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Musicologia no Brasil, Hoje *

Rafael José de Menezes Bastos

O term o M usicologia é aq u i em pregado tem ex istência tam bém a M usicologia. E sta,


de m an e ira su fic ie n tem en te a m p la d e m o ­ co m o sa b e r u n ific ad o , só p o d e rá e x istir na
do a a b a rc a r u m a v a sta gam a de estu d o s m ed id a do c u m p rim en to d a p ro fecia de
sobre a m úsica. Isto d e n tro de u m a p e rsp ec ­ um a u n ific a d a C iência do H om em . Penso,
tiva acadêm ico-científica q u e v ai d a M usi­ p o rta n to , a M usicologia com o M usicologias
cologia H istó rica à E tnom usicologia e à e isto n ã o so m en te — é claro! — n o que
Sociologia da M úsica, p a ssa n d o pelo F ol­ re sp eita ao B rasil. S egundo im agino, o lo -
clore M usical, p ela H istó ria d a M úsica, gia aí se e v id e n cia rá a p a rtir do esp an to
pela E stética M usical e p o r o u tro s sub- e do e stran h a m e n to q u e o b jeto e sujeito
cam p o s m usicológicos d a s C iências H u m a ­ m usicológicos se causem m u tu a m en te. Fora
n a s e S ociais. F o ra de m in h a p re o cu p ação d este e n q u a d ra m e n to , n ã o h á M usicologia,
neste tra b a lh o — q u e d e fo rm a algum a é m esm o, a té, q u e se tra te d e fo n te s p rim á ­
biblio g ráfico — , fica a p en a s aq u ela p ro d u ­ rias, isto a p e sa r d o q u e disse o sábio fran ­
ção m usicográfica q u e, p o r dem ais im ersa cês Jacques C h a ille y .1
no seu p ró p rio tem a — a m úsica — , não E n te n d e r as M usicologias d esta m an eira
constitui, p ro p ria m e n te , in q u iriç ão m usico- significa q u e re r com preendê-las e n q u an to
lógica. A este re sp eito , lem bra-m e, esp ecial­ p a rticu la res m om entos dos diversos objetos
m ente, a C rô n ica e a C rítica M usicais, de das C iências H u m a n a s e Sociais, cada um
im enso v a lo r, p o r o u tro lad o , e n q u a n to o b ­ deles c o n stru íd o d e m an e ira específica.
jetos, elas m esm as, d a M usicologia. O rig in alm en te, p o rta n to , não h á M usicolo­
Sabe-se m u ito bem d a g ran d e d ific u ld a ­ gia, m as, isto sim , H istó ria , Sociologia. A n­
d e q u e existe n o sen tid o d a d elim itação ri­ tropologia Sócio-C ultural, etc.
gorosa do q u e seja c o n h e c im e n to c ie n tífico N o B rasil, convivem trad içõ e s m usicais
p o r oposição a o u tro s tipos d e co n h ecim en ­ das m ais d iv ersas. D esde a q u elas das c er­
to. E sta d ific u ld ad e se to rn a e specialm ente ca de cento e c in q ü e n ta trib o s indígenas
aguda q u a n d o o c am p o a d isc rim in ar é o lo calizadas no P aís — e q u e constituem
m usicológico, co n g en itam en te disp erso no um v e rd ad e iro p la n e ta m u sical, ao nível
seio das H u m a n id a d es. D a m esm a form a do da Á frica N eg ra — a té a m úsica a rtís­
q u e n ã o ex iste a m úsica, e n q u a n to ob jeto tica de co n fo rm a çã o eu ro p éia-o cid en tal —
cien tífico e sp o n tan e am e n te e la b o rad o , não m edida d e nossa alie n aç ão com relação ao

* C om unicação ao “ C olloque su r l ’in flu e n c e d e la M é d ite rran é e d a n s la M usiq u e P o p u ­


laire et S avante du B ré sil”, do “ Festival B résilien” . N ice, de 18 a 23 d e ju lh o d e 1984.

