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A n d e ry
A lfre d o N a ffa h N e to J o s é R. T . Reis
A n to n io d a C. C ia m p a M a rília G. d e M ira n d a
Iray C a ro n e S ilvia T . M . Lane (org.)
J o s é C. L ib ân eo W a n d e rle y C o d o (o rg .)
PSICOLOGIA SOCIAL
o h o m e m e m m o v im e n to
8?
e d iç ã o
editora brasiliense
C oleçào P rim eiros Passos
PSICOLOGIA SOCIAL
O H O M E M EM M O V IM E N T O
&? edição
editora brasiliense
C opyrig ht © Dos Autores, 1984
N enhum a parte desta publicação p o d e ser gravada,
armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada,
reproduzida por meios mecânicos ou outros quaisquer sem
autorização prévia do ed ito r .
ISBN: 85-11-15023-4
Primeira edição, 1984
S? edição, 1989
P
Rua da Consolação, 2697
01416 São Paulo SP
Fone (OU) 280-1222 - Telex: 1133271 D BLM BR
IM PRESSO N O BRASIL
Identidade
A n to n io d a C osta C ia m p a
O q u e é id e n tid a d e ?
J á vim os q u e n o s satisfazer com a co n ce p ç ã o de que se t r a t a d a
re sp o sta d a d a à p e rg u n ta “ quem sou e u ? ” é p o u co , é in satisfató rio .
E la c a p ta o a sp ecto re p re se n ta c io n a l d a noção de id e n tid a d e
(e n q u a n to p ro d u to ), m a s deixa de lado seus aspectos constitutivo,
de p ro d u ç ã o , bem com o as im p licações recíp ro cas destes dois
aspectos.
M esm o assim , nosso p o n to de p a r tid a p o d e rá ser a p ró p ria
re p re se n ta ç ã o , c o n sid e ra n d o -a ta m b ém co m o processo d e p ro d u ç ã o ,
de ta l fo rm a que a id e n tid a d e passe a ser e n te n d id a com o o p ró p rio
processo de id en tificação .
D iz e r q u e a id e n tid a d e de u m a p esso a é u m fenôm eno social e
não n a tu ra l é aceitável p ela g ran d e m a io ria dos cien tistas sociais.
E x a ta m e n te isso nos p e rm itirá c a m in h a r. C om efeito, se e s ta
b elecerm os u m a d istin ção en tre o o b je to d e n o ssa rep rese n ta ç ã o e a
sua re p re se n ta ç ã o , verem os que am bos se a p re se n ta m com o fe n ô
m enos sociais, co n seq ü en tem en te com o o b je to s sem c a ra c te rístic a s
de p e rm a n ê n c ia , n ão sen d o in d ep e n d e n te s u m do ou tro .
N ão podem os iso la r de u m la d o todo um c o n ju n to de
elem en to s — biológicos, psicológicos, sociais, etc, — que p o d em
c a ra c te riz a r u m in d iv íd u o , id en tifican d o -o , e d e o u tro la d o a
re p re se n ta ç ã o desse indiv íd u o com o u m a d u p licaçã o m e n tal ou
sim bólica, q u e exp ressaria a sua id e n tid a d e . Isso p o rq u e h á com o
que u m a in te rp e n e tra ç ã o desses dois a sp ecto s, de ta l fo rm a q u e a
in d iv id u a lid a d e d a d a já pressupõe u m p ro cesso a n te rio r de re p re
sen ta ç ã o q u e faz p a r te d a co n stitu ição do indiv íd u o re p re se n ta d o .
Por exem plo, a n te s d e nascer, o n a sc itu ro já é rep rese n ta d o com o
filho d e alg u ém e essa re p re se n ta ç ã o p rév ia o co n stitu i efetivam ente,
o b je tiv am en te , com o “ filho” , m e m b ro de u m a d e te rm in a d a fa m í
lia; p o sterio rm en te , essa rep resen tação é assim ila d a pelo in divíduo
í \ c ta l fo rm a q u e seu processo in te rn o d e rep rese n ta ç ã o é in c o r
p o ra d o n a su a o b je tiv id ad e social co m o filho d a q u e la fam ília.
