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Agora

Lembra-te De Que
Sou Medéia
Medea nunc sum

ISA BELLE STENGERS

u
P A Z U L IN
Lembra-te De Que Sou
Medéia
Isabelle Stengers

Lembra-te De Que Sou


Medéia
Medea nunc sum

Prefácio
Carlos Henrique Escobar
Tradução
Hortência S. Lencastre

PAZULIN
Rio de Janeiro
Copyright by © Éditions Synthelabo
Título Original: Souviens Toi Que Je Suis Médée

Catalogação na fonte pelo Depto. Nacional do Livro

S8251
Stengers, Isabelle, 1949-
Lembra-te de que sou Medéia/Isabelle Stengers;
prefácio Carlos Henrique Escobar; tradução Hor-
tência S. Lencastre. - Rio de Janeiro: Pazulin,
2000 .
64p. ; 10,5 X 15cm.

ISBN 85-86816-07-8

Tradução de: Souviens toi que je suis Médée.


1. Euripides. Medéia. 2. Medéia (Mitologia gre­
ga). 3. Teatro grego (Tragédia)-História e crítica.
4. Mulheres na literatura. I. Lencastre, Hortência
Santos. II. Título.
CDD-809.881

Tradução Revisão
Hortência S. Lencastre Marcello Lino
Direitos para esta edição contratados com
PAZULIN EDITORA LTDA.
Rua Senador Dantas, 117/342 Rio de Janeiro, RJ
20031-201 tel (21) 9184-9722 tel/fax (21) 225-2215
pazulin@pontocom.com.br
Sumário

Medeia: O Pensamento Dobrado, 9

Lembra-te De Que Sou Medéia, 25

Notas, 55
Medéia:
0 Pensamento Dobrado
“M I D É I A ” n ã o é a p e n a s u m
p e rso n a g e m o u u m a d as tra g é ­
d ias d e E u rip id e s, ela c a ra c te ri­
za, m ais d o q u e q u a lq u e r o u tr a
tra g é d ia, a fo rça e a ra d ic a lid a d e

9
Prefácio

d e u m q u e s tio n a m e n to . D e u m
q u e s tio n a m e n to q u e se e x p e ri­
m e n ta c o m o vida e c o m o p e n s a ­
m e n to , e q u e o a sse m b le ísm o
tr á g ic o q u e s u b s ta n c ia liz a as
tra g é d ia s gregas m a n ife sta n o s
c o n v o c a n d o . Tal c o m o u m “Édi-
p o R ei”, u m “A g a m e n o n ”, u m
“O re s te s ”, u m “F ilo c te to ”, m as,
s o b re tu d o , n o s p e rso n a g e n s
trág ico s fem in in o s c o m o Clitem -
n e s tra , A n tíg o n a e, p a rtic u la r­
m e n te , M edéia.

A u ferir a carga d e reflex ão —e


a té u m a c e rta d o u tr in a - n a s

10
Lembra-te De Que Sou Medéia

trag éd ias gregas d ev eria se r ad-


v in h á -la s, ta m b é m , c o m o u m
tip o s in g u la r d e p e n s a m e n to
ju n to às o rig e n s d a s filosofias
g re g a s . N ão m a is a p e n a s u m
A n ax im an d ro , u m P a rm ê n id e s e
u m H eráclito , m as, tam b ém , És-
q u ilo , S ó fo cles e as tra g é d ia s
(co m o As acntes)d o v elh o E u­
B
rip id e s, q u e se d e fro n ta ra m n o
te m p o co m o v o lu m e e a im p e r­
tin ê n c ia d e p e n s a m e n to s co m o ,
p o r ex em p lo , o d e P latão e o d e
A ristóteles.

li
Prefácio

M edéia é u m g rito , u m a im a­
g e m d e s e n ra iz a d a e a é re a q u e
a tro p e la , s u rp re e n d e e p aralisa
o p ro je to G reg o -O cid en tal. Ela
se q u e r u m a o u tra co isa - co m o
faz v e r Isabelle S ten g ers —q u e “a
m ãe g reg a”, q u e “a m u lh e r d o
h o m e m ”, q u e “a m ãe d o s filhos
d o h o m e m ”. C o m o D io n iso ( em
As bacantes) ela c h e g a so rra te i­
ra a té o in te rio r d o p alácio - e
p o u c o im p o rta c o m o —e, lá d e
d e n tro , im p lo d e os lugares, os
p a p é is e, s o b re tu d o , as certezas
d o s “h o m e n s ”.