66 BIB, R io d e Jan eiro , n . 30, p p . 66-74, 2.° sem estre de 1990


O este e u ro p eu . Islo tu d o p a ssa n d o pelas se se lim ita aos discursos m usicais, o faz,
m úsicas fo lclórica e p o p u la r u rb a n a . N ão no e n ta n to , d e m an e ira a re in te g ra r estas
c o n stitu irá exagero d ize r q u e a m úsica se m úsicas n u m c o n tin u u m , ín d ice c ru c ia l de
estabelece, ju n to com a lín g u a fa la d a, com o suas p ró p rias re le v ân c ias em term os sócio-
u m dos p rim o rd ia is d iscu rso s das diversas c u ltu rais. 3
so cied ad es existentes n o B rasil, e xpressão Q u a n to aos p io n eiro s d e p ro d u ç ã o tipo-
— a o m esm o tçm p o e, a p are n te m en te, de lo gicam ente m ais esp ecífica, não se po d e
fo rm a c o n tra d itó ria — ta n to d a u n id a d e e sq u e ce r os nom es de u m a H elza C am êu
q u a n to d a d iv ersid a d e n a cio n ais. Sem d ú ­ (m úsicas in d íg e n a s), um a O n e y d a A lv a ren ­
vida algum a, esta u n id a d e , n o seu lado ga (fo lcló rica), um A lm ira n te (p o p u lar) e
coercitivo, é d e sa b o r e u ro p e u , p o rtu g u ês um C u rt L ange (a rtís tic a ) .4
b asicam en te, m as tam b é m fran c ê s e italiano A p ro d u ç ã o m usicológica b ra sile ira m ais
e, m ais re ce n te m en te, a m e ric a n o .2 re ce n te tem o rie n ta ç ã o co m p le ta m e n te d i­
A p e sa r d e to d a esta riq u ez a, não existe fe re n te d a q u ela ra p id a m e n te acim a lev a n ­
ain d a u m a trad içã o m usicológica n o B ra­ tad a . S in to m ático disto é que seu locas
sil, a ca d em ica m e n te e stab elecid a. A s razões p re fe re n cial d e origem não m ais se rá o
p a ra esta situ aç ão são m u ita s e passam c onservatório ou a escola d e m ú sic a — es­
necessariam en te p ela p ró p ria n a tu re z a da tab e lec im e n to s via de reg ra isolados e am ­
u n iv ersid a d e b ra sile ira , p e rifé ric a e p ro ­ bíguos, em term os u n iv ersitá rio s, no Brasil,
fu n d a m e n te desen g ajad a do tra to d a re a ­ o u , m esm o, m useus e a rq u iv o s p a rticu la res
lidade n acio n al. P o r o u tro la d o , no e n ta n ­ e estatais, com o a té e n tã o era o caso ca­
to, n ã o se p o d e c o n tin u a r a d iz e r q u e, a racterístico . A p a rtir do início d a década
resp eito das m úsicas b ra sile ira s, p e rm a n e ­ d e 60, acontece, com a c riação d a U n iv er­
cem os em terra ignota. O s esforços dos p io ­ sid a d e de B rasília (U nB ), um a séria ten ­
neiros bem com o os recen tes desenvolvi­ tativ a d e en g ajam e n to d a u n iv ersid a d e b ra ­
m en to s dos estu d o s m usicológicos no País sileira. N o cam po m usicológico, tal fato
— nas m ais d iversas á reas acad êm icas — resu lto u n a criação d o p rim e iro curso de
n o s a u to riza m já a te r u m a visão ra zo a v el­ g rad u ação u n iv e rs itá ria e m M usicologia no
m en te c irc u n stan c iad a deste c ru cial tem a P aís, so b a direção do P rof. Régis D u p ra t,
