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Consciência/alienação:

a ideologia no nível
individual*
S ilv ia T a tia n a M a u r e r L a n e **

O indivíduo sujeito da história é constituído de suas relações


sociais e é, ao m esm o tem po, passivo e ativo (determ inado e deter­
m inante). Ser m ais o u m enos atuante com o sujeito da história
depende do grau de autonom ia e de iniciativa que ele alcança. Assim
ele é história na m edida em que se insere e se define no conjunto de
suas relaçòes sociais, desem penhando atividades transform adoras
destas relações; o que im plica, necessariam ente, atividade prática e
inteligência, tào inseparáveis quanto, n o nível da sociedade, são
inseparáveis a infra e a superestrutura, e cuja unidade é estabelecida
por um p r o c e s s o cujo agente exclusivo é a atividade hum ana em suas
diferentes formas.
£ dentro deste contexto que devem os analisar com o a id eo­
logia, presente em atividades superestruturais da sociedade, se
reproduz a nível individual, levando-o a se relacionar socialm ente de
form a orgânica e reprodutora das condições de vida, e tam bém

(*> Este capitulo foi publicado com o título “ Ideologia no Nfvel


Individual" in EducaçSo e Sociedade, n? 14, abril da 1963, Sfio Paulo.
( **) Participaram das discussões que deram origem ao texto os
Professores Antonio da C. Ciampa, Bader B. Sawaia, Brigido V. Camargo,
Carlos Peraro Filho, Dirceu Pinto Malheiro, Elíana Bertolucci, Maribele Vieg as,
Marilia Fozati, Mariae R. Vianna, Odalr Furtado, Suefy Ongaro, Wsnderfey
Codo « Luiz A . ftahal, membros de um grupo de pesquisa do pós-GraduaçSo
em Psicologia Social da PUC-SP.
A S CATEGORIAS FU ND A M EN TA IS D A PSICO LOG IA SOCIAL 41

com o, n o plano d a ideologia, o indivíduo se tom a consciente dos


conflitos existentes n o plano da produção de sua vida m aterial.
O hom em com o ser ativo e inteligente se insere historicam ente
em um grupo tocial através d a aquisição d a linguagem , condição
básica para a com unicação e o desenvolvim ento de suas relações
sociais e, conseqüentem ente, de sua própria individualidade.
A linguagem , enquanto produto histórico, traz represen­
tações, significados e valores existentes em u m grupo social, e com o
tal é veiculo da ideologia do grupo; enquanto para o indivíduo é
tam bém condição necessária para o desenvolvim ento de seu pen sa­
m ento.
Ê preciso ressaltar que nem todas as representações implicara
necessariam ente reprodução ideológica; esta se m anifesta através de
representações que o indivíduo elabora sobre o Hom em , a Socie­
dade, a R ealidade, ou seja, sobre aqueles aspectos da sua vida a
que, explícita ou im plicitam ente, são atribuídos valores de certo-
errado, de bom -m au, de verdadeiro-falso. N o plano superestrutural
a ideologia é articulada pelas instituições que respondem pelas
form as jurídicas, políticas, religiosas, artísticas e filosóficas; no
plano individual, elas se reproduzem em fu n ção da história de vida e
d a inserção específica de cada indivíduo. D esta form a a análise da
ideologia deve, necessariam ente, considerar tanto o discurso on de
são articuladas as representações, com o as atividades desenvolvidas
p elo indivíduo. A análise ideológica é fundam ental para o conhe­
cim ento psicossocial pelo fato de ela determ inar e ser determ inada
pelos com portam entos sociais do indivíduo e pela rede de relações
sociais que, por sua vez, constituem o próprio indivíduo.
N este sentido, podem os entender com o é que no plano
ideológico, o indivíduo pode se tom ar consciente ao detectar as
contradições entre as representações e suas atividades desem pe­
nhadas n a produção de sua vida m aterial.
Q uando falam os em consciência de si com o sendo neces­
sariam ente consciência social, a alienação definida pela psicologia
em term os de doença mental, neuroses, etc., se aproxim a da
concepção sociológica de alienação.
Se no plano sociológico é feita a análise da relação de
dom inação entre as classes sociais, definidas pelas relações de
produção da vida material da sociedade, esta relação se reproduz
através da m ediação superestrutural, via instituições que prescre­
vem os papéis sociais e que determ inam as relações sociais de cada
indivíduo.
42 SILVIA T . M . LANE