12
Lembra-te De Que Sou Medéia

A p e r p l e x id a d e d e P e n te u
fre n te a D io n iso —é h o m em ? é
m u lh er? etc. —é a p e rp le x id a d e
d e to d o s n ó s fre n te a M edéia, o
c h o ro , o p â n ic o e o h o r r o r d e
Jasão . D e u m a o u tra form a, c o n ­
tu d o , n o s e s p a n ta a lisu ra — o
fe rv o r e a v e rd a d e —d o s crim es
q u e e n g a la n a m s u a s p e r e g r i­
n a ç õ e s . As c a b e ç a s d o s “s e ­
n h o re s d o m u n d o ” nas p o n ta s
d as varas q u e as m u lh e re s b a ­
c a n te s e m p u n h a m , o u a p rin c e ­
sa e o rei (C reo n te) m o rto s p o r
M edéia e, e m seguida, suas m ãos
re p le ta s d o crim e (b u q u ê fero z

13
Prefácio

e leve q u e são os seu s p ró p rio s


filhos m o rto s) e q u e a p e n a s n o s
a le rta m p a ra u m a p o lític a trági­
ca se m m eio s te rm o s c o n tra o
“m u n d o d o s h o m e n s ”. M u n d o
a rb itrá rio , o c o d as d iv in d ad es,
tã o p e n s a d o e tã o te s te m u n h a ­
d o p e lo a ss e m b le ísm o trá g ic o
g reg o .

N ão se p o d e , enfim , falar d a
tra g é d ia grega tal c o m o se fala
d o te atro , m esm o d a q u e le te a tro
q u e se re sp o n sa b iliz a m u ltip la-
m e n te p o r to d o o esp etácu lo . Na
tra g é d ia grega a “fala” n ã o fala a

14
Lembra-te De Que Sou Medéia

“lín g u a ” d a Pólis, n e m o s p e rs o ­
n a g e n s e o c o ro falam d o s h o ­
m e n s e d o s cid ad ão s. A fala q u e r
o s gritos, os u rro s, os can to s, as
s o n o rid a d e s abism ais, divinas e
anim ais. Ela se cuida, tal c o m o
o s so n s se d e ix a m c u id a r n o s
in stru m e n to s m usicais, o u ainda,
e m ais, elas se q u e r e m n u m a
c o rp o re id a d e o b sc u ra (e leg íti­
m a) p o r o n d e elas se p e n s a m
c o m o a c o n te c im e n to s so b re c a r­
re g a d o s d e enigm a.

O s c o rp o s q u e a té e n tã o se
sa b ia m c o n stra n g id o s n a o b ri-

15
Prefácio

g a to rie d a d e d o s p a p é is d a d i­
visão sexual, d a divisão social d o
tra b a lh o e n a p aciên cia vazia d o s
ritu ais, q u e re m ag o ra se ag lu ti­
n a r n u m a re s p o n s a b ilid a d e
difícil, trágica, e p e re g rin a re m
c o m o c u sto d o e sp a n to . Eles se
co m eçam , en tã o , c o m o m úsica,
c o m o m ilitan te e stra n g e irid a d e ,
c o m o difíceis p ro x im id a d e s d a
a rte —d a vida c o m o o b ra d e arte
—e, en tão , M edéia se c o ro a em
so b e rb ia e em m e su ra /d e sm e su -
ra d o s vasos gregos.

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Lembra-te De Que Sou Medéia

A e stra n g e irid a d e —esta m o ­


v im e n tação em vigílias d a te rra
—p len ifica as agilidades d o s p e r ­
so n a g e n s trágicos, oscila c o m o
os m a re s e n d e m o n ia d o s n o
c o ro , v em ao p ro s c ê n io e n o s
fita. C o m o são esc u ro s os céu s
q u e su b stan cializam o v e r su s­
t e n t a d o d o s o lh o s a b e r t o s !
M ed éia sabe, e n tã o M ed éia se
d eix a v e r n a face sem so m b ras
d o seu crim e. As crianças e x a u ­
rid as re to rn a rã o nela, n ã o m ais
c o m o filhos d a “m ãe g reg a” o u
d a “m u lh e r d e Ja são ”, m as co m o

17
Prefácio

c ria n c a s s o b r e h u m a n a s , c o m o
an im ais e céu s, c o m o “p e rs a s ”.

M ed éia é u m lu g a r p a ra d ife­
re n te s e ex ig en tes reflexões críti­
cas so b re a q u ilo q u e os c o rp o s
e as falas se to r n a ra m n o O ci­
d e n te . É u m “a n d a m e n to ” m ais
m a rc ad o , m ais ex p lícito , d a q u i­
lo q u e as tra g é d ia s gregas, c o m o
u m a fo rm a s in g u la r d e p e n s a ­
m e n to , re iv in d ic a ra m p o litic a ­
m e n te . A G récia n ã o foi só a fo r­
m u la ç ã o d e u m a p rá tic a n u m e ­
ro s a e rica q u e se d e sig n a ria p o r
O cid en te, m as foi, tam b ém (m es-

18
Lembra-te De Que Sou Medéia

m o se p o u c o tra ta d a ), a d e u m a
fala trágica, se u s c o rp o s e se u s
p o v o s fu tu ro s.