brasileiro. isto no D e p a rta m e n to d e M úsica d a UnB.
E n tre os trab a lh o s d o s p io n eiro s, vale a E sta e x p eriên cia, su p e rad a , infelizm ente,
p e n a ressa lta r, com o c ara cte rística geral, a p elos aco n tecim en to s p o lítico-m ilitares de
se p a ra ç ão tipológica q u e os o rien tam . D es­ 1964, foi, no e n ta n to , defin itiv a. A p a rtir
ta m a n e ira , trad ic io n a lm e n te tem os n o B ra­ d a í, e ten d o com o m arco tem poral o fin al
sil b asicam en te q u a tro cam pos m usicoló­ dos anos 60 e, esp ecificam en te, a década
gicos, c o rre sp o n d e n tes aos tip o s linguágico- de 70, o q u e se viu foi à a b e rtu ra dos
m usicais “ p rim itiv o ”, “f o lk ”, “p o p u la r” e d e p arta m e n to s u n iv e rsitá rio s de C iências
“ a rtís tic o ”. Q u a n to às m usicologias dos H u m a n as e Sociais — n ã o m ais, note-se, os
d o is p rim eiros tipos, é in te ressa n te n o ta r de m úsica — p a ra os estudos m usicoló­
suas ra íz es nos e stu d o s d e F olclore e, es­ gicos. Isto, so b re tu d o , e m nível de pós-gra-
pecificam ente, n a V erg leich en d e M u sik w i­ d u ação . P rojetos d e p e sq u isa em d ireç ão a
ssen sch a ft. P ra tic a m e n te n ã o h á E tnologia dissertações acad êm icas com eçam a a p a re ­
(E tnom usicologia) a q u i. Q u a n to aos estu­ c e r a q u i, com o b jeto n a m úsica. S egundo
d o s so b re os dois ú ltim o s tipos, note-se p enso, as áreas líd eres d este processo são
q u e sã o fu n d a m e n ta lm e n te estudos de H is­ a A n tropologia S ócio-C ultural, a Sociolo­
tó ria d a M úsica. D e um lad o , assim , o gia e a P o lítica e a H istó ria , sendo tam ­
“ p rim itiv o ” e o “fo lk ” , o B rasil coloni­ bém im p o rta n te s a T e o ria d a C om unicação
zado — F olclore. D e o u tro , “ p o p u la r” e e In fo rm aç ão , a E stética e a T eo ria L ite ­
“a rtís tic o ”, c o lo n iz ad o r — H istó rico . rá ria . Ao q u e p a rec e, este e ngajam ento
E n tre os p io n eiro s e com o, exatam en te, significou o reco n h ecim en to definitivo pelo
estab elecim en to u n iv ersitá rio brasileiro —
exceções à reg ra da se p a ra ç ão tipológica
em área s esp ecialm en te férteis — d a re le ­
d e q u e tra te i acim a, g o sta ria d e aqui c ita r
v ân cia do discu rso m usical p a ra o e n te n d i­
as o b ra s d e L uiz H e ito r C o rre a d e A ze­ m en to do Brasil.
ved o e de M ário de A n d ra d e. A n d ra d e A lém d esta c ara cte rística , diga-se assim ,
atra v essa as fro n te ira s das m úsicas b ra si­ in stitu c io n a l, dos m o d ern o s estudos m u si­
leiras, vendo-as an te s com o jan elas p riv i­ cológicos b ra sile iro s, v ale a p e n a tam bém
leg ia d as n o se n tid o d e su a re in v e n çã o poé- frisa r q u e a se p a ra ç ão e n tre as diversas
tico -literária do País. C o rre a d e A zevedo, m usicologias aí g e rad a s n ã o m ais se rá te­

