO DAS RELAÇÕEIS SOCIAi $ RELAÇÕES INl'ER:\TIVAS

osição com rcspci!o ao foto de que existe uma ação. J\1as c.onh,ccimento dos significados das palavras, desde ·que o
ém é apenas uma explicação das próprias experiências Lenha algum critérío definido em mente. Se estou viajan
ção do observador. Tudo o que ele está fazendo é iden· país esrrangcito, sei quando duas pcs.$oas faf.am um
corpo c.omo o de um ser humano e então notar o fato a outra, e sei também que estão falando a língua do
uda, e o modo como muda . questão sem ter a menor idéia do conteúdo da convers
preender que a1guém está cortando madeira pode, po- Ao fazer qualquer dessas ilúeiêucias, estou apenas
ificar: tando minhas próprias experi~ncias, e nada implica um
Que o centro de atenção são as próprias experiências expei-iêncfa sequer vivenciada por qualquer das pessoas q
as pelo madeireiro como ator. A questão não é sobre sendo observadas.
xternos, mas sobre cxpcriêncills vivenciadas: uEstará esse O observador '"compr.-eende" ainda:
gindo espontaneamente, de acordo com um projeto que 4. A palavra como signo de seu próprio significad
amcriormcntc? Se está, qual é esse projeto? Qual o palavra. Mesmo então ele apenas interpreta suas própri
vo a fim de'? .Em que contexto de significado essa riências, coordenando o signo a um sistema de signos ou
itua para ele?" E assi111 por diante: Essas questões não de interpretação anterio,mcnte viwnciado, digamos, a
a qualidade fama! da situação como tal, nem dos movi- alemã. Como resultado de seu conhecimento da língua a
o corpo como la.is. Ao invés dhso, os fatos extel'nos e observador ass.ocia i1 palavra Tische a idéia de uma dete
mentos do corpo são compreendidos como indicações peça ele mobiliário, que ele pode visualizar com precisão
cn} das experiências vivenciadas pela pessoa ob,ervada. aproximada. Não importa se a palavra foi emitida po
o do observador rocaliza não as indicações, mas o que JJessoa, por 11m fonógrafo ou mesmo por um 1iapagaio. N
trás delas. Isso é compreenf:·ão genufna d!t outra pessoa. porta se é falada ou e:scrita ou, no último caso, se é traça
a, voltemos nossa atenção para um caso onde se usam Jetn:s de madeira ou de ferl'O. Não importa quando ou
escolher como exemplo o de umu pes,oa falando alemão. emitida, nem cm que contexto. Portanto, desde que o obs
vador pode didgir. sua atenção : deixe fora de consideração todas as questões relativas a
e <.:Omo a palavra está sendo usada na ocasi;do da obs
l'ara os movimentos do corpo de quem fala. Nesse sua inteq,retação permanece auto-interpretação. Ele se p
interpreta a _própxfo experiência que vivencia com ba;;e com o sig11ifi,·11do d<L palavrC1, não com o significado do
xto da experiência do momento presente. Primeiro, o da palavm. Quando idemificamos essas in terpretações com
or se certifica de que está vendo uma pessoa de verdade, imerpretações, não devemos esquecer o fato de que todo
ma imagem, como num filme. Então determina se os mo- mento anterior da outra pessoa pertence à configuração
da pessoa são ações. Tudo isso constitui, é claro: auto- experiência de quem interpreta, que é o contexto de cuj
ação. de vista a interpretação e, tá sendo [eita.
)!ara a percepção do som, apena;. O observado, pode O obscrvado.r pode, no entanto, proceder i1 compreen
descobrir se e-stá ouvindo uma pessoa te.ai ou uma nuína da outra pessoa se ele:
Isso também é apenas interpretação de suas próprias 5 . Vê o signifü.ado ela pafavta como uma indicação
ias . che11) das experiências subjetivas de quem fala - vê o
Para o padrão específico dos sons que estão sendo pro- cado, em suma, como o que quem /ah,. quis dizer. Ele po
lsto é, ele idcnti[ica os sons primeiro como palavras , e exemplo, tentar descobrir o que a pessoa que fala tinha i
o guinchos , e então coroo palavras cm alemão. Eles são de dizer e o que ela quis di,.c,r com o fato de dizer nes
denados dentro de um de.terminado código, no qual são sino. Essas questões obviamente d izem respeito a expe
om significados determinados. Essa ordcnaç.ão dentro conscientes. A primeira questão procura esiabelecct o c
o ele- uma determinada língua pode ocorrer mesmo sem de significado dentro do qual a pes.soa q ue fala compree
REL,\ÇÔES INTERATIVAS
O MUNDO DAS rEt.AÇÕF.S SOCIAJS

que enuncia, enquanto a segunda procura estabelecer o dessa maneira, nesse momento determinado? A troco de
seu enunciado. t claro que a compreensão genuína da faz isso (qual o seu 'motivo a fim de')'/ Que circu
oa envolvida em responder a tais q uestões só pode set· ela dá como razão para isso (isto ~. qual o seu verdade
se o significado objetivo da~ palavras é antes estabe- tivo por que') ? O que indica a escolha dessas palavra
avés da explicação pelo observador de suas próprias guntas como essas apontam para os contextos de significn
as . . . prios da outra pessoa, para os modos complexos como
eleçamos agora, resumidamente. quais de nossos atos de riências próprias que ela vivencia se constituíram polile!ic
ção referentes a outro cu são interpretações de nOS$8 e também para a forma monotélica como el.a àS vê.
xperiência. Em primeiro lugar, há a interpretação de
soa observada é realmente um ser humano e não uma co~IPR!l!.:NS,\O SUBJETIVA GENU Í:KA Tendo
e qualquer tipo. O observador esrnbelece isso unica- lecido que toda compreensão genuína da outra pessoa tem
avés <la interpretação de suas próprias percepções do meçar por Atos de explicação desempenhados pelo ob
outro. Em segundo lugar, hií a interpretação de todas com relação à própria expcriGncia que vivencil)u, devem
xternas da ação, isto é, de todos os movimentos cor- partir para uma análise precisa dessa pr6pria compree
seus efeitos. Aqui também o observador só engaja na
n uína. Pelos exemplos que já demos ficou claro que nos
ção de suas própri.as percepções, exatamente como quan-
tigação deve tomar dois rumos diferentes. Primeiro, dev
a o vôo de um pássaro ou o balanço de um galho ao
tudar a compreensão genuína da ação q ue é desempenh
fim de compreender o 4ue está ocorrendo, ele apela
te para a sua própda experiência passada; n ão para o ne11hmna intenção de comunicação. A ação do madeireiro
ser wn bom exemplo disso. Em segundo lugar, vamos
acontecendo oa mente da pessoa observada:5 finalmente,
pode-se dizer da percepção dé todos os outros movi- casos onde tal iníeução de comunicação está presente. O
xpressivos da outra pessoa e de lodos os signos que ela tipo de ação envolve. toda uma nova dimensão, o uso 4 e
e que se trate aqui do signrncado geral e objetivo de prelação de signos .
estações, e não de seu significado ocasional e subjetivo. Tomemos primeiro ações desempenhadas sem qualqu
é claro que, em geral, Hco111preender a outra pessoa" ção de cc,municação. Estamos observando um homem u
r muito mais. Esse algo adicional, que é na verdade o corUtr madeira e imaginando o que se passa na sua meo
tido exato da expressão, implica captar o que está real.• tioná-lo está fora de cogitação, pois isso envolveria ent
ontecendo na mente da outra pessoa, captar as coisas relacionamento social com ele, o que, por sua vez, env
as manifestações exteriores são meras indicacões. Na uso de signos.
a interpretação de tais indicações e signos nos termos Suponhamos ainda que não sabe.mos nada sobri:! o n
retaç,10 das próprias expetiências deve vir em primeiro deireiro, a não ser aq uilo que vemos diante de nossos o
as o intérprete não ficará satisfeito com isso. Sabe per- submeter as nossas próprias perccpções à interpretação,
e, pelo contexto total de sua própria expeliência. aue que est:.1mos n~ pre~cnça de um semelhante., um ser 11
.cado ext'c-rior. objetivo e público llue de acaba de ~fo- que seus movimentos de corpo indicam qt1e eh: está
rresponde esse outro signi.fica<lo interior, subjetivo. Ele numa ação que Jdcntific;in,os como cortar m~deira.
gunta: "Em que este madeircixo está pensando? O que Mas como sabemos o q-1c se passa na cabeça do ma
nde? O CJ.Ue signiíica para ele isso de cortar madeira?" Tomando essa intc11,retaçlio dos nossos próprios dado
utro caso: "O qtte essa pessoa quer dizer ao folar comigo tivos como um pontv de partida. podemos ensaiar na
beça exatamente como nós desempenharíamos a ação em
qt1.:. wda$ e:-;:.a::. inh::rprelaç.õ es presumem ::t ~ce.ilaç.ão d:¾ lese gcr:.ll
go, segundo a qual o objeto exte:110 é entendido como étlimado. 4 LSctzw,g; liL<:ri.!lmenle, "po1;i1.:ionm1.du .. ou ••cst»bclcc:f:mlo".1
mo sen<lo l) c.orp.:J de Ol!lro eu.
O M UNDO DAS REt,AÇÕES SOCIAIS RELAÇÕES I NTERATI VAS

demos de falo imagi1Jnr-nos fazendo isso. F.,_n casos co- de forma transcendental. Em segundo lugar, ela prete
eiitfio, projetnmos o objetivo da ouira pessoa como ,e conhecimento da mente da outra pessoa que vai bem
osso, e nos _raota_sinmos executando tnl ação. Observe-se estabelecimento de um paralelismo estn1tural entre aque
ue nós aqui projetamos a ac;ão no futuro perfeito como e a minha. E fato, no entanto, que, quando lidamos co
e q_ue a 1~ossa execução imagi nada da ação é acompa;- que não têm intenç.ão de comunicação, tudo o que pode
as rctcnç°';:s e reprod~ções_ usuais do projeto, embora, mar sobre o seu significado já está contido na tese
penas em tantasia. Alem disso, n.ote-se que. a execuçã·o a/ler ego.
pode preencher ou deixar de preencher o projeto i~a- Está claro.. então,. que projetamos na imaginação o
a fim de" da outra 1.'essoa como s.e fosse o nosso próprio
em vez de ,imaginarmos para nós mesmos uma ação usumos a fantasia da realização dessa ação como um cód
qual realizamos o objetivo da outra pessoa, podem.os vés do qual interpretamos as expeliências que ela vivenc
om detalhes concretos, como uma vez nós mesmos de- tanto, para evitar mal-entendidos, deve-se dizer ainda q
mo~ wna ação semelhante. Tal procedimento seria ape- estti envolvido aqui ~ só uma amíl.isc reflexiva do alo
anante do mesmo princípio. da outrn pessoa. É uma interpretação desenvolvida apó
Ouando um observador observa diretamente \lma pes
mbos esses c,1sos, nós nos coJocmnos no lugar do ator
quem está s imultaneamente "crn sintonia", a situaç.ão
amos as experitncias q ue vivenciamos conl a dele . Po-
1·cn Lc. Então, a intencionalidade viva do observador o a
cer que estamos aqui repetindo o erro da conhecida ele não tem que reviver referências perteJ)cCntcs ao pa
~jcti_v~" da ci:npatia. Pois aqui estamos lendo as expe- a experiêucjas imaginárias. J\ a~.ão da outra pessoa se
op1·rns que vivemos na mente de outra pessoa e esl~-
etapa poi: etapa, diante de seus olhos. Em tal situação,
nto, apenas descobrindo nossas próprias ciperiências. ficaçãu do observado!' com a pessoa observada não se d
am1os mais <le perto veremos que nossa teoria não 1cm a partir do objetivo do ato já dado e depois procedendo
comum com a da empatia, exceto um ponto. falo é. a timição das vivências que devem ter acompanhado el;S
d? Tu como o "outro cu", aquele cujas experiên;ias contrário! o observador acompanhaJ por assim dizer, ca
u_1das do mesmo modo como as minhas. Mas mesmo da ação da pessoa observada, idcmificando-se com as
n~ade ~ apenas aparente, pois partimo:s da tese gexal das da últin1a, num relacionamento do Nós comum . ..
e duraça~ de tem_po da outra pessoa, enquanto. a teoria
Até aqui supusemos o movimento corporal da out
da em~a!Ja -~~la _do mero _fato de (Jue. existe empatia
ença nã. eX1,tenc1a de outras mentes, num ato de fé como o único dado fornecido uo observador. Devemos
ossa teoria só introduz imp1ic2ç6es do que já está pre-- que, q11undo o movimento do corpo em si é visto dessa f
u1gamcuto auto-cxpJic-ativo: "estou vivencfo~do um·set é necessariamente isolado do seu lugar dentro da co
experiência viva da pessoa observada. E esse con(exto
~l scm.elh;mt_e". S~bctnos com ce1ieza que a experi6n-
J,a da propna açao, p,u·a a outra pessoa, é em prin- tante não só pura a pessoa obsel'vada.. mas também para
ent: da figura que imaginamos do que faríamos n;i vador. Ele pode, é claro, se lhe íallam 01itros dados,
uaçao: A , razão d ísso é, como já indicamos, o fato de 1'etrato m:cn(3l do movimcmo de corpo observado e cn
do illte~c,onado de uma ação sempre ser, em princípio, associá-lo com um filme de fan(asia, de acordo com
e acess1vel somente ao ator. A teoria d,1 empatia erra •como ele pensa que irj.:1 agir e se sentir numa situaçã
Ontos. l>rimeiro, tenta ingenuamente retraçar a consli- CQnt1.1do, o ob:sctvador pode tirar conclusões muito ma
outro eu em função da consciência que o ego tem da sobre o seu sujeito se sabe alguma coba sobre o passa
e modo que esta última toma-se a fonte direta do co- se sabe algum.a coisâ sobre o plano geral a que perten
do outro. Na realidade, tal tarefo de descobrir a cons- dele. Vollanclo ao exemplo de Max \Veber, seria import
outro e11 só pode ser realizada fenomcnologicamente, o observador saber se c.1 madeireiro estava cortando made
O MUNDO DAS RELAÇÕES SOCl 1US Rc L AÇÕES I NTER.\TlVAS

egular ou se fazia aquilo por espot·tc, como um exer- Se compreendo, como diz Vv"eber. certas expressõe
. Um modelo adequado <l°'> experiências subje!i.vas da lntcrjciçõcs verbais e movimentos i1Tacionais como uma
ervada pede exatamente esse contexto mais amplo. Já de raiv~, essa própria compreensão pode ser interpretad
a unidade da aç<'[o é de fato uma luação da extensão rios modos diferentes. Pode não querer dizer, por exem
Do movimento coq1ornl observado., tudo o que o obser- além de auto-elucidação, ou seja, a minha ordenação e
e iuforit é o curso de ação único que diretamente levou cação das .minhas próprias experiências do seu corpo. É
no entamo, cu como ob~1:1·vador deseJo evitar uma inter- quando desempenho um outro Ato de atenção, envol
nadequada do que vejo outra pessoa fazer, pm;iso tor- inLimamentc com você, vendo as suas c xpcdências subjeti
pr6pr.ios" todos aqueles contextos <le significados que fluindo simultaneamente com minhas experiências subí
o nessa ação, co111 base no meu conhecimento passado você, que realmente capto ou "apreendo" a sua raiva. Es
oa em particular. se para a compxeensão genuína da outl'a pessoa só me é
poi-que já tive experiências se111elhantes à sua, mesmo s
AçAo EXPRESSIVA Até agor« só estudamos casos cm cm Jamasia, ou se já deparei com ela em manifestações
procura apenas realizar .mudanças no mundo exterior. O movimento e.xpre.ssivo entr<1, então.. no contexto de si
rocura ;;expressar" sua expedênefo :subjetiva. 1.>or aç-ão mas somente para o observador, para quem ele é uma
a" queremos dizer aquela em q ue o ator procura pro- das experiGncias que a pessoa q ue ele está observando
h tmssen za projiziere11) os con teúdos de sua cúns• Esta última está impedida de dat ~ignificado a seus própr
para retê-los, para o seu próprio uso mais tarde (como mentos expressivos conforme eles ocorrem pelo simple
uma nota num diário) , ou para comunicá-los a outros. que não os percebeu ainda; eles são, em nossa lerminol
um desses dois exemplos, temos uma ação genuina- fenomenais.
ejada ou projetada CR.atzdeln nach En/.wtttf), cujo "mo- Os movimentos expressivos, pois, só têm sentido par
de" é o de ·que alguém tome conheci mento de alguma vador, não para a pessoa observada. É prcc.isamente is
segundo caso, esse alguém é a outra pessoa no mundo os distingue <los atos expressivos. Estes últimos sempre
primeiro, é a pt6ptia pessoa no mundo do Ego soli- ficado para o ator. Os atos expressivos são sempre at
bos são atos expressivos. Deven1os distinguir c.lara- nicativos genuínos (Kundgabelumdlwtgen), que têm co
«to expressi vo" (Ausdruckshandiwzg) daquilo que os tivo strn própria inte1-pre!ação.
chamam ele «movimento e~pressivo" (Ausdrucksbe- Portanto, a me-1·« oco1Te:neia de um segmento ex
1-:ste último não visa ncnh\1ma comunicação ou exprcs-- comportamento niio dá a quem interpreta uma base p
aisque.r pensamentos parn uso JJróprio nem <los outros. se e.stá lidando com um movimcnco expressivo ou com
há ação genuína no sentido em que falamos~ mas ap~- expressivo. Isso só pode ser determinado apelando-se
rtamento: não existe nem projeto nem "motivo a fim contexto diferente de experiGncia. Por exemplo, o jog
plos desses movimer,tos expressivos são os gestos e ex- jlres.sões e gestos de urn home1n na sua vida diária
ciais que, scrn qu::Jquel' intenção expJíc.i ta. entram na ser diferente cio de um ator no palco. Mas Yemos as e
faciais e gesios destes último como signos estabelecidos
eu ponto <le vista de observador, o seu corpo se me a tor utiliza parn expressar certas experiências subjetivas
como um campo de express5o, no qu-al posso "obser- diád2, por outro lado, nunca sabemos ao certo se out
xo das expel'iências que vovê vivencia. Faço essa Hobser- está "l'epre-sentando» nesse sentjdo ou não, a menos qu
mplesn1ente- tratando ranto os seus movimentos expres-- mos atencão a outros fatores além de ~eus movimento
o os sc.us ato~ exp.ressivos como indicações das expe- tQs. Por exemplo, ela pode estar im il3lldo alguém par
ue você vivencia. Mas lemos de analisar esse ponte pode estar hipocritamente fingindo certos sentimentos p
detalhe. vantagem de nós .
O M UNDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS RE LAÇÕES TNTERAT!VAS

atos expressivos consistem em gestos, palavras ou al'te-- •. . , As c?faas sociais só ~ão compreendidas se po
ase irte1ev-ante para a .sua compreensão. Qualquer dessc.s ~eduz,das a at1V1d~d~s humanas; e as ativídadcs human
ve o usú de. signos. ,on1am comprcens\ve1s ao revelar seus .. motivos a fin1
"por que". A razão mais profunda para esse fato é que,
" mgenuamenle"' dentro do mundo socinl, só sou capai
COMPREENSÃO DAS MOTIVAÇÕ1', Não posse) com- preender os atos de. outras pessoas imaginando que eu
os atos de outras pe$sOas sem conhecer os " motivos desempenharia atos nnálogos se esüvcssc na n1esma situac
ou os '1motivos por que'' desses atos. Na \>:er<ladc., e.x.is- gido pelos mesmos " motivos por que" ou orientado p;
sos graus de compreensão. Não devo (e, mais elo que mos "motivos a J'im de" - sendo que todos esses !cimo
posso) captar toda a rede de motivos de outras pessoas, ~;~ ~nt~ndidos no sentido restrito de m1alogia "lfpica", ig
horizontc.s de planos de vida individuais. seu fu ndo ttp,ca· . como explicamos.
ências individuai!:i, $Uas refe-rências à situa9ão lmica que
Pode-se demonstrar que essa affrmaçiio é verdadeira p
na. Como dissemos antes, tal comptecnsão ideal impli•
dentidade lotai da minha corrente de pensamento com de uma análise da aç.'ío social, n.o sentido mai$ preciso de
mo, isto é, de uma ação que envolve atitude. e ações de
ego, e isso significaria a identidade dos nossos dois eus.
nte, 1iortanto, que eu possa reduzir o ato do outro a
e é oricntáda cm relação a eles durante o seu curso.5 Até
neste estudo, s6 Jidamos com a ação como tal, sem entrar
ivos típicos inclusive .suas l'eÍel'ências p~ra situações
1
lise da modiíicação por que passa o esquema geral com
ns tipicos, meios típicos, etc.
dução de elementos sociais p,opriamente ditos: a correlac
outro· lado, o meu conhecimento elo ator tem também tua e o tsjustamento intci-subjetivo. Portanto obscrva1no
1
rentesi graus de in timidade e de anunimato. Posso !'e- tudc de um at_~ r isolado sem fazer qualquer distinção q
roduto da atividade humana à atuação de um alter ego :-e esse ator esra ocupado na nrnnipulação de um instrum
al compar tilho tempo presente e espaço presente, e pode agindo com out1·os e para outros, motivado por outros
rrer que esse outro indivíduo seja mn n1.e::u amigo íntimo vando-os.
assageiro que vi pela primeira ve1.. no ônibus e nunc.a
rever. Nem 6 preciso que eu conheça o ator pessoal- Este tóp ico é muító Cú rnplicado de analisur e temos
ra poder me aproximar de seus motivos. Posso, por reslri11gir ao esboço de suas linhas gerais. Pode-se prov
compreendei: os atos de um cslaclista estraugeiro e dis- toda$ :.is relações sociais como São compreendidas por m
motivos sem jamais tê-lo conhecido ou mesmo sem tsr ser h umano, vivendo ingenuamente no mundo social, c
retrato dele. O mesmo acontece com indivíduos que vi- sou o centro, ttm seu protótipo nu relação social que me
uito antes elo meu tempo; posso compreender os atos e um alter ego individual com quem compartilho espayo e
os de César tanto quanto os do homem das cavernas, lvfeu ato social, então, é orientado não só pi1ra a exiscênci
deixou outro testemunho de sua existência além da ma- desse ,1licr ego, mas patil o ato <.lo outro que espero p
de pedra exposta na vitrina do museu . Mas nem é com minha própria ação. Portanto, pos;o dizer que a rea
linú!ar os atos humanos a uni ator individual ruais outro é o " motivo a fim de" de meu ato. O protólipo d
conhecido. Basta compreendê-los para encontrarmos mo• relaciona1nento social é uma conexão intcrsub.fctiva de 11
cos de atores típicos, que explicam o ato como um ato
5 ~1ax \Vcbcl'1 Wlrtscltaft uml O!!seU:;c:ilctjf (Tübingcn, 1922; no
rgido de wna situaç.ão típica. Há uma certa conformi-
atos e motivos de padres, soldados. criados, agricultores 19j6) , Parles tk~te. importante trabalho encontram-se em. Lradud:ío
i;Hu~ ed,iç~::s de _H. H. Ge.rth e C. Wrlght ]\'lills, From Max Weher
os lugares e de todos os tempos. Além disso . existem m S<Jc,o,ogy (Nova York: í946); outra~· purte.s fomm. traduzidas p-o,·
m tipo tão ,geral que é suficiente reduzi-lo aos motivos P.~rsoms, com o título The 'fhcorJ' o/ Social aml Economic Ot ga
de alguém'' para torná-.los compreensíveis. (Noen York, 1947) .
O MUNDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS RELAÇÕES lNTERATIVAS

gino, ao projetar o meu ato, que voc6 vai con.1prcendê-lo, i) Eu, estando "aqui", estou a uma distância difer
essa co111precnsão vai induzir você a reagir, de sua parte objetos e vh•cneio como sendo típicos outros aspectos del
certo mo<lo, antecipo que os "motivos a fim de" do meu r,mtemenle da outra pessoa, que está "ali". Pela mesm
agir vão-se tornar "motiw,~ por que:.' da sua reação: e certos objetos estão fora de meu alcance· (da minha vista,
sa. ouvido, do meu campo de manipulação, etc.), mas dentro
memos um exemplo muito simpls!$. Eu lhe [aço uma per- e Pice-versa.
O "motivo a fim de'' do meu ato não é só a expectativa ü) A minha siiuaç.ão biográíica determinada e "
vo~ vai compreender a minha pergunta, mas tau,bém a de ~cmclhante e , com e.la, o meu propósito à mão, e o dele
sua 1·esposta; ou, ri1ais precisamente, suponho que voc6 sistema de relevâncias e o dele, que se origi.nam de (ai
pon der, deixando em ahe,·to qual pode ser o conteúdo de sitos, têm qoe dHciir, pelo menos até certo pento.
sposta. l'vtodo fi,turi exacli antecipo, ao projetar o meu O peosamento do senso comum supcta as diferenças
ato, que você Lerá respondido à 1ni11ba pcrgun.ta de uma pectivas individuais que resultam desses fatores através
ou <lc out1·a, e isso significa que penso que existe uma fórmulas ideais básicas:
umc:e de que a compreensão da minha pergunta ~e torne i) A fórmuln ideal da possibilidade de troca de p
otivo por que" da resposta que espero de voce. Podemos vista: tenho como pressuposto - e suponho q ue o mesm
que a pergunta é o "motivo por gue" da resposta, como te<;a com o meu semelhante - o falo de que se eu t
osta é o "motivo a fim de" da pugunta. A inter-relação lugar com ele, de modo que o .seu "aqui" se torne meu,
os meus e os .seus n1othos é urna experiênci<l nlinha bem ria à me.snu1 dlsLância {las coisas e as veria com a mesm
ovada., embora. t::rlvc.z. cu nunca tenha tido conbedmento dncle <.:Om que e.le as vê no presente; além disso, estarfan1
to do seu complicado mecanismo interno. Mas, em inúme- alcance as llls!$ll1US cx,i•sas que estão agora ao dele. (E t
asiões, cu próprio me s~nti induzido a reagir ao ato de vice-1,ersa.)
que inlet·pretei como uma pergunta, endereç..ada a mim, com ii) A rórmula ideal da congruência do sistema de
o de comportrunento cujo "motivo a fim de" em a minha cias: ;ité. evidência em conu·ário, te11ho como prc.ssupo
athra de que o outro, o que questiona, pudesse interpi-etar suponho que o mesmo aconteça com o meu semelhante -
comportamento como uma respo$tà. Ainda com relação a diferenças ·de perspectivas que se originam <la minha e
xperiência, sei que consegui, várias vezes, provocar a res- simação biográfica única são irrelevantes para o propósit
ele outra pes,oa com o meu próprio a to, chamado quesiio- de cada um de nós, e que eu e ek, que "Nós", assumi
assim por diante. Em conseqüência, sinlo que tenho uma ,imbos escolhemos e interpretamos os objetos comuns,
hance de conseguir sua resposta depois que cu tiver reali- potenciais, e seus atributos, de uma maneira idêntica ou
a minb.a ação de questionar. nos "c.mpiricameme idêntican, isto é, idêntica para iodo::
pósitos práticos.
RECJl'ROCTDADE OE l'ERSPI:.C'l'IVAS Na "atitude na• E óbvio que ambas as f!írmulas ideais, a da poss
do 1iensameuto do senso comum cotidiano, tenho como de troca de pontos de vista e a da congruêocia dos sis
posto o fato de. que existem pe$S()as inteligentes, meus re!eYãneias - junt:is cODSti tu indo a lese geral da recip
hantes. lsso implica que os objetos do mundo são em prin- de perspectivas - são conslt·uçõcs tipific.adas de objetos
acessíveis a seu conhecimento, ou seja, conhecidos delas ou samento que resultam dos objetos de pen samento da min
eis de virem a ser conhecidos delas. Isso eu sei e vejo riêncfa pmticuhlr e da de meu semelhante. Através da
pressuposto fora de questão. l'vfa.~ também sei e vejo como dessas construções do pensamc.nto do senso comum pr
posto que o "mesmo" objelo deve signJficar alguma coisa que o setor do mundo por mim tido como pressuposto
nte para mim do que significa para qualquer de meus se- ê tido como pressuposto por você. iodivíduo,. meu seme
ntes. faso acontece JJorque: .ainda que é tido como pres-suposto por "Nós"_,. porém es
O M UNDO DAS RELAÇÕES S0Cl/\1S llliLAÇÕ!lS INTERATIVAS

lui apenas você e eu, mas "todo mundo que nos per- que afetam o outro e, JlOrlan lo, todas as ~,ricnlaçõcs e re
ou ,seja, todo mundo cujo sistema de relevâncias seja subs- mentos dentro da situaç.'ío face a face derivam seu sabor
ente (ou suficientemente) congruente com o seu e o meu. específico dessa irneu.iatidade.
te.se geral da reciprocidade de perspectivas Jc.va à ap,een-
objetos e de seus aspectos realmente conhecidos por mim Vamos primeiro olhar o modo como a situação faé
cialmente conlieci<los por você como o con hccimento de se constitui cio ponto de vista de um participante dela. D
Esse conhecimento é concebido como sendo objetivo e a tornar-se consciente de tal situação, o participante pt·ecis
, precisamente desligado e independente da definiç~o da Ee intencionalmente consciente da pessoa que o conftonw.
de meu semelhante_, das circunstfincias biográficas únicas ·de assumfr uma "orientação para o Outro"t face a face,
e cle!e e dos propósitos à mão reais e potenciais nelas lação ao parceiro. Vamos chamar essa atitude de "oric'.1l~
os. 0 Tu", e· então proceder à descrição de suas caractcMhc
termos " objetos" e "aspectos de objetos" têm de ser cipais.
ados no sentido mais amplo possível como objetos de Em primeiro lugar, a orientaçfo para o Tu é o mo
mento tidos como pressupostos. de eu c.star consciente de outro ser humano como uma
Já estou "orientado para o Tu" a partir do momento q
ii.heco uma entidade a qual vivencio diretamente co1:no ~
lha~te (como um Tu), a ela atribuindo vida e cons_c1~nc1
II . Relacionamento do Nós tanto deve ficar bem claro que não estamos aqui lidan
um i~lgamento consciente. Essa é uma experiência pré-pre
SITUAÇÃO FACE /1 FACE: ORIENTAÇÃO PARA O TU através da qual me torno consciente de um ser huma
e ou tra pessoa está ao alcance da nlinha experiência di - semelhante, como wna. pessoa. A orientação para o Tu po
ndo ela c.o mpattilha comigo u,n tempo comum e um es- ser definida como a intencionalidade dos Atos através d
mum. ];:la compartilha comigo um espaço comum quando O E"º capta a existên cia da outra pessoa no modo do eu
sente, pessoalmente, e estou consciente dela como tal e,
so, quando eitou consciente de]a ·como essa pessoa ela
0

Toda experiência
' '
º.
externa desse tipo no mod d o eu ongm ··
supõe a presença real da outra pessoa e mmha percep
esse indivíduo etn part.icular, e do seu corpo como o
como presente.
no qual estão em jogo os sintomas de sua consdêucia .
Ela compartilha comigo LUn tempo c-0mum quando sua Agora, queremos acentuar que é prectsamente ao "
cia flui lado a lado com a minha, quando posso, a qual- (Dasein) do Outro que se dirige a orientação para o T
mento, buscar e captar seus pensamentos conforme eles necessariamente às características específicas do Outro.
a exisli1·, em outras palevi-as, quando estamos "cnveihc- ceito de orientação para o Tu não implica consci~ncia do
untos. Pessoas assim, ao alcance da experiência direta se passando na mente do Outro. Na sua forma "pur~",
outra, estão no que chamo de situação ".face a face' ·. A taç.'ío para o Tu consiste tão-somente no fato de ser 11H
mente diri9-ida para o simples "estar lá" de outro ser
face a face pressupõe então, 1.1 ma simuftane.idade tcal
1
vivo e cou;ciente. Na verdade, a orientação para o O utr
uma das conentes de consciência distintas. Já ci:ctare-
6 um conceito formal, uma construção intelectmil ou, na
se ponto . . . quando tratamos da tese geral do alter ego. 1
lo~a de Husserl, um '1ünite ideal .' . Na vida r?a1, nunc
ago1·a a ela o corolário tlo imediatismo espacial do ciamos a ''existência pura'' de. oulros; em vez disso: cnco
m virtude <lo qual o seu corpo está presente para mim
m cam.po de expressão <le suas experiências subjetivas .
pessoas reais com características próprias e t~a_ços pc_:
orientação para O Tu como ocorre na vida coud1ana na
imediatidade espacial e temporal é essencial para a si- tanto, a orientação "pura" para o Tu, mas um ou oulT0
ace a face. Todos os atos de orientação para o Outro alllalização e dctermi11ação <leia .
O MUNDO DAS lillLAÇÕF.S SOCIAIS REL.~ÇÕES INTERAT IVAS

RELACIONAMENTO no N ÓS 1\fos o fato de cu ver estava observando a mesma coisa que eu . E se você,
mo um semelhante não quer dizer que eu também seja modo semelhante. coordenou as minhas experiências com
elh~ute para voe~. a não .ser que você esteja consciente então ambos podemos dizer que nós vimos uni pássaro
. E. é claro, é bem possível que Yoeê níío esteja pres- O relacionamento do Nós básico já me é dado pe
enhuma atenção a mim. A orientação para o Tu, por- faio de que nasci no mundo da realidade social diretam
ode ser unilateral ou recípi·oca. E unilateral se apenas um vencia.da. Desse relacionamento básico deriva a validade
pel'cebe a presença do outro. t recíproca se nós estamos de todas as minhas experiências diretas de semelhan tcs
ente conscientes um do outro, isto é, se cada um de nós ficos, e também meu conhecimento de que existe um
entado para o Tu cm rclaçiio ao outro. Dessa fonna se maior, o dos meu...~ contemporâneos. que não estou agor
, a partir da orientação para o Tu, o relacionamento ciando diretamente.
face (ou relacionamento social diretamente viYenciado) .
mos chamar o relacionamento .face a face, no qual os par-
stão conscienle$ um do outro e pat-ticipam simpaticamente CONVERSA NO R.El.AC10NAMENTO DO NÓS
as um do outro. não importa CJttão curta seja a sua du- plicar como nossas expcríências do Tu estão cnra.izadas
e "relncionamento do Nós puro':. i\·fos o r:rclacionamento éionamento do Nós vamos tomar como exemplo a conve
puro" é, da mesma forma, um concdto limitador. O 1·cla• ponhamos que você esteja me falando e cu esteja compre
nto social dil'etamentc vh•enciado na vida rea1 é o rela- o q11e você está me dizendo. Como já vimos, essa comp
nto do Nós pum concretizado e- atualizado, -cm n~aior ou tem dois aspectos. Em pr imeiro lugar, capto o ''significa
rau, e dotado de conteúdo. tivo" de suas palavras, o significado q11e elas teriam d
stremos isso çom um exemplo. Suponha que você e eu você ou por qualquer outra pessoa. Ma.s, é cluw. existe
observando urn pássaro em vôo. O pensamento npássaro signific.ado subjetivo, ou seja, aquilo q ue está se passando
n está em cada uma de nossas mentes, e é o meio pelo mente enquanto voei\ fala , De modo a chegar ao seu sig
a um de nós interpreta suas próprias observações. Nenhum subjetivo tenho de figurar a sua corrente de consciênc
contudo, poderia dizer se as experiências por nós vividas se ela estivesse correndo lado a lado com a minha. Dent
ocasião foram idênticas. l)e fato, nenhum de nós fria quadro lenho de interpretar e constrnir os seus Atos i
m<.) tentar responder a essa questão, já que o significado nais, enquanto voe~ escolhe as suas palavras. Na medida
r suhjetivo de uma pessoa não pode nunca ser colocado você e eu podemos vivenciar essa simultaneidade, envel
ado com o de outra e comparado. juntos Ótll'an te determinado período de tempo, na medida
podemos viver d.e ntw dela juntos, nessi: medida podemo
retanto, durante o vôo do pássaro, você e eu '~envcllie- os contextos de significado subjetivos um do outro. En
ntos"; nossas experiências foram simultânc.a$. Talvez en- nossa capacidade de apreender os contextos de significad
u observava o vôo· do pássaro tenha notado, pelo canto !ivos um· do outro não deve ser confundida com o relacion
que a sua cabeça se moyia na mesma direção que a do Nós em si. Pois, em primeiro Jugar: só chego ao se
Eu poderia entiio dizer que os dois, que nós, observamo.s fica<.lo subjetivo a partir das palavras que voce fala, e
o pássaro. O que fiz nesse caso foi coordenar no tempo os dados, e, então, perg1.mtamlo com~ você, chego~ a usar
ie das minhas experiências pessoais com uma série das palavras, Mas essa minha pergunta nao tena sentido se eu
s, ao faze.r isso, não vou além da afirmação de uma mera supusesse um relacionamento do Nós real, ou pe\o me
ndência geral entre o "pássaro em vôo" por mim perce- tencial, c11 h:e nós, l'ois ~ soment.e dentro do rclac,onam
s suas experiências. Não pretendo ter nenh um conheci- Nós que posso yivcnciru: concretamente você num deter
o conteúdo de suas experiências subjetivas ou do modo momento de sua vidá. Vamos colocar esses pontos em te
r pelo qual elas foram cshuturndas. É suficiente para uma fórmula: posso viver dentro dos seus contextos de
er que você é unt ser humãno, fncu semelhante , que cado subjetivos somente na medida cm que vivencio você
O MUNDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS RELAÇÕES INTERATIVAS

entro de um relacionamento do Nós atu<1lizado e dotado cionamcnto do Nós também pre.ssupõe que essas eKp
eúdo. ieuham "explodido" e que jú tenham passado. E nossa c
o vale para todos os estágios da compreensão de outra em retrospectica das experiências do Nós pode cair em .q
que envolvem atenção ao seu significado subjetivo. Pois ponto no continuum que vai da clareza má~itna até à c
s experiências que vivi da outra pessoa (acima de tudo completa. E ela pode ser caracterizada 1ior qualquer grau
nsão direta da outra pessoa), sejam elas harmônicas ou ciência, exatamente como a autoconsciência. Particul
ntes, têm sua origem na esfera do relacionamento <lo qu2nto maior a minha consciê,1cia do relacionamento
atenção no relacionamento do Nós, por sua vez, ampli:; menor o meu envolvimento nele, menos e,;tou me relac
cimento objetivo de outras pessoas, que adquiri através genuinamente com o meu parceiro. Quanto mais reflito,
pretação das minhas próprias experiências delas. Da mes- meu parceiro é trans[ormadti num mero objeto de pens
ma, amplia meu conhecimento objeth•o da pessoa especí-
vol vida comigo nesse relacionamento do Nós específico. RELACIONAMENTO FACE A FACE Se o r
os conteúdos da corrente única, não segmentada, do Nós mento do Nós puro fosse apenas uma modiíicação do
mpre se alargando e se contrnindo. Nesse sentido, o Nós namento social cm geral. ele poderia ser igualmente iden
ce com a minha corrente de consciência no seu fluxo de com orientação socjal direta e com interação social. lvfas,
. Mas essa semelhança é compensada por uma diferença. <)ade, o relacionamento do Nós puro se dá anies d
cionamento do Nós é e,Spacial como também temporal. c1uer dessas cobas. O relacionameuto do Nós puro é
e tanto o corpo quanto a consciência da outra pessoa. E mente uma forma recíproca de orientação para o Tu p
capto o que está se passando na sua mente somente at,-a- é, a consciência pul'a da pre.Sen.ça de outra pessoa. Sua p
meio que são os seus movimentos corporais que percebo, deve-se enfatizar, não seus traços específicos. O relacio
o de captar é uma experiência vivida por mim q_ue trans- do Nós puro envolve nossa consciência da presença um d
minha própria corrente de consciência. No eutanto, deve- e também o conhecimento de que cada um de nós es
izar que, dentre todas as experiências que transcendem o ciente do outr.o. Mas, se ,;amo~ i~r um relacionamento so
xperiência do Nós é a que está mais próxima da corrente mos de ir além disso. O <1uc se 1-e.quer é que a orientaç
ciência propriamente dita, o. Outro de cada parceito seja colorida por um conl1ecim
ém disso, enquanto estou vivendo dentro do relaciomanen- pecífico da maneira específica pela qual ele está sendo vi
Nós, estou realmente vivendo dentro da nossa corrente de outro parceiro. Isso, por sua vez, só é possívct dentro
ncia comum. E assim como preciso, num sentido, dar dade social diretamente vivenciada. Somente aqui. é qu
so para forn da minha própria corrente de con.sciência e olharc,s realmente se. encontram; .somente aqui pode-se re
ar" minhas experiências subjetivas quando vou refletir notar como é que o outro o está vendo.
las, a mesma exigência existe no caso do relacionamento Mas não é possível tomar-:se conscieote de.ssa ligaçã
Quando voe~ e eu estamos imediatamente envolvidos um entre o relacionamento elo Nós puw e o relacionamento
outro, toda experiência é colorida por esse envolvin1ento. face enquanto ainda se é participante do relacionamento
ida cm que vamos pensar sobre as expel'iências que temos E preciso que se sr.ia dele e o ext1mine. A pessoa que
junto, aí temos que nos distanciar 11111 do outro. Se va- um participante do relacionamento elo Nós não o· vive
alizar nossa atenção no relacionatneoto do Nós, temos que sua forma pura ou~ majs precisamente, como uma Con
de focalizá-la um no outro. Mas isso significa sair do de que a outra pel.'soa "está lá". Em vez disso, ela simpl
am.cnto face a face, porque somente nesse último 6 que vive dentro do relacionamento do Nós, na totalidade ·.de
dentro do Nós. E aqui, podemos aplicar, em maior es- teúdo concreto. Noutras palavras, o relacionamento do N
do o que dissemos sobre o tempo fenomenal cm nossa aná- é um simples conceito limitador, que se usa na tentativa d
Ego solitário. A atenção nas experiências vividas no rela- a uma captação tc6rica ela situação face a face. i\·1as não
O MUNDO DAS l{])LAÇÕJ!S SOCIAIS RET.AÇÓES t N TERATIVAS

ias concrctus específicas. que corre.spon<larn .a· ele. ·Pois elo meu pr6prio passado (na medida em que este último
ênci3s concrct2s que de fato ocMrem dentro do 1·elncio• captado em retrospectiva) do que do do meu parcei,·o.
do Nós, na vida real, captam seu objeto - o Nós - t,anto, nunca estive face a face com igo mesmo c.omo est
a coisa única e que não se l'epete. E o fa1.em ab·av~.s com ele.; daí eu nuncn n1e pegar no ato dt vivenciar atu
to intencional único, não~segmenta<lo. uma expel'iência.
elacionamentos do Nós concretos exibem mUitas difc- Para esse· encontro com a outra pessoa, trago todo
tre sL O parcclro, por exemplo, pode ser vive.nciado em que de conhecimento previamente constituído. Isso incl
graus de imediatidade, diferentes grnus de intensidade o conhecimento geral <lo que outra pessoa é, cm gct·al
ntes graus de intimidade, ou ele pode ser vivenciado <l~ qualquer conhecimento específico que cu possa ter sobre
e vista diferentes. Pode aparGcer d,mtro do cçnt1·0 de em questão. Inclui conhecimento dos códigos de interpre
u ná sua periferia. outras pessoas, seus hábitos e sua lin.,'llagem. Inclui conh
. distinções aplicam-se igualmenlc a rclacfonamemos de dos "motivos a fim de" e "motivos por que" presSUJ?O
o e a interações sociais, deternúnando em cada uma delas outros em geral e dessa pessoa em p,,rticular. E quan
direto ou indireto como os parceiros " conhecem" um face a face com alguém roeu conl1ecimento dessa pessoa
Comparemos. por cxcmp10:1 o conhecimento que duas a cada momento. Minbas i<l6as dela passam pot rcvbã
êm uma da outra na conversa com o conhecimento que nua., c()ruorme a experiência concreta se desenvolve. Pois
uma da outra no relacionamento sexual. Oue graus difc• relacionamento social direto é uni Ato intencional isol
intimidade ocon·cm aqui, que níveis diferentes de cons- contrário, consi.ste numa série contínua desses Atos. O r
stão envolvidos! Não só os parceiros v ivenciam o Nós men(o de orientação, por exemplo, consiste numa série
undamente num caso do que no outro, mas cada um se de ,\to~ intencionais de "orientação para o Outro".• enq
a si próprio e a seu pare.eixo mais profundamente. N,io intcraçiio social consiste numa série contínua de Atos q
bjeto, portanto, que é vivenciado de um modo mais ou belecem sigiúficado e interpretação de significado. Tod
reto; é o próprio relacionamento, o estar voltado para o diferentes encontros com o meu semelhante são orden
relação. diversos contextos de significados: são encontros com
stão ape~1as dois tipos de relacionamento. Consideremos, h.umano, genérico, com esse ser humano cm particular, e
diferentes modos como eles podem de fato ocoxrer! A ser humano cm particular nesse determinado momento.
por exemplo, pode ser animada ou insípida, tensa ou meus contextos de signficados são "subjetivos" na me
riu ou leve, superficial ou bastante pessoal. que atento para as suas próprias experiências conscien
to de C(Ue podemos vivenciar outros de modos tão di fe- e não simplesmente para as expcriGncias que eu próprio
e diretos ou indiretos é muito importilnte. ll, aliás, a você. Alén1 disso, quando observar você, vexei que v
ra compreender a transição da experiência direta dos olicnta<lo para mim, que- você está procurando o signific
ra a indireta, que é característica do mundo dos meros jctil'O das minhas palavras, das nú11has ações, e o que t
râneos . . . mente no que lhe diz respeito. E, de meu lado, vou not
primeiro lugar, recordemos que na situação face a face de você estat assim orientado p,u·« mim, e isso vai in
te vejo o meu _parceiro diante de mim. Enquanto olho tanto as minhas intenções quanto as minh2s ações com
e seus gestos e ouço o tom de sua voz, torno-me cons• você. Mais uma vez, você vai perceber isso, vou perc
muito mais do que aquilo que ele deliberadamente está você percebeu, e assim por diante. Esse cn,zamento de
me comuni'cat , Minhas observa~ões acompanham cada esse e~pelhmnento um do outro, de mil facetas, é um d
de sua corrente de conscitncia coofotme ele transpira. únicos da situação face a face. Podemos dizer que é uma
ultado, estou incomparavelmente melhor sintonizado com rística que constitui esse tipo de relacionamento social e
e comigo mesmo. De fato, posso estar mais conscien l~ cular. Entretanto, devemos lembrar que o relacionamento
O MUNDO DAS RBT.AÇÕES SOCIAIS l\ELAÇÕES INTERJ\'J'IVJ\S