C e rta m e n te q u e , e n tr e o u tro s
p o u c o s , H õ ld e rlin e N ietzsch e
n o s a le rta ra m p a r a tu d o isso .
M as é p re c iso ir além , c o m o faz
Isab elle S ten g ers, e a lc a n ç a r n o s
p e rs o n a g e n s trágicos, e n o s p e r ­
so n a g e n s trágicos fem in in o s, u m
p o te n c ia l d iv in o e a n im a l q u e as
palavras explicitam m al, m as q u e
o c o ro trág ico e x p re ssa fo rm id a ­
v e lm e n te e m m úsica.

19
Prefácio

Se n a filosofia g reg a p o d e -se


d iz e r q u e o L o g o s le m b ra v a a
tu te la d o “fa lo ” n o p ro je to d a
P ó lis, já, n a tra g é d ia , M ed éia,
C lite m n e s tra , C a ssa n d ra , A ntí-
g o n a etc., n ã o são n e m h o m e m
n e m m u lh e re s , e o c rim e p o r
elas, e nelas, n ã o é u m a ag ressão
à vida, m as a te n ta tiv a d e re in ­
v e n tá - la n u m o u t r o r e g is tr o .
N elas a d e sm e su ra se deixa e x e r­
cer, se m ostrar, e, so b re h u m a n a ,
se a u fere so b erb a, ex ig in d o q u e
d e ix e m o s o s “h o m e n s ” ( s e u
m u n d o ) e q u e n a filosofia a b a n ­
d o n e m o s as re g u la ç õ e s ideais.

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Lembra-te De Que Sou Medéia

M edéia é u m a c e n a terrív el e
m aravilhosa, isto é, a vida q u e
q u e r a lc a n ç a r a si m e s m a (se
p en sar no pen sa r pesado do
p e n s a m e n to ) , e e n tã o , a p r e n ­
d e m o s co m ela q u e n o s d e m o ra ­
m o s e, a té m e sm o , q u e a in d a
n ã o n o s co m eçam o s.

Carlos H e n r iq u e E scobar

21
I vmbra-te De Que Sou
Medéia
'

1
N E M H egel, n em F reud, n e m
Lacan, n e m q u a lq u e r o u tr o q u e
te n h a criad o u m sistem a o u so u
ap ro p riar-se d e M edéia p a ra ilus­
tr a r u m a d e s u a s te s e s . E u rí-

25
Stengers

p id e s, Sêneca, P ierre C o rn eille e


se u irm ão T h o m as, a u to r d o li­
b re to d a ó p e ra d e C h a rp e n tie r,
e a in d a o u tr o s te n ta r a m se
a p ro x im a r dela, m as é ela q u e m
se a p ro p ria d eles, im p o n d o -lh e s
se u enigm a, a te rra d o r desafio d e
u m a m u lh e r q u e m a ta seu s fi­
lh o s e sobrevive. O p ró p rio E u­
rip id e s se su b m e te ao en ig m a d e
M ed éia. A h istó ria é co n h e c id a ,
e le n ã o p o d e m o d ificá-la. Seu
c o n te m p o râ n e o H e ró d o to c o n ­
ta q u e M edéia, ao fu g ir d e Ate­
n as, refu g io u -se n a Ásia M enor,
n a re g iã o cujos h a b ita n te s pas-

26
Lembra-te De Que Sou Medéia

sam , a p a rtir d e e n tã o , a u s a r o
s o b r e n o m e M e d e s. A m u lh e r
q u e c o m e te u o m ais h o rrív el d o s
assassin ato s n ã o só sobreviveu,
c o m o se to r n o u “m ã e ” d e u m
p o v o glorioso, rival e d e p o is alia­
d o , su b m isso e d e p o is re v e re n ­
c ia d o , d o im p é r io p e r s a . E u ­
rip id e s c o n se g u e c ria r u m a v er­
d a d e ir a h e ro ín a , u m a m u lh e r
cap az d e h e sita r e d e c o n s id e ra r
su a p ró p ria in d e c isã o c o m o u m
crim e, “M inha co v ard ia é v e rg o ­
n h o s a ”, cap az d e e s tre m e c e r d e
d o r a té su a m ais ín tim a fibra,
m as d e dizer, “C h o rarás m ais tar-

27
Stengers

d e !”. A M ed éia d e S ên eca e s tá


m a is p ró x im a d a im a g e m c o r ­
riq u e ira d e u m a m u lh e r lo u c a
fu rio sa, m as ela p ro n u n c ia essas
p a la v ra s e s tr a n h a s q u e fa z e m
o sc ilar o se n tid o , “M ed ea n u n c
s u m ”.