A alien ação se c a ra c te riz a , o n to lo g icam en te , p e la a trib u iç ã o


de “ n a tu ra lid a d e ” aos fato s sociais; e sta in v e rsão do h u m a n o ,
d o so cial, do histórico, co m o m a n ife sta ç ã o d a n a tu re z a , faz com q u e
to d o co n h ecim en to seja av aliad o em te rm o s d e v erd ad e iro o u falso e
de u n iv e rsa l; neste p ro cesso a “ co n sciên cia” ê reificad a, negando-se
com o processo, ou seja, m a n te n d o a a lie n aç ã o em rela ção ao que ele
é c o m o pessoa e, co n se q ü e n te m e n te , ao q u e ele é socialm ente.
N este p onto se to m a necessário d istin g u ir, em term os d e
níveis, consciência social de con sciên cia de classe; e sta ú ltim a é u m
pro cesso essen cialm en te g ru p a i e se m a n ife s ta q u a n d o indivíduos
co n scie n tes de si se p e rc e b e m su jeito s d a s m e sm as d eterm in açõ es
h istó ric a s que os to m a ra m m em b ro s d e u m m esm o g ru p o , inseridos
n a s re la çõ es de p ro d u ç ã o q u e c a ra c te riz a m a so ciedade n u m d ad o
m o m e n to . N esta p ersp ectiv a, o p e rte n c e r a u m g ru p o cu jas ações
ex p ressa m u m a con sciên cia de classe p o d e s e r co n d ição p a ra que u m
in d iv íd u o desencadeie u m processo d e co n scie n tização de si e sociaL
D e s ta fo rm a, consciência de classe é u m a ca te g o ria b asica m en te
sociológica, e n q u a n to co n sciência d e-só-social é u m a c ateg o ria
psico ló g ica. P o rém elas são intersociâveis n o p la n o d a ação, ta n to
in d iv id u a l com o g ru p a i.
O in dividuo co nsciente de si, n ec e ssa ria m e n te , tem co n s­
ciên cia d e sua p e rtin ê n c ia a u m a classe so cial; e n q u a n to individuo,
e s ta co n sciência se p ro c e ssa tra n s fo rm a n d o ta n to as su as ações a ele
m esm o; p o ié m , p a ra u m a a tu a ç ã o e n q u a n to classe, ele n ecessa­
ria m e n te deve e s ta r in serid o em u m g ru p o q u e age e n q u a n to tal (p o r
ex em p lo , u m a greve, u m a assem bléia, ex ig em g ru p o s o rg an iz ad o s
em to rn o de u m a co n sciên cia c o m u m d e su a condição social).
P erm an e ce em a b e rto u m a q u estão : o q u e ocorre com u m
in d iv íd u o consciente e m u m g ru p o a lie n a d o ? O u seja, as c o n tra ­
dições sociais estão c la ra s , m a s ele é im p e d id o , a nível g ru p a i, de
q u a lq u e r ação tra n s fo rm a d o ra — n ão se ria e sta u m a situ a ç ã o
g e ra d o ra de d o en ça m e n ta l, com o fu g a d e u m a re a lid a d e in s u s ­
te n tá v e l? (É a h ip ó tese le v a n ta d a p o r A . A b ib A n d ery .)
A q u estão d a a lien aç ão — co n sciê n cia só p o d e rá ser a n a ­
lisa d a , n o p la n o in d iv id u a l, e n q u a n to p ro cesso q u e envolve, n e c e s­
sa ria m e n te , p e n sa m e n to e açã o , m e d ia d o s p ela linguagem — p r o ­
d u to e p ro d u to ra d a h is tó ria d e u m a so cied a d e.
O hom em age p ro d u z in d o e tra n s fo rm a n d o o seu a m b ie n te e
p a r a ta n to ele p e n sa , p la n e ja su a ação e d e p o is de execu tad a, e la é
p e n s a d a , av aliada, d e te rm in a n d o ações su b se q ü e n te s, e este p e n sa r
A S CATEGORIAS FU NDA M E NTA IS DA PSICOLOGIA SOCIAL 43