é a forma básica de todo encontro com outra pessoa. Temos eotão o mesmo ambiente comum e não-se
ado rejl.e:âvamenfe· dentro da situacão foce a face. Em que podemos chamar de "nosso ambiente". O mundo
servado, é vivenciado. As d iversas ·imagens de espelho não é privado de nenhum de nós, mas é no$so milndo,
ntro do Et1 não são, portanto, captadas uma por uma, mundo inte1-subjetivo comum, que está bem à nossa
ciadas d~ modo contínuo, numa experiência única . Den- somente do relacionamento face a face, da experiênci
idade dessa experiência posso esiar consciente simul- do mundo do Nós, qtte o mlllldo infc,-subjctivo pode ser
e do que está se passnndo e-m minha mente e na sua, do. Esse é o único lugar a partir do qual ele p0de ser
o as duas séries de cxperiêm:fas como uma só série Posso checar constantemente as minhas interpretaçõ
que estamos· vivenciando jumos. estn se. passando nas mentes das outras pessoas devido
ato é especialmente importante na ~ituação face a face. de que no relacionamento do Nós compartilho um
o ser testemunha dos seus projetos e LamMm de sua comum c-om elas . Em princípio, é somente na situação fa
ou fn1stração, na medida em que você parte para a que posso endereçar uma petgllllla a voct. Mas não
claro, =a vez que sei o que você está planejando tespeito de que códigos de interpretação você está apli
posso momentaneamente suspender o relacionamento nosso ambiente com1un que posso lhe indagar. Tamb
filn de estimar obietivamente as suas chances de su#
pcr&'Unla1· como você está interpretando as suas exper
é somente na. intimidade do rclacionamcn to do Nós
no processo, posso con·igi.r, expandir e enriquecer a m
se pode de foto vivenciar un1 curso de ação a partir pri.a compreensão de você. Esse tornar-se consciente da
ou inCOlTeçâo da minha compreensão de você é um n
cimento comq projeto até seu resultado final.
alto da experiência do Nós. Nesse nível, não só enriqu
essencial na situação face a face é o fato de você e nba experiência de você, mas das outras pessoas em g
o mesmo ambiente.• Em primeiro lugar, atribuo a v<X:ê
n te correspondente ao meu próprio. Aqui, na situaç.ão
e, e somenie aqui, é que essa hipótc.sc se comprova. rnST.EMUNHO RECÍPROCO Se sei que você
em que posso supor~ com mais ou menos cctlcut. no encontramos num relacionamento face a face, também s
ocial diretamente vivenciado, que a mesa que vejo é coisa sobre a maneira como cada um de nós está sinfoni
e idêntica em todas as suas vadações de perspectivas) ·as suas experiências conscientes~ noutras palavras, as u
e você vê. na medida em que posso supor isso, mesmo ções de atenção" de cada um de nós. Isso significa qu
r a1ienas meu contemporâneo ou predecessox. Portanto, como nós atentamos para as nossas experiências conscien
ou numa situação face a face com você, posso apontar mente modificado pelo nosso relacionamento ttm com
ma coisa em nosso ambiente comum, articulando as pa• Isso vale para nós dois. Pois só existe. um relacioname
ta mesa aqui" e, por meio da identificação de expe- verdadeiro s.e você retribui a roin ha consci6nci_a de voc
venciadas do objeto ambiental, posso assegurar a ade- maneira ou de outra. Logo que isso aconteve: logo que en
meu código de interpretação ao seu código de expres- situaç-ão face a face, cada um de nós começa a ~tentar pa
a vida social prática, é da maior imporr.1ncia o foto de próprias experiências de Ullla maneira nova. Essa modif
considerar jttstiiicada a minha equação da minha pró- atenção em particular, na qual os dois parcelros de um
retação das experiências que vivencio com a sua inter- mento social diretamente vivenciado estão mutuamente
as suas nas ocasiões em que estamos vivenciando o tes um do outro, tem in1plica,;ões especiais oo que to
jeto. ração social que ocorre nessa situação. Sempre que e
interagindo com alguém, tomo como pressuposto, como u
hie.nte" quero <lize.r a parlê do mun<l◊ exterior que posso
tante naquela pessoa, um conjunto de "motivos a fim

.
retamente. Isso incluiria não s6 o ambiente físico~ .nos t.l!llbém
m Lodos os seus Artefotos culluro..i:s.. lín~uos, etc.
umotivos por que.... genuínos. Faço isso com base ua
pxóprias experiências 1iassadas daquela pessoa em p
O M U NlJO lJAS RELAÇÕES SOCl,US RELAÇÕES I NTERATIVAS

o das pessoas em geral. O m.t:u próprio compo1iamento


o a essa pes~ou é base-ado primeiramente. na sua consLe- III. Observação Social
motivos pressupostos, independentemente de se eles são
us motivos ou não. E aqui emerge a peculiaridade da
ace a face. Não consiste num..i estrutura específica do OllS!iRVAÇÃO DTRET,I Até aqui c.~tivemos e
e. motivações recíprocas em si, m~s numa descoberta o r~lacionamen to wcial diretamente vivenciado a fim de
dos motivos da outra pessoa. Mesmú cm interações face as características peculiares da .siluação face a face cn, s
projeto em fan lasia o comportnmento da outra pe,ssoa, mais pura . Nossa análise seria incompleta, porém se nã
1

semos do caso quando estou conscienie de outra pessoa


o projeto a minha própria ação. Es.sa fan(asia é, sem
que ela não está conscia11te de mim. Especialmente im
mplesmente o comportamento espérodo do oulro, ainda
talhes, e sem qualquer co1úirmaçãú. Ainda tenho de sob esse aspecto, é a observação do comportamento do
o meu parceiro vai , na re.1lidade, faze,. Mas porque Análise de tal observação é, aliás, a clrnve para a com
passamos continuamente por modificações de atenção da maneira como sflo estabelecidos os dados das Ciê
ciais . . .
to um ao outro, no relacionamento d,, Nós, posso real-
nciar e participar na constituição do seu context.o mo• ... Nossa tarefa vai ser esclarecer o tipo especial d
Interpreto as experiências vivenciadas presentes que tação para o Tu" que o observador toma com relação
você como os "motivos a fim de" do comportamcn(o que está observando diretamente. Vamos atentar espe
de você ou como conscqüênda:s de suas experiências para os modos como seu código de interpretaçii() difere
que, então, vejo como os seus "n1otivos por qucu. usados no rdacionamenlo face a face.
a minha a,;;.iJ;o para esses seus conlex(os motivaciona.is No relacionamento face a face, a orientação para
:'orienta" a sua pata os meus. No entanto, c.sse "orfon 4 recíproca entre os dois parceiros. Na ohscrvaçfio social d
lugar dentro do domín io socinl diretamente vivenciado entanto, efo é unilateral. Tmttginemos um caso da última.
especial de "testemunho". Quando interagindo com que eu e;teja observando o comportamento de alguém, e
o desse domínio, eu testemunho como você te.age ã!U pc,soa ou não saiba que está sendo observada ou nã
ortamento: como você interpreta o meu significado, ro prcsc~mdo atenção a isso. O pr◊blema, agora, é.: Como s
us ªmotivos a fim de" engatilham "motivos por qu~•, está se passando em sua menle? Bem. mesmo se eu
entes do seu eompo1iamen(o. Entre a minha ~xpccfo- simplesmente observ<fndo. seu corpo é ainda assim um
reação e a sua rc.aç.ão em si, "envelheci" e fiquei talvez <le expressão da sua viela interior. Posso, quando a observ
, levando em conta as realidades da situacão assim como signos de suas experiências conscientes as tninhas
has ptópdas expectativas do que você pcd~{i~ fazer. percepções de seo corpo. Ao fazer isso, levarei em co
1aç~o face a face. você e eu envclhe<;emos juntos e posso movimentos. palavras, etc ., como evidência. Vou focaliza
mmha expectativa do que yocê vai fazer a visão rc:il atenção nos contextos de signiíicados subjetivos, ao inv\!
mando sua decisão e, depois, de sua ação em si, em objetiv(>S, das indicações que percebo. Como um observ
uas fases constitutivas. Dm·ante todo esse tem1io, esta- reto posso, assim. com um olhar, absorver as manifest
entes da corrente de consciência um do outro comv ou "produtos" - e os processos que constituem as exp
ânea à nossa; compartilha.mos um l'elacionamento Jo conscientes por tt·ás delas. 1sso é possíyel porque as exp
concreto, sem nenhuma necessidade de refletir sobre que o Outro vivencia estão ocorrendo si multaneamente à
iscar de olhos vejo todo o seu plano e a sua execuç,,o inie1~prctayões objetivas de. suas palavras e. geslos.
O episódio da minha biografia est.á cheio de experiên- O corpo da outra pessoa está q uasc tão presente
uas que vivenciei de você, captadas dentro do rclacio- observador quanto está presente para alguém que pari
o Nós; enquanto isso, você está me vivenciando da um relacionamento socia l com ela. Suas palavras podem
ma, e e.stou consciente desse fato. das e. se-tis. gestos vistos: h,1 uma riqueza tão grande de in
'
O MUNDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS REt.AÇ'-ÓES INTERATIVAS

da interior como no caso de um relacionamento di reto. pode projetar seu próprio "motivo a fim de" de tal m
riêocia adicional que o observador tem da outra pessoa ele se torne o "motivo por que" do observado. O ob
seu conhecimento dela. Seus dois ambientes são con• não po~e julgar a pa!'tir do mero comportamento dõ O
, portanto, suas expeliêncfas conscientes provavélm,entc esse último est.í ou não conseguindo desenvolver seus pla
ondem. Mas essa probabilidade não pode, em princípio, casos extremos, como quando se vê um movimento ex
a à categoria de certeza. Aqui, a situação difere da• ele até pode estar em dúvida quanto a se está mesmo obs
se obtém de um relacionamento face a face. Nesse um~ ação. Talvez seja puro comportamento sem propósit
sso verificar à vontade minha hipótese de que minl1as está observando.
as correspondem à$ . da outra peswa . Posso fazer isso
apelo direto a um objeto do mundo exterior que seja
nós dois. Mas em qualquer observação social dirétii,
OBSERVAÇ.ÃO E INTERPRE'l'AÇ.ÃO o observa
procura in!er-prctar as motivações de se:i sujeito terá de
forn de um l'elacionamento social, a minha interpre- foze.r com três tipos indil'etos de abordagem:
comportamento de outra pessoa não pode ser testada
ulo-in{erpretação dela próprit1, a não ser, é dato, que 1 , Pode procura_r em sua· memória ações suas sim
de papel e passe de. observador a 1iarticipante. Quando encontrando-as, pode ttrar delas um princípio geral com
à relação _de seus "motivos a fim de" e "motivos por qu
fazer perguntas à pessoa observada, não sou mais um
ervador. No entanto, é pICciso aeentU,w o fato de poçle, enta~, supor que esse piincípio vale para as ações d
servaçiío social direta p ode ser convertida à vontade pessoa, assim como para as suas, e ir adiante, interpretar
d,i outra pessoa "colocando-se cm seu lu~ar·'. 'Essa leit
cionamento fac-e a face, assim tornando possíve1 essa
ão, cnqu2nto o mc.smo não pode ser àito con1 respeito à motivações hipotéticas de alguém. no compo;amento de out
o de simples contemporâneos ou predecessores de, ocom:l' na ho~a ou attavés de uma consideração posterior
poderia ter feito a pessoa ágir como agiu .
vez que a "orientação para o Tu" do observador com , 2. Na falta de tal guia de. ação, ele pode recorre
propno conhecimento do comporwmento costumeil'o da
seu sujeito é unilateral, o contexto de sigui.ficados subje-
ue ele interprem as experiências vividas pela outra pessoa obs~'.-vada e, d~í deduzir os ."?lotivos a fim de" e "moti
que desta ultuu?. Se um visitante de Marte en(1'asse nu
reciprocidade. Está ausente, portanto, a característica
de aula, num tribunal e numa igreja, a aparência exte
amento mútuo, multifacetado, do relacionamento 'face a
três lugares lhe pareceria bastante semelhante. A parfu cio
e o comeúdo da consciência dos dois parceiros é mutua-
entificado. O comportamento da pessoa observada, em
_ibs internos dos três ele nfio poderia compreender qual a
das pessoas que os dirigem. !\-las se lhe dissessem que um
rientado" em relaç.'io ao comportamento do observador,
professor, o outro um juiz e o terceiro um padre, ele seri
amente independente dele. O participante de um rela- capaz de interpretar suas ações e atribuir-lhes motivacõ
o face a face sabe, com probabilidade ou certeza, que
tamento de seu parceiro é odcntado na dii:cção do seu, 3. Mas pode acontecer de faltar ao observador· i
mesmo consciente das modificações na atenção por tJ·ás çfo significante sobre a pessoa que ele está observando.
iências conscientes de seu parceiro. Ele pode comparar tuno recurso será, então, tentar inferir o "motivo a fim
dificações d.e atenção com as suas próprias em relação ao ~to, pergwuando se tal e tal motivação levada ao ato em q
Ao observador falta esse acesso às 1nodificações de aten- Ele deve, enquanto observa a aç.ão em curso, interprcW
utra pessoa; ou, pelo menos, ele não pode adquirir ne• termos do efeito que- realmente tem, e supor que esse efe
formação sobre essas modificações olhando para a sua que foi pretendido.
onsciência. Nem está ele em posição de influenciar o t óhio que esses três tipos de COJJJpreensão de ruo
mento do obsen•ado neiu ser influenciado por ele. Não não oferecem a mesma segmança. Quanto mais distante d
O MUNDO DAS RELAÇÕES SOC1A IS ltE LAÇÕES ll<'];F,R;\'rTVAS

nto do Nós concreto (e, po,tanto, mais abstrata) a inter• a assim chamada "falta de interesse" ou dcsligamertto do
menor a chance de· acertar. O segundo tipo de com- vador. Ele não está envolvido com as esperanças e me
, por exemplo, iria cair neste tipo de armadilha: o padre at◊r, não se importa se eles vão ou não chegar a se com1
do púlpito poderia não estar fazendo nenhum sermão. O um ao outro e atingir seu fim atrnvés do entrelaçamento
tipo corre o risco de pulai· do ato concreto para o "mo- tivos. Assim, seu sistema de relevâncias difere daque
m den, risco esse ainda maiol', já que o ato pode não partidos interessados e lhe permite ver, ao mesmo tempo,
como o ator pretendia. menos do que está sendo visto por eles. i'vlas, em todas
caso da tcn(ativa de dcscobHr os rrmotivos por que" ge- cuostâncias, são apenas fragmentos de ações manifestad
de outra pessoa, diminui consider~veinientc o contraste ambos os parceiros que :são acessíveis à sua observaç&o. A
rticipação e mera observação. Aqui o obse.rvador não está co mpreendê-los, o observador (em de se valer de seu c
ção pior que a do participante no rela.cionainenlo face me.nto de padrões tipicamente similares de interaçiio cm c
Mesmo esse último é forçado a reconstruir os motivos de situações tipicamente similares e tem de construir a.s
parte.i ro ex post facto. A únicn vantagem que o partici- ções dos atorc.s a partir daquele setor do curso de ação fr
reto· tem é q\re os dados dos quais parte são mais ví- do U sua observação. As con~truçõcs. do observador sã
tanto, diferentes das usadas pelos participantes na intera
observação direta de reladonamentos sociais é, com cer- por nenhuma outra razão, pelo fato de que o propósito de
ais complicada do que a observação do comportamento vador é diferente daquele dos atores ·e , cooscqücnt~mente
al. No entanto, em princípio, não difere de.la. Também temas de relevâncias ligados a esses -propósitos são també
observador precisa apoiar-se em sua expetiência de rela- rentes. Há uma mera chance, cmboi-a uma chance suficien
ntos sociais em geral, desse relacionamento social em par• muitos fins práticos, de -poder o observador, na vida diária
e dos parceiros em particular agora envolvidos. Os có- o significad<> subjetivo dos atos do ator. Essa chance a
interpretação do observador não podem ser idên ticos aos com o grau de anonim~to e estandardização do compor
quer dos parceíros pela simples razão de que essas modi- observado.
de atenção diferem. da deles de modo fundamental. Além
e está consciente de ambos, enquanto eles só estão cons-
um do outro. l'odc até acontecer de conbeccr ele uma
soas melhor. do que ela é conhecida pelo seu parceiro e
ortanto, mais bem familiatizado com seus códigos de intet·
. Assim, o ouvinte não-pmticipante pode ver que. dois
s numa discussão estão meramente conversando wn após
enquanto eJe.s próprios podem estar totalmente incons-
disso. Por outro lado, o observador está em desvantagem
comparado aos participantes: já que ele não est{, sempre
s "motivos a fim de" de um participante, mal pode iden-
s com os "motivos por que" do outro.

o OBSERVADOR O observador não participa dos


ados reflexos de espelhos pelos quais no padrão da inte-
ntre contemporâneos os "motivo;.) a fim de" do ator se
compreensíveis para o parceiro como os seus próprios
s por que'J e vice-versC1!J. Precisamente esse fato c<.1n.stitui
9 COMUNICAÇ.~O ENTRE PESSOAS

par de aprcsen(açiío pode também ser uma lembrança, o


COMUNICAÇÃO ENTRE PESSOAS um fantasma; recordo (ou: posso imaginar) a express
de meu amigo quando soube (ou souber) de certas más
l'osso até mesmo fantasiar um centauro de cara triste;
o resultado ou produto da atividade de outra pessoa
à ação d3 qual resultou e, assim, pode funcionar como
para as SU3S cogitações; iii) q_uc se pode aplicar o prin
irrelevância relativa do veículo (a conferência impressa
à conversa do professor).
Veículos de Pensamento
Ê vcr<lade .que., como afirmou Husserl, qualquer com-
o do pensamento do outro - sempre ignorando a telepa- Manifestação
requ.e r como veículo., intermediário ou meio a apreensão
ob1eto,_ falo ou evento no mundo exterior que não é, con- Que um objeto, fato ou evento no mun do
preendido meramente c_omo um eu no código de apctcep- seja inte1·pretado como signo da cogit.ição de um semelh
as de modo apresentatwo, exprecSsando cogitncões <le um pressupõe necessariamente : i) que o outro tenha queri
nte. O termo Hc.ogitaç.ão" é aqui usado no sê'nlido cai·te- festar sua cogitaçiio por meio desse signo e menos aind
ais .amplo, denotando sendmcntos, voliçôes, cmoçôcs, etc. o tenha feito com intenção ele comunicação. Uma cxpre.ss
os, d~ntro_ deste trabalho, o uso do termo "signo" para involuntária, um olhar furtivo, corar, tremer, o modo
ob1<::ws, fatos ou eventos do mundo exterior cuja apreen- do outro, em suma, qual.q uer evento fisiológico pode
e.senta a u1u intérprete cogiLãçõcs de un1 semelhante. pretado como signo da ,;ogitaçiio ele um semelhante. U
hesitação na voz do outro pode me con vencer de que
mentindo, embora ele tente escondê-lo. Aquele que esc
carta quer tTansmitir uma mensagem, mas o grafólogo ig
A preensão cc.mteú<lo e vê a caligrafia em si, isto· é.~ o resultado est
gestos não-intencionais desempenhados por quem escrev
_Os obje_tos, fotos e eventos que são interpretados como signos; ii) se o signo foi (c.ito para funcionar num co
>rec1s~m, dm~ta ou i~1dir_ctamente, rcfC;;rfr-se à exist~ncia comunicação, não foi necessariamente dirigido ao intérp
o ouü o. No caso ma,s Sllllples, o de um relacionamento além disso, não é necessário que os dois parceiros de um
a~e, o ~arpo do_ ou tro, os eventos que nele ocorrem (corar, signo comunicativa se conheçam (exemplo: quem quer
mclus,vc movimentos (relr3i1uento, aceno) e atividades que tenha erigido essa placa quis mostrar a qualquer
desempenhadas (conversar, caminhai·, manipular coisas) , o rwno) .
ser apreendi.dos pelo inlétptctc como sianos. Se não há
amelito face a façe, mas distânc.i2 1{,, te~po e no espaço.
e mamcr cm mente: i) que apreensão não prcssupüe ne• Três Tipos de Signos
mente percepç.ão real, mas que o membro apresentador do
Em seu excelen te livro Der Aafbau der Sprac
o, dos seguintes itens da Bibliogral'ia: l9.5.5b, 1€6, 16b-ó7, 167, no Snell desenvolveu uma teoria das três formas básicas
8-70, 170-il; 194'ic, 542-43, 54,-44; l955b, lil•i2·, 195 1b. Si-92
96. 96-97. . . •
r (Harnbtrrio, 1952), cap,. 1 e 2.
O MUNDO llAS REL,1~·ÕES SOC-í,llo CO~IUNICAÇ.~0 ENTRE PE-SSOAS

orporal que, de acordo com ele. têm como corolários tipos fação do comunicador (ielefone, televisão), nem que a
, de sons, pafovras;elementos moríol.ógicos, as cstrulu1·as do sif;710 ocorra simultancamcu lc à sua inlctprctac;ão
das Hnguas ocidentais:. fot1nas de literatura e mesmo egípcios, monumentos), nem que o mesmo objclo 011 even
Filosofia. Ele distingue movimentos propo,i.tais, expres- usado pelo comunicador como veículo de comunicação sc~
miméticos (Zu,eck-, Ausdrucks-, 1111d Nachahmw1gsbewe- dido pelo intérprete (princípio da frrelevância relativa do
A primeira caiegoria, os movimentos propositais, pode Em casos mais complicados de comunicação, que não po
em gestos, tais como balançar a cabeça em sinal de csiudados aqui, qualquer número de seres humanos o
o, aponta!'., acenar~ mas também conversar; a segunda, sitivos mecânicos poderia ser inserido no processo da
mentos expl'essivosJ são exteriorizações de cxpctiêndas cação entre o comun icador otlginal e o intérprete. O po
inicialmente sc.m intcn~·llo proposirni; a diícrcnciação cs- ilnportante no que se sc.g uc t5 a visão de que a comunic
mporal dos movimentos, ou seja, suas qualidades de alto quer en1 todas as. circunstâ ncias Lanto e.ventos no mundo
largo e estreito, rápido e lento. dá a certos gestos o seu produzidos pelo comunicador, 4uanto eventos no mu
do expressivo; s terceira c.atcgoria, o gesto rtJ.imético, imita terior apreensívefs para o intérprete. Noutrati palavras, a
senla outro ser com quem o ator se iden tifica. As danças cação só pode ocorrer dentro da realidade do mwulo ex
ou de ícrtili,fade bem conhecides do antropólogo são ii) O signo usado na comunicação sempl'e é pré
disso. Snell também afirma que o gesio proposital puro tado pelo comunkador nos termos da. inte.pretação qu
an1cteristfcas expressivas, por exemplo, o diapasão e a da pessoa a quem o <llligh1. Pai-a ser corrtpi-ccn<litlo , o
e da voz na conversa, e todos os três tipos de 11estos c.:idor tem, antes d-e produzi!' o signo, de antcdp~r o c
er usados com propósitos de eomuokaçãÕ (por ~xem- percepc,:ão, de ap!'esentaç-ão e de referência segundo ú qua
essivos, JJelo ator no p~lco, miméticos, na pantomima) . pretc o V:3i catcgolizu.r. l'ol'tanto,_ e comunicador tem qu
o com Snell, o g.::sto proposital indica o que aquele que penhnr. por assim dizer, um ensaio da interpretação e
nha quer, o expressivo o qne ele sente e o mimético o e estabelecer entre as suas cogitaçõC!> e o signo comunica
é ou pretende ser.
contcxtú lal <[\fé o intérprete, guiado pelo código de apre
gestos expressivos e miméticos (ou, em nossa termino- que vsi aplic.:ir ao .signo, encomre nas cogitaç.ões um
nos) são de importância especial como fundamentos de do código de tefer€ncias a elas relacionado. Esse con
e apl'csentaçffo superiores, isto é, símbolo$. A comunk-a- nada mais é, porém, do que o próprio código de intcr
riamente dita está baseada principalmente em signos pta• Noutras palavras, a comun icaç.5o pressupõe que o c6<ligo
pois aquele que comunica tem pelo menos a i11 tenção de -pret<1ção que o comunicador rdaciona e aquele que o i
ntender pela pessoa a quem se dirige, se não de ind11zi-la vai reladonar com o ~jgno de comu1llcaçffo em questã
apropriadamen te. Mas é preciso preencher certos requisi- tlam substancialmente.
que a comunicaç.ão se torne possível. iii) A qualificação grifada é imporiante. No sen
trito, é impossível, pelo menos no mundo cotidiano do s
f
mum, umn identidade totul de a.mbos o:; c6<ligús <le inter
Signos em Comunicação o do ~omunica<lor e o do intérprete. O código ele imerpr
estrci tamenre determinado pela siiuaçiio biográfica e pelo
i) O signo usado na comunicação é sempre um signo de relevâncias que se oi-igina dela. Se não houvesse out
u um indivíduo ou intérprete anônimo. Ele se origina re1,1ças cn ln; as t;ltuações biográficas do comunicadoi- e
a esfera real de manipulação do comunicador, e o intór· p(cte, então haveria, pelo menos, <> foto d~ o "Aqui" de
preende como um objeto; fato ou evento do mundo ao ser o "Ali" do ouiro. Esse foto, por si só, estabelece limi
ce. . . Não <Í nece.ssário que o mundo ao alcance do peráveis para o sucesso total da comunicação, no sentid
coincida, em lermos de espaço, com a esfera de manipu- Mas: é clnto_, a comtmic:.aç.ão poderia ser, e de fato é, a
O MUNDO DAS REl, AÇÕES SOCIAIS COMUNICAÇ.40 ENTRE PI;SSOAS

cedida para diversos fins bons e úteis, e pode alcançar relações entre proposições . .. E da essência da língua o
to ótimo em linguagens altamente formalizadas e padro- que, normalmente, qualquer comunicação lingüísiica env
como a terminologiu técnica. Essas considerações, aparen- processo de tempo; uma fala é construfda de sentenç
de natureza excessivamente teórica, tê-m importantes con- seotcnça é constrnída da articulação, passo a l'asso, de el
as práLicas: a comunicação bem sucedida só é possív-cl sucessivos (politeticamente, como J-Iusserl chama isso), e
ssoa.~. grup0s sociais, nações, etc.~ que cõmpattilham wn o significado da sentença ou fala pode ser projetado l'elo
de relevâncias essencialmente similar. Quanto maiores as ~ captado pelo ouviote de uma vez (monoteticamenle). A
as entre seus sistemas de relevâncias, menores as chances de cogitações ar(iculadas do falante é, assim, simultânea a
so da comunicação. A disparidade completa dos sistemas exterior da produção dos sons da fala e da percepção de
âncias impossibilira inteiramente o estabelecimento de um ma, atrnvés das cogi Lações de compreensão do ouvinte. A
de discurso. portanto, um dos processos de te,npo in tctsubjetivo - ou
l'ara ser bem sucedido, qualquer procc,sso de con,uni- fazer música em conjunto, dançar em conjunto, fazer ,
recisa, portanto, envolver um conjunto de abslrsções e pelos quais os dois fluxos de tempo interior, o do locu(o
ações comuns. l\foncionamos ... a congruência ideal do ouvinte, tornam-se sinc1u11icos, um com relação ao outro
úe relevâncias, que leva à coi.nci<lência dos objetos .de com relação a um evento no tempo exterior. A leitura
nto da experiência privada por meio da tipific,iç.ão de comunicação escrita estabelece, no mesmo :sentido, um
õ~s <le objetos de pcnsamcn(o públicos . A Lipificação é de simultaneidade entre os eventos dentro do tempo intc1iot
orma de abstração que leva à conceituação mais ou menos escreve e do que 16.
ada> embora mais ou menos vaga, do pensan1ento de.:>
omum, e à necessária mnbigüidade dos tennos do ver-
comum. Isso é assim potque noss~, cxpcti~ncia, mesmo Comunicação Oral
Ilusserl chamou de a esfera "pré-predicativa", é organi-
sde o princípio, a partir de certos tipos. A criança pe-
As ações sociais envolvem comunicação, e q
ue aprende a língua maierna é logo capa1, de reconhecer
mal um cachorro, um pássaro ou um peixe, e num ele- comuniêacão é neccssarfamcnte fumlamcntad~ en1 atos
e seu ambiente u ma pedra, uma árvore ou uma montanha. ba1J10. A 'nm de me comunicar com outros, tenho de desem
ça de mobiliário uma rocsa ou cadeira. Mas, como mostrn atos nb-e1ios para o mundo cxte!'iot que sctão, supostament
sul.ta ao dicionário, esses são O< termos mais difíceis de, pretados pelos outros como signos do que quero tra
r na linguagem ordinária. A maioria dos signos de comu- Gestos, fala, esct'iea, cLc. , cstijo baseados em 1novú11ento
são signos de língua, de modo que a ti.riificação neces- rais. Até aqui se justifica a in(erpretação behaviorista d
uma padronização suficiente é provida pelo vocabulário e nicação. Ela ena ao iden(ificar o vc.fculo de comunicação o
rutura sintática do vernáculo comum da língua materna. ptccisamente, o a.to de trabalho, com o próprio sigiúficad
nicado.
Exmni.uaremos o mecanismo da com.unfo~ção do p
vista do intérprete,. Pode me ser <lado à interpretação
Presentação Lingüística tado já pronto dos atos de comunicação do outro; ou pod
tecer que eu alen(c pata o processo em curso de suas a
A csttuhirn da linguagem como conjunto de signo, munic.itivas, como elas ocorrem, simultaneamenlc a da
veis sob regras sintáticas, s11a função como veículo de último tipo de relaçfo prevalece, por exemplo, se esLou
nto di_scursivo (de proposição), seu poder, não só para a conversa do meu parceiro ... Ele constrói o pensamento
coisas, mas também 1,ara expressar relaçõc.s c.nlre elas, quer traosmitfr passo a passo, adicionando palavra a palav
para construir proposições, mas h1mbém para formular tença a sen.tença, parágrafo a parágrafo. Enquanto faz isso,
O MUNDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS COMUNICAÇÃO ENTRE PtSSOAS

intcrprcração seguem no mesmo rit,no as dele de co- tempo ~nvol vi<la nela" Temos agora de c,:,nsiúci-ar as funç
ão. Nós dois! eu e o outro, vivenciamos o proces~o d~ cíficas dos movimentos corporais do outro, enquanto c
ação en1 cur.so num "prc.scn lc- vfyido". Ao atticul.a t seu expressão aberto à interpreíação, como signos do pensa
nto quando fala em frases, o comunicador não vivencia outro. Está claro qt1e a exten~ão desse campo. mesmo se
quilo que de raio di~; um complicado mcc,inismo de re- nic-ação ocorte no pre.senie vívido, p(1de variar con,Sidern
e antecipações liga, <lcntro de sua cor!'en!e de consciên- Ela 3lcanci]rá o seu máximo se existir entre os parceiro
a elemento de sua fala àquilo que precedeu e ao que <ladc não só de tempo , mas também de e1;paço, isto é
c.guir à uni<lmJe de pensanwn1.o que ele quer transmitir. que os sociólogos chamam de relação face a face.
sas cxpc1·iências pertence,111 ao seu tempo interior~ E exis- Para tornat isso mais claro. continuemos com o nos
outro lado, as ocorrênci.as do seu ralar, que ele traz
empo espncializado do mundo exterior. Em ,uma, o co-
plo do folante e do
ouvinte e ·a nalisemos os elementos
t{!veis incluídos em till sHuução. F.xistcrn. pri rncko, as
or vivencia o processo de comunicação em curso como articulada.~ de acordo com o si~'l1i.ficado que têm no d
balhar no seu prC!:i<:':JJte vívido'.,, e na gramática da língua usada, mç1s as "orlas" adicio
u, o ouvinte, de minha parte, vivencio minhas aç,_,e,; inter- recebem do contexto da ísla e as conotações subseqiie
s como se ocon·essem no meu "pn::sente vívido'\ em- se originam das circunsrãncias particulares do rafante. F.x
e interpretar não ~eju "trabalhar"} segundo a nossa defi• dfaso, a in.flexão de voz do falante, sua expressãô facial,
mas apenas um desempenho. Por um lado, vivendo as que acompanham su-a conversa. Em circunstâncias nonn
as da fala do outl'O no tempo exterior; per outro. viven• nns a transmissão do pensamento, atta\'ÚS <le palavras
a interprctaçiio como uma série de retenções e anteci- das apropriadamenté, foi projetada pelo falanlc, con
contecendo no meu rempo interior, interligadas pelo meu assim, "tr:.-1balho", de acordo e-om a nossa definição. O
de ç.ompreender o pe.nsumento do outro como 11ma uni- elementos dentro do campo de inte1pretação, do ponto
cio. falante, não são plancja<los e por isso siio, na m
sideremos agora JJ ocorrência nQ mundo exterior - a hipóteses, mera cond uta (meto fatet} ou mesmo meros
comunicador - enquanto dura, como um elemento co- São entffo essencialmente e-xpetiências reais sem ;,jgnifica
presente vívido meu e dele, os quais são, portanto, simul- tivo. Entretanto, também elas são elementos integrantes
Minha participação, em tem10s de simultaneidade, n.o pro- pretação do ouvinte do estado de espírito do ouil·o. A
curso da comunicação do outro estabelece pois um~ dade de espaço pe1'mite ao parceiro apreender às expres
mensão de tempo. Ele e eu, nós, compartilhamos enquanto porais do outt'o não apenas como eventos no mundo exte
o dura um p resente vívido comum. nosso presente vívido, como fatotes do próprio processo de comunicação, em
ssibilita e a mim dizer: "'Nâs vh•encfodos essa ocorrência não se originem de atos de ,:trabalho" do comunicador
Através do relacionnmento do Nós assim estabelecido ,
- ele por se dirigir a mim e eu por ouvir - estamos
em nosso presente vívido mútuo, voltados p ara o pensa-
ser realizado no e através do processo comunicativo. Presentação Visual
ihecemos junto:;. . ., ,
~ presentações visuais . . . c,omo a Sr.ª La
l'Ctamcnte demonstrou,2 são estn 1turnlmente diferentes
seu caráter não•disc.uxsivo. Elas não são compostas por
Expressão Gesticulada com signif.icados independentes, isto é, elas não têm vo
Não podem ser definidas cm termos <lc outros signos,
Até aqui a no~sa análise de comuniC-Oç5'o no· presente
o relacionamento do Nós ficou restrila à pc.tspcctiva de 2 Lilnger, Philósophy in a N<.•.v Kr.•y, pp. 55 -e segui!lles: e 77 .e stg
O M UNDO DAS RELAÇÕES .SOCIAIS COM lJN!CAÇ'.ÃO ENTRE PESSOAS