“L em b ra-te d e q u e so u M e­
d é i a ”, r e s p o n d e , a tra v é s d o s
sé c u lo s, a M ed éia d e C h a rp e n ­
tie r ao “Agora, s o u M ed éia” d e
S ên eca. C o m o se c a d a u m d o s
a u to re s , a d e s p e ito d o q u e
q u is e s s e fa z e r d e M e d é ia , só
p u d e s s e re p e tir a q u ilo q u e im -

28
Lembra-te De Que Sou Medéia

p e l e a p r ó p r i a M e d é ia . “S e r
M e d é ia ” n ã o é a m e s m a c o isa
q u e u m d e stin o , o u talvez seja
e x a ta m e n te o o p o s to d e u m d e s ­
tin o , q u e s u p o rta m o s , q u e p r o ­
c u ra m o s às vezes a ssu m ir d e m a­
n e i r a e x e m p la r . T e r d e “S e r
M e d é ia ” é d a o rd e m d o a c o n te ­
c im e n to . S erá q u e M ed éia p o d e ­
ria, a q u a lq u e r m o m e n to , fu g ir
d e C o rin to n o d ra g ã o a la d o q u e
so b re v o a o p alácio em cham as?
O u se rá q u e esse dragão, q u e, d e
re p e n te , significa su a q u a s e d i­
v in d a d e , é o sig n o d e q u e M e­
d éia, a m u lh e r, d e s p o jo u —ter-

29
Stengers

rív el c a rn e viva - o s fios q u e te ­


ciam su as lig açõ es h u m a n a s, e
to rn o u -s e a q u e la q u e havia e s­
q u e c id o , tra íd o , p a ra se to rn a r
g re g a e fêm ea, e to rn o u -se essa
v e r d a d e q u e leva s e u n o m e ,
M edéia?

M ed éia teria m o rrid o d e d e ­


s e s p e ro se n ão tivesse se to rn a ­
d o M edéia, se n a o tivesse e n c o n ­
tra d o , n o m o m e n to da m aior h u ­
m ilh a ç ã o q u e p o d e a c o n te c e r a
u m a m u lh e r, o a c e s s o ao q u e
n e la tin h a sido a n u la d o p ara d a r
lu g a r à m u lh e r a m o ro s a e leal.

30
Lembra-te De Que Sou Medéia

Q u e m s e rá to lo e m d iz e r q u e
M ed éia te m ciúm es! C iú m es d e
u m a jo v em p rin c e s a ig n o ra n te e
fútil? C iú m es d e u m h o m e m c o ­
v a rd e e p u silâ n im e , m e n tiro s o e
v a id o so ? E m m o m e n to a lg u m
M edéia te m inveja d e C reu sa p o r
te r c o n q u is ta d o s e u m e d ío c re
tro fé u . É o s e n tid o d a su a v ida
q u e e stá e m jo g o , e n ã o a p o ss e
d e u m Jasão. E a v in g an ça é u m a
p a la v ra b e m m e d ío c re p a ra d e ­
sig n a r se u ato. Se M ed éia tivesse
se v in g a d o , c o m o n ó s, p o b re s
m o rta is, te ria p a g o o p re ç o d a
s u a v in g an ça. Ela fez u m c o n tra-

31
Stengeri

to c o m a h u m a n id a d e , e o c o n ­
tra to foi ro m p id o . “C h o ra p a ra
se m p re os m ales c a u sa d o s p e la
tu a p a ix ã o ” ela d iz a Jasão, n o
final d a ó p e ra d e C h a rp e n tie r. E
n in g u é m lh e d á a re s p o s ta q u e
re s ta u ra ria a o rd e m d a m o ral,
n in g u é m está lá p a ra re c o n fo r­
ta r Ja sã o o u , p e lo m e n o s, a n u n ­
c ia r q u e a a ss a s sin a s e rá p e r ­
s e g u id a p e lo re m o rs o . Ja sã o é
castig ad o , M edéia fica sem casti­
go. Ja sã o a c re d ito u q u e seu p o ­
d e r d e m ach o havia tra n sfo rm a ­
d o a feiticeira em m u lh e r q u e se
p o d e e n g a n a r e a b a n d o n a r. Ele

32
Lembra-te De Que Sou Medéia

c o m e te u u m e rro e crio u a p r o ­
va p e la q u a l a O u tra, a q u e la q u e
se a n u lo u p o r a m o r, r e e n c o n ­
tro u o p o d e r d e existir.

Talvez seja m e lh o r in tro d u z ir


aq u i, n o lu g a r d e vingança, esse
te rm o g reg o tão rico, o “p â n ic o ”.
Q u a n d o M e d é ia c o m p r e e n d e
q u e Ja sã o vai ab an d o n á-la, q u e
a h istó ria deles, d o lo ro sa e crim i­
n o sa , vai se r ap a g a d a sem d e i­
x a r o u tr o s v estíg io s a n ã o s e r
a q u e le s , in to le r á v e is , d e s u a
p ró p ria m em ó ria, ela é in v ad id a
p o r u m v e rd a d e iro p ân ico . “N ão

33
Stengers

é p o ssível!”. “Q u e p re ç o te n h o
d e p a g a r p e lo m eu a m o r!” “É
esse o re su lta d o d o s m eu s em -
p re e n d im e n tos !”, e; m ta a M edéia
d e C h a rp e n tie r, lisses e m p re e n ­
d im en to s, para ela, eram os laços
g lo rio so s que* proelam avam um
a m o r n a m e d id a d e seu ser. E,
d e re p e n te , o m u n d o se to rn a
vazio, a m em ória se to rn a a in i­
m iga d e b o ch ad a, o b scen a. M e­
d é ia , a m u lh e r, s a b e q u e vai
m o r re r p o r causa disso, se n ão
c h a m a r a O u tra . “P ara q u e m
p ro c u ra m in h a m o rte , p o sso ser
c ru e l”. D iante d o p â n ic o , é pre-

34
Lembra-te De Que Sou Medéia

ciso, n ã o re s titu ir d e m a n e ira


m e d ío c re g o lp e p o r g o lp e, m as
p o d e r re c ria r u m m u n d o d ife­
re n te , em n a d a p a re c id o c o m
aq u ele q u e falta. “Ser c ru e l”. “Ser
M ed éia”.