se d á a tra v é s dos significados tra n s m itid o s p e la lin g u ag em a p re n ­


d id a .
P o r o u tro lado, q u a lq u e r açã o im p lic a, n ece ssariam en te, u m a
n ã o -a ç ã o , e elas só p o d em coexistir n o p e n sa m e n to ; e n q u a n to
a tiv id a d e ou o in d iv íd u o age ou n ão-age, to rn a n d o o p e n s a r u m a
a tiv id a d e fu n d a m e n ta l, prevendo c o n seq ü ên c ias e levando a u m a
decisão q u e se tra n s fo rm a e m ação o u não^ação. O p ção fe ita ,
n o v a m e n te ela é p e n s a d a em te rm o s “ e s e ... m a s ... p o r ta n to ...” , o u
seja, ^ c o n tra d iç ã o e n tre a a ç ã o /n ã o -a ç ã o é p e n s a d a , agora, com o
av a lia ç ã o ou ju stific a tiv a p a ra a decisão to m a d a .
E s ta ju stificativ a, m e d ia d a p e la lin g u a g e m , é u m p ro d u to
subjetivo q u e p o d e rá e s ta r re p ro d u zin d o a ideologia com co n te ú d o s
p ró p rio s à s esp ecificid ad es do indivíduo* A re p ro d u ç ã o d a ideologia
(e n q u a n to p ro d u to su p e re stru tu ra !) com o p ro d u to subjetivo de
a ç ã o -p en sa m e n to tem» n ece ssariam en te, su a s raízes histó ricas, n a
m e d id a e m que a lin g u ag em p rese n te n o p e n s a r é u m p ro d u to d o
g ru p o social ao q u a l o in divíduo p e rte n c e , m e d ian d o as relações
sociais e re p ro d u z in d o , n o con ju n to d e seus sig nificados, a ideologia
do g ru p o d o m in a n te e su a s m anifestações esp ecíficas no g ru p o social
ao q u a i o indivíduo perte n ce.
O p e n s a r u m a ação p o d e sim p le sm e n te re p ro d u z ir essa
id eo lo g ia, n a m e d id a e m que se su b m ete ou a re p ro d u z através de
explicaçõ es do tipo “ é assim q u e deve ser, é assim que se faz*1.
P o ré m , o p e n s a r u m a a çà o p o d e s e r um co n fro n to d a s
possíveis co nseqüências ta n to im e d ia ta s co m o m e d ia ta s. E ste p e n s a r
re c u p e ra experiências a n te rio re s, q u a n d o ações tra n sfo rm a ra m o
a m b ie n te e o u tra s, o m itid a s, m a n tiv eram o s ta tu s q u o , a p e sa r de te r
h a v id o u m a necessid ad e que g e ro u a c o n tra d iç ã o e n tre fa z e r/
n ã o fa ze r. R efletir sobre estas c o n tra d içõ es e su as co n seq ü ên cias
f a r á co m q u e a ação deco rren te seja u m av an ço no processo de
c o n scie n tiz ação . Se e s ta reflexão n ão o c o rre , o p e n s a r a a çã o se
c a ra c te riz a rá p o r u m a re sp o sta p ro n ta , tid a com o “ v e rd a d e ira ” , j á
e la b o ra d a pelo g ru p o , re p ro d u zin d o a id eo lo g ia e m a n te n d o o
in d iv íd u o alien ad o .
D e sta fo rm a o p e n s a r a ç ã o /n ã o -a ç ã o — a g ir/n a o -a g ir e
re p e n s a r o f e it o /n â o - f e it o tra z em si c o n tra d iç õ e s que p odem ser
resolvidas atrav és de u m a explicação, d e u m a ju stificativ a q u e
e n c e rra o processo com um a elab o ra ç ã o ideológica. P orém se a
c o n tra d iç ã o é e n fre n ta d a , é a n a lisa d a c ritic a m e n te e é q u e stio n a d a
no c o n fro n to com a realid ad e, o processo tem c o n tin u id a d e , o n d e
c a d a ação é ren o v ad a e re p e n sa d a , a m p lia n d o o â m b ito de a n álise e
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da própria ação, e tem com o conseqüência a conscientização do


