Você está na página 1de 12

Notas bibliogn^cas

SíNTESt NOVA FASE

V. 2 3 \. 72 (19%): 101-112

EM TORNO A ARISTÓTELES
Fernando Rey Puenle
Doutorando em Filosofia

ENRICO BERTI, Le r a g i o n i di Aristotde. Roma-Bari; Laterza,


1989. 186 p p . I S B N 8 8 - 4 2 0 - 3 3 5 8 - 8

O
l i v r o d e E. B e r t i , professor d a U n i v e r s i d a d e de P á d u a e e m i -
nente a r i s t o t e l i s t a , o f e r e c e - n o s s i n t e t i c a m e n t e u m a v i s ã o g l o -
bal das d i v e r s a s m o d a l i d a d e s d e r a c i o n a l i d a d e presentes na
obra de Aristóteles. O l i v r o , d i v i d i d o e m cinco capítulos — " A p o d í t i c a
e dialética", " O método da física", " O método da metafísica", " O
m é t o d o da f i l o s o f i a p r á t i c a " e " A r e t ó r i c a " - , é a transcrição d e cinco
conferências p r o f e r i d a s p e l o a u t o r n o ano d e 1988 n o i m p o r t a n t e Isfitulo
Italiano ái Studi Filosofia d e N á p o l e s .

O o b j e t i v o d o l i v r o , s e g u n d o B e r t i , n ã o é o de fornecer u m a c o n t r i b u i -
ç ã o o r i g i n a l ao c o n h e c i m e n t o d e Aristóteles, d a d o ele n ã o l e v a r e m
c o n s i d e r a ç ã o de m o d o m a i s e x a u s t i v o a b i b l i o g r a f i a crítica precedente,
mas s i m o d e e x p l i c i t a r a c o n t r i b u i ç ã o d o Estagirita para o debate a t u a l
sobre a r a c i o n a l i d a d e , m a i s p r e c i s a m e n t e , "sobre a pretensa crise da
r a z ã o , sobre o seu v a l o r e os seus l i m i t e s e, s o b r e t u d o , sobre a p o s s i -
b i l i d a d e d e se reconhecer d i v e r s a s f o r m a s de r a c i o n a l i d a d e " ( p . V l l l ) .
N o prefácio o a u t o r f a z u m r á p i d o a p a n h a d o acerca desse debate a t u a l
sobre a crise da r a z ã o , p o s i c i o n a n d o d e u m l a d o a d i s c u s s ã o q u e se
realiza na Itália e na F r a n ç a e, d o o u t r o , a d i s c u s s ã o a l e m ã e a n g l o -

Síntese Nova Fase, Belo Horizonte, v. 33, n. 72, 1996 101


s a x ã . N a A l e m a n h a e nos p a í s e s a n g l o - s a x õ e s o a u t o r constata a existên-
cia d e u m a m p l o e p r o f u n d o debate sobre a r a c i o n a l i d a d e a n t i g a , o q u e
l h e parece i n e x i s t i r nos meios franceses e i t a l i a n o s , talvez, conjectura ele,
d e v i d o à f o r t e influência d a tradição escolástica associada à Igreja c a t ó -
lica nestes p a í s e s , f a t o este q u e l e v o u m u i t o s a c o n s i d e r a r e m a f i l o s o f i a
a n t i g a i n d i s s o c i a v e í m e n t e l i g a d a à tradição escolástica, u m engano cuja
c o n s e q ü ê n c i a funesta é u m i m e r e c i d o e s q u e c i m e n t o de Aristóteles,

O a u t o r c r i t i c a t a m b é m o q u e ele d e n o m i n a " u m a certa m o d a


n i e t z s c h e a n o - h e i d e g g e r i a n a " , d i f u n d i d a p r i n c i p a l m e n t e na França e na
Itália, q u e tende a a g r u p a r sob u m a m e s m a categoria epocal a
r a c i o n a l i d a d e a n t i g a e m e d i e v a l c o m a r a c i o n a l i d a d e científica m o d e r n a
e c o m aquela característica d o Oitocentos. Seguindo u m a tradição
e x e g ê l i c a q u e perpassa toda a I d a d e M é d i a e q u e na a u r o r a da I d a d e
M o d e r n a é r e t o m a d a p o r F. Bacon e p o r J. Z a b a r e l l a , o g r a n d e filósofo
p a d u a n o d o s é c u l o X V I , é a t r i b u í d a n o r m a l m e n t e ao Estagirita e siste-
m a t i z a ç ã o d e u m a única f o r m a d e r a c i o n a l i d a d e , a saber, a de t i p o
s i l o g í s t i c o - d e d u t i v o . O Orgaiiou é r e d u z i d o assim apenas aos Analíticos.
A t é m e s m o H e g e l , o ú n i c o , s e g u n d o B e r t i , q u e na I d a d e M o d e r n a reco-
n h e c e u a i m p o r t â n c i a d o Aristóteles m e t a f í s i c o , n ã o c o m p r e e n d e u a
m u l t i p l i c i d a d e c o n c e i t u a i c o n f e r i d a p e l o Estagirita à r a c i o n a l i d a d e e p o r
isso m e s m o a v a l i o u d e p r e c i a t i v a m e n t e a lógica aristotélica c o m o sendo
u m a m e r a " c i ê n c i a d o p e n s a m e n t o a b s t r a t o " , e m b o r a ele tivesse reco-
n h e c i d o n ã o ter s i d o p o r m e i o desta q u e A r i s t ó t e l e s construíra a sua
filosofia.

A exegese deste s é c u l o , especialmente a p a r t i r dos anos 60 c o m a r e a l i -


z a ç ã o d o s Symposia Arislotclica, o p ô s - s e a este prejuízo t r a d i c i o n a l reco-
n h e c e n d o na o b r a d e A r i s t ó t e l e s o u t r a s f o r m a s d e r a c i o n a l i d a d e
i r r e d u t í v e i s à lógica d e d u t i v a . O terceiro Syniposiiini Aristotelicum, reali-
z a d o e m O x f o r d n o ano d e 1963, c o n f i r m a essa n o v a tendência exegética
ao eleger c o m o tema a dialética aristotélica, r e c u p e r a n d o a s s i m a d o u -
t r i n a d o s Tópicos de seu i m e r e c i d o e s q u e c i m e n t o . Nesta m e s m a é p o c a
d á - s e a redescoberta das d e m a i s f o r m a s d e r a c i o n a l i d a d e presentes na
o b r a d o Estagirita p o r p a r t e de i m p o r t a n t e s filósofos c o n t e m p o r â n e o s
c o m o C . P e r e l m a n , H . G . G a d a m e r , P. F e y e r a b e n d e G . W . v o n W r i g h t
entre outros.