P ânico, p a ra os g reg o s, n ã o
significa u m e sta d o psicológico,
m as sim u m m o m e n to m ítico. O
D eu s Pan, s e n h o r d o p ân ico , é
a q u e le através d o q u al a o rd e m
so cial p o d e d e s m o ro n a r, u m a
c o le tiv id a d e tra n q ü ila p o d e se
to rn a r u m a h o rd a b á rb a ra e d e ­
su m a n a. D e u m a só vez, tu d o se

35
Stengers

desequilibra, com o se tu d o aqui-


«

lo q u e estabelecesse u m a ligação
e n tre os h u m a n o s se revelasse,
re p e n tin a m e n te , su scetív el d e
fazer em erg ir um coletivo co m ­
p le ta m e n te d if e r e n te , d e e n ­
g e n d ra r aquilo q u e a o rd e m so ­
cial p a re c ia ex clu ir, p o r n a tu ­
reza. 1

A crise d e p â n ic o seria e n tã o
u m a espécie de fase de transição,
c o m o e n tr e líq u id o e c ristal,
u m a m u d a n ç a de id e n tid a d e . A
crise d e M edéia, q u a n d o ela hesi­
ta, q u a n d o ela duvida, q u a n d o

36
Lembra-te De Que Sou Medéia

ela sen te q u e vai m o rrer, é talvez


d essa o rd em . E a so lu ção in v en ­
ta d a p o r ela, “Ser M edéia”, ro m ­
p e r os laços q u e a c o n d e n a m , e
criar u m m u n d o o n d e n in g u é m
p o d e rá te r p ie d a d e d ela o u p e n ­
sa r em “p e rd o á -la ”, vai criá-la
c o m o en ig m a so b re o q u a l to ­
dos, Jasão em p rim eiro lugar,
irão refletir. No se n tid o em q u e
ela n ã o é m ais “u m d o s n o sso s”,
p a ra negociar, analisar, in te rp re ­
tar, m as o n d e a O u tra q u e ela se
to rn o u n o s constitui, a n ó s m e s­
m os, aterro rizad o s, em p ó lo s d e
reflexão, en v ian d o u n s aos ou-

37
Stengers

tro s, d e sécu lo e m sécu lo , c o m o


u m ra io lu m in o so —im passível,
atrav és das d ifraçõ es su scitad as
p e lo s m e io s a tra v e s s a d o s p o r
eles — a p e rg u n ta : o q u e ela se
to rn o u ?

M e d éia é u m a h e ro ín a , m as
n a d a tem d e e x e m p la r, hla n ã o
é g reg a. Ela n ã o é u m d o s n o s ­
sos, h u m a n o s civilizados. Através
d e H e r ó d o to , a tr a v é s d e E u ­
rip id e s é u m o u tr o m u n d o q u e
p e rsiste, lem b ran ça o u obsessão,
u m m u n d o b á rb a ro talvez, m as
te m ív e l, u m m u n d o o n d e o s

38
Lembra-te De Que Sou Medéia

p ró p rio s d e u se s se g u e m o u tra s
leis. M edéia se diz d e s c e n d e n te
d o Sol e, n a ó p e ra d e C h a rp e n ­
tier, é o v estid o q u e ela c o n s e r­
v o u d o Sol, se u A ncestral, q u e
J a s ã o o u s a lh e p e d ir, p o is e la
d e s p e r to u a inveja d e C re u sa ,
e g o ísta e d e m a sia d o h u m a n a . As
n eg ras filhas d o Estige lhe d ev em
o b e d iê n c ia . As E u/ m é n id es furio-
sas q u e p e rs e g u ira m O re s te s ,
p e d in d o ju stiça p a ra o m atricí-
d io , n a d a p o d e m c o n tra ela. O
in fe rn o está su b m e tid o a ela e o
C éu p a ra ela está a b e rto . C o m a
tra g é d ia d e E u rip id es, a c id a d e

39
Stengers

G reg a c eleb ra u m a e stra n h a ex­


te rio rid a d e , a m e a ç a d o ra , inal-
cançável, q u e p a re c e rir d e suas
Leis e só se s u b m e te r as su as
n o rm a s se g u n d o su as p ró p ria s
co n d içõ es: vencida, m as se m p re
e irre fu tav e lm e n te am eaçad o ra.
»