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m ática, em term os de m úsicas “fo lk " , ‘'p r i­ está a in vestigação d e C arlos A lb e rto Fa­
m itiv a ”, e tc. A g o ra a separação se rá m uito rias G alv ão (d a U niversidade d a P a ra íb a ),
m ais teórico-m etodológica, com b ase na so b re a m úsica ru ra l n o rd e s tin a .7
original se p a ra ç ão e n tre as d iversas ciên­ O q u e p a rec e esp ecialm en te fe rtiliz a r
cias h u m a n a s e sociais, c ad a u m a delas esta área d e estudos m usicológicos é a n a ­
c o n stru in d o o o b jeto cie n tífico à su a m a ­ tu reza d a in q u iriç ão an tro p o ló g ica origi­
neira. nal, d e valo rização a o e x tre m o do m odelo
C om o re fe rê n c ia p a ra reflex ão , ra p id a ­ nativo. T al p ersp ectiv a tem se ev id en ciad o
m en te a n alisare i ag o ra algo d a p ro d u ç ão c o n cre ta m en te pela p esq u isa rig o ro sa, pelo
m usicológica dos cinco seguintes cam pos: o b se rv ad o r, d e com o as sociedades obje­
A n tropologia Sócio-C ultural, Sociologia e tos de abordagem c onceituam o dom ínio
Política, H istó ria , C om unicações e T eo ria m usical.
L iterária. N o cam po da Sociologia e d a Política,
S eg u ram en te, u m dos cam p o s m ais fér­ o e stu d o d a m úsica das p o p u laç õ es m argi­
teis d a A n tro p o lo g ia S ócio-C ultural no B ra­ nalizadas — so b re tu d o as “s u b u rb a n a s ” —
sil é o c o n stitu íd o pelos estu d o s de c ontato tem c o n stitu íd o tem á tica d e ex trem a im ­
e n tre ín d io s e b ran co s. O rig in alm en te sob p o rtân c ia . N e sta m o ld u ra , in sc rev e se a
in sp iraç ão c u ltu ra lista — atrav és, p o r investigação de W a ld e n ir C aldas (da U ni­
exem plo, d a o b ra d e um E d u ard o G alvão v ersid ad e de São P a u lo ), so b re as ch am a­
— estes estu d o s sofreram , a p a rtir dos das m úsicas se rtan e ja e c a ip ira . A s p ro ­
anos 60, u m fo rte re d ire cio n a m e n to so­ blem áticas d a d om inação e su b o rd in a çã o e
ciológico com as co n trib u içõ e s d e D arcy sujeição, b em c o m o d a alien ação são aqui
R ibeiro e R o b e rto C ardoso de O liv eira. A cruciais. N ote-se q u e o e n fo q u e dos textos
tem á tica p rim o rd ia l a q u i é a teia d e re la ­ lingüísticos (“ le tra s ” ) das c an çõ es é ele­
ções índios e b ra n c o s no Brasil, lev an tad a m en to d e v a lo r estratégico p a ra estas pes­
com base n a investigação das suas concre­ quisas. s
tas relações sociais, p o lítica s e econôm i­ N o cam p o d a H istó ria, registre-se o tra ­
cas. 5 b a lh o do P ro f. R égis D u p ra t (da U niversi­
E sta m a triz teórica se m o stro u tão fé r­ d ad e do E stad o d e São P a u lo — U N E S P ).
til q u e foi cap a z d e p ro d u z ir estu d o s e in ic ialm en te so b re a m úsica eclesiástica cm
pesquisas com as m ais d ifere n te s tem á ti­ São P au lo . M ais re ce n te m en te, o P ro f. Du-
cas, sendo no seu bojo — sob a c h av e de p ra t tem fe ito im p o rta n te s estu d o s sobre
leitu ra, agora, d a e tn ic id a d e — q u e a p a re ­ form ações m usicais u rb a n a s antigas b ra si­
cem os p rim eiro s trab a lh o s etnológicos so­ leiras, a b o rd a n d o gêneros co m o o m axixe,
b re a m úsica no Brasil. Isto com eça em a po lca, etc., em cid a d es in te rio ra n a s do
fins d o s an o s 70, e stan d o , n o p re sen te m o ­ E stado d e São P au lo . A rigorosa análise
m ento, em plen o processo d e desenvolvi­ das fo n te s bem co m o a re co n stitu iç ão c ri­
m ento. G o sta ria d e c ita r, d esta ve rte n te , teriosa d e p a rtitu ra s têm to rn a d o possíveis
os p ro jeto s d e E lizab eth T rav asso s Lins a este p ro je to ex p eriên cias d e re c o n stitu i­
(d o M useu N a cio n a l, U n iv ersid ad e F ede­ ção so n o ra — fo n o g rafic am e n te d o c u m e n ta ­
ra l do R io de Jan eiro ), so b re a m úsica das — d a m ais a lta r e le v â n c ia .9
d o s ín d io s K ayabí do A lto-X ingu, e de N o âm b ito d o s e stu d o s d e C om unica­
Priscilla B a rra k E rm el (da P o n tifíc ia U n i­ ções, a c o n trib u iç ã o d e A u g u s to d e C am ­
v e rsid ad e C ató lica d e São P a u lo ), sobre pos tem sido fu n d a m e n ta l. S u a an álise da
a dos índios C inta L arga, do A rip u a n ã. Bossa N o v a e do T ro p ic alism o , v alo riza n d o
M eu p ró p rio trab a lh o a q u i tam bém se ao e x trem o a p o stu ra “re v o lu c io n á ria ” cios
in c lu i.11 m úsicos e nvolvidos n e stes m o vim entos m u ­
N ão se esgota a í, no e n ta n to , na te­ sicais, c o n stitu i p a sso s d efin itiv o s n o sen­
m ática indígena, a p e rsp ec tiv a do atual tido do e n te n d im e n to d a s ideologias das
la b o r m úsico-antropológico n o Brasil. H á elites in te lec tu a is b ra sile ira s. A q u estão
estu d o s n a á re a d a m úsica p o p u la r u rb a­ das re la çõ e s d e p ro d u ç ã o d e n tro do esta­
n a e folclórica. E n tre os p rim e iro s, refiro b e le cim en to m úsico -in d u strial b ra sile iro é
esp ecialm en te o d e M u n d ic arm o F erretti c en tra l p a ra esta te n d ê n c ia .10
(da U n iv e rsid ad e do M a ran h ã o ), so b re o P a ra fin aliza r, e d e n tro do cam po da
b a iã o d e L uiz G onzaga e sua “ m o d ern i­ T eo ria L ite rária, lem b ro o tra b a lh o de
z aç ão " n o s anos 80. E u m esm o ten h o feito A ffonso R om ano d e S a n t'A n n a . E ste tra ­
algum a coisa com a tem ática tam b é m da balh o c o n stró i p o r assim d iz e r, um p rofí­
m ú sica p o p ü la r u rb a n a . E n tre os segundos, cuo d eslo cam en to do e n fo q u e d o s tra d i­