O p r i m e i r o capítulo — "Apodítica e dialética" — procura d e f i n i r c o m


p r e c i s ã o a diferença f u n d a m e n t a l existente e n t r e a ciência a p o d í t i c a , a
c i ê n c i a n ã o - a p o d i t i c a e a dialética. A p r i m e i r a , de caráter necessitarista
e causai e q u e d e v e ser d e m o n s t r a d a , é objeto dos Analíticos Posteriores.
O m o d e l o desta ciência f o i a g e o m e t r i a g r e g a , única ciência q u e na
é p o c a d e Aristóteles já h a v i a a d q u i r i d o u m c a r á t e r e p i s t e m o l ó g i c o q u a -
se q u e d e f i n i t i v o . S e n d o assim, a p r i m e i r a f o r m a d e r a c i o n a l i d a d e e x p l o -
r a d a p e l o Estagirita nada mais f o i , para Berti, d o que "a r a c i o n a l i d a d e
da g e o m e t r i a " . Os p r i n c í p i o s desta c i ê n c i a n ã o p o d i a m , e n t r e t a n t o , ser

(102 Síntese Nova Fase, Belo HorUonte. v. 23, n. 72, 1996


eles m e s m o s d e m o n s t r a d o s , sob pena d e se i n c o r r e r e m u m regressum
ad infinitum. Aristóteles p o s t u l a , e n t ã o , u m a " c i ê n c i a a n a p o d í t i c a " q u e ,
f a l a n d o m a i s precisamente, n ã o é u m a c i ê n c i a , mas s i m o " p r i n c í p i o
d a c i ê n c i a " e q u e t e m p o r o b j e t o d e e s t u d o os p r i n c í p i o s
i n d e m o n s traveis, especialmente as d e f i n i ç õ e s . Berti a d v e r t e o l e i t o r
acerca das interpretações m a i s f r e q ü e n t e s , p o r é m e q u í v o c a s , d o nous
aristotélico — q u e é j u s t a m e n t e a instância, no h o m e m , capaz d e apre-
e n d e r estes princípios i n d e m o n s traveis. Essas exegeses — c o m o , p o r
exemplo, a de M a r i t a i n o u a de Heidegger — associam-no
e q u i v o c a m e n t e a u m a e s p é c i e de intuição, o u seja, a u m c o n h e c i m e n t o
i m e d i a t o e n ã o - d i s c u r s l v o d o t i p o da i n t u i ç ã o b e r g s o n i a n a o u da v i -
s ã o e i d é d c a husserliana. Berti acredita, ao c o n t r á r i o , q u e o nous seja o
r e s u l t a d o de u m processo l o n g o e laborioso, i n t i m a m e n t e associado à
a t i v i d a d e docente, i n t e r p r e t a n d o neste c o n t e x t o o s i g n i f i c a d o d o ter-
m o g r e g o epagogé n ã o apenas c o m o " i n d u ç ã o " , mas t a m b é m c o m o
" i n t r o d u ç ã o " . A l é m d i s s o ele d i f e r e n c i a o nous q u e é o f u n d a m e n t o d e
q u a l q u e r ciência e m p a r t i c u l a r tanto d a q u e l e q u e c o n s t i t u i a própria
c i ê n c i a — c o m o p o d e - s e d e p r e e n d e r d e u m a p a s s a g e m d a Ética
Niconiaquéa ( V I , 7,1141a 16-19) — q u a n t o d a q u e l e o u t r o que alicerça
a f i l o s o f i a p r i m e i r a e q u e é t r a t a d o no l i v r o V I d a Metafísica.

N a p a r t e m a i s extensa deste c a p í t u l o , B e r t i d i s c u t e o conceito de


dialética e m Aristóteles. U m a p r i m e i r a d i s t i n ç ã o f u n d a m e n t a l e n t r e a
a p o d í t i c a e a dialética é q u e e n q u a n t o a p r i m e i r a se refere ao ensino,
o u seja, a u m a s i t u a ç ã o o n d e o m o n ó l o g o p r e d o m i n a , a s e g u n d a d i z
r e s p e i t o às d i s c u s s õ e s , o u seja, a u m c o n t e x t o d i a l ó g i c o . Este d i á l o g o
d e v e e f e t u a r - s e e m t o r n o a u m p r o b l e m a p r o p o s t o a p a r t i r de p r e m i s -
sas sustentadas p o r i n d i v í d u o s r e n o m a d o s (eudoxa), m a i s a i n d a , essa
d i s c u s s ã o dialética d e v e o c o r r e r na presença d e u m p ú b l i c o q u e , d e
certo m o d o , julgará o sucesso o u o m a l o g r o d o s i n t e r l o c u t o r e s . Se-
g u i n d o d e p e r t o a p r ó p r i a d e f i n i ç ã o d e Aristóteles apresentada l o g o
n o início dos Tópicos (100a 27 — b 23), B e r t i d e f i n e os éndoxa c o m o
p r e m i s s a s o u m e s m o o p i n i õ e s , p o r é m o p i n i õ e s respeitáveis e i m p o r -
tantes q u e n ã o serão r e f u t a d a s o u c o m p r o v a d a s p e l o processo dialético.
Este é, n a v e r d a d e , o processo p e l o q u a l d e t e r m i n a d a s o p i n i õ e s s ã o
v a l i d a d a s o u n ã o à l u z dos éndoxa. Ao f i n a l deste processo, se essas
o p i n i õ e s f o r e m concordes c o m os éndoxa, e n t ã o s e r ã o v a l i d a d a s , caso
c o n t r á r i o , serão falsificadas. O s éndoxa, p o r é m , p e r m a n e c e m i n t o c a d o s
e f o r a da d i s c u s s ã o . O i m p o r t a n t e é q u e essas o p i n i õ e s sejam reconhe-
cidas e aceitas p o r todos, o u seja, p e l o p ú b l i c o e pelos i n t e r l o c u t o r e s .
A dialética, c o m o m o s t r a B e r t i , n ã o se o c u p a d a v e r d a d e , mas s o m e n t e
d o p r ó p r i o processo a r g u m e n t a t i v o , O a u t o r nos a d v e r t e para q u e n ã o
c o r ^ u n d a m o s u m v e r d a d e i r o c o m u m falso éndo.xon. E n q u a n t o que d o
p r i m e i r o d e r i v a a dialética, d o s e g u n d o o r i g i n a - s e o q u e o Estagirita
d e n o m i n a u m s i l o g i s m o erístico, o u seja, u m a s i m p l e s i m i t a ç ã o d o
s i l o g i s m o dialético. Se n o â m b i t o da dialética os i n t e r l o c u t o r e s esta-

Síniese Nova Fase, Belo Horizonte, v. 23, n. 72,1996 103


v a m r e a l m e n t e interessados n o e x a m e crítíco de u m a d a d a tese, n o
â m b i t o d a erística eles se e n v o l v e m na d i s c u s s ã o apenas e tão s o m e n t e
e m v i s t a d o p o s s í v e l sucesso q u e p o d e r ã o obter, n ã o se i m p o r t a n d o e m
fazer uso para este f i m d e m e i o s desleais. A d i f e r e n ç a e n t r e esses p r o -
c e d i m e n t o s , ressalta Berti, s i t u a - s e nas i n t e n ç õ e s d i v e r g e n t e s q u e os
f u n d a m e n t a m : q u a n d o a intenção é d i d á t i c a , e m p r e g a - s e o s i l o g i s m o
a p o d í t i c o , q u a n d o é d i a l ó g i c a , o s i l o g i s m o dialético.