nos discursivos. Sua função primária é a de conceituar desenvolver 11111 tipo de vocab ulário mimético, como, p
sensações. A Sr.• Langct vê o relacionamento de apre- plo, o uso altamente estandardizado do leque pelo d
e uma presentação pictó,ica. fundamentada no fato Kabuki japonês.
proporção de partes, sua posíção e dimensão relativa
em ao nosso conceito do objeto descrito. Essa é a razão
econhecemos a. mesma ca_sa nwna fotografia, pintura.. Comunicação Musical:
lanta de arquiteto ou diagrama de construtor. Para
característica da figura (em oposicão a todos· os outros
Composiior e Espectador
nsiste no fato de a figura se rel~cionar com a coisa
or similaridade, enquanto a maioria dos outros signos Na situação que csc·o lhcmos para investigar
-se, por .::xomplo, a onomatopéia) não tem nenhum sempcoho real de uma peç.a de músicá - a gênese do
crn comum com aquilo que é significado. (Por es.sa de conhecimento à mão, com todas as suas referências soc
jacentes. é, por ussím dizer, pré-.h istórica. A rede de conh
tos _autores. enfatizam. a "arbHral'íedadelJ dos signos
.). En n·etamo, o relac1onamcnto de apr.::séntação pre- socialmen te constituído e aprovado é apenas o cenário
bcrn em pre;entações pictóiicas, embora, algumas vc• cionamento social principal dentro do qual o nosso pi
a forma bastante complicada, com muitos níveis int.::r- tamb~m qualquer ouvinte 011 mero leitor de música) va
hando, por exemplo, para a gravura de DiiJ:er, "O Ca- o relacionamento com o compositor da sonata à sua fre
orte e o Demônio", distinguimos primeiro - como captar do pensamento musical do compositor e sua inte
egundo o código da aperc.::pç5o - a gravura em si. ::uravés da recriação que se situam no ccn lro do campo
n~, pasta: cm segundo lugar, ainda segundo O código ciência do pianista ou, usando um teimo fenomenológ
çao, as !tnhas p retas no papel, como pequenas figuras se torna " temático'' para a sua atividade em curso. Ess
tem~t,co aparece contra o fundo de conhecimento pré-a
m tel'ce1:1'o lugar, e:ssas figuras -são apresentadas como
de "realidades'\ confotme aparecem na figru·a, "o ca- o qual func.iona como um código de referência e inte
c.m.u e e-ossoH de quem, como afirma Hu~serl., estamo.s paw a captaçao do pensamento do comp ositor. Agora,
em seu quase ser. que é uma "modificacão neutra- sário de.screver a estrulura desse relacionamento social en
ser. Aqui Husserl pára, mas podemos e v;mos conti- positor e espcc.tador? mas: antes de entrar nessa nnál
uir o proc,ess.o de apresentação·. Essas três figuras o bom prevenir contra um possível mal-entendido. Não
a morte e o demôn io, como são apresen(adas. nu m~d.i- absolutamente, que urn trabalho de música (ou de arte e
utraliz~ntc de seu quase ser, apl'esentam, por sua vez não possa ser comp reendido exceto através ele rc[erí'!nc
sentaçao de segundo grau: pot assim dizer, um contexto
1
autor individual ou à;:i circunstfu1cÜis - biográficas ou o
o, e é especialmente esse significado que Düret quis nas quais ele criou esse detenninado trabalho. Certamen
ao espectador: o cavaleiro entre a morte e o diabo nos um ])!'é-requisito p~ra a compreensão do conteúdo m
chamada "Sonata no ).uar" o conhecimento das anedot
ma coisa sobre a condição do homem entre duas [orc~.s
is. Essa é a apresentação simbólica . . . • que a crendice popular assoda à criação desse trabalh
nem m~mo indi~pensávcl saber que essa sonata foi
municação por m.::io de gestos exprcssivos · e mimético; por um homem ch~mado Beethoven, guc viveu em tal
t6 agora a atenção que merece dos estudiosos de st- C"m tal lugar e pas!-;Ou por tnis e tais experiências pessoa
io exemplos ela primcit:a os gestos de eumprimentar, quer obt..t ele. arte, uma vez terminada, existe como urna
~, ~plaudir, mostrar desaprovaçfü.1, gestos de rendição, significativa, independente da vida p~ssoal de seu criado
n? de honra~, etc. A úllinK< combina traços de prcscn-
nca ou, ma,s precisamen te, similaridade com o objeto 3 O te.n no "tspecti.<lor" indui o instrumentista, o ouvinte e o
om a e$11'1.lrura de tcnipo da fala . Pode-se at~ mesmo música.
O MUNDO DAS REI.AÇÕES S0<:JAJS

o social enlre compositor e e-spec(a<lor, como- é a:qui rádio. Para o cspcctaüot, n ão quer cli,c, nmfa. Para ei
estabelece-se exclusivamente pelo fato de que o es- verdade que o tempo que viveu enquanto ouvia o mo
de uma peça de música participa de, e em cêrlA me- lento tivesse "compl'imenlo igua.1' ao que dedicou ao ráp
1

a, as experiências do semelhante- - vamos supor. anô- <1uanlo ouve, vive e1n mn;i dimensão de tempo incompará
que criou essa obra, não só como expres-~ão de seus pen- aquela que pode ser s ub<li vicJMa em partes homogéneas.
musicais: mas também c.om lntenção comunit3tiva. QX.ferio1· é mensurávc.l; existem peças de c.:omprimenlo igl
os nossos propósitos, uma p~çn musical pode ser· t!cfi- tem minutos e horas e o comprimen to da estria a ser p
e forma muito grosseira e hipotética - i.:OlllO um arnmjo pela agulha da vitrola. Não existe tal medida para a d im
vo de tons no tempo inlerior. É a ocorrência no tempo tempo interior em que o ouvinte vive: não h:!i igualda
a durée de Bergson, que é a fonna mesma da exis- suas peças, se é que há peças. Pode ser uma grande
música. O fluxo de tons que se desenrola no tempo para ele o foto de o tem.a principal cio sc.gundo movim
um ananjo significativo pi.!rn muhos. o cornpc'J sitot e o SonaLa para Pim1ofortc cm ré menor, Op. 31. N.º 2, de
, porque e n a medida em que evoca, na corrc.n te de ven, tomar t~nto tempo, no mero sentido do relógio -
a que dele participa, um jogo crnzado de kmb;-anças, mente um minuto - quanto o último movimento da
pretensões e antecipações que interligam os elementos som,ta. até o fim da peça.
Na verdade, a seqüência de tons ocorre na <lirccão Os comcn Lá rios acima servem _para esclarecer o r
l do tempo interior, · como se fosse na dit·eção <la pri- mento soei.a) especial entre o compositor e o espectador.
·a ti última. ~ias esse fluxo irreve,rsível não é irrepa- !>cparados por centenas de anos, o último participa <1uase
compositor, pelos meios específicos de sua arte, arran- multaneamente da corrente de consciência do primeiro, d
al modo que a consciência do ·espectador é levada a n.hando com ele, p::sso a pas~o, a articulação cm cur:::o
que ele realmente ouve ao que ele antecipa que vai pensamento musical. O especla<lor assim está unido ao
e também ao que ele acabou de ou.vir e no que ele j{l sitor por meio de uma dimensão de tempo comwn a am
de que e-ssu peça musical começou. O ouvin te, púrt:.m to. não é n&cla mais do qtte uma forma derivada do present
uxo cm curso da música, por assim <lizct, não ~6 un compartilhado pelos parceiros n uma relação face a foce
primeira à última bana: t'nas simult'1neamen(c numa tal como a que existe entre falame e ouvinte . . .
versa, ele volta à primeira. No entanto, o significuóo de um trabalho musica
nosso problema nece-ssira de uma compreensão mai:$ essência, de estrutura politética. Não pode ser capiado m
imensão de tempo na q ual a n,úsic~ ocorre. Foi afir- camente. Consiste na ocorrência ar(iculada no tempo
ma que o tempo interior, a durée} é a forma mesma passo a passo, do processo de consliiuiç.ão 1iolicética
cia <la música. E claro que tocar urn instrumento, ouvi( menle- dito. Posso dar um nome a wna peça musical es
ler uma página de música - todos esses são eventos chamando-a de ''Sonata ao Luar·'' ou "Nona SinfoniaH; p
em no tempo cxtci;ior, o tempo que pode ser mcr.lido mesmo dizer "essas erM1 variações com um final cm f
nomos e relógios, isto é, o tempo que o músico " conta" passacag/ia.", ou caract~riza r, como fazem certas notas
a assegmar o "tempo" correto. Mas para esclarecer gramas, o espirita ou emoção especial q_uc ~e supõe q
onsitlcramos o tempo interior o p1·óprio meio dentro peça evoque em mim. Mas o conteúdo musical em si,
fluxo musical ocorre, imaginemos que o movimento pdo significado, só pode ser cap tado através de um m
movimento rápido de uma sinfonia ocupem cada um no fluxo em curso, repl"Oduzinóo assi m a ocotrência mus
de doze po legadas. Nossos relógios mostram que toca~ culada conforme ela se desenrola, em etapas politéticas n
lc,vn cerca de três minuros e meio. Tsso é um fato que intc1ior, um processo que em si pertence à dimensão de te
esse inte.ressal' a um pr()gramador de uma e-Stacã"o de terior. E " levará tanto tempo" pars reconstituir o trab
O MUNDO DAS RF:l, AÇÕES SOCIAIS COMUNICAÇÃO ENTllE P ESSOAS

quanto para vivenciá-lo pela pr)meita v7z. Em ambos muita im.porti\ncia se o executan!e e o ouvinte comparti
tenho de restabelecer a quase s1multaneidadc descri ta presente vívido em refação face a face ou se através da
minha corrente de consciência com a do compositor. sição de dispositivos mecânicos, tais como d iscos, se
belece uma: quase simultaneidade entre a correnlc de
s, portanto, a· ~eguinte siti.wção: d1i.,s séries d~. eventos
cia do intermediário e a do ouvinte. O último caso semp
interior, uma pertencente à corrente de consciencia ~o para o primeiro. A diferença entre os dois mostra apen
r, a outra à corrente ?e conscfência do especta?º~·. sa~ relacionamento ent1·e executante e audiência está sujeito
as simultaneamente, s1Illultane1dade essa que e criada as variedades de intensidade, intimidade e anonimato. l
o. em curso do processo musical. A tese d:>, p1:esente ser facilmente ~·crificado ao imaginar-se uma audiência
é que essa -participação no fluxo de expcnency,s no de uma única pessoa, de um pequeno gn1po de pesso
erior d.o outro, essa. vivência de m;; presente. ';!v1d~ cm sala particular, de uma mllltidão lotando um graoc.le teat
onstitut. . . o relac1onamento de afmameoto mutu5,, ouvintes inteiramente anônimos de uma transniiss5o de
ncia do ''Nós", que está na base de toda c.omun'.·~aç~o disco distribuído comercialmente. Em todas essas circu1
A peculiaridade . do processo. ~!us1cal de c~;nu01caçao o executante e ouvinte estão "afinadosn um ao outro,
o caráter essencialmente politehco do contcudo comu- vendo juntos no mesmo fluxo, estão cm•elhecendo ju
ale dizer. do foto de que tan(o o fluxo dos eventos mu- quanto dura o processo nrnsical. E~sn afirmação se aplic
nto as ·atividades através das _quai~ eles são ~om~i- aos quinze ou vinte nlinuLos <le tempo exteriot' m.ensuráv
tencem à dimensão de tempo m[cn?1-. Ess'., afmna?1'o sário íl execução dessa determinada peça musical, mas p
presta~ pata qual~ucr tipo_ .?e. música. Existe, .p,orem; men!c à co-execução simllltânea das etapas politéticas att-
de música - a mus,ca polifomca do mundo oc1dcn~a. quais o comeúdo musical se articula no temp,) interior.
em o poder mágico de realizai:, a tr~vés de seus meios contudo, toda execução: enquanto ate de comunicação,
específicos, a possibilidade de viver sm~u!taneamcme em nwna série de eventos no nmndo cxtc.tior - em no:sso
mais. fluxps de eventos. Na escl'lta pollion1c~. cada :01. fluxo de sons audível - pode-se dizer que o relacionam
u significado particular; cada uma representa uma serie cial entre executante e ouvince baseia-se na experiência
ssim dizer, eventos musicais ::mtárquic-OJ:. 1nas o dcscn~ de viver simultaneamente em diversas dimensões de temp
se fluxo é simultâneo aos de outras ~cnes de evento_~
uão menos autárquicas, mas que coexistem_ com as pn-
combinam-se com elas pela própria simultaneidade, num
Comunicação Musical:
njo significativo.
Fazer Música em Conjunto

A mesma situação, a pluralidade de dimensões


Comunicação Musical: po simultaneamente vivenciada por uma pessoa e um se
Executante e Ouvinte lhante, ocorre no telacionamento entre dois ou mais in
(J.ue fazem música juntos, os quais estamos agora pr
A príncipnl função social do executante - o cantor ou para estudar. Se aceitamos a famosa definição de Max W
tista - é ser o intermediário entre o compositor e o acordo com a qual wn relacionamento social é "a con
Através de sua recriação do processo mus1ca_l, o exe- uma pluralidade de pessoas que, de acordo com seu sig
articipa da cotrente <l:
consciên:"."' do composi.tor tant~ subjetivo: estão mutuamente interessadas umas nas outr
a do ouvinte. Ele assim poss1b1hta a e-stc úll~!º. met- orientam em virtude de$SC fato'\ então tanto o t'elado.
articulação particular do fluxo de tempo !nteu?' ~)~ existcnLe entre o intermediário e o ouvinte quanto o e
icado específico da peça musical cm questao. N• 0 entre executantes que fazem música em conjunto se enq
O MUNDO · DAS RELAÇÕES SOCIA1S COMUNICAÇ.~O ENTR!! PESSOAS

inição. Mas há entre eles uma d iferença importante. A câmara sabe o quanto pode ser perturbador um arra
ão· do ouvinte na execução das etapas politéticas nas impeça os co-cxecutantes de se verem uns aos outros. Alé
con teúdo musical se desenrola é apenas uma .itividade todas as atividades da execução ocorrem no tempo ex
embora '\1ma aç.ão que envol ve a ação d~ outros e <J.ue tempo que pode ser medi.do através de contagem, do me
011 da batida da batu ta do maestro. Os executan(es podem
dn com relação a elas, e1n seu curso", e portanto. sem
ma ação social segundo a definição de Weber) . Os co- a esses dispositivos quando por uma ou outra ruzão o
cs (digamos um solista acompanhado de um instrumento tempo interior em que o conteúdo m\lsical se desenvolve
o) têm de realizar atividade~ que afolam o mundo exte.- rompido.
ue ocorrem, p(Wtanto, no tempo exterior espacializado. Um relacionamento face a face assim íntimo só po<le
ntcmente, a aç5o de cad:1 cxecUlantc é orientada não só belecido, em in1e<liatidade, entre um número pequeno de e
samento do compositor e por seu relacioarunento com a tes. Quando se ex ige Ulll número maior., um deles - o can
, mas também, reciprocan1ente. pelas experiências liú ci pal, o primeiro-violino ou o executante <lo bai,m cont
terior e no exterior de seu colega executante. Tecnica- tem de assumir a liderança, isto é, estabe!e<;er com cada
ada um deles encontra na folha de música à sua frente exec.-ufantcs o contato que eles não podem ter um com
_ucla porção do conteúdo musical que o compositor atri- de modo imediato. Ou um não-cxecu(antc, o regente,
eu instrumento para tradução cm som . Cada 11111 deles assumir essa função. Ele o faz agindo no mundo exterior
tanto, que lev:;1· cm conta aquilo que o outro tem de g_esros evocativos~ nos quais traduz os eventos musicais q
em simultaneidade. Ele não só tem que interpretar « rem no tempo interior, substituem, para cada executante,
ia parte que, como tal, permanece nece~sariamente fr;1g- ção imediata das atividades expressivas de todos os co-exe
cOmo também an tecipar a interpretação do outro instn1- Nossa análise da nuísica tocada cm conjunto re&trin
da sua - do outro - parte e, ainda mais, as antecipa- que Halbwachs chama a música do músico. Mas não
outro de sua própria execução. A liberdade de interpre- princípio, qualquer diferença entre o desempenho de uma
pensamento do compositor de um e de outro é restrin- tra ou coro moderno.s e o de pessoas sentadas ao redor
liberdade garatl!ida ao outro. Cada um tem de prever, fogueira, cantando ao som das cordas de um violuo ou o
o ouLto, aLtavés de prolensões e antecipações, qualquer congregação cantando hinos sob a liderança do órgão. E
e a interpretação do outro possa tomar, e tem de estar diferença, cm princípio, entre o desempenh,i de um qua
o, a qualquer momento, para ser líder ou seguidor. Ambos cordas e os in1provi,os de bons músicos de j(lzz num
ham não apenas a durée inte.rior, na qual o conteúdo informal. Esses e~cmplos só rç.forç.am ainda mais n nossa
a tocada se atualiza; cada um simultaneamente compar- que o sistema <le nolação musical ú apen«s \tm disµosi.tivo
presente vívido a corrente de c-onsciêocia <lo outro em acidental para o relacionamento social que prevalece cnlrc
ade. Isso é possível porq11e fazer música cm conjunto cu1antes. Esse relacionamcn[o social se fundamenta no
entro <le um relacionamento face a face verdadeiro - tilhar comum de <liroensücs de tempo diferentes simultan
da em que os participantes estão compartilhando não sú vividas pelos participantes. De um lado, há o tempo inte
ão de tempo, mas também um setor de espaço. As ex- que se desenrola o fluxo dos eventos musicais, uma d
faciais do outro, seus gestos ao manejar o jnstrunicnto# cm que cada executante recria, em etapas politéticas, o
mo todas as atividades da execução, afetam o mundo mento musical do compositor (finalmente anônimo) e at
e podem ser ca1itadas pelo parceiro em imediatidade. qual ele se liga também ao ouvinte. De outro, fazer mú
e desempenhadas sem intenção comunicativa, essas ati- gn1po é um evento no tempo exterior, pressupondo tam
são interpretadas por ele como indicações do que o outro relacionamento face a face, isto é, uma comunidade de
e, portanto, como sugestões ou mesmo ordens de co- e é essa dünensão que unifka os fluxos de tempo inted
ara o seu próprio comportamento. Qualquer músico de . nmte sua sinc.roniz.ação nun1 presente vívido.
O MUNDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS 10

Afinação
RELAÇÕES SOCLUS INDIRETAS
P-areée que toda comunicação possível pressupõe um
mcn to de afinação mútua entre o comunicador e o recep-
municação. Esse relacionamento se estabelece ütravés do
har recíproco do fluxo dê experiências do tempo inté-
utro, através de vivenciar unt presente vívido juntos,
e vivenciar esse conjunto como un.1 "Nós". So.roente I. Relacionamentos Mediatos:
ssa experiência é que a conduta do outro se torna signi- Contemportlneos
ara o parceiro a ele afinado - isto é, o corpo do outro
vimenios podem ser e são interpretados como um campo
ssão dos eventos dentro de sua vida in tc,ior. Ainda RtcLACIONAMEN'fOs DERTV, \DOS Em nenhum
m tudo o que é interpretado pelo parceiro· como expres- cu do outro se torna acess!vel ao parceiro como uma un
m evento na vida interior do outro é intencionalmente outro patece ser simplesmente wn cu parcial, como ori~i
pelo outro - isto é, intencionalmente comunicado ao tais e tais aios que não compartilho num presente vívido
Expressões faciais, modo de andar, postura, modos de sentc vivido compartilhado do relacionamento do Nós p
fcn-amcntas e instrumentos, sem intenção comunicativa, a presença dos parceiros. A cada tipo de relacionamen
plos de tal situação. O proces,o de comunicação p1·0- derivado pertence um tipo especial de perspectiva de te
dito associa-se a urna ocorrência no mundo exterior, rivado do presente vivido. Existe um detenuinado "q
a estrutura de uma série de eventos politcticamentc sente" no qual interpreto apenas o resultado da comuni
os no tempo exterior. Essa série de eventos é intencio- outro - a carta escrita, o livro impresso - sem ter _pa
comunicador como um código de expressão aberto à do curso do processo dos atos de comunicação. Há o
ção adequada pelo teccptor. O seu próprio caráter poli- mensões de tempo em que estou ligado com contemporíl
ante a simultaneidade do fluxo em curso das expetiên, nunca conheci ou com predece.sso1·es ou sucessores; outr
empo interior do comunicador com as ocorrências no po histórico em que vivencio o p resente real como resu
xterior, bem como a simttllaneidade dessas ocorrências eventos passados; e muitas outras. Todas essas perspe
no mundo exterior C-Om as experiências de intcrprera- iernpo pedem ser associadas a um presente vívido: o m
mpo interior da pessoa a quem foi endereçada a cornu- prio, atual ou anterior, ou o presente átual ou anter ior
A comunicação co1n outra pessoa pressupõe, 1>ortanto, semelhante, com quem, por sua vez, estou ligado num
rceiros compartilhem simultaneamente várias dimensões
vívido originário ou de,i vado, e tudo isso em diferente
exterior e inte.rior - em resumo, que envelheçam jun-
de potencialidade ou quase-atualidade, cada tipo com sua
parece válido 1,'ata todos os tipos de comunicação,
próprias de diminuição e aumento de tempo ·e seu est
ssencialmente politéticos bem como os que trnnsmitcm
cular de passar por elas, ou com um movimento direto
o em termos conceituais - .isto é., aqueles em que o
do processo comunicativo pode ser caplado monotetica- um "movimento de cavalo" (como no xadrez) . Há, alé
formas diferentes de coincidência e interpenetração dessas
tivas diferentes, sua colocação em e fora de opernção
ase desnecessário apontar que os comentários do pará- mudanças de uma para a outra e as transformações de u
rior se referem à comunicação dentro do ,·elacionamento
ce. Pode-se contudo demonstrar que todas as outras for-
omunicação poss!vcis podem ser explicadas como deri, Transcrito de~ Sl!guintes it.:ns da Bibliografia: 1945c, 54445; 196
sa situac;íio principal. 180,81, !S t-83, 183..'!4, 184-85, 194-95, 202-4, 208·11, 214.
O MUNDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS
RELAÇÕF-5 SOCIAIS INDIRETAS

tipos diferentes de sintese e combinação ou isolamento mente) mensagens trocadas através. <le um tercch·o. Aqu
amento delas. Múltiplas como são, essas diferentes pcrs• temos uma progressão gradual do mundo da realidade so
de tempo e suas relações mútuas, t<><las efos, se originam diatamcnte vivenciada ao mundo dos contemporâneos. E
erseção da durée com o tempo cósmico.
os exemplos, o número total de reações da outra pess
toda a nossa vida social, na atitude natural, elas são à minha ohscrvac;5o diminui progressivamente até que a
das como intearadas numa sin1ples dimensão de tempo, ponto mínimo. Est{! claro, então, que o próprio mundo
~ . de
ente homogCnca, que abrange não ~(> a~ perspect1V:as tcmporâneos é uma função variável da situação face a fa
dividuais de cada um de n6s, no decorrer de nessa se até mesmo falar deles como cle dois pólos entre os qu
almente alerta", mas também a que é comum a todo~ se uma série contínua de experiências . . .
os chamá-la de tempo padrão ou cívico.
Na vida cotidiana, p arece não haver n enhum prob
t ico com relação ao lugar onde uma situação se ro
DA EXPERIÊNCIA SOCI AL DI RF.TA À TNT>TRF.TA Na si• out,-a começa. Isso porque inlcrpretamos talllo o nosso
ce a face; a experiência_ direta .é e:;:~cncial, nã~ (mport~ tamente como o dos outros dentro de contextos de signif
a apreensao do O utro atmge o ~eu amago ou S<> e super em muito transcendem o aqui e agora imediatos. Por ess
não importa quão adeq,uadamente o apre:n~cmos: Amda questão quanto a se um rei.acionamento social do qua
ientado para o Tu" ate mesmo em relaçao a pe5:5oa q~e pamos, o.u o qual observamos, é direto ou indireto, p
meu lado na condução. Quando fal~m~; de ,?rientaçao acadêmica. Mas há ainda uma razão mais profunda par
Tu "pura", de rclacio1:amento do . ~ os. pu~o , est~mos costumeira indiferença :quanio a essa questão. Mcsn10 de
tc usando esses conceitos como Imu tes, qu~ se ~~Lre,;11 a situação face a face v irou retrospectiva, passado, e só
es dado do Ou tro, abstraídos de qualguct cspec1fica~10 sente nn n1emória: c)a ainda retén1 as suas característic
eito ao grau de concrcticude envoMdo. llfa: _lambem ciais, modificadas apenas por UJJla aura de passado. Norm
usar esses termos para designar . os linutes mmnno; de níio notamos que nosso anligo que acaba de partir, co
ia q ue se podem obter 1~0 rela:'1onan1c~l? face_ ~ ,ace, estivemos in(cragindo aié há um momento atrás, talvez
alavra:,j, para designar o llpo mats supedrcml e rap1do de mente, talvez de modo perturbador, agora ·nos apare
ia de outra pessoa. perspectiva bastanie diferente. Longe de parecer óbvio,
pksroente acompanhando e.ssa ~ cala decrescente de vi- dade parece absurdo que alguém de quem estamos
emos a transição da experiência social direta il indireta. lenha se tornado de algum modo "diferente" agora que
iros passos fora do domínio do yncdiato são marcados de vista, exceto no sentido trivial de que no~sas expe,; en
ecréscimo do número de pcrccpço':.s que lenho. da outra alguém Lta7,em a marca de passado. Ainda assim, devem
por um estreitamento das perspectivas nas quais a veJo. uma distí.oção nítida entre tais mcm6i:ias de situações fac
erminado momento, estou trocando sorrisos com meu de um lado, e um Ato iniencional dirígido para um mero
porâneo, de outro. As lembranças que temos de outra p
pertando a mão dele e acenando em despedida.:. N~ P':" zem todas us marcas da experiência direta. Quando te
memo, ele está caminhando, indo embora. Entao, a d1s•
lembrança de você, por exemplo, me lembro de você co
uco um fraco até logo; um momento depois, vejo un,
era no relacionamento do Nós concreto contigo. Lembro
r~Í,arcccn<lo. uceu.ando uma última vez e, en.tão, foi-se.
como uma pessoa única n uma si.tuação concreta., como
in1possfvcl JLxar o ins tante «xato no qual o meu amig?
que interagiu comigo à maneira do "c~·pelhamenLo mútu
mundo da minha experilncia direta e entrou no dom!•
descrito. Lembl'o de você como uma pessoa vividamente
brio daqueles que são apenas meus cont;,mporâneos. para mim, com um máximo de sintomas de vida interi
tro exemplo, in1aginemos uma con versa foce a face, se,
al.guém que testemunhei no proc~.so real de formação.
um telefonema, seguido de uma troca de cartas e, final•
de você como alguém que durante um certo período e
O MUNDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS RELAÇ'ÓES SOCIAIS I NDIRETAS

conhecendo cada vez melhor. Lembro de vocti como das quais, em princípio, cu nunca poderia ter e.xperiênci
ja vida consciente fttJiu junto com a minha num fluxo tais como "Estado" e "nação"; então 7) configurações
mbro de você como alguém cuja consciência mudava de significado que fo,am instituídas no mundo de meus
ente ele conteúdo. Entretanto, agora que você está fota porâneos e que vivem um tipo anônimo de vida próp
experiência direta, você não é mais que meu contem- como as cláusulas de comércio entre os Estados e as r
lguém que meramente habita o mesmo planeta que e\l. gtam:ltica francesa; e finalmente 8) artefatos de qualqu
mais em contato com o você vivo, mas com o -voeti que carregam testemunho do contexto de significado s
Você, de falo, não deixou de ser um eu vivo, m"s de algtima pessoa desconliecida. Quanto mais longe va
a, um nnovo eu11; e, embora eu seja contemporâneo mundo dos contempotâneos, mais anônimos seus habit
contatos vitais com ele estão cortados. Desde a última tornam, a começar pela região mais interna, onde eles q
stivemos juntos, você tev~ expcriên.cias novas e as viu dem ser vistos, e terminando com a região onde eles
pontos de vista. Com cada mudança de experiência e definiç.ão) eterna.mente inacessíveis à experiência .
m, você se tornou uma pessoa levemente diferente. Mas,
modo, não consigo manter isso cm mente enquanto
as coisas diárias. Levo sua imagem conúgo e ela perma- EXl'F.lUENCL\ MlliJIATA DE CONTEMPORÂNEOS
sma. Mas aí, talve7,, ouço di.zcr que você mudou. Então mero contemporâneo (ou ''contemporâneo") . . . é algu
er você com.o um contemporâneo - não um contem- sei que coexiste comigo no tempo, mas que não viven
ualquer, é verdade, mas um que já conheci intima- diatamentc. Esse tipo de conhecimento é, por conseguinte
indireto e impessoal. Não posso chamar o meu contempor
"Tu" no mesmo sentido rico que esse termo tem dentro
cionamento do Nós. E claro que o meu contemporâneo
REGIÕES DE ANONIMATO Estivemos descrevendo a ter sido meu consócio ou ainda pode vir a ser, mas isso nã
mediária enLrc a situaç.ão face a face e a situação que em nada o seu status presente.
eros contemporâneos. Continuemos nossa viagem. Con- Examinemos agem os modos como o mundo de co
aproximamos do mundo distante dos contemporâneos,
râneos é constituído e as modificações por que passam
eriência dos oun:os toma-se cada vez mais remota e
Entrando no mundo dos contempor.ân.eos em si, passa- mundo, os conceitos de "orientação para o Outro" e "re
uma região após outra: 1) a região daqueles que já mento social". Essas modificações são necessárias pelo
ce a face e poderia encontrar de novo (por exemplo. que o contemporâneo só é accss(vel indiretamente e su
o au.sen!c); depois vem 2) a região daqueles que a riêncfos subjetivas só podem ser conhecidas na forma
m quem esiou conversando agora já conheceu (por exem- gerais de experiência subjetiva.
amigo que você e,stá prometendo me apresentai·) ; de- Que esse seja o caso é fácil de compreender se consid
região daqueles que ainda são puros contemporâneos, a diferença entre os dois modos de experiência social. Qua
vou encontrar brevemente (tais como o colega cujos conlro você face a face conheço você como uma pess
a quem vou agora visitar) ; então 4) aqueles contem- momento único de experiência. Enquan to esse relacionam
de cuja existencia sei, não como indivíduos concretos. Nús permanece intacto, estamos abertos e acessíveis a
pontos no espaço social, definidos por uma certa fun- intencionais um do ouiro. Dmante UJll pequeno período d
exemplo, o empregado do correio que vai despachar a envelhecemos juntos, vivenciando o fluxo de consciência
ta}; então 5) essas entidades coletivas cuja função e .outro numa espécie de posse mútua íntima.
o conheço, embora não seja capaz de nomear qualquer li bem diferen.te qtJando vivencio você como meu
membros, tais como o Parlamento canadense; então 6) porâneo. Aqui, você não me é dado de maneira pré-pre
coletivas que são por sua pt6ptia n atuteza anônimas e absolutamente. Nen, sequer apreendo diretamente a sua
O MONDO DAS RELAÇÕF:S SOCIAIS RELAÇÕF.S SOCIAIS INDIRETAS

ein). Todo o meu conhecimento de você é mediato e "ler" nesses objetos culturais as expcdências subjetivas d
. Nc.ssc tipo de conhecimento a:s suas ncaracteristicas" que não conheço. Mesmo aqui, no entan(o, estou fazen
elecidas por mim através de inferência. Desse conheci• rênci.as com base c.m minha experiê.ncia direta anterior d
ulta o rdacionamen to do Nós indireto. Vamos dizer que o objeto diante de mim é um produto
esclarecer esse conceito de "media!idede", examinemos Talvez eu tenha alguma vez e.s tado do lado de um hom
rns diferentes através das quais venho a conhecer um estivésse fa bricando algo parecido com ·isso. Enquanto
.âueo. A primeira fOrma., já mencionamos: meu cônhcci- v.ava trabalhando, eu sabia .exatamente o que estava aco
derivado <lc um encontro face a Íace antc1iot com a na sua mente. Se não fos·se essa experiência~ eu não s
m questão. Mas. desde então, esse conhecimento tornou• que fazer do produto final do mesmo tipo que agora
o ou indireto porque saiu do alcance da minha obser- poderia até mesmo nflo conseguir absolutamente reconhecê
eta. Pois faço inferências com relaçiio ao que está se artefato, e o trala,ia exatamente como outro objeto nat
em sua meme na hipótese de que efa permanece bas- mo uma pedra ou uma árvore. Pois o que chamamos
al desde que a vi pela última vez, emborn, noutro scn- geral do alter ego ou, mais precisamente, que o Tu coe
aiba mu_i;o ?em q u~ ela deve ter mudado, p.or ter absor- migo e envelhece comigo, só pode ser descoberto no r
s exper1enc12s ou snnplesmcnte em virtude de Ler en ve- mento do Nós. Assim, mesmo nesse caso, só tetlho uma e
lfas, quanto a como ela mudou, o meu conheci,r,ento cia · indireta do out1:o cu, baseada em experiências dir.c ta
ireto ou inexistente. das ou de um Tu em geral ou de um Tu em particula
encontros face a face com outros deram-me um ptofund
segunda forma atravé.s da qual venho a conhecer um ein1ento pr~-prcdicativo do Tu como um eu. Mas o T
º~ânc? é a construção de ~ma figura dele, a partir d" meramente meu contemporâneo nunca é vivenciado pess
1a dtrcta passada de algucm com quem estou falando como um eu e nunca de modo pr6-prcd.icativo. Ao contrá
or exemplo, quando meu amigo descreve seu irmão, .a exreriência (Erfa}mmg) de contemporâneos é predicativa
conheço) . Rs~a é uma variação do primeiro caso. Tam•
apreendo o contemporâneo por meio de um conceito
e
turcza. formada por meio de julgamentos interpretativo
vendo todo o meu conhecimento tlo mundo social, emb
ü,o, derivado cm última análise da experiência direta., graus variados de explicitação.
a tida como illvariável. Mas ex.is.tem difereneas. l' ri- T\,fas isso é ~•orientação para o Outro" real, não impo
o tenho nenhuma figura vívida, concreta, nlfuha pró- indireta possa ser.
qual partir: tenho de depender do que o meu amigo me
ndo, tenho de depender da hipóté-Se do meu amigo, não
n, de que o contemporâneo que ele e-stá descrevendo ORlENTAÇÃO PARA o BUS Sob essa orienta
ou. o Outro indireta encontraremos as formas usuais da o
s são os modos de constituição de Ioda a experiência que para o Outro do comportamento social e da interaçã
nossos contemporâneos, derivada de nossa própda expe- sin1ples. Chamemos tais Atos intencionais <liiigidos para
assada, direta ou indireta, e de todo o conhecimento que porãneos de casps. de "orientação para o Eles"', em contr
os de outros, através de conversa ou de leitura. Está a orientação para o T u dos Atos intencionais da experi
ão, que as expel'Íências sociais indiretas derivam sua vali• cial direta.
ginal do modo direto de apreensão. Mas os exemplos A expressão uorientaç:ão para o Eles'' serve para c
cima não esgotam todos os modos em que posso vir a atenção para o modo peculiar como apreendo as axp
meus contemporâneos. Há to<lo o mundo dos objetos conscientes de meus contemporâneos. Pois as apreendo c
por exemplo, inclusive tudo desde a,tefatos a institui- cessos anônimos. Consideremos o contraste em relacão
odos convencionais de se fazer as coisas. Esses, também. tação p ara o Tu. Quando estou orientado para o Tu,
dem referências implícitas·a meus contemporâneos. Posso ás experiências da outra pessoa dentro do seu cenário
O MU1'DO DAS RELAÇ,ÕE.$ SOCIAIS RELAÇÕES SOCIAIS ll\'ll1RETAS

e consciência, Apreendo-as como existentes dentro de disso, dá-se o an01ú mato do contemporâneo, na propo
xto de significado subjetivo, como sendo as experiêncfos reta do número e da complexidade desses contextos de $ign
uma pessoa em particulat. Tudo isso está ausente na Além disso, a síntese de reconhecimento não apreende a
a social indireta da orientação para o Eles. Aqui, não única conforme ela existe dentro do seu presente vivo.
sciente do fluxo em curso da consciência do Outro. trário, figura-a como sempre a mesma e homogênea, se
entação não diz respeito à existência (Dasein} de u01 cm conta todas as mudanças e os contornos definidos qu
to individual. Não é relacionada a nenhuma expériêncfo parte da individualidade. Assi m, não importa quantas .pes
sendo constituída agora, cm toda a sua exclusividade, categorizadas sob o tipo ideal, ele 11ão correspon de a n
de outra 1iessoa, nem é relacionada i1 configuração sub- defos em particular. Foi exatamente. esse fato que levou
significado na qual tem lugar. Em vez disso, o objeto a chamá-lo de "ideal".
orientação para o Eles é a minha 1>rópria experiência Apresentemos alguns exemplos para esclareéer esse
g) da realidade social em geral, dós seres humanos e Qualldo ponho uma carta no col't'eio suponho que c.c rtos
ssos consciente.s em geral, abstraída de qualquer ccná• porâneos meus, a saber, os empregados do correio, vão ler
dual no qual ela possa ocorrer. i\-!eu conhecimento de rcço e cnviat a carta para o seu destino. Não penso ne
emporâneos é, portanto, inferido e di$cursivo. Pela essên• pregados do correio como indivíduos. Não os conheço
natureza, ele se situa num contexto objetivo de signi• mente e não espero conh ecê,los n unca. Mais uma vez., co
omente em tal contexto. Não tem dentro de si nenhuma Weber afirmou, sempre que aceito dinheiro o fago ,em n
intrínseca a pessoas nem à matriz subjetiva dentro da t!l'tvlda de que outros, anônimos, vão aceitá-lo, por sua
m constituídas as experiências em questão. No entanto, mim. Usando mms um exemplo de Weber , se me comp
nte devido a essa abstração do contexto subjetivo de um modo tal para evitar a chegada repentina de dctcrm
que elas exibem a propriedade que chamamos de seu ~cnhores com uniíormc e insígnias, noutras palavras, na
epetitivo". São tratadas como experiências conscientes em que me oriento com l'elação às leis e aos aparatos
"alguém" e.. como tais, basicatnente homogêneas e apóiam, também aqui estou me relacionando socialmente
de repetição. A uuidade do contemporâneo n ão é ori• meus contemporâneos, concebidos como tipos ideais.
constituída em sua própria corrente de consciêncfa . . . Em oca.~iões como essas estou sempre esperando qu
io, essa w1idade do contemporâneo é constituída dentro rros se comportem de um determinado modo, sejam eles
própda corrente de consciência, sendo construida a gados do correio, alguém a quem estou pagando ou a po
wn a síntese das minhas próprias interpretações das expe• meu relacionan1ento social com eles consiste no fato de q
ele. Essa síntese é uma "síntese de reconhecin1ento" rajo com eles ou talvez, simplesmente, de que ao planejar
al, monoteticamente, trago uma visão das minhas pró'. ações eu os mantenho em mente. Mas eles, de sua parl
riências conscientes de alguém. De foto, essas minhas aparecem como pessoas reais, são simplesmente entidad
as podem ter sido de mais de uma pessoa. E podem nimas, cuja definição se esgota em suas funções. Somen
e indivíduos definidos ou de " pessoas" anônimas. É encarregados dessas funções é que eles têm qualquer re
sa sínte.se de rc.conhecimento que o tipo ide11/ de pessoa para o meu comportamento social. Como eles por acaso
do. tem quando cancelam minha carta, depositam meu ch
examinam minha devolução de imposto de renda - e
considerações que nunca nem mesmo me passam pela
'fll'OS IDEAIS !)E PESSOAS o que acontece aqui pre• Simplesmente suponho que existem "certas pessoas" que
bem claro. O contexto de significado subjetivo, como esrns coisas". O comportamento delas, enquanto condu
o de interpretação, foi abandonado. Foi substituído por obrigação, é, do n1eu ponto de vista, definido apenas at
de contextos de significado objetivos, altamente com• -um con texto de significado objetivo. Noutras palavras,
nter-relacionados de modo sistemático. Como re,ultado estou orientado para o Eles, tenho " tipos" por parceiro
O MUNDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS RELAÇÕES SOCIAIS. INDIRETAS