D e q u e e x te rio rid a d e se trata,


e n tã o ? Q u e sig n ific a M edéia?
P ara alguns, existe aí o te s te m u ­
n h o h istó ric o de u m m u n d o es­
q u e c id o . Um m u n d o “m atriar-
II
cal” q u e os greg o s a q u e u s d e s­
tru íra m m as ain d a te m e m . Um
m u n d o o n d e as m u lh e re s reina-

40
Lembra-te De Que Sou Medéia

vam , sacerd o tisas de u m a D eu sa


tem id a. Mãe e M orte ao m e sm o
te m p o . M edéia traiu su a pátria,
C ó lq u id a, e n tre g a n d o o Velo d e
O u r o a J a s ã o e m a ta n d o s e u
irm ã o m ais m o ço , cu jo s m e m ­
b ro s d is p e rs o u p e lo m a r p a ra
re ta rd a r seus p erseg u id o res. Mas
ag o ra é ch eg ad o o m o m e n to em
q u e vai, talvez, se r re a liz a d a a
m a io r , a ú n ic a e v e r d a d e i r a
traição, o m o m e n to em q u e va­
m o s p o d e r te r p e n a dela, d iz e r
q u e , p a ra Jasão, ela foi a p e n a s
u m tro féu a m ais, sig n o d o tri­
u n fo d e A frodite, a grega, so b re

41
Stengers

a M ãe arcaica. O Ja sã o d e E u ­
rip id e s afirm a isso: “Para ti seria
difícil co n fessar q u e o a m o r te
co ag iu, q u e n ã o p u d e s te te p ro ­
te g e r d e suas flechas, e é p o r isso
q u e m e salvaste”. É o m o m e n to
m ais difícil, m o m e n to em q u e a
h is tó ria fica em su s p e n so . Me-
déia, sim ples m u lh er, escrava d o
am o r? Mas q u a n d o M ed éia se
to r n a M edéia, a o rd e m d iv in a
d o s g re g o s d e s m o ro n a . O Sol
n ã o é m ais Apoio, te m p a rte com
a m o rte, a lum inosa fo n te de vida
se m o stra , d e re p e n te , u n id a à
e sc u rid ã o infernal. E as leis d a

I 42
Lembra-te De Que Sou Medéia

cu lp ab ilid ad e, d o re m o rso e d a
ju stiça caem p o r terra. N u m só
ato, M edéia, infanticida, é e x p u r­
g ad a d a su a traição. Ela v o lta a
s e r a Mãe, re e n c o n tra a so b e ra ­
n ia q u e re n e g o u p a ra se to rn a r
grega.

T rata-se aí d e lem b ran ça, o u


se rá a e x p ressão p o r ex celên cia
d o m e d o d o h o m e m d ia n te d a
m u lh e r, d a m ãe? M ãe d e v o ra ­
d o ra q u e d ev e s e r su b m e tid a ,
co m to d a a força, aos laços d o
a m o r co n ju g al e d a m a te rn id a d e
resp eitáv el. Para os fre u d ia n o s,

43
Stengers

M edéia p e rte n ce à o rd e m d o fan­


tasm a, p o is p a ra eles a m u lh e r
n ã o é assim , ela p e d e a su b m is­
são, p e d e ao h o m e m aq u ilo d e
q u e o n ascim en to a p riv o u irre ­
m e d ia v e lm e n te . O m e d o , o
ó d io d a m u lh e r to d a p o d e ro sa ,
c astrad o ra, q u e u n e vida e m o r­
te, e m n o m e d a q u al tan tas feiti­
ceiras foram m ortas, n ã o designa
as m u lh e re s co m o tais, m as sim
o en ig m a q u e p erseg u e o p e q u e ­
n o m a c h o , d e s e s p e r a d a m e n te
a g a rra d o aos sím b o lo s d a su a
d iferen ça.

44
Lembra-te De Que Sou Medéia

E n tretan to , o en ig m a d e M e­
d é ia n ã o p e rte n c e a p e n a s aos
m a c h o s . Ele ta m b é m a tra i as
m u lh e re s, q u e vibram com seu
p ân ico , com seu s u rro s d e revol-
V

ta, q u e re c o n h e c e m bem , m u ito


b em , o q u e p o d e se r a covardia
d o h o m e m q u e, d e re p e n te , e s­
q u e c e . Talvez seja essa v erd ad e,
e m b a ra lh a n d o as cartas d o fan­
tasm a, q u e fez F reu d e se u s su ­
c esso res recu arem . M edéia fala
d e m a is às m u lh e r e s p a r a s e r
im o b iliz a d a em u m a in te r p r e ­
tação v ien en se. Ela suscita u m
p o s s ív e l p r e s e n t e e x c e s s iv o ,

45
Stengers

a q u e le talvez d esse “c o n tin e n te


n e g ro ” q u e o p ró p rio F reu d n ão
p ô d e d e ix a r d e r e c o n h e c e r ,
c o m o p o r u m lapso, e m b o ra o
c o n ju n to d a sua teo ria parecesse
g a ra n tir a sem elhança d a m u lh er
co m o in d íg en a re sp e ito s o q u e
d e se ja a lei d o h o m e m b ran co , a
su b m issão à sua m arca civiliza-
d o ra . O enigm a d e M edéia p e r­
siste, atravessa a psicanálise, q u e
n ã o o resolve.