O E s t a g i r i t a i n d i c a o uso d a dialética e m três s i t u a ç õ e s q u e B e r t i p r o c u -


ra esclarecer: a) n o p r ó p r i o t r e i n a m e n t o dialético, b) nas d i s c u s s õ e s ( p o r
e x e m p l o , políticas e j u d i c i á r i a s ) c o m os o u t r o s e c) nas ciências. Este
terceiro uso, d e v a l o r i m p r e s c i n d í v e l , está i n t i m a m e n t e r e l a c i o n a d o c o m
as i n d a g a ç õ e s d e P l a t ã o n o Pannêmdes. Neste terceiro uso, o i n v e s t i g a -
d o r e x p a n d e sua área de inquirição g r a ç a s ao d e s e n v o l v i m e n t o
a r g u m e n t a t i v o de u m a a p o r i a e m suas d u a s d i r e ç õ e s opostas
(diaporética).

A s s i m , c o m o nos m o s t r a o a u t o r , a dialética servirá n ã o apenas para


analisar aquelas á r e a s d o saber d e s p r o v i d a s de p r i n c í p i o s e o n d e , p o r -
t a n t o , n ã o se p o d e r á e m p r e e n d e r a b s t r a ç õ e s , m a s t a m b é m p a r a desco-
b r i r os p r ó p r i o s p r i n c í p i o s d a ciência filosófica. E m r e s u m o , c o m o a f i r -
m a B e r t i , a dialética " n ã o conhece, mas p e r m i t e apenas d i s c u t i r , e x a m i -
nar e c r i t i c a r " ( p . 39). U m a o u t r a c o n t r i b u i ç ã o f u n d a m e n t a l da dialética
aristotélica é, s e g u n d o B e r t i , a análise da l i n g u a g e m c o m u m .

N o segundo capítulo — " O método da física" — Berti procura, e m


p r i m e i r o l u g a r , restaurar a p r i m a z i a da Física a n t e a Metafísica, p r i m a z i a
esta q u e h a v i a s i d o i n v e r t i d a p o r H e g e l e, g r a ç a s à sua i n f l u ê n c i a , t a m -
b é m p o r E. Z e l l e r , mas q u e é c o n s t i t u t i v a d o p r ó p r i o p e n s a m e n t o
aristotélico. B e r t i t a m b é m p r o c u r a esclarecer o l e i t o r acerca d a i m p o r -
tância c a p i t a l d a Física, já q u e é neste l i v r o q u e o Estagirita d e s e n v o l v e
as suas d o u t r i n a s m a i s f u n d a m e n t a i s , s o b r e t u d o a d o u t r i n a das q u a t r o
causas.

Berti d i s c o r r e a s e g u i r sobre a diferença e n t r e a m a t e m á t i c a e a física. A


p r i m e i r a p o s s u i u m caráter necessitarista e s e m p r e d e v e buscar a causa
f o r m a l , e n q u a n t o a s e g u n d a t e m u m m o d o m a i s dúctil d e d e m o n s t r a *
ç ã o , r e c o r r e n d o p a r a isso às o u t r a s causas e n ã o e x c l u s i v a m e n t e á causa
f o r m a l . Essa m a i o r d u c t i l i d a d e d a c i ê n c i a física baseia-se n o f a t o dos
objetos físicos s e r e m c o m p o s t o s de matéria. D a í a d v é m a sua q u o t a d e
i n d e t e r m i n a ç ã o . D a d a s essas características acima assinaladas, o a u t o r
m o s t r a c o m o o m é t o d o i d e a l d a física d e v e ser a dialética. O m é t o d o da
física n ã o consiste, p o r t a n t o , apenas na análise d o s d a d o s sensoriaís o u
na o b s e r v a ç ã o s e n s í v e l , mas t a m b é m na d i s c u s s ã o das o p i n i õ e s d e o u -
t r o s f i l ó s o f o s , e é a a m b o s esses e l e m e n t o s , a d v e r t e - n o s B e r t i , q u e
Aristóteles d e s i g n a c o m o f e n ô m e n o s (phaimmeua).

104 Síníese Noua Fase, Beto Horizonte, v. 23, n. 72, 1996


o terceiro c a p í t u l o o c u p a - s e d a metafísica. O m é t o d o d a metafísica
c o i n c i d e c o m o terceiro uso da dialética, o u seja, o seu uso científico
q u e se p r o p u n h a a d e s e n v o l v e r as a p o r i a s c o n t i d a s nos éndoxa. Esse
m é t o d o B e r t i d e n o m i n a " d i a p o r é t i c o " . Ele observa que a única d i f e r e n -
ç a e n t r e a dialética aristotélica e a platônica reside n o v a l o r d i s t i n t o que
eles l h e a t r i b u í a m : P l a t ã o j á a c o n s i d e r a v a c o m o a p r ó p r i a ciência,
e n q u a n t o Aristóteles a c o n s i d e r a v a apenas u m m é t o d o , u m p r o c e d i -
m e n t o a r g u m e n t a t i v o q u e p o d i a ser u t i l i z a d o pela f i l o s o f i a p a r a conhe-
cer a v e r d a d e , m a s q u e t a m b é m p o d i a ser e m p r e g a d o c o m o u t r o s f i n s .
U m e l e m e n t o m u i t o m a i s u s a d o p e l o Estagirita d o q u e p o r Platão e m
suas i n v e s t i g a ç õ e s dialéticas é o q u e B e r t i d e s i g n a p o r " a n á l i s e s e m â n -
tica".

O m é t o d o d a m e t a f í s i c a é d i v i d i d o p o r Aristóteles e m três etapas: a)


d i s t i n ç ã o dos m ú l t i p l o s s e n t i d o s de u m m e s m o t e r m o , o u seja, a " a n á -
lise s e m â n t i c a " , b) i d e n t i f i c a ç ã o d o s e n t i d o p r i m a c i a l desse t e r m o , isto
é, d o s e n t i d o d o q u a l t o d o s os o u t r o s d e p e n d e m e c) d e t e r m i n a ç ã o d o
t i p o de d e p e n d ê n c i a existente e n t r e esses m ú l t i p l o s sentidos e o s e n t i -
do principal.

B e r t i ressalta q u e Aristóteles i n v e s t i g a — p o r m e i o d a dialética — até


m e s m o os p r i n c í p i o s m a i s f u n d a m e n t a i s d e t o d o s , o u seja, o princípio
d a n ã o - c o n tradição e o d o terceiro e x c l u í d o , n ã o se satisfazendo c o m
o m e r o saber i n t u i t i v o , c o m u m a t o d o s os homerLS, de q u e estes s e r i a m
p r i n c í p i o s e v i d e n t e s d e per si. A t é m e s m o as e s p e c u l a ç õ e s da ciência
teológica e m A r i s t ó t e l e s s ã o , c o m o m o s t r a o a u t o r , e m i n e n t e m e n t e
dialéticiHi.

O s d o i s c a p í t u l o s f i n a i s , e m c o n t r a p a r t i d a aos capítulos I I e I I I que


t r a t a v a m das ciências teoréticas, o c u p a r - s e - ã o das ciências práticas.
Para estas ú l t i m a s , ao c o n t r á r i o d o q u e o c o r r i a para as p r i m e i r a s , a
v e r d a d e n ã o c o n s t i t u i u m fím e m si m e s m o , mas apenas u m m e i o para
a a ç ã o . Esta, a a ç ã o , c o n s t i t u i , c o m o d i z B e r t i , o o b j e t i v o e o objeto das
c i ê n c i a s práticas o u políticas. A ciência política n ã o p o d e d i s c e r n i r
detalhadamente e d e t e r m i n a r c o m absoluto rigor o que é belo, justo e
b o m , d e v e n d o l i m i t a r - s e a assinalar o q u e é belo, j u s t o e b o m d e u m
m o d o g e r a l . D a í o seu caráter " t i p o l ó g i c o " , c o m o a f i r m a B e r t i , na es-
teira de o u t r o s i n t é r p r e t e s .