ANOKJMATOOO CONTEMPORÂNEO A orientação para um tipo, uma individualização meramente suposta ou


a forma pura de compreender o contemporâneo de modo Agora, já que a própria existência <lo meu contemporâneo
o,_isto é, e.m t~rmos_de suas características típicas. Atos pre menos do que certa, qualq11er tentativa de minha p
açao para o Eles sao, portanto, intencionalmente diri- alcançá-lo ou influenci.á-lo pode falhar e, é claro, estou co
relação a outra r,essoa imaginada como se existisse ao desse fato.
mpo que se existe, mas concebida em termos de um O conceito que esti..Yeroos analisando é o conceito d
. E, assim como nos e.asas de orientação para o Tu e mato do parceiro no mundo dos contemporâneos. Ê fund
namento do Nós, também na orienwção para o E.les para o entendimento da natureza do relacionamento social
falar de diferentes estágios de concretizacão e de atua-

m de distinguir um do outro os diversos estágios de con- RELACIONAMENTOS ENTRE CONTUMPOR.tNEOS
do relacionamento do Nós, estabelecemos como nosso como os relacionam.eotos na situação face a face são ba§e
grau de proximidade da experiência direi~. Não po- orientação parn o Tu p1.1ra1 os relacionamentos sociais en
ar esse cdtério dentro da orientação pora o Eles. A razão temporâneos são baseados na orientação para o Eles pu
ue a úllirna possui, por definição, um alto arau de dis- a situação agora mudou. Na situação face a face: os p
experiência direta, e o outro eu, que é seu objeto, poss\li vêem um ao outro e são mutuamente :scnsívci.s às reaç
correspondentemente alto de anonimato. do outro. Não é ess.e o caso nos relacionamentos entre
ecisamente e-sse grau de anonimato que anora oferece~ pol'âncos. Aqui, cada parceiro tem de se contentar com
o cdiério para distinguir entre os diferentes níyeis de bilidade de que o outro em relação ao qual ele está o
ção e atualização da oticntaç.ão para o Eles . Quanto por nieio de um tipo anônimo vai reagir com o mesmo
i':'o o tipo ideal de pessoa aplicado na orientação para orieJ1taçfio. E assim entra um elemento de dúvida cm to
maior é o uso que se faz dos contextos de significado cionamento desse tipo.
em vez dos subjetivos, e da mesma forma, como ve- Quando tomo um trem, por exemplo, me oriento p
aior o f,Ttcm de _pressupostos com relação aos tipos ideais de. que po,so co1úial' no maquinista encarregado de me
e aos contextos obje.til•os de significado do nível mais meu destino. Meu relacionamento com ele é um relscio
s últimos foram, por sua vez, derivados de outros está- com o Eles nesse momento simplesmente porque meu ti
oncretização da orientação para o Eles.} "maquinista de Lrem" significa, por definição, "alguém q
reçamos o que queremos dizer exatamente com anoni- os passageiros como eu. a seu destinolt. J::, portanto, uma
ipo ideal no mw1do dos contemporâneos. A orientacão rístic.a dp meu relacioname.n(o social com os meus con
u pum consiste na simples consciência da existência .. da neos o fato de q ue a orientação por meio de tipos ideais 6
soa, deixando de lado todas as questões relatiyas às Correspondendo ao meu tipt) ideal "maquin isia" existe o t
icas dessa pessoa. l'or outro lado, a orientação para 0 "passageiro", pnrn o ,u1aquinista. Nos termos das orientaç
é baseada na pressuposição de tais características, na o Eles mútuas, pensamos um no outro como " um deles"
um tipo. Tá que essas características são genuinamen(c
odem cm princípio ser pressupostas repetidamente. J:: Não sou, pois, apreendido pelo meu parceiro no re
sempre que coloco tais características típicas, suponho roemo do Eles como uma pc.ssoa viva real. Daí eu pod
gora existem, ou que alguma vez existi.t am. Entretanto, rar dele st>mentc uma compreensão típica do meu co
significa que estou pensando nelas como existentes em mento.
ssoa em particular ou em um tempo e lugar cm parti- Um relacionamento social entre contemporâneos, p
alter ego contemporâneo é, portamo, anônimo, no sen- consiste nisso: cada um dos parceiros apreende o outro p
ue sua existência é tão-somente a individualização de de um tipo ideal; cada um dos parceiros está conscien
O MUNDO D,\S RELAÇÕES SOCIAIS Rl!LAÇÕES SOCLIIS INDI RETAS

mfüua; e cada um espera que o código de intcrpte- empregado do correio. O que por sua ve;,;, é claro, po
outro vá ser congruente com o seu. O relacionamento acontecido por ele ter entendido mal o endcrefo que b
ontrasta aqui frontalmente com a situação fac.e a iace. carta. Tudo isso resulta do fato de que não estamos em
ão face a face, o meu parceiro e eu estamos scnslvcl- direto um com o outro, como na situação face a face.
nscientes das 11ua11ces das experiências subjetivas um de Na situação face a face, os parceiros estão constant
as no relacionamento do Eles isso é substituído pela revisando e amplian do seu conhecimento wn do outro. Is
de um código de interpretação comum. Agora, mesmo 6 verdade, no mesmo sentido, do relacionamento do Eles.
e minha parte, faça essa suposição, não posso verificá-la. dade que o meu conhecimento do mundo dos meus conte
quanto mais estandardizado o código que imputo a neos está sendo constantemente ampliado e revisto atra
eiro, mais razão tenho para esperar dele uma reação cada nova experiência, não importa de que parte do mundo
Esse é o caso de códigos derivados da lei, do Estado. ela po,sa vir. Além disso, meus códigos ideais típicos
ão e de sistemas de ordem de lodos os tipos, especial- sempre mudando de acordo com cada mudança de núnha
códigos baseados na relação meios/fim, em suma, do ção. Mas todas essas modificações acontecerão dentro d
er chama de códigos de interpretação "racionais" . escala muito estreita, enquanto a situação ol'iginal e meu in
nela pel'manecem ruzoaveJn1ente estáveis.
propriedades dos relacionamentos sociais entre con-
os têm conseqü~ncias importantes. No relacionamento do Nós,. suponho que o seu am
seja idêntico ao meu, com todas as suas variações. Se tenh
s de tudo, devido ao elemento de acaso que está sempre quer dúvida sobre ele, posso testar minha hipótese simple
não posso nem mesmo ter certeza da exist~ncia do apontando e perguntando a você se aquilo é o que voc
mento enquanto ele não tiver sido tentado, por assim dizer. Tal identificação está fora de questão no rc.lacion
retrospectívamenlc posso saber se o meu tipo ideal do Eles. Ainda assim suponho, se você é meu contemp
arceuo adequava-se a ele cm tennos de significado ou que o seu ambiente pode ser compreendido por meio de
lsso, mais uma vez, difere da situação face a fac~, pios para a compreensão obtidos de você. Mas, mesmo
o constantemente corrigir minhas próp,ias reações ao hipótese é muito menos provávC'\ do que seda se éStivé
eiro. Outra conseqüência é o falo de que os únicos face a foce.
a fim den e "n1otivos por qtlc" de meu parceiro que Entretanto, o meu ambiente também inc.lui sistemas de
r em conta ao fazer meus próprios planos de ação são e no rclaciooamcnto do Eles também os uso como código
s que já postulei para ele ao constt-uh· roeu tipo ideal de expressão como de interpretação. Aqui, mais uma vez,
m certeza, nn orientação para o Eles, assim como na de anonimato é da maio1· importância. Quanto mais anô
ace a face, estabeleço meu plano de ação de !ai modo o meu parceiro, mais posso usar os .sjgnos "objetivamente
motivos por que" de meu parceiro se incluem nos meu.~ posso supor, por exemplo, que meu parceiro n1101 relécion
"motivos a fim de"; e prossigo na expectativa de que do Eles vá necessariamente captar a significância particu
o de interpretação de mim como tipo ideal seja ade- estou. dando às núnhas palavras, ou o contexto mais am
meu dele como tipo ideal. .Se o parceiro em q ucstão é que estou dizendo, a menos que eu explicitaroe1* lb.e
gado do correio, por exemplo, o simples fato de minha chaves. Como resultado, durante o processo de escolha das
da estar à s ua frente vai tot11ar-.se um "motivo por que" palavras, não sei se estou ou não sendo compreendido. Iss
ara o seu procedimento de despachá-la a seu destino. ca por que não posso ser in1edia(ámente questionado _com
in1, não posso ter certeza disso. Pode acontecer qw ao que quero dizct e corrigir quaisquer desentendimen
engano e que ele envie para o lug.ir errado a carta experiência social indireta só existe lllll meio de "quest
e: as.sim causando o seu extravio; nesse caso, ele. vai parceiro a respeito do que ele quer di,et ", e esse é u
claro, em relação ao me\i tipQ ideal de pessoa de um dicion ário - a não ser, é claro, que eu decida ir vê-lo o
RELAÇÕES SOCl.-\1S INIJJRETJ\S
O MUNDO l>AS RELAÇÕES SOCIAIS

No mundo dos predecessores, pois, não se aplica a d


ra ele; mas, nesse caso, deb:ei de lado o relacionamento
e dei início a uma situação face a face. Aliás, qualquer entre relacionamento social e observação social. O que à p
mento do Eles caracterizado por um grau relativamente vista pode parecer ser um relacionamento social entre um d
anonimato pode ser convertido nu,,;a situacão face a predecessores e eu vai acabar se revelando um caso de ori
avessando-se os vários estágios intermediários: para o Outro unilateral, de minha. parte. O eulto dos an
é wu bom exemplo dessa orientação para o mundo dos
cessores. Mas só existe \!OJ tipo de situação em que pos
significativamente de interaç:ão recí_proca entre um de meus
II. Predecessores e·Sucessores cessores e eu. t a situação em que ele age sobre mim e c
me comportan do ele tal moclo que a minha conduta só p
o MUNDO DOS PREDECESSORES Posso definir um cxplícada como oricn tada em relação ao seu ato, tendo e
sor como uma pessoa do passado e não como uma como o seu "motivo púr qu.cn. Seria esse o caso, por e
ujas experiências coincidam no tempo com as minhas. se ele me legasse alguma propdcdade.
ntão, definir o mundo dos predecessores puro como intei-
composto por tais pessoas. O mundo dos predecessores Existem peculiaridades correspondentes ao modo com
existia antes de eu nascer . É isso o que determina a ciamos os n ossos predecess.ores. Só posso conhecer um p
reza. O mundo dos predecessores é, por deíinição, aca- s<>t se alguém me fala sobre ele ou escreve sobre ele. E
eito. Não tem horizonte abc,to para o futuro. No com- esse intern1ediário pode ser um semelliante ou um contemp
nto ~!e meus predece-ssores não há nada ainda por decidir, Por exemplo, meu pai pode me falar de pessoas que p
u arnda espetando rcaLimção. Não espero comport.tmento ou morreram há muito tempo, das quais ele se lembra,
_p redecessor. Seu comportamen to não tem. cm essência. juventude. A tt"ansição do presente imediato ao mundo d
dimensão de liberdade ·e está, assim, e1ii oposição ao temporâncos é, assím, contlrlua. Pois o meu pai está agora
mento daqueles com quem estou cm contato imediato e à ruiuha rreme, enquanto rememora. Suas experiências,
mo. em certa medida, ao comportamento daqueles que são que coloridas pelo passado, são aiuda experiências de uma
meus contem.porâneos. As rclaçõ~s entre predecessotcsi con1 quem csLou agora face a face. J\.ias, para núm. essa
eles $ão pé1S$aclos e as:-;im fixados em si mesmos, não riências são passado para além da lembrança, porque
m outl:.;.ls 1,ostulados de L
ipos ideais fixos de n1odo a serem momento ela minha vid~ foi contemporâneo delas, e é i
ndidas.' l'osso, portanto, tomar qualquer tipo de orien- faz com que elas verdadeiramente façam parte do mundo
m rel~ção a '.~çus predecessores, exceto um: não posso predecessores. Mesmo as experiências sociais passadas, di
ntar 1nfluenc1a-los-. Mesmo a palavra "orientação" tem iodi.rct;;,s, de outra pessoa, para num fazem parte do mu
sen~ido diferente; é sempre passiva. Dizer que uma predecessores. ."Jnda assim, eu as apreendo como se fo
nha e onentada com relaç:1o ti ação de um de meus minha própria experiência social passada. l'ois as apreend
sores é dizer que minha ação é influenciada pela dele. o contexto de significado subjetivo presente da pessoa q
outros termo!>, sua ação, concebida nq tempo tnai:s que agora me falando delas.
é o meu "motivo por que" genuíno. Nunca hlílucncio Em segundo lugar, venho a conhecer o mundo dos
cdccessores, só eles iue influenciam. Esses comentários. é cessores através de registros e monumentos. Esses têm
licam-se também ao conceito de Weber de aciio trad.i- de signos, independentemente de se meus predecessores
· ·
a intenção de torná-los signos para a posteridade ou me
para §cus próprfos coutempor11neos.
ade-, ú miindo dos predl:'t:6~<.m:s, por sua própriti nature-.!a s·5
rnnhccido aIravé~ de tipos ideais. mas.- já que erenLos pass~dos li quase desnecessário dizer que a minha orientação
p!ctnmente fixos, os tipos históri(:.():;. t:m termos do!; qufliS el~s lação ao mundo de meus predecessores pode ser mais ou
e.endidos n.1o 1·equen~m um ato ele fixnç~o maior.
O MUNDO DAS RELAÇÕF,S SOCIAIS ltllLAÇÕ!?.S SOCIAIS INDIRETAS

mais ou menos atualizada. Isso resulta da ~struCuta da tempoxânco, sempi'e posso supor a existência de um n
periência (Erfafmmg) de-sse mundo. Na medida em ':[llC mum de conhecimento. Os tipos ideais dos relacionam
':[Ué meus semelhantes ou contemporâneos me falaram. Nós e do Eles em si pressupõem esse centro comum de
determinada em primeiro lugar pelo grau de concreti- cia. O tipo ideal altarn.ente anônimo, "meu C<)ntemporâo
tinha a sua experiênci•a original vivenciada. Mas será definição, compartilha comigo o tipo ideal igualmente
dicionada pelo grau de concretitudc da minha própria "civilização conlemporânea'', Naturulmcntc, falta isso n
em t elaçfto a eles enquanto narradores. decessor. A mesma experiência lhe pareceria bastante
no contexto da cultura de seu tempo. Em última aná
vc, que ô meu conhecimento do mundo de prc<leccssorc.s tem sentido nem mesmo falar dela como da "mesma" ex
através ele signos, o que ess.e s signos slimificam é anô-
Contudo, posso identificá-la como urna "experiência h
esligado de 'l"alquer corrente ele consciência. No en- qualquer experiência de meu predecessor está aberta
que todo signo tem seu autor e que todo autor tem
i.nterprciação nos termos <las características da e,rpcti
i-ios pensamento:-; e experiências subjetivas, conforme
mana eni geral. ..
ressa através de signo~. f, por(anto, perfeitamente pró-
Os códigos que usamos para inteq,retar o mundo d
me pergm1tar o que um dado predecessor quis dizer
ressar de tal e tal mod,i. Jô claro que, 1rnra fazer isso, predecesorcs são necessariamente diferentes dos que ele
nie ptojeiar retrospectivamente no tempo e me imaginar para interpretar esse mundo. Se desejo interpretar o c
mento de um contemporâneo, posso partir dé uma hipóte
quando ele falou ou escreveu. Mas a pesquisa histó- velmente segura de gue suas experiências vão ser basta
toma como seu oh.feto básico as experiências subjetivas cidas com as minhas. Mas, qu:mdo se trata ele compre
es de fontes Niginais. Ainda assim, essas fontes s.o predecessor, minhas chances de falhar aumentam enor
teiramente à experiência social dh·cta e indireta de seus As minhas intc.r prctações só podem ser vagas e hipotét
Resulla daí que o conteúdo ob,ietivo comunicado pelo vale mesmo para a língua e outros sím.bolos de eras
esenta maior ou menor grau de concretltude. O proce-
a pesquisa histórica nesse aspecto é o mesmo usado na
ção das palavras de uma pessoa que fala coinigo. Neste o MUNDO vos SUCESSORES Para fechar
so, através da comunicação, adquiro uma experiência da nossa visão do mundo social, tratemos brevcrneme d
o que o que fala vivenciou diretamente. Da mesma dos sucessores. Se o mundo cios predecessores é comp
ando leio um documento histórico, posso ·me imaginar fixo e determinado, o mundo dos consócio~ livre e o m
e com o seu autor e saber dele alravés de seus contem- contemporâneos provável, o mundo dos suce.ssores é
um por um, seus contemporâneos tomam seus lugares mente indeterminável. Nossa Qrientação corn. relação n n
meu mundo dos predecessores . cessores não pode ir além disso: que vamos ter algu
Nenhuma chave abrirá a porta <lesse domínio, nem
u mun do dos predecessores é todo ele o mundo de outras dos tipos ideais . l'ois esse último _método bascia-s.e e
ão o meu mundo. t cTaro que ele compreende muitos experiência de predecessores, cousóc1_os e cont~mporane
experiências sociais de graus diversos de C.onc.tetitude h.á nenhum princípio que nos perllllta estende-lo_ ~o m
ntido,. é como o meu mundo do, contemporâneos. Tam- nossos sucessores. ]:. claro, àlguns de nossos <.:0nso-c10s e
areoe com o meu mundo dos contemporâneos no ,;en- porãneos vão viver mais do que nós e podemos supor
ue conheço pessoas dentm dele através de tipos ideais. coritinuar a agir então como sabemos que agem agor
conhecimc.nfo tem urna importante difei·ença. modo, uma esp6cie de zona de transição _p ode . ser e_s
predecessor viveu num ambiente radicalmente dife- entre os dois mundos. Mas ouanto mais d1stanc1ado e
só do meu, mas também do ambiente que atribuo aos dos predecessores do Aqui e- Agora, tncnos se pode co
emporâneos. Quando apreendo um semelhante ou con- tais interpretações .
O M í.JNDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS
11
mesmo ponto mostra quão en-ôneas são, em princípio,
assim chamadas "leis" da história. Todo o mundo dos
é, por definição, não-histótico e absolutamente livte. DISTRIBUIÇÃO DE CON"'HECfME
antecipá-lo de um modo abstrato, mas não podemos
detalhes específicos. Ele não pode ser projetado nem
, pois não tenho nenhum controle sobre os fatores des-
s que intervirão entre a hora da minha morte e a pos-
zação do plano.

Conhecimento Incompleto e Fragmentá

UM TRAÇO MARCANTE na vida de um homem


do moderno é a sua convkç.ão de que o seu nmndo da v
um todo não é inteiramente compteendido por ele mes
é inteiramente c<>mpreendido· por nenl1um de seus sem
Existe um e~toque de eonhecimen!o teoricamente acessíve
quer um, construído pela experiêncin prática, pela ciênd
tecnologia como se fosse um conhecimenLo garantido. M
estoque de conhecimento não é integrado. Consisic num
justapo~ição de sistemas de conhecimento mais ou meno
tes e nem sequer compatíveis uns com os outros. Ao c
os próprios abismos existentes entre as diversas atitude
vidas na!> abordagen~ de sistcmns especializados sfio uma
Nra o sucesso da pesquisa especializada.
Se isso vale para os vários campos da pesquisa cie
válido ainda por mais razõe-s para os viirios campos
dade prática. Onde predominam os nossos in te.esses
estamos satisfeitos com o nosso conhecimento de que cert
e procedimentos atingem certos resultados, desejados ou
jados. O fato de niio <:-0mpreender01os o Por Quê e o C
seu funcionamen lo e de não sabermos nada sobre n sua
rião nos impede <le lidar con1 coisas, siti.rnçõ·es e pess
nos perturbarmos. Usamos {)S mais complicados mecanism
borados por mna tecnologia altamente avançada, sem sab
funcionam. Não se espera de nenhum motorista de au
familiaridade com as leis da !vlecânica, de n~nhmn ou
rádio com as da Eletrôruca. A pe.ssoa pode até mesmo

Tran.s crito do s.e~ointc i.k m da .Bibliografia: l 916. 463-64, 471-72


465-67, 4 73-75.
O M UNDO DAS RELAÇ,Ó ES SOCIAIS DISTRlllUIÇÃO DE CON!iECL\1E1'TO

bem sucedido sem ter a menor idéia do funcionamen to o outro c.~tá parcialmente sob meu controle, como eu so
do, ou um b anqueiro sem o conh.ecirocnto da teoria mo- e ele e ctJ niio apenas sabemos desse fato, mas sabem
O mesmo vale para o mundo social em que vivemos. do nosso conhecimento mútuo·, o que é, em si, um meio
s no fato de que nossos semelilantes vão reagir como citar o conn·ole. Voltan do-nos espontaneamente um para
s, se agimos com eles de um modo específico, que insti- "afinando-nos" espontaneamente um com o outro, ter
ais c:omo govetnos., escolas. tribunais ou s.erviços públi- menos algumas relevâncias intrínsecas em comum.
uncionar, que u m sistema de leis e costumes, de ctcnças ?vias somente algumas. Em qur.lquer intcr;iç.'(o soc
e políticas vão governar o comportamento de nossos porç.ão do sistema de relevâncias in.trínsccns de cada
tes c.omo governan1 o nosso. permanece nüo compartilhada pelo outro. Isso tem dua
Está claro que os membros de um grupo interno não qüências importantes. Em primeiro lugar, digamos qu
como pressuposto, fora de quest.üo, o mesmo setor do e l'a,ulo são parceiros numa interação social de qualquer
e que cada iim seleciona nesse mundo e.lcmentos dife- medida em que Pedro é o objeto da ação de Paulo, e
ra objeto de pesquisa. O conhecimento é distribuído levar cm c•onta os objetivos específicos de l'uulo que el
te . não compartilha, as relevâncias intrínsecas de Paulo
Pedro relevâncias im1iostas, e vice-versa. (O conceito de
cias impos(as apl.icado aos relacionamentós sociais não
O Mundo ao Alcance Çommn nenhuma referência ao problema de se a imposição em
é ou não aceita pelo patcciro. l'ai-ece que o grau de p
para aceitar ou não aceitai·, para ceder ou resiscir: a jm
N◊sso esboço das yárias zonas de relevância revelou
das relevâncias intrÚlsecas do outro poderia ser usado
ao meu alcance como ntíelco de relevância primária.
cesso para uma classi(icação dos vários relacionamentos
ndo ao meu alcance é antes. de, tudo o setor do mundo
Em segundo lugar, Pedro tem inteiro conhecimento ap
alcance rea~; depois, aquele. ~etor que já cstc\~C ao meu
seu próprio sistema de relevâncias intrínsecas. O sistema
eal e está agorn ao meu ak.ancc potencial: porque pode
vâncias intrínsecas de Paulo como um todo não 6. totalme
do de volta ao meu alcance real; finalmente, existe ao
nce possível àquilo que éStá agora ao seu alcance, meu sível a Pedro . Na medida em que Pedi:o tem um conh
te, e que estaria ao meu ,:dcance se eu não estivesse parcial dde - pelo menos ele vai saber o que Paulo lh
e estou, mas a( onde você está - em resumo. se eu esti- - esse conhecimenlo .o~o vai ter nW1ca o grau de prec
:seu lugar. Assim, real ou potencfa1mcnte, um setor do teria se o que é relevante parn Pedro apenas por imposiç
stá ao meu alcance e. ao do meu semelhante; está ao um elemento do seu, de Pe<lro, :Slstçnia de relevâncias int
ance, desde que - e essa restrição é muito impotiante As relevâncias impostas permanecem expectativa:.,; vazias.
füadas. ·
u semelhante tenh a um lugar definido dentro do mundo
alcance, assim como eu dentro do dele. Temos, então, Tal é a distribuição de conhecimento no relacionam
ente comum a ser definido por nossos in teresses comuns, cial entre indivíduos, se cada um tem definido o lugar d
os meus. Na verdade, ele e eu vamos ter um sistema se cada um está sob o controle do outro. Numa certa m
de relevâncias e um conhecimento diferente do ambiente mesmo vale para o relacionamento entre grupos interno
se por nenhuma outra razão, porque ele vê "de lá'' pos externos, se cada um deles 6 conhecido pelo outro
ue estou vendo "daqui". Apesar disso, dentro desse am- especificidade. Mas, quanto mais o outro se torna anô
mum e dentro da zona de ínteresses comuns, posso esta- quanto menos seu lugat no cosmo social é verificável
elacionamentos sociais com o outro individualizado; cada parceiro, mais a zona de relevâncias intrínsecas comuns
agir sobre o outro e reagir à ação do outro. Em suma , e a das relevâncias impostas aumcJJta.
O M I.JNDO DAS RELAÇÕES SOCIAIS DISTRJRUIÇ/\0 DB CONHECIMENTO

situações típicas, resultados típicos, através de meios t


receita indica procedimentos nos quais se pode confiar
Disiribuição Social do Conhecimento que não sejam claramente compreendidos. Seguindo a p
como se fosse um ritual, o resultado desejado pode se
.O anonimato recíproco crescente dos parceiros é . .. sem se indagar por. que têm de ser dados os passos do
tico de nossa civilização mo<le.rna. Nossa situac~o social
mcnto e dados exatamente na sequência prescrita. Esse
c7. menos determinada através de relacionan1;ntos com n1ento, com toda a sua vagueza, é ainda assim suficie
individuais ao nosso alcance imediato 011 mediato e cada preciso no que. <li:,; respeito ao propósito prático em
por tipos altamente anônimos sem lugar fixo no cosmo ~ara todo assunto que não estiver ligado a esses propó
omos cada vez menos capazes de escolher nossos par- tlC-Os de preocupação imediata, o homem da rua ace
mundo social e de compartilhar nossa vida social com 1,'llias os seus sentimentos e paixões. Sob sua influência, e
mos, por assim dizer, sujeitos em potencial ao controle um conjunto de convicções e pontos de vista não-esclare
e todo mundo. Nenhum ponto de-ste globo dista mais ·do qual sim plesmcnte confia, enquanto não interferirem cm s
nta horas de avião do lugar onde vivemos: ondas elé- da felicidade.
regam mensagens de um pólo d« terl'a a outro numa
segundo; e, brevemente, qualquer lugar deste mundo O tipo ideal que propusemos chamar de cidadão b
r alvo de armas destrutivas acionadas em qualauer outro nrndo (assim encurtando a expre$S5o mais col'reta: o cid
sso próprio ambiente social está ao alcance d;qualquer procura manter-se bem informado} situa-se entre o tipo
experto e o do homem da rua. De um fado, ele não
qualquer Jugar; outro anônimo, cujos objetivos nos são
cidos devido ao seu anonimato, pode nos colocar, com p rocura ter o conhecimento do experto; de outro, n
sistema de intcr0sses e relevâncias. sob o seu controle. aquiescer na vagueza inerente ao conhecimento das me
da vez menos donos do nosso direito de dcfinfr o -que tas _ou na irracionalidade de suas pnixões e sentimcnt<)S
': n_ão é rel~vante para nós. Relevâncias impostas polí- / rcc1dos. Estar bem informado significa. para ele, chegar a
om1ca e soc,almente, fora do nosso controle, rêm de ser razoavelmente fundamentadas cm .ár•~as que merecem:
m consideração por nós como são. Portanto, temos de ele, pelo menos a sua preocupação mediata, emboi-a nã
as. !1·1as em que medida? o seu propósíto imediato.
Todos os !rês tipos assim esquematizados por alt
claro, meras construções . .. De· fato, cada um de nós, a
momento da vida <liáda, é simultancamcnc experto, cida
O Experlo, o Homem da Rua, informado e homem da rua, mas cada c<1so diz resp ei
o Cidadüo Bem Informado v íncias diferentes de conhecimento. Além <li.so, cada u m
sabe que o mesmo vale pal'a cada um c!e nossos semel
Para os fins de nosso estudo vamos co.n sttuir três tipos esse foto em si também determina o tipo específico de
e serão chamado~ de expcrl<), homem da rua e cidadão mento empregado. Por exemplo, para o hómem da rua
:ma<lo. ciente ~aber que cxis(em expertos à disposjc;ão para consu
onhecimento do experto está restrito a wn campo limi- ele venha a necessitar de seus conselhos para atingir se
s, nesse particular, é claro e distinto. Suas opiniões ba- sito .prático em questão. Suas receitas lhe dizem quando
cm ~fírmativas gatantidas, seus julgamentos não são um: médico ou um advogado, onde buscar informaçõ
ivinh ações ou suposições soltas. sárias, etc. O experto, por outro lado , ~abe muito bem
onhec.imento funcional do homem da rua abran~e muitos mente um colega experto vai entender todos os tecni
que não são necessariamente coerentes um comv o outro. -implicações de um problema da sua área, · e nunca va
e.cimento são rcccitàs, que indic.am como provocar, ·em um-leigo ou diletante como juiz competente do seu -des
O MUNDO lJAS REI.AÇÕES SOCIAIS DJSTJUllUIÇÃO DE CONHECIMENTO

adão _bem infon~ado se considera perfeitamente quali- cífico, mas o experto inclina-se a delegá-los a outro exp
a dec1d1r quem e um experto competente e aré mesmo qual se espcrn que esses problemas sejam objeto de es
r uma decisão depois de ouvidas opiniões opo,ias de experto parte n ão só da hipótese de que o sistema de p
esrnbcJccido dcnlro de sua área é rclcvan(e, mas també
s fenômenos da vída social só podem ser inteiramente que é o (mico sistema releva11tc.. Todo o seu conhed m
idos _se são remc~dos à estrutura geral subjacente d.i rd crc a esse quadro de refc.rGncia, estabelecido de uma
o· social de conhecnnento acima esboçada. Somente esse todas. Aquele que não o accila como sistema monopoli
ssi~ilit~ urna tc~ria sociológi~a de profissão, de prestí- suas relevâncias intrínsecas não compartilha o seu uni
petenc,a, de can sma e autondacfo. e leva ao entendi- c!iscurs"- Essa pessoa s6 pode esperar do conselho do e
relacionamentos sociai-s complicados, tais como os exis- indicação de meios adequados p ara alingir fins dctcr
e o attista que desempenha seu papel, seu público e mas não a determinaç-ão dos próprios fins. A famosa a
os, ou entre fabricante, varejista, agente p ublicitário e llc Clemene-em1 de que a guctra é um negócio important
r, ou entre o chefe do ~overno, seu conselheiro técni- para ser deixada exclusivamcme aos generais ilustra o mo
inião pública. ~ um hon1en1 de posição mais abrangente rcr1ge aos cons
O homem da rua . . . vive, pode-se diz.e r in<>cnuamente experto.
cvilncias intrínsecas e as de seu o-rupo i~ten~o. As relc- O cidadão bem ínfo1·mado situa-se num domínio
p?stas ele só considera c9mo el~-méntos da situação a tence a um número infinito de p"ssívcis quadros ele re
mrdos, ou como dados ou condições para a sua linha Não existem fins predeterminados, fronteiras fixas, o
las são simplesmente dadas e não vále a pena tentar curar abrigo. Ele tem de escolher o quadro de referên
l hcndo o seu interesse; tem de investjgar as zonas de r
er sua origem e estrutura. Por que certas coisas siio
~ntes do que ou Iras, por que zonas de aparente irrelc- aderincki a elas; e tem de reun ir tanto conhecimento qua
1nseca podem e-sconder elementos que poúeriam lhe se,· sível sobre a origem e as fontes elas relevâncias real o
s amanhã como assuntos da mais alta relevância, não ciahnenle in1postas a ele. Em termos da classificação
o.nta; essas questões não influenciam seu agir e pensar,
menle utilizada, o cidadão bem infonnado vai restiingir
a, atravessar a ponte rultes de alcançá-la, e tem como dida do possível, a zona do ia-elevante, ciente de que o
que vai encontrar uma ponte quando precisar e que é relativamente irrelevante pode se impor amanhã co
astante sólida para ugüentá-lo. Essa é uma das' razõe.s
relevância primária e de que a província do assim chama
ªº formar suas opiniões, ele é muito mais governado lu tamente irrelevante pode se revelar a casa dos po<lcrc
mos capazes de subjugá-lo. Assim, sua atitude é tão dife
lent? .do q~c l'Cla i.nformaçfo, por que ele prefere, do experto, cujo conhecimenlo é delimitado por um únic
stahslicas tem amplamente demonstrado, as p·áginas de relevâncias, quanto da do homem da rua, que é in
s em quadJ:inhos dos jornais iis notícias internacionais, à pr6p1ia cslruturn da relevância. Por essa mesma razão
as de perguntas e respostas no rádio aos comentaristas de íormar uma opinião rnz:oável e procurar informação:
.
erto, como entendemos esse tern10, só está à von.t ade
a de relevâncias impostas - islo é, impostas pelos pro-
estabelec1~~s dentro de sua área. Ou, mais precisa-
m. sua dec1sao de tornar-se um experto, ele aceitou as
1mpostas dentro de sua área como intrínsecas, e como
relevância~ i~trínsecas, de seu agir e pensar. Mas essa
damente limitada. Na verdade, existem problemas mar-
mesmo problemas que estão fora de seu campo espc•
V . Reinos da Experiência
12

TRANSCENDtNCIAS E
REALIDADES MúLTIPL..AS

A Experiência da T ranscendência

NA M INHA vmA DIÁRIA, me encon tro dentro


mund(> que não é feito por mim. Conheço esse foto, e e
prio conhcéime1üo pertence à minha situação biográfica. H
meiro, o meu conhecimento de que a natureza transcende
dade da minha vida diária tanto no tempo quanto
paço. No tempo, o mundo da naturez..a existia antes do me
mento e vai continuar a existir depois da minha 1none..
antes do homem surgir na Terra e prov3vcJmente vai sob
à espécie humana. No espaço, o mundo ao meu alcance r
consigo horizontes infinitos, aberras ao meu alcance J}O
111us dentre as minhas ~xperiência:s desses horizontes existe
vicção de que cada mundo ao alcance potencial, uma ve7
formado em mundo. ao alcance real, será de no,·o cerc
novos horizontes, e assim por diante. Dentro do universo
alcance existem, alé1n disso, certos objecos: tais como os
celestes, que não p osso trazer para a minha esfera de manip
e existem eventos dentro da minha área de manipulação, ta
as marés, que não posso pôr sob o meu controle.
Sei, além disso, que de u m modo similat o mundo
transcende a realidade da minha vida diáda. Nasci num
social pré-organizado, que vai sobreviver a mim, um mund
partilhado desde o começo por semelhantes, que são orga
em grupos, um mundo que tem seus horizontes determina
rempo, no espaço e tamb6m no q ue os sociólogos ch am
distância social. No tempo, existe a cadeia infinita de g
q.u e se sobrepõem uma à outra; meu e.lã se refere a outr

Transcrito dos seguintes itens cfa Bibli.;,grafia: 1935b, 17$-77, 177-


178-82, 186-87, 187: 1945c, 552, 552-53, 553,54, 555-56, 564--68.
RElNOS DA EXPF.RTÊNCIA TRANSCENOtNCIAS E REALIDADES MÚLTIPLAS

ibo a outras tribos, e eles são inimigos ou amigos, fa. bemos que a Natureza e a Sociedade representam alg
mesma ou outra Hngua, mas são sempre organizados, de ordem; porém, a e.ssência de-ssa ordem como tal nos
ma social particular, vivendo o seu estilo de vida pe- nhecida. Ela se revela apenas em imagens por meio de
Meu ambiente social atual semp1-e se refere a um hori- são analógica. Mas as imagens, uma vez constituídas, são
ambientes sociais possíveis, e podemos falar de uma como pressupostos: e assim as transcendências às quais se
dência iniinira do mundo soda[ assim como falamos de Como é possível isso? " O milagre dos milagres é o
scendência infinita do mtmdo natural. que os milagres genuínos tornam-se para nós uma ocorrên
ncjo ambas essas ttansccndências, a <la Natureza e a da ria", diz o Nathan de J.c.ssing. Isso acontece porque cnco
e, como sendo impostas a mim, num duplo sentido, de no nosso próprio ambiente sócio-cultural sistemas soc
me enconlTO a qua1que-r momento da minha existência apl'Ovados <J.UC oferecem !'espostas 1, nossa inquietação d
natureza e dentro da sociedade - ambas são permanen- transcendências desconhecidas. Desenvol vem-se dispositiv
lementos constitutivos da minha ;ituação biogrúíica e são, a apreensão dos fenômenos inguictantes que transcendem
vivenciadas como pertencendo irremediavelmente a ela; do da vida diária, de certo modo análogos aos fenômenos
o lado, elas consútuem o único qt1adro dentro do qual res demro dele . Isso se faz atrnvés da criação de referê
iberdade de minhas potencialidades, e isso significa que aprcsentaçfo de uma ordem superior, q ue· serão cham
crevem a escala de todas as possibilidades de definição símbolos para marcar sua <lifotença dos tennos ªmarcas"
a situação. Nesse sentido, elas não são elementos da caçõesH e "signos" até agora usados .
iuação, mas determinações dela. Na p1imcira acepção,
até mais, tenho de - tomá-las como pressupostos. Na
acepção, tenho de chegar a termos com elas. Mas, nos
idos, tenho de entender o mundo natural e o soe.ia!
Simbolo
e suas transcendências, nos termos de uma ordem de
eventos.
Numa primeira .ibordagern , o símbolo pode
Ilido como uma rcferência de apresent,1ç1io de ordem sup
de o começo, também sei que qualquer ser humano vi- qual o membro do par que apresenta é um objeto, fato o
mesmas transc.cndências impost~s pela Natureza e pela da realidade de no,sa vida cotidiana, enquanto o outro
e, embora as vivencie de perspectivas individuais e com do par,. o que é apresentado, se refere a uma idéia que tra
individuais. Mas a ordem da Natureza e da Sociedade nossa experiência da vida cotidiana .
a toda a espécie humana. Ela provê pata todos o esta-
Essa definição corresponde. em essência, à noção de
nto de um ciclo de sua vida individual, de nascimento,
desenvolvida por Karl Jaspers no terceiro volume de su
mo, morte, saúde e doença, desejos e medos. Cada um sophie, 1 do qual tiramos a citação que se segue, em
articipa do titmo recorrente da natureza, para cada um livre, omitindo certas referências à posição filosófic.1 esp
s movimentos do Sol, da Lua e das estrelas, a mudança
Jaspers:
ara a noite e o ciclo das estações são elementos de nossa
Cada um de nós é membro elo grnpo no qual nasceu ou ralamos de .signiliC$dú no sentido dê s!gn?.. e. im1.1gem_, de símile
se juntou e que continua a existir se alguns membros e nu:túíora. A prim;ipal diférl!-nça entre s1gruuc.ado <lenu·o do mund
e ouLros nele ingressam. Ern toda parte h:!verá sb:temas í icado ruetaíísico consütc nú critério de ~e, no relm::.io;rnmenlo
tesco, grupos de idade e grupos de sexo, diferenciações im:.fgern e aquilo que ela represr;nü~,; o últi~o pO~l!tia ser .apreen
si, como wna objcdvidi.<le, ou se à mu~gcm ~ ~•ma unagé~ d1; alg?
o com as ocupaç6cs e uma organização de poder e co- é (ICCssivcl de. nenhum 01.1t.ro modo; Vtli.: <ln.t,?r, se aqu1}0 q_ur;. e
ue leva às catcgo,ias de status e prcsrfgio social. Mas,
mento do senso comum da vida diária, simplesmente sa- 1 (Be.rHm. 19.32), voL 3, Jfeitiphysii:, c.:up. l , p. 16.
RlllNOS DA EXPER'IQNCIA TMNSCEND.ÍlNC!AS E REIIL!l>AOBS MÚLTI PI.AS

em trunbém poderia ser afirmado ou dt.:monstrado de uma mrmeirn Com relação ao último, por motiv◊s que mencionarem
u se ~q\lilo cx.is{e para nós apenas ;H-1 medida e.o1 que existe mt
Somente no último caso estarismos fofondo de um ~ímbolo . . . O midamente, preferimos não tirar exemplos do mundo
não pode se.: interprct:ldo exceL(l JlOt meio de outros súubo!os. cultura ocidental atual. Elá tem desenvolvido d iversos
_l:I compreensão _<fo um símbolo n~fo consiHc em s;e :;~phff a ~nia de símbolos, tais como c.iência, arte, religião, política e
ao de modo rac1onnJ, m~s cm .se \•ivcncii1-lo cxistencfolmenle na
simbólica, como a única referência u algo-ma coi~a transccnd;nte. alguns dos quais serão caracterir.ados na próxima seção.
e:.;1parcce num ponto limite. temos de considerar que a coexistência de diversos sistem
Jicos - relacionados uns aos outros apenas soltamente
A simbolização é uma referência de api-esenfaç,'ío de o são - é um traço especial da no:ssa própria situação
uperior; isto é, hascfa-se cm referências c!e apresen{aç.fio e rcsullado de nossa tentativa de desenvolver uma inte
adas, tais como marcas, indicações , signos ou mesmo sím- do cosmo nos termos dos métodos positivos das Ciênci
acó, acordando do seu sonho da escada, em que Deus se rais. Vemos o mundo como o definem as Ciências Natu
a ele (Génese, 28, t0-2 5) , (omo11 a pedr,; que linha u;:arlo temáticas, como o arquétipo de uma ordem ideal ele re
ravesscfro e erigiu~« em padrão, e a un,giu para que se simbólicas, e somos inclinados a explicar todos os out
a casa de Deus. "Cei'tamentc", disse e.lc, "o Senhor está mas simbólicos como se fossem derivados dele ou, pel
gar; e e11 não sabia disso". É difícil transmitir de modo subordinados a ele. Em seu livto Scie11ce mui the Modem
amático a irrupção da experiência transcendente no mundo Whiteheud afirmou, com razão, que as descobertas de
cotidiana, que o rransfoi:ma e dá a cada clcr.aento s~u e as leis do movimento de Newton estabeleceram o conc
nificação de apresentação ("o Senhor e~tá neste lugar") damental do "sistema isolado ideal", essencial à teoria c
eriormente não pO;>sufo ("e cu n5o sabia1 ·') , A pedra s~ de tal forma que sem ele a citncia seria impossível . W
avesseiro. CJ travesse.iro padrão, o padrão a casa ele Deus. explica que:

o sisLem.1 is.ofado não é- \lm Si:-.1.ema solipsista, sem o q1.1:ü havC


cntid,~dl.!. Ele é isolado como dentro do universo. Isso sig;n;Jica q
As Raízes do Simbolismo verdades que rcspcit8.m C$~ê. sistemc.), que :;ó requerem .referência
das eo!so.s por meio t?t! um c6digo sistemático uniforme de rch1cfo
Temos ngora de estudur o ptoblema da consüLuicão
de apresentação que pode funcioMt como símbolo. Co~o Por outro lado, muitas investigações de antropólogo
el q ue um obj~lo, evento ou fato da rc~.lidadc de nossa lógos, mirólogos, filólogo;, cientistas políticos e historiad
idiana seja associac.lo a uma idéia que trnn.scen<le a nussJ c.!çrnos 5 mO!:>traram que noutrns culturas, e mesmo e1~1
cia da vida diália? Esse problema pode ser abordado em anteriores da nossa próJJrfo cultura, o homem vivenciou
eis difetentes. Existem, em primeiro lugar, conjmuos de reza, a socie.dade e a si próprio con10 igualmente par
ás de. ap1·csentaç.ão que são univcxsais e poden1 ser usa- da ordem do cosmo e de(erminados por ela .. .
simbolizar por que estão enraizados na condição huni.1- No pensamento clássico clúnês pode-se encontrar u
studo desses conjuntos de referências de aprcscntaç.'fo é pio da total integração da inter-relação simbólica, cham
a da Antropologia Filosó(ica. Em segundo lugar, pOdem•s~
Cassircr de sociedade da vida. De acordo com o sinólog
r as formas particulares de sistemas simbólicos, conforme
vidos pelas várias culluras em períodos diferentes. E
ema d.i Anlropofogia Cultur:il e da história das idéias. 2 Nova York, 1925, T~imbém existe nu colecão Pclican-ti.foot<.,i: (N
rican Library). Ver p , 47 deH-ál ültimu e<lição.
de nos restringir aqu i a rápidos comentários descritivos
guns itens do primeiro grupo, ilustrundo•os com exemplos 3 Refe.rimo·nos ~os cscrit<>~ de J:'.mik Oúrkheim, Lt1cicn Lévy-Dru
ntes ao segundo. 1vlauss, I\-hircel G ranel, Bronlsfaw Molino"vskl. Ernst C~;ssi.rer. Br
Aloís Dempí, Arnúld J. Toynbcc- ç Uric Voege.tiJ1.
RéJ NOS DA EXJ'IF.RTÚN Cli\ TRANSCENDÊNCIAS E REALlDADBS MÚLTIPLAS