indivíduo.
Em contraposição, as respostas a ações habituais são exata­
m ente aquelas que se reproduzem sem que ocorra o pensar, tanto
antes com o depois. N a m edida em que estas ações im plicam valores
e relações sociais» elas estarão, obrigatoriam ente, reproduzindo a
ideologia dom inante, m antendo as con d ições sociais, ou seja, elas
não transformam nem as relações sociais d o indivíduo nem a ele
m esm o — é a persistência da alienação. (N esse sentido pode-se
entender como, não só o trabalho repetitivo e m ecânico de um
operário, m as tam bém qualquer atividade rotineira contribui para a
alienação do ser humano*)
E sta linha de análise nos perm ite precisar com o a ideologia
dom inante enquanto produção superestrutural d a sociedade, com o
um a “ lógica” que, ao nível individual, se traduz com especifícidades
e peculiaridades decorrentes da história de vid a d o indivíduo dentro
d e seu grupo social, ou seja, do conjunto das relações sociais que
constituem o indivíduo.
Concluindo, tem os com o decorrência m etodológica desta aná­
lise, a necessidade de pesquisar as r e p r e s e n ta ç õ e s (linguagem -
pensam ento) juntam ente com as a ç õ e s de um indivíduo, este defi­
nido pelo conjunto de suas relações sociais, para se chegar ao
conhecim ento de seu nivel de con sciên cia/alien ação num dado
m om ento.

Implicações metodológicas

C om o captar o id e o ló g ic o e o nível de consciência de um


indivíduo, num dado m om ento, apresenta-se com o problem a
fu ndam ental para a pesquisa em Psicologia Social, quando ela se
propõe a conhecer o indivíduo com o ser concreto, inserido num a
totalidade histórico-social.
Inicialm ente é necessário explicitar alguns pressupostos epis-
tem ológicos tais com o a relação entre teoria e fatos e a não-neutra-
lidade científica. N a superação d a dicotom ia entre teoria, de um
lado, e o em pírico, de outro, o m aterialism o dialético se propõe a
conhecer o concreto, distinto do em pírico, e produto de um a análise
que, partindo do em pírico, o insere num processo o qual perm ite
detectar com o são estabelecidas relações que n o s levam a conhecer o
AS CATEGORIAS FU NDA M E NTA IS D A PSICOLOGIA SOCIAL 45