O a u t o r a p o n t a p a r a u m interessante p a r a l e l o e n t r e a física e as ciên-


cias práticas: a m b a s necessitam da e x p e r i ê n c i a p a r a s e r e m p l e n a m e n t e
c o m p r e e n d i d a s , e x p e r i ê n c i a e n t e n d i d a a q u i n ã o apenas c o m o u m m e r o
c o n h e c i m e n t o s e n s o r i a l , mas s i m c o m o u m hábito m o r a l a d q u i r i d o , e m
suma, como experiência de vida.

Q u a n t o ao m é t o d o d a ciência prática, ele é o m e s m o q u e o d a física o u


d a m e t a f í s i c a , i s t o é, a dialética. De m o d o que a especificidade da

Síntese Nova Fase, Belo Horizonte, v. 23, n. 72, 1996 [ 105


ciência prática é c o n s t i t u í d a pela u n i ã o deste m é t o d o d i a l é t i c o c o m o o
s e u caráter g e n e r a l i z a d o r .

U m a o u t r a f o r m a d e r a c i o n a l i d a d e prática, mas q u e é, e n t r e t a n t o , d i s -
tinta d a ciência política é a p r u d ê n c i a iphróucsis), q u e nada m a i s seria
d o q u e a c a p a c i d a d e d e d e l i b e r a r a p r o p r i a d a m e n t e . Berti assinala u m a
diferença s i g n i f i c a t i v a e n t r e elas: o objeto específico d a phróuesis s ã o os
meios, p a r t i c u l a r e s e m u t á v e i s , e n q u a n t o que o objeto da ciência prá-
tica s ã o os f i n s u n i v e r s a i s q u e , e m b o r a n ã o sendo i m u t á v e i s , s ã o váli-
dos na m a i o r p a r t e dos casos. Por o u t r o l a d o , a m b o s p o s s u e m a f i n i d a -
des, tais c o m o : a m ú t u a e x i g ê n c i a d e u m certo d o m í n i o das p a i x õ e s e
d e u m a a m p l a e x p e r i ê n c i a d e v i d a . S e g u n d o B e r t i , e l a s se
i n t e r r e i a c i o n a m d o s e g u i n t e m o d o : a f i l o s o f i a prática conhece o u n i v e r -
sal, f o r n e c e n d o , deste m o d o , as d i r e t r i z e s m a i s gerais da a ç ã o , ao passo
q u e a phrónesis, c o n h e c e n d o os casos p a r t i c u l a r e s o u i n d i v i d u a i s , p o d e
a p l i c a r aquelas d i r e t r i z e s a estes casos.

N o q u i n t o e último capítulo — " A retórica" — Berti analisa a


r a c i o n a l i d a d e p r ó p r i a d a arte o u da ciência poética. Esta não é a l g o
p r a t i c a d o c o m o a phrónesis, mas s i m a l g o p r o d u z i d o . O seu objeto n ã o
se e n c o n t r a e m si m e s m o , p o r é m fora d e s i , o u seja, n a q u i l o q u e f o i p o r
ela p r o d u z i d o , o p r o d u t o , a obra, A arte, a d v e r t e - n o s B e r t i , a s s i m c o m o
todas as o u t r a s f o r m a s d e r a c i o n a l i d a d e e m Aristóteles, tamt)ém p o s s u i
u m a " v e r d a d e " p r ó p r i a , p o i s , d e a c o r d o c o m o Estagirita, a a r t e é " h á -
b i t o p r o d u t i v o a c o m p a n h a d o d e logos v e r d a d e i r o " (E. N . , V I , 4 , 1 1 4 0 a
10). A a r t e , à d i f e r e n ç a d a phrónesis, refere-se ao u n i v e r s a l , i s t o é, à
e s p é c i e e à f o r m a e n ã o ao i n d i v í d u o . O logos v e r d a d e i r o q u e a a c o m -
p a n h a é, p o r t a n t o , o c o n h e c i m e n t o d o p o r q u ê , o u seja, da causa f o r m a l
de u m d e t e r m i n a d o objeto artístico. Nesta m e d i d a a a r t e e a ciência n ã o
se d i s t i n g u e m , d i s c e r n i n d o - s e apenas p e l o f a t o da p r i m e i r a o c u p a r - s e
da r e a l i d a d e c o n t i n g e n t e , c o n s t r u í d a p e l o h o m e m , e n q u a n t o a s e g u n d a
se o c u p a d a r e a l i d a d e n e c e s s á r i a , i n d e p e n d e n t e d o h o m e m .

D e n t r e as artes A r i s t ó t e l e s — c o m o a f i r m a B e r t i — d e d i c o u especial
a t e n ç ã o a d u a s : a retórica e a poética. A retórica interessou o Estagirita
desde a sua j u v e n t u d e , c o m o o seu d i á l o g o p e r d i d o Grilo, escrito q u a n -
d o ele t i n h a apenas 22 anos, o c o m p r o v a . Berti assinala u m interessante
p a r a l e l o entre o início da Retórica e o início d o s Tópicos. E m a m b o s
tratados as suas respectivas d i s c i p l i n a s s ã o apresentadas c o m o m é t o -
dos para fazer a r t i s t i c a m e n t e (tecnicamente) o q u e as pessoas e m g e r a l
r e a l i z a m s e m arte. N o caso d a retórica, essa arte consiste e m fazer b o m
uso d o s m e i o s de p e r s u a s ã o , e n q u a n t o q u e , n o caso da dialética, ela
consiste e m saber fazer b o m uso d a a r g u m e n t a ç ã o ( o b v i a m e n t e persis-
te u m a d i f e r e n ç a f u n d a m e n t a l , já q u e a dialética é u m a c i ê n c i a , e n q u a n -
t o a retórica á apenas u m a capacidade). Berti passa, e n t ã o , a descrever
e m m a i o r e s d e t a l h e s as u t i l i d a d e s d a retórica e a c o m p a r á - l a s à s da
dialética.

106 Sínlese Nova Fase. Belo Horizonte, v. 23, n. 72, 1996


Através deste p a r a l e l o e d e u m o u t r o c o m a Metafísica, Berti compara
d i s t i n t a s a t i v i d a d e s d o h o m e m e m suas e x p r e s s õ e s v e r d a d e i r a s o u f a l -
sas. A s s i m ele d i f e r e n c i a , n o â m b i t o d o c o n h e c i m e n t o , a f i l o s o f i a d a
sofistica, n o d a a r g u m e n t a ç ã o , a dialética d a erística, e n o d a p e r s u a s ã o ,
a b o a d a m á retórica.