Granel; existe na literatura chinesa clásska uroa unidade ser confront~das e. s·ão, assim, visíveis, e há aquelas nã
ura entre o microcosmo - homem - e o mactocosmo e, portanto, po»ivelmente perigosas - e também n::is
rso - e a estrutura do universo é explicada pela estru- à direita e à esquerda .6
ociedade. Todas essas estruturas são dominadas por dois
O Sol, a Lua e as estrelas surgem e se põem para
s fundamentais: primeiro, a posição do Masculi no e do homens, em direções opostas, sendo, para todo n1t.mdo, "
: o positivo e o negativo, o Yang e o Yin; e, , seg:undo, para encontrar seus destinos. Mas os quatro pontos car
ão entre o chefe. e o ,•assai(> na estruturn hierárquic;1 bússola dai resultantes tmubém têm suas conotações si
dade. Baseada nesses princíp ios, a etiqueta prescreve e pois estão ligados com a mudança do dia para a noite .
eticulosamente todos os detalhes do mundo da vicia coti- e escuro . com estar desperto ou do1mindo, corn o v.is
jnvisívcl, com o vir-a-ser e o passar-. O ciclo de v ida dos
taremos mostrar agora, au:avés de uns poucos exemplos, - nascimerno. iníância, adolescência, n1aturidade, velhic
originam os símbolos universais da condição humana - tem sua analogia no ciclo das estações e no -ciclo da
omo já se afirmou, o homem se considera o centro C getal e animal, jh'l.tulmente. importanLcs p~ra a criação, a
istema de coordenadas, no qual ele agrupa os obieto, o cruzamento <los animais e, por sua vez, correlacion
mbiente em termos de ªacimaH e ".abai xo", "adíant:::'1 e. movimemos dos ooq,os celestes. Mais uma vez se estab
"dll'eita" e "esquerda' Assim, para todo homem, a terra
1
• conjunto de correlações q11e permite que seus elementos
emento do abaixo e o céu do acima. A terra é comum pares de apresentação na forma de símbolos. A organiz
s e animais; é a procriadora de vida vegetativa, a pIO· cial, com suas hierarquias de governantes e subordinado
e comida. O céu é o lugar onde os corpos celestes apa- e vassalos , rem seu correla10 na hierarquia dos corpos
desaparecem, mas é também o lugar de onde vem a As~l.m, o cosmo, o indivíduo e a comunidade fotmam u
em a qual não é possível a fertilidade na terra. A cabcçu, dade e estão igualmente sujeitos às forças universais qu
ega os órgãos p1incipais de sentido e o 6rgã·o da respi- nam todos os eventos. O homem tem de compreender ess
o da fala, está na parte superior do corpo h umano e o.; e, porque n ão pode dominá-las, tem de conjurá-fos ou pac
gestivos e os da procriação na parte inferior. A ligação Isso niio é , porém, preocupação do indivíduo isolado,
esses fenômenos faz da dimensão espacial "acima e toda a comunidade e sua organização.
o ponto de p artida de um conjunto de apresentações sim- As formas simbólicas cm que se apréséntam as força
No pensamento chinês, por exemplo, a cabeça simboliza verso da natureza assim como do da sociedãde (mana,
também o telhado da casa), enquanto os pós (o chão) manitu, Yin e Y an.g, divindades de vários tipos e hie
m a ten-a. Mas já que o céu Lcm de mandar chuva, etc.) são tão múltiplas como os símbolos que as aptésent
ira a fertilizar a terra, o céu também é, para o pensa- tos expressivos. proposi'tsis ou miméticos, presentações
hinês, o princípio i\fasculino, o princípio positivo, Yang, cas ou pictóricas, simpiltias, encantrunentos, ritos relig
o negativo, feminino, Yin. E esse simbolismo de supe- mái,'Ícos, cerimônias). Os símbolos· dos mitos têm a funç
ior tem seu correlato na medicina, na música. na dança , cular de justificar e atesiar a verdade e validade da ord
quia social e na etiqueta chine$aS, sendo tudo isso corre- belecida pelos outros sistemas simbólicos (Malinowski
o e podendo ser confrontado alravés de referências de Nesse nível, o mundo do sagrado e o do profano estã
ação simbólicas;; Existe simbolismo nas direções para famcnte imcrlig~dos.
p ara trás - há coisas que são confrontadas ou têm de
6 Ver o intcrc-ssam.c a!'rigo de Grnnel, "La droirc ct la gaucbe e
Ewdcs sociofogiqW!!. sur la Chine (Paris, 1953) , p. 268; \'~r em. E:tudes socio/ogiqaes1 pp, 2ól-7S.
ràne.t, l..u pensée chiuoise (Pads, 1934) , p"ssim. 7 Bronislaw 7vfotiuo\vski. Magic, S<:ie:,cc.~ aud Religio!T (N◊\'U Yo!
PP- lOO e seguintes.
REIN OS DA EXPE!HÊNCIA TRANSCCNUfiNCIAS E REALIDAUES MÚ LT IPLAS

como províncias finitas do significado . Todas as exp


Províncias do Significado dentro de cada um dcsNs mundo~ são, com r.:,spcito a es
cognitivo, consistentes em si e compatíveis uma com a ou
Num famoso capítulo de seus Principies of Psychol- bora não compatíveis com o significado ela vida cotidiana
lliam James mostra que existem diversas ordens de reali- di;so, cada uma d.:,ssas províncias finitas do significado
ovavelmente em nümero .infinito , e-ada uma com o seu c.s- outras coisas, caracterizadn por uma teu:são de consciênc
cífica (desde o alerta total com relacão à realidade da v
ial e distinto de cxistGncia. Jãmcs as chama de "subuni- diana até o sono no mundo dos sonhos), por uma perspe
menciona como exemplos o mundo dos sentidos ou coisas
realidade principal), o mundo da ciência, o mundo das tempo específict1 1 pol' uma forma específica de se "ivenc
próprio e, final.ruente, por 1nna forma específica de soci
deais: os mundos da mitolo~{ia -e da religião, o mundo
os da Lribo", os vários mundos de opiniões individuais
do da loucura pura e do capricho. "Cada mundo, e1t-
e estd concentrado nele. é real segundo o seu próprio Realidade Suprem.a
que a realidade evapora-se com a atenção." Realidade
simplesmente relaç.ão coro a nossa , 1 ida emocional e William James acertadamente ch3ma o sub
que quer que seja que exdte e esti1uule nosso intctcs.sc dos sentidos, das coisas Hsicas, de realidade suprema. Ma
osso primeiro impulso é afirmar imediatamente a reali- rimos tomar como realidade suprema a rrovíncia finita d
tudo o que é concebido, eoquen to isso perma11ecer sem ficado que chamamos de realidade da nossa vida co{idia
ão. ". . . Acredita-se cm todas as proposições. sejam realidade da nossa vida cotidiana, que o nosso pensam
atribuição ou existenciais, através do próprío· fato de senso comum tem como um prcssllposto, inclui não só os
as concebidas, a oíio ser que se choquem com outras fatos e eventos físicos ao nosso a lcance real e potencia
es cm que se acredita ao mesmo tempo, quando se bidos como tais a trav6 do código de percepção simpl
ue os seus Lermos sao os mesmos que os termos dessas também referências de apresentação de ordem inferior, pel
oposições:'' 9 os objetos físicos da n atureza são transfounados cm objeto
os, é claro, que des!iga1· a engenhosa teoria de William cultmais. Mas como css~s apresentações de ordem inicr
seu cenário psicológico e, analisá-la em função de suas bém têm objetos, fatos ou eventos do mundo exterio
mplicações. . . Preferimos falar de 1)tOvínciaS finitas do membros, no p ar de apresentação, acreditamos que nossa
o às quais atribllímOS o acento da rc.alidadc, cm ve, de ção seja compatível com a de James.
sos, como faz William Tames. Com essa mudança de
gia, enfatizamos que é o significado de nossas experiên-
o a estrutura ontológica dos objetos que constitui a rea- O Estilo Cognitivo da
ada província do significado - o mundo principal de Reafidade Suprema
eventos reais; o qual podemos afe.tru: através de nossas
mundo de imaginações e fantasmas, assim como o mu·ndo
1) Uma tensão de consciência especifica o
uedo da criança, o mun do do insano, mas também o
precisamente, o csiado de alerta total, originando-se da
a arte, o mundo dos sonhos, o mundo da contemplação
- tem o seu estilo cognitivo especial. E esse estilo total à vida;
2) um epoché específico ou, mais precisamente, a
de um conjunto de nossas expel'iências q\le as constitui

cap. 2 1.
, 293, 290.
'. são da dúvida;
3) uma fonna predominante de espontaneidade o
precisamente, o trabalho (um tipo s.ignificativo de esp
REINOS DA liXPERl ÊNCIA TRANSCF.NOf:NClAS E REALIDADE., MlJLTll'LAS

eado num pro.ieto e caracterizado pela intenção de rea- mtmdo dos sonhos; a trnnsformaç<'ío interior por que
s!ado de coisas projetado, através de movimentos do • quando a cortina do teatro se levanta, que é a transiçã
mundo exterior) ; muodo do palco; a mudança radical em nossa atitude
uma íorma específica de vivencia,· o próprio eu (o eu de uma pintur~, permi1imos que nosso campo visual
balha" como o eu total) ; tado pelo que está dentro da moldura, que é a passage
uma forma especifica de socialização (o mundo inter- mundo pictórico; nossa incerteza, que se r.claxa com o ris
comum da comunicação e ·ação social); ouvimos uma piada e ficamos durante um breve pe
tempo dispostos a aceitar o mw1do fíctfcio da anedota c
uma perspectiva de tempo específica (o tempo padrão, realidade, cm relação à qual o mundo de nossa vi
dgina de uma interseção da durée com o tempo c6s• assume um caráter de bobagem; a inclinação da crianç
mo estrutura de tempo universal do mundo intersubje- seu brinquedo, que é uma transiçiio para o mundo d
deita; ·e nssim por <llante. ~·ias também us experiências
s siío pelo menos alguns dos traços cio estilo cognitivo ern todas as suas variedades - por exemplo, a exper
encem a essa província do signific.ido em particular. Na Kíerkegaanl do "instante" como um sallo para a es
m que nossas experiências deste mundo - as válidas giosa - é um choque desse tipo, tanto quanto a d
o as invalidadas - compartilham esse estilo, podemos cientista de substituir toda a participação afetiva n
r essa província do significado como real, podemos atri- " de.ste mundo" pot uma atitude contemplativa desintere
la o acento da realidade. E, com respeito à realidade
da vida cotidiana., na atitude naturati somos in<luzi<los
porque nossas experiências práticas comprovam a vali- Realidades Não-Suprem.as
unidade e da congruência do mundo do trabalho e a hipó-
mávcl de sua realidude. Além disso, essa realídade nos
r a natura] , e não estam.os prontos para abandonar nossa l) Todos esses mundos - o mundo dos s
m relação a ela enquanto não vivenciamos um choque imaginação e dos fantasmas, especialmente o mundo d
o, que nos impele a romper os limites dessa província mundo da experiência religiosa, o mundo da contempla
do signi[ica<lo e a mu<lar o acento <le i;eal\da<le parn tffica, o mundo de brinquedo da criança e o mundo do
- são províncias do significado finitas. Tsso quer dizer
todos eles t~m um e.stilo cognitivo peculiar (embora n
do mundo do trabalho na atitude natural); b) todas
riências dentro desses mundos são, com respe.Ho a e
Transições cognitivo, consistentes em si e compatíveis umas com
(embora incompatíveis com o significado da vida cotid
Na vct<lade, essas experiêncüis de choque me acon- cada uma dessas províncias do significado finitas pod
eqüen temente no curso da minha vida diária; elas per- um ac-e nto de realidade específico (embora não o acento
sua própria realidade. Elas me mostram que o mundo <lade do mundo do trabalho}.
ho no tempo padr.ão não é a única província do signifi• 2) A consi.stência e compatibilidade das experiên
tu, mas somente wna entre muitas outras- acessíveis à relação a seu e-stilo cognitivo peculiar subsistem apen
da intencional. das fronteiras da província do significado particular à
tem tantos tipos, inumeráveis, de experiências de choque ,. tencem essas experiências. De modo algum aquilo que
s como existem províncias <lo sii,'niíicado finitas diie- tível dentro da província do significado P será também
s quais posso atribuir o acento de realidade. Alguns vel dentro da província do significado Q. Pelo contrário,
são: o choque de adom1ecer, que é um salto para o P, supostamente real, Q e todas as experiências que lh
RElNOS DA F.XPERl ÊNCIA TRANSCENDÊNCIAS li RfiALW i\Dê.S M Út.:r!PLAS

riam mcr:!mcntc íictícfos, inconsistentes e incomuativeis, significado finitas, inteiramente heterogêneas em outros as
. · nenhuma delas redutível à outra. Esse grupo é comume
1· essa ·mesma razão, temas o direito de falar de pro- hhecédo como das fantasias e imaginaçÕ~!> e abraça, entre
significado finitas. Esrn qualidade de finita implica outros, os reinos dos devaneios, do brinquedo, da ficçã
iste possibilidade de se referir uma dessas províncias contos de fadas, dos mitos e das piadas. Até aqui, a F
vés da introdução de uma fórmula de transformacão. nUo tratou do problema da constituição específica de cad
de uma para a outra só pode ser feita por meio, de dessas inumeráveis províncias da vida de nossa imaginaçúo
como Kicrkcgaanl o chama , que se manifesta na expe- uma delas se origina de uma modificaçfio específic.a por qu
etiva de um choque. a real.idade suprema da nossa vida diária, pois nossa
que acabou-se de chamar de "salto" ot1 "choque" virando as costas para o mundo do trabalho e suas taref
mais do que uma modi(icaçâ<i radical da tensão de tensões decre-scente-s de consciências, retira de certns de s
dência., fundamentada num tjpo <lifereme de attentiott madas o acento de realidade, substituindo-o por um conte
fanf3sia supostamente quase real. No que diz respeito ao
o estilo cognitivo peculiar de cada uma dessas pro- ma cm pauta, basta um exame rápido do que lodos esses m
significado diferentes pertence, assim, uma tensão de têm cm comum.
específica, e conseqüentemen te um epoché específico, Ao viver em um elos muitos mundos d-a fanta.~ia, não
1iredominante de espontaneidade, uma forma especí- que donlioar o mundo exterior e vencer a resistência d
ência do cu, uma fo1·ma específica de socialização e objetos. F.-siau,os li vrcs do motivo pragmático que govern
ctiva de tempo especifica. atitude natural com relação ao mundo da vjda diária, livr.
mundo do trnba!ho na vida diária é o arquétipo de bém do laço do espaço "interobjetivo" e do padrão de
iência de realidade. Todas as outras províncias do i.utetsubjetivo. Já não estamos confinados aos limites do
podem ser consideradas como suas modificações;. 10 alcance real, recuperável ou possível. O que ocorre no
exterior já não nos impõe tc1,11as entte os quais escolh
estabelece limites com rcfaç.ão às metas que podemos al
Mundos de Fantasia No entanto, não existem "me-tas possíveis" no inun
fantasmas. se vemos nessa expressão um sinônimo <l~ "v
Sob c-,te título vamos disc.utir algumas características O cu que imagina nem trabalha nem atua, no sentido que
stilo cognitivo peculiar a wn grupo de províncias do a essas palavras nas definições acima. A imaginação po
projetada na medida em que pode ser concebida com
c~ ne~ssári<> uma .sdvcnência. o· conc.eilo úe províncias do dência e pode .ser incluída numa hierarquia de planos. M
nas n~o e.Jtvolve qualquer ..:on◊tliçiío -cmítica, col corno se senrido do termo "projeto" niio é exatamente o mesmo
e ~ck cwmu- uma dessas. provfncias como a 'C-'Sa onde vamoiô
de. onde partimos e para onde vornos te-tornur~ Não é esse o usamos quando definimos a ação como conduta planeja
mamente. Num único dia, ou mesmo numa tiuica ho1•à lll)l>:ia iermos resttitos, o que vale é o oposto ou, mais precis
ode ~orrcr peios o,.:,is diferentes tipos <le tensão e ad~rnr as que a -ação projetada é sempre o ato de~empenhado na
s alJtudê~ de atenção com r.:iaç..1.o à vida. Mú êiém disso o nação, imagit1ado no Lempo futuro perfei to. Aqui. não
"~nd m;es.": i.$to é, regiões. que p~rte-oc;,:n1 a 'uma provín~i.l
a n,·augida por nutrn, um problema qt1c. importante como ~ particularmente irueressados em investigar se todas ou
ttatú<lo den tro dos iimitcs deste lrabs)bo o q_ual presum.i~ algumas ou se nenlrnnw forma da vida de nossa ima.ginaçã
ogt-sc a de.lír1eHr uns poucos nrincipios de aM;lise. Como ser qualificada. como "ação" ou se a fantasia pertence ex
grup? tle prvblemas ign<.mtdo: Qualquer projeção no muuclo mentt il categoria do mero pensamento. Entretanto, é da
em si. como vi.mos. uma fantasia e :iindt ê-ffV')lvc um ti•\o
-· leunc:.n,
çao ,. crubora tJ~W
_. necessari&mcntc
' a' da ' atitude• .:ien-
t' importância compreender que o imaginar, em si, nunca
intenção de ri:alb;ar a fantasia; falta-lhe, noutras palavras
RErNos o , F.XPE.R1brc:JA TRANSCENDÊNCIAS E REALtnAOES MÚLTIPLAS

rdem" do propósito. üsnndo a linguagem de Tdeas, de " caráter de ação'' da. teorizas,ão, por si ;ó, seria suficie
odemos dizer que todo imuginar é ' 'neutro", fallll-l hc distingui-lo de sonhar.) Além disso, 6 pensamento prop
de de posição específica <la consciencia tétic,1. esse propósíto, por si só, seria suficiente para distingui-lo
tanto, temos de distinguir nítida111ente entre a imagi- fantasiar!), sendo o propósito a in tcnç"o de re,1lizar a so
mo uma manifestação da nossa ,,ida espontânea e as problema em questão. Aínda assim, as cogitaç&s teór
maginadas. Agir pode ser imaginado çomo um agir são atos de trabalho, isto é, não afetam o mundo exte
esmo o trabalh.o, segundo nossas deíinições anteriores, realidade, baseiam-se em atos de trabal ho (t,iis como me
imaginado como se referindo a \1 111 projeto preconce- nipular instrumentos, fazer experíências) ; :;ó podem ser
o. te.a do seus "motivos a fim <le" e. " motivos por que" caclus atrnvés de atos de trabalho ( t2js <.:Orno escreve!' um
, como se originando de escolha e d~cisão, como tendo dar u ma sula); e assim por diante. Todas essas atividade
dentro de uma hierarquia de planos. Ainda mai-s: pode penhadas dentro do e pertencendo ao mundo do trab
ado como imbu(do de uma intenção de realizar o pro- c,mdições ou conseqüências de teorizaç.ão, mas não pert
esenvolvê-lo, e pode. ser fantasiado como afetando o atitude teórica em si, da qual podem ser facilmente isol
e1"ior. T udo i.sso, porém, pertence às obra; da imagi- mern,a forma, temos de disiinguir enttc o cientista qua
duzidas no e pelo ato imaginado. Os "desempenhos" e mano que age e vive entre seus semelhantes sua vi<l:i co
de trabalho" são meramente imaginados como desem- o pensador teórico que não está, repeiímos, interessado 1
atos de traba.lho, é eles e as categorias que lhes corres- 11io do mundo, mas na obtenção de conhecimento atravé
omando emprestada uma. expressão de Husserl, "vêm observação.
s". Contudo, o imaginar em si é necessaiiamente inefi- Essa atitude do "observador desinteressado" está
itua-se, em todas as circunstâncias, fora das hierar- num tipo peculiar de attentio1i à la vie, que é o pré-
planos e prop9si1os válidas dentro do mundo do tra- ele. t0da teo1i zação. Ela consiste em abandon ar o sistema
eu que ímagina não transforma o mundo exterior. vâncias existente na esfera prática da atitude n atural.
uníverso da vida, aquílo que Husserl chama de Lebeu
é dado tanto ao homem no mundo do trnbalho quanto
sador teorízante. Mas, pata o primeiro, outras seções
Província do Raciocínio Cieniífico elementos desse mundo s"o mais relevantes que para o úl
O pensador ttórico . . . faz antecipações que, de u
O L corii!ar científico - e no que se segue os lc.tmo~ remetem para o seu estoque de experiências sedin1entad
riz.ar, etc., sel'ão usados e,(clusivameute nesse sentido outro, para o seu sistema de relevâncias especi:al. . . C
não serve a nenhum propósito JJráiico. Seu objetivo diferentemente do homem na vida diária, não é passioM
minar o mundo, mas observá-lo e, se possível, com- interesse na questão de se suas antecipações. .se pre-ench.i
.. . provar ser úteis para a solução de seus problemas práti
as cogítações teórícas são "ações" e até mesmo "de- apenas lhe interessa saber se e.las vão ou não passar no
" de acordo com as definições aqui dadas anterior- verificação das experiências que se seguem. Isso envolv
as s5o ações porque são emanações da nossa vida es- o sentido da definição acíma for bem compreendído - u
desenvolvidas segundo u.m projc.to, e são desempenhos desligamento do il1ieresse na vid•a e um voltar as cosias
segue a intenção de desenvolver o projeto, de 1-eafüar chamamos estado de alerta total,
o projetado. Assim, a teorização cientifica tem os seus Como o pensamcn!o teórico não afeta o mundo extc
motivos a fim de" e "motivos por que" é p lanejada, é rcvog,ível, de acordo com o significado desse termo a
a dentro de uma hierarquia de planos estabelecida pela nido anteriormente. Isso significa que está sujeito à rev
perseguír e desenvolver atividades cíentíficas. (füse mane.ntc, pode ser dcs[cito, "anulado", "cancelado", mo
REINOS DA EXPERIÊNCIA 1'RIINSCENDBNCJAS E llEALWADES MÚLTIPLAS

gc,ar qualquer mudSJtça no mundo e,xterior. No process" a solução n1ais ou 111enos vazfa, antecipada, desse problem
men to tcólico, poses telornar repetidamente às minh2s se a meta suprema da ati·á dade científica. Por outro fado
, revogar minhas conclusões, anular meus julgamentos, colocação do problema define, de uma vez, as seções
u restringir o âmbito do probletna em estudo, etc. mentos do mundo que. real ou potencialmente, podem rel
O pensador teórico cslá interessado cm problemas e so- se a ele como relevant~s. como afetando a matéritt em
lidas crn si próprios, para lodo mundo, em todo lugar Assim, essa circunscrição do campo relevante vai guiar
hora, sempre que certas condições da hipótese da qual cesso de pesquisa. Ela de(crmina, antes de tudo, o assim c
prevalecem. O "salto" para a província do pensamento " n(vcJ" da pesquisa. Aliós. o termo uivei é simplesmen
volve a resolução do indivíduo úe suspendei· seu ponte expressão para .a linha que foz a fronteira entre tudo o q
ubjetivo. E esse foto, por si só, mostra que niio é o eu tence ou nüo no problema 1;;111 consideração, sendo o que
todo., mas somente um eu parcial. o que dcse.n1penha um os tópicos a serem investigados, explicados, esclarecidos,
m "Mimº ou! mais precisamente, o q.ue teoriza, que "age" niio pertence os outrn:; elementos do conhecimento do c
provfucia do pensamento cientifico. A esse eu parcial que, porque são irrelevantes para esse prohlc.ma, ele deci
das as experiências "essencialmente reais" ligadas a .seu tar como pressupostos, como meros "dados", sem q uest
orpoJ seus n1ovimênLos e seus limites . Noutras palavra::;, a linha di\fisl>ria é o lugar onde se si
mos agora registrar al&'lms dos traços do epoché peculiar pontos que atu~lmentc intcn~:ssam ao cientis(a e nos q
científica. Nesse epoché aparecem "colocados entre pa- decidiu interromper a p~squisa e a análise. Em segund
(suspensos) : 1) a subjetividade do pensador enquanto a colocação do problema fogo revela seus horizontes: o h
ntre semellrnnres, inclusive sua expel"iência COl'poral en- exrerno, ou seja, os problemas relacionados que terão de s
r humano psicofísico no mundo; 11 2) o sistema de oriet1• cados depois, bem como o horizonte interno, (odas as
o qual o mundo da vida cotidiana é agrupíldo em zonas ções JJOr trás do próprio problema que têm de tornar-se
e real, recuperável, possível, etc.; .3) a ansiedade básica e explicáveis de modo a ,·esolvê-lo.
ma de relevâncias pragmáticas que dela ·se originá. ti.las,
ssa esfera modificada, o mundo da vida de todos nós Tudo isso, contudo, não significa que ,1 decisão do
a existir como reaHdadc ou, mais 1irecisamcnte, como a de colocar o problema é arbitrária ou que ele tenlia a
da contcmplaçno teórica, embora não uma realidade de .,·li lJ,~rdade de decisão" ao escolher e solucionar seus pr
prático. Com a mudança do sistema de relevâncias do que tem o cu que fantasia ao preencher as suas antec
ático para o teólico, todos os lermos rcfoi:entes a ação Não é esse absolutamente o caso. É claro que o pensador
enho no mundo do ttaba1ho, tais como "plano", "mo- pode escolher à vontade-, determinado apenas por sua inc
ojetos", mudam de significado e recebem "aspas", a qua] está enraizada cm sua personal idade íntima, o cam
os agora de caracte1iz.ar em poucas palavras o sistema tífico pelo ci11al vai se inleressar e, possivelmente, tam
ncias pre<lominanle dentro da pro1·íncia da contempla- níve] (em geral) em que vai desenvolver suas invest
fica. Esse sistema se origina de um 210 voluntário do Jvla:s logo que toma suu decisão, no que diz respeito a
pelo qual ele seleciona o objeto de sua pe.squisa, noutras cientista entra no mundo já constituído da contemplaçã
da colocação· do problema em questão. Dentro di sso, fica , que lhe é dado pela tradição histórica da sua ciên
ele vai participar de um universo de discurso que abrang
..:ciso dizer que essa íormn de cpoché não deve ser confundida sultados obtidos por outros, os problem.is colocados por
ché que. levu à redução fenomenológica, pelo qua} não sé a as soluções sugeridas por oulros, os métodos trabalhados
e do pensador, mas todo o mundo, é "côlúce<lo entre parên• lros. Esse uTUverso teórico de uma determinada ciência
ens~ment.o t<.-'Órico rcm de ser caracterizado como pertcnci.:nte à
urs.r'. sendo. que aqui (<liforcntca:11:11tc d<.l qoe acunt<:c.:.e no tcxco> uma província de significado finita, tendo seu estilo c
ão é usada c:m oposição a "!'cdução fenomeno16gica". ' peculiar, com implicações peculiares nos problemas e ho
REINOS DA EXPEIUl3NCIA

explícados. O princípio regulador da constituição de


íncia do significado, chamado um detenniuado ramo da
pode ser formulado da seguinte maneira: qualquer pto•
ue surja dentro do campo cientifico tem de compartilhar V1 . A Província da Sociologia
universal desse campo e tem de ser compalível com os
as já constituídos e sua solução, quer aceitando-os, quer
o-os. Assim, a latitude da escolha do cientista ao colocar
ma é, de fato, muito pequena.
13

SO.CIOLOGIA JNTERPRETATIVA

l. Consideraçõe., Bâsicas
LIMITAS'.ÕES DA ABOnn,,cEM llEHAv10JHSTA
mcfr;i vista não é fácil compreender por que o pon lo
subjetivo deve ser preferido nas Ciências Sociais. J.>or qu
nos dirigimos a e$sa tirana misteriosa e não tão in(crc.s
Ciências Sociais chamada sub.ieÜvidade do ator·? Por
descrever ho;wstamente, em termos honestamente objetiv
acontece ele falo, quer dizer, por que não falar a no-ss
língua, a língua dos observadores quali íicados e cicnti
treinados do mundo social? E se se obje.tar que os lerm
língua niiô s:!o mais que convenções artificiai.s, cdadas p
"vont.tde e capricho" e que, portanto, niio os podemo
para uma abordagem verdadclr.a do signific.ado que os at
têin para :.:iquclcs que agem, mas. apenas na nossa inter
poderíamos responder qu~ é precisamen te essa construçã
sistema de convenções e uma dcsc1'iç.ão honcslà do mu
é, e é tão-soniente, a missão <lo pcnsamenlo cientifico;
cientistas, não somos menos soberanos em nosso sistenia
pretat:6e!j do que o ator é livre ao estabelecer seu .si
metas e planos; que uós~ cientistas sociais en1 particula
n10s ~cnão que seguir o padrão das Ciências Natuq1js,
desempenl13do com esses me,1110, métodos que <levemos
nar o trabalho ma,s maravilhO$O de todos os tempos;
mente, que é n css6ncia mesma da ciência ser objetiv
nEo ~(> para miln, ou para mim e você. e uns poucos ou
para todos, e que as proposições científicas não se r

'franscrito dos scgl.1intes itens <lu J:Hbliog:i:afta: 1960, 203-5, 20


272-i ,;, 265-67, 264-65, 269-70; 1953c, 28-30, 30-3 1; 194j , H,5; 19
3·1•36: 1943, Mô: 1967 , 186-88~ 1S8-ÇW; 194;, 144-·f5; 1967, 1<36-9
200-201 , 228.
A PROVÍNCIA DA SOC!OLOCJA SOCIOLOGIA JNTERPRETAT!\IA

ndo privado, mas ao mundo da vida ún ico, comum a tem por meta, ou como significado, designar e descrever
. do fictício, sem nenhuma referência à nossa experiência
tima parte desta tese é incontestavelmente verdadeira; comum, o qt,e não teria nenhum interesse práuco para
dúvida, não é difícil imaginar a existência de um ponto pais do behaviorismo não linham outro ptOJ?Ósito sen
b~sico, segundo o qual as Ciência~ Sociais têm de scg,iir descrever e explicar atos humanos reais dentro de um
das Ci/lncias Naturais e adowr os seus métodos. Se- humano -real. Mas a falácia desta teoria e~tá na substit
m caminho lógico, ele leva ao método do behaviotismo. realidade social por um mundo fictício, devido aos p
ao presente estudo a crf!ica deste princípio. Limitamo- metodológicos que promulga para as Ciências Sociais,
mentar que o bchaviorismo radical começa e termina, muito embora tenlrnm provado ser verdadeiros em outros
nte, na hipótese de que não existe possibilidade de se revelam-se um fracasso no reino da intersubjetividade.
inteligência do "semelhante". J:l altamente provável que
m sct humano inteligente, mas esse é um "fato discutí-
,\ AJJORDAG!;~I OB[ETIV,\ E A SUll J ETIVA M
ossível de ser verificado (Russell e, do mesmo modo, bora a mais radical, o behaviorismo é àpenas uma forma
tivismo nas Ciências Sociais. O estudioso do mundo soci
fica bem claro, porém, por que um indivíduo inteli- encont1·a diante da alternativa inexorável de aceitar o
everia livros para outros ou mesmo por que encontrar- vista mais subjetivo e, portanto, estudt1r os motivos e, pen
outros em congresso, onde fica reciprocamente provado na mente do ator; ou restringir-se à descrição do compo
eligfocia do outro é l1lll fato questionável. f, ainda me- "aberto" e admitir o princípio behaviórista da impossibil
reensível que os mesmos autotes que acreditam na ace$SO à mente db outro e até da impossjbilidnde de ve
idade de se· verificar a inteligência dos outros seres hu• inteligência do outro. Em vez disso . existe Ulllà atitud
m tanta confiança no próprio princípio da possibilidade concebfvel - e, de fato, v{irios cientistas sociais famoso
ação, que só pode ser realizado através da cooperaciio taram - que aceita "ingeuuamente'1 -o mundo social , co
, por meio de controle comum. Além disso eles não-se os seus alter egos e instituições, como um universo sign
m o fato de todas as suas delibctações ~a.rtirem do significativo precisamente para o observador cuja única tar
que existe a língua, de que reações de fala e relnçõe,s Lüica consiste em descrever e explicar as suas experiênc
o métodos legítimos da Psicologia Behaviorista, de que de seus colegas observadores, desse múverso.
s numa dada linguagem podem fazer sentido, sem con-
Na realidade, esses cientisrns admitem que fenômen
e língua, fala, relação verbal, proposição e sentido já
nação.. governo, mercado, preço, religião. arte, ciência re
m altar egos inteligentes, capazc$ de compreender a lín-
a atividades de outros seres humanos inteligentes, para q
terpretar a proposição e de verificar o sentido. Mas os consliluem o mundo da sua vida social; admitem, aind
de compreensão e interpretação e,n si não podem ser mundo social foi criado por alter «gos, attavés de suas at
como compo11amento puro, a não ser que recorramos e que eles orientam as suas atividades futuras com base
úgio "de um comportamento fechado", que escapa à
behaviorista. tência desse mundo. Entretamo, assim pensam esses c
não somos obrigados a retornar às atividades subjetiva
poucos comentários críticos, entretanto, não dizem res- ,,/ter egos e aos seus correlatos nas suas mentes para po
osso problema básico. O behaviorismo, bem como todo crever e explicar os fatos do mundo sociaL Os cientistas
go de referfocia objetivo nas Ci~ncias Sociais, tem, é acham eles, j>Odem e devem restdngir-se a dizet o que o
o propósito principal, explicar através de métodos cien- social significa para c.les, cientistas, negligenciando o que
corretos o que reabnente acontece no mundo social fica para os atorc.s dentro desse mundo social. Vamos c
vida cotidiana. E clai:o que nenh uma teoria científica fatos do mundo social de tal modo que nossa cxpcdênc
A PROVÍI'\'ClA DA SOClOLOGlA SOCIOI.OCJ,\ I NTERPRETATIVA

a apresenuí-los sob uma forma segura, vamos descrever e:·n outros mveis de ahstrac;.ão, se o problema original so
r esses fatos, vamos agrupá-los e-m categorias pertinentes deração é modificado. Mas então - e esse é um ponto
a forma de suas rc,gulal'idades, e a maneira como se tantc - essa referência ao ponto de vista subjetivo pode
em, e vamos chegar: assin1, a wn sistema para as Ciên• ser feita e deve ser feita. Como o mundo social, sob q
ais, descobrindo os princípos básic.os e as leis para a aspecto, não importa qual, continua sendo um cosmo mu
o mundo social. Uma vez alcançada essa meta. as Ciên- p.licado ele atividades humanas, sempre podemos reto
is podem confiar as análises subjetivas a psic6logos.- fi- ''homem esquecido" das Ciências Sociais, ao ator no mu
me{afüicos, ou qualquer ouLTO nome que se queil'a dar da], cuja ação e sentimento estão no fundo de todo o
oci()sas que lidam com tais _p roblemas. E, dirá ainda Tentamos. 1;;nt5o, compreendê-Jo em função dessa ação, dc
or de tal posição, não é esse o ideal eieniífico que as timento e do estado de espírito que o induziu a adotar
nçadas Ciência$ So1;iais estão presLcs a realizar? O]he a na<lc1s atitudes com relação ao seu ambi~nte. social.
m.odernal O grande progt~sso dessa ciência con1eçil Nesse e:,so, a 1-es1Josta à petgunta " o que significa es
e com a decisão <le alguns espíritos avançados de es- do social parn mim, o obsetvadox?11 já requer1 como pré-r
vas de cleurnnda e oferta e de discutir cquaç!íes de pre- rc~postas a pe-rguntas bastante diferentes, uo que signif
los, ao invés de esforÇ.Jr-se., muito e cm vão, para pc- ,mmdo social para o ator observado dentro dele. e o que
mistério das vontades e dos valores subjetivos.
dizet tHtav6s de sua ação dentro dclc?H Ao co1ocàr no:;.sas
posição, sem dúvida! não só é possível 1 como me.smo <l~:se modo não mais aceitam.os ingenuamente o mundo
a maioria dos cientistas sociais. Não há dúvida de que, nem as idealizações e formalizm;Õ'es correntes dele comtl
erto nível, o trabalho cientifico real pode ser ,k,cmpe- dotadas de urn significado acima de qualquer quesLão. TiJ:.iS
tem sido desempenhado sem entrar nos problemas da penhamos crn estudar o processo de idealizar e fo1maliza
ade. Podemos ir muito adian te no estudo dé fenômenos a gênese <lo significado que o& fenômenos sociais têm. p
mo i nstltuições sociais de todos os tipos, relaçõús so- bem como para os atores, o mecanismo da a1ivid2de atr
esmo gl'upos sociais., sem abandonar o quadro de refe- qual os seres humanos compreende1n uns aos outros e a
ásico. que pode ser formulado da seguinie maneira: o J)l'ios. Somos sempre livre.s e, i1s vezes, obrigados a sê lo
4

isso significa para nós, observadores científicos? Com Essa possibilidade de estudar o mundo sociul sob p
ósito podemos desenvolver e aplicar um refinado sis- vista diferentes revela a im portância fundamental da fón
bstração. que intencionalmente elimina o ator no mtm• Pro[essor Znauieoki (de que Lodos os fenômenos sociais
com tod,)s os seus pontos de vista sub.ie!ivo,, e pode- ser dcscdtos por um dos se!,'llintes quatro códigos de ref
mesmo fazer isso sem entrar cro conflito com ss cxpe- pcmmalidade social, aoto social, grupo social e relações
crhr.udas da realidade social. :Mestres nessa técnica - Todo fenômeno social pode ser estudado pelo código de
mllitos deles em todos os campos da pes.quisa social - cia do rclacionamenio social ou dos grupos sociais (ou,
mpre precavidos de forma a evitar um nível consi~ten!e adicionar, instituições sociais) tão legitimamente quanto p
ssa técnica e.. com isso, limitar convenientemente os digos dos atos sociais ou das pessoas. O primeiro grupo de
emas.
de referência é o objetivo; tal código trará bons rc.sultàdos
disso altera o fato de que esse tipo de ciéncia social cado exclusivamente a problemas pertencentes à esfera d
direta e imedíatamenie com o mundo da vida social menos objetivos - já que sltas idealizações e formalizaçõ
todos. nós, mas com idealizações e formalizações do cificas Jo,am designadas para a explicação desses fenôm
OCinl, engenhosa e efjcie,ntementc escolhids-s que não
1
de-sde que, no entanto, eles não contenham nenhum e
ser contrárias a seus fatos. Nc.m faz a menor referên- inc.onsistente ou elementos. incompatíveis com os outros
ncia essa indispensável, ao ponto de vista subjetivo, (os subjctivo:s) e con1 u nossa experiência do senso co
A PROVÍNCIA DA SOCIOLOCJA SOC!Ol.OG!A INTERPRETATIVA

cial em geral. Mula/is mutandis, a mesma tese é válida DA UN IDADE. DAS c1fNCIAS Uma palavra
ódigos subjetivos.1 problema da unidade do método das ciências empfricas.
ras palavras, a decisão do obsen•ador científico de es• me que o ci~ntista social pode concordar com . a afimrn
mundo social através de um quadro de refcr~ncia obje• gundo a qual as principais diferenças entre as Ci.ências S
ubjetivo delimita de uma vez por todas a seção do as Naturais não têm de ser procuradas numa lógica d
cial (ou, pelo menos, o aspecto de tal seção) que pode que rege cada ramo do conhecimen to. Mas isso não 'lu
ada através do código e.scolhido. O postulado bcisico da que as Ciências Sociais têm de abandonar os dispositivo
gia da ciência social, portanto, deve ser o seguinte: es- culares que usam para explo.tar a realidade social em n
ódigo de referência adequado ao problema no qual você uma unidade ideal de métodos que se baseia na hipótese
essado, considere as suas limitações e possibilidades, mente infundada de que apenas os métodos utilizados n
termos consistentes e compatíveis um com o outro e, cias Naturais e especialmente na Física sfio científicos.
aceito, continue com ele! Se, por um lado, no curso saiba, aqueles que propõem o movimento da "unidade
abalho, as ramificações do seu pwblema o levarem à cia" nunca íizetam nenhuma tentativa séria de respond
de outros códigos de referência e de interpretação, não mesmo de colocar, a questão relati va ao estado atual
de que com a mudança de código todos os tc,mos do blema do método nas Cíi:ncias Natw·ais - não será ele
teriormente usados passam por uma mudança de signi- um caso do problema mais geral, ainda inexplorado, d
ra preservar a consistência do seu pensamento, você tem é possível qualquer conhecimento científico, e do que são
para que o "denominador" de todos os termos e con- pressuposições lógicas e metodológicas? Pessoalmente, est
você usa seja o mesmo. vencido ele que a Filosofia Fenomenológica preparou o terre
é o verdadeiro sentido do postulado tão freqüentemen te tal investigaç.ão. Seu resultado rode muito bem mostrar
e~ndido da "pureza <lo método". É mais difícil do q uo dispositivos metodológicos particulares desenvolvidos pela
ui-lo. A maioria das fal.ícias nas Ciências Sociais pode cias Sociais a fim <le captar a realidade social são mais
da à ~onfusão ;Ios_pontos de vista subjetivo e objetivo dos do que os das Ciências Natw·ais parn levar à descob
percebida do c1entJsta., surge no processo de transiç.'ío p rincípios gerais que regem todo o conhecimento humano
vel ao outro no decorrer do traba.l ho científico. São
erigos que a mistura dos pontos de vista subjetivo e
nvolve no trabalho concreto de cientistas sociais. Mas. o ASSUNTO 13,\SlCO DA SOC{OLOGlA Filósofos
teoria da ação, o ponto de vista subjetivo deve rcte~ ferentes quanto James, Bergson, Dewey, Husscrl e Whitehe
total; na_sua falta, tal teoria perde seus fundamentos cordam que o conhecimento do senso comum da vida cot
rde precisamente a sua referência ao mundo social da o fundo não-questionado, mas sempre questionável, a p
periência cotidianas. A salvaguarda do ponto de vist.i qual o estudo passa a existir, e somente a partir do qual p
6 á única, porém suficiente, garantia de que o mundo desenvolvido. É desse l.ebenswelt, como o chama Husse
de social não será substitufdo por um mundo fictício todos os conceitos científicos e até lógicos se originam, a
construído pelo observador. ' gumlo Husserl; ele é a matriz social da qual, de acor
Dewel', surgem as situações não-esclarecidas que têm de se
os cão prei::i.w s quont(J possive-I: no nive.l <lo que o.c:.i.bli.mos -de fo1madas pelo pwcesso do estudo na possibilidade fundam
ódigos objetiv:>s, a dicotomi~ dos pontos de vista st1bjctivo e de asserção; e WhiLchead afirmou que a meta da ciência
. -sequer se torn,1 vis-ivcl. Ela emerge, quando cme.rge, nà s\;po,- duzir uma teoria compatível com a experiêJlcia, exrlica
de que se pode re€erir o mundo -5(..'Cial a ativi<fadcs de ser~
ividuais e ao significado q ue esses indivíduos atribuem :10 seu
objetos de pensamen to construídos pelo senso comum, atr
da social. Mas, justamente, essa suposição básic;A, a única capoz c.onstruções mentais, ou os objetos de pensamento da ciênc
tornar o problema da intersubjetividade nas Ciênt:iü:;: Sociah todos e.sscs pensadores concordam que qualquer conhecim
rtence à Socioloi!fa ino<lcrna.
mundo, no pensamento do senso comum bem como na
A PROVÍ KClA DA SOCtol.Oc:J A SOCIOLOGIA INTERPRETATIVA