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cionais estudos so b re a Poesia no B rasil, gar à relação , o q u e , se a in d a n ã o se sente
eleitos agora os tex to s lingü ísticos (“ le­ p o r com pleto, com eça a ser d e sen cad ead o .
tra s ”) das canções po p u lares u rb a n a s com o R ecen tem en te, d iversas u n iv ersid a d es b ra ­
o b jeto s p re fe re n ciais de análise. O tem a sileiras têm p ro m o v id o en co n tro s e sem i­
d o “ M o d e rn ism o ” brasileiro e d e seus re ­ nários so b re as d iversas m úsicas do País,
b a tim en to s n a m úsica u rb a n a de v a n g u ar­ on d e se ten tam su p e ra r as fro n te ira s d e ­
d a é de im p o rtâ n cia estratégica p a ra este p a rta m e n ta is e, assim , ao m enos te n ta ti­
t r a b a lh o .11 vam ente, c o n stru ir pontes e n tre as p o stu ­
D o rá p id o ex am e acim a re aliz a d o , o ra s etno m u sico ló g ica, histórico-m usicoló-
q u e se po d e co n clu ir é q u e as m usicolo- gica, sócio-m usicológica, e tc. Sem d ú v id a
gias no B rasil, d a fase p ioneira a té a a tu a l, algum a q u e o País agora p a rec e m ad u ro
so fre ram u m a reelab o ra çã o p ro fu n d a . Tal p a ra um a d e fin itiv a c o n so lid ação acadêm i-
reelab o ra çã o está claram ente sintom ati- co -u n iv ersitária d e um a M usicologia do
z ad a já pelo p lan o do locus in stitu c io n a l: Brasil co n g en itam en te in te rd is c ip lin a r.12
do co n se rv a tó rio , m u seu ou a rq u iv o p a ra S egundo p enso, as questões cru ciais de
os d e p arta m e n to s u n iv ersitá rio s de H u ­ rela cio n a m e n to e n tre os p lan o s d e e x p res­
m an id a d es. A c red ito que tal m u d a n ç a cor­ são (fonológico e g ram atical) e d e c o n te ú ­
re sp o n d e a u m a m aio r fid ed ig n id ad e de d o (sem ântico) d a m úsica são de im p o rtâ n ­
a b o rd ag e m , sem d ú v id a algum a e sp elh an d o
cia o riginal no sen tid o dessa co nsolidação.
o re co n h e cim en to d a m úsica com o d isc u r­
N este c am in h o , a cre d ito a p o stu ra a n tro ­
so fu n d a m e n ta l d a (s) sociedade(s) brasilei-
ra (s). É d e se n o ta r, assim , q u e o que pológica in d isp en sáv el, ela q u e — m ais
c o n stitu íam ilhas m usicológicas — e, pois, q u e q u a lq u e r o u tra — p e rm ite u m a m aio r
sociológicas — p a sso u a ser visto com o fluência na viagem do m odelo d o o b se r­
in stan te s e m o m en to s d e u m a g ra n d e m a­ v a d o r ao do nativo, e vice-versa.
lha d e relações sociais, políticas e e co n ô ­
m icas, com os c o rre sp o n d e n tes p lan o s c u l­ (R eceb id o p a ra p u b lic a çã o cm
tu rais su b ja ce n te s. O isolam ento c ed eu lu­ n o v e m b ro d e 1990)

N otas

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7. V eja F e rretti (1983), M enezes B astos (1977) e T ra ja n o Filho (1984). Q u a n to ao tra ­
b alh o d e F arias G alv ão . não ten h o condições d e referi-lo.
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9. P ara um excelente resum o d a o b ra d e Régis D u p ra t, c o n fo rm e o verbete d e seu_
nom e c o n stan te em M arcondes, ed. (1977).
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