indivíduo com o m anifestação de um a totalidade» A ssim , fatos e


teoria se tom am indissociáveis, tom an do o processo cientifico
necessariam ente acum ulativo em direção ao concreto proposto e, a
ciência, um conhecim ento relativizado com o produção histórica.
N este sentido definições abstratas perdem significado, pois se antes
a generalização caracterizava o conhecer, agora é a especificidade
do fato, com preendido em todas as suas im plicações, que se tom a o
objetivo d o conhecim ento científico*
D esta form a a ênfase m etodológica está n a análise que perm i­
tirá, a partir do empírico, do aparente, do estático, e, recuperando o
processo histórico específico, chegar-se ao essencial, ao concreto. E
isto só é possível através de categorias que nos levam, gradati-
vam ente, a análises m ais profundas, visando captar a totalidade.
A ciência vista com o produto histórico tam bém se relativiza
com o produção hum ana e, portanto, perde sua condição de
"neutra*1, pois é sem pre fruto de hom ens situados social e histo­
ricam ente que determ inam o prism a pelo qual os fatos são
enfocados, ou seja, as necessidades e valores privilegiados por um
grupo social naquele m om ento.
N a m edida em que os fatos estudados im plicam um a inserção
histórica, não importa quais as especificidades analisadas, o conhe­
cim ento necessariam ente se processa de form a acumulativa» tanto
quando realizado num m esm o m om ento, com o em diferentes
épocas; o acum ulativo decorre da análise histórica que nos leva ao
conhecim ento do indivíduo com o m anifestação de um a totalidade.
E stes pressupostos determinam procedim entos m etodológicos
para a Psicologia Social, fundam entais para se atingir o concreto, ou
seja, o indivíduo com o m anifestação da totalidade histórico-soçial,
que vão desde de qual “empírico" devem os partir até que dim ensão
interdisciplinar deva ser abarcada.
Se considerarm os, como Leontiev, atividade, consciência e
personalidade as categorias fundam entais de análise do fato psico­
lógico, tem os com o p on to de partida essencial a linguagem , o
discurso produzido pelo indivíduo, que transm ite a representação
que ele tem do m undo em que vive, ou seja, a sua realidade
subjetiva, determ inada e determinante de seus com portam entos e
atividades.
A ssim , para se detectar o ideológico e /o u o nível de con s­
ciência, partim os do discurso individual produzido na interação com
o pesquisador e que deverá ser analisado através de categorias que
em eijam do próprio discurso e que o esgotem em todos os significa­
46 S1LVJAT. M, LANE

dos possíveis, ta n to em rela ção ao q u e foi dito com o ao “ não-


d ito ” . V árias técn icas têm sido u tiliz a d a s p a r a se ch eg ar às c ateg o ­
rias fu n d a m e n ta is d e u m discurso, d esd e a A A D de P ech eu x até às
m enos e s tru tu ra d a s q u e c o m b in am o d ito e o não -d ito , ou aq u elas
que a n a lisa m as relaçõ es d e su b o rd in a ç ã o , co m p le m e n ta rid a d e
e tc ., seja g ra m a tic a l ou im p lic ita m e n te p resen te s no discurso. O
im p o rta n te é o c a r á te r a p o ste rio ri d a s c a teg o rias que perm ite
e la b o ra r u m a "sín tese p re c á ria ” que d ire c io n a an álises m ais am p la s
e p ro fu n d a s.
C om este p ro ce d im e n to o P ro b le m a é a n te s u m p o n to de
p a rtid a do que de ch e g a d a , p o d e n d o ser re fo rm u la d o a c a d a nível de
a n álise, no co n frô n to co m a a çã o do in d iv íd u o e com as condições
q u e cerc am a p ro d u ç ã o do discurso.
T a m b é m co m o d eco rrên cia deste p ro c e d im e n to , o p ro b le m a
re fe re n te a am o strag em assu m e o u tra c a ra c te rístic a , pois n ão se
p ro c u ra a gen eralização m a s sim a esp ecificid ad e d en tro d e u m a
to ta lid a d e e, p o rta n to , os indivíduos e s tu d a d o s sào escolhidos em
fu n ção d e aspectos ou condições c o n sid e ra d a s significativas e que
m u ita s vezes não p o d em ser pré-definidas* m as que em ergem d a
p ró p ria an álise que vem sendo feita.
D e ste m odo o p e sq u isa r é ta m b ém u m a “ p rá x is ” : se p a rte do
em p írico , se an a lisa , se “ te o riz a '’, se v o lta ao em pírico e assim p o r
d ia n te , se a p ro fu n d a n d o g ra d a tiv a m e n te p a ra se c a p ta r o processo
no q u a l o em pírico se insere. C h eg ar ao c o n c re to , à to ta lid a d e é u m a
p ro d u ç ã o coletiva o n d e as la c u n a s a p o n ta d a s p elas “ sínteses p re c á ­
ria s” sào tã o fu n d a m e n ta is q u a n to os co n h ec im e n to s desenvolvidos.
O u tro aspecto de vital im p o rtâ n c ia é a relação pesq u isad o r-
p esq u isa d o , que n e ste processo deve s e r c o n sid e ra d a com o u m a
re la ç ã o in e ren te a o fato e stu d a d o , se n d o q u e o p e sq u isa d o r é
ta m b é m objeto de e stu d o e an álise ta n to p o r ele p ró p rio com o pelo
p e sq u isa d o . N esta perspectiva n ão é possível dissociá-lo pois ele
ta m b é m é p a rte m a teria l d a re a lid a d e e m e stu d o , e q u a n d o a su a
a tu a ç ã o , a su a p resen ça é a n a lis a d a n ã o o é em term os d e evitar
“ vieses” ou de se a tin g ir u m a o b jetiv id ad e, m as sim d e c a p ta r a
n â o -n e u tra lid a d e com o m a n ifestaç ão d e u m processo que se está
p ro c u ra n d o co m p re en d er e m to d a a s u a ex ten são . P o r o u tro lado,
a p e sq u isa em Psicologia Social, lid an d o co m seres h u m a n o s, deverá
te r se m p re presente q u e o p a p e l in stitu c io n a liz a d o d e p e sq u isa d o r
em n o ssa sociedade tra z consigo o c a rá te r d e d o m in ação e com o ta l
re p ro d u z a ideologia d o m in an te; se n ão q u ise rm o s e la b o ra r co n h e­
c im en to s c o n ta m in a d o s id eo lo g icam en te, este fa to deve m erecer
AS C A TEG ORIAS FU NDAM EN TAIS D A PSICOLOGIA SOCIAL 47