onstruções mentnis. sínte:st:s, generalizações, formaliza- Sociais são, por assim dizer, conslrut0s de segundo grau,
alizações específicas do respectivo nível de organização construtos dos consLrutos feitos pelos aLorcs no cenál'io
mento. O conceito de natureza, por exemplo, com o cujo comportamento o cientista sociru tem de observar e
ências Na turais têm de lidar é, como mostrou H usserl, de acordo com as regras de procedimcn Lo da sua ciênci
ação idcafüada do Lebenswelt, uma abstração que, em Assim , a exploração dos princípios gerais segundo o
e, é claro, Jcghimamente, exclui as pessoas com a .sua o homem organiza suas e.xpe1iências na vida diária, e
oal c todos os objetos da cultura que, como tais. se mente as do mundo social, é a pdmeira tarefa da mer
da atividade h umana prática. Porém, é exatamente essa
das Ciências Sociais.
o Lebenswell da qual as Ciências Naturais têm de se
ue é a realidade social que as Ciências Sociais rêm de
SOCIOLOG IA DA COMPREENSÃO o fato de
Uma teoria que visa explicar a realid.ide social tem de pensamento do senso comum, tomamos como pressuposto
r dispositivos particulares, estranhos às Ci~ncias Na- c-0nhecimento real ou potencial do significado das ações h
im de acompanhar a experiê.nci:! do senso comum do e d.e seu$ protlutú!j é, <1ssitn penso cu, precisamente b
cial. Isso foi_. de fato, o que fizeram todas as ciências cientistas q uerem expressar quando falam de compreensão o
as coisas humanas - Economia, Sociologia, Direito, /ehen como um.i técnica para lidar com as coisas h
, Antropologia CuHural, etc. Verslehen é, pois, primeiramente, não um método usado p
estado de coisus fu ndamenta-se no fato de que existe tisLa ~ocial, mas. a formn particular de experiência atr
enç,1 essencial entre a estrutura dos objetos de pensa- qual o pensamento do senso comum toma conhecimento d
construros mentais, formados pelas Ciências Sociais clo social e cultural. Não tem nada il ver cúm introsp
formados pelas Ciências Naturais. Compete- no cientista resultado de processos de aprendizado ou aculturação, do
somente a ele, defin ir, de acordo com as regras de pro• modo que a experiência do senso comum do chamado
de sua ciência, o seu campo de obsel'vação e deter- natural . Verstehen, além disso: não é de modo algum um
fatos, dados e eventos. dcntTO dele que são relevantes privada do observador, que não pode- ser controlada pel
u problema ou pl'opósito cientffico cm questão. Nem riências de outros observadores . É controlável pelo m
e eventos s1lo previamente selecionados nem o campo mesJ)la n1edida em que as percepções ~.ensoriais privadas
ação é p,:c1•iamcnte interpretado. O mwido da natu- lnclivid uo são controláveis por qualquer outro indivíduo em
n<lo é explorado pelo cientista natural, nada º significa" condiçõe-s . Bu,!'1 pensar n uma discussão do júri num
oléculas, . átomos e eléirons aí existentes. O campo de quanto a se o réu demonstrou -••mâldade: premeditada" ou
o do cientista social 1 no .entanto} ou mais precisamente çãon de maLat uma pessoa, :se ele era capaz. de ss.be.r da
e social, tem um significado específico e uma es.lrulura qliêncfas do seu feito: etc. Aqui.,_ temos até certas Hrcgt..i:s
ncias para os seres humanos que viv~m, agem e JJen- cedimento·', fornecidas pelàs " regras de evidência", no
o dele. At1'avés de uma série de construções dó senso jurídico, e uma espécie de verificação dos resultados obti
es previamente scl.ccionaram e interpretaram c.sse mun- vés de processos de Ver,tehen_. como o Tribunal de Apela
vcr1cíatu como a realidade de sua-s vidas diárias. São Muitas outr"s p redições baseadas em Vcrslehcn ,ão fe
objetos ele pensamento que determinam seu comporta- qüentemente é c.om muito sucesso no pensamento <lo 5e
tivando-o. Os objetos de pensamentos construído, pelo mum. Existe muis do que uma chance razoável <li: que um
ocial para captai' e-ssa realidade social têm de ser fun- devidamer1tc selada o enderaç.:Hla, colocada numa caixa
s nos objetos de pensamento construídos pelo pensa- reio em Nova York, chegue ao seu destino em Chicago.
senso comum dos homens que vivem sua vida diál;a Apesar di:s:so~ tanto os defensoreS q\lanto os criticas
seu mundo social. Assim, os construtos das Ciências ces~o de. Versteheti mantêm, e com rnzão, que Versiehen
A PROVÍNCIA DA SOClOLOGL\ SOCIOLOGIA lNTEl,lPRETATIVA

nfelizmente, porém, cada partido usa esse tcnno. num Os consLrutos científicos de segundo grau,. formados de
iferente. Os críticos da compreensão a chamam de com as regras de 1,rocediinento válidas para todas as c
porque, pata eles, comprccndct os motivos da açiio de empíricas, são construtos objetivos típicos, idealizados e
mem depende da intuição pessoal, incontrolável e impos- tais, de tipo diferente dos desenvolvidos no primeiro grau
verificar, do observador, ou refere-se ao .seu sistema pensamento do senso comum, o qual têm de substituir. S
e valores. Os cientistas sociais, como '.\fax Weber, no temas teóricos contendo hipóte$eS gerais verificáveis.
chamam Verstehen de subjetiva porque a sua meta é
o que o ator ''sjgoifica" em sua ação, cm contraste
gnificado que essa ação tem para o parceiro <lo ator II . Observação, Conceituação,
m observador neutro. É essa a origem do famoso postu• Tipos Ideais
Max Weber da interpretação subj~tiva ... Toda a dis-
prejudicada pelo foto de não se distinguir com clareza
A l'OSTURA DO OUSl!RVlú>OR SOCIOI.ÓGLCO
stehe1i: 1) como a forma de experiência do conheci-
senso comum das coisas humanas; 2) como um proble- blema particular das Ciências Sociais é desenvolver disp
mológico; e 3) como um método peculiar das Ciências rnctodológicos para alcançar o conhecimento objetivo e
cável de uma e;trutura de significado subjetiva. A fim d
recer isso, vamos considerar muito brevemente a atitude
culur do cientista com relação ao n,undo social.
INTERPRETAÇÃO SUllJllTIVA Os constmtos envolvi- Essa atitude do cientista social é a de um mero obs
periência do senso comum do mundo intersubjetivo mi desinteressado do mundo socfol. Ele não está envolvido n
a, que são chamados Verstehen, são os construtos de pri- ção observada, a qual, para ele, não tem interesse prátic
u, sobre os q uais têm de ser erigidos os construtos de apenas cognitivo. Ela não é o palco. de suas atividades, m
grau das Ciências Sociais. . . /lfostramos que os cons- somente objeto de sua contemplação. Ele não age dent
primeiro grau, os construtos do senso comum, referem• vitalmentc interessado no resultado de suas ações, deseja
entos subjetivos, ou seja, a Verslelten da ação do ator temendo suas possíveis conseqi.iêncins, mas a vê com a
o ator, ponto de vista. Conseqüentemente, se as CiGn• equanimidade distante com que o cientista natural vê a
is visam, de fato, explicar a realidade social, então rências em seu laboratório . .. Ao resolver adotar a atitude
tos c.ientíficos de segundo grau têm também de incluir teressada de um observador científico - cm nossa ling
ência ao significado subjetivo que uma ação tem parn ao estabelecer como plano de vida o trabalho científico
so é, penso, o que Max Weber concebia em seu famoso cientista social se desliga de sua si!uação biográfica den
da interpretação subjetiva, o qual, de fato, tem sido mundo social. O que é tido como pressuposto na situaç
na fonnação das teorias de todas as CiGncias Sociais. gráfica da vida ó}árfo pode ton,ar•sc questiouável para
do da interpretação subjetiva tem de ser entendido no tista, e vice-versa; o que parece ser da maior relevânc
que todas as explicações científicas do mundo social nível pode tornar-se inteiramente irrelevante no outro. O
para certos propósitos, têm de referir-se ao significado de Ol'icmac.ão é radicalmente deslocado e também a hierar
das ações dos seres humanos, das quais se origina a planos e projetos. Ao tomar a decisão de desenvolver u
social . . . jeto de trabalho científico, governado pela busca desinte
o é possível formar conceitos objetivos e teorias objeti- da verdade, de acordo com regras preestabelecidas, chamad
verificáveis de estrutmas de significado subjetivas? A todo cientifico, o cientista ingressou nwn campo de conhec
ca de que os co.nccitos formados pelo cientista social previamente organizado, o corpo de sua ciênc.ia. Ele tem d
utos dos construtos formados no pensamento do senso tar o que é considexado por seus colegas cicntist3S como
elos atores no cenário social responde a essa pergunta. cimento estabelecido ou "revelar causas" por que não pode
A PROVÍNCIA DA SOCIOLOGI,\ SOCIOLOGIA l N TERPRETA'fl VA

nte dentro desse quadro, pode selecionur o seu problema pressuposto o que define ser um dado; e isso independe da
particular e tomar as suas decisões científicas.. Esse ças aceitas por qualquer gmpo intc1,10 no nunido da vida
onstitui o seu ''estar numa situ.jção científica': que subs- O problema científico, uma vez e.tabelecido, pot· si próp
situação biográfica enquanto ser humano no ,mmdo. termina a cs(Tutura de relevâncias.
é somente o problema científico, uma vez c.slabelecido, Não tendo ·' Aqui" <leotro do mundo social, o cient
rmina o que é e o que não é relevante pata a sua so- cial não organiza esse mundo cm cama<lus que o envolvem
por conseguinte, o que tem de ser investigado e o qut quais ele é o centro. Não pode .nunca entrar como c
tomado como pressuposto, como "dado", e, finalmente, num l)adrão de interaçã·o com um dos atores da cena
a pesquisa no sen tido mais amplo, isto é, as absttaçõcs, sem abandonar, pelo menos temporariamente, a sua atitud
ações,, fonnalizaçõcs, idealizações. em sunrn: <?S cons- tíficà. O observador participante, ou o que trabalha no
cessários e admissíveis P.ãra que: ::e possa cons1derar !.l estabcJcce contato com o grupo estudado como um homem
e.orno cm fase de resolução. Noutrns palanas, o pro- semelhantes; só que o sistema de relevâncias que lhe se
entífico é ó "lugar" de todos os possíveis construtos código de selcçlio e int.::rpretaç5o é determinado pela atitud
s para a sua solução e ca<la constt'uto traz consigo tífica temporarian:iente deixada de lado, para logo ser ret
emptDstado um termo matemático - um denominador Assim, adotando a atitude cien tífica, o cientista ~ocia
efere ao problema em função do qual ele foi esti Dj;le- va padrões de interação humana ou seus resultados na
sulta daí que qualquer des!ocmnento do problema em em que são acessíve.js à sua observação e abertos à sua
u do nível da pesquisa envolve modificação nas estru- p1:etnc;5o. Tem de intel]>retar esses padrões de interaçã
relevância e nos c-ODStrutos, os qtwis foram formados tudo, cm termos de sua estrutura de significado subje
olução de oulro problema ou paro a sua soluç~o n outn.> nffo ser que abandone qualquer esperança de captar a "re
m grande númct·o de mal-entendidos e con1t·ove1·sws, ~s- ~ocial".
nte nas Ciênd as Sociais, origina~sc da ignorância
A fim de obedecer a esse postulado, o observador ci
o. procede de modo similar ao do observador <le um pad
imc.1-.:1ção socíal no m.uudo da vida cotidiana, embora i uia
FORM:\CÂO DE CONSTRÜ'f◊S SOCtOLÓGICOS o cientiS• um sistc.ma de relevâncias inteiramente diferen(c.
não tem ·"Aqui" dentro do mundo social ou, mais pre-
e, ele considera sua posição dentro dele e o sistema de
as a ele ligado como irrelevantes para o seu empreen- RELE V.ÂNCI.A SOClOLÓGICA Nun, sistema cic
o pi-obk:mu tem exatamente a mesma significância para
cientifico. Seu estoque de conhecimento à mão é o corpú
iêncin e ele 1cm de tomá-lo como pressuposto - o que dqde cien Llfica que têm os interesses práticos para as ativ
do trabalho cotidiann. O problema científico, conforme fc
nesse contexto: como cientificamente corrc(ú - a menos <lo, rem uma função dupla :
e explicito por que não pode agir assim. A esse corpo
a pertencem também as regras de procedimento já tes- a) Determina os limites dentro dos quais us prop
o é, os ,mélodos de sua ciêncÜJ , inclusive os mé[odos de possíveis toniam-!ie relevantes paro a pesquisa e cria, a
onscmtos de modo cie11tHicarncntc seguro. Esse estoque domínio do <1bjcto científico, dentro do qual todos os co
cimento tem uma estmtura bem diferente daquela que devem ser comrwtlvcis.
na vida cotidiana tem à mão. Na verdnde, ele também b) O simples fato de q ue um problema é levnnta
.r graus diversos de clal'eza -e nitidez. ?vfas essa estrutu• um código de referência parn a construção de todos o
depender do conhecime.n to de problemas solucionados. ideais que podem ser utilizados corno rele•1antes.
impllc.ac;ões ainda obscuras e dos horizontes cm aberto Para entender mdhor o úlli.mo comentário, temos de
problemas ainda não formulados. O cientista toma como derar que o conceiro "tipo" não é independemc , n1as
SOCJOLOGLI INTERPRE1'A'flV,\
A PROVÍNCIA VA SOCIOLOGIA

Esse postufado garante a consistência dos construtos do c


e_ um ,.suplcmeoto. Não podemos falar simplesmente de social com relação aos constlutos da experi~ncia prática d
ideal · como tal;. tcm?s de indi.cár o cµdigo de rekrên- dade social. ·
o do qual esse tipo ideal pode ser utilizado, isto é, o
cm função do qual o tipo foi construído.
MODELOS l)J; Aç.,o RACIONAL Todos os con
modelo do mundo social, para serem científicos, têm de
POSTULADOS PARA A CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS SOBRE cher os requisitos desses três postulados. Mas qualque
HUMANA O problema principal das Cié:ncias Sociais ttuto que esteja de acordo com o postulado da consistê
volver ~": m6todo para lidar de modo objetivo com 0 gicu, qualquer atividade científica, não é por definição ra
do subJetl:o da ~ção humana. posto que, para chegar a Jsso certamente é verdt1de, mas temos de evitar aqui u
om a realidade social, o pensamento das Ciências Sociais _goso mal-entendido·. Temos de distinguir entre construtos r
er consistente co.tn os objelos de pensamento do senso de modelos de ações humanas, de um lado, e construtos d
ormados pelos homens na vida cotid.iana. Os constr~tos- los de a~ões humanas racionais, de oatro. A ciBncia pode c
co~o1me descritos anteriormente, preenchem esses re- modelos racionais ele. co111portamento irracional, como mos
se sao fonnados de acordo com os scgui.otes postulados: consulta a qualquer livro de Psiquiatria. Por outro lado, o
O postulado da consisl/!ncia lógica. O sistema de co,r- menlo prático freqüentemente constrói modelos irracionais
icos designado pelo cientista tem de ser estabelecido co~ portamente altamente racional, por exemplo ao explicar
lto grau de clarez.a e nitidez da estrutura conceituai em econômicas, políticas, militares e até científicas relacion
tem de ser tota~1ente compatível com os princípios da com sel)timentos ou ideologias que se pressupõe que regem
f11:!al. O preenchimento desse postulado garante a vali- portar.nento dos participantes. A racionalidade da constru
et1va dos objetos de pensamento construídos pelo cicn- m odelo é uma coisa e, nesse sentido, todos os modelos a
nl, e o seu caráter estritamente lógico é um dos traces damente construídos das ciências - não apenas os das
~ort~ntes para fazer-se distinção entre os objetos de pen°sa• Sociais - são racionais; a construção de modelos de co
wnt,f,co_ e os o_bjeto~, ~e pensamento construidos pelo mento racional é urna coisa bem diferente. Seria um g,:a
nto prá!Jco na vida di:ma, os quais os }'1'imeiros (êm de entendido acreditar que é um propósito dos construtos de
. uas Ciências Sociais, ou wn critério para o .seu carátc.
O posfu/ado da interpretuçiio subjetiva. A fim de estu- fico, que padrõe.s irracionais de comportamento sejnm
s ~~manas, o cien tista tem de perguntar que modelo de taclos como se fossem racionais.
mdiv,dual pode ser construído e que conteúdos típico , No que se segue, estamos interessados principalm
er a ele atribuídos, a fim de explicar os fatos observa: utilidade dos modelos c,entiJicos - portanto, racionais -
o resultado da atividade dessa mente, numa rclacão corn- drôcs de comportamento racional. Pode-se compreender fa
l. A concor_d5n cia com ~sse postulado garante · a possi- que é possível, em princípio, o construto científico de
de se referir todos os tipos de ação humana ou seus de linha de ação perfeito, a de seu tipo de pc.ssoa corresp
s ao significado subjetivo que tal ação ou resultados de e também a de padrões radonais de interação. Isso
ram para o ator. porque, ao construir um modelo de uma consciênci~ fi
O postulado da adequação. Num modelo cicntffico da cientista pode selecionar, como relevante pera o seu p
mana, cada termo deve ser coosttuído de t-al fonna que apenas os elementos que lorn.!m pos:síveis a:s ações ou
humano, de~em~enhado no mundo da vida _por um ator racionais de seus homúnculos. O postulado de racionalid
al, da mane1ra ~d1cada pelo construto típico, seja com- tal construto teria de preencher pode ser formulado do
l 1iara o próprio ato.r, bem como para os seus seme- modo:
em termos da interpretação prática da v ida cotidiana.
A l'ROVfNCIA VA SOCIOtOGlA SOCIOLOGI A INTERPRETATIVA

nha de ação racional e os Lipos de pessoas têm de ser citados ou, usando uma expressão de Husserl, que o pr
os de tal forma que um ator no mundo da vida desem- possui seu horizonte interno de elementos não-questionad
a ação tipificada se tivesse um conhedmcnto perfeita- rém questionáveis.
aro e nítido de todos os elementos, e apenas desses ele- A fim de explicitar o horizonte interno do problema
assumidos pcJo cientista social como sendo relevante~ mos variar as condições sob u8 quais os atores fictfcios s
a ação, e tenderia a usar os meios mais apropriados, ,nentc agem, os elementos do mundo dos quais eles supost
cn te à sua disposição, pata alcançar os fins definidos têm conhecimento, seus supostos motivos entrelaçados. o g
prio construia. familiaridade ou anonimato em que elc.s supostamen te s
vantagens do uso de tais modelos de comportamento ra- relacionam, etc. Como economista interessado na teolia d
s Ciências Sociais podem ser assim caraCterizadas: p.ólio,l posso, por exemplo. construir modelos de uma única
A possibilidade de construir padrões de interação social , ou modelos de wna indústria ou do sistema econômico co
:se de que todos os participantes de tal interação agem todo. Se eu me restringir à teoria da firma Vldividual (d
ente, sob um conjunto de condições, meios, fins e mo- se eu analisar os efeitos de um acordo de cartel sobre a pr
inidos pelo cientista social e, su.P.ostamentc, comuns a da mercadoria em questão) , posso construir um modelo
participantes ou distribu!dos entre eles de maneira es- produtor agindo em condições de concorrência irregular
Att av6s desse arrànjo, o comportamento padrão, tal como de. um produtor nas mesmas condições de custo, agindo s
dos papéis sociais, comportamentos institucionais, ele., trições de cartel impo~tas e ciente de restrições similares i
csLudado faoladamente. aos outros fornecedores do "mesmo" produt(). )'odcmos ent
Onde o comportamento dos indivíduos no mundo da parar a produção "dá" firma nos dois modelos.
al nito é p~visível, · a não se-r em antecipações vuzias. o Todos es:;.:::; modelos são modelos de ações raciona
mento racional de um tipo construído de pessoa é, p,)r não de ações desempenhadas por seres humanos vivos cm
supostamente previsível ou, mais precisamente, pre~i- ções por eles definidas. Supõe-se que efos possam se: d
ro dos limites des elementos tipificados no construto. O nh adas pelos tipos de pessoas construídos p,elo economista
e aç.ão racional pode, portanto, ser usado como disposi- do ambicnlc artificial no qual ele situou os seus homúnc
constatar o comportamento "desviado" no mundo soei~!
feri-lo a "dados transcendentes ao problema", ou seja.
POR OVE I JPOS ILlEAIS nF. CONU\J'tA SUB J ET!VA'I
os não-tipificados.
que formar quaisquer tipos de pessoas? _Po'. que ~iio
l'or meio de variações de alguns dos elementos podcn• mente coletar fatos empíricos? Ü \1, ~e a l"ecruca da mter
uídos e comparados uns com os outros diversos modelos por meio de tipos pode ser aplicada com sucesso, por q
o conjuntos de modelos de ações rucionais, com v~ta à restringir-se a formar Lip-os de eventos impessoais ou
o mesmo problema científico. comportamento de grupos? . . . Por que retornar ao có
lümo ponto, contudo, precisa ser comentado. Já não ação social e ao ator indh·idual'/
s que todos os consu·utos trazem um " denominador" A resposta é ,,sta: é verdade que uma parte muito gr
laciona ao problema em estudo, e que eles têm de ser ciência social pode ser desenvoh-ida, como tem sido d
uando há um dcs)ocamento desse problema? Não existo vióa, num nível que legitimamúntc abstrai-se de tudo o q
contradição entre isso e a possibilidade de se construir tecc com O ,nor individual. Mas esse operar com gcncra
modelos concon·entes paxa a · solução de um mesmo pro-
nlffico? 7, Registt·o cor,1. sralidão a 9~nnissão do meu amigv,. <> _Profes
ntradição desaparece se consideramos que qualquer pro- M.achlup, para rlrar os exemplos que. se segue~ <l~ seu hvro Tl:e r
uf Sellers Cótnpetitio,i Mod1:l Anulysrs. of Sd!cr s Co1,du<.1 (.Ra.lluno
penas um " lugar" de implicações que podem ser e:i;pli-
pp. 4 e seguintes.
A PROVÍNCIA DA SOC!OLOGlA SOCIOLOGIA 1NTERPRETAT1VA

zações, num alto nível de abstração, em todo caso, nada ção, formalização ou idealização_, não importa qual seja
do que uma espécie de taquigrafia intelectual. Sempre envolvido, encontramos esse processo através do qual um m
problema em estudo o exigir, o cientista social precisa lei da experiência vivida é deslocado de seu cená1io e ~1
bilidade de deslocar o nível de sua pesquisa para o da meio de wna "sfu.tc.se de reconhecimentolJ, congelado nu
e humana individual , e onde se foz um trabalho cientí- ideal", esquemático e rígido. Na medida em que a e
e deslocamento é sempre possível . "tipo ideal" pode ser aplicada a qualquer código de inter
razão real disso é que niio podemos lidar com fenômenos no qual a experjência é categorizada - como nos prime
do social como lidamos com fenômenos que pertencem à balhos de Max Weber - ela não levanta nenhum prob
o natural. Na úhima, coletamos fatos e reguforidades que pecial para o cientista social. Poderíamos folar, exatam
são compreensíveis: mas que podemos tão-somente asso- mesmo sentido, de tipos ideais de objetos e procc.ssos íí
enas hip6teses fundamen tai:s a respeito do mundo. Nunca padrões meteorológicos, de séries de evolução na Biologia
entender por que o mercúrio no termômetro sobe quando por diante. Quão útil o conceito de tipos ideais pod
sobre ele. Só podemos inteq,retar esse fenômeno como nesses campos, não nos c.abe dizer, já que estamos inte
vel com as leis que deduzimos de alguma hipótese básica aqui n um grupo específico de problemas das Ciências
mundo físico. Os rcnômenos sociais, ao contrário, que- O conceito "tipo ídeal de comporiemento humano"
ompreender e não podemos compreendê-los de outra ma- visto de duas maneiras. Primeiro, pode significar o tipo
ue não seja o código das motivações humanas, dos fins outra pessoa, que está se expressando, ou que se expresso
humanos. do planejamento humano - em suma, das ca• certo modo. Ou pode significar, cm segundo lugar, o t
da aç5o humm:ia. do processo expressivo em si, ou mesmo os resultados e
cientista social, portamo, precisa perguntar ou pelo menos que interpretamos como signos do processo de expressão
estar sempre cm posição de 1ierguntar o que acontece 11a mos o primeiro de "tipo ideal de pessoa" * e o segundo
e um ator individual cujo ato resultou no fenômeno cm "materiar: ou "de linha de ação". Existe certamente urna
interna entre esses dois. Não posso, por exemplo, defin
ideal de empregado do correio sem primeiro ter em me
definição de seu cargo. O cargo é um tipo de linha de a
F.SPÉ<.:!ES OE 'fl!'OS TnEJ\1s Compreendemos o com- contexto de significado objetivo, é claro. Uma VC'L es
nto dos outros em te111Jos de tipos ideais. . . O
consisLc essencialmente cm tomar unia mtersecão sobre o tipo de linha de ação, posso construir o tipo
pessoa, isto é, "a pe$$Oa que ocupa ússc êargú:1. E, ao fa
a experi~nciu -de outr;i pessoa e, por assim dizer.
imagino os Contexcos de significado sub_ietivos corresp
zá-la sobre uma lâmina" . . .. Isso é feito poi: meio de
que esrnriam etn sua mente, os contextos subjetivo:; qu
ntesc de reconh~-cimento''. No entanto, há algo de ambí•
de ser adequados aos cúntcxtos objeiivos já definidos. O t
m relação a esse conceito de um tipo ideal de comporta- de pessoa é, portanto, derivativo, e o ripo de linha de aç
umano. Ele denota ao mesmo tempo tipos ideais que
m: 1) contextos de significado objetivos já dados; 2) pro- ser considerado de maneira bastante independeme como
) cursos de ação; e 4) objetes reais e ide.ais, sem.prc texto de signiíicado puramente objetivo.
itens acima forem resultado de comportamento hunrnÍ10.
se ii1cluiriam aí as interpreta<;6es dos produtos do com- TIPO 11E PESSOA E TIPO DE LlNHJ\ l))l AÇ'ÃO
nto do tipo ideal. Estas últimas são as inlcrptctações às vando a linguagem podemos ver o tipo ideal de pessoa no
corremos yuando nada sabemos sobre as experiências jndi- pro~s::so de construção. Estou me referindo aos nomes
daqueles que criawm esses produtos. Sempte que depa-
om qualquer ordenaçrio de experiência passada, na fo.mw • Nota do organizador: Os ~spectos elementares desse iipo foram
o, interpretativos, qualquc, ato de absll-ac,:-00, generaliza- no l:<Ubtíh1lo "Tipos Ideui.s de Pc:S(.Ht", no c.np. to.
A PROVÍNCIA DA SOCIOLOGL-\ SOCIOl.OGfA lNTl:RPRETATlVA

erbos transformados cm substantivo~ . Assim, o géníndio ficações de atenção e todas as influências q ue possam
ficação pessoal de um ato em curso e todo p2rticípio essas experiências no dccon:er da históxia da sua consci
é o tipo ideal de um ato completo. Agindo é que pode compreensão típico-ideal, portanto, caracteristicamente d
to. Conseqüentemenie, quando procuro comp1-eender o "motivos n fim de'' e os ,;motivos por que» de um a
amento <lo outro de modo típico-ideal , há um método festo, identificando a meta constantemente alcançada po
minha disposição. Posso partir do ato acabado e, então, ato. Já que o ato é . por definição, tanto repetitivo com
ar o tipo de ação que o p roduziu e finalmente me de- assim é o Hn1otivo a fhn de". O próximo passo é colocar
anto ao tipo <le pessoa capaz de ter agido desse modo. por trás da aç5o, uma pessoa que, com uma modific
o inverter o processo e conhecendo o tipo ideal de peSõoa atenção típica, pretende realizar tipicamente <!$Se ato t
o ato corre.spondentc, Temos, pois, que lidar com dois em suma, um tipo ideal de pessoa.
as diferentes. Um diz respeito a que aspectos de um ato Os p rocessos conscientes dos tipos ideais de pessoa sã
5 são selecionados como típicos e a como deduzimos o
coiislruçõcs lógicas. São deduzidas do ato manifesto e f
pcsso2 do Lipo de linha de ação. O outro diz respeito a c<>mo anteriore-s no tempo àquele ato, noutras palavras, f
du1.i.mos aç6es cspccfflcas de um tipo ide-01 de pessoa no tempo mais que perfeito. ó ato manifesto é então v is
primeira é uma questão geral sobre a gênese do típico. resultado regular e repetitivo dcssc.s processos consciente
er com a constituição de lipos Ideais - sej«m eles tipos dos. Deve-se notar que os proc::e!isos conscientes em si sã
s de aç<io ou tipos de pessoas - a partir de atos con- bidos e modelados de forma simplificada. Faltam•.lh~s
ados. A segunda questão tem a ver com a dedução de protensões e expectativas que acompanham as experiênc
o a partir de um tipo ideal de pessoa, e vamos chamá-la cientes reais. Não fica em aberto a questão de se a açã
rdade do tipo ideal de pessoa ". vai chegar a ser de fato um ato acabado. Tsso é uma ce
arcçamos primeiro que a comptccnsão dos tipos ideais construção lógica. O ator típico-ideal nunca passa pela e
a baseia-se n a compreensão dos tipos de linha de ação. cia de escolher ou prc.fcrir uma coisa a outra. Nunca h
processo de compreender um determinado desempenho tent,1 tomar uma decisão com relação a desempenhar u
tipo ideal, . o intérprete deve partir de suas próprias per- típica ou uma atípica. Sua motivação é sempre perfeitam
do ato .manifesto de outro alguém. Sua meta é descobrir reta e definida: o "motivo a fim de" da ação é o ato c
ivos a fim de" ou os " motivos por que" (aqueles que em cuja definição baseia-se a tipificação. fase ato c-0
onvenientes) por trás daquele ato. Ele faz isso inter1ire- ao mesmo tempo a meta principal do estado de espíri
ato dentro de um contexto de signilicado objetivo, no do ator na ocasião. Pois se o ato fosse apenas um m
de que o mesmo motivo é atribuído a todo ato que, repe- outro fim, seria necessá110 que o intérprete construísse pa
c. alcancar o mesmo fim através dos mesmos meios. Esse ator i<lcal outro estado de espírito êípíco, capaz de plan
·~stabelecido como uma constante do ato, independ,;nte- fim maior. Isso significaria que a meta maior teria de s
e quem o desempenha ou de quais são as suas expt• o contexto de significado objetivo de maior~inlportância d
subjetivas na ocasião. Para um tipo ideal de pessoa, de vbta do intérprete. Noutras palavras, ·o fim maior serf
existe um e a_p enas um rnotiYo típico para um ato em termos do qual o ato seria definido. Finalmente, t
uando pensamos em tipo ideal de pessoa, excluímos tais servirá para a construção do "motivo por que" genuíno.
omo a cxpcriêncfa subjetiva do indivíduo de seu atq, ser postulado em alguma e1qieriência ou L,echo de exp
a sua corrente de consciência, junto com todas as modi- úpica que tivesse feito surgir o "motivo a fim de" que
truímos.
vc.olêncfa, estamos mnaudo aqui apenas de atos. mas nossos Scgue..se, então, a maneira como se constrói um ti
os podem ser apli<;ado::. .rmri passu a prodmos de rodas as espécies
eração. de pessoa: estabelece-se a existência de umá pessoa cujo
A PROVÍNCTA DA SOCTOT.OCT A SOC[OLOCIA INT!JRPRETATIVA

real possa ser o contexto de signific.ado obje tivo já csco• Leibnitz o imaginou. Pela graça de. seu construtor, lhe é
1'
a definir uma ação típica. Deve ser uma pessoa em cuja exatamente a espécie de conhecimento tlc que ele pre
cia a ação em questão possa ter sido construída, passo desempenhar o trabalho em fun~'5o do qual foi trazido a
em Atos politéücos. Deve ser uma pc5soa cujas próprias científico. O cientista distribui seu próprio estoque de ex
cias preencham o contexto de significado subjetivo que quer dizer, de experiência cien tífica, em termos claros
nde ao conte1<to objetivo, cuja ação corresponda ao ato. tos, entre os bonecos com os quais povoa o mundo so
mos agora a ra2<'10 básica por que, tanto nns Ciências. também esse mundo social é' organizado de modo bem
quan to na compreensão cotidiana do comportamento do não é centrado no tipo ideal: foltam-Jhe as caracterí
odemos ignorar a "ação total" no sentido de que esse intimidade e anonimato, de familiaridade e estranheza:
inclui as raízes últimas da ação na consciência da pes,oa. falta-lhe ·a característica básica e.la perspectiva. O que c
a de construção de Iipos ideais de pessoa consiste em ponto de vista do qual o cientista vê o mundo social. E
er a cxistêhcia de pessoas que possam ser motivadas de vista define o quadro geral de perspectivas através d
material ideal já definido. O ato manifesto ou a linha setor escolhido do mundo ·social se apresenta para o o
exierna que o obse1-vador vê como uma unidade volta c'icntífico bem como para a co.nsci<>ncia fictícia do bo
odificado por um contexto de significado subjetivo, e é Esse ponto de vista principal do cientista é o seu "
na consciência do tipo ideal de pessoa. Mas a unidade científico em exame,,.
ntexto subjetivo resulta tão-somente do contexto de signi-
bjetivo original, o contexto de significado que é a próprir,
tipo ideal de pessoa. E não podemos exagerar essa uni- T!PO JlJEAL HA!Jl'l'UAL. Deve-se disting
"ação <la outra. pc.~soa". que é apena::; um corte que o ''caracterológico" . . . do tipo "habitual", que define um
or faz no seu c.ontexfo total de fatos. O que é defi- _porâneo .somen te em termos de suas funções. O concei
m abstmtamente como a unidade do ato da ouira pessoa empregado do correio, por exemplo, é um tipo habitua
nder do pen lo de vista e.lo observador, que, por sua vez, pregado do correio é, por definição, " aquele que de
r conforme. os .seus interesses e os- seus problema!S. Esse correspondência". . . Um tijlo habitual é, portanto, m
yista vai dctcrminax tanto o significado que o observa- creto que um tipo caracterológico. l3aseia-sc num tipo
s suas próptias pcrccpçõcs do ato quanto o motivo lípiC() de açflo que pressupõe e à qual remete. O tipo cai:ad
he atribui. Mas para todo motivo t-ípico desses, para toda por outro Jado, pressupõe e remete i1 pessoa real que c
le con:;ciência assim cristalizada, existe um tipo ideaf encontrar face a face. Além disso, o tipo habitual é
a correspondente, que poderia ser subjetivamente mo!i- uimo. De fato, quando ponho uma carta no correio,
maneira cm quccS!fio. Conseqüentemente, o p.t óprio tipo ciso pensar no tipo de pessoa ªempregado <lo correioi
pessoa é sempre determinado pelo ponto de vista ·do intér-
uma função da própria questão à qual procura responder. ~ Nota do GJ'gmrilfülor: No decorrer dess.n discussão inichd dos t
do contexto de significado objetivo, o qual ele mera- .SchUlz considerou a construçi!o <le lais tipos jtmtamente oom a
aduz em termos subjetivos, e então personifica. de tipo:; i<leais na vida çutitlia1ul.. In1crcssml<> m) g,rau de conc
abstração envolvido nos divcn>os cor1ceiLos de tipos, distinguiu e
reJ,Hi \'ornente concreto, relafü;ameme próximo à vid;t, formudo
o no.Nf,ÇO TÍP! CO-ll>llAL O boneco chamado "tipo 1)-Cssoa sobre outru~ pessüas que da <lirotR ou i;ld.irern.mente co
pessoa'' nunca. . é um sujeito ou centro de alividade tipo orienlado somente c1.:m réhiÇÜO a um papel social c:;tsbele
funç.üo e..;tan<lur<lizada, etc. O primeiro tipo ck ch~i:nou de ·•carno
ea. Não tem por missão dominar o mundo e, em últimi, assirn imlicu.ndo que ele remete .nos U'aços da personalidade.,
não tem mundo algum. Seu destino é regulado e deter- etc., de indiv(dt1os cspccífico.s. O :,,;cgun<lo chamou de "habitua
por seu criadot, o cientista social, 11uma harmonia precsla: e.55cs tipos oi::crrcm freqüentemente no mundo da ,•id;:; coti<linna,
tão perfeita quanto o mun do criado por Deus, como no entanto., é m.ais significtnjvo em. cct·mos sociológicos.
A PROVÍNCIA DA SOCIOLOGIA SOCIOLOGI A INTERPRETATI VA

ensar num indivíduo que tem certos contextos de signi- TlPOS COLETIVOS IDEAIS Existem outtos tip
bjetivos específicos enquanto foz o seu trabalho, como, qtie são caracterizados por uu, grau ainda maior de a
plo, pensar em receber seu pagamento. A única coisa do que os tipos ideais habitm,is. O primeiro desses é
para mim nessa siíuaçiio é o processo de despachar dos chamados "coletivos sociais", conslrutos referentes a
lesmente "rotulo" isso no tipo abstraio "empregado do dos contemporâneos..
E nem tenho· que pensar num empregado do correio Essa grande e.lasse contém tipos ideais de graus
quando mando a carta. Basta eu saber que de a]aum diferente-s de anonimato. A diretoria de uma dctennina
chegará a seu destino. º ração ou o Scoad(> dos Estados Unidos são tipos ideais
ategoria de tipos habituais estão os tipos ligados ao mente concretos . e o número de 0111tos tipos ideais que
amento" ou ao "hábito". Fixando-nos no aspecto con• supõem é razoavelmente li mitado. Mas usamos freqüe
s formas externas de comportamento ou seqüfocias de sentenças nas quais tipos ideais como Ho Estadoº, n ''im
vés de obseroação direta ou indireta, chegaremos a uma "a. economia'': "a nação'', uo povo'' ou talvez na clas
pos matcdais de linhas de ação à qual se junlam os !'ia" apal'ecem como su.ieitos gramatkaís. Ao fazer isso 1

pessoas correspondentes. Mas esses tipos de linhas de narnralmente a personificar e~sas abstrações, tnitando~as
m ter graus diferentes de generalidade: podem ser mais elas fossem pessoas reais., conhecidas através· d:: exper
estandardizados, isto é, podem dcrivat de comporta- eia] indire-(a . .Mas caímos aí no antropomorfismo. Na
ue têm maior ou menor freqiiência c.statística. A jdeali• esses tipos ideais são absolutamente anônimos. Qualquer
po ideal de pessoa baseado em tais tipos de freqüência truncnto que lhes atribuirmos não permite nenhuma i
palavras, a irredutibilidade dos tipos de comportamento no que diz respeito a um contexto de sign iíicado subjetiv
ê~cias conscientes de outras pessoas reai's) é, contudo, pondente, na mente de um ator contemporâneo. "Paru in
p10, mdependcnte do grau de generalidade do comporta. subjetivarocnt,é a ação no trabalho sociológico", diz Ma
m si. A "padronização" do comportamento tipificado
sua vez, remeter a um tipo ideal de pessoa previamente essas coledvidadcs <fovem se, lrata<las tão.somente como re
. A título de exemplo, tomemos o "comportamento tra• modos de llrganização dos mos particular~ de _pessoas individu
.ip::nus elas podem ser trat~d:~s co,no afore~ em jinhai. de açfül
de Weber, "o ponto central de toda ação cotidiana, ao n1ente compreensíveis .. . Para os propôs!los -sociológicos . .. não
essoas se habituaram", que se baseia no tipo ideal de coisa como umu perSonalidade coletiva q\1c ~'age'-'. Ao contráric
eviamente construído do homem que age de acordo !:)e faz. refe.r~.ncia, num contcxo sociol6~:ico, -a um ".Esuido'': um
stume; outro exemplo que vamos citar é. todo compor• uma "corpornç~o'', um;¾ "família", um ··5cror do exércico'' ou co
rientado em relação à validade de uma ordem. Em semelhantes, o que se quer implicar é apenas uma ce.rta espécie
volvimcnto das l-lÇÕ~ :,; o:;iais, reais ou pos.sivcis. das pessoas io.
constituição de tipos ideai,s de contemporâneos, sc-
e último, a ordem válida funciona como 11m código de De fato, toda "ação" do Estado pode ser reduzida
ão. Ela exige como conduta padrões de ação definidos de seus funcionários, os quais podemos apreender. por
eafa de pessoas definidos, na medida cm que a peswa tipos ideais de pessoas e com relação aos quai~ assumi
tais tipos estandardizados e se orienta de acordo com "orientacão para o Eles", tendo-os como nossos contem
esta1· ce1ia de qw seu comportamento será adequada- Do ponto de vista sociológico, portanto, o termo "E
rpretado pelos contemporâneos que se orientam em re• uroa mera abreviação de uma rede altamente complexa
esma ordem. . . Aqui, o ponto importante para nós é ideais de pessoas interdependentes. Quando dizemos q
o o comportamen!o orientado em refação à validade quer coletividade "age", tomamos corno pressuposto e
rdem é, no sentido que damos no termo, um compor•
abitual. Nosso concei·to de habitual é, portanto, mais 4Weber, ·rhe Theor)' <>! Sdcial and T:conomic Organization (N
que o corrente. QxfQrd Unj\lersity Press, 194i), pp. 101, 102.
A PROVÍ NCIA DA SOCIOLOGI A SOCIOLOGIA INTERl'RETAT!VA