Por f i m , B e r t i c o m p a r a a retórica c o m a política e constata q u e a m b a s


o c u p a m - s e d o m e s m o objeto, a saber, os caracteres e as p a i x õ e s d o s
h o m e n s , s ó q u e ela, ao c o n t r á r i o d a política, se p r e o c u p a e m c o n h e c ê -
los apenas e t ã o s o m e n t e c o m o p r o p ó s i t o d e elaborar discursos p e r s u -
a si v o s .

ENRICO BHKTI, Aristotele nel Novecento. R o m a - B a r i : Laterza,


1992. 278 p p . I S B N 88^0^121-1

O r e n o m a d o aristotelista E. Berti oferece-nos neste l i v r o u m a percuciente


e e r u d i t a i n v e s t i g a ç ã o sobre a p r e s e n ç a d e Aristóteles n o p e n s a m e n t o
d o nosso s é c u l o . C o m esse p r o p ó s i t o ele analisa as p r i n c i p a i s correntes
filosóficas d a s ú l t i m a s d é c a d a s , m o s t r a n d o d e q u e m o d o a presença d o
Estagirita f o i e c o n t i n u a s e n d o decisiva n o cenário h o d i e r n o d a f i l o s o -
fia. O l i v r o é d i v i d i d o e m q u a t r o capítulos — " O n e o - h u m a n i s m o ale-
m ã o d o início d o s é c u l o " , " H e i d e g g e r " , "A f i l o s o f i a a n a l í t i c a " e " O
r e n a s c i m e n t o d a f i l o s o f i a p r á t i c a " - , nos q u a i s o a u t o r esclarece e m
detalhes o p r o f u n d o d é b i t o d o s pensadores deste s é c u l o p a r a c o m
Aristóteles.

N o p r ó l o g o B e r t i faz u m r á p i d o a p a n h a d o d a r e c e p ç ã o d o Estagirita n o
século X i X . N a q u e l e século, o descrédito e m relação à o b r a d e Aristóteles
— o r i u n d o d o I l u m i n i s m o e d a física mecanicista e c u l m i n a n d o n a o b r a
de K a n t que s ó reconhecia n a d o u t r i n a d a lógica elaborada pelo Estagirita
u m a c o n t r i b u i ç ã o i n d i s p e n s á v e l ao saber — passou p o r u m a r e a b i l i t a -
ção a p a r t i r d e H e g e l q u e , ao contrário d e K a n t , reconhecia o v a l o r
metafísico e ético d a o b r a d e Aristóteles, p o r é m r e c h a ç a v a sua elabora-
ç ã o acerca d a lógica. E interessante o b s e r v a r q u e H e g e l , a c r e d i t a n d o
d e v e r o p o r - s e ao p l a t o n i s m o k a n t i a n o , i d e n t i f i c o u - s e n a t u r a l m e n t e a
Aristóteles, b e m c o m o p o s t e r i o r m e n t e os críticos d e H e g e l a s s i m i l a r -
s e - ã o ao Estagirita para o p o r - s e à influência platônica q u e eles j u l g a -
v a m presentes e m H e g e l . D e n t r e esses críticos, Berti cita T r e n d e l e m b u r g ,
Feuerbach, M a r x e K i e r g e k a a r d , e e x p l i c a d e q u e m o d o eles f o r a m
influenciados p o r Aristóteles. O fato de Berti, u m m i n u c i o s o historia-
d o r d a f i l o s o f i a , n ã o m e n c i o n a r a i m p o r t â n c i a d a obra d e Aristóteles n o
p e n s a m e n t o t a r d i o d e SchelÜng, n a v e r d a d e o p r i m e i r o a c r i t i c a r H e g e l
e cuja crítica influenciará, d e certa f o r m a , todas as d e m a i s críticas a

Síntese Nova Fase, Belo Horizonte, v. 23. n. 72, 1996 \ 107 "|
H e g e l , é quase i n c o m p r e e n s í v e l , n ã o f o r a o descaso t r a d i c i o n a l pela
f i l o s o f i a da fase f i n a l d e S c h e l l i n g , q u e só nestes ú l t i m o s anos t e m
r e c e b i d o a sua d e v i d a a t e n ç ã o . U m a o u t r a reabilitação f u n d a m e n t a l d o
p e n s a m e n t o a r i s t o t é l i c o n o s é c u l o passado d e u - s e c o m F. B r e n l a n o ,
filósofo c a t ó l i c o d e i n s p i r a ç ã o e s c o l á s b c a , p o r q u a n t o as suas exegeses
i n f l u e n c i a r ã o p o s t e r i o r m e n t e t a n t o H e i d e g g e r q u a n t o a f i l o s o f i a analí-
tica.

O p r i m e i r o c a p í t u l o o c u p a - s e basicamente da o b r a d e W , Jaeger, p r i n -
c i p a l m e n t e d e seu l i v r o , t o r n a d o clássico, Aristóteles d e 1923. Berti d e -
f i n e o n e o - h u m a n i s m o a l e m ã o c o m o s e n d o o m o v i m e n t o c u l t u r a l ba-
seado na s u p o s i ç ã o de q u e a idéia d o h o m e m e l a b o r a d a pelos gregos
p o s s u i u m v a l o r perene, A l é m d e u m a a n á l i s e m i n u c i o s a das obras e
d a s idéias d e Jaeger, o a u t o r d e t é m - s e t a m b é m e m U . v o n W i l a m o w i t z
e P. N a r t o r p , a s s i m c o m o na r e c e p ç ã o italiana da o b r a d e Jaeger. D e n t r e
os e s t u d i o s o s d e Jaeger, Berti acredita ter s i d o M . G e n t i l e q u e m m e l h o r
e n t e n d e u o Aristóteles d e Jaeger, na m e d i d a e m q u e ele, e m sua i n t e r -
pretação, não enfatizou demasiadamente o evolucionismo histórico de
Aristóteles p o s t u l a d o neste l i v r o . Por f i m , Berti a f i r m a q u e se Jaeger e
N a r t o r p n ã o c o m p r e e n d e r a m p l e n a m e n t e Aristóteles, isso d e v e u - s e
c e r t a m e n t e aos p r e j u í z o s k a n t i a n o s d a Escola d e M a r b u r g , d a q u a l
N a r t o r p era u m d o s expoentes m a i s ilustres e q u e t a m b é m i n f l u e n c i o u
Jaeger.

N o segundo capítulo o autor empreende u m estudo minucioso da pre-


s e n ç a m a r c a n t e d e Aristóteles na o b r a d e H e i d e g g e r , a p o i a n d o - s e para
isso p r i n c i p a l m e n t e nas pesquisas d e F. V o l p i , o m a i o r e s t u d i o s o a t u a l
desta i n f l u ê n c i a . E m u m p r i m e i r o m o m e n t o , H e i d e g g e r , s e g u i n d o de
perto a análise d e Brentano, julgava q u e o significado f u n d a m e n t a l d o
ser para o Estagirita era o d e ousia. T a m b é m d e a c o r d o c o m B r e n t a n o
q u e , p o r sua v e z , seguia a exegese escolástica, ele a c r e d i t a v a q u e a
r e l a ç ã o pros hett presente e m Aristóteles d e v i a ser e n t e n d i d a c o m o u m a
a n a l o g i a d e a t r i b u i ç ã o (esta f o i , na v e r d a d e , u m a c r i a ç ã o d o s
neopla tônicos).