Q u al é, en tão , o sa b e r atesta­
d o p o r M edéia? P o r q u e , e n tre
to d a s as h e ro ín a s trágicas, su a

46
Lembra-te De Que Sou Medéia

d o r, su a cólera, seu p â n ic o tê m
eco s tão atuais, atrav essan d o os
m ilê n io s q u e n o s se p a ra m d o
m u n d o grego? P o r q u e, p rin c i­
p a lm e n te , seu ato h o rrív el n o s é
co m p reen sív el d e m a n e ira im e­
diata, co m o se a fo n te d a q u al
ela se alim enta, a O u tra M edéia
im passível e terrível q u e ela faz
surgir, lá o n d e havia u m a m u ­
lher, n ó s conhecêssem os em su r­
din a, so u b é sse m o s q u e m ela é?
C o m o se ela suscitasse u m eco,
criasse em n ó s u m a reflexão q u e
re p e te seu enigm a. O en ig m a se
refere m e n o s ao ato d o q u e ao

47
Stengers

d ev ir ao q u al esse ato d á lugar.


Talvez seja p re c iso ò tisa r p e n s a r
q u e M edéia g elada, p u rificad a,
lib erada, “im p esso al e intro sp ec-
tiva, se n tim e n ta l e s u p ra se n s u ­
al”, n ã o m ais tivesse, ao se to r­
n a r a O u tra, ó d io d e Jasão , “q u e
ela n ã o n o s o d eia, n e m m esm o
n a m o rte , m as q u e e la n o s es­
te n d e sem p re essa trip la face fria,
m a te rn a l, se v e ra ”. As p alav ras
q u e acabam d e se r citadas n ã o
fo ra m criadas p a ra falar d o en ig ­
m a d e M edéia, são as palavras d e
G illes D eleuze, ao a p re s e n ta r o
id e a l m a so q u ista , “fria alian ça

48
Lembra-te De Que Sou Medéia

e n tre o se n tim e n ta lism o e a c ru ­


e ld a d e fe m in in a, q u e fazem o
h o m e m re fle tir”. F azer refletir,
n ã o n o se n tid o d e fo rn e c e r u m
o b je to d e reflexão, c o m o D es-
f »
cartes to m a u m p e d a ç o d e cera
p a ra a p a rtir d aí refletir a id e n ­
tid a d e , m as n o se n tid o em q u e
so fre m o s u m a reflexão, em q u e
re p e rc u tim o s u m enigm a, q u e,
frio , faz d e você se u e s p e lh o .
L em bra-te d e q u e so u M edéia.

M ed éia n ã o é u m a m e d ite r-
rânica, é u m a m u lh e r v in d a d o
le ste e q u e, se g u n d o H e ró d o to ,

49
Stengers

v o lta rá p a ra o leste, p a ra a q u e ­
les p o vos q u e p o d e m o s im aginar
a in d a n ô m a d e s, o s ú n ic o s o n d e
p o s s o a p a rtir d e a g o ra vê-la vi­
ver, d a m a n e ira c o m o ela se to r ­
n o u “M ed éia”. E é p a ra lá ta m ­
b é m , p a ra u m a e s te p e q u e é ao
m e s m o te m p o v e rd a d e ira , m íti­
ca e p re se n te , o cu lta em nós, q u e
D ele u z e se volta p a ra d a r exis­
tê n c ia à figura id eal e c ru e l d a
m u lh e r carrasco q u e sin g u lariza
o m a so q u ism o . “N a id e n tid a d e
d a e ste p e , d o m a r e d a m ãe, tra ­
ta-se se m p re d e fazer s e n tir q u e
a e s te p e é, ao m e s m o te m p o ,

50
Lembra-te De Que Sou Medéia

a q u ilo q u e e n te r r a o m u n d o
g re g o d a se n su a lid a d e e a q u ilo
q u e d e ix a a p a r e c e r o m u n d o
m o d e r n o d o s a d is m o , c o m o
u m a p o tê n c ia d e re s fria m e n to
q u e tran sfo rm a o d e se jo e tra n s­
m u ta a c ru e ld a d e . É o m essia­
n ism o , o id e a lism o d a e s te p e .
N ão vam os acred itar, p o r cau sa
d isso , q u e a c ru e ld a d e d o id eal
m a so q u ista seja m e n o r d o q u e a
c ru e ld a d e prim itiva o u a c ru e l­
d a d e sádica, m e n o r d o q u e a c ru ­
e ld a d e d o cap rich o (a d e C re u sa
e Jasão ?) o u a c ru e ld a d e d a
m a ld a d e ... O q u e d efin e o m a-
Stengers

s o q u ism o e seu te a tro é, m ais


ex a tam en te, a fo rm a sin g u lar d a
c ru e ld a d e n a m u lh e r carrasco:
e ss a c ru e ld a d e d o Id e a l, e sse
p o n t o e s p e c ífic o d e c o n g e la ­
m e n to e idealização ”. 2