anjo estrutural. Procedemos, en tão, à atribuição de con• 1'tPOS IDEAIS DE LÍI-IGUAS F.; OBJETOS CUI.TUR
significado objetivos, em lermos elos quais compreenàc• q ue dissemos sobre coletividades sociais aplica-se tamb
os anônimos do;. funcionários, ao tipo ideal de pessoa guas. Também aqui pode-se estabelecer uma co,n laçfi
vo social. Fazemos isso pãralelan1ente à nossa interpn:.--.. produto e aquilo que o produz; podemos supor., por
ações individuais descmpcn.hadas através das expetien• um tipo ideal anônimo "a pessoa que fala alemão",
ientes típicas das mentes de atores típicos. Mas quando dente à língua alemã. l\1a.S· aqui, como no caso que
os ~essa forma esquecemos que, se as experiências cons- de discutir, te.mos de estar aler{as de modo a tratar es
e indivíduos típicos são concebíveis, experiências cons- típico como indivíduo 1-cal, com seus contextos de s
um coletivo n.ão o são. O que faltá, portamo, ao con- súbjetivos próprios. Nada rios autoriza a falar, por exem
"aç.ão" de um coletivo é precisamente esse contexto de- "espírito objetivo da lín~'lla º, 5 pelo menos. nas Ciência
o subjetivo, como algo que é de fato concebível. Que Niio nos cabe dizer aqui se outras disciplinas permit
s jamais tenham sido· levadas a to.mar tal metáfora lite• conceitos.
só pode ser explicado psicologicamente. isto é, atribuído
e que certos sistemas de valor andaram trabafüando aqui. Essas observações aplicam-se também a todos os o
é necessário dizer que redu,i.r os coletivos às tipifica• tura is. A ob.ic{ivicfade ideal de um construia cultural n
s de pessoas, como íizemos, não esgota a análise socio- ponde tiro contexto de significado subjetivo na 111en
sses construtos. Ao contrário, tal análise é uma das ta• indivíduo real que pudéssemos encontrar face a focc
s importantes da Sociologia. Só uma teoria sociológica disso, correspondendo ao significado objetivo do objeto
ção dos constnitos pode complementar a teoria das for• encontramos sempre o tipo ideal de. pessoa abstrato e
undo social que postulamos acima. Essa teoria terá como de seu produtor. em relação ao qual caracteristicamen
meta a descrição da estratificação das coletividades so• mos uma Ho1ienf3Çiio para o Eles".
termos de seu anonimato relativo ou concreto. Aqui. Finalmente, is.o tnmbém se aplica a todos os arte
amental determinnt· se a coletividade social baseia-se,
ramentas e utensílios. Mas, para compreender uma fe
mente, no relacionamento social direto ou no indireto,
elmente na existência de um relacionamento de ambos não só precisamos do li po ideal de seu produtor, ma
entre os componentes individuais. Também será neces• do tipo ideal de seu usufu'io, e ambos se,-ão absolutam
dar o senlido exato, se existir. e111 que se t,ode atribuir
nimos. Quem quer que seja que use a fctramenta realiz
tado~ típicos. Uma fen;arocnta é uma ('coisa a flln d
xto de significado subjetivo t, uma coletividade social.
lve detemünar se com contextos de significado Subie• a um propósito, e em funçlio desse propósito foi prod
coletividade não queremos dizer aqueles de seus fui,- ferramentas são, portanto, rernllados de atos humanos
É esse o problema da responsabilidade das autoridades, e meios para a re:,.lização futura· de metas. l'ode-se,
da maior importância nos campos do Direito Consti- ceber o "significado'~ da ferramenla em termos da refaç
e Internacional. Outra questão que merece investigação fim. Mas desse contexto de significado objetivo, isto
e. e em q ue medida, o conceito de coletividade social lação meios-fim cm termos da qual ·a ferramenta é
•ir como código de interpretação para :is ações de con• dida, pode-se deduzir o tipo ideal de usuário ou prod
eos, já que é ele próprio uma função de certos padrões se pensar neles como pc.ssot:s individuais reais .. .
comuns a um certo grupu. Tais padrões podem per- O artefato é o úllimo membro da ~érie de anoni
condut.i habitual, à atitude tradicional, à crença na vali• gressivo que marca a construção de tipificações do mun
alguma ordem ou norma e podem não só ser tidos como
tos, mas também obedecidos. Eis aí wn sentido Jegí• 5 CI. Vm :4 cr, Cr!isl und Kultur in der Sprac.·he (Hci<lclb..:ri, 192
que se pode folar de significado subjetivo de uma cole• e s.cgoiotç_. !Tradução inglesa de Os-car O <:str : Tlie Spirfi o/ L
social. Cii:i!izalion ( Londres, 1932). p. 138.J
A PROVÍNCIA DA SOCIOI.OGJA 14
APLrcAç., o DE Trros mEAlS Lembremos a impor-
inção entre a construção do tipo ideal e a aplicação
o como um código de interpretac:ão de acões concretas ThvESTJGAÇÕES SOCIOLÓGICAS
memos o caso da lntcrprefnção# de um~ ação futura
de um tipo ideal. Nosso tipo ideal vai ser definido
do n1otivos definidos e lOvariáveis e, desses motivos,
s deduzir atos e seqüências de aios invariáveis. Supo-
ue o nosso úpo ideal é o de um burocrata. Aplicando
uma pessoa concreta, posso dizer ªN é um burocrata
ortanto, podemos cspernr que ele visite o nosso esc1i- Aquele que Retorna ao Lar
ularmente". Ou, então, "N acaba de desempenhar a
corresponde ao tipo ideal A; a' é também característica o~ NAVEGANTES FE~ÍCIOS depositaram Odiss
demos, portanto, esperar que N também desempenhe a mecido na praia de Itaca, sua terra natul, para que a
Agora, q_uanto se pode confiar em tais julgamen tos? o que buscou durante vinte anos de sofdmento indízfve
ação a' ainda está no futuro e, 1iortanlo, livre, nâo mexeu e acordou na terra de seus pah;, mas não conh
ar certo de que N a desempenhará. A aplicação do localização. 1taca mostrou-lhe uma face estranha; ele n
de pessoa a uma ação futura de outra pessoa ·é uma nheceu os caminhos alongru1do-se na distância, as bafas
só pode ser feíla na hipótese de que é provavelmeme os penhascos e precipícios. Pôs-se de pé e ficou a olha
e a _pess?a não age como previsto, devemos supor que era a sua ptóp1i a terra, lamentando-se: "Ai de mim! E
o lipo ideal errado para a pessoa em questão. Vamos em que lugar da terra estou? O q ue cu faço aqui?" Nã
curar outro tipo ideal de pessoa, que vai tornar com- porque estava ausente há tanto tempo que ele não reconl
a sua aç<'ío. Esse princípio servirá, independentemente próprio país; em parte, era porque a deusa Palas Ate
é imediatamente vivenciado ou se ele próprio é conhe- tornado denso o ar à sua volta para mantí,-lo desconhe
as como um tipo. Mas, quanto mais liberdade N tiver, que "despertasse para as coisas". Assim conta Homero
ônimo ele é, quanto mais próximo do relacionamento do famoso caso de rCtt>rno ao lar, na literatura mundial.'
se situar, menos probabilidade existirá de que ele se Para aquele, que retorna, o lar mostra - pelo m
" de acordo com o tip~> ideal''. Mas se o próptjo N coi:ocço - uma face niio-familiar. Ele próprio acredita es
is elo que um tipo ideal, se suas ações são controla<bs p'.us_ estrnnbo, ser um estranho entre estranhos, até que
observadot, c'Dtilo o tipo ideal deve poder sempre se, d!ss1pe o véu de névoa. Mas a atitude de quem retorn
, deve sempre "dar certo", na medida cm que foi d~er~ da do estranho. O último está por se ligar a um gr
o de acordo com uma metodologia caneta, vale diz~r, nao e nem n unca foi o seu. Ele sabe que \'ai se encont
maneira que é tanto adequada no nível do significado mundo não-falJlÍliai-, ~iferentc1~1ente organiz~do daquele
dequada no nível da causa. vem, cheio de armad,Jhns e difícil de dominar.2 Aquele

.' O trecho segue t! tradução inglesa. do Odisséia de Homero.


r . E. Sh~w ("l,,invrence thJ Arábia") (Nova York: Oxfoi·d Univers
l9m.
2 Cf. o t~b.l.Uio deste._ímtor "Tlte Str.anger": J\h;erh:an Jormmf oi S
XJ.,IX, u." 6 (maio, 1944) , 500-.507,

Transe.rito dos se~nrcs itenS, da Bibliog.rt1-fi.a: 1945a, .JfüJ.76; 1


72-78.
A PJlOVÍNCJA DA SOCIOLOGIA INVESrtGAÇÕl:-S SOCIOLÓG!C:\S

lar, no entanto, espera voltat para o ambiente que sem- é ponto de partida assim como ponto terminal. l:. o pon
eceu, e - assim pensa - ainda conhece intimamente, do sistema de coordenadas que atribuímos ao mundo a
que tomá-lo corno pressuposto para poder se movimentar nos movimentarmos dentro dele. Geograficamente, " lar" s
ele. O estranho que se aproxitua tem de antecipar, de um certo local na superfície da Terra. Onde por acaso
o majs ou menos vazio~ o que vai encontrar; o que volta
encontro é o meu "<loinicílio"; onde tenho intenção de f
tem de rewn:er às memóiias de seu passado. Assim ele
rainha "residência"; de ond~ venho e para onde q-ucro
porque ~e sente assiro, sofre o choque típico descrito
é o meu "lar". No entanto, lar não é ãpenas o local -
ero. CAsa. meu quano: meu jardim, minha cidade - mas tud
s cxperiênc.ias Lípicas de quem retorna ao 1ar serão anali-
seguir> de um modo geral, em termos da Psicologia S0•
ele simboliza. O caráter simbóliw da nocão de "lar" é
eterano de guerra que retorna é, de fato, um bom exem• nalmente evocativo e difícil ele descrev;r, Lar signific
situação que estudamos. Os seus problemas especiais, difürcntcs para pessoas diferentes. Significa, é claro, a
o, [oram muitos. discutidos recentemente em diversos li- terna, a língua materna, a familia, o amor, o~ amigos;
tjgos,S e não é objetivo meu referir-me a eles~ a não ser uma paisagem querida, '"canções que minha mãe ensin
emplos. Poderíamos falar também do viajante que volta mida preparada de um determinado modo, coisas familia
cstrangc:fros, do emigrante que retorna à terra natal, do uso diário, costumes, hábitos pessoais. - em suma, um e
e "fez u vida» no estrangeiro e agora se estabelece na culiar de vida, composto de pequenos elementos impor
atal.4 São todos exemplos do "que l'etorna ao lar", isto queridos. CJwvron, um jornal <lo Corpo de Fuzileiros Na
m que volta definitivamente para casa - não alguén, que trevistou os soldados dos Esmdos Unidos no Sul do Pa
para uma temporada, tal como o soldado durante a 11- p erguntou-lhes do que sentiam mais folia longe das famíli
trinta dias ou o estudante que passa as férias de Natal namOràdas. Aqui estão algumas das respostas, "Um sa
anu1ia. de alface e tomate com leite fre.sco gelado para aiud.ar a
ue, entretan to, deve ser entendido por " lar"? "Lar é de " Leite fresco e jornal da manhã na porta da frente"; " O
pattc", diz o poeta. 5 "Lar é o lugar para onde o homem de uma farmácia 11 ; num trem e o apito d« máquina"
nção de retornar quan do esta' longe"d' · · c•o1
, 1z o Juns a. ar essas coisas de que se sen te muita falta quando não estã
níveis provavelmente não eram particularmente apreciadas
aruos, étl\ primi:.iro lug.:ff, ú Vcteran Comes nuck {No\'a Y~T.k: estavam à disposição a qualquer momento. Tinham apen
cti.'i, 19-IK), do Professor \ Villard \ VaUer, uma excelente .:-m~hs-e lugar humilde dentro do coletivo "coisas caseiras". As
a do civil que .se torn~. rol<lndo profissiom1l e- <lo soldado q_ue.sc
nmo e volta pnra uma terra nata.1 estranha; tnmbé~~ ~Vheu Jolumy significa uma coisa para o homem que nunca o deixou,
rcltilig Home (Cambridge. Mo.ss.: Hou~JHon, Mtl flui, 1944), do coisa para o houJcm que vive longe dele, e ainda ou
Dêxon Weccer, com valiosos doc-umentos relativos no so!dad~ ame- quem retorna.
e retorna de qu:'!lTô gu~n<1s e refcrêm.:hts bibliográficos muito
lmente, a di-scussi.io do probienHl do vcternno no N<:w York H<--r(lld "Sentir-se em casa" é uma expressão do mais alto
"Annual Forum on Currcnt Prob-lcm:;'\ 22 de outubro di: 1944 familiaridade e intimidade. A vicia no lar segue wn pad
III), cm es~ecfo.l as çúlúborn.,çõcs da. Sr." Anm1 Rose-nbcre;. d◊
Charles G. Boite e do Sargento ,vmiam J. Coldwcll. Ve, t•lmbém nizado de rotina; tem suas metas determinadas e meios
autc coleção de Lcttcrs Hon:e úe oficiais <:rn serviço. ananjadas e tados de realiz.-\-las, consistindo num conjunto de tradiçõ
as por ).-1ina Cmtiss (Boston: Littlc, J3r(1wn~ 1944). tos, instituições, horários para atividades de todos os t
ma amHisc d.:::;li,g s;Luacão no conto ''T he Return of the P;odigi!l". A maioria dos problemas da vida diáiia pode ser dom
as Wolfc, ern Thc Hitls !ieyond (Novo York: Harper & Bros.,
guindo esse padrão. Não há nece.ssidade de de(ini.r 011
fün, Four Ouurtt:fa· (No,10 York: Harcvurt. Bra.cc. 1943) , p. 17.
H. Bcalc, A Tr<!-i1fise on the Con,llicl of l,.cw.~ (Nova York: B.1ker~ '!Chado do 1·tme de 5 de junho <le 1944; outros cxcroplos p
19 35) _, 1, 126. enc.ontrados em Wecter, oJJ. c!t., pp. 4.9.5 e stguinl-es.
A PROVÍNCI A DA SOCIOLOGIA I NVE.STIGAÇÓF.S SOCI OL ÓG ICAS

que já ocoITeram tanta.~ vezes nem de procurar novas. Ante_~ de tudo . temos de distinguir entre relacion
parn vefüos problemas, tratados satisfotorinmente. O mo- face a face e relacionmuenlos íntimos. Um relacionamento
da no lar governa como código de expressão e io.terpte· face pi essupõe que aqueles que dele participam têm em
o só os rncus próprios atos, mas também aqueles de tempo e espaço enquamo durar a relação. Espaço em
embros do g1upo interno. Posso estar certo de que, usan- significa, de um lado, que para cada parceiw o co1-po d
ódigo., vou compreender o que o outro quer dizer e me su.us expressões faciais~ seus gestos, etc., são imediatament
mpreender por ele. O sistema de relevâncias " adot;,do váveis como sintomas do seu pensamcn{o. O car.npo das
mbros do grupo ínterno revela ~m alto gr~u _de conf~r- sões do outro está amplamente aberto a uma possível in
Sempre tenho uma chance razoavel - subJellva e obie-- ção, e o ator pode controlar imediata e diretamente o e
c - de prever a ação do outro com relação a mim , seus próprios atos sociais pela reação de: seu semelhan
o a reacilo do outro aos meus próprios atos sociais. Po-
4
outro lado, e.spaço cm comum significa que um certo s
ão só preve-r o que vai acontecer amanhã: mas temos mundo extedor é igualmente acessível a todos os parceiros
uma boa chance de planejar corretamente o futuro mais cion'1mento fac-e ;· face. As mesmas cojsas estão ao alc
As coisas vão, em essência, continuar n ser o que-foram vista, audíveis, etc. Dentro dess~ horizonte comum, e~iste
E claro, existem novas situações, eventos inesperados; tos de interesse comum e t cfcv§ncia comum; coisas p2ra
casa, mesmo os desvios da vida da totina diália sílo balhar com ou sobre, realmente ou em potencial. Tempo
os de llm modo definido pelo estilo geral com que as mum não se refere tanto à medida de tempo exterior (o
em casa, lidam com situações extraordinárias. Existe um compartilhada pelos participantes, mas ao fato de que c
um modo comprovado - de enfrentar uma crise. na deles participa do desenrolar da vida interior do outro. N
negócios, de resolver problemas familiares, de de(ermi- ção face a face, J_JOSSO capt::ir os pensamentos do outro n
tude a adotar com relação à doença e mesmo à morte. seme uvívido", confol'me eles se de:;;envolvem, e o mesm
lmente, existe até mesmo um modo rotineiro de lidar eJc com rclacão à minha corrente de pensamento; e nú:;;
vidade. hemos disso -e levamos em conta essa possibilidade. O
termos de relacionamentos sociais, pode-se dízer que a p aru mim , e cu para ele, não uma abstração, não um
lar é, na maior par le, real pelo menos l)otenciahuente, exemplo de compor{amcnto típico, mas, pelo simples falo
os chamados grupos prim~1ios. Esse tcm, o foi cunhado partilharmos um presente vhido comum, essa personalida
ey 9 para designar o relacionamcn to face a face Último vidual única, nessa situação única cm parlicuk.,-. Delineado
se corrente, embora contestado,'º nos livros de Socio- toscamente, esses são alguns dos traços. da relação face
amente equívoco, ele seda útil para o nosso propósito que preíerimos chamar de "relação do Nós pura". De [
ar algumas das implicações que oculta. tem, cm si, uma grande importância, pois é possível dem
que todos Os ouh-.:>s relacionamentos sociais podem e, par
n:s:;ão foi <lUicuti.d~ no trabaU!o mencionado acima sobre "Thi!
loc. ci1 .. pp. 500 e se.guintes. fins devem, ser interp retados como derivados da rcl:i
H. Coolcy, Social Orgauizarion (!\':O\'.l York: Scribners, i908L Nós p ura.
No entanto, é importante compreender que a relação
~t I'-'f aclvcr, Society {Nov.'.1 York : Fãrrar & Rinehart, 1937L
bre o "Prim.:iry Group und l.,<;rg,\.~ Sc::ilc Assocfotion" (cspcdsl-
puta refere-se meramente à estrutura formal de relaciona
t;-t na página 236); Edward C. )!!.n<ly: Charles li. Coafoy, Hi:; wciais baseados em tempo e espaço comuns. l'odc ser
Social Tl,eor)' iNova York: Drydon Prcss. 1942) , pp. 171 -Sl; chida com uma grande vatiedade de conteúdos, mostra
aris, "Prjma1·y Group, Esseoc:e tmd Acd<lenC', Americun JaumGf
y. XXX {julho àc l932) , 4 !-45; Frederick R. Clo-..•t. "Coolcy·~
versos graus de intimidade e· anonimato . Compartilhar do p
Priroary Groups'", Amcrican /(>uma! oi Sadology, XXV (novccn- vívido de uma mulher que amamos ou do passageiro ao
9) , 326-4-i . metrô são, certamente, espécies diferentes de refoçõe,; face
A PROVÍNCIA DA SOCIOLOGIA I NVESTIGAÇÕES SOCIOLÓGICAS

ito de Cooley de ·g1-upos primários, cnttctanlo, pressupõe ocorrência em curso e compartiil1am, portan LO, das ante
eúdo partícular em tal relacionamento - ou, mais pre- do futuro, 1'lis como planos, esperanças ou ansiedades
e, intírnidnde.11 Nesta altura, temos de analisar uina ex- outro; significa, finalmente, que cada um deles 1:em a ch
mal definida que só pode tomar-se explícita se empreen- restabelecer a relação <lo Nós, se interrompida, e <le co
um estudo das camJdas de personalidade envolvidas, dos como se não houvesse ocorrido rom1iimento . Para cada
de expressão " interpretação pressupostos e do sistema de parceiros, a vida do outro se torna assirn uma parte de
as comum a que se referem os paeceiros. Ê suficiente pria sulobiografia, um elemento de sua histófia pessoal
e a categoria de intimidade é independente da relação ele é, o que vejo a ser, o que virá a ser, é e.o-determinado
ace . participação nos diversos rcfocionamentos ptimátios, reai
ém, a expressão "grupo primário", conforme geralmeLTte tenciais, existente., dentro do grupo do lar.
mplica uma terceira noção independente de qualquer das Esse é o aspecto da estrutura social do mundo do
ma mencionada~, ou seja, o caráter recorrente de certos o homem que nele vive. O aspecto muda inteiramente
mento:$ sociais. Ela não é ahsolutamcnt<! reSttjta às rc:- . homem que o deixou. Para ele, a vida no lar uuo está
o Nós puras e às relações íntimas, cmborn nossos exem.. sua disposição imc<liat,i. Ele penetrou, por assim dizer
m tir.idos delas. Um casamento, uma ami7,1de, um grupo dimensão soeia1, 1150 abrangi<la pelo sis(cma de CoordL'-n
um jardim ele infância. não implica um relacionamento do como código de rcfer.ência na vida <lo lar. Ele não
ace primál'io permanente, estritamente contínuo; em vez vencia como participante en1 presente vívido as mui tas
o uma série de relacionamentos face il fac.e meramente do Nós que formam a textura <lo grupo do lar. Sua pa
entes. ~1ais precisamente, os assim chamados "grupos pri . casa substituiu essas cxpcriêncins vívid:.~s por mem61ias
são si Luações insütucíonalizadas, que possibilitam o resta-
nto da relação do Nós interrompida, e sua continuação mem61ius presen'artl apenas o que 3 vi<la no. lar signifi
de onde foi deixada na última vez. E claro que nenhuma o momento em que ele o deixou. O curso do desenvo
foi paralisado. O que até aqui foi uma série de con
existe, mas apenas uma mera chance do sucesso do resta•
nto e da continuação, Mas é característica do grupo pri- únicas, formada por pessoas, relações. e grupos indivi<lu
conforme concebido por Cooley, que a existência de tal agora um car.~ter de meros tipo~; e e.ssa tipificação encer
se.ia tida como pressuposto por todos os seus membros. sariamente uma deformação da estrutura sub.iacente de
cias. Em certo grau, o mesmo vale para os que foram
pois desses parGntcses, para explicações por demais ca- para trás. Com o corte do tcrnp0 e do espaço comuns, p
odemos voltar fi nossa afirmação anLcrior de que a vida plo. reduziu-se o campo dentro do qual as expressões
significa, para a m11ioria das pessoas, vida cm grupos
se manifestam e estão abe1-tss à interpretação. A perso
s 1·eais ou potenciais. O senti.do dessa afirmação agora
do outro não é mais acessível como uma unidade; foi
e claro. Significa ter em comum com outros uma seção
ço e tempo, e, com isso, objetos ii volta, que são mdos e çad11. Não existe rnais a experiência total <la pessoa quer
gestos. seu modo de anda,: e de fofar. de ouvir e de
síveis, e interesses, baseados num sistema subjacente de
coisas; o que resta são lembranças, uma fotografia, alg
ias mais ou rncnos homogêneo; significa, além disso, que
cipaotes de um relacionamento plimário vivenciam um ao nhas escritas. A situação das pessoas separadas é, em c
omo personalidades únicas em presente vívido, pois acoD1- elida, uma ::ijtmiçfio de privação; "partir; c'est mourir a
o desenrolar do pensamento• um do outro como urna · ~ Na vcnfode, ainda existem meios <le comunicaçflo. L
a carta. Nlas a pessoa que C$Crcve a carta didgt>SC ao
mos i.,7.tciraroe11te. oqui a teorfa de Coolc-)'. irnpos.sível de manter, que a recebe, como era conhecida quando se separarnm,
s primár.ios", tais como le~ldüde, verdade, c-~1pai:.nlade de prestar recebe a lt como uma carta esclita pela pessoa típica
bcnüade; ecc.
A PROVÍNCIA DA SOC!OLO<;IA INVESTIGAÇÕES SOCIOt.ócrc,,s

ara lrás.11 Pressupor essa tipicidade (e qualquer up,ct- interno tem agora outras melas e outros meios de atingi
nifica admitir que o q ue se provou típico no passado ainda permanece um grupo inter110.
boa chance <lc ser Lípico no futuro ou: noutras palavras, O ausente tem a vantagem de conhecer o estilo ge
a vai continuar a ser o que ten1 sido: as mesmas coisas padrão. Ele pode, a partir de experiências antc,i ores,
anecer relevantes, o mesmo grau de intimidade em rcla- que atitude a mãe vai tomar com relação à tarefa úe c
!'.i pessoajs vai prevalecer, etc. No entanto, a mera casa .sob o novo sistema de racionamento, como a irm
de ambiente faz c-0n1 que outras coisa~ :;e tornem impor- sentir na filbtica de al'mas, o que um domingo s.igni
ra ambos, as velhas experiências são reavaliadas, outTas passeio de automóvel. n Os que foram dcixatlos cm casa
acessíveis ao outro, surgem na vida d~ e-ada parceiro. uma experiência imccliuta de como o sold~do vive na
ldados na linha de combate ficam atônitos ao ver que combate. Há relatórios nos jornais e pelo rádio, recitais
C.Jrtas de. casa qualquer compreensão de sua situação,
que voltou para casa, filmes coloridos, propagandu oficia
bestimam a l'elevâncja de co.isas que não têm importân- oficial, tudo baseado num estereótipo da vida do sold
algum ponto da frança'' ou •;em algum pont-0 do Pacíf
a situação atual de quem ficou, mas que seriam assunto
maioria, esses estereótipos não são fonnados csponlan
deliberações caso as pessoas que estão em casa tivessem
rnas ~ão dirigidos, censurados por motivos militares ou po
com elas. Com a mudança do sistema de relevância,
têm .a intenção de levanta,: o moral na linha de combat
rau de intimidade. O termo uinlimidade.., designa aqui ou tle aumentar a cíicíência da produção de guerra ou a
e o grau de conhecimento scgu,o que temos -sobre outra de ações de guerra. Não existe nenh uma garantia de que
relacionamento social, grupo, padrão cultural ou coisa, desclito como típico por todas essas fontes de ilúomin
diz respeito a uma pessoa, o conhecimento íntimo no, também rclevame para o men1bro ausente do grupo inte.111
interpretar o que ela quer dizer e prever suas ações e que.r soldado sabe que seu estilo de vida depende do g
Na forma máxima de intimidade. conheçemos, citando litar ao qual pertence, da missão que. lhe é confiada den
"alma nua" do outro. Mas a separação envolve o outro gwpo, da aliludc de seus superiores e camaradas . Isso
nho disfarce, di[ícil de remover. Do ponto de vista do conta, não o que diz o boletim "Nada de novo na fre
o desejo de restabelecer a velha intimidade - não só dental". ivfas, não importa o qtJe lhe aconteça, essas circun
oas, mas também com cojsas - é a principal caracte.- particulares são sua eÃpe.-iência única, individual, pess
que -se chama de "sáuda<le". Ainda assim, a mudança ele nunca vai permitir que seja tipificada. Quando o sol
a de relevimcia e no grau de intimidade que se acabou t-Orna e começa :a falar - se é que começa a falar -
vcr é diícrcntcmente vivenciada pelo ausente e pelo preso de ver que os seus ouvintes, mesmo os que lhe sã
lar. O último continua a sua vida di~ria dentro do ticos , não compreendem a qualidade única dessas exp
stumeiw. Certamente, também esse padrão ten, mttdado indh;duais, que fizeram dele outro homem. Procuram no
mo de um modo mais ou m~nos abrupto. Mas os que relata traços familiares, categori1.an<l~o nos seus llpos pr
casa? embora conscien(es dessa rnu<l:mça, a atravessa- dos da vida do soldado na freme. Para eles, apenas em p
s, a vivcncfaram como imediara, adaptaram seu sistema detalhes o scn relat6rio diíerc do que contaram todos
etação e ajustaram-se a ela. Noutras -palavras, o sistema retornaram ;j() lar e do que }eram em revi$ta!S e vlr.am no
mudado inteiramente, mas mudou como um sistenu:_: Pode acontecer que muitos atos gue para as pessoas em
interrompido e quebrado; mesmo em sua modiíica9ão, 1·ecen1 ser a mais alta expressão de coragem são para o
m dispositivo apropriado _para dominar a vida. O grupo
1.; lsso, é daro. não vaie para o çaso de, uma destruiç~fo violcn.h
por uma calâstrofe ou. por u.ção do inimigo. A{, 110 e11tan10, n'iio s
celente aoáfüc: Ut Georg Simmt:l dli :;-ociolvgia du cs r!a tn1 su~1 1•era! do psd.-1:ío do lm· pude ter mud~dú ioleiraincrirc e.orno ~té.
U11tenn.u:hune«n iiber dic Fomum der Vergesl:!llschaftrmz ( Lc:ip· ;n)pr!o ku· pode ter deixado de cx.istir. O auscuil.!, então, «
pp. 379-!!2. far~•. no se.nHdo real, e não tem nenhum h,ger ~o qual re.tcrnar.
1
A PROVÍNCL\ DA SOCIOLOG IA lNVllST!GAÇÕES SOCIOLÓGICAS

ate mern luta pela sobrevivência ou cumprimento de um ramente; o que antes eram possibilidades Lorna1·am-se r
quanto que muitos momenlos <le re-01 provação, sacrifício ou provaram ser impossibilidades - em suma, a ex
mo passam desapercebidos ou não são apl'eciados ·pefas anterior tem agora outro sentido.
o lar.14 Certamente, não cabe aqui proceder a uma análise
discrepância cnlrc a singulsri<lade e a importância de- blemas filosóficos altamente complicados de tempo, m
e o ausente atribui às suas expcdências e à sua pseudo- significado aí cn volvi dos. Só os mencionamos por dois
o pelns pessoas em casa, que lhes imputam uma pscudo- primeiro, no estado atual das Ciências Sociais, sempt
a, é llm dos maiores obstáculos ao restabelecimento mú- útil mostrar que a análise de um problema sociológico
elaç.õcs do Nós interrompidas. Ainda assim, o sucesso se apenas levada bem adiante, necessariamente conduz
so do que retoma vai depender da possibilidade de questões filosóficas básicas das quais os cicntis(as sociais
ar essas relações sociais em relações reconcntes. l\fas, dem se esquivar usando te1mos não-esclarecidos, tais co
e não existisse tal discrepância, a solução total desse biente", r:aj uste'\ "adaptação"_, padrão culturalu, e a
continuaria a ser um ideal irrealizável. diante; segundo, esse conjunto de problemas determina
ue se coloca em questão aqui não é nada menos do que mente a forma, se não o conteúdo, da atitude de quem
ibilidade do tempo inteiior. E o mesmo problema que ~o for, mesmo se ::ssa -pessoa não acha que. tenham ocor
figurou com sua afirmação de que não podemos banhar- danças substanciais na vida do gnipo do lar ou em suas
vezes no mesmo 1io; que Bergson analisou em sua filo- com ela. i\·!e,mo então, o lar para o qt!al ela retoma
duréa; que Kierkegaard descreveu como o problema modo algum o lar que deixou ou o lar que kmhtava e
ição''; que Nguy tinha em mente ao di1.et que a estrada durante SL!a ausência. E, pela mesma tázão, aquele q
de Paris a Chartrcs tem um aspecto dife1·cntc do da es- para casa não é o J1Jesmo homem que partiu. Não é o me
leva de Chartrcs a l'aris; e é o mesmo problema que, pu.ta si próprio nem para aqueles que esperam o seu re
odo um tanto destotcido, ocupa a Phi/osophy of thc l're- Essa afinnaçfio se presta para qualquer tipo de vol
G. H. Mead. O simples fato de que envelhecemos, de- Mesmo se retomamos à casa depois de umas férias cur
s experiências surgem continuamente dentro ele nossa ficamos que o velho ambiente familiar adquiriu um no
de pensamento, de que expedências anteriores estão per- ficado devido a nossas experiências durante a ausênc.ia.
mente recebendo interpretações adicionais à luz de exp~- porta qual possa se-r a avaliação que as acon1panha., as
ue mudatam, mais ou menos, nosso estado de cspíri to pcsso:1$, pelo menos no con1ec;o , têm uma nova cara.
essr.s características básicas de nossa vida mental blo- ciso um certo esforço pata transformar nossas atividades
ua reconênciíl. Sendo recorrenle, o recorrente não é mais em trabaillo de rotina e. parn reativ:.ff nossa:; refações re
. A repeúção pode ser visada e desejada: o que per- com homens e coisas. Não é de admirar, já que pretend
passado não pode nunca ser tes[abclccido noutro pre- nossas férias sejam uma interrupção de nossa rotina di
tamente como era. Quando sw·giu, aquilo que pertence Homero narra o desembarque <los companheiros de
do trazia consigo ,mtecipações vazias, horizontes de de- na ilha dos comcdo1·es de lótus. Em vez de condenar à
mento ful11ro, xeferências a chances e possibilidades; intrusos, os comedotes de lótus lhes deram um prato
m retrospectivn, essas antecipc1ções demonstram ter ou flores; e, à medida que cada um provava dessa planta d
preenchidas; as perspectiva~ mudaram; o que era pexi- mel, enfraquecia-se nele o desejo de retornai·; preferia v
slocou-se para o centro da atenção ou desapareceu intc.i- sempre com os comedores de lótus, alimentando-se de
deixando apagar-se na memória toda a saudade do lar.
uma pesquisa de torrespan<lente~ <ló Time, "De yue tipo d.: Até certo ponto, toda pz-ssoa que volta ao for provo
»m os :.oldsd<.ls?" (Time, 14 de .'lgosto de 1944), "os ~l<lados>
o, gostam menos de filmes de guerra. de cenas hcrôic~'ls no l,<ir mágica da estranheza, seja ela doce ou amarga, Ape,ae
rJe bat.alha". rosa saudade do lar, pe,mancce um desejo de transpo
A PROVÍ NCIA DA SOCIOLOCTA TN VF.$1:ICAÇÕE S SOCfOLÓG!CAS

adrão alguma coisa das novas metas, dos meios recém- autoritariamente imposta ao comportamento do indivíduo
os de realizá-las, dos talentos e cxpctiências adquiridos de uma estrutura normaLiva de controle. O senso de
geiro. Não podemos nos surpreender, portan to, com um camaradagem, o sentimento de solidariedade e subordin
tio Depa11amento da Guerra, dos Estado, Unidos, de traços característicos que o indivíduo descnv~lvc - tu
'1944,lô mostrando que 40 % dos veteranos liberados contudo, dentro de um quadro de meios e fins impo
am sendo mandados ele voi!a à vida ci vil, via "cen tros gntpo, não sujeito à ~oa própria escolha . Esse-s lraços
uiç.ão" oo Oriente, não queriam de volta seus antigos nos tempos de paz assim como nos tempos de guerra . En
nem mesmo queriam retornar às suas antigas comuni- nos temvos de gue!'ra> eles n:lo reguJam o comp01ian1
costa do Pacífico, a _porcentagem desses homens era membro:; tio grupo iniemo com relação aos membros d
ior. extemo - isto é, o inimig<>. A atirode do combatente
jornal de cidade- pequena celebrou a volta ao lar do laçiio ao inimigo na batalha 6, e se supõe que seja, be
l com um relatório completo de seus feitos, da coragem ao conslrangi.mento disciplinado. A guerra é o arquétip
ária, da liderança eficiente, da rapidez e prontidão para trutura social que Durkheim chan,a de estado de "ano
esponsabilidades. E termina com a enumeração das con- valor específico do guerreiro que h1ta está na sua vo,ita
s que lhe foram justamente oferccidas e com a afir- ciêncir, em vencer o outro, num esforço desesperado po
qt1e o Tentente X foi sempre uma pe-ssoa querida em coisa que não pode ser facilmente usada dentro do p
midade, onde foi durante anos vendedor de charutos de vida civil das democracias oddentais. Além disso, o sold
rtante loja local. Esse parece ser um caso bastante típico. volta ao lar retoma a um grupo interno, o mundo do la
m vive anos nt1ma cidade pe.quen2, um rapa'!' normal ríodo de pós-guerra, o qual é marcado por um certo
todos gostam, mas com uma ocupação que; apesar de anomia, de falta de controle e disciplina. Ele então per
não lhe dá nenhuma chance de provai· set1 valor. ll a anomia já não de-ve ser a estrutura búsíca de suas relaç
vel que ele próprio não soubesse o que era capaz de <) gnipo externo, mas que é um traço do próprio grupo
A guerra lhe dá essa oportunidade; ele se s2i bem e com relação a cujos membros ele não pode aplicar as
c-compensa que merece. Podemos esperar, podemos de- permitidas e necessárias dentro da si 1uaçiio de anomia da
ess;; homem volte à casa, não s6 para para a família Nesse mundo c.ivil, ele terá de escolher suas próprias m
da, mas também para esse luga,·, atrás do balcão de meios de atingi-las sem mais depender de autoridade
Não temos de de-sejar que o Tenente X vá t1sufruir as 1aç.ao. Como coloca o Professor Waller, ele vai se sen
previstas pelo Congresso na " Carta de Direitos dos uma :rcriança sem n,ãci:.
para obter na vida civil uma posiçiio mais apropriada Sl!rge aí outro fator. Em tempos de guerra, os mem
ento? forç::.s armadas têm. um sia!us privilegiado dentro da com
- e aqui tocamos num dos principais problemas da como um iodo. ·'O melhor para nossos rapazes em se
e volta ao lar - infcliz.mcnte é apenas uma hipótese mais que um mero slogan. lô ·a expressão do prestigio m
que as funções sociais aprovadas dentro de um sistemB mente dado àqueles que -poderiam ter que dar a vida
ocial vão continuar como são se transplantadas para ou, pelo menos, que deixaram fanu1ia, es(udos, ocupa
em2. Essa ptoposiçiio geral se aplica especialmente ao :~mcnidades <l:1 vida civil por um interesse altamente v
do vctereno de guerra que retorna. Do ponto de vista da comunidade. O civil vê o homem de farda como um
: a ,,ida mi.litar apresenta uma estranha ambivalência . atual ou Íuturo.: e as:-;lm. de fato, o homem de farda se
do como grupo interno; o exército se caractel'iza por próprio, mesmo se ele desem1Jenha meramen te um trabal
xccpdonalmente alto de constrangimento, <le disciplina crático numa repartição do exérciro em algum ponto dos
Unidos. Não impotta ~e essa ocupação é mais humilde;
o Time de 12 de junho de 1944. ~ambém, a emrada no exé.rcito em si marcou um mom
P.