A segunda etapa da a p r o p r i a ç ã o d o pensamento aristotélico p o r


H e i d e g g e r d e u - s e sob a influência d e H u s s e r I , p o r isso o s i g n i f i c a d o
f u n d a m e n t a l d o ser para Aristóteles passou a ser i n t e r p r e t a d o agora
c o m o s e n d o o d e ale'thcia. Berti n ã o hesita e m a f i r m a r q u e H e i d e g g e r
n ã o a p r e s e n t o u e m sua exegese o conceito aristotélico d o ser c o m o
v e r d a d e , m a s s i m o p r ó p r i o conceito, o c o n c e i t o f e n o m e n o l ó g i c o e
intuicionístico, o u seja, h u s s e r l i a n o d o ser c o m o m a n i f e s t a ç ã o , c o n c l u -
i n d o q u e " H e i d e g g e r se a p r o p r i a d o p e n s a m e n t o d e Aristóteles e lhe
faz d i z e r a q u i l o q u e ele q u e r , para p o d e r apresentar c o m o p e n s a m e n t o
de Aristóteles o próprio pensamento o u o pensamento d e HusserI" (p.
82).

108 Síntese Nona Fase. Belo Horitonle, v. 23, n. 72. 1996


A s e g u i r , Berti e x p õ e e m detalhes, s e m p r e s e g u i n d o d e p e r t o a exegese
d e V o l p i , c o m o a a p r o p r i a ç ã o d a f i l o s o f i a prática d e Aristóteles f o i
l e v a d a a cabo p r i n c i p a l m e n t e e m Sein und Zeil. U m a d i f e r e n ç a s i g n i f i -
cativa entre a m b o s baseia-se no fato de q u e Heidegger p r o c u r o u
e n f a t i z a r a d i m e n s ã o prática e m d e t r i m e n t o da teórica, ao c o n t r á r i o d e
Aristóteles. Por f i m , t a m b é m e m direção oposta a d o Estagirita,
H e i d e g g e r p r i o r i z o u a dymmis e m r e l a ç ã o a evérgeia e c o m p r e e n d e u a
eutelécheia primacialmente como " m o t i l i d a d e " , enquanto que para o
p e n s a d o r g r e g o ela p o s s u í a o s i g n i f i c a d o p r i n c i p a l d e " a t i v i d a d e " e,
sobretudo, de "atividade imóvel".

O terceiro c a p í t u l o c o n s t i t u i u m a m p l o e d e t a l h a d o p a i n e l sobre a i n -
fluência de Aristóteles na f i l o s o f i a analítica a n g l o - s a x ã d o início d o
nosso s é c u l o até nossos dias. T a n t o O x f o r d q u a n t o C a m b r i d g e f o r a m e
c o n t i n u a m s e n d o i m p o r t a n t e s p ó l o s de d i f u s ã o desta influência. A s
obras de A r i s t ó t e l e s q u e m a i s c o n t r i b u í r a m c o m o i n s p i r a ç ã o para o
debate filosófico nestes centros a c a d ê m i c o s f o r a m , p o r u m l a d o , a Ética
Nicomaquéia e, p o r o u t r o , o De interpretalione e as Categorias. Após
m e n c i o n a r o e m i n e n t e aristotelista de O x f o r d , W . D . Ross, t r a d u t o r ,
j u n t a m e n t e c o m J. A . S m i t h , d a t o t a l i d a d e d o corpus aristolelicum de
1908 a 1951, Berti passa a analisar mais d e t i d a m e n t e o u t r o s filósofos
analíticos o x f o r d i a n o s ,

O p r i m e i r o a merecer u m e s t u d o m a i s a t e n t o é J. A u s t i n , f u n d a d o r d a
c o l e ç ã o Clareudon Aristolle Series, c u j o o b j e t i v o é o d e a p r e s e n t a r
Aristóteles aos filósofos e m n o v a s t r a d u ç õ e s c o m e n t a d a s , c o m o p r o p ó -
sito d e d i s c u t i r a v a l i d a d e d e suas teses. Berti esclarece-nos d e q u e
m o d o a teoria d o s atos lingüísticos d e s e n v o l v i d a p o r A u s t i n está p r o -
f u n d a m e n t e a n c o r a d a na o b r a d e A r i s t ó t e l e s , e m e s p e c i a l n o De
irtterpretatione. A u s t i n , g r a n d e c o n h e c e d o r d e Aristóteles, m t e r p r e t o u
a d e q u a d a m e n t e a relação pros hen, t e o r i z a d a p o r este, c o m o s e n d o u m a
a n a l o g i a d e p r o p o r c i o n a l i d a d e (e n ã o d e a t r i b u i ç ã o c o m o pensava
H e i d e g g e r na fase e m q u e estava sob a influência de B r e n t a n o ) . P o r é m
c o n f u n d i u - a c o m a r e l a ç ã o d e p a r o n í m i a que, c o m o assinala B e r t i , é
d i s t i n t a p a r a A r i s t ó t e l e s d a r e l a ç ã o pros hen.

O s e g u n d o a u t o r a n a l i s a d o p o r B e r d é G . E. L . Ovi^en, q u e n o a n o d e
1957, c o n j u n t a m e n t e c o m o g r a n d e aristotelista sueco 1. D ü r i n g , d e u
início ao p r i m e i r o e v e n t o d a série d o s Symposia Aristotélica. Neste
s i m p ó s i o e n o s u b s e q ü e n t e as p r i n c i p a i s c o m u n i c a ç õ e s apresentadas
f o r a m as d e O w e n . N o p r i m e i r o , ele i n t e r p r e t o u c o r r e t a m e n t e a r e l a ç ã o
pros hen c o m o u m a t e o r i a d o " s i g n i f i c a d o f o c a i " , l i b e r t a n d o a s s i m
Aristóteles d o b i n ô m i o s i n o n í m i a / h o m o n í m i a a q u e fora c o n f i n a d o p o r
m u i t o s d e seus intérpretes e, n o s e g u n d o , ele d e m o n s t r o u q u e o q u e o
E s t a g i r i t a d e s i g n a v a p o r phainámena n ã o e r a m apenas os d a d o s senso-
riaís, m a s t a m b é m os éndoxa, o u seja, as o p i n i õ e s sustentadas p o r h o -
mens i l u s t r e s . Q u a s e c o n t e m p o r â n e o ao terceiro Symposium f o i a p u b l i -

Sínteae Nova Fase. Beto Horizonte, v. 23, n. 72, 1996 [ 109 |


c a ç ã o d o l i v r o de P, A u b e n q u e (Lc problème de Vêtre chez Aristote) o n d e
ele d e f e n d i a , c o n t r a r i a m e n t e a O w e n , que a relação pros hen n ã o f o r a
capaz d e u n i f i c a r os m ú l t i p l o s s i g n i f i c a d o s d o ser e que, p o r esta razão,
a metafísica d e Aristóteles n ã o constituía p r o p r i a m e n t e u m a ciência (no
s e n t i d o aristotélico), mas apenas u m a dialética, o u seja, u m p r o c e d i -
mento puramente aporético.