66 ANTONIO D A COSTA CIAMPA
p a ssa n d o a ser vista com o sim ples m a n ife sta ç ã o de u m ser idêntico a
si-m esm o n a sua p e rm a n ê n c ia e estab ilid ad e.
A m esm ice de m im é p ressu p o sta com o d a d a p e rm a n e n te m e n te
e n ã o com o reposição d e u m a id e n tid a d e q u e u m a vez foi p o sta .
V ejam os u m exem plo: q u a n d o alg u é m é iden tificad o com o
" p a i” ? P ode-se re sp o n d e r q u e é q u a n d o n asce u m a c ria n ç a g e ra d a
por esse indivíduo; esse fato, c o n tu d o , assim co n sid erad o a in d a é
um fa to físico, e ser “ p a i" é um fato social.
A p a te rn id a d e to rn a -se uni fenôm eno social q u a n d o aq uele
evento físico é classificado com o tal, p o r ser c o n sid e ra d o eq u iv alen te
a o u tra s p a te rn id a d e s prévias. O p ai se id e n tific a (e é iden tificad o )
com o ta l p o r se e n c o n tra r n a situ ação e q u iv alen te de o u tro s p ais
t afin al, ele ta m b ém é filho de u m p ai), Se ele é p a i e a m esm ice de si
está a sse g u ra d a , sua id e n tid a d e de p ai e stá c o n s titu íd a p e rm a n e n
tem en te; de fato, ele se “ to rn o u ” p a i e assim p e rm a n e c e rá e n q u a n to
reco n h ecer e for re co n h e cid a essa id e n tid a d e , ou seja, e n q u a n to e la
estiver sen d o resposta co tid ia n a m e n te . O ra , m a s ao m esm o tem p o
ele ta m b é m é filho; esse “ o u tro ” q u e ele é, é n e g a d o n a su a p osição
com o p a i, pois se ele perm anecesse com o filho, a posição de seu filho
e staria a m e a ç a d a , j á que a diferença n ão se e stab e lece ria.
D e ssa form a, c a d a posição m in h a m e d e te rm in a , fazendo com
que m in h a existência co n c re ta seja a u n id a d e d a m ultip licid ad e, q u e
se re a liz a pelo desenvolvim ento dessas d eterm in a çõ es.
E m c a d a m o m en to de m in h a ex istên cia , e m b o ra eu seja u m a
to ta lid a d e , m an ifesta-se um a p a rte de m im com o d e sd o b ra m e n to
das m ú ltip la s d eterm in açõ es a que estou sujeito. Q u a n d o e sto u
íren te a m e u filho, relaciono-m e com o p ai; com m e u pai, co m o
filho; e assim por d ia n te . C o ntudo, m eu filh o n ão m e vê a p e n a s
com o p a i, nem m eu p a i a p e n a s me vê com o filho; nem eu co m p areço
fren te aos o u tro s a p e n a s co m o p o rta d o r de u m ún ico p a p e l, m as sim
com o o rep re se n ta n te de m im , com to d a s m in h a s determ in açõ es q u e
me to rn a m um indiv íd u o concreto. D esta fo rm a , estabelece-se u m a
in trin c a d a réde de rep resen taçõ es q u e p e rm e ia to d a s as relações,
onde c a d a id e n tid a d e refle te o u tra id e n tid a d e , d e sap arec en d o q u a l
q u e r p o ssib ilid ad e de se estab e lece r um fu n d a m e n to o rig in ário p a r a
c a d a u m a delas.
E ste jo g o de reflexões m ú ltip las q u e e s tru tu ra as relações
sociais é m a n tid a p ela ativ id ad e dos in d iv íd u o s, d e ta l fo rm a q u e é
licito dizer-se que as id e n tid a d e s, no seu co n ju n to , refletem a
e s tru tu ra social ao m esm o tem po q u e re a g e m sobre ela c o n se r
van d o -a ou a tra n sfo rm a n d o .
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Bibliografia