A PROVÍNCIA D,\ SOCIOLOGIA JN'VESTIGAÇÕES SOCIOLÓGICAS

m sua vida. Mas o soldado que dá bai"a e volta à cular. (Aqui, como em todo este texto, intencionalmen
estituído de sua farda e, com ela, do seu status ptivile• mos conceitos de igualdade baseados em prillcípios filo
ntro da comunidade . .Isso não signiíica que ele vai per• religiosos.) l'ara dar um exemplo de nossa cultura atual
ssariamente, o prestígio adquirido como defensor, atual racão Universal de Direitos Humanos das Nações U
cial, da pátria, embora a histótia não demonstre que a tigo 2) proclama a igualdade moral e jurídica, vale di
da glól'ia <lute muito. Em pane, isso se deve ao desa- dade em termos de dignidade, igualdade de direitos e
to em casa, pois o veterano quando retorna niio corres- formais e igualdade ma!erial no que diz respeito à exte
pssudotipo do homem que estiveram esperando. conteúdo dos dircj tos de todos os indivíduos.
leva a uma conclusão prática. 1Vluito tem sido feito, e . .. Não pode bastar associar a igualdade upenas i
is vai sct feito, para preparar o veterano que retoma i!c relevâncias e· /1 concepção natural do mundo existe
ra o necessá1io processo de ajust~. Contudo , parece ser grupo em particular., pois ambos c~ses termos são am
e indispensável preparar, da mesma forma, o grupo do concepçiio natunil do mundo <lc um grupo pqdc sct in
essoas da falllllia têm de aprender, ::itruvés da imprema, em vários níwh (auto-intctpretação, interpretação P.O
do cinema, que o homem a quem esperam será outro, de fora, pelo pensamento ci~ntífico e pelo filosófico). E
uele. que imagi.navam que fo:sse. Se-rá um11 difícil tarefo termo "grupoH potlc ter conotação subjeth;a e objetiva.
áquina da propaganda na direção oposta, ou seja, para rda é, então, disünguir os elementos sub.ietivo~ e os ob
pseudotipo da vida de combatente e da vida <lo .sol- noção de igualdade . ..
geral e substitui-lo pcfa verdade. Mas é indispensável
fgualdadc, cm qualquer sentido,. significa uma c
a glorificação de um heroísmo hollywoodiano questio-
rente para o grupo A. ou seus membros individuais, q
clarecendo a realidade dos sofrimentos e privações por
homens passam, como eles vivem e o que pensam e
obter uma posição igusl ao de um outro grupo, B, e par
uma realidade não menos metitól'ia e não menos. eva~ n, ao qual o primeiro, A, aspira tornar-se igual, ou pel
deseja ser tratado da mesma forma.
começo, não é só a pátria que mostrn a quem volta uma Foi Simmel quem analisou esse problema em seu
nha. Aquele que retorna também parece estranho aos qu~ estudos .sobre o desenvolvimento das idéias de igualda
m, e o ar denso à sua vofta o mantém desconhecido. T3lltO <lade nos séculos XVITT e XIX e no capítulo de sua
e volta quanto aquele que recebe vão precisar da aiuda cm que trata de autoridade e subo,:<linação. Em term
Mentor, que "os desperte para as coisas". · diz Simmel, ninguém está satisfeito com a p_osição q
com respeito a seu semelhante, e todo mundo deseja
wna posição de algum modo mais favorável. 16 ó. igu
superior é o p1;mciro objetivo do impulso de devação
l gualdade e Oportunidade prio - e, bastante caracteristicamente, a igualdade a
imediato: Ainda assim, essa igualdade é apenas um
O foto de que a i,gualdade só pode existir dentro do transição. Diver,.as expcriênci3s demonstraram que, mn
omín io de relevâncias explica por que podemos ralar o subordinado está em pé de igualdade com o superior
mente de igualdade política, igualdade perante a lei. igual- dição, que ante$ era a meta principal do seu empree
tcr111os de r io,ucz.a . igualdade t!c oportunidade, igualdà<lc vira um mero ponto de partida para mais um esforço,
ou mornl, etc.. . . E, pelo fato de que os domíniós de estação na estrada sem fill1 para a posição mais favorec
s são t.lcfinldos e ordenados pelos grupos sociais àc há tentativa de conseguir .igualdade, a luta do indivídu
diferente.. scgue~se que o conteúdo do conceito de igual..
mbém um elemento da concepção relativamente naturnl 16 Kurt H. \1/olff, org., Thc Sociology oj G'eorg Simme{ (Glenc
o tomada como pressuposto pelo grupo social cm pn1ii· The Free l'!'ess, 1950), p. ;?i5.
A PROVÍ NC(A D.-\ socr.ot OGIA INVESTIGAÇÕES SOCIOLÓGICAS

utros vem à Lena de todas :.,,~ form~s possíveis no está• No sentido objetivo, um grupo social é um sistema e
-alcançado. 1'-fas, diz Simmel, há uma diferença funda- funcional, formado po1· uma rede de processos de interaçã
tre essa tentativa de conseguir valores apreciados por sociais, posições e status interligados. Não o indivíduo
eliminam o que ele chama de "forma sociológica " (e ou a pessoa concreta, mas o papel, é a unidade conc
amaríamos de sistema de relc,•âncias existente e sua sistema soci8I. Cada papel traz consigo um conjunto p
a que utiliza os meios. dentro dcss.a forma, que é, assim, ele expectativas, aquilo que se espera que cumpra a pesso
. bida do papel.
dúvida, o significado de Í.,l;\taldade é diferente para Em nossa terminologia, essas expectativas com re1
ue aspiram a uma posição iguul à do superior, seja ele papéis não são outra coisa senão tipificações de padrões
ou f,'t'Upo "dominante", e para aqueles que estão na ração que são modos socralmente aprovados de resolve
rivilegiada de quem se exige gar::mtia de . tratamento mas típicos, e são freqüentemente institucionalizados. Co
temente, elas são ordenadas em dómí.nios de relevâncias
álise de . . . dois tipos de mino,ias oferece um bom sua vez, são hicrarqui7.ados numa determinada ordem qu
. Os grupos de minoria do tipo a visam uma espécie gina na concepção relativamente natural do mundo d
de-, a assimilação. Os do tipo b, entretan(o, ví,am a se-us h,lbitos, co,stumes, princípios morais, etc.
ra,d, isto é, obter direitos especi3is tais como o uso de Podemos expressar a mesma idéia, em termos de. i
as nacionais nas escolas, nos tdbunais, etc. A hist6da nalização, interpretando o sistema social como uma t-e
tural de minadas nacionajs na antiga monarqui~ austto- laçada de posições, cada uma definida por uma tipificaçã
um ex~mp!o cxcelent~ do ponto em questão. O grupo mente aprovada de padrões de i.i1teração partieulare-s. E
pode mterprelar a ,gualdade a ser concedida com:., ficações também cstr,.bckccm as exigências da posição,
formal, e pode até mesmo estar disposto u conceder ridade e dever, as quais toda pessoa incumbida dessa
dade perante a lei e total igualdade política, mas ainda seja ela quem for, tem de satisfazer. EJ.us também dete n
stir a qualquer exigêocia de direitos especiais. Outro habilidades. talentos, ou dotes - cm suma, a competênci
a interpretação diferente da hierarquia de discrimina- ficação - que se espera que a pessoa incumbida poss
ranco e pelo negro. de preencher suas funções adequadamente. Da( concluir-
servação citada acima, de Sinunel, de que existe uma turalmente, C[UC apenas pessoas qualificadas poderiam s
fundamental entre as tensões <lesse tipo que podem ser datas a tais posições.
a(Tavés de deslocamentos dentro do sistema de relevân- O postulado da igualdade de oporlunidades, no sen
m predominante e as que querem a abolição do próprio tivo, aparece freqüentemente na forma do slogan. H a ca
m muira importitncia para a dupla in(crpretação ck acordo com o talento''". Dessa forma, p~rém , efo signi
que estudamos. A primei.i·a atitude é característica do mais: não só pessoas competentes poderiam ser candida
o conservador e a segunda do pensamento revolucion.Í- todas as pessoas competentes, independentemente de out
e estão em posição prh-ilegiada vão interpretar a ie:ual- rios, poderiam igualmente hábilitar-sc, estando eniend
concedi~a cm . termos da primeira, enquanto qu-;; os dentre todas as pessoas hal>ilitadas, as melho,·e.s qualific
a obtençao da igualdade freqüentemente a interpretam veriam ob!cr a posição. A Declaração Francesa de Direito
da segunda .. . nos, de 1789, postula que
icu)dade de analisar a noção de igualdade de oportu- todos estão igualmente habifüodos a tc,das 13S honras, posições e-
onsme no fato de que não só. . . o termo igualdade de .?cor<lo com Strnl-i <life.rente-s capacidades. sem qu;1lqt1Cr 011tra
cados diferen tes nas interpretações subjetiva e obi'etiva àlém d:t que resulta àc suas virtudes. e ·ta1entos.
m o tcm10 "oportunidade" permite umá dupla inte.i.·'-
'ariimos de uma análise do conceito de oportunidade Este postulado corresponde à noção de A1istótclcs ,
objetivo . . . distributiva, de que a recompensa deveria ser dada d
A PROVÜlCIA DA SOCIOLOGU
J NVESTICAÇÕES SOCIOJ.ÓCICAS

mérito. Mas Aris(óteles já havia afümado que o <X)nceito Logo se vê que as oporlunidadcs que são igums do
ito" é diferente em cada socic:dade. Em nossa terminolo- vista objetivo podem e, num sentido restrito, devem nã
emos que é a concepção relativamente natural do mundo termos das chances subjetivas de um determinado ind
ermina ou, pelo menos, co-determina a competência e as vice-versa. Isto é assim porque somente do ponto de v
ações que qualquer pe-ssoa habilitada a uma posição tem tivo é que os papéis sociais constituem uma unidade
uir. A ligação entre a dcfiniç.ão dessas qualificações e a elo sistema social que pode ser tipificada e definida e
ão relativamente natural do mundo existente num deter- de expectativas com relação aos papéis e competênc
grupo re,mlta, freqüentemen te, na inclusão nessa defini- disso, é somente do ponto de vista objetivo que todas a
elementos que não têm ligaçõe-s, ou têm apenas uma li- com qualificações ig1.1ais podem ser estimadas como i
remota, com o cump,i mento adequado da posição em habilitadas a serem incl!mbidas do papel.
Por exemplo, no atual cenário americano, as qualifica- Do ponto de vista subictivo, porém, o indivíduo nã
gidas para certos cargos excluem da habilitação~ o que sidera como habilitado a um papel social, mas como u
faz em outros países do Ocidente. 1iessoas com a idade mano, que está envolvido em diversos grupos e relaçõe
a 3.5 anos . .. .em cada um dos quais participa com \!ma parte de sua
ve-se considerar agora o significado subjetivo de oportu- lidade. Assim, mesmo se fizesse sentido supor que cha1
isto é, o significado qlle essa noção tem para o indivíduo tivas iguais correspondem a oportunidades 'Objetivamen
m termos objetivos, estaria habilitado ao usl!fruto de uma .o ser humano individual iria pesar as chances em termo
idade. Tal· indivíduo vivencia o qlle definimos como uma âe-sejos, ansiedades e paixões pessoais, que são apenas
idade no sentido objetivo, como uma possibilidade de auto- Em última análise, então, a igualdade d.:: oporlun
ão que está à sua escolha, como wna chanca que lhe é existe do ponto de ·vista objetivo. As chances sub.ietiva
omo uma probabilidade de atingit· suas metas em termos siguais e, como ensina Platão . . . pm·a de-siguais, iguais
definição privada da sua situaç.fo demw do gtupo. desiguais.
rém , do ponto de vista do indivíduo objetivamente quali• Entretanto, vale ,, pena lutar pelo ideal da igua.ldade
cha11ce 17 subjetiva só e,iste em determinadas condições: tunidades, no sentido objetivo. Não se deve interpretá-l
divíduo tem de estar consciente da existência de tal clumce: como se o efeito de sua realização fosse prover " um
hance tem de estar a seu alcance, compatível com se~ partida igual para todos'' , J\ maior parte dos autores
de relevâncias privado,. e ten1 de amoldar-se à sua situacão de.sse problema referiu-se a diversos fatores que imposs
mc definida por ele; 3) as tipificações objetivamente d~fi- pomo de partida igual: entre eles, as d iferenças de r
e expectativas de papéis têm de ser, se niio congruentes, · pressão do meio ambiente material (como habitação, higi
pelo menos, consistentes com a autolipificação do indi- condicões econômicas (como o fato de que apenas pouco
noutras palavras, ele tem de estar convencido de que pode pode1Í1 dedicar energias à educação até à idade madur
er às exigências de sua posição; 4) o papel para o qual o rem compelidos logo a competir po, um emprego, ou a
o está habilitado tem de ser compatível com todos os dade de a=so às informações, particularmcn te às inf
papéis soci«is nos quais está envolvida tuna parte de sua financeiras). Deve-se, talvez, adicionar a essa lista a des
idade. no tempo de lazer . ..
Mas o ideal de ig1.ialdade de oportunidades pode
rmJ~ ;mmtcr c~sc tcrrno têcnic:o cunhà<lO por .Max \Vcber apesar ·outra coisa, embora uma coisa muito mais modesta. Dev
e cr~~ducores. ingleses - Weber, The Tht!OTY o/ Social and Eco.•iomi;; gurar ao .indivíduo envolvido com vários grupos atra~és
fion, trad. ingl. <le Tak ott Parsons e 1v1. He.nderson (Nova York:
Univ.er~ity Prcss, l947) - o te.rem dsdo. por motivos por d es humanos o direrro de buscar a felicidade. . . e com iss
s (p. 100, nota 21) corno '"probabilidade" e~ às vezes, "possibili· . termos de sua própria deJiniçíío - o máximo de auto-
que sua situação na re.alidade social permitir.
CillNCIA SOCIAL FAZ SENTIDO

1. Todo cientista herdou de seus ancestrais, com


GO: CIÊNCIA SOCIAL FAZ SENTIDO toque de proposições aprovadas, limites históricos para
da sua ciênciá.
2. O postulado de adequação requer q ue a co
típica seja compatível com a totalidade tanto de nossa
ria quanto de nossa experiência científica .. ..
O cientista social, portanto, pode continuar seu ttab
total segurança. Seus métodos esclurecidos, regidos pelos
dos mencionados, lhe dão a confiança de que ele nunca
der o contato com o mundo da vida diária. E, na me
que usa com sucesso métodos que foram aprovados e
Onde pode o cicotista encontrar garantia de que está são, ele está bem certo cm ir adiante sem se preocupar
ndo um sistema real unificado? Onde estão os instru-
blemas metodológicos . A metodologia não é uma prece
entíficos para desempenhar essa difícil tarefa? A res- t\1tora do cientista. E sempre aluna, ·e. não ,há, em nenhu
ue, em cada ramo das Ci~ncias Sociais que tenha che- cienúfico, grande mestre. que não pudesse ensinar aos m
estágio de desenvolvimento teórico, existe uma hipótese
gistas como proceder. Mas o professor realmente bom
tal que tanto define os campos de pesquisa como dá e tem o que aprender de seus alunos. Arnold Schonberg
regulador para a construção do sistema de tipos ideais. composiLor, começa o prefácio de seu li vro magistral
mia clássica, por exemplo, essa hipótese fundamental é teoria da harmonia com a frase: "E-ste livro aprendi
io da utilidade e, na Economia moderna, o princípio alunos." No papel de me.todologista, o cientista tem
Esse postulado quer dizer: "construa seus tipos ideais perguntas inteligentes sobre a técnica de seu professor. E
odos os atores tivessem orientado seu _plano de vida e, perguntas :rjudarem outros a repensar o que realmente
todas as suas atividades ern relação ao fim principal talvez, a superar certas dificuldades intrínsecas, ocultas
uir o máximo de utilidade possível com o mínimo de do edifício científico, onde os cientistas nunma põem o
atividade humana que é orientada desse modo (e so-
e tipo de atividade humana) é o assunto da sua ciência." a metodologia desempenhou sua tarefa.
por trás de todas essas afirmações, levanta-se uma ques-
perturbadora. Se o mundo social como objeto de nossa
científica não é mais do que uma construção típica, por
incomodaTIDos com esse jogo intelectual? Nossa ativi-
tífica, e especialmente a que trata do mundo social,
desempenhada dentro de uma certa relação meios-fim
precisamente, para adquirir conhecimento para dominar
o mundo real, não o criado graças ao cientista. Que-
cobrir o que acontece no mundo real e não nas fanta-
ns poucos excêntricos sofisticados.
em alguns argumentos para aquietar tal interlocutor.
tudo, a consLrução do mundo cientifico não é um ato
do cientista, que ele pode desempenhar a seu bel-prazer:

o seguinte ikm da Bibliografia: t94S, 148-49.


CLOSS,\RIO

Atenciio. A atc.nç"íio aLiva é o ecstado de " alerta lotai" e agudeza d


dío Do "oltar.-sc conscicntc:ucntc para um obje10~ fato, etc., co
éom mais o\ltras t':ons!deraç(!e:;, imtt,X,:ipaçúes, etc... .cfe sui.lS car~ct
usos. Um alo de atenção i um "ato livre': do voltar-se par.a, vo
o de Termos Selecionados sck.tivamcmc. Óu prc:~tar atenção a. alcrtmlamenle, c-ertú:,; trà.Ç-O
elc.J de um. dmlo amhieote rc-al num o:u;mento específico.

Atitude. U1na postura ou rosição gera[ tomada com rcJ~ç-âo a es


acnplas de vida e interesse, juclusive um "estilo" particuhr de p
exemplo: a alitude do sen:so comnm: u atitude denLtfica.

.4 titude natural. A postura m<:nti!l qoe nmu pe~~sl)à toma no tida1· e


e de rotina com seus afazeres. diârioSc; e a base de sua interpr
tnundo dn. vida como um 10dtl e cm si.:us vádos :;1:spccto.s. O roun.
os de. Schuf:I. ·~sl.ã~ cheios ·à e lermos alheios ti Fcoomcnologia Ç o mundo Ja atitude n r;t h,iral. Nclc. as coisas são tidas como pre
1n depois redefinidos poi· fonornenoJogistas. Para ajuU..ir o leitor
rlz.ado com cs.sa terminologia. tais termos foram 2qui reunidos Cogitaçé.o. O termo é ,1sado (:m scntid.-.1 amplú, incluindo voliçõ
s. mento:; e emoçõts, bem Cún'lt) penso.memo racional.

Cofocaçiia en!r'3 parimlcstJs. tlm mecanismo da pcsq\1isfl fonom.cno


cia'éticc, O principal nível do. pesquis.n fenomenológica. Serve consiste num c-5forço dclibt rsdo p;m1 <.a)lc~a, <le lado Lo1.fos os ju
omoJógioos sobre n " 11atureza" e o. "essênckr·· de coisas. eventos.
ccc-i: os lra.;o.-; e t:.}lfàctcrfatica~ "csscnch1is·• dos objetos concrcws medo, s "r:.:.,Udmfc" d~-<.:Ois.!s ~ eventos não é oegall.a, mas ''colo
ÇÜO. Os lraços eidélicos dos objetos de pet1so.rnt nlo consistem tm parênteses". Através desse procedjmento. os procc5csos mcutais de
gerais conStituidos p'clos processos cognitivos. tn1nsformam-sc no vbj:.:to h~sico o~ Fenomenofo3i>1.

undo. Diz-se dç toda -ação humana que tifeta os objclos, pessoas Cõmpreen:-·ão - Vflr:.:,.,lien. Compt eende.r, em ,setul, sisnifica com
do ··mundo exterior". do arnbienle <le uma pi::~wu. o signfficado de a-lgum~ coisa. O q1.1e é coruprccodido é signif
como1·ccns~o é u base de todn imcrsubicrivid~dc intcn-ifr,•iJ. A
esca la de captação, aLravés de coiniç!<.1 <n1 de manipulação, U<la~ umas com as outras. c:.om suci.:❖w ~omenle na inedidn em
-ss(Ja t.:Om re1.!'!<;Í:ÍO no sc\l Hmbicntc. Os objetos, ele., em :jCU procamc.nte ~ompr~·cnck:rn os mofr.,os, intenç.ôes. et~., utnas d.'!.s 01
mbiental estão a ·~cu alcar:cc real ou u seu alcwu:e potencial ou me.nos na 1nedidn en:1 que isso é rck:v~-mtc para os se.us- prop
u estiveram u. !>OU ~lcancc real e estão agora a secr alcmu:e quc-s-t?.o. A compr.ecnsí'io é "ú forma de experiência do conheci
: finalmente, podem esr.ar situados mJm "mundo além de seu senso comum <los negócios· ht1111:ano.s" (Schutz). A compreensão s
contrO.lê. é rcsultndo da intcrprotu~llo ::ubj~liva de um sociêloe:v <ló!. fenô
condu(a hunrnna que ele otllda. Cc,mo t:-tl, perteJlce ao rdno ob
método S<.lciol6gfoo e dis tt:ori" interpre-(ativa.
A interpretação espo11Wm!à dH pcrc:.:pçáo sensorial em termos
cia:;. p~s:;~das e .conhecimento antcl'iorme1He at.lqoiri<lo do objeto
Conl:i!c.:imemo. Para uma pcs.-soa m1. vid:1 coti<li1mú, o conheciment
efa ~char q\1ç. sc-j11 o c1:j.O. fü:l-itncialme!H-!.. diz rcsoe!lo -aos assunto
e, freqiienl-emente_. consiste cm r-l!c;.:itaii: p;lrfl to<los os tipos de c
A c:aptaç-i o mental não só de percepções <.:Om(I de Jcmbrnnças mividad-e. O conhccimen(n <lo ;;emo c.omum ab!'angc d-.-.sdc um
<la flint:1sia. mcnto próxiro(l -'lô do ·exp~rto até à vaz,.tt.:zH extremõl. O que tim
sabe-, in to!n, é o seu estuque de canltec-imcmo. Como u1n todo, ess
o. Uma exper:Wi:icia rc~-tl que remete a outra e.,;:periência que é incocreme, lncomfa1e-nle e só parcialmente claro. Serve aos seu
atrJ:vés da percepção. Por exemplo, ~o p,::rccber um objeto, sitos adequ;)<lúmente- na raccU<la em qúe suas rec.-eil.as. produzem
ntc adicion~mos à im$gcm mental que fazemos. dele o.sp~tüs sufi.sfatórios na aç..io e ,.;i;:us- p:-incípjos. explicações sat!sfotôrkis. A
rio, o conl1ecimet1lo fHosófico e dentffico 4it rve apenas a inlere
âo ao alc~mce- tJe no:;!)a percepção, tais como a cor e a (orma lcctuais e c-stá stijcito {! .:.:Or.Lrofe, princípios d.e. coerêocia e consistê
e de tníij.
GLOSSÁRIO GLOSSÁR IO

ô. O termç se rcfetc b có1.1.sfituiçáo de obj~tos de pensamento Expedência predicativa. A experiência indireta de objetos.
e indica os processos de esclar-ecimeoto de significado, estubelêci- n astia-se em julgamt:ntos interpretativos, que utilizam o estoque
contexto de sigoiíicado e mobilização <le conbecflnento prévio eimentCI já ex.falente de umu pe~sc-a, e consiste em atribuir cert
o com objetos c:;pecilicos · cht vid:i. consciente e m e.u rso. 1! um ríi:;ticas (predicados) .1 objetos, etc.. que é-$tão fora do reino d
u:mulutlvo através do qual os resultai.J,.1s cognitivos de cxp::riê.n- me.n to pessoal da p~soa.
das do ···1nesmo objeto.., são dep-ositados ("i;~.d i-a:neli~<h>s") oa
Expe:riêm:fr: pié-predic;:ativG', A experiência direta de objetos, pe
o. A "e.:,.periência da dú,;ida, do queslio1Hl.ith?nto, chi e.'\oolha e. Estabelece. o conhecimenh) p rb-pre.d1cativo ou dire.(o do.s objeto
" (Sch\lt:>:). A <lcHbcrnçâo pode levar à cvnstituiçfio e revisáo etc.
de pens.:unerilo Q ü ·ll úe;;i$(íes nurnu linha de ação cspcdficu.
Horizome. Um fenômenq carm:terislico de todas (I.S expcncnciss
situação de •d úvida :;urge q\1ando uma pessoa não podo m:;is csíoríos cognitivo::. Cada .i.percepç:io, kmbrançH, probte,na, etc
situação como rue.~supost_ ;J porque u1guns de scvs elementos, se. centro ou "núcleo", o q;uul é cercado por uma "oda'·' de impressõ
tle~.úfolm â sua explic-~çüo em termos d o seu i.:oohecimento à mcmória•s, considct.1ções. expectacivas, etc., que se rcl:~c\omu:n com
vida pode lcya1·. à resignação. à pesquisa, a uma redefiniç.ão da emboto 1'1-ão se.jmn, no momento. centrais. Junlos, o cer\l,o e a o
m ~ -\ 1m mw~ phmcj~mcoto da ação. o horizonte de uma determinada fase da ·cofüciência mental. A
~'orlé" podem iier estrutura<la.:; {~or exemplo, como áreas <:en
.::arat..:-terfsti1:as _''e:j,.'\Cncia.11,;'' ou gerais <le q_delquer obje.10 petcep- da frc.nk e áreas do tl.lndo) e as..~im fo rmar djvcrs.os horizonte
contraste com seus lra;os empíricos variú.,,eis. E.ido.°) perLence .h do me.smo núcleo· de e.xp! riência cõuscicme.
signifi.cados. na qual se com tiruem os objetes de percepção e de
ldeai faaçtw. Um princípio gi.:.rtil com ba.'\e em muirns experiência
que ~xpre.ssá ..:onfi~nçã ern expe.ctntivas refet·entcs a experiênc
s•.ispensâo da crença !l~s caractensttc..1s om.ológic.as dos objeto.;, Por exemplo; cem a idcaliz:aç.ão do "posso fa7.er isso de novo"
vivendados . .Cada rdno b~isico da experiêncil) huma11~ (vida a convkç.ío da ~i:gunm(i" e est.:1bilitfo<le bú..,;icas <lú mundo da
ciência. etc.) t!:_rn :;eu epocfté particuku-. diana.

dad«. O mo.do blsic:o da experiência imediata. essencialmente Jm.ediGtidade. A c-Hraderí~fa::a íundamenlàl de toe.Ia experienc
ifica estar imcrto na c:?:p.cdêncfa cm curso e exclui autocons- vivenc.i:::i.r. A imedintiâade C espacial e temporal; aqui e agora.

ln!enciona!idade. A c,aract,;-t.íl<tit::-: b»si.ca da coasciêncfa : é se


ifivo. O estilo qu,e governíl a condUl~ e a experiênci~ demro de ciênda de ~1Jgmn:-: s.:úii;a; f dirigiáa para a.lguma cois<>; o:, por
os reinos da experiência. tais como a vid:'I eotidian(I , a POt:si;~, "determinada pt,:lo obje.to intencional do qual é Ufi10 cons.:iêm:i;J
Envolve diíeren_tes g,rous de "úlerta" e <lesotenção, conce,)t;ação O <>bjt.'iO inter.donc.!. então, é o ohjc.to intcnciooado e signif
o. exame crítico e aecjraçílo cega. etc.. e influencia a percepção indivíduo e isolado, por ele, atr.~v~s. da atenç:ão de apcrcepç~o e
de si própria e dos ovtros, e hunbém ~1 suH <:xperiêr.cià do tempú. cognitiva. Um ai() fo!eudo,:a! é. qu;;lqucr ato no, e "trnvés do
pessoa vivenda l!m objc{o. scj;i de Hsi-.=t, (m ideal. Através def
Aquilo qtrc, à luz das c::.pcrii ncias acumuladas e do conheci• cormitut-se cognitivamente.
urn;J p~:1::;ou, ~urge como inquest.ionaveí;ne.nte verdadeiro.
f,iiere:mt. O Í <.."CC.l de- mOLivação específico que determino, num
a, O ponto de partida básico de todas as con~idcr.açõc13 fenome- e.specffica: a defioiçüo da sit1.1açtfo de urrai pessoa e seu objeli.vo
?>,5i!ncictlmenüt real ou: imediatamente vivida: isw
fl experi,:&ncüi ~ ou outra linha de conclut~ ..;m particular. O inle~s,;c çoncrelo
ntc de cxpcri.énêir.i subjeti,·n, que flui esponrnncamcntc. na q1.rnl .b ch ;;mml() i11i1Sres.se f; mão.
o vive e que. cotno uma corrente de consciência. carr1.:ga ·c(mi1igo
m§neos, traço!: tle mem(irla, etc., reltJfrvos a outr.:tS expcri>i:ncb:::;
A experiência ~e torna e.'<periénc~1 si;bjetivam~m~ ::,ip,mficativo Imctsu.bje!iviáad<!. Uma C,'.;!tcgorfa q\1c, cm geral, s~ refere (cs
Lravés de um ~to de reflexão. através do q\H;1l 1.1ms expetiên.cfa em termos cognitivos) ao qnc é- cvrnum a vários indivíthH,s. NI¼
:n.tc real é. eni retrospectiva, cons.cieatemente apreendida e cogni• 1.im.? pessoa túma ,t c,d:-.rêm:ia de. outras como prcs.suposta. Ela
constilultlá. Nu C\ll'SO de- sua vid:i:, um:~ pei:..o;o~ compila \int age rlà hipótese de que esses O\ltros. .são b..1sic.arocnt-c pessoas
experiência, que a habilila a definir as siluaçõcs nas quais se própria, jmbu{das de. consciêjlcia e vont~de. desej.Js e cmo;;õe-s.
a guiar sua conduta nelas. das experiências 110 <le.cort : l' da. vida de uro:-;, pessoa cc{1firm
GLOSSÁRIO GLOSSÁIUO

de que•, çm prioctp10, e- cm cir,;unstlincias ('normais"'., pe5soas Obie1i1.1iclade. A postura tno!nt~l do obsen•adot· desintcrcs.sado. iln
umas com as outras, pelo n.l cuos JHl medida em aue são capazes o ponto de J.•isfa objetivo ~ o ponto de vista do observador não-
as com ~s outrus coµi s1.1ccsso, u-compreendcnr•; um~s às outras.
m:-fog.isttts colot.arom o prt>bfrmra da intcrs!lbjetividade. Em cc!'mos Obictos ins!iru1dos. ·os objetos. no ~Jmbi<:r,te <le uma pes~oa aos
a. fenomenotoAi'ila, esse prohlém!'l pode ser :;.,ibdlvhiido cm du.as .:it,;bui um significado lnt.!ncional específico.
) como se constilui em minha mi;ntc •·o úuf.ro eu" como um
m esmas c.iO.rt:icteristicss (c(détk:as) bási,::.~ do meu cu?: 2) com o
l expeff~ocia üe um inten;:iimbio com outro co. cu como se Orfrmtr.ção para o F:-ifr~., l\ indin~tÇão cm relação '1 01.nros com q
e,.xpcri.ê-ncia de minha •··oompre.ensão'' do outro e da "comprecn.. lemos Cúnbcto direto· ,e ck -cuja .exiíitência só temos vag!!::; noyõ
e mim'! Ptlr exemplo. confiar uma Ci!rta ao correio na expectativa de que
(cor-letrvs, çomo tipo geral) vai se cncan·cgar de que ela chegu
destino,.
- p-o litéticu - stmétfco. !\·lodos de ~pétçcpção. compreensão,
etc. Qualquer ohje-tú de e:<pcdência pode ser viíil<.> " de um~1 vez''
cmmmle. JSso pode ocorrer mcsmv qL1c o objeto em si :::6· possa Oriet:Utçúo para o T;:. A oriemação em re-lação a outra pessoa, c
{;ú!i ff:iicam<mtc, j,;tv é. numa seq üé:i·ci}; <.k etapas que sucedem s-c est2, em contúl0 J iri:w, isto é, "focc a fa~e", ..,:. ~ quem se conc
J no tempo. como a p rescnt(lçffo de 11ma idfi,a nu fehi de umu um!l pe~soa cspcdfica.
:-e dt:sdobra. A ação comunic-;)tiva de qticm fala, de sua part~,
n atn poliféth:u. As affrmações íiucessiv::is <lc sua fala tornani.se Par. Um tr.wo fo11damcn1al da apre.semaç?io. Ocorre sc.tnprc que, e
orque seus elementos politéticos são reunidos e , íin;-Jmcntc, da necessidade de eo:Snis-Ro, apresentamos, junto com ,,m
fonôn1c
a unid~dc complexa. Em rêtrospcct!Va, a unidade sintética de bido, C•:-!n1ctcrfsticas que não aparecem de modo perceptivo. ma
ofitél.ico:-- pode t ouvergir para umR id<füt única e se tramfo rnt.:!r C}uais não somos capazes de pc11sar o objeto pér~bid\>. Pot
monoté!ico. J.'t'T.::tbemo:; direlàrnen(e o corpo QL!O:: se nH)Vimeow de oulra
n~cessariam€nte o oompal'mnos com a nossa noç~o geral de: um
tcrmtl .se refer-e U e.xpédfroci:l subjetivo e à t::0mprcensijo, .E,
m rnundú de .~Jguém ou . mais l?•·et:ü•amcntc. do indiv(dltO que
ncrccamcnte. e, :;.egu11do, o mundo <le umH csforn de expcri-incin
( Plano de vida.. O ·"shtcma 51,1prcmo" ~e objerivos. e linhas de a
du vidu ele um individuo, como um todo. em comraste a planos e
o"S:- éspc:c;íika. No s,eiuido dirctameme subjeLivo, um m\m.d o é- para períodos linú t~tdos. T11l phmo não tem de s..:r deliberado;
de uma esfora cspecffic.o .<le cxp<.,-rlência. confo rme vista e irnpvsto; e po<le mu<lilr 110 decorrer da vida da pessoa.
da µoi- um lnd!Yíduo espc-cífko, oum momen(o determinado e
fin.ci:ls. e-specífíe.1s. Qualquer individuo pode viver ~11ces~h::i, Pro!ensf;o - rer<m!:ão. Prot~:n.o:,tu.., di:~!gna oma cxperiê11cia que
u ocasion.?!menle n\im neímero 'iH<le1tn:ni.nado de mundos: o qllc ~1.1cedu imcdi8t~mente ;.p6s a expcri:::ncia presente. l<att!nç,ia
i,.h!, o n:nmdo <lo brinquedo e da fantasia. o 1'nundQ dos ~onhos. à lembrtknça <le. uroa experi~ncia que ac.abou ele passar.
aç..1o do tennv mundo a tod.:tíi es..'\as múJdpfas. esfer~.s de ê-Xpt:•
stificada subjeth•omentc pdo foto de qu~, pern o indivíduo que Redüçõo fcmumenulózica. O pr:)cedimento hásico do método fen
esfera na qual de -se encon1r~ no momento ~, de futo, o mlindo gic•o. Atrov~s du "cofoi.:<.1çilo entre parêmes.cs", Lo<lcs os julg(lmcn
etiniroente, para o sodólogo fenomt:noloe;ista. c..1da t:sfe ra é li m:turcza cmtulcígi.:2 dos objcws. C\'entv~,. ;.:te.. perce.bi<lús e d
em apena~ rele.\'ânci~ relativa. PorH1.nto~ eló p 1:t:f:.:rc chamá-las s.ua <õuaUdade de únicos, aquilo que é dado na e."pi.:riênci-a co
is.s- finitos do s:ignifit.:i!do".
redu7.ido s seus "cfomenLO:i e.sscnci~i:f'.
l'ida; uunhém Mundo da vida cotidiatza. A esfera totru d~~ Relcc:iommu.mto do Nós. O relacion:.uncnto qi.1e surge quand,, eh.:;~
de um indiv(düo, H qu:d é dcihnirnda pelos objetos, pt:s.soas e Hdando uma com a outra mmw, .si~irnsí.ío "fu-:.:e a face". considera
ontr~Jdos m: bus.ca dos objt:tivos pragmá!icos do vi-.·er. É. un-1 à (1utrn, reciprocamcmc. numt1 úrient;:,;.i'io para o T u. J:. cons1.11
m que a pessoa cst.1 ''totalmente »Jcrt~" e Q\tC se aílm1a como pcriodo de participação de cad'1 uma nl! vitfa d~ ot1tra, nâú impo
realidade" <.fo. \'ida clcla. · curto. Não pressupõe nciLlium i:n'lofvimemo e.moci<mal.

rir,r. A csfern cfo~ objetos. pessoas e e\-1entús apercebi.dos, aos Relevâ11cia. A impcrlfrncin ~tdbuícfa por tltu indivíduo a aspecto
víduo que. Yivcncia atr'ihui " cxisrtncia real". íora de sua própri::l nados; e.te.~ de ~ituaçõcs csp1..x:ffic.;ú~ e de suas afü•idade.s e plaoos. D
com ()i:. diversos inten:sses e envclvimcmo.s de uma pessoa. exist
.w~. O noema é o obje-to inl~ndonal. a coisa apercebida e vivcn- ela, vário.s domínfos de rele1,·Br.cia. )!!;-H-0S, formam o s1:-i. sist1.•ma
e é o proces~o de vivencfor. vâncias; cem suas próprias. priol'!dades e preferências. nem s.e mp
mentc dh tint.1s. e nem sempre cstRv<.:is r,-o r períodos mais fongl)s.
GLOSSÁRIO

os, esse sistema tem =o,w.'i espe.cífic.as de relevâncins, relevância


relevância menor e inc.:lev~nciu relntiva. Na medida em que
cias surgcu1 dos i:róprios interesses e moth'açóCS de t1m}1 pessoa,
as. Se s~fo forçadas ou r,or condições <la situa,;ão ou por impo· Bibliografia dos
l. .são i mpostas. Assim, os si~·temas de. refo11éi.11das. sociais sâo
Retevâncias cOm1Jm; ocorrem no envolvimento dh·cto d:,s pe~s.oas Escritos de Alfred Schutz
o Nós).

úo. O processo pelo qu.11 ckrncntvs de conhecime;Ho, si.:.as in tcr-


e implicaçõc.s s!f(1 intes rados às camadas de conhecimento anti>
:1dquiri<lo. Os itens sedimentados se fundem à lipifica~es exis-
, ou fortnam o núcleo de outras t1ovas. Dos dois modos, efos se
osses habit.u.ais" <la pessoa. As ,..a1ivldadcs do vivc.iciar" da cons-
maru'! siio, então. o c;tcqi.u:: de oonhe.::imenlO tle uma ~SSOl!,
por meio de scJimcnt,:,;ç.i:ío. 1. L i vros
19 32 Der Sint;i wfte Aufbau d<!r soziafou Wel!. VleniJ: S1iringt
. O signlfic,:,.do ire uma experiê.ncia é estabelecido. cm rctrospec. cd .. inalterada, Viena: Springer, 1960.
és du interpretaçâo. Significado sub;etivo é uquele si~nil'!cado que J96i The Phcnomc110/ogy o/ rhc Social \'lorld. Tradução
a tiLd but às suas prôpri~s exp,eriênciús e ações. Significado obje• C t orgc ·w aJsh e Frcdcrick Lcb.ocrt. Evaoston., Illino
ignificado imputado }J -:omluta de outra P.tsSOa por um obsêr•
~1 c(mduu:t 111.!mana. surge num contexto de :$izniji<:culo S11bjcti110.
wcifcrn UnivêrS~ty Prt-ss, 1967.
erprelação si,_enific~tiv(I d~~ conduta humana consiste em relacion.:1r 1970 R~fi'cctio.'ts on tfte 1-'roblem o/ Relc1Nmcc. Organlz.ado,
os c:,-pécffiças a 0L!tras es:perii:ncias, à luz dns modvaçõcs e inte~ com uma httI't,duç.tlO por Richard r,.,r. Zahncr. Nc
questão de mna pessoa. Em conrrastc, a intcrpt:'-::h1c;ífo cia. con- Ccnn.: )'ale University Press, 1970.
!trn pcsso:; consjstc cm n:.Jscivnar u cond1..H.:i ohs-ervada (;Om um CP I Cuilecled Pupers I: The Probiem of Soda/ /lca/ity. Or
e signif icado o{>jcli:i-•o~ que cunsisle, por sua vez. em conccpçõei; com 1.1111<! Jnt.r<i<luS'.iiô por Múurice Natansc-n. Cotn u
c.i da~. p.cncrnlizadas e tipificadas. d:.: H. L. von íkeda. Haia: l~ijhofí~ 1962.
de. No sentido ime.tiial.(), o t~-nuo ~e rcfore e~clu:;;ii,:;tn•c-nte. a
CP II Colfocted Pape;s Jl: Studh.•s in Social Thl!Ot)'. O rganiza
s, c.:ogit~çõ;:s, motivos., ele.. de um in.di~•fduo concreto. Em lermos L!tnil iiHrc-dução por Arvid Brodersen. Hafa: Nijho
si{!Jl ijicado subjetivo in.ctcntc. ~ conduta ê sempre o s ignificado CP li t Co!l.!ct~f Paper s 11! : Studies l n P/Jenomcmoiozic:<Jl Philosop
:;0:-1 q ue age a tribui à sua própria cúnduta: c,onsi~te i::m seus nizado por Use Schucz. Com mna Intrl)duçifo por
to é, suas raWct- p,ua agfr e seus-objetivos, seus. pfonos hn~dia.los w itsch. f-Jaill: Nijhofr~ 1966.
-prazo~ sua <le.fiui(iilO eh.! siluúção e de o utrns p ~soas.~ ~ua c(m•
seu próprio pa~el na si!L!aç.ão dada; ele. Deve-se distinguir sub- II. Artigos e Ensr.ios
gcm1ina do ponto de vista subjetii:b cios observadores socioló•
quem os significados subjetivos são fa tores foodu met1L'!is de 1940a ".Phcnomcaolcp.y m,d the Sociâ1 Sc.iences". ~ l Ma.rvin f ur
rdacionamemos de interação cm c~tmlo. Ao füfar <:om eles. Ph ifosophk a! Ess<1)1S iu Mcmory o/ Ednmud N us
ros de rcfc.rência cspecffk v~. isto é, conjuntos de conceitos obje- hridie, ) 1m;:;.: Harvard Universily Press, 1'}40; (64
se reforem à subjcti.vidode da con.dma humana. Em termos de !18-39.
a, esse~ cor.c.eiLo~ em uada dife rem daqudcS, do --ponttl de vista i940b "E<litor's Pn.~facc " to "Edmund Hus:.:.e·r l: Notizt~n zu r R
dife renço eslá J!O objeto e no procedimento pelo qual ~• infor~ rutfon'' . Philosophy and Prcmomeno!ogjcal fü:seard;$ 1
olôgica ê o~tid:t. A única font,: direta de inform.içéo subjeti-Ya r 2 1-23.
? indivíduo ohsetvado. A aplicaçâo de um q uad ro de refe!'.:'nch~ 1941 '•"\Villiam James' Concept of ti-u: Strcam of Thou!?h( Ph -
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Ponty (-org.), Lcs philosophcs' célêbr<~s. Pt1rh•: b.Jcien 1'-faze11cd~ tradução in,gfo:rn cst{i cm prepero. --~

Z-,
e,. '
1956; 330.35.
•tüt\\01.S 10(/,4/f-;.~
{/<..,<;S r,,,
,~
' .
( cominuaçtio da 1:' aba)

desen volveu uma "sociologia fil


mo uma área dentro de um sist
gico mais amplo, como o fizers:m
SCHELER antes dele. Pelo coll
cendeu essas tenta tivas e dispô
um sistema completo e auto-s
pensamento e prática sociológico
tema que se apresenta nesta
sua obra.

A seleção é efetuada por HELM


NER, professor de Sociologia no
lege e no William Smith Co
Departamento de Pós-Graduaçã
School for Social Research. Numa
descreve e justifica a estrutttra g
tânea, procede a um exame das
menológicas e sociológicas do pe
SC!I U'l'Z, assim como dos princip
por este formulados e, com a a
glossário, fornece explicações
menos conhecidos que n.ão tenha
nidos no próprio texto.

Fenomenologia e Relaç,ies Sociai


de. sumo interesse para quantos
antropólogos sociais, filósofos, s
c.m analisar os meios pelos quais
se orienta c.m situações vitais -
seu acervo de experiência e seu
conhecimentos.
ço
EMP RESA
Rua e

ZAHAR EDI T OR
a cultura a ser11iço do progre
RIO DE f ANEIRC

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