A q u i temos, c o m o ressalta B e r t i p e r t i n e n t e m e n t e , u m c l a r o e x e m p l o d o
c o n f r o n t o e n t r e as d u a s p r i n c i p a i s t e n d ê n c i a s filosóficas d o nosso sécu-
l o , a f i l o s o f i a analítica e a h e i d e g g e r i a n a , acerca da interpretação m a i s
adequada de Aristóteles. Embora considerados hoje e m dia como
a n t í p o d a s , estas d u a s correntes d e p e n s a m e n t o p o s s u e m u m débito e m
c o m u m para c o m Brentano. Este consiste n o f a t o d e a m b a s d e m o n s t r a -
r e m interesse, a s s i m c o m o B r e n t a n o , pelos múltiplos s i g n i f i c a d o s d o
ser e m Aristóteles e pela r e l a ç ã o pros hen p o s t u l a d a p e l o E s t a g i r i t a .

E m G . Ryle, B e r t i e n c o n t r a a m á x i m a c o n v e r g ê n c i a e n t r e Aristóteles e
u m filósofo c o n t e m p o r â n e o , ressaltando q u e as interpretações ryleanas
de A r i s t ó t e l e s , s a l v o p o r a l g u n s detalhes, s ã o h i s t o r i c a m e n t e i m p e c á -
veis. R y l e j u l g a v a ser Aristóteles o ú n i c o p e n s a d o r q u e h a v i a c o n s e g u i -
d o escapar ao d i l e m a m e n t e / c o r p o , p e r p e t u a d o p o s t e r i o r m e n t e p o r
Descartes, a l é m d e ter s i d o o f u n d a d o r t a n t o da lógica f o r m a l q u a n t o
d a lógica i n f o r m a l , o u seja, a lógica d a l i n g u a g e m c o m u m . M a i s a i n d a ,
ele a c r e d i t a v a q u e o Estagirita t a m b é m já h a v i a estabelecido a justa
r e l a ç ã o e n t r e essas d u a s lógicas.

Berti i n v e s t i g a , a s e g u i r , a p r e s e n ç a d e Aristóteles na o b r a de P. F.
S t r a w s o n . E m s e u l i v r o Individuais, d e 1959, S t r a w s o n r e p e n s o u
Aristóteles e m t e r m o s c o n t e m p o r â n e o s , c h e g a n d o até m e s m o a elabo-
r a r u m a " m e t a f í s i c a d e s c r i t i v a " , q u e ele acreditava ser t a m b é m o t i p o
de metafísica p r o p o s t o p e l o E s t a g i r i t a . A l é m de S t r a w s o n , Berti d e t é m -
se t a m b é m e m S. K r i p k e , D . W i g g i n s e D . W . H a m l y n , m o s t r a n d o de
q u e m o d o os d o i s p r i m e i r o s f o r a m i n s p i r a d o s pela d o u t r i n a d a subs-
tância f o r m u l a d a n o l i v r o V I I d a Metafísica ( a i n d a q u e n ã o t e n d o per-
m a n e c i d o fiéis a o t e x t o ) , e e m q u e m e d i d a o l i v r o d e H a m l y n ,
Metaphysics, d e 1981, é u m ó t i m o e x e m p l o d e u m p e n s a d o r a t u a l p r o -
f u n d a m e n t e i n s p i r a d o p o r A r i s t ó t e l e s . Por f i m o a u t o r d e b r u ç a - s e so-
bre a Escola de C a m b r i d g e , o n d e G . E. A s c o m b e e G . H . v o n W r i g t —
a m b o s d i s c í p u l o s de W i t t g e n s t e i n — p r e o c u p a d o s e m f u n d a r u m a ló-
gica da a ç ã o , i n v e s t i g a r a m d e t a l h a d a m e n t e o p r o b l e m a d a "inferência
p r á t i c a " e m Aristóteles. A q u i v e m o s c l a r a m e n t e m a n i f e s t o o interesse
pela f i l o s o f i a prática d o E s t a g i r i t a .

E m s u m a , Berti critica d e m o d o g e r a l neste c a p í t u l o a a p r o p r i a ç ã o ,


realizada p o r p a r t e d a f i l o s o f i a analítica, d a o b r a d e Aristóteles, p o r -
q u a n t o a m a i o r p a r t e d o s representantes dessa corrente filosófica t e n -
t a r a m r e d u z i r o m é t o d o d e A r i s t ó t e l e s ã análise d a l i n g u a g e m e o seu

110 I Síntese Nova Fase. Belo Horizonte, v. 23, n. 72, 1996


m é t o d o d e v a l i d a ç ã o ao senso c o m u m , n ã o reconhecendo n e m o p r i m a -
d o o n t o l ó g i c o da s u b s t â n c i a sobre as d e m a i s categorias, n e m o da subs-
tância i m ó v e l sobre as o u t r a s s u b s t â n c i a s , E f o i j u s t a m e n t e p o r esta
r a z ã o q u e Aristóteles, c o m o nos esclarece Berti, e l a b o r o u a sua teoria
d a a r g u m e n t a ç ã o e e m p r e e n d e u as suas análises s e m â n t i c a s , n ã o p o -
d e n d o estas, p o r t a n t o , s e r e m r a d i c a l m e n t e dissociadas d o p r i m a d o
o n t o l ó g i c o d a s u b s t â n c i a sobre as d e m a i s categorias e d o p r i m a d o da
s u b s t â n c i a i m ó v e l sobre as o u t r a s s u b s t â n c i a s , s e m c o m isso alterar
s i g n i f i c a t i v a m e n t e a p r ó p r i a d o u t r i n a d o Estagirita.

N o q u a r t o e ú l t i m o c a p í t u l o , B e r t i analisa a influência d e Aristóteles n o


r e s s u r g i m e n t o d a a n t i g a f i l o s o f i a prática na A l e m a n h a d o s anos seten-
ta. O s expoentes desta n o v a tendência p o l e m i z a v a m , d e u m l a d o , c o n -
tra a ciência política m o d e r n a i n s p i r a d a p o r M . W e b e r e, d o o u t r o ,
c o n t r a a t e n t a t i v a d e f u n d a m e n t a r a ética sobre o c o n h e c i m e n t o , tese
p r o p o s t a p e l a f i l o s o f i a analítica a n g l o - s a x ã . Esta tendência d i v i d i u - s e
e m d u a s vertentes: a dos q u e a p r e g o a v a m u m r e t o r n o à f i l o s o f i a prática
aristotélica e a d o s o u t r o s q u e a d v o g a v a m u m r e t o r n o a K a n t . A reto-
m a d a d a f i l o s o f i a prática d o Estagirita t a m b é m s e g u i u u m a d u p l a es-
tratégia: o r e c u r s o à n o ç ã o g r e g a d e polis c o n t r a o conceito d e Estado
m o d e r n o e a r e c u p e r a ç ã o d o saber p r á t i c o , m e n o s p r e z a d o a n t e os a v a n -
ç o s espetaculares mas d e s c o n t r o l a d o s da ciência m o d e r n a .