u m a a te n ç ã o fu n d a m e n ta l no p la n e ja m e n to de procedimento»,
reg istro s e an álise do fa to pesquisado.
C o n h ece r ideologia e /o u nível de co n sciê n cia im p lica tam bém
o e stu d o d a s relações g ru p a is q u e se pro cessam desde a rep ro d u ç ã o
c ris ta liz a d a de p a p é is e, ctrnio ta l, d a id eo lo g ia d o m in an te, a té o
q u e stio n a m e n to d as relaçõ es de d o m in a ç ã o e d as co n tra d iç õ e s p o r
elas g e ra d a s. N este nível é necessária a an álise das ativ id ad e s
desenvolvidas pelo g ru p o , assim com o o d iscu rso p ro d u zid o pelos
seus m e m b ro s. O co n fro n to en tre o nivel do d iscurso e o nível d a
a ç ã o é essencial p a r a se co m p reen d er o indiv íd u o , seja e n q u a n to
r e p ro d u to r de ideologia com o p a r a a n á lise d e seu nível de c o n s ­
ciência- N este m o m en to a observação p a rtic ip a n te é fu n d a m e n ta l e
n o ssa ex p eriên cia te m d em o n strad o q u e p o r m e n o r q u e seja a p a r ti­
c ip a ç ã o a p a re n te do p esq u isad o r, ela o c o rre com c a ra c te rístic a s
decisivas q u e n ão p o d em ser d esco n sid era d as no fato em e stu d o .
C o n clu in d o p o d em o s re ssa lta r a lg u n s p ontos-chave p a ra u m a
nova m etodologia de p esq u isa em P sicologia Social:
1) as definições e çonç.çitos ap rio rístico s sã o dispensáveis, q u a n d o
n ã o , restritiv os p a r a a atividade de p esq u isa r;
2) p o r o u tro lado, categ o rias que nos rem e tem aos vários níveis
de a n álise p e rm ite m ch eg ar à m a te ria lid a d e do fato, ao c o n ­
c re to q u e está sob o em pírico a p are n te;
3) a p e s q u is à com o “p rá x is1* im plica, n ece ssariam en te, in te r v e n ­
ção e a cu m u la çã o d e conhecim entos;
4 ) t as la c u n a s no conhecim ento são tão im p o rta n te s q u a n to o c o n h e ­
cido, se não m a is, pois são elas q u e p e rm itirã o a p ro fu n d a r e
rev er as an álises já realizadas.

Bibliografia

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