P o n to d e co n g e la m e n to , cuja
q u e s t ã o p e r s i s t e a tr a v é s d a
trê m u la fluidez d e n o ssas e m o ­
ções. N ão falem os aq u i d e h iste ­
ria o u d e em p atia. N in g u ém so ­
n h a im itar M edéia, n ã o se im ita
o a c o n te c im e n to , n ã o se p o d e
an tecip á-lo , n ão se p o d e vivê-lo
p o r p ro cu ração : ele p ro d u z seu

52
Lembra-te De Que Sou Medéia

p re se n te , a cad a vez sin g u lar e,


n o e n ta n to , a cad a vez re p e tid o .
N in g u é m p e n s a e m c o n s o la r
M edéia, cercá-la d e u m a afeição
q u e r e p a r a e re c o n c ilia . N in ­
g u é m deveria n em m esm o o u sa r
e x p re ssa r q u a lq u e r tip o d e soli­
d a rie d a d e com M edéia. Ela n ã o
p o d e fazer m ais n ad a, n ã o n o s
p e d e nada, n ã o p e d e m ais n a d a
a n in g u ém . Ela é M edéia.

53
. * «f
Notas

1 S o b re isso, v e r J e a n P ierre
D u p u y , La P a n iq u e , co ll.
e m p ê c h e u rs d e p e n s e r en rond.
E d itad o p o r L aboratoires D ela-
gran ge, Paris, 1991.

2 Gilles D eleuze, P ré se n ta tio n


d e Sacher-M asoch, Paris, M inuit,
1967, p. 49.

55
/

Outros Títulos da Coleção :

D esca rtes e a M aconha


Frédéric Pagès
Prefácio de Paulo Roberto Pires
1 0 , 5 X1 5 cm. 64pgs.
ISBN 85-86816-05-1
Tradução: Bernard Marcel Crochet e Eduardo
José Crochet

Por que René Descartes, o mais “francês”


dos filósofos, preferiu viver na Holanda ao
invés da França?
A partir desta pergunta, Frédéric Pagès
empreende uma divertida “viagem” pelo pas­
sado de Descartes. Sua pesquisa tem origem
nos coffee shops de Amsterdã e o leva a um
mergulho nos livros, cartas e biografias de
Descartes, acabando por nos revelar detalhes
pouco conhecidos da vida do filósofo, até
m esm o para os franceses.
Narrado em tom jornalístico o texto se
apresenta como uma bem humorada repor­
tagem policial, aonde o “Pai da Razão Moder­
na” é confrontado com as fraquezas e os ví­
cios que, com toda certeza, também o aju­
daram a expandir seu espírito. A conclusão
da relação de Descartes com a maconha fica
por conta do leitor, pois as idas e vindas de
f j

Descartes ao longo de sua esfumaçada tra­


jetória pelos Países Baixos, servem, na ver­
dade, de contraponto para a sutil ironia de
Pagès frente aos dogmas e a intransigência
da Razão.
Péricles e Verdi -A Filosoûa de François
Châtelet
Gilles Deleuze
Prefácio de Luiz B. L. Orlandi
10,5 X 15 cm. 64pgs.
ISBN 85-86816-06-X
Tradução de Hortência S. Lencastre

Neste pequeno livro, escrito por ocasião


da morte de seu amigo François Châtelet
(1925-1985), Deleuze transcende a simples
homenagem, não se limitando a apresentar
resumidamente as idéias de Châtelet. Através
de um texto claro e conciso, Deleuze traça as
linhas de interseção entre o seu pensamento
e o de Châtelet, não como lugares comuns
aonde os conceitos se assemelhariam, mas a >-
mo acontecimentos diferenciados dentro de
um mesm o campo problemático. Partindo do
“aristotelismo” de Châtelet, Deleuze aplica,
mais uma vez brilhantemente, sua idéia da
filosofia como um ‘puro plano de imanên­
cia’, no qual a obra de Châtelet desponta, ao
lado da de Foucault, com o um dos grandes
pensam entos do primado ético/político da
Razão.
impresso nas oficinas
da Imprinta Gráfica e Editora Ltda.,
à Rua João Romariz, 285 - Rio de Janeiro.
“Medéia é um lugar para diferentes
e exigentes reflexões críticas sobre aquilo
que os corpos e as falas
se tomaram no Ocidente.
É um ‘andamento’ mais marcado,
mais explícito, daquilo que
as tragédias gregas,
como uma forma singular de pensamento,
reivindicaram politicamente.”

Do prefácio de Carlos Henrique Escobar

ISBN 8 5 -8 6 8 1 6 -0 7 -8

788586 816079

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