Berti i d e n t i f i c a m e s m o nos representantes da n o v a f i l o s o f i a política de


inspiração w e b e r i a n a , isto é, e m L . Strauss, E. V o e g e l i n e H . A r e n d t ,
u m a f o r t e p r e s e n ç a d e Aristóteles. A p ó s analisar a o b r a destes autores,
Berti passa a c o m e n t a r e m m a i o r e s detalhes a influência decisiva d o
Estagirita sobre os partidários d a reabilitação d a f i l o s o f i a p r á h c a . N a
A l e m a n h a d o s anos sessenta. H . G . G a d a m e r e J. R i t t e r restituíram ao
debate filosófico as n o ç õ e s de phrónesis e efhos, estudadas respectiva-
m e n t e p o r a m b o s . J á n o â m b i t o d o a r i s t o t e l i s m o prático a l g o - a m e r i c a -
n o , Berti i n v e s t i g a as obras d o e s c o c ê s A . M a c l n t y r e e d o inglês B.
W i l l i a n s , b e m c o m o d o i m i g r a n t e a l e m ã o H . Jonas e d o e c o n o m i s t a
a m e r i c a n o d e o r i g e m i n d i a n a A . Sen. A estratégia d e M a c l n t y r e f o i a d e
tentar restabelecer u m a ética a n c o r a d a na n o ç ã o de v i r t u d e e d e c o m u -
n i d a d e s locais, e n q u a n t o a d e W i l l i a n s f o i a d e apresentar a ética
aristotélica c o m o u m a a l t e r n a t i v a ao u t i l i t a r i s m o e ao n e o c o n t r a t u a l i s m o
atuais.

E m t o d o s esses p e n s a d o r e s , p o r é m , B e r t i d e n u n c i a u m d u p l o
r e d u c i o n i s m o a q u e f o i s u b m e t i d a a obra aristotélica. E m p r i m e i r o l u -
gar a t o t a l i d a d e da f i l o s o f i a d o E s t a g i r i t a f o i p o r eles r e d u z i d a à filoso-
f i a prática e, e m s e g u n d o l u g a r , a própria r a c i o n a l i d a d e prática f o i
r e d u z i d a à v i r t u d e , seja ela c o n c e b i d a c o m o v i r t u d e d i a n o é t i c a
(phrónesis), seja c o m o v i r t u d e ética c o n s t i t u i n t e d e u m a tradição {ethos).
S e g u n d o B e r t i a a t u a l i d a d e d e Aristóteles f o i m e l h o r c o m p r e e n d i d a p o r
H . Jonas e p o r A . Sen, q u e s o u b e r a m v a l o r i z a r o aspecto p r o p r i a m e n t e

Síntese Notia Fase, Belo Horizonte, v. 23, n. 72, 1996 111


filosófico d a r a c i o n a l i d a d e prática aristotélica. H . Jonas p e n s o u o b e m
c o m o o r i e n t a ç ã o da n a t u r e z a à c o n s e r v a ç ã o d a v i d a , e A . Sen c o r í c e b e u -
o c o m o o pleno desenvolvimento da capacidade humana.

A o f i n a l deste c a p í t u l o , Berti e x a m i n a a i n d a a " n o v a r e t ó r i c a " d e s e n v o l -


v i d a p o r C. P e r e l m a n nos anos c i n q ü e n t a , a d v e r t i n d o - n o s para o f a t o
de que o que este a u t o r d e n o m i n o u " r e t ó r i c a " era, na v e r d a d e , a dialética
de Aristóteles, e a "ética d o d i s c u r s o " e l a b o r a d a p o r K . O . A p e l e p o r
J. H a b e r m a s , q u e , e m b o r a n à o s e n d o aristotelistas, a p o i a r a m - s e consci-
e n t e o u i n c o n s c i e n t e m e n t e n o E s t a g i r i t a . C o m o e x e m p l o ele a l u d e ao
p a r a l e l o e x i s t e n t e e n t r e a " d e m o n s t r a ç ã o e l ê n t i c a " d o l i v r o I V da
Metafísica e o conceito d e s e n v o l v i d o p o r A p e l d e " c o n t r a d i ç ã o p r a g m á -
tica".

N a c o n c l u s ã o o a u t o r faz a i n d a u m r á p i d o repasso pelos representantes


d a " n o v a e p i s t e m o l o g i a " (P. F e y e r a b e n d e T. S. K u h n , entre o u t r o s ) e
analisa o d é b i t o deles para c o m A r i s t ó t e l e s . Ressalta especialmente os
casos de I . P r i g o g i n e , q u e v a l o r i z o u a física aristotélica c o m o u m a ciên-
cia q u e , ao c o n t r á r i o da ciência n e w t o n i a n a , se o c u p a d o d e s e n v o l v i -
mento real d o m u n d o , e de R.Thon, que a pensou como u m a
" s e m i o f í s i c a " , o u seja, c o m o u m a "física d a s f o r m a s s i g n i f i c a t i v a s " , n ã o
h e s i t a n d o e m reconhecer e m A r i s t ó t e l e s o " ú n i c o p e n s a d o r d o contí-
nuo".

B e r t i refere-se, p o r f i m , à p r o p o s t a metafísica d e M . G e n t i l e e d e seus


discípulos, que interpretaram a obra de Aristóteles como
" p r o b l e m a t i c í d a d e p u r a " e n ã o c o m o u m sistema acabado. E é c o m este
e s p í r i t o q u e B e r t i , firnalizando o seu l o n g o p e r c u r s o filosófico p e l o nos-
so s é c u l o , tenta j u s t i f i c a r o e s t u d o h o d i e r n o da f i l o s o f i a aristotélica.
Para ele Aristóteles o f e r e c e - n o s o m o d e l o e x e m p l a r d e u m "sistema
a b e r t o " , o u seja, o m o d e l o de u m a f i l o s o f i a q u e , d e u m l a d o , é u m
" c o m p l e x o a r t i c u l a d o e o r g â n i c o das partes, d o t a d o s i m u l t a n e a m e n t e
d e u m a g r a n d e d i f e r e n c i a ç ã o i n t e r n a , mas t a m b é m d e u m a certa u n i d a -
de, e, d o o u t r o , é u m sistema a b e r t o n o s e n t i d o d e q u e é suscetível de
c o n t í n u a s i n t e g r a ç õ e s " ( p . 261). É p o r essa " c o e r ê n c i a e l á s t i c a " , p o r essa
" l ó g i c a n à o - m o n o l í t i c a , mas a r t i c u l a d a e d ú c t i l " , e n f i m , p o r essa " u n i -
d a d e d i n â m i c a " , b e m c o m o pela sua " h o n e s t i d a d e e c l a r e z a " e p e l o seu
" a m o r pela e x p e r i ê n c i a " q u e A r i s t ó t e l e s , s e g u n d o B e r t i , nos é i m p r e s -
c i n d í v e l . D o m e s m o m o d o q u e este l i v r o d e B e r t i t a m b é m o será para
q u e m q u i s e r t r i l h a r os vestígios d e i x a d o s p o r Aristóteles n o pensamen-
t o filosófico d o s é c u l o X X , a f i m d e c o m p r e e n d e r m e l h o r t a n t o as refle-
x õ e s filosóficas atuais q u a n t o a p r ó p r i a f i l o s o f i a d e Aristóteles.

Endereço do Autor
Rua Frei Caneca, 546 / ap. 1402
01307-000 Sào Paulo — SP

1 112 1 Síntese Noi'a Fase, Belo Horííonte. v. 23. n. 72, 1996

Você também